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07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 1/16 Lição 09 Técnicas Operacionais da Qualidade Gestão de Qualidade Começar a aula 1. Introdução Vivemos em um mundo em constante transformação onde as empresas e as pessoas que não se reinventarem e se adaptarem às novas realidades estarão fadadas ao insucesso. Portanto, por melhor que sejam as operações de uma empresa, essas sempre deverão ser aperfeiçoadas. Foi o que a empresa japonesa Toyota Motor Corporation fez a partir de 1950. Reinventou e repensou toda a sua linha de montagem de veículos criando a metodologia de gestão Sistema Toyota de Produção, ou produção enxuta, que ficou conhecida como metodologia ou filosofia de trabalho lean. Assim, este tópico tem como objetivo principal apresentar o surgimento do Sistema Toyota de Produção, o conceito e a aplicabilidade da metodologia ou filosofia de gestão lean, respectivos princípios e ferramentas. Vamos lá?! 2. Filosofia E Princípios Lean Para compreendermos o surgimento do termo lean e da filosofia lean precisaremos abordar um pouco sobre a situação do país Japão após a Segunda Guerra Mundial. 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 2/16 O Japão, após a Segunda Guerra Mundial, estava com a economia e a infraestrutura totalmente destruídas, com a inflação descontrolada e a população com dificuldade para encontrar alimentos. O país começou a se reestruturar por meio de uma parceria econômica com os Estados Unidos que não queria deixar a União Soviética (atual Rússia) entrar e ter o domínio sobre o território japonês. Porém, o Japão era um país pequeno, com poucos recursos naturais, principalmente após a destruição ocasionada pela guerra. Assim, era preciso se reinventar, ou seja, pensar em alternativas para que se produzisse mais com menos recursos. Pensando nisso, a empresa Toyota Motor Corporation, criada em 1937, por meio do seu chefe de produção da época chamado Taiichi Ohno, juntamente com um dos membros da família que atuava na fábrica Eiji Toyoda, desenvolveu um sistema de produção, ao longo das décadas de 50 e 60, diferenciado do que existia no mercado e que ficou conhecido como Sistema Toyota de Produção, em inglês TPS - Toyota Production System (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2019). “”O sistema Toyota nasceu nos anos 50, quando Toyoda e Ohno, visitando a Ford nos Estados Unidos. concluíram que o principal produto do modelo de Henry Ford era o desperdício de recursos — esforço humano, materiais, espaço e tempo. Fábricas gigantescas, pilhas de materiais em estoque, grandes espaços vazios. O sistema Ford desperdiçava, inclusive, e talvez principalmente, recursos humanos, por causa da especialização excessiva“. O Sistema Toyota de Produção, também conhecido como Lean Manufacturing ou Lean Production (sistema de produção enxuta), objetivava produzir cada vez mais com menos recursos (tempo, mão de obra, insumos) para satisfazer os desejos dos clientes (PINTO, 2008). Esse sistema se baseou tanto nas ideias dos especialistas da qualidade da época (Shewhart e Deming) quanto nas técnicas adotadas por Henry Ford e Frederick Taylor. Mas, os japoneses não copiaram tais conceitos, mas sim os aperfeiçoaram. Segundo Maximiano (2010, p. 186), na verdade, o Sistema Toyota pode ser visto “como uma versão sintetizada e melhorada das ideias de todos esses pioneiros da administração”. A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar mundial que ocorreu entre os anos de 1939 e 1945 envolvendo várias nações organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Em 1945 duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, foram bombardeadas com armas nucleares pelos Estados Unidos matando milhares de civis e destruindo completamente as cidades. 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 3/16 O Sistema de Produção da empresa Ford (Fordismo), chamado de produção em massa, fabricava grandes volumes de produtos sem se preocupar com defeitos ou obsolescência dos itens, já que possuía recursos em abundância (em grandes quantidades) e desejam se precaver de eventualidades (ou seja, sempre ter estoque para atender aos clientes). Embora a Toyota tenha começado a trabalhar com este novo tipo de sistema de produção nas décadas de 50 e 60, apenas em 90 que esta metodologia de trabalho foi reconhecida como eficaz no ambiente empresarial. “O reconhecimento do TPS como um sistema modelo de produção se difundiu rapidamente com a publicação do livro “A Máquina que Mudou o Mundo”, em 1990, resultado de cinco anos de pesquisa liderada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Os pesquisadores do MIT descobriram que o TPS era muito mais eficaz e eficiente do que o tradicional sistema de produção em massa, tanto que representava um paradigma completamente novo e foi cunhado, então, o termo produção lean (ou produção enxuta), indicando essa abordagem radicalmente diferente da produção”. Você sabia que Henry Ford foi fundador da Ford Motor Company e que revolucionou a indústria automobilística com a criação do modelo Ford T e o sistema de produção em massa chamado Fordismo? E que Frederick Taylor é considerado o pai da administração científica (Taylorismo) por ter lançado ideias sobre a ênfase nas tarefas e o aumento da eficiência operacional nas indústrias? Empresa Toyota https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img01-1-768x432.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 4/16 2.1. Filosofia Lean O termo lean significa, em português, magro ou enxuto, ou ainda, ‘produzir mais com menos recursos’ por meio da utilização de ferramentas, metodologias e princípios de gestão que envolvam os empregados numa filosofia de trabalho onde o foco é a busca pela melhoria contínua dos processos para atender às necessidades do cliente (ABDI; SHAVARINI; HOSEINI, 2006; LIKER, 2004). Segundo o Lean Institute Brasil (2019, p. 01), o “lean é uma filosofia de gestão inspirada em práticas e resultados do Sistema Toyota de Produção” que objetiva criar valor para o cliente, eliminar desperdícios e solucionar problemas continuamente repensando toda a forma como se gerencia, lidera e desenvolve os funcionários. Assim, podemos dizer que a produção enxuta, ou metodologia lean, baseia-se em três pilares principais: a) Eliminação dos desperdícios; b) Fabricação com qualidade; c) Comprometimento e envolvimento dos funcionários. Veja a ilustração a seguir. Observe que a figura faz uma analogia da metodologia de gestão lean com uma casa. Clique aqui e leia o artigo para conhecer um pouco mais sobre a metodologia ou filosofia lean. Pilares da metodologia ou filosofia lean. https://www.imam.com.br/logistica/noticias/3115-entenda-os-conceitos-do-lean-manufacturing https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img02-768x432.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 5/16 Isso significa dizer que o lean é uma metodologia ou filosofia de trabalho que possui uma estrutura, ou seja, contêm princípios e pilares que precisam ser seguidos para que funcione (forneça resultado para as empresas) e que, portanto, não se trata apenas da implantação de um conjunto de técnicas e ferramentas aleatórias. Assim como uma casa, que geralmente é formada por um sistema estrutural contendo telhado, pilares e fundação fortes, se um destes elementos enfraquecerem, a casa ou a filosofia lean pode desabar ou não funcionar de maneira adequada (LIKER, 2004). Vejamos agora em que consistecada um dos pilares da Casa Lean. a) Eliminação dos desperdícios: O desperdício pode ser entendido como todas as atividades realizadas pela empresa que não agregam valor ao cliente e que, portanto, não está disposto a pagar por isso. Portanto, desperdício tem significado contrário ao de agregar valor. Sendo assim, eles devem ser eliminados ao máximo, já que o foco principal da filosofia lean é satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes. Assim, o desperdício pode ser entendido de várias formas pela filosofia lean, sendo dividido em três categorias: a) muda (desperdício); b) muri (sobrecarga); e, c) mura (irregularidade). Observe a imagem a seguir. Muda (desperdício): se referem às atividades que consomem recursos, mas não geram valor aos clientes. Os oito tipos de atividades que não adicionam valor, na visão da metodologia lean, são: 1) superprodução, isto é, produzir em excesso, ou, antes do solicitado; 2) tempo de espera, Você observou que, em contrapartida, o valor são as características existentes nos produtos e/ou serviços pelos quais os clientes estão dispostos a pagar? Tipos de desperdício. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img03v2-768x432.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 6/16 ou seja, tempos ociosos de informações, pessoas e peças; 3) transporte desnecessário ou movimentos ineficientes de materiais, produtos ou ferramentas; 4) processamento incorreto, entendido como excesso ou falta de processamento, utilização inadequada de sistemas e máquinas; 5) excesso de estoques, isto é, custos com armazenagem e transporte; 6) movimentos desnecessários; 7) defeitos do produto, ou seja, fabricação de produtos defeituosos ou não-conformes gerados pelo processo; 8) concepção/desenvolvimento de mercadorias e serviços que não atendam às necessidades dos clientes, isto é, desenvolver produtos e/ou serviços sem considerar a perspectiva do cliente, ou seja, sem ouvi-lo e deixar que o mesmo faça parte do processo (LIKER, 2004; WOMACK; JONES, 2003). Muri (sobrecarga de pessoas e equipamentos): significa fazer com que máquinas ou pessoas trabalhem além do limite gerando problemas de qualidade e segurança como defeitos e quebras. Mura (irregularidade): se referem às irregularidades dos processos ou atividades, que é o resultado das ocorrências das demais categorias já abordadas (muda e muri) (LIKER, 2004). Mas, como as empresas podem eliminar ou minimizar os desperdícios? Segundo Maximiano (2010), por meio da racionalização da força de trabalho, adotação do just in time e da produção flexível. Veja a imagem a seguir. Racionalização da Força de Trabalho: racionalizar significa simplificar, ou ainda, tornar um processo de produção mais eficaz e menos dispendioso (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019). Assim, racionalizar a força de trabalho quer dizer aproveitar ao máximo a mão de obra humana de modo que as pessoas trabalhem coletivamente, em equipe. Portanto, ao invés do trabalho individualizado e especializado, como no modelo Ford, onde as pessoas só sabem executar uma única tarefa, no modelo Toyota é desejado que as pessoas tenham conhecimento sobre outras atividades de maneira que possam substituir os faltantes e ajudar os colegas a executar outras tarefas caso estejam livres. Portanto, “para racionalizar a utilização da mão de obra, a Toyota agrupou os operários em equipes, com um líder ao invés de um supervisor” (MAXIMIANO, 2010, p. 189). Just in Time: Meios para eliminar desperdícios. 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 7/16 “O método just in time (expressão que significa bem na hora, no momento certo ou na hora certa) procura reduzir ao mínimo o tempo de fabricação e o volume de estoques. O princípio é estabelecer um fluxo contínuo de materiais, sincronizando com a programação do processo produtivo, para minimizar a necessidade de estoques. Para isso, o fornecedor tem que se comprometer a entregar os suprimentos no momento exato”. Produção Flexível: significa produzir pequenos lotes de produtos de acordo com as encomendas dos clientes para não gerar estoques em excesso que podem ficar obsoletos com o tempo (estoque em excesso é desperdício). Assim, as empresas precisam ter flexibilidade para mudar as linhas de produção assim que necessário. Essa produção flexível desenvolvida pela Toyota contrasta com o sistema Ford de produção em grandes lotes de produtos (produção em massa). b) Fabricação com qualidade: O segundo pilar da Casa Lean é fabricar os produtos e/ou serviços com qualidade e, para isso, é importante identificar e corrigir erros e defeitos eliminando as causas dos problemas. Existem três maneiras para se fabricar com qualidade segundo a metodologia lean: 1) Fazer certo da primeira vez; 2) Corrigir causas fundamentais dos erros; e, 3) Utilizar círculos da qualidade. Observe a imagem a seguir. 1) Fazer certo da primeira vez: os funcionários precisam desenvolver o seu trabalho de maneira responsável, correta e ter consciência que a operação posterior a sua é o cliente, o qual não quer receber produtos com defeitos. Ou seja, se fizer algo errado tem que ter em mente que pode prejudicar o cliente. Assim, a qualidade deve ser garantida em cada atividade a ser realizada dentro da empresa e, caso surja alguma anormalidade, algo saia do padrão, é preciso tomar uma ação para entender o problema e evitar que ele reapareça. Assim, “a filosofia de fazer certo da primeira vez torna o trabalhador responsável pela qualidade de seu trabalho” (MAXIMIANO, 2010, p. 191). 2) Corrigir causas fundamentais dos erros: a metodologia lean afirma que, para fabricar com qualidade, é preciso que os funcionários tenham autonomia para pararem a linha de produção ao identificarem algum problema, erro ou defeito. A partir disso, as causas devem ser analisadas e questionadas para que possam ser corrigidas. Assim, será possível evitar que produtos defeituosos continuem seguindo o caminho dentro da linha de produção. 3) Utilizar Círculos da qualidade: Meios para fabricar com qualidade. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img06v2-768x432.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 8/16 “[...] o círculo da qualidade é um grupo de voluntários de um mesmo setor ou área de trabalho que se reúnem regularmente para estudar e propor a solução de problemas que estejam comprometendo a qualidade e a eficiência dos produtos”. Sendo assim, o objetivo principal é solucionar problemas de qualidade e melhorar a eficiência. Também são entendidos como uma técnica de administração participativa pelo fato de envolver os funcionários no processo de análise e resolução de problemas, melhorar a comunicação dentro do grupo e estimular a criatividade e a mentalidade da qualidade. c) Comprometimento e envolvimento dos funcionários: O comprometimento e envolvimento dos funcionários com a filosofia ou metodologia lean são influenciados principalmente pelos valores da cultura japonesa, que prega o combate ao desperdício, o trabalho em grupo e as decisões baseadas no consenso. Observe a ilustração a seguir. Combate ao desperdício: como vimos, o Japão é um país pequeno e com recursos escassos. Após a Segunda Guerra Mundial, encontrava-se destruído, em um ambiente hostil e, precisando se erguer, estimulou em sua população o espírito de cooperação, economia, eficiência e, portanto, combate a qualquer tipo de desperdício. Trabalho em grupo: o trabalho em grupo está enraizado na cultura japonesa desde o final do século XIX principalmente por conta da cultura do arroz. “A cultura do arroz, que requer a colaboração, a vida familiare a própria arquitetura residencial japonesa, que dificulta o isolamento e desenvolve a sensibilidade em relação à presença alheia, são outros fatores que ajudaram a criar e fortalecer o sentido de interdependência entre pessoas. A organização em círculos interdependentes de pessoas reforçou o hábito de vinculação a um grupo específico imediato e ao grande grupo da própria sociedade”. Assim, existe o hábito no Japão de cooperação e ajuda ao próximo há muitos anos. Consenso no processo decisório: outro traço da cultura é a decisão baseada no consenso entre as pessoas ao invés da autoridade gerencial. Os japoneses discutem os assuntos em grupos, escutam as opiniões de todos até obterem uma unanimidade sobre um determinado tema tomando a decisão com base no consenso de todos os envolvidos. Valores da cultura japonesa utilizados pela metodologia lean. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img07v2-768x432.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 9/16 2.2. Princípios Lean Vejamos agora os princípios que sustentam a implantação e gestão lean. Segundo Liker (2004), a filosofia ou metodologia de gestão lean é composta por quatorze princípios divididos em quatro categorias principais, chamadas de ‘4 P’: Philosophy (filosofia); Process (processo); People and Partners (pessoas e parceiros) e Problem Solving (solução de problemas). Observe a figura a seguir. 1ª Categoria: Filosofia A primeira categoria denominada Filosofia se refere à base de sustentação da metodologia ou também chamada filosofia de trabalho lean. Significa que os funcionários devem incorporar a cultura lean, ou seja, uma nova forma de pensar e de trabalhar (aprender fazendo, inovar, gastar energia, trabalhar duro, ter perseverança, disciplina). Assim, devem executar o trabalho e as atividades buscando sempre a redução dos desperdícios, a melhoria contínua, a fabricação com qualidade, por meio da cooperação e do atendimento das necessidades e expectativas dos clientes da organização. 2ª Categoria: Processo A segunda categoria dos princípios lean se refere aos processos e tem como objetivo principal criar processos adequados para a geração de valor, além de identificar e eliminar os desperdícios. Para isso, a categoria processos possui sete elementos: a) fluxo contínuo; b) produção puxada (pull); c) nivelamento da produção (Heijunka); d) parar a produção (Jidoka); e) padronização de tarefas; f) controles visuais; g) tecnologia confiável (LIKER, 2004). Os objetivos de cada um destes estão detalhados na Tabela 1. Tabela 1 – Princípios lean 2º categoria (Processo) Princípio Objetivo Fluxo contínuo Criar fluxos físicos e informacionais contínuos, sem interrupções, que adicionem valor, eliminando os tempos de espera entre os processos/atividades. Princípios Lean. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2020/03/aula_gesqua_top09_img08v2-1-768x690.jpg 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 10/16 Princípio Objetivo Produção puxada Utilizar sistema de produção puxada onde o cliente é o responsável por iniciar os processos desde a matéria-prima até a montagem. Para isso, se deve controlar a demanda do cliente e manter pequenos estoques de cada produto. Assim, a superprodução ou o não atendimento do cliente será evitado. Nivelamento da produção (Heijunka) Nivelar a carga de trabalho de todos os processos de manufatura/ serviço. Ou seja, eliminar as sobrecargas que incidem sobre as pessoas e equipamentos, além das irregularidades na produção. Parar a produção (Jidoka) Criar uma cultura de parar a produção/fluxo caso seja identificado algum problema. Dessa forma, é possível garantir a qualidade do produto, um dos quesitos mais importantes para o cliente. É preciso desenvolver sistemas visuais que alertam o time sobre os problemas (máquinas com inteligência humana). Padronização de tarefas A padronização de atividades contribui para a existência de processos previsíveis, estáveis e mais fáceis de gerir. Utilizar os aprendizados acumulados e criar um manual com as melhores práticas atuais. Incentivar os funcionários a melhorarem estes padrões continuamente. Controles visuais (Andon) Desenvolver indicadores e sistemas visuais para facilitar o entendimento de todos sobre os fluxos, atividades e metas. Tecnologia confiável Utilizar apenas tecnologia confiável, testada, e que não interfira na estabilidade dos processos/atividades. A tecnologia deve ser utilizada para dar suporte às pessoas. Fonte: Bourguignon (2017). 3ª Categoria: Pessoas e Parceiros A terceira categoria de princípios lean tem como objetivo adicionar valor à organização por meio do desenvolvimento dos funcionários e parceiros (fornecedores, por exemplo). É composta pelos elementos: a) desenvolver líderes; b) desenvolver pessoas e equipes que sigam a filosofia da empresa; c) respeitar os fornecedores e parceiros (LIKER, 2004). Veja o que significa cada um deles a seguir. Desenvolver líderes: é importante desenvolver líderes dentro da própria organização e não trazer funcionários ‘de fora’, ou seja, do mercado, para atuar nesta posição. É preciso valorizar os colaboradores da própria empresa. Os líderes devem entender com profundidade o trabalho, viver a filosofia lean, além de ensiná-la e ser referência para os demais. Desenvolver pessoas e equipes que sigam a filosofia da empresa: a empresa necessita fazer com que os funcionários incorporem a cultura de trabalho lean. E, para isso, precisam 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 11/16 treinar as pessoas para que, aos poucos, incorporem a nova forma de pensar e trabalhar. Respeitar os fornecedores e parceiros: estes devem ser tratados com respeito e como uma extensão da empresa, e, portanto, a organização deve fornecer suporte para desenvolvê- los, já que ‘depende’ deles. 4ª Categoria: Solução de problemas A quarta categoria de princípios é formada pelo topo da pirâmide e tem como objetivo orientar as pessoas quanto à solução contínua de problemas, o que deve ser feito por meio do aprendizado organizacional. Os principais elementos são: a) ir ao setor e ver com os próprios olhos (Genchi genbutsu); b) tomar decisões com base no consenso e implementar rapidamente; c) aplicar a melhoria contínua (Kaizen) (LIKER, 2004). Ir ao setor e ver com os próprios olhos (Genchi genbutsu): Objetivando melhorar continuamente os processos e atividades é preciso entender profundamente o que está acontecendo. Para isso, a metodologia lean afirma que o ideal é que os funcionários sigam até o local onde os problemas ocorrem e observem com os próprios olhos os dados ao invés de apenas escutarem o que as pessoas falam ou o que é mostrado no computador (Genchi genbutsu). Tomar decisões com base no consenso e implementar rapidamente: segundo a metodologia lean as tomadas de decisão não podem ser baseadas em pensamentos individuais, ou seja, de uma única pessoa. O ideal é que as equipes discutam o ocorrido, proponham soluções (Nemawashi), compartilhem ideias em conjunto e cheguem a um consenso sobre a melhor resposta ao ocorrido implantando a decisão em seguida. Aplicar a melhoria contínua (Kaizen): o lean também prega que é preciso realizar a melhoria contínua (Kaizen) e a reflexão implacável (Hansei) para solucionar problemas e melhorar continuamente os processos e as atividades nas empresas. Afinal, o cenário onde as organizações estão inseridas é volátil e sujeito a alterações constantes e, por isso, a melhoria deve ser buscada incessantemente. 3. Ferramentas Lean Já vimos que a metodologia lean não pode ser entendida como uma simples aplicação de ferramentas. Mas, uma filosofia ecultura de trabalho, ou seja, na forma de pensar e de fazer as coisas. Portanto, as ferramentas lean existem para apoiar o processo de transformação e melhoria nas empresas. Existem várias ferramentas, as quais, muitas vezes, até se confundem com os princípios lean. A tabela a seguir apresenta algumas destas ferramentas e os respectivos conceitos de acordo com os autores listados. Tabela 2 – Ferramentas lean 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 12/16 Ferramentas Descrição Autores VSM (Mapeamento do Fluxo do Valor) Mapeia todas as ações, atividades e processos envolvidos nos fluxos (de projeto, físico e de informação) dos produtos até chegar ao cliente. Rother e Shook (2012). SVSM (Gerenciamento do Fluxo de Valor do Serviço) Semelhante ao VSM, mas adapta alguns conceitos e ícones de mapeamento ao ramo dos serviços. Composto por seis passos: 1) envolvimento com o lean; 2) aprender a filosofia lean; 3) escolher o fluxo de valor para ser melhorado; 4) mapear o estado atual; 5) identificar o impacto do desperdício e definir o alvo para a melhoria; e, 6) mapear o estado futuro. Bonaccorsi, Carmignani e Zammori (2011). Análise de leiaute Envolve a avaliação da localização dos equipamentos e recursos necessários para executar as etapas de um processo. A melhoria do leiaute leva a uma redução no desperdício de transporte entre etapas o que significa mais tempo para executar o trabalho real e um tempo de conclusão mais rápido. O leiaute deve ser construído preferencialmente numa célula única, para que produtos e informações sejam movidos de um ponto ao outro sem interrupções e formação de estoques. Métodos visuais ou computacionais para solucionar problemas de arranjo ou rearranjo físico. Womack e Jones (2003); Loyd et al. (2009). Da Silva e Rentes (2002). 5S Prática de bom senso e organização do local de trabalho que permite a padronização das atividades e a visibilidade de problemas. O 5S se refere a cinco princípios que começam com a letra “s” em japonês: a) seiri (organização), o que não for necessário deverá ser descartado; b) seiton (arrumação), as coisas devem ter um local específico para que sejam encontradas facilmente por todos; c) seizo (limpeza), a limpeza é fundamental para melhoria e qualidade do trabalho; d) seiketzu (uniformização), criar padrões para que ações de melhorias sempre possam ser desenvolvidas; e, e) shitsuke (disciplina), ter compromisso para trabalhar seguindo as regras da empresa além da limpeza e arrumação. Pinto (2008); Loyd et al. (2009). POUS (Ponto de uso de armazenamento) Técnica de armazenar todos os recursos necessários, tais como ferramentas, equipamentos, materiais, suprimentos e informações o mais próximo possível de onde eles são necessários. Loyd et al. (2009). 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 13/16 Ferramentas Descrição Autores Princípios SMED (Single- Minute- Exchange-of- Dies) Análise de todas as atividades, separando-as como tarefas internas ou externas para eliminar etapas desnecessárias e reduzir o tempo entre atividades de valor agregado. Loyd et al. (2009). Poka Yoke Sistemas desenvolvidos para prevenir e detectar perdas de naturezas variadas. São formados por barreiras, sejam físicas, funcionais ou simbólicas, que impedem a passagem/continuidade de produtos com problemas. Dessa forma, possibilitam a redução da variabilidade dos itens e a estabilidade dos processos. Vidor e Saurin (2011). QFD- Quality Function Deployment Trabalho padronizado. Um procedimento documentado e definido a ser seguido com base no melhor método atualmente conhecido de produzir um resultado consistente de um processo. Loyd et al. (2009). TPM- Manutenção Produtiva Total Programa de manutenção de equipamentos que cobre o ciclo de vida do equipamento e exige a participação de todos os funcionários. Loyd et al. (2009). Kanban Instrumento sinalizador (cartão, aviso ou bilhete) para ativar a produção e movimentação de itens pela fábrica. Informam aos processos anteriores a situação atual da necessidade, fazendo com que produzam apenas quando for necessário/solicitado e na quantidade exata de itens. Aguiar e Peinado (2007); Pinto (2008); Liker (2004). Takt time (tempo takt) Tempo de produção para se fabricar um determinado produto. Womack e Jones (2003). Six Sigmas (Seis Sigmas) Conjunto de técnicas e ferramentas para que problemas sejam identificados reduzindo a variabilidade dos processos. Damrath (2012). Dojo Método de compartilhamento de conhecimento ou de melhores práticas que permite ter pessoas multifuncionais e capazes de executarem tarefas operacionais distintas. Pinto (2008). 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 14/16 Ferramentas Descrição Autores CQC- Círculos de Controle da Qualidade Grupo de funcionários de um mesmo setor da empresa, ou não, que se reúnem regularmente para entender, estudar e propor soluções para problemas que estejam comprometendo a qualidade e a eficiência dos produtos e/ou serviços da organização. Pinto (2008). 4. Conclusão A presente lição nos apresentou, em um primeiro momento, como surgiu o Sistema Toyota de Produção e o significado da filosofia de gestão lean. Em seguida, abordou os princípios lean, os quais são a base para a consolidação da metodologia. E, por fim, apresentou as principais ferramentas lean que apoiam o processo de transformação e melhoria nas empresas. Aprendemos, portanto, que o Sistema Toyota de Produção, também conhecido como Lean Manufacturing ou Lean Production (sistema de produção enxuta), objetiva produzir cada vez mais com menos recursos (tempo, mão de obra, insumos) para satisfazer os desejos dos clientes. Vimos também que a produção enxuta, ou metodologia lean baseia-se em três pilares principais: a) Eliminação dos desperdícios; b) Fabricação com qualidade; e, c) Comprometimento e envolvimento dos funcionários. Aprendemos que a filosofia ou metodologia de gestão lean é composta por quatorze princípios divididos em quatro categorias principais, chamadas de ‘4 P’: Philosophy (filosofia); Process (processo); People and Partners (pessoas e parceiros) e Problem Solving (solução de problemas). E, por fim, compreendemos que a metodologia lean não pode ser entendida como uma simples aplicação de ferramentas. Mas, uma filosofia e cultura de trabalho, ou seja, na forma de pensar e de fazer as coisas. Portanto, as ferramentas lean existem para apoiar o processo de transformação e melhoria nas empresas. Existem várias ferramentas como: VSM; SVSM; Análise de leiaute; 5S; POUS; Princípios SMED; Poka Yoke; QFD; TQM; Kanban; Six sigma; Dojo; CQC. 5. Referências ABDI, F; SHAVARINI, S. K.; HOSEINI, S. M. S. Glean lean: how to use lean approach in service industries?. Journal of Services Research, v. 6, p. 191, 2006. 07/04/2020 Técnicas Operacionais da Qualidade https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=tecnicas-operacionais-da-qualidade&dcp=gestao-de-qualidade&topico=9 15/16 AGUIAR, G. F.; PEINADO, J. Compreendendo o Kanban: um ensino interativo ilustrado. Curitiba, Revista da Vinci: vol. 4, n. 1, p. 133-146, 2007. BONACCORSI, A.; CARMIGNANI, G.; ZAMMORI, F. (2011). Service Value Stream Management (SVSM): Developing Lean Thinking in the Service Industry. Journal of Service Science and Management , 4, 428-439. BOURGUIGNON, B. M. L. 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