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CASIMIRO RIBEIRO: E eu vim para o lado de cá chamar a atenção do presidente: “Aqui entre nós - não tem ninguém do Fundo ouvindo -, eles estavam 100% certos. E o que ele disse também é a minha opinião, e a opinião do Roberto e do Lucas, e ela corresponde ao interesse do país. Não basta fazer o controle monetário”. O presidente disse: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Mas você vai aumentar as tarifas, vai aumentar o custo de vida; vai aumentar o transporte de avião, e vai ser uma aberração da gasolina, ih, rapaz, vou ser crucificado! Isso é muito bonito, chegar aqui com o parecer no pé do ouvido. Mas quem vai decretar esse negócio sou eu”. CASIMIRO RIBEIRO: Eu respondi: “Mas o senhor não tem alternativa”. Ele perguntou: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Por quê” (?). CASIMIRO RIBEIRO: e eu expliquei: “O senhor vai pagar o subsídio de onde? Aquilo não é cobrado do usuário, o senhor vai tirar do bolso do Tesouro, e muito mais, porque, o preço sendo mais alto, o usuário já não usa tanto. O preço sendo mais baixo, vai ser usado mais do que o necessário, o senhor vai desequilibrar o balanço de pagamento, e vai ter que emitir e fazer uma expansão monetária, elevando-se o custo de vida”. Então, disse essa frase notável de político: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Casemiro, você não tem sensibilidade política. Você não está olhando o problema político. Pode ser que, eu emitindo para cobrir déficit de serviço público das companhias de transporte aéreo, provoque uma emissão monetária e isso seja tão inflacionário ou até mais do que o impacto dos custos. Mas há diferença política enorme. Quando há emissão de papel moeda para atender às atividades econômicas, todo o mundo bate palmas, pois todo o mundo está precisando de dinheiro”. CASIMIRO RIBEIRO: Eu disse: “Mas dinheiro não é capital, não é renda. Não vamos confundir dinheiro com renda real”. Ele retrucou: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Mas ninguém sabe disso, ninguém sabe. É você quem está falando isso. Todo o mundo fala. Outro dia o senador Viváqua disse: 'Falta dinheiro nesse país. Vejam o dinheiro per capita nos Estados Unidos e o dinheiro per capita do Brasil. É ridículo o papel moeda per capita neste país'”. CASIMIRO RIBEIRO: Eu disse: “A comparação está toda errada”. Juscelino respondeu: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Pode ser que esteja errada, mas só você, o Roberto, o Lucas e mais uma meia dúzia de pessoas sabem. Todo o mundo acha que é falta de dinheiro. De modo que, quando tem mais dinheiro na praça ninguém xinga o governo. Quando os preços sobem, o pessoal xinga o português da quitanda, xinga o homem da empresa, mas não o governo. Agora, quando é o decreto, como no aumento da gasolina, quando é o decreto... E eu estaria fazendo no meio do governo. Se eu fizesse no início, eu ponho culpa no governo anterior, que me obrigou a fazer isso. O próximo governo vai poder fazer - guardem esses pareceres todos e não joguem fora não, porque eu acho que faz sentido. Mas não dá mais. Vocês me venderam esses peixes no início do governo, e eu fiz umas desvalorizações cambiais e uma série de coisas. Agora, no, meio, eu ponho culpa em quem? No próprio governo? É o reconhecimento do fracasso”. CASIMIRO RIBEIRO: Eu disse: “Mas é sempre tempo de corrigir”. Ele protestou: JUSCELINO KUBITSCHEK: “Não, essa não! Essa vocês vão vender ao governo do Jânio. Ele vai se candidatar, vai ganhar e vai aceitar todas essas idéias de vocês. Com aquele tipo carismático, ele vai tocar pau no meu governo mesmo, e vocês vão poder apresentar”. CASIMIRO RIBEIRO: O que foi exato. Jânio tornou-se candidato, ganhou, nós apresentamos as idéias, ele aprovou e botou em vigor. ADAPTADO DE: RIBEIRO, Casimiro Antônio. Casimiro Ribeiro I (depoimento, 1975/1979). Rio de Janeiro, CPDOC, 1981. 121 p. dat.
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