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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP5. A DOR DA ALMA Beatriz Gomes Neves Gabriela de Lima Rezende Hélio Souza Cortez Jéssica Thaynna Resende Figueiredo Jhonathan Negri Vian Leonardo Santos Assis Luciana Dorneles Siqueira Maria Eduarda Giacomin da Cruz Matheus Teixeira Silva Pedro Lucas Oliveira Franco Tânia Pacheco dos Santos Mineiros-GO 2020 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP5. A DOR DA ALMA Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade I, do 5º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação do Professor Dr Bruno Debona. Mineiros-GO 2020 3 SUMÁRIO 1. LISTA DE IMAGENS............................................................................................................4 2. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................5 3. OBJETIVOS...........................................................................................................................6 3.1 Objetivo Geral...................................................................................................6 3.2 Objetivos específicos..........................................................................................6 4.COMPREENDER A DOR ONCOLÓGICA.........................................................................7 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................36 REFERÊNCIAS........................................................................................................................37 4 LISTA DE IMAGENS FIGURA 1. Mecanismo da dor.....................................................................................................8 FIGURA 2. Escada Analgésica da dor......................................................................................12 FIGURA 3. Cascata metastásica.................................................................................................21 5 1. INTRODUÇÃO Os indivíduos com câncer podem apresentar desconfortos resultantes da presença, progressão ou evolução da neoplasia, das idiossincrasias ou iatrogenias dos numerosos procedimentos diagnósticos invasivos ou não, das intervenções terapêuticas e ou analgésicas e, também de morbidades concomitantes não relacionadas ao câncer. A dor pode ocorrer nas fases aguda ou crônica da doença (cicatrização, reabilitação, reintegração). Assim sendo, a dor aguda apresenta duração equivalente ao período esperado para a resolução de sua condição causal e a crônica, perdura além do período esperado da resolução de sua causa ou ocorre em doentes com doenças naturalmente crônicas como as oncológicas (COSTA; CHAVES,2012). O controle da dor oncológica pode ser realizado por meio de fármacos como anti- inflamatórios, opioides, antidepressivos, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos, corticoides, betabloqueadores, vasoconstritores dentre outros. Mesmo com a utilização dos fármacos e terapias complementares, nem sempre há sucesso na supressão da dor. Esta é o produto final de um processo complexo que pode envolver aspecto emocional, componentes espirituais, cognitivos e sensoriais (COSTA;CHAVES, 2012). Apesar de sentir a dor do câncer, o paciente submetido à quimioterapia, ainda pode apresentar como sequela, parestesia, hiporreflexia, perda sensitiva ou motora e disfunção neurovegetativa, bem como sintomas de ordem metabólica incluindo o ganho ou perda de peso, sintomas gastrintestinais como diarreia, vômito, anorexia e náusea; o que condiz com outros estudos evidenciando que estes efeitos colaterais são mais evidentes no tratamento quimioterápico (BUZAID, 2012). Além do mais, o relatório busca abordar conceitos relacionados à oncologia, tais como: metástase, melanomas e cuidados paliativos. E, junto a isso, apresenta a escala analgésica de dor e a importância da família e da equipe multidisciplinar em situações como a dor oncológica. 6 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Compreender a dor oncológica. 2.2 Objetivos Específicos Caracterizar a dor oncológica quanto às vias neulógicas envolvidas, fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento. Descrever quimioterapia e as complicações relacionadas. Compreender metástase e correlacionar os principais tumores com seus sítios. Entender melanoma e seus diversos tipos. Reconhecer a escada analgésica da OMS. Definir cuidados paliativos e descrever seus objetivos e protocolo, além do papel dos familiares e cuidadores. Descrever a farmacologia dos opióides, bem como os efeitos colaterias advindos do uso abusivo. Descrever a farmacologia dos medicamentos citados no texto . 7 3. COMPREENDER A DOR ONCOLÓGICA As síndromes dolorosas podem ser agudas ou crônicas, nociceptivas, neuropáticas, psicogênicas e/ou mistas. A dor no câncer tem as características da dor crônica ou persistente, sendo decorrente de processo patológico crônico, podendo envolver estruturas somáticas ou viscerais, bem como estruturas nervosas periféricas e/ou centrais, isoladas ou em associações, cursando com dor contínua ou recorrente por meses ou anos. A natureza da dor nociceptiva somática é descrita com a dolorosa, latejante, pulsátil ou opressiva. A dor visceral é do tipo cãibra ou cólica, aperto ou latejante. A intensidade da dor relaciona-se geralmente ao estágio da doença, podendo apresentar períodos de remissão com a terapêutica neoplásica e de piora com recidivas e progressão da doença. Pode cursar com episódios de dor aguda, resultantes de procedimentos diagnósticos, cirurgias paliativas, fraturas, obstruções viscerais ou arteriais e agudizações da doença. A dor pode ser um dos primeiros sinais da doença, não sendo necessário aguardar o diagnóstico definitivo, como, por exemplo, o resultado histopatológico de um a biópsia já realizada para dar início à terapia antálgica (NETO, 2009). Como discutido em problemas anteriores a estimulação dos nociceptores leva à transmissão desse sinal ao corno dorsal da medula através das fibras aferentes, O impulso nervoso é transmitido a estruturas supra-espinhais, chegando ao córtex cerebral, onde é percebido como dor (COSTA, 2007). A realidade da dor pressupõe a existência de uma informação correta a nível central e, portanto, consciente, sobre a agressão nociceptiva exercida à periferia. Podemos considerar três níveis fundamentais no mecanismo neurofisiológico da dor: periférico, medular, e central, como demonstrado na Figura 1 (CARDOSO,2014). 8 FIGURA 1. Mecanismo da dor Fonte: CARDOSO,2014 O estímulo, seja uma agressão tecidular ou um estado inflamatório primário, atua sobre o recetor diminuindo-lhe o seu limiar de dor, e pondo em marcha uma série complexa de reações neuronais e bioquímicas. As consequências sobre o recetor exercem-se, quer por fenómenos de despolarização/polarização da membrana celular, quer pelos produtos resultantes da degradação do ácido araquidónio, sobretudo prostaglandinas E e I, mas também as prostaciclinas, histaminas e serotonina (CARDOSO,2014). O impulso nociceptivo caminha nas fibras finas (C e A - delta) em direção ao corno posterior da medula e deste as informações dolorosas são então conduzidas pelos tratos espinotalâmico e espino-hipotalâmicoaos centros superiores ou inibidas por ativação do sistema analgésico descendente (CARDOSO,2014). Nos pacientes oncológicos esse mecanismo nociceptivo é a causa mais comum de dor e 9 se origina principalmente de três formas: Dor causada pelo tumor 1. Infiltração óssea: a infiltração óssea tumoral é a causa mais comum de dor no câncer, podendo manifestar se localmente ou à distância, pelo mecanismo de dor referida. Ela ocorre por conta de estimulação nociva nos nociceptores no periósteo. O crescimento tumoral ou as fraturas secundárias podem ocasionar lesão, com pressão, tração ou laceração das estruturas nervosas, ocasionando dor isquêmica, dor neuropática periférica ou dor mielopática. A dor óssea se manifesta com sensação de dolorimento constante, profundo, às vezes contínuo, e surge com os movimentos (NETO, 2009). 2. Compressão ou infiltração de nervos periféricos: pode determinar dor aguda de forte intensidade, resultando em plexopatia, radiculopatia ou neuropatia. ou seja, dor na distribuição da estrutura nervosa acometida, com apresentação de dor em queimação, contínua, hiperestesia, disestesia e perda progressiva da sensibilidade (NETO, 2009). 3. Infiltração do Neuroeixo (SNC): Pode ocorrer dor por invasão tumoral na medula espinal, no encéfalo e em suas meninges. A dor radicular surge por compressão ou infiltração da medula espinal, com alteração motora, sensitiva e autonômica distais ao local da lesão. A compressão medular é uma urgência médica, necessitando de tratamento de radioterapia ou descompressão cirúrgica ao menor sinal de com pressão da medula (NETO, 2009). 4. Infiltração de vasos sanguíneos ou linfáticos: Pode ocasionar vasoespasmo, linfangite e possível irritação nos nervos aferentes perivasculares. O crescimento tumoral nas proximidades dos vasos sanguíneos leva à oclusão desses vasos parcial ou totalmente, produzindo estase venosa ou isquemia arterial, ou ambos. A isquemia causa dor e claudicação. A estase venosa produz edema nas estruturas supridas por esses vasos. A oclusão arterial produz isquemia e hipóxia com destruição celular (NETO, 2009). 5. Infiltração de vísceras ocas ou invasão de sistema ductais de vísceras sólidas: a oclusão de órgãos dos sistemas digestório, urinário e reprodutivo (estômago, intestinos, vias biliares, ureteres, bexiga e útero) produz obstrução do esvaziamento visceral e determina contratura da musculatura lisa, espasmo muscular e isquemia, produzindo dor visceral difusa (tipo cólica) constante, com sensação de peso ou pobremente localizada, referida nas áreas de inervação da víscera comprometida. Órgãos como linfonodos, fígado, pâncreas e supra-renais podem vir a apresentar dor devido à isquemia ou distensão de suas cápsulas. Essas vísceras sólidas também podem apresentar quadro álgico por obstrução de seus sistemas ductais (NETO, 2009). 10 Dor causada pelo tratamento 1. Dor pós-cirúrgica: determinadas intervenções cirúrgicas têm alta incidência para o desenvolvimento de dor aguda e crônica. Na fase aguda, a dor decorre do processo inflamatório traumático de cirurgias, como toracotomias, esternotomias, amputações e mastectomias. Na fase crônica, a dor ocorre devido ao câncer recidivado localmente (NETO, 2009). 2. Dor pós-radioterapia: presenta-se com o exacerbação aguda de dor crônica relacionada ao posicionamento para a terapia, queimaduras cutâneas, neuropatia actínica, mielopatia actínica, sinal de Lhermitté (desmielinização transitória da medula cervical ou torácica), mucosite bucal, esofagite, produção de tumores primários de nervos periféricos secundários à radiação, obstrução intestinal parcial e infarto ou isquemia intestinal (NETO, 2009). 3. Dor pós-quimioterapia: a dor pode ocorrer por polineuropatias periféricas, causadas por drogas imunossupressoras podendo ser de caráter transitório ou definitiva. Também pode ocorrer mucosites, espasmos vesicais e necrose asséptica da cabeça do fêmur. O pseudo-reumatismo esteroidal surge após a retirada dos esteróides, sendo possível que alguns pacientes apresentem mialgias e artralgias difusas, sem sinais inflamatórios objetivos, que regridem com a reintrodução da terapia esteroide (NETO, 2009). Dor não relacionada ao tratamento ou ao tumor Representa baixa incidência e podem ser causadas por: osteomielite, migrânea, cefaleia tensional, osteoartrite, osteoporose, neuropatia diabética, pós-alcoolismo, pós-hanseníase, protrusão discai, hérnia discal, síndrome pós-laminectomia miofascial, entre outras, sem relação com a dor ocasionada pelo câncer (NETO, 2009). Já a dor neuropática surge quando há disfunção do SNP e/ou do SNC, por invasão tumoral ou pelo tratamento do câncer (cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia). A fisiopatologia da dor por desaferentação ainda não está completamente esclarecida. A dor neuropática é uma das duas principais manifestações dolorosas crônicas, não havendo, geralmente, nenhum dano tecidual. O que ocorre é um a disfunção das vias que transmitem a dor, levando a uma transmissão crônica dos sinais dolorosos. A injúria neural, que produz dor neuropática, pode ser óbvia ou oculta, podendo ocorrer em qualquer nível das vias nociceptivas periféricas ou centrais. Como a dor por desaferentação não aparece em todos os pacientes com lesões similares, admite-se que haja fatores genéticos envolvidos em sua ocorrência. (NETO, 2009). A dor pode ser definida como psicogênica se houver evidência positiva de que os fatores 11 psicológicos predominam na manutenção do sintoma sem nenhum a evidência de causa orgânica. Na maioria dos pacientes a dor oncológica tem característica mista, ou seja, pode surgir por mecanismos nociceptivos, neuropáticos e psicogênicos (NETO, 2009). Quanto ao tratamento, é importante ressaltar que o melhor tratamento é aquele que trata sua causa. Mas quando isso não é possível, o alívio adequado e eficaz da dor pode ser obtido com uma boa relação médico paciente, após uma avaliação do estadiamento, tempo de sobrevida, além dos aspectos psicossociais. A princípio o tratamento consiste em tratar o câncer em suas diversas modalidades, como cirurgia, radioterapia, quimioterapia e/ou hormonioterapia (NETO, 2009; PEIXOTO, 2015). O tratamento com fármacos analgésicos é baseado na utilização da escada analgésica da OMS, com a utilização de analgésicos antiinflamatórios não-hormonais (AINHs), opióides fracos e fortes, associados ou não a drogas coadjuvantes. Também são utilizados métodos não- farmacológicos para o tratamento da dor no câncer, como bloqueios anestésicos, procedimentos neurocirúrgicos funcionais, estimulação elétrica do sistema nervoso periférico e central, implantes de dispositivos para administração de analgésicos, programas de medicina física, acupuntura, acompanhamento psicológico, hipnose e estratégias cognitivas comportamentais, entre outros (NETO, 2009). A Escada Analgésica da OMS sugere a organização e padronização do tratamento analgésico da dor baseado em uma escada de três degraus de acordo com a intensidade de dor que o paciente apresenta (fig.2): 1. Primeiro degrau: recomenda o uso de medicamentos analgésicos simples e antiinflamatórios para dores fracas (CARDOSO,2014). 2. Segundo degrau: sugere opioides fracos, que podem ser associados aos analgésicos simples ou antiinflamatórios do primeiro degrau, para dores moderadas (CARDOSO,2014). 3. Terceiro degrau: consta de opioides fortes, associados ou não aos analgésicos simples ou antiinflamatórios, para dores fortes (CARDOSO,2014). Os adjuvantes podem ser usados nos três degraus da escada. Além do mais, a escada de três degraus indica classes de medicamentos e não fármacos específicos, proporcionando ao médico flexibilidade e possibilidade de adaptação de acordo com as particularidades de seu paciente (CARDOSO,2014). 12 FIGURA 2. Escada Analgésica da dorFonte: Adaptado. Hospital Israelita Albert Einstein. Diretriz de tratamento farmacologico da dor. Discponivel em: http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1344435028Diretriz%20do%20tto%20da%20dor.pdf Princípios da Escada Analgésica OMS Para dores agudas: usar a escada de forma descendente, ou seja, usar o terceiro ou segundo degrau nos primeiros dias de hospitalização ou após cirurgias/procedimentos dolorosos de acordo e as escalas de mensuração de dor e associados a técnicas de analgesia ou anestesia regional em princípios de analgesia multimodal. Nos dias subsequentes ao trauma tecidual, descer a escada analgésica da OMS (CARDOSO, 2014). Para dores crônicas: Inicia-se pelo primeiro degrau para dores fracas. Quando não ocorre alívio da dor, adiciona-se um opióide fraco para a dor de intensidade leve a moderada (segundo degrau). Quando esta combinação é insuficiente deve-se substituir este opióide fraco por um opióide forte. Somente um medicamento de cada categoria deve ser usado por vez. Os medicamentos adjuvantes devem ser associados em todos os degraus da escada, de acordo com as indicações específicas (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, bifosfonados, corticosteróides, etc.) (CARDOSO, 2014). Via Oral: Os analgésicos devem ser administrados de preferência pela via oral. Vias de administração alternativas como retal, transdérmica ou parenteral podem ser úteis em pacientes com disfagia, vômitos incoercíveis ou obstrução intestinal (CARDOSO, http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1344435028Diretriz%20do%20tto%20da%20dor.pdf 13 2014). Intervalos Fixos: Os analgésicos devem ser administrados a intervalos regulares de tempo. A dose subseqüente precisa ser administrada antes que o efeito da dose anterior tenha terminado. A dose do analgésico precisa ser condicionada à dor do paciente, ou seja, inicia-se com doses pequenas, sendo progressivamente aumentada até que ele receba alívio completo, ou seja, titulação da dose opióide. Não prescrever no regime se necessário. Alguns pacientes que utilizam opioides necessitam de doses de resgate além das doses regulares para as dores incidentais ou súbitas (10 a 30% da dose total diária) (HOSPITAL ISRAELITA,2012). Individualização: DOR FRACA DOR MODERADA Não-Opióides (Ex: Dipirona, Paracetamol, Antiinflamatórios não-esteroidais) + Adjuvantes Opióides Fracos (Tramadol, Codeína) +/ - Não-Opióides + Adjuvantes Opióides Fortes (Morfina, Metadona, Fentanil, Oxicodona) + - Não Opióides + Adjuvantes. A dose correta dos opióides é a que causa alívio da dor com o mínimo de efeitos adversos. Se a analgesia é insuficiente, o paciente deve ser reavaliado e deve-se subir um degrau da escada analgésica e não prescrever medicamento da mesma categoria (HOSPITAL ISRAELITA,2012). Atenção aos detalhes: Explicar detalhadamente os horários dos medicamentos e antecipar as possíveis complicações e efeitos adversos, tratando-as profilaticamente. O paciente que usa opióide de forma crônica deve receber orientações sobre laxativos. Tratamento Farmacológico da Dor 1. Tratamento da Dor Leve (1º degrau escada analgésica) A dor leve (EVN:1-3) é comumente tratada com analgésicos não opioides. A dipirona é o seu representante mais empregado em nosso meio. Depois, segue-se o uso do paracetamol e dos antiinflamatórios não hormonais (AINE’s). 2. Tratamento da Dor Moderada (2º degrau escada analgésica) Tradicionalmente, doentes portadores de dor moderada (EVN: 4-6) têm recebido a associação entre dipirona ou paracetamol, AINH’s, opioide fraco, como a codeína e o tramadol, 3. Tratamento da Dor Intensa (3º degrau escada analgésica) A morfina é o medicamento mais comumente empregado no controle da dor intensa (EVN:7-10). Cada opióide tem suas diferenças farmacocinéticas e farmacodinâmicas que 14 contribuem para a melhor alívio da Dor. Observação: Opções para titulação dose opióide em pacientes com dor aguda: Morfina 2mg EV ou SC ou morfina 5 mg VO a cada reavaliação (tempo para reavaliação: 10 a 20 minutos; tempo máximo: 60 minutos) até alívio da dor ou Escala de Sedação ≥ 2. 4. Adjuvantes Tratamento da Dor Crônica Neuropática Este grupo heterogêneo de medicamentos contribui para o alívio da dor, tratam os efeitos adversos dos analgésicos e melhoram distúrbios psicológicos associados ao quadro álgico. São eles: Amitriptilina, Nortriptilina, Duloxetina, Venlafaxina, Haloperidol, Clorpromazina, Gabapentina, Pregabalina, Baclofeno, Ciclobenzaprina, Capsaicina tópica. ANALGÉSICOS OPIÓIDES Os opióides sintéticos e semissintéticos mimetizam os efeitos das substâncias endógenas, reduzindo a percepção dolorosa sem alterar sensibilidade térmica, tátil ou proprioceptiva. As substâncias antagonistas atuam nestes mesmos receptores, porém com afinidade intrínseca 10 a 1.000 superiores aos agonistas. Os neurônios do corno dorsal da medula expressam todos os receptores opióides: clássicos e atípicos. Os receptores são encontrados em neurônios da lâmina II e sua ativação impede a passagem de informação nociceptiva para vias ascendentes. A microinjeção de morfina assim como estimulação elétrica da substância cinzenta periaquedutal (SCPA), bloqueia reflexos periféricos em animais, reduz a atividade espinhal evocada por estímulo nociceptivo e altera comportamentos dolorosos. O mecanismo fisiológico desse efeito é a inativação de interneurônios GABAérgicos na SCPA e a consequente desinibição do sistema inibitório descendente, cujos neurotransmissores (noradrenalina e serotonina), reduzem o influxo de informações nociceptivas no corno dorsal da medula espinhal. A administração sistêmica de opióides induz analgesia por supressão do efeito da transmissão GABAérgica nos neurônios das vias descendentes inibitórias. Na área tegumentar ventral, os opióides inibem a liberação de GABA nos terminais neuronais. A inativação de neurônios GABAérgicos permite o funcionamento predominante de neurônios dopaminérgicos, sendo a consequente liberação adicional de dopamina no núcleo acumbens, responsável pela sensação extremamente prazerosa causada pela administração de opióides. A analgesia opióide depende da inibição GABAérgica de interneurônios da SCPA e outras regiões cerebrais e redução da liberação de neurotransmissores pré-sináp- ticos via canais de potássio voltagem dependentes. 15 MORFINA - E uma base fraca (79% sob a forma ionizada a um pH 7,4) e a alcalinização do sangue aumenta a fração de morfina não ionizada. A difusão pela barreira hematoencefálica é lenta. O tempo para atingir a concentração plasmática máxima depende da via de administração. O tempo pela via endovenosa é de seis minutos, o da via subcutânea 30 minutos e o da via oral 60 minutos. A morfina é opticamente ativa, mas apenas a forma levógira induz analgesia. Após ingesta oral, apenas 30% a 50% da dose inicial atinge o SNC. A biodisponibilidade reduzida da morfina se deve à lenta passagem pela barreira hematoencefálica, à sua reduzida lipossolubilidade, a elevada ligação a proteínas plasmáticas, à rápida conjugação com ácido glicurônico e à ionização da substância em pH fisiológico. METADONA - Absorção mucosa e biodisponibilidade oral próxima a 80%, sendo menos de 10% da primeira dose extraída durante a primeira passagem pelo fígado. A meia-vida de eliminação varia de 15 a 150 horas, em decorrência de sua grande variabilidade de metabolização individual. Não induz euforia, mas sua ação analgésica (quatro a oito horas) é, significativamente, mais curta que sua meia-vida de eliminação. Altamente lipossolúvel, possui grande volume de distribuição e mantém concentração plasmática após interrupção da ingestão em razão dos reservatórios periféricos. A metadona pode induzir torsade de points, causada por prolongamento do intervalo QT. Hipopotassemia e hipomagnesemia em pacientes usuários de metadonapodem aumentar o risco de morte súbita. A metadona é antagonista de receptores N-metil-D-aspartato, e inibe recaptação de monoaminas (p. ex., serotonina, norepinefrina) justificando sua efetividade para tratamento da dor neuropática. Antagonistas opioides: NALOXONA - A utilização de naloxona 1 a 4/ug.kg'1 reverte depressão respiratória e analgesia induzida por opióides. A duração de ação é curta (30 a 45 minutos) em relação aos agonistas, sendo, portanto, necessárias doses suplementares ou infusão contínua para se manter o antagonismo opióide. Ocorre absorção oral, mas 1/5 da dose ingerida é eliminada pelo metabolismo de primeira passagem hepática. A naloxona bloqueia todos os receptores opioides, a exceção dos ORL-1. A ação antagonista é máxima após dois minutos de administração parenteral, mas a duração do efeito é curta: 45 minutos se a via é venosa e duas horas após injeção intramuscular de 0,4 mg em um humano adulto de 70kg. QUIMIOTERAPIA A quimioterapia consiste no emprego de substâncias químicas, isoladas ou em 16 combinação que tem como objetivo tratar as neoplasias malignas. È indicado para doenças malignas do sistema hematopoiético e para os tumores sólidos, que apresentam metástases regionais ou á distância. Na maioria dos agentes antiblásticos atuam de forma não especifica, lesando tanto células malignas quanto benignas. Devido os fármacos agirem indistintamente no tumor de tecido normais de proliferação rápida, como o sistema hematopoiético e as mucosas, obriga interrupção periódica do tratamento para recuperação do paciente (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). A aplicação dos agentes antineoplásicos no tratamento do câncer é baseada no conceito da cinética celular, o qual inclui o ciclo de vida celular, o tempo do ciclo celular, a fração de crescimento e a massa tumoral. O tumor maligno é constituído por três grupos de células: as que se dividem ativamente nas fases Gl, S, G2 e M, as paradas na fase G0, e as que perdem sua capacidade reprodutiva e estão morrendo ou já estão mortas. Os tumores menores possuem maior porcentagem de células em reprodução. À medida que o tumor cresce, ocorre uma competição entre as células em busca de nutrientes, oxigênio e espaço, e o número de células ativas em reprodução diminui. As células que estão se reproduzindo ativamente são as mais sensíveis à quimioterapia. Por isso, um dos conceitos para o tratamento do câncer é o de "desavolumar" os tumores com a finalidade de reduzi-los a um pequeno tamanho, situação em que sua velocidade de crescimento aumenta e as células são mais suscetíveis à quimioterapia em decorrência de uma função de divisão celular aumentada. Cada vez que a dose é repetida, mantém-se a proporção de células mortas e não o número absoluto de células são mortas (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR,2019). Os citostáticos agem diretamente na célula, atuando nas diversas fases do ciclo celular. Devido a essa característica é que se opta por usar, mais frequentemente, a poliquimioterapia, na qual mais de dois tipos de medicamentos de classificações farmacológicas diferentes são aplicados, buscando-se um efeito mais abrangente sobre as células tumorais. Na poliquimioterapia, é importante, sempre que possível, a associação de drogas com diferentes toxicidades que permitam aumentar o efeito antitumoral sem elevar a toxicidade. A utilização adequada de drogas antineoplásicas, requer avaliação criteriosa das doses a serem administradas, das vias de administração, dos efeitos colaterais de risco, dos mecanismos de eliminação, do ajuste de doses adequadas em casos de insuficiência de órgãos, e das interações com outras drogas. A estratégia de administração dos medicamentos antineoplásicos consiste em utilizá-los ciclicamente a intervalos suficientemente longos para que haja boa recuperação medular, mas não o suficiente para permitir a recuperação tumoral entre os ciclos (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). 17 Os quimioterápicos classificam-se em: Alquilantes: Ciclo-inespecíficos agem em todas as fases do ciclo celular. Antimetabólicos: Ciclo-específicos, fase-específicos, agem na fase de síntese. Alcalóides: Ciclo-específicos, fase-específicos, agem na fase da mitose. Antibióticos: Ciclo-específicos, fase inespecíficos, agem em várias fases do ciclo celular. Miscelâneas: Medicamentos de composição química e mecanismos de ação pouco conhecidos. Ex.: Hidroxiuréia, procarbazina Lasparaginase. FINALIDADES DA QUIMIOTERAPIA A finalidade da quimioterapia depende basicamente do tipo de tumor, da extensão da doença e do estado geral do paciente. De acordo com sua finalidade, a quimioterapia pode ser classificada em: Curativa: Objetiva a ausência de evidências de doenças pelo mesmo período de tempo que outra pessoa sem câncer. Ex.: leucemias agudas e tumores germinativos. Paliativa: Visa a minimizar os sintomas decorrentes da proliferação tumoral e melhorar a qualidade de vida do paciente, aumentando seu tempo de sobrevida, em função de uma redução importante do número de células neoplásicas. Potencializadora: Quando utilizada simultaneamente à radioterapia no sentido de melhorar a relação dose terapêutica/ dose tóxica do tratamento com irradiação. Objetiva principalmente potencializar o efeito das drogas no local irradiado e conceitualmente não interfere no efeito sistêmico do tratamento. Ex.: tumor de pulmão. Adjuvante: Quando é administrada posteriormente ao tratamento principal, quer seja cirúrgico ou radioterápico. Tem por finalidade promover a eliminação da doença residual metastática potencial, indetectável, porém presumidamente existente. Ex.: tumores de mama, ovário, cólon e reto. Neo-Adjuvante: Quando é administrada previamente ao tratamento definitivo, quer seja cirúrgico ou radioterápico. Objetiva tanto a diminuição do volume tumoral, quanto a eliminação de metástases não detectáveis clinicamente já existentes ou eventualmente formadas no momento da manipulação cirúrgica. Ex.: sarcomas, tumores de mama avançados (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). Para a aplicação da quimioterapia, é necessária uma avaliação prévia do paciente, cuja finalidade é a de assegurar que o seu organismo se encontra em condições de superar os efeitos tóxicos dos medicamentos antiblásticos. Os exames solicitados para proceder-se a esta 18 avaliação dependem das drogas a ser utilizadas, dos seus efeitos tóxicos, do número de ciclos já recebidos e das condições clínicas do paciente. Assim, são requisitos para a aplicação da quimioterapia: Perda do peso inferior a 10% do peso corporal anterior ao do início da doença; Ausência de contraindicação clínica para as drogas selecionadas; Ausência de infecção ou infecção presente, mas sob controle; Contagem das células do sangue e dosagem da hemoglobina sérica (os valores exigidos para a aplicação de quimioterapia em crianças são menores) dentro dos seguintes limites: Leucócitos > 3.000 a 4.000/mm3 Neutrófilos > 1.500 a 2.000/mm3 Plaquetas > 150.000/mm3 Hemoglobina > 10g/dl Dosagens séricas: - Outros exames devem ser solicitados, se assim o indicar a toxicidade específica das drogas utilizadas, especialmente em pacientes acima de 60 anos de idade. São exemplos: avaliação cardiológica (função cardíaca) de pacientes que receberão adriamicina e avaliação da depuração da creatinina, em casos de quimioterapia com metotrexato em doses altas ou cisplatina. A frequência com que esses exames são repetidos não é obrigatoriamente a dos ciclos de quimioterapia, exceto se: Ureia < 50 mg/dl Creatinina < 1,5 mg/dl Bilirrubina total < 3 mg/dl Ácido úrico < 5 mg/dl Transferases (transaminases) < 50 UI/I 19 As drogas utilizadas provocarem depressão da medula óssea (daí, o hemograma e contagem das plaquetas serem exigidos na maioriados casos, pois a maioria dos agentes antiblásticos é mielodepressora); As alterações possam ser provocadas pelo tumor, servindo elas também como parâmetros de avaliação da resposta ao tratamento (leucemias provocam leucocitose; metástases hepáticas, alterações das provas da função hepática; mieloma múltiplo, alterações das globulinas séricas e das provas da função renal; e outros); Ocorrerem intercorrências que precisem ser avaliadas, como exemplo, uma mucosite grau 3 está frequentemente associada à imunossupressão, situação em que exames hematológicos devem ser solicitados(BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR,2019) VIAS E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICOS Quanto ao sítio de aplicação os quimioterápicos podem ser administrados por diversas vias, a saber: Regional: O agente é aplicado diretamente em uma artéria ou cavidade, atingindo-se assim altas concentrações regionais do medicamento e, paralelamente, evitando-se ou minimizando-se a sua ação sistêmica. Ex: intravesical, intrapleural, intratecal, intrapericárdico, intraperitoneal. Local: A droga é injetada diretamente no local do tumor. Ex.: intra-lesional (infiltração no sarcoma de Kaposi), tópica (com 5FU e mostarda nitrogenada). Sistêmico: O agente isolado ou uma combinação de drogas é administrado com o intuito de tratar-se o organismo como um todo. É o método mais utilizado. Ex.: oral, intravenosa, intra- arterial, subcutânea e intra-muscular (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO ANTINEOPLÁSICO Síndrome da Lise tumoral aguda - Desequilíbrio metabólico decorrente da rápida liberação do potássio, fósforo e dos ácidos nucleicos intracelulares para a corrente sanguínea como resultado da destruição das células tumorais. A lise que ocorre durante a quimioterapia pode levar à insuficiência renal e à morte súbita devido à hipercalcemia ou hipocalcemia, causas de arritmias graves (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). Anafilaxia - É decorrente da sensibilidade, ou seja, de uma reação imunológica ou 20 alérgica imediata ao início da administração da droga e que se caracteriza por contração da musculatura lisa e dilatação dos capilares devido à liberação de substâncias farmacologicamente ativas (histamina, serotonina, bradicinina e etc). Manifesta-se por rubor facial, edema palpebral, dispneia, tosse, podendo evoluir para edema de glote (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). Flebite - Geralmente ocorre quando há administração rápida de quimioterápicos antineoplásicos irritantes ou é administrado em vias de pequeno calibre. Os sintomas são dor local, hiperemia, endurecimento e/ou escurecimento do trajeto venoso (BASES DO TRATAMENTO DO CANCÊR, 2019). Extravasamento- É a infiltração de quimioterápico antineoplásico (QA) intravenoso para os tecidos locais, que podem ser ocasionados por drogas irritantes, que causam dor e inflamação no local da administração ou ao longo do trajeto venoso. Os QA vesicantes têm o potencial de causar dano celular ou destruição tecidual. Os sinais e sintomas podem ser imediatos com queimação, desconforto local e eritema ou tardio (dor, edema, enduração, ulceração vesicular, necrose, celulite e inflamação) (BASES DO TRATAMENTO DO CÂNCER, 2019) METÁSTASE Os tumores malignos apresentam duas propriedades peculiares: invasão dos tecidos circunvizinhos e comprometimento a distância (metástase). A metástase é definida como o comprometimento a distância por uma parte do tumor que não guarda relação direta com o foco primário (INCA, 2008). A disseminação tumoral é um processo complexo e não de todo esclarecido, que pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e infiltração de tecidos subjacentes por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos linfáticos e sanguíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas como na forma de pequenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na circulação; 4) sua retenção nos leitos capilares de órgãos distantes; 5) seu extravasamento dos vasos linfáticos ou sanguíneos, seguido do crescimento das células tumorais disseminadas (INCA, 2008). Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicos devem ser superados para que as células neoplásicas consigam implantar-se em um novo órgão e terem crescimento autônomo em relação ao tumor primário. A figura 3 resume os eventos relacionados aos mecanismos da disseminação tumoral (INCA, 2008). 21 FIGURA 3. Cascata metastásica Cascata metastática - Principais eventos (setas) (INCA, 2008). As vias pelas quais o tumor se dissemina são: transcavitária, linfática e sanguínea: • Disseminação transcavitária - As metástases transcavitárias (ou transcelômicas) ocorrem quando células de um tumor maligno penetram alguma cavidade corporal e aí crescem e disseminam-se. Na prática, as cavidades mais afetadas são a peritoneal e a pleural, porém a pericárdica, subaracnóidea e articular podem também ser atingidas (INCA, 2008). • Disseminação linfática - As metástases linfáticas são geralmente o padrão inicial de disseminação das neoplasias de origem epitelial, podendo ser utilizada por outros tipos de tumor. Elas seguem a drenagem linfática normal da área do tumor primário, ocupando os linfonodos mais próximos e que recebem maior número de vasos linfáticos aferentes. Exemplo disto é a disseminação linfática do câncer de pulmão, que invade inicialmente os linfonodos mediastinais e, em seqüência, os supraclaviculares e cervicais. O mesmo se verifica com o câncer de mama, que invade inicialmente os linfonodos axilares homolaterais, só posteriormente estendo-se aos de outras cadeias linfáticas supraclaviculares, infraclaviculares, cervicais, mediastinais e axilar contralateral. Por um tempo não determinado, é possível que os linfonodos consigam impedir a disseminação das células tumorais, pois, chegando aos 22 linfonodos, elas entram em contato com células do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, se resistirem e encontrarem condições vitais favoráveis, poderão multiplicar-se (INCA, 2008). • Disseminação sangüínea - As metástases por via hematogênica têm seu início quando células tumorais invadem os vasos sangüíneos. As veias e vênulas, por possuírem paredes mais frágeis, são mais facilmente penetradas do que artérias e arteríolas. As metástases por via arterial podem ocorrer, por exemplo, quando células metastáticas cruzam o leito capilar pulmonar, quando atravessam comunicações arteriovenosas ou quando as próprias metástases pulmonares funcionam como foco de novas células tumorais capazes de metastatizar. Em todo o organismo, os órgãos que mais são comprometidos por esse tipo de disseminação são, obviamente, os mais vascularizados: pulmão e fígado, em parte por receberem, respectivamente, grande volume de sangue procedente das circulações cava e porta, ossos e cérebro (INCA, 2008). Padrões de localização Em relação à escolha dos órgãos-alvo, sabe-se que a distribuição das metástases é variável, e depende principalmente do tipo histológico e da localização do tumor primário. De fato, a localização mais comum de metástases de vários tipos histológicos é o primeiro leito capilar que as células encontram. Exemplos são o câncer de pulmão metastatizando para o sistema nervoso central e o câncer de cólon para o fígado. Entretanto, locais específicos parecem ser preferidos pelas células tumorais circulantes, como no caso do câncer de próstata para ossos. Isto demonstra um processo de íntima correlação entre célula tumoral e órgão-alvo, denominado tropismo seletivo. A metástase deve ser vista como um novo tumor, diferente do primário, com ampla autonomia para crescimento e propagação. Uma compreensão mais abrangente sobre a patogênese da disseminação do câncer provavelmente resultará em mudanças significativasno tratamento (INCA, 2008). Para melhor explicar, segue alguns exemplos de tumores e seus respectivos principais sítios metastáticos: CÂNCER DE MAMA A metástase óssea é o sítio de metástase mais frequente do câncer de mama, seguida pela metástase pulmonar/pleural, hepática e para o SNC (GOLDMAN; CECIL, 2009). CÂNCER DE PULMÃO O comprometimento IinfonodaI, principaImente mediastinal, é o mais freqüente, 23 podendo algumas vezes produzir sintomatologia ao comprimir estruturas vasculares, nervosas ou mesmo brônquios (COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES, 2004). Metástases não-linfonodais poderão, teoricamente, ocorrer em qualquer órgão, mas são as pleuras os locais mais freqüentemente atingidos. Metástases cardíacas são, na maioria das vezes, de difícil diagnóstico, e os sinais mais importantes são os distúrbios do ritmo e a instalação de insuficiência cardíaca progressiva (COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES, 2004). As metástases ósseas ocorrem entre 10% e 35% dos pacientes em alguma fase da doença. São características a dor localizada e a limitação de movimentos. Os ossos mais atingidos são arcos costais, corpos vertebrais e ossos longos proximais. Metástases cerebrais se manifestam por cefaléia de instalação recente, náuseas e vômitos, confusão mental, convulsões e sinais neurológicos focais. O pulmão é o sítio do tumor primário em aproximadamente 70% dos pacientes que apresentam metástases cerebrais sintomáticas (COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES, 2004). Metástases hepáticas só são sintomáticas quando numerosas e volumosas, e determinam alterações nas provas de função hepática; nesses casos surgem os sintomas de fraqueza e perda de peso. Metástases adrenais são assintomáticas e descobertas na tomografia computadorizada, quando os cortes incluem o abdome superior (COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES, 2004). CÂNCER COLORRETAL Os cânceres colorretais em estágio IV são caracterizados por disseminação para outros órgãos, sendo os principais o fígado, pulmão, linfonodos fora do sítio de drenagem local, como linfonodos retroperitoneais e peritônio. Vinte por cento dos pacientes apresentam doença metastática à apresentação inicial. Os tumores retais primários, por causa do acesso inicial à circulação sistêmica, podem envolver os pulmões poupando acometimento hepático; esse padrão de disseminação é menos comum em tumores de segmentos colônicos mais proximais (GOLDMAN; CECIL, 2009). CÂNCER PROSTATA As metástases ocorrem na maioria das vezes para os ossos, onde são frequentemente assintomáticas, mas também podem causar dor intensa e persistente. As metástases ósseas podem resultar em fraturas patológicas ou compressão de medula óssea. Embora as metástases viscerais sejam raras como características iniciais do câncer de próstata, os pacientes podem desenvolver metástases pulmonares, hepáticas, pleurais, peritoneais e do sistema nervoso central tardiamente na história natural da doença ou após o tratamento de privação androgênica 24 fracassar (GOLDMAN; CECIL, 2009). CÂNCER DE COLO DO ÚTERO A disseminação da doença, quando ocorre, é principalmente pela via linfática para linfonodos pélvicos e periaorticos. A ocorrência de metástase a distancia de câncer de colo uterino ocorre em 10% dos casos principalmente para o pulmão, ossos e fígado (VIEIRA, 2003). MELANOMA O melanoma cutâneo tem origem neuroectodérmica, formando-se a partir dos melanócitos que migram da crista neural para toda a epiderme, durante a embriogênese. Essa origem facilita sua capacidade de disseminação, tornando-o tumor maligno da pele com maior agressividade, por apresentar grande capacidade de invasão e metastatização (HOFF et al., 2013). O melanoma é mais comumente de origem cutânea, porém pode surgir nas superfícies das mucosas e no interior do trato uveal do olho, bem como nas leptomeninges. Embora a maioria dos melanomas seja de cor marrom-escura devido à deposição de melanina, alguns variam entre a cor da pele até o rosa-avermelhado, isto é, amelanótico (BOLOGNIA; JORIZZO; SCHAFFER, 2015). O câncer apresenta várias características, incluindo a autossuficiência em relação a sinais de crescimento, insensibilidade a sinais de anticrescimento, evasão de apoptose, potencial replicativo ilimitado, angiogênese sustentada, invasão de tecidos e metástases. Carcinomas geralmente se desenvolvem através de um processo gradual de evolução. A progressão do tumor envolve a instabilidade genética e o crescimento seletivo de células com mutações vantajosas. Outros fatores incluem a predisposição genética, eventos ambientais mutagênicos e resposta do hospedeiro antitumoral. Ao longo das últimas décadas, as taxas de incidência de melanoma cutâneo têm aumentado significativamente. Desenvolve-se quase exclusivamente em populações caucasianas, com sua incidência permanecendo muito baixa entre as populações pigmentadas de origem africana, asiáticos e hispânicos (BOLOGNIA; JORIZZO; SCHAFFER, 2015). Existem vários tipos de melanomas os principais estão citados na tabela abaixo de acordo com Bolognia, Jorizzo, Schaffer, (2015): Tipos Frequência Idade Cor/Área Características Melanoma superficial disseminado (SSM) 60-70% 40 a 60 anos Pele clara/ tronco e pernas Começa como um marrom assintomático à mácula preta com cores variadas e irregulares, bordas chanfradas. 25 Melanoma Nodular 15% -30% Sexta década Pele clara/ tronco, cabeça e pescoço Coloração de azul para preto, mas por vezes rosa para vermelho, que podem ser nódulo ulcerado ou hemorragia Melanoma lentigo maligno (LMM) 10% 70 anos Pele danificada pelo sol/ Face, nariz e bocheca Crescimento lento, assimétrico, mácula marrom ao preto com cor variada e irregular, de borda recuada. LMM invasivo surge como uma lesão precursora chamada lentigo maligno Melanoma lentiginoso acral (ALM) 5% Sétima década Todos os grupos raciais e étnicos/ Palmas das mãos ou plantas dos pés mácula assimétrica, marrom ao preto, com variação de cores e bordas irregulares Melanoma “Spitzoid” - - - Simetria geral e um nódulo dérmico de melanócitos epitelioides que não amadurecem com extensão progressivamente mais profunda da derme. Melanoma Desmoplástico Menos de 4% 66 anos Locais de exposição solar Lesão clínica típica consiste em um nódulo da cor da pele, vermelho ou marrom- escuro ou placa. Tumor é altamente infiltrativo Melanoma de Partes Moles - Adolescentes e adultos jovens Extremidades distais Os tumores surgem em associação com tendões e aponeuroses, e são compostos por ninhos e fascículos de oval para células fusiformes com núcleo vesicular, nucléolos basófilos e citoplasma eosinofílico claro, células gigantes multinucleadas e melanina Nevo azul maligno Raro - Cabeça e particularmente no couro cabeludo Nódulo azul-preto, profundamente situado, geralmente >1cm de diâmetro. Áreas nodulares de melanócitos fusiformes atípicos e dendríticos bipolares, figuras de mitose, necrose e melanófagos Melanoma Ocular Raros (5% de todos os melanomas) - Região ocular, principalmente na uvea Nevos azuis Melanoma Mucoso Raros - Boca, nasofaringe, laringe, vagina e ânus Tendem a ocorrer perto das junções mucocutâneas de epitélio escamoso e coluna, são declarados amelanóticos 26 O diagnóstico clínico do melanoma cutâneo continua a basear-se na inspeção visual e dermatoscopia. Um histórico de mudança na cor, forma ou tamanho de uma lesão de pele pigmentada ao longo de meses ou anos é o sinal clínico mais sensível para o melanoma, e pode ser detectado pelo próprio paciente ou por meio de exames de rastreio em série com base na dermatoscopia com armazenamento de imagem ou lesional ou fotografia de corpo total (BOLOGNIA; JORIZZO; SCHAFFER, 2015).Existe a regra do ABCDE do melanoma para diagnóstico clínico (RIVITTI, 2018): A. Assimetria: perda de simetria; B. Bordas irregulares: presença de reentrâncias e saliências; C. Coloração heterogênea: presença de várias cores dentro de uma mesma lesão; D. Diâmetro: superior a 6mm; E. Expansão: em superfície ou modificação do aspecto da lesão. O estadiamento é realizado para verificar a extensão do melanoma, baseado na avaliação do tumor primário (T), com espessura de Breslow e ulceração com os principais fatores de prognóstico; presença de linfonodos regionais (N); e metástases a distância. As metástases podem ser locais, regionais ou sistêmicas. Essa última ocorre por disseminação hematogênica e atingem a própria pele, subcutâneo ou vísceras como pulmão (33-44%), cérebro ou SNC (17- 22%), fígado (7-14%) e ossos (7-8%). Algumas diretrizes determinam a pesquisa de linfonodos sentinelas em pacientes com melanoma de espessura > 1mm ou invasão linfovascular < 1mm com fato de alto risco. Outros recomendam com espessa > 0,75mm. Pois, quando não há acometimento do linfonodo sentinela, a cadeia ganglionar pode ser considerada isenta de metástase (RIVITTI,2018). CUIDADOS PALIATIVOS A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) define os Cuidados Paliativos como uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de situações que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Para tal, requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outras situações angustiantes de natureza física, psicossocial e/ou espiritual. Um dos pilares dos Cuidados Paliativos é o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. O foco da atenção não é a doença a ser curada ou controlada, mas o doente, entendido como um ser biográfico, ativo, com direito à informação e à autonomia plena para decisões a respeito do seu tratamento. A prática adequada dos Cuidados Paliativos preconiza uma atenção individualizada ao doente e à sua 27 família, a busca da excelência no controle de todos os sintomas e a prevenção do sofrimento. Segundo a médica precursora do Movimento Hospice Moderno, CicelySaunders, os Cuidados Paliativos não são uma alternativa de tratamento, mas sim uma parte complementar e vital de todo o acompanhamento do paciente. Desta forma, o tratamento curativo e a abordagem paliativa podem ocorrer de maneira simultânea. À medida que a doença progride e o tratamento curativo perde o poder de oferecer um controle razoável da mesma, os Cuidados Paliativos crescem em significado, surgindo como uma necessidade absoluta na fase em que a incurabilidade se torna uma realidade irreversível (SULINA,2012). Particularmente na fase final da vida, quando o processo de morte se desencadeia de forma rápida e irreversível, os Cuidados Paliativos se tornam imprescindíveis e complexos. Preconiza-se, nesta fase, a atuação conjunta de uma equipe de profissionais adequadamente treinados no controle das causas de sofrimento para os pacientes, como também no suporte aos familiares, utilizando estratégias e técnicas de comunicação. A atuação desta equipe tem o objetivo de dar uma atenção específica e contínua ao doente, sua família e entorno afetivo. Isso favorece o esclarecimento da história natural da doença em curso e do seu processo evolutivo, ao mesmo tempo em que valoriza a dignidade e a autonomia dos pacientes e representantes legais, em harmonia com os outros princípios bioéticos (beneficência, não maleficência e justiça), com o intuito de proporcionar alívio, prevenindo uma morte caótica e com grande sofrimento. A antecipação das situações de crise é uma das grandes estratégias para alcançar esse objetivo (SULINA,2012). FARMACOLOGIA DOS MEDICAMENTOS MENCIONADOS NO TEXTO 1. Bloqueadores da Bomba de Prótons Farmacocinética Todos os inibidores da bomba de prótons são “pró-fármacos” que necessitam ativação em ambiente ácido. Os fármacos dessa classe entram na célula parietal a partir do sangue e acumulamse nos canalículos secretores ácidos da célula parietal, onde são ativados por um processo catalisado por prótons, que resulta na formação de uma sulfenamida tiofílica ou ácido sulfênico. Essa forma ativada reage por meio de ligação covalente com o grupo sulfidril de cisteínas do domínio extracelular da H +, K + ATPase, as quais são essenciais para a inibição da produção ácida. O resultado é a inibição irreversível da secreção ácida da bomba de prótons. Por causa da ligação covalente, os efeitos inibitórios dos IBPs duram muito mais tempo do que sua meiavida plasmática. A meiavida plasmática dos IBPs varia em torno de 1 a 2 horas, e o 28 efeito sobre a secreção ácida pode durar até 24 horas, até que ocorra a síntese de nova enzima. Todo o potencial inibidor do ácido pode levar até 3 a 4 dias. Por exemplo, a restauração da biossíntese da enzima H + , K + ATPase ocorre cerca de 96 horas após a dose oral de pantoprazol. De acordo com o mecanismo de ação, os anéis piridina e benzimidazol, bem como a cadeia –CH2 SO são essenciais para a atividade dos IBPs. Os substituintes em ambos os anéis são importantes para determinar a velocidade de conversão à forma ativa e diminuir a toxicidade. São rapidamente absorvidos, altamente ligados às proteínas e geralmente bem tolerados, mas de modo semelhante a alguns bloqueadores H2, interagem com algumas enzimas microssomais do citocromo P450, podendo reduzir o catabolismo alguns fármacos, como varfarina e fenitoína. Uma vez que causam inibição profunda e duradoura da secreção ácida gástrica, teoricamente é possível que possam interferir na absorção de fármacos em que o pH gástrico seja um fator importante para a biodisponibilidade (p. ex.: cetoconazol, ésteres da ampicilina, sais de ferro, digoxina). Eficácia comprovada Tratamento sintomático e cicatrização de úlceras pépticas induzidas por uso crônico de AINEs. Prevenção de lesões gastrintestinais induzidas pelo uso crônico de AINEs. Coadjuvante na prevenção de recorrência de úlceras pépticas induzidas por H. pylori. Tratamento de esofagite ou sintomas associados à doença do refluxo gastresofágico. Provável eficácia Tratamento da dispepsia com pirose e regurgitação. Sugerida ineficácia Tratamento do sangramento digestivo alto causado por úlcera péptica. Profilaxia primária de sangramento digestivo alto causado por úlcera de estresse. Apesar de pertencerem à mesma classe terapêutica, existem algumas diferenças em seus perfis farmacológicos. Ao contrário do omeprazol e do lansoprazol, o pantoprazol tem um perfil farmacocinético linear (e, portanto mais previsível), biodisponibilidade menos variável e um rápido início de ação. 27 Por ser uma base mais forte, o rabeprazol convertese mais rapidamente à forma sulfenamida, resultando em uma rápida inibição da enzima. Isto se deve ao valor de pKa do nitrogênio do seu anel piridínico (pKa= 5), enquanto que o dos demais apresentam valor em torno de 4. Outra diferença é em relação à atividade antiHelicobacter pylori, onde o rabeprazol mostrou ser 10 vezes mais potente que omeprazol e lansoprazol na inibição da enzima urease bacteriana. Este efeito provavelmente é devido à formação de pontes dissulfeto no sítio ativo da enzima. Além disso, rabeprazol e seu metabólito tioéter possuem marcada atividade inibitória sobre a motilidade de H. pylori, a qual é importante para colonização da mucosa gástrica. Seguindo nas diferenças farmacocinéticas dos IBPs, temse o esomeprazol (isômero S do omeprazol), considerado o primeiro inibidor de bomba de prótons desenvolvido 29 como um único isômero para o tratamento de doenças ácidorelacionadas. A justificativa para o desenvolvimento de isômeros únicos dos IBPs decorre do fato de que a quiralidade de fármacos pode ter um significado clínico considerável, uma vez que as enzimas e receptoresgeralmente têm uma preferência estereoquímica de um isômero óptico. Isso pode resultar em diferenças importantes no perfil farmacocinético e farmacodinâmico dos isômeros ópticos, e, portanto, na sua eficácia clínica. O esomeprazol possui uma depuração mais lenta comparado com a forma racêmica e, portanto, o esperado é que se atinja um maior nível sanguíneo e melhor efeito inibitório da bomba de prótons. Em dois estudos que compararam os efeitos do pH intragástrico do esomeprazol com omeprazol, foram encontradas pequenas diferenças, mas estatisticamente significativas entre os dois. O dexlansoprazol foi aprovado em 2009 pelo FDA e ainda não é comercializado no Brasil, sendo o primeiro inibidor da bomba de prótons com uma formulação de liberação lenta que contém dois tipos de grânulos com revestimento entérico, resultando em picos de concentração em 1 a 2 horas após a administração e novamente em 4 a 5 horas.Estudos farmacocinéticos mostraram que o tenatoprazol exibe um longo tempo de meiavida (9 horas para a administração repetida de 40 mg, isto é, de 5 a 7 vezes maior que os outros IBPs disponíveis atualmente) e investigações farmacodinâmicas têm mostrado um aumento do pH intragástrico com tenatoprazol (pH 4,6) significativamente mais elevado do que o observado com o mesmo regime de esomeprazol (pH 4,2). Evidenciouse também que o efeito inibitório da supressão ácida com tenatoprazol é mais duradouro, o que foi atribuído à estrutura química diferente de tenatoprazol e/ou às características resultantes da interação com o sítio da cisteína ou sítios da H + , K + ATPase. Apesar de diferenças e/ou vantagens farmacocinéticas, todos os IBPs inibem fortemente a secreção de ácido gástrico, não demonstrando diferenças terapêuticas significativas entre si. Doses e Posologia Dosespadrão de IBPs podem reduzir a secreção de ácido gástrico em até 98% por inativação irreversível da bomba de prótons da célula parietal gástrica. Recomendase que sejam administrados aproximadamente 1 hora antes das refeições, para aumentar a biodisponibilidade. A alimentação reduz o pico de concentração do lansoprazol e sua absorção em aproximadamente 50%. No entanto, a ingestão concomitante de alimento não influi significativamente na biodisponibilidade do pantoprazol em dose simples em pessoas saudáveis. Estudos envolvendo omeprazol (20mg), pantoprazol (40 mg), lansoprazol (30 mg), rabeprazol (20 mg) e esomeprazol (20 mg) apontam a equivalência clínica destes fármacos nestas dosagens. Para o tratamento da maior parte dos distúrbios relacionados, esses fármacos 30 são administrados em única dose diária. Efeitos adversos Os IBPs são geralmente bem tolerados pelos pacientes. Dor de cabeça, dor abdominal, náusea e diarréia são os efeitos colaterais mais comuns. A incidência de diarréia aumenta com a idade e dosagem. Efeitos secundários pouco freqüentes incluem erupção cutânea, coceira e constipação. A incidência global de efeitos secundários é inferior a 5%, fazendo o uso de IBPs ideal para a terapia de curto prazo, no entanto, continua a existir preocupações sobre o impacto a longo prazo. O efeito de primeira passagem e a depuração renal são mínimos, portanto, a redução da dose não é necessária para pacientes com insuficiência renal. Na dose habitual (20 a 40 mg/dia) o omeprazol inibe acima de 90% da secreção ácida de 24 horas na maioria dos pacientes, tornando muitos destes pacientes quase aclorídricos. Devido a esta potência, há dúvidas na segurança do seu uso em longo prazo. O ácido gástrico, por um mecanismo de "feedback", inibe a secreção endócrina da gastrina pelas células G localizadas nas glândulas antrais (pilóricas). Se a acidez gástrica é nitidamente reduzida, as células G secretam quantidades aumentadas de gastrina, levando à hipergastrinemia. A gastrina é um hormônio trófico, estimula a proliferação e crescimento de certas células e tecidos. A utilização em longo prazo de omeprazol em humanos pode possivelmente produzir proliferação de células e tumores carcinóides, porém não foram ainda claramente estabelecidos como uma conseqüência do uso crônico do medicamento. A administração de pantoprazol em longo prazo (24 meses) em animais (ratos e camundongos) causou a inibição da secreção ácida gástrica, levando a hipergastrinemia, resultando na hiperplasia das células e observandose tumores carcinóides do estômago e cólon nos animais testados. Estes fenômenos não foram constatados em seres humanos. Embora a segurança do uso dos IBPs já tenha sido comprovada, relatos recentes têm chamado a atenção para potenciais efeitos secundários ou interações medicamentosas. Estudos apontam para absorção deficiente de alguns fármacos quando administrados juntamente com os IBPs, tais como: cetoconazol, itraconazol e astranavir, bem como aumento na absorção de medicamentos como nifedipino e digoxina. Além disso, estudos recentes levantaram a questão de que, quando usados em terapia conjunta, os IBPs levam a uma redução na conversão de clopidogrel em sua forma ativa, reduzindo assim a eficácia do tratamento com clopidogrel, que é um importante agente antiagregante plaquetário. Dessa forma, os IBPs estariam contribuindo para a ineficácia do tratamento de cardiopatias e eventos aterotrombóticos. Por outro lado, autores citam que os estudos existentes apresentam resultados inconsistentes e discordantes. Mesmo assim, em novembro de 2009, o 31 FDA emitiu um alerta aos profissionais de saúde sobre o potencial de interação entre clopidogrel e omeprazol ou esomeprazol, limitando o alerta apenas para o uso desses dois IBPs. Recentemente, também foi levantada a questão de que o uso de IBPs poderia induzir má absorção de cálcio pelos ossos e, dessa forma, levar à osteoporose e aumentar o risco ocorrência de fraturas, principalmente no quadril. No entanto, os dados apresentados não são uniformes. Alguns estudos conseguem demostrar que há uma pequena, mas estatísticamente significativa, associação entre o uso de IBPs e o risco de fraturas, porém não demonstram significância clínica pelo fato do risco ser baixo. Mesmo com as limitações metodológicas dos estudos, o FDA anunciou em maio de 2010, que deveria existir uma mudança na bula dos IBPs, contendo a informação de indicar um possível risco de fratura com o uso desses medicamentos. 2. Codeína Propriedades farmacodinâmicas A codeína é um analgésico opioide e antitussígeno. A codeína é um medicamento analgésico que age nos receptores μ-opiáceos predominantemente através do seu metabólito ativo morfina, que é formado quase que exclusivamente pela enzima geneticamente polimórfica 2D6 do citocromo P450 (CYP2D6). A codeína também se liga fracamente aos receptores κ, que mediam a analgesia, miose e sedação. Os principais efeitos da codeína são no sistema nervoso central (SNC). A codeína é um agonista opiáceo, com baixa afinidade pelo receptor opiáceo. A codeína assemelha-se à morfina em possuir ações analgésicas, antitussígenas e antidiarreicas. A codeína, particularmente em combinação com outros analgésicos, como o paracetamol, mostra-se eficaz na dor nociceptiva aguda. Propriedades farmacocinéticas Absorção da codeína é rápida após administração oral de comprimido e líquido, com uma biodisponibilidade de 50-80%. A codeína pode ser detectada no plasma logo, de 0,17 a 1 hora (h) após administração oral. A Tmáx da 30 mg e 60 mg de codeína ocorreu em 0,75 a 1 h e 0,61 a 1,3 h com Cmáx de 61 a 89,1 ng/mL e 122,8 a 214,2 ng/mL, respectivamente. A AUC para 30 mg e 60 mg de codeína é 216 e 354,6 ng·h·ml-1 e 417 a 734 ng·h·ml1. A codeína pode ser administrada com ou sem alimentos. Quando as doses de 30 mg de codeína e 1000 mg de paracetamol são administradas juntas, nenhuma interação medicamentosa farmacocinética entre a codeína e o paracetamol foi demonstrada. Distribuição da codeína entra nos tecidosrapidamente e se concentra nos rins, pulmões, fígado e baço. A codeína é menos de 10% ligada à proteína com um Vd entre 3 a 4 L/kg. Metabolismo da codeína é feito por O- e N-demetilação no fígado em morfina, 32 norcodeína e outros metabólitos incluindo normorfina e hidrocodona. Aproximadamente 50% sofre metabolismo pré-sistêmico no intestino e fígado. O metabolismo para morfina é mediado pela isoenzima CYP2D6 do citocromo P450, que mostra polimorfismo genético. Uma proporção significativa da população é de metabolizadores fracos ou rápidos de codeína devido a diferenças genéticas no metabolismo. Como consequência, eles apresentam efeitos analgésicos opioides ou eventos adversos imprevisíveis. A etnia é um fator na ocorrência de variabilidade de CYP2D6. Pacientes que são metabolizadores fracos (PMs) de CYP2D6, possuem uma deficiência ou são completamente desprovidos desta enzima e não irão obter efeito adequado. Aproximadamente 6 a 10% dos caucasianos, 0,5 a 1% dos chineses, japoneses e hispânicos, 1% dos árabes e 3% dos afro-americanos são metabolizadores fracos. Metabolizadores ultrarrápidos convertem codeína em morfina mais rápida e completamente. Em metabolizadores ultrarrápidos (UMs), há um risco aumentado de desenvolver efeitos colaterais de toxicidade opioide mesmo em doses baixas. Sintomas gerais de toxicidade opioide incluem depressão do estado mental, hipoventilação, miose e hipoperistaltismo. A prevalência da presença deste genótipo de CYP2D6 varia e é estimada em 0,5 a 2% em asiáticos; 1 a 10% em caucasianos; 3 a 6,5% em afro-americanos; e 16 a 29% nos africanos do Norte, etíopes e árabes. A codeína e seus metabólitos ativos, como morfina, são excretados quase que totalmente pelos rins, principalmente como conjugados com ácido glicurônico. Apenas 3% a 16% da dose de codeína administrada, seja de maneira isolada ou com paracetamol, é excretada não metabolizada na urina. O T½ para 30 mg e 60 mg de codeína é 1,5 a 2,2 h e 2,1 a 4,5 h, respectivamente. Para codeína administrada com paracetamol, o T½ é semelhante ao de codeína isolada. No entanto, em um estudo de pacientes em hemodiálise, o T½ médio foi de 13 ± 3,3 h em comparação com indivíduos saudáveis no estudo com T½ de 4,5 ± 0,8 h. Pacientes com comprometimento renal devem ser monitorados cuidadosamente devido ao possível acúmulo do medicamento e do metabólito. A codeína possui uma depuração sistêmica relatada de 265- 850 mL/min. e a sua depuração ao ser administrada com paracetamol é de 291 mL/min. Embora nenhuma recomendação específica de administração esteja disponível para pacientes com disfunção hepática, doses menores e intervalos de dose prolongados devem ser considerados para se evitar acúmulo do medicamento. Posologia A dose deve ser ajustada de acordo com a intensidade da dor e a resposta do paciente. De modo geral, de acordo com o processo doloroso, recomenda-se: 1 comprimido a cada 4 33 horas. Em adultos, nas dores de grau mais intenso (como por exemplo, as decorrentes de determinados pós-operatórios, traumatismos graves, neoplasias) recomendam-se 2 comprimidos a cada 6 horas, não ultrapassando o máximo de 8 comprimidos em um período de 24 horas. A dose diária máxima para adultos é de: 240 mg, a cada 24 horas. 3. Odansetrona Propriedades farmacodinâmicas Mecanismo de ação A ondansetrona, substância ativa de cloridrato de ondansetrona, é um potente antagonista, altamente seletivo, dos receptores 5-HT3. Seu mecanismo de ação no controle da náusea e do vômito ainda não é bem conhecido. Os agentes quimioterápicos e a radioterapia podem causar liberação de 5-HT no intestino delgado, iniciando um reflexo de vômitos pela ativação dos aferentes vagais nos receptores 5-HT3. A ondansetrona bloqueia o início desse reflexo. A ativação dos aferentes vagais pode ainda causar liberação de 5-HT em área extrema localizada no assoalho do quarto ventrículo e isso também pode promover náuseas e vômitos através de um mecanismo central. Desse modo, o efeito da ondansetrona no controle de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia citotóxica e radioterapia se deve ao antagonismo do fármaco aos receptores 5-HT3 dos neurônios do sistema nervoso periférico e do sistema nervoso central. Não se conhece o mecanismo de ação desse fármaco na náusea e no vômito pós-operatórios, no entanto as vias devem ser comuns às da náusea e do vômito induzidos por agentes citotóxicos. Na prevenção de náuseas e vômitos pós-operatórios, o início da ação ocorre em menos de 1 hora após administração de uma dose de 16 mg por via oral. No controle de náuseas e vômitos induzidos por radioterapia e quimioterapia, o início de ação ocorre dentro de 1 até 2 horas após a administração de 8 mg por via oral. Propriedades farmacocinéticas Absorção: Após dose oral, a ondansetrona é absorvida passiva e completamente no trato gastrointestinal e sofre metabolismo de primeira passagem. Feita a administração, os picos de concentração plasmática são atingidos em aproximadamente uma hora e trinta minutos. Para doses acima de 8 mg, o aumento da exposição sistêmica da ondansetrona é desproporcional a dose. Isso pode ser reflexo de uma ligeira redução do metabolismo de primeira passagem em doses orais elevadas. A biodisponibilidade, em indivíduos saudáveis do sexo masculino, após a administração de um único comprimido de 8 mg é de aproximadamente 55% a 60% em média. A biodisponibilidade torna-se levemente aumentada na presença de alimentos, mas inalterada por antiácidos. Distribuição: A ligação às proteínas plasmáticas é de cerca de 70% a 76%. Em adultos, 34 a disponibilidade da ondansetrona após a dose oral é similar à observada após a administração intravenosa ou intramuscular; o volume de distribuição é de cerca de 140 L no estado de equilíbrio. Metabolismo: A ondansetrona é depurada da circulação sistêmica predominantemente por metabolismo hepático, através de diversas vias enzimáticas. A ausência da enzima CYP2D6 (polimorfismo da debrisoquina) não interfere na farmacocinética da ondansetrona. Eliminação: A ondansetrona é eliminada da circulação sistêmica predominantemente por metabolismo hepático. Menos de 5% da dose absorvida são excretados inalterados na urina. A disponibilidade da ondansetrona após dose oral é similar à observada após a administração intravenosa ou intramuscular; o tempo de meia-vida de eliminação terminal é de aproximadamente três horas. Posologia Uso exclusivamente oral. Não há recomendação de dose para crianças com área corporal menor que 0,6 m², peso corporal menor ou igual a 10 kg ou que não possuam a habilidade de deglutir o comprimido. Os comprimidos de cloridrato de ondansetrona devem ser ingeridos de preferência com um copo de água. 4. Clorpromazina Farmacocinética Absorção é rapidamente absorvido por via oral e a sua biodisponibilidade relativa em relação à via intramuscular é em média de 50%. Distribuição da clorpromazina apresenta boa difusão em todos os tecidos, ligando-se fortemente às proteínas plasmáticas (90%). Tem meia-vida plasmática curta (algumas horas), mas a eliminação é lenta e prolongada (4 semanas ou mais). Observa-se variações individuais importantes nas concentrações plasmáticas. Metabolismo da clorpromazina sofre o efeito de primeira passagem no trato gastrintestinal e intensa metabolização hepática, com formação de metabólitos tanto ativos quanto inativos, com reciclagem êntero-hepática. A excreção é feita através da urina e pelas fezes, onde aparece principalmente sob a forma de metabólitos. Posologia Via oral: tem uma grande margem de segurança, podendo a dose variar desde 25 a 1600 35 mg ao dia, dependendo da necessidade do paciente. Deve-se iniciar o tratamento com doses baixas, 25 a 100 mg, repetindo de 3 a 4 vezes ao dia, se necessário, até atingir uma dose útil para o controle dasintomatologia no final de alguns dias (dose máxima de 2 g/dia). A maioria dos pacientes responde à dose diária de 0,5 a 1 g. Em pacientes idosos ou debilitados, doses mais baixas são geralmente suficientes para o controle dos sintomas. Via parenteral Intramuscular (adultos): usada em pacientes internados, é preconizada uma dose inicial de 25 a 100 mg, repetida dentro de 1 a 4 horas, se necessário, até o controle dos sintomas. Como na via oral, a dose a ser administrada em pacientes idosos ou debilitados deve ser menor (1/2 a 1/3 da dose de adultos). A administração por via oral deve ser introduzida quando os sintomas estiverem controlados. 36 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa situação problema 5 da unidade XII nos mostra como compreender a dor oncológica, por mais que ela tenha vários fatores, diversos modos de tratamento, que, por sinal, incluem diversos benefícios físicos e emocionais, acompanhados de possiveis consequências, como as citadas. O controlo da dor em pacientes oncológicos tem vindo a melhorar significativamente nos últimos anos, com a emergência de novos fármacos e a sua utilização baseada em normas, mas ainda não é o ideal. Estima-se que cerca de 10 a 30% dos pacientes não têm a sua dor controlada, quando são utilizados os três degraus da escada. Isso significa que uma quantidade significativa de pacientes não obtêm alívio satisfatório da dor e necessita de outras estratégias. 37 REFERÊNCIAS 1. II Consenso Nacional de Dor Oncológica. -1. ed. -- São Paulo : EPM - Editora de Projetos. 2. 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