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Resumo: LIBRAS – AP1 – 2020.1 ➢ Texto 1: Roteiro para o filme Sou surda e não sabia. Sinopse: Por anos, Sandrine não sabia que era surda de nascença. Filha de pais ouvintes, frequentou a escola regular, e lá se perguntava como os outros compreendiam o que a professora estava tentando transmitir. O documentário olha para a questão da surdez pela perspectiva de Sandrine e sua história verídica. O filme analisa questões como a utilização de diferentes terminologias, as tecnologias já existentes para o diagnóstico e para acessibilidade de pessoas surdas, a oralização e a língua de sinais na educação de surdos, e ainda levanta a discussão sobre a conveniência do implante coclear. O filme apresenta a surdez a partir da visão de pessoas surdas e opiniões de especialistas no assunto. O trecho inicial se passa numa sala de aula onde o professor introduz os alunos no tema da surdez, fazendo uma reflexão importante sobre a diferença entre ser surdo e ter uma deficiência auditiva. O filme nos conta a história de Sandrine, surda, que relata momentos marcantes de sua vida. Por ser filha de pais ouvintes, foi tratada inicialmente como uma criança ouvinte, apesar de seus pais estranharem algumas de suas atitudes. Durante todo o filme a protagonista conta, com muitos detalhes, as suas lembranças de criança, quando não tinha ainda sido familiarizada com a língua de sinais e apenas observava as expressões de seus pais. Ela relata que depois de procurarem ajuda médica, seus pais descobriram que ela era surda e passaram a tratá-la com um distanciamento que não existia antes ➢ Texto 2: Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Oralismo é uma corrente comunicativa muito utilizada na educação dos surdos no século XIX que perdurou até os anos 70. Consiste no ensino da língua materna através da imposição da oralização nos processos de aprendizagem do surdo. Dessa maneira, neste método é proibida qualquer manifestação que se diferencie da fala, como ocorre na comunicação gestual e na utilização de mímicas. Portanto, o surdo deveria utilizar a fala, os vestígios de audição remanescentes, e um comportamento semelhante ao do ouvinte para ser aceito socialmente e finalmente ser curado da surdez através da prática da fala. Devido ao descontentamento referente ao uso do oralismo na educação dos surdos, mais tarde, surgiu a Comunicação Total, que consiste na utilização dos sinais, leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital no ensino da língua materna. Sendo assim, nesta corrente comunicativa o surdo tem livre arbítrio para escolher qual manifestação de linguagem lhe é mais adequada para comunicar-se socialmente. Visto que esta foi uma corrente que abriu espaço para o que conhecemos hoje como língua de sinais, assim como a autonomia e independência do surdo e sua inserção na sociedade, contudo não foi completamente efetiva devido a superficialidade no ensino de uma ou outra forma de comunicação. Isto é, como o surdo poderia utilizar o mecanismo que mais de identificava ou mesclar duas ou três formas de comunicação, não conseguia se especializar e aprender de maneira profunda sobre alguma forma de linguagem específica. Já a proposta de ensino bilíngue contrapõe-se ao oralismo porque considera a comunicação visual e gestual prioritária no ensino da linguagem. E se diferencia da comunicação total, pois defende fundamentalmente a língua de sinais na educação do surdo, não misturando uma manifestação lingüística com a outra. Nesta corrente, ensina-se primeiramente a língua de sinais e secundariamente a língua dos ouvintes, que pode ser manifesta apenas em sua forma escrita. A proposta de ensino bilíngue traz como benefício a integridade da manifestação visual e gestual expondo a criança surda desde cedo a língua de sinais, aprendendo a sinalizar tão cedo quanto uma criança ouvinte aprende a falar. Assim como o aumento de sua capacidade e competência linguística que o ajudará a aprender também a língua falada, tornando-o bilíngue desde cedo, e também o aumento do desenvolvimento cognitivo linguístico em iguais proporções ao da criança ouvinte, criando uma relação harmoniosa não só com a comunidade surda — forte identificação e melhoria da autoimagem quando consciente do pertencimento a um grupo específico que possui suas maneiras de se comunicar e se relacionar através de língua própria. ➢ Texto 3: Quadro Síntese das Diferentes Abordagens na Educação de Surdos https://graduacao.cederj.edu.br/ava/mod/resource/view.php?id=94975 ➢ Texto 4: Etiologia e Classificação da Surdez ➢ Texto 5: Avaliação Auditiva Infantil Sabe-se da importância da audição na comunicação humana e das dificuldades que uma perda auditiva infantil pode acarretar na aquisição da linguagem/fala e, ainda, no desenvolvimento emocional, social e educacional. Para minimizar estas possíveis alterações o ideal seria realizar um diagnóstico precoce de deficiência auditiva que possibilitasse uma intervenção antes dos seis primeiros meses de vida (mais recomendado por volta do terceiro ou quarto mês de vida do bebê). Para tal, a triagem auditiva neonatal universal é indicada pois pode avaliar todos os recém-nascidos e não somente os bebês com algum tipo de risco para perda auditiva. A Triagem Auditiva Comportamental é um instrumento para a avaliação de aspectos da acuidade auditiva e do processamento auditivo em recém nascidos e crianças pequenas, que possibilita observar respostas comportamentais a estímulos sonoros. No Brasil foi criado um KIT SONORO para avaliação de bebês em maternidades. Esta avaliação deve ser realizada em ambiente silencioso (campo livre) e os estímulos devem ser dados em ordem crescente de intensidade, no plano lateral, a uma distância de 20 cm da orelha do bebê, com dois segundos de duração e mantendo-se um intervalo de 30 segundos entre as apresentações. Além da triagem e da avaliação auditiva por meio de observações do comportamento¹ da criança há, também, os exames objetivos. O registro das Emissões Otoacústicas² (EOA) é o método mais utilizado atualmente para a detecção de alterações auditivas de origem coclear. A EOA é um método objetivo, rápido, não invasivo e pode ser realizado em qualquer faixa etária, ressaltando-se sua aplicação em recém-nascidos. O registro das EOA é conhecido, no Brasil, como “Teste da orelhinha”², é indolor, realizado com o bebê dormindo (sono natural) e não tem contraindicações. Normalmente, é feito no segundo ou terceiro dia de vida e consiste na colocação de um fone na orelha do bebê acoplado a um computador que emite sons e recolhe as respostas que a cóclea do bebê produz. ➢ Texto 6: Vygotsky e a questão educacional dos surdos Sobre a surdez, Vygotsky abordou vários aspectos ao longo de seus estudos, analisando-a desde o ponto de vista orgânico até suas consequências para o desenvolvimento cultural das crianças surdas. Para ele a surdez, analisada do ponto de vista do desenvolvimento físico e da formação da criança não provocaria transtornos graves no desenvolvimento geral. O que, segundo o autor, se torna a mais grave complicação para o desenvolvimento cultural desses indivíduos é a “mudez”, a ausência de linguagem, a impossibilidade de dominar um idioma. Para ele, portanto, a surdez é, por excelência, uma deficiência social por excluir o homem da comunicação e separá-lo da experiência social (ibid.,p.66). Por conseguinte, suas idéias sobre a educação de crianças “surdas-mudas”, privilegiaram, inicialmente, a linguagem oral. No início de seus estudos sobre a surdez, Vygotsky entendia a fala como uma maneira de compensação e de possibilidade de inserção do surdo na vida social mas, ao mesmo tempo, criticava a rigorosidade e artificialidadedo ensino oral, considerando-o antinatural por contradizer a natureza do surdo e reconhecia que, na prática, o ensino da linguagem oral proporcionava resultados deploráveis. Tais aspectos levaram-no a dizer que o método fônico alemão estava condenado a desaparecer por apoiar-se na repetição mecânica e por ser conveniente para ensinar articulação e pronúncia, mas não para ensinar a falar, proporcionando apenas uma linguagem morta (ibid.,p.97). Vygotsky colocava, então, o problema da educação de surdos como o mais difícil e trágico da pedagogia por se fundamentar na contradição com a natureza da criança e reconhecia, já nesse primeiro estudo, realizado em 1925, “a linguagem dos gestos” como natural para as pessoas surdas (ibid.,p.67). Preconizava, então, a necessidade da elaboração de uma “surdo pedagogia” voltada para a educação social dos surdos através do ensino para o trabalho e de novos métodos para ensinar a criança surda a falar. Por essa razão propôs, no Conselho Estatal Científico, realizado em 1925, a realização de uma pesquisa sobre o desenvolvimento da linguagem de crianças surdas (ibid., 288). ➢ Texto 7: Linguagem e Identidade: a Surde em Questão • Língua de sinais, cultura e identidade Vygotsky (1981, 1984, 1989a, 1989b, 1993) concebe o homem como um ser sociocultural, afirmando que seu desenvolvimento se dá inicialmente no plano intersubjetivo (das relações sociais) e depois no plano intrassubjetivo (envolvendo o processo de internalização). Assim, para Vygotsky, a relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada, e as ocorrências de mediação primeiramente vão emergir de outrem e depois vão orientar-se ao próprio sujeito. Portanto, “a dimensão significativa da mediação semiótica é também afirmada quanto à relação do homem consigo próprio” (Góes, 1994, p. 95) e essa relação não é direta, mas mediada pelo signo. Esta afirmação leva à constatação de que o desenvolvimento do reconhecimento do Eu é um processo semiótico, que pressupõe a participação de outras pessoas (visto que a atividade com signos é necessariamente interpessoal). Desse modo, as relações sociais constituem-se por intermédio dos processos semióticos e a construção da identidade só poderá ser examinada considerando-se a dinâmica de significados e sentidos produzidos e interpretados no jogo interativo do sujeito com o outro (Góes, 1998). Dado o papel da linguagem como atividade constitutiva (Franchi, 1977), interessa-nos discutir a relação língua(gem)/identidade, entendendo que o sujeito se constitui como tal à medida que interage com os outros. Parafraseando Geraldi (1996), a língua e o sujeito constituem-se nos processos interativos. “Isto implica que não há um sujeito dado, pronto, que entra em interação, mas um sujeito se completando e se construindo nas suas falas e nas falas dos outros” (idem, ibid., p. 19). Se o vínculo entre a língua e a vida é tão forte como nos diz Bakhtin (1952-1953/1992), afirmando que por meio dos enunciados concretos a língua penetra na vida e vice-versa, o que acontecerá à criança surda filha de pais ouvintes, que costuma ter pouca participação nas práticas sociais mediadas pela língua de sinais? De acordo com Souza (1998), mesmo os surdos oralizados passam a fazer uma leitura de mundo somente a partir do uso da língua de sinais e, antes disso, suas possibilidades de participar ativamente com e na comunidade ouvinte são bastante reduzidas. Disso decorre uma identidade “fragmentada”: o surdo que não domina a língua de sinais não se identifica com o grupo de surdos, tampouco se identifica com o mundo ouvinte, pois lhe falta vivência na língua majoritária que, de certa forma, sempre esteve pautada em exercícios e práticas artificiais (língua transformada em código). Assim, para que a construção da identidade surda aconteça é essencial o encontro surdo surdo, pois temos observado, nesses anos de interação professor ouvinte/professor surdo, que o interlocutor privilegiado da criança surda é o próprio surdo. Faz-se necessário ressaltar que a surdez não é homogênea, ou seja, o grupo de surdos não é uniforme. Dentro do que denominamos surdos, fazem parte os surdos das classes populares, as mulheres surdas, os surdos negros, surdos de zona rural, entre outros (Skliar, 1998).
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