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1 METODOLOGIA DO ENSINO DE QUÍMICA Beneilde Cabral Moraes (Organizadora) 2 APRESENTAÇÃO A evolução e promoção do conhecimento químico em escala mundial nestes últimos 50 anos têm incorporado novas abordagens objetivando a formação de futuros cientistas, de cidadãos mais conscientes como também o desenvolvimento de conhecimentos aplicáveis ao sistema produtivo, industrial e agrícola. O aprendizado de química implica que os alunos compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico abrangente e integral e assim julgar com fundamentos as informações advindas da tradução cultural, tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos. Esse aprendizado deve possibilitar ao aluno a compreensão do processo químico com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais sociais, políticas e econômicas. As habilidades e competências que devem ser promovidas no ensino de química devem estar estreitamente, vinculados aos conteúdos a serem desenvolvidos, e devem ser concretizados a partir dos diferentes temas propostos para o estudo da química. Neste contexto vemos a ação docente com imensa responsabilidade e, ensinar química é um ato que representa muito mais que derramar conhecimentos sobre os alunos e esperar que de forma pura e simples aprenda-os, é inconcebível pensar numa aprendizagem eficiente com a simples emissão dos conteúdos, assim acreditamos que o sucesso da aprendizagem está ligado tanto as metodologias desenvolvidas pelo professor como pela motivação e interesse dos alunos em estudar Química. É com este pensamento que disponibilizamos o conteúdo dessa disciplina Metodologia do Ensino de Química de forma a auxiliar a construção de conhecimentos estimulando a investigação e a reflexão cientifica através dos textos aqui descritos de forma significativa, distribuídos em cinco unidades como mostramos ao longo desse material didático. 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 1.1. EVOLUÇÃO DO ENSINO DE QUÍMICA NO BRASIL: PESQUISAS EM EDUCAÇÃO QUÍMICA 1.2.CONHECIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR 1.3. CONHECIMENTO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO PRÁTICA 1.4. CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA QUÍMICA E ATUAÇÃO PEDAGÓGICA 1.5. SUPERAÇÃO DE UMA PRÁTICA PROFISSIONAL ESPECÍFICA ENSINAR COMO MEDIAÇÃO DE APRENDER UNIDADE 2 2- A PROBLEMÁTICA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA, NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO. 2.1. CONCEPÇÕES DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR 2.2. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA 2.3. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS UNIDADE 3 3.1. OS CONHECIMENTOS QUÍMICOS DA BASE NACIONAL COMUM 3.2. A PROBLEMÁTICA DO CURRÍCULO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO 3.3. A DESCONTEXTUALIZAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR DE QUÍMICA 3.4. AÇÕES PARA DESENVOLVER UM ENSINO POSITIVO UNIDADE 4 4.1. FORMAÇÃO 4.2. ANALISANDO A METODOLOGIA 4.3. O ENSINO EXPERIMENTAL 4.4. A LINGUAGEM DA QUÍMICA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 4.5. O CONTEÚDO E A ARTICULAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS MACROSCÓPICO E MICROSCÓPICO DO CONHECIMENTO QUÍMICO UNIDADE 5 5.1. TREINAMENTO DE HABILIDADES 5.2. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS EM QUÍMICA 4 5.3. HABILIDADES PARA PREPARAÇÃO DE UM BOM PROFISSIONAL DA QUÍMICA 5.5. ETAPAS PARA RESOLUÇÃO DE UM PROBLEMA 5.6. TÉCNICA DE PROJETO 5 UNIDADE 1 DIFERENTES ENFOQUES DA QUÍMICA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO OBJETIVOS 1. Analisar o processo histórico da evolução do ensino de química no Brasil; 2. Observar a contribuição das pesquisas no ensino para a formação em educação química do professor; 3. Conhecer o processo educativo da formação do profissional de química a partir dos temas como, o conhecimento profissional do professor e o conhecimento profissional em situação de prática; 4. Verificar a ocorrência de fatores que favoreça a separação da formação pedagógica do professor da formação específica no campo do conhecimento em que se vai atuar prática docente; 5. Compreender como se dá a superação de uma prática profissional específica, ensinar com a mediação de aprender dentro do ensino de química, bem como a participação do professor no desenvolvimento de um currículo sólido, valorização profissional e qualidade de ensino-aprendizagem. 6 1.1 EVOLUÇÃO DO ENSINO DE QUÍMICA NO BRASIL: PESQUISAS EM EDUCAÇÃO QUÍMICA. Várias tendências de investigação têm permeado a área de Ensino de Química em oposição ao ensino tradicional (Aprendizagem por descoberta, abordagens construtivistas, Ensino para formar o cidadão e Abordagem histórico- cultural), contribuindo para a melhoria da formação docente e do ensino de Química. A década de noventa foi marcada pela necessidade de busca de novos enfoques e paradigmas para a compreensão da prática docente e dos saberes dos professores, embora tais temáticas ainda sejam pouco valorizadas as investigações e programas de formação de professores. Poderíamos falar do ensino de química num país como o Brasil, de dimensões continentais, adotando diferentes abordagens, uma delas seria a descrição das diversas realidades encontradas nas diversas escolas brasileiras, onde o ensino de Química faça-se presente. Estaríamos, portanto, falando do ensino vivido em instituições públicas e privadas, distribuídas ao longo de um enorme rede educacional, que possui cerca de 6,5 milhões de alunos matriculados somente no ensino médio alunos que necessariamente entrarão em contato com o ensino de química em alguma fase de sua vida acadêmica, teríamos que mencionar também os cursos superiores de química e aqueles ligados às ciências exatas, nos quais também se vive o ensino da química. (Bejarano; Carvalho, 2000). Uma outra abordagem para se analisar o ensino da Química é através das pesquisas e publicações realizadas pela comunidade de educadores de química. Nesse contexto, espera-se que essas diversas realidades estejam refletidas, em grande medida, nos esforços de investigação acadêmica acerca do fenômeno ensino de Química. Ao analisarem-se as pesquisas no ensino de química observa-se que as dificuldades que emergem da opção metodológica para o estudo desse ensino surgem do fato de que as pesquisas nessa área serem bastante recentes no Brasil, só tendo recebido a devida atenção a muito pouco tempo. Os primeiros trabalhos tiveram início nos primeiros anos da década de setenta, como conseqüência ainda não foi possível formar uma sólida comunidade de pesquisadores da prática do ensino de química. 7 Ao longo desse tempo observou-se um aumento na produção científica nessa área, com pesquisas de excelente qualidade e vinculadas às universidades brasileiras. Do ponto de vista legal – instituição dos programas de pós-graduação – não implica dizer que não se tenha formado pesquisadores em períodos anteriores nas diversas áreas do conhecimento, mas apenas que surgiu a preocupação de melhorar a formação desses profissionais de acordo com as novas tendências do mercado. A década de setenta foi a década de nascimento dessa linha de pesquisa no nosso país, na década seguinte ocorreu o seu amadurecimento e nos anos noventa deu-se sua consolidação, com o surgimento ascensão de vários pesquisadores detentores de uma vasta produção acadêmica, um bom exemplo desse fenômeno é a consolidação da seção de educação da revista Química Nova, um periódico da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), empregado para a divulgação dos avanços dessa área de conhecimento no Brasil bem como a revista Química Nova na Escola, outro periódico da SBQ que tem como público alvo os professores de Química e que tem por objetivo disseminar novas práticas no ensino dessa ciências. Assim, percebe-se que o ensino de Química no Brasil tem experimentado um crescimento bastante acelerado, se comparado com épocas anteriores do processoeducacional brasileiro, e como conseqüência vê-se a consolidação de um pólo de produção de conhecimento em ensino de Química que atende às exigências impostas pelo ensino formal de Química nos diversos níveis de ensino do sistema educacional brasileiro. 1.2- CONHECIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR O ritmo acelerado da globalização, cuja realidade econômico-tecnológica imprime profundas transformações, exige a integração do aluno à sociedade e a escola tem papel fundamental neste processo. Dessa maneira, cabe aos educadores, viabilizar mecanismos que contribuam para o atendimento a essas novas perspectivas e um ensino de qualidade tem se tornado desejo generalizado da sociedade, que aspira por ver seus jovens aptos a enfrentar os desafios do novo milênio. Mas, o exercício profissional ou o exercício de uma profissão está no imaginário das pessoas, forjado em situações de vivência e em interação com algum 8 profissional. Destaca-se nesse particular a figura do professor, mais especificamente da professora ou da primeira professora. É da formação cultural das pessoas a idéia do que seja um professor, sua forma de agir e de se relacionar num processo intencional de ensinar algo a alguém. Dizemos, então, que o conceito ou idéia de professor, do profissional professor, está profundamente enraizada na vivência cultural de cada pessoa, mas, ao mesmo tempo, dizemos que esse é um conceito do cotidiano, portanto um conceito que está distante do que se espera de um profissional encarregado da inserção cultural de cada indivíduo na sociedade contemporânea. Na formação específica para o magistério esse conceito não está conseguindo alcançar novos níveis. (MALDANER, 2006) Este fato pode ser interpretado como o resultado da pouca familiaridade dos professores com as contribuições da pesquisa e inovação didática e, mais ainda, pode ser interpretado com expressão de uma imagem espontânea do ensino, concebido como algo essencialmente simples, para o qual basta um bom conhecimento da matéria, algo de prática e alguns complementos psicopedagógicos (Carvalho; Gil-Pérez, 1995, p. 14). A prática docente pode ser significativa em novos níveis, desde que nas diversas instâncias de formação específica – no âmbito das universidades, nos espaços e tempos escolares, no convívio social cotidiano – ela seja vista como algo importante e problemático em que não se pode mais admitir improvisações e simplificações. Há, por um lado, as crenças sobre o “ser professor” que se formam na relação professor-aluno-futuro professor e, por outro, um novo conceito produzido historicamente sobre o profissional professor, alguém de quem se espera seja capaz de criar/ recriar a herança cultural, junto às gerações mais jovens, alguém profundamente inserido em seu meio social e cultural e capaz de sentir os anseios populares e convertê-los em material de reflexão com base nas construções das ciências e outras conquistas culturais. Na dimensão usual de formação dos professores, em alguns momentos se mostra de forma restrita, demonstrado em problemas nos cursos de licenciaturas no âmbito das universidades, responsáveis pela formação específica de professores e os pesquisadores educacionais. Há dificuldade de superar o fosso que separa a formação pedagógica da formação específica no campo de conhecimento em que vai atuar. Isso, porém, não 9 justifica iniciativas de tirar das universidades a responsabilidade de formar os professores para todos os níveis de ensino. É ainda a universidade o contexto mais adequado para conceber a formação dos professores em outras bases. A prática atual de formação inicial mais freqüente de professores, isto é a separação da formação profissional específica da formação em conteúdos, cria uma sensação de vazio de saber na mente do professor, pois é diferente saber os conteúdos de Química, por exemplo, em um contexto de Química, de sabê-los, em um contexto de mediação pedagógica dentro do conhecimento químico. Em situação prática de ensino, o professor não terá disponível um conhecimento profissional peculiar. Os conteúdos químicos sob o ponto de vista pedagógica e os conceitos serão significados pelos alunos em níveis muito diferentes dos usuais, no contexto da Química. Ausente a perspectiva pedagógica, o professor não saberá mediar adequadamente a significação dos conceitos, com prejuízos sérios para a aprendizagem de seus alunos. (MALDANER, 2006) A compreensão de seu papel de professor está no nível da formação “ambiental”, dentro do “senso comum” da profissão docente e da tarefa de ensinar e educar. Não houve em sua formação profissional a mediação do conhecimento pedagógico já produzido nas pesquisas educacionais. São as questões pedagógicas que acompanham os conteúdos que estão ausentes e isso leva os professores a negarem a validade de sua formação na Graduação, exatamente naquilo que os cursos de licenciaturas de Química e outras áreas mais prezam: dar uma boa base em conteúdos! Isso não quer dizer que não saibam o conteúdo específico, mas é a sensação que têm diante de uma dificuldade que é de cunho pedagógico. Podemos constatar muitas vezes o temor dos professores de não saberem responder às perguntas que os alunos fazem e, principalmente, de deixarem que eles manifestem suas percepções, suas dúvidas, suas concepções sobre a matéria em estudo na escola. Os cursos de formação de professores não conseguem responder às necessidades de nenhum nível de ensino, embora as pesquisas na Educação Química tenham crescido nos últimos anos. Os cursos de licenciatura no Brasil ainda são pouco eficientes em proporcionar uma visão mais ampla da atividade docente (Schnetzler & Aragão, 1995), como também em outros países, como por e como Estados Unidos (McDermott, 1990). 10 A despreocupação junto a desmotivação frente às questões pedagógicas podem advir do pouco valor que se dá à formação profissional dos professores nos cursos de licenciatura e “normalmente, nenhuma tentativa especial é feita em levar em conta as necessidades desses futuros professores” (McDermott, 1990, p. 736). A preocupação saliente é a formação nos conteúdos da Química, não importando o contexto em que eles poderiam ser significativos: na pesquisa, na indústria, na agricultura e, principalmente, na formação química nos diversos graus de ensino. Os professores da área pedagógica estão fora do contexto do curso, muitas vezes também afastados da realidade escolar e, por isso, não conseguem suplementar as lacunas deixadas nesse particular e, muito menos, romper a formação tácita em Química. Há esforços, embora isolados e em pequeno número de docentes, que visam a melhorar os cursos de Graduação em Química. Algumas disciplinas novas são criadas dentro dos cursos, como História da Química, Epistemologia da Ciência, História da Ciência, Instrumentação para o Ensino de Química e Metodologia do Ensino de Química. Já há, inclusive, implementação de cursos de licenciatura de Química, com uma proposta concebida, especificamente, para formar melhores professores, desvinculada da preocupação de formar pesquisadores ou técnicos químicos. Tais experiências precisam ser acompanhadas e melhor estudadas, pois podem estar criando caminhos paralelos que justifiquem que a atividade de ensino, usualmente considerada importante e essencial para universidade na preparação de recursos humanos para a sociedade, deixe de ser preocupação dos professores nos departamentos específico – Química Orgânica, Físico-Química, Química Analítica, Química inorgânica. Afastamento dos cursos de formação de professores, onde ainda há alguma preocupação com o ensino, os professores poderão eximir-se sempre mais de sua própria formação pedagógica. Além disso, poderá criar-se uma segregação na formação de profissionais de uma mesma área, bacharéis e licenciados, com atendência de a licenciatura se tornar de importância menor na universidade. A prática mostra, ainda que muitos bacharéis de Química acabam tornando-se professores de Química, por força do mercado de trabalho, sem terem tido a mínima formação pedagógica para isso. Para Maldaner (2006), a preocupação pedagógica deve ser central em todas as atividades dos professores em uma universidade. As diferentes tentativas de melhorar os cursos de formação de professores de Química esbarram na própria concepção curricular que embasa, praticamente, 11 todos os cursos universitários de formação de profissionais. O conhecimento profissional especializado, que foi proposto como solução para todos os males na sociedade nos anos após a Segunda Guerra, é hoje apontado como vilão de muitos males maiores que aquele que se propunha a sanar. O profissional da Química é um dos mais visado, sendo os “produtos químicos” considerados os maiores vilões da degradação ambiental, da agressão á saúde das pessoas, da poluição do ar e dos rios, da má qualidade dos alimentos, etc. Mas vemos na investigação e inserção de novas metodologias a melhoria do ensino oferecido em nossas instituições de ensino, vamos então, recorrer às reflexões e publicações para tentarmos entender os nossos cursos de formação de profissionais químicos e de professores de Química. 1.3 CONHECIMENTO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO PRÁTICA Na década de 60 existia a crença de que o conhecimento profissional pudesse promover o progresso social e achar soluções para todos os problemas no meio social. Mas, essa crença perdeu força nas duas dedadas seguintes, pois os profissionais parecem o rumo de suas atividades à medida que o seu conhecimento parece adequar-se cada vez menos às situações práticas demandadas pela sociedade. Ao tentarem resolver uma situação problemática os profissionais das mais diversas áreas muitas vezes acabaram criando problemas ainda maiores, para um contingente de população mais amplo que aquele que beneficiaram. Por exemplo, a degradação do meio ambiente pela construção de uma estrada, a erosão e contaminação do solo e das águas na prática agrícola “moderna”, a degradação da saúde pública pela industrialização e criação de empregos industriais, a morte dos rios pela produção química e a concentração das pessoas no meio urbano, etc. As soluções propostas sempre o foram em nome do progresso tecnológico e social, baseadas em práticas científicas e tecnológicas. Segundo Schön (1983, p. 14) situa-se a inadequação do conhecimento profissional para atender às demandas sociais na própria característica das situações práticas. Para ele, as situações práticas são instáveis, contemplam a complexidade, contêm alto grau de incertezas e permitem conflito de valores. A formação dos profissionais, por outro lado, não as contempla. Ao contrário, ela é realizada em cima de resolução de problemas abstraídos de todo o entorno real, 12 constituindo-se na resolução de problemas-padrão sobre os quais cabem soluções- padrão. “85% dos problemas que um médico vê em seu ofício não estão nos livros” (Schön, 1983, p. 16). O centro da crise de confiança no conhecimento profissional, bem como a incapacidade que os profissionais manifestam ao lidar com as situações práticas situam-se na separação, segundo Schön, entre pensamento e ação, teoria e prática, mundo acadêmico e mundo do dia-a-dia. As raízes dessas dicotomias devem ser buscadas em uma visão particular de ciência e de profissão, não na ciência em geral ou nas profissões em geral. Schön vê os profissionais diante do dilema de abandonar o conhecimento “recebido” na academia ou de tentar aplicá-lo sem ter o domínio sobre ele. É o que chama de dilema do abandono ou alienação (Schön, 1992, p. 120). Há, por um lado, a sensação dos profissionais de não saberem as coisas, de não terem um conhecimento útil para resolver os problemas concretos, principalmente os problemas sociais, o que gera a perda de confiança deles no conhecimento “recebido” da academia e acabam abandonando-o. Por outro lado, ao tentarem usar conhecimento “passado” na academia ele parece fluido e lhes escorre pelas mãos, criando a sensação de incompetência e de incapacidade para resolverem as situações práticas, principalmente diante de outros profissionais mais experientes. O conhecimento parece que não lhes pertencer. A perda da confiabilidade no conhecimento profissional recebido da universidade, no curso universitário, não significa que os professores tenham negado a concepção de conhecimento sobre a qual esse lhes foi apresentado. Uma quase rebeldia que se pode notar em alguns professores refere-se mais à metodologia, ao jeito de dar aula e à forma abstrata com que lhe foi apresentado o conhecimento químico. Muitos consideram o entusiasmo de ser professor e a relação do conteúdo que se trabalha com o cotidiano como sendo os responsáveis pelos avanços da prática. A formação ambiental dos professores é muito forte e eles tendem a reproduzi-la, de forma tácita, em suas atividades profissionais, como veremos no próximo item. Diferentemente da formação de outros profissionais, temos quase uma continuidade da mesma atividade profissional. Isso impede uma crítica mais radical e, assim, o abandono de muitas crenças e práticas construídas no meio acadêmico. 13 1.4- CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA QUÍMICA E ATUAÇÃO PEDAGÓGICA Os professores de Ensino Médio tendem a manter, tacitamente, as mesmas concepções da ciência química que vivenciaram ou que lhes foi “passada” na universidade. Eles manifestavam, em muitas ocasiões, as suas crenças nas mesmas bases epistemológicas sobre as quais “edificaram” a sua representação de conhecimento químico e profissional. Esse conhecimento se refere a múltiplos focos sobre os quais os professores centram as suas atenções: aluno, professor, ensino, relação professor-aluno. Tudo isso poderia ser traduzido como concepção (tácita) de currículo que os professores adotam. Tácito porque o “professor não sabe/ conhece o enfoque de currículo que utiliza no seu trabalho pedagógico: ele não teve acesso a essa informação” (Geraldi, 1993, p. 260). Há, nessas situações, uma tendência em reproduzir os processos com os quais o professor esteve envolvido, ou na universidade ou na escolarização anterior. Pérez (1988) “admite como fato indiscutível que os professores não aplicam os métodos que lhes foram ‘predicados’ mas os métodos que lhes foram aplicados” (Pérez, 1988, p. 204), é que isso deve ser levado em conta quando nos propomos a formar professores, tendo em vista a melhoria da qualidade educativa. Ou seja, temos de ser capazes de agir com qualidade educativa em relação aos professores em formação e não, apenas, falar sobre ela. A Ciência vista como detentora das verdades descobertas pelos cientistas e que precisam ser transmitidas aos alunos de forma a serem mais digestivas. Fazer as práticas, usualmente como experiências demonstrativas (Schnetzler, 1981), significa, dentro da visão empirista/ indutivista, comprovar o acerto das teorias ou pretender chegar a elas por meio de generalizações a partir de regularidades observadas. Há, ainda, nessa postura e nessa expectativa dos estudantes de licenciatura de química, uma clara rejeição ao que denominam “ensino teórico” que vivenciaram em toda a sua formação anterior (Schnetzler, 1994, Porlán, 1988). Estes autores perceberam que, na verdade, eles rejeitam o modelo de transmissão/ recepção quando se referem ao ensino teórico, mas mantêm a mesma idéia de conteúdos de Química que devem ser transmitidos bem e assimilados pelos alunos. Não se referem a uma possível teorização química sobre fatos e fenômenos, à luz da construção histórica nesse campo do conhecimento. Ensino teórico, nesse contexto, é a exposição oral de certa sequência de assuntos que formam o corpo14 sistematizado de conteúdos. Esses são os mesmos, com a mesma sequência que tiveram tanto no Ensino Médio quanto na universidade. Pensa-se nas aulas práticas como motivação ara aceitar melhor esses conteúdos e na relação com a vida diária para torná-los mais interessantes e, assim, guardá-los melhor na memória. Não há a perspectiva de ruptura epistemológica quando alunos de licenciatura e professores de Ensino Médio se queixam do programa de ensino sobre o qual se trabalha na universidade e na escola. O ensino de química deverá visar à aprendizagem dos conceitos, princípios, teorias e leis desta ciência; à compreensão da natureza e processo de produção desse conhecimento, bem como à analise crítica da sua aplicação na sociedade, numa trajetória que envolva transmissão/ assimilação/ reavaliação crítica do conhecimento. Ainda segundo a mesma proposta, os princípios orientadores para o ensino de Química deveriam contemplar a experimentação como um dos momentos da reelaboração do conhecimento químico na sociedade. É possível observar de forma clara a relação entre as concepções dos professores sobre ciência e suas práticas educativas em sala de aula. As concepções dos professores acerca na natureza da ciência, do conhecimento científico e do que é o método influenciam a forma de abordar determinado conteúdo e, portanto, a imagem da ciência dada ao aluno (Praia; Cachapuz, 1993, p. 1). Percebe-se, ainda, que o programa sugerido na proposta curricular e aceito pelos professores da escola não se dava na prática. As unidades e o seu desdobramento em itens coincidem, mas a produção das aulas dava-se sobre um livro-texto que os professores consultavam. Há, portanto, um programa de ensino escrito, potencialmente interessante, mas que os professores não conseguem desenvolver, e há um currículo em ação, na expressão de Geraldi (1993). Eu atribuo isso ao fato de os professores não terem, normalmente, oportunidade de discutir e fazer a produção de aulas de Química, em sua formação inicial. Ao contrário, as próprias aulas na universidade são desenvolvidas sobre um texto adotado, a partir do qual os docentes, geralmente, dão explicações no quadro e resolvem alguns exercícios. As aulas práticas ou de laboratório são dadas como disciplinas separadas, que podem ser oferecidas em momentos diversos no curso, não sendo integradas, necessariamente, com as outras disciplinas de Química, ditas teóricas. 15 Os professores, em geral, têm uma representação de programa que é muito diferente do que de deseja para um programa de ensino que visa a mediar o aprender em Química. Ao não ser problematizado o conhecimento químico quando da formação universitária, permanecem as crenças dos professores em uma ciência positiva, “descoberta” linearmente por pessoas especiais - os cientistas. São essas crenças as responsáveis pelo desenvolvimento de um certo programa e que se repete com incrível regularidade. Elas não permitem ver, criticamente, o programa de ensino e, com isso, procura-se passar ou transmitir uma lógica de conteúdos em que os alunos não encontram anexos e, portanto, não aprendem, achando a matéria de Química muito chata, como eles sempre dizem. Há uma tentativa de transferência de uma seqüência de conteúdos, baseada na lógica do conhecimento químico estruturado, de quem já sabe Química, e não na lógica de quem precisa aprender a Química. Assim o ensino não se torna a mediação da aprendizagem. Compreende- se hoje, que na relação pedagógica cabe ao professor controlar os significados em elaboração para os conceitos, diagnosticar em que nível se encontram e propor o nível desejável pedagogicamente para determinadas situações em estudos. 1.5 SUPERAÇÃO DE UMA PRÁTICA PROFISSIONAL ESPECÍFICA ENSINAR COMO MEDIAÇÃO DE APRENDER No meio docente, entre os professores há sempre o desejo de práticas eficientes em sua atividade de ensino. Para tal, pensa-se em um programa de ensino de Química, entendido em sentido amplo, que possa, tornar-se mediador da aprendizagem dos estudantes do Ensino Médio. A interação, a mediação e a negociação são os meios para atingirmos novos neveis de compreensão sobre a prática de sala de aula no ensino de Química. Muitos professores, geralmente, apresentam suas idéias sobre a matéria, o ensino, a aprendizagem o aluno, a metodologia de trabalho, etc, de uma forma muito simples, próprias do “senso comum”, e distantes do que propõem os conhecimentos pedagógicos hoje aceitos pela comunidade científica. Segundo Carvalho e Gil-Pérez, (1995) esse “pensamento docente de senso comum” é fruto de toda uma formação “ambiental”, desde as experiências como aluno nos graus iniciais de escolarização até à formação universitária d professor. Carvalho e Gil- 16 Pérez (1995) afirmam que tais idéias, por sua vez, podem aproximar-se bastante das elaborações feitas pelas pesquisas educacionais desde que haja “equipes de professores” atuando na perspectiva de um trabalho de “(auto)formação”. (Carvalho; Gil-Pérez, 1995, p. 15). Pois, não se pode esperar, no entanto, que resultados aconteçam espontaneamente. As reflexões coletivas necessitam uma direção e um sentido, que pode ser mediados e negociados por um educador/ professor ou pesquisador educacional com uma perspectiva de inovação pedagógica. Não se pode esperar que um nível de criação pedagógica seja possível pela simples reunião de pessoas. Essa é uma condição necessária na ação pedagógica conseqüente, mas não suficiente. A criação/ recriação cultural da humanidade é sempre mediada e se dá na interação entre as pessoas com o crescente domínio dos meios e instrumentos já existentes, que são os conceitos teóricos dos diferentes campos do saber, construídos historicamente e referenciados às circunstancias sociais e culturais de uma época. Vale dizer, não se pode produzir as mesmas coisas em épocas e circunstancias diferentes. Se não fosse assim, aceitaríamos que uma classe de estudantes, adolescentes ou adultos, com todas as capacidades mentais suficientemente desenvolvidas, pudesse “re-descobrir”, sozinha, os conhecimentos já desenhados em qualquer área do saber humano. Segundo Maldaner (2006), a forma de lidar com as palavras próprias do conhecimento químico, na interação pedagógica, atingiu mais e mais novos níveis de compreensão no grupo de professores da escola. Além de representativa de um conceito e instrumento de comunicação, passou a ser vista como constitutiva da mente no pensamento químico, adquirindo grande importância na mudança do ensino de Química, essa idéia vem sendo desenvolvida e testada, pretendendo ter como base teórica os princípios da teoria histórico-cultural derivados das concepções de Vygotsky. As mudanças potenciais do processo de ensino e aprendizagem, segundo essa abordagem, têm sido consideráveis. Segundo a fala de Maldaner a uma professora da escola em que pesquisou em 1993, “as idéias desenvolvidas coincidem com o contato sistemático que passei a ter com as concepções de Vygotsky sobre a constituição das faculdades mentais superiores, sempre com a idéia de que pudessem ajudar a pensar sobre a educação escolar e, especificamente, sobre a educação em Química. 17 1.5.1 A profissão de professor e a pesquisa de professores e valorização profissional A atuação dos profissionais em situações reais segundo Schön mostra as limitações que possuem para resolver problemas reais. Isso pode ser ainda mais problemático quando se fala dos professores dos Ensinos Médio e Fundamental. As situações reais que os professores enfrentam são ainda mais complexas do que aquelas que outros profissionais enfrentam e, portanto, mais distantes das situações ideais abordadas nos cursos de licenciatura em que foram formados. Estes são, normalmente, desprestigiados no interior das grandes universidades, havendo pouca preocupação emproporcionar aos estudantes as condições de uma boa formação específica para o exercício do magistério. Dentro dos espaços e tempos possíveis hoje, que existem, pois a escola concreta não é um todo determinado, propõe-se a participação essencial do professor na concepção e concretização do currículo a ser desenvolvido na escola e dentro das salas de aula, gerando, coletivamente, saberes e valores. Esses seriam os tempos e espaços de pesquisa dos professores. E para isso a pesquisa educacional e diversos grupos de excelência, nessa área, espalhados pelo Brasil, devem, no entanto, chegam aos professores que, efetivamente, produzem e conduzem as aulas ou não chegam com força suficiente para mudar as práticas educativas em nossas escolas. Mas muitas vezes vemos que esas pesquisa não conseguem chegar até os professores, isso acontece, em primeiro lugar, porque os professores têm acesso muito restrito às publicações mais atualizadas, tanto em livros atualizados quanto em revistas nacionais e estrangeiras. São raras as escolas que mantêm assinaturas de revistas que divulgam resultados de pesquisas e de estudos sobre a problemática educacional, avanços na metodologia de ensino nos diversos campos do conhecimento, novas abordagens curriculares, avanços nas ciências pedagógicas, etc. Essas publicações existem e circulam no meio acadêmico e, muitas vezes, abordam questões sobre escolas, professores, aprendizagem, ensino, organização escolar, etc., de grande interesse para os administradores de escolas, alunos, professores, mas em cujo meio não circulam. Se os pesquisadores educacionais, os governantes e os formadores de professores estivessem convencidos realmente da importância da participação dos professores nessas pesquisas, como forma de mudar a prática nas salas de aula, 18 isso não aconteceria. As escolas, como espaços de reconstrução do conhecimento e reconstrução cultural, teriam melhores condições para cumprirem o seu papel institucional se os seus atores participassem dessas criações, as desenvolvessem em ação conjunta e conjuntamente e analisassem os resultados das práticas de sala de aula. Entre os pesquisadores educacionais, principalmente aqueles envolvidos diretamente com a formação de professores, cresce a convicção de que a pesquisa educacional deve ser realizada com a participação do próprio professor, tanto em sua formação inicial quanto na continuada.( MALDANER, 2006) ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM 1. De forma sistemática descreva a situação da educação química no Brasil. 2. De que forma as pesquisas no ensino de química tem contribuído para a formação em educação química do professor? 3. A partir do conteúdo apresentado nessa unidade como você descreveria a prática profissional do professor? 4. De acordo com o estudo proposto nessa unidade de ensino de que forma a profissão docente pode ser significativa segundo os autores Carvalho e Gil-Pérez? 5. O que leva a separação da formação pedagógica da formação especifica no campo do conhecimento em que se vai atuar na prática docente? 6. Discorra sobre como se apresenta a concepção de ciência química e a atuação pedagógica do professor. 7. Como Schön vê os profissionais diante do dilema de abandonar o conhecimento “recebido” ou “aplica-lo” de acordo com a prática em sala de aula? 8. Como deverá ocorrer a superação de uma prática profissional específica ensinar como mediação de aprender detro do ensino de química? 9. Descreva de forma sucinta como se apresenta o trabalho do professor e a produção de sua profissão. 10. Dentro dos espaços possíveis hoje, qual a participação do professor dentro do desenvolvimento de um currículo sólido a partir de pesquisas em educação química para a valorização profissional deste, e qualidade do ensino-aprendizagem. 19 ATIVIDADE COMPLEMENTAR 1. A partir do artigo “A Educação Química no Brasil: uma visão através das pesquisas e publicações da área”, disponível no site: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_t eses/Qu%EDmica/educacao_quimica_no_brasil.pdf, como mostra a web-bibliografia, descreva a situação da produção cientifica ligada às pesquisas em educação química no Brasil, fazendo um quadro comparativo aos dias atuais. WEB- BIBLIOGRAFIA http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_t eses/Qu%EDmica/educacao_quimica_no_brasil.pdf http://www.scielo.br/pdf/qn/v22n3/1102.pdf http://www.scielo.br/pdf/es/v22n74/a03v2274.pdf RESUMO Na primeira unidade inicialmente nos propomos a fazer um breve histórico sobre a evolução do ensino de química no Brasil, discutindo enfoques do processo educativo da formação do profissional de química a partir dos temas: o conhecimento profissional do professor, conhecimento profissional em situação de prática, concepção da ciência química e atuação docente de ensinar com a mediação de aprender. 20 UNIDADE 2 A PROBLEMÁTICA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA, NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO. OBJETIVOS 1. Diagnosticar a contribuição das pesquisas sobre a formação docente através de investigações relacionadas à problemas no ensino de química; 2. Conhecer os principais problemas nos cursos de licenciatura em química que os torna pouco eficientes para a formação de professores; 3. Discutir a formação docente no Brasil e perspectivas para formação de professores nos dias atuais. 4. Conceber a educação com plena consciência da necessidade de se desenvolver a criatividade, estando comprometido com as transformações técnicas, científicas, econômicas e sociais. 5. Propor um ensino como importante contribuição para a reflexão e investigação do professor pesquisador que queremos formar para uma aprendizagem que implica evolução conceitual com a promoção do ensino. 21 2 A PROBLEMÁTICA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA, NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO. Considerando que cidadania se refere à participação dos indivíduos na sociedade, torna-se evidente que, para o cidadão efetivar a sua participação comunitária, é necessário que ele disponha de informações. E tais informações são aquelas que estão diretamente vinculadas aos problemas sócias que afetam o cidadão, os quais exigem um posicionamento quanto ao encaminhamento de soluções. (SANTOS, 2003). Falando em cidadania para estabelecer relações com a educação e propondo uma reflexão sobre tal vinculação, faz-se necessário definir primeiramente o que seria ser um cidadão. O conceito de cidadania teve origem na Grécia antiga, e segundo Aristóteles, “Um cidadão no sentido absoluto não se define por nenhum outro caráter mais adequado senão pela participação nas funções judiciárias e nas funções públicas em geral” (Aristóteles)1. Partindo dessa conceituação, destaca-se a participação como característica básica da cidadania, podendo dizer que cidadão é o homem participante e ao considerarmos a participação como processo de autopromoção, vemos no conhecimento químico um enquadramento nessas condições. Nesse sentido, o reconhecimento do papel central da ciência e, em especial, da química na formação do cidadão tem sido feito pelos educadores em ciências brasileiros, os quais tem proposto uma educação por meio da ciência e química, como se tem constatado em diferentes publicações nacionais. Portanto, setores da sociedade têm percebido que a educação deve se aproximar mais dos aspectos éticos, coletivos, comunicativos, comportamentais e emocionais do seu alunado. Todos, fatores necessários para alcançar uma educação democrática para os futuros cidadãos, valorizando o papel que a educação assume. Para que esta mudança se consolide perante a sociedade, é necessário que as instituições de ensino deixem de ser um ambiente em que se aprende exclusivamenteo básico, e de reproduzir o conhecimento dominante. Razão que leva à necessidade de renovação destas instituições em busca de uma nova forma de educar. Um acontecimento que requer uma redefinição importante da profissão docente, em que esta deverá assumir novas competências profissionais no quadro de conhecimentos pedagógicos, culturais e científicos desta nova sociedade que 22 está se reconfigurando, ou seja,faz-se essencial o surgimento de um novo profissional da educação. Considera-se que hoje é indispensável conceber a educação com a plena consciência da necessidade de se desenvolver a criatividade, sendo, portanto, necessário que se forme um homem capaz de confrontar-se crítica e independentemente ao enorme acúmulo de conhecimentos existentes, que saiba lidar com esses conhecimentos para tomar decisões, que seja cada vez mais criativo, autodeterminado e comprometido com as transformações técnicas, científicas, econômicas e sociais (Martinez 1997). O contexto em que trabalha o magistério tornou-se complexo e diversificado. Hoje, a profissão não se restringe apenas a transmissão de um conhecimento acadêmico ou a transformação do conhecimento comum do aluno em conhecimento em um conhecimento acadêmico. A profissão exerce outras funções: motivação, luta contra a exclusão social, participação em grupos sociais, animação de grupos, relações com estruturas sociais com a comunidade. É claro que tudo isso requer uma nova formação: inicial e permanente (IMBERNÓN, 2004, p. 14). Atualmente, o tipo de formação que os novos professores estão recebendo apresenta-se de maneira um tanto confusa, já que esta necessita de uma nova reflexão sobre as mudanças que ocorrem com a chegada de um mundo novo, cheio de interdisciplinaridade e tecnologia, enquanto que a educação de futuros docentes continua a estar presa a costumes e a formas de trabalho ultrapassados. A realidade educacional brasileira, através de muitos estudos já realizados revela que os cursos de formação de licenciados têm sido objeto de reflexões críticas em relação à possibilidade de preparar docentes. Um fator apontado como determinante dos problemas de formação profissional do magistério é a fragmentação entre as disciplinas de conteúdos específicos e as de base pedagógica, estabelecendo-se, assim, a dicotomia de ensino - ciência, educação - conteúdo e pedagogia - conhecimento (PIMENTA, 1995: MENEZES,.1996). Frente a um curso de licenciatura da área de exatas e tecnológicas, têm- se um desafio muito grande em tomo do sentido da educação do graduando. O docente universitário torna-se responsável por estimular o seu alunado para a docência e para as pesquisas tecnológicas, assumindo assim, o desafio de mesclar 23 as duas formas de educar em uma única, sem haver perda de conteúdos e objetivos conteúdo de ambas as partes. 2.1- CONCEPÇÕES DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR Quando pensamos em formação pela amplitude do termo, nos remete a pensar, entre outros, em formação inicial, formação continuada, formação de algo ou de alguém inacabado. Esse termo, formação, depende do sentido em que estiver empregado, expressa os diferentes contextos da profissionalização do homem na sociedade. Parece-nos necessário então tecer alguns comentários sobre o conceito de formação, para que possamos refletir, especialmente, sobre o conceito de formação do professor, tendo como base a abordagem sócio-histórica. De acordo com essa abordagem, os conceitos evoluem histórica e socialmente, em estágios atingindo níveis superiores de abstração e generalização, materializando-se no agir. Nesse processo, os sujeitos passam por transformações que elevam a consciência, ingênua para um nível mais apurado, mais elevado de formação conceitual. Entorno da palavra formação circunda, desde os sábios da Grécia antiga, núcleo essencial que fixa a idéia de que o homem não é dado sem espírito de forma precisa e perfeita, necessitando, então, que seu espírito seja formado ou reformado. (NOSELLA , 2005) Com isso recorremos ao pensamento grego para compreender o significado de formação com a finalidade de mostrar a evolução desse conceito no decurso da história da humanidade, pois, apesar de antigo, ele continua atual. Foi com esse pensamento que extraímos o núcleo essencial desse termo, isto é, a compreensão de que o homem não nasce perfeito e acabado, ou seja, forma-se a partir da interação que mantêm com os outros. Segundo alguns estudiosos o homem torna-se ser humano pelas práticas socialmente vividas e construídas por ele e pelos outros na arena do dialogismo e da interação verbal (BAKHTIN, 1997). Com esse enfoque e dos diferentes significados existentes para a palavra formação revisitando os atributos necessários e suficientes que pertencem ao seu conceito científico, reformulando-a. Mas a palavra formação é mais freqüentemente usada nos processos vinculados à formação profissional. Todavia, nem mesmo 24 nesses casos se faz grande esforço para elucidar o seu significado. Poderia se dizer que, em sua acepção mais habitual, ela remete ao processo de preparação, às vezes, genérica, às vezes, especializadas, com a intenção de capacitar os indivíduos para a realização de certas atividades, (ZABALZA, 2005). Ao se desenvolver estudos acerca do conceito de formação de professor, faz- se as seguintes considerações: “[...] a formação não é nem um conceito geral que englobe a educação e o ensino, nem tampouco está subordina a este”. Enquanto a educação é ação realizada a partir do exterior para contribuir com o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos, geralmente não adultos, a formação destina-se aos adultos pois desenvolve a aquisição de saberes, entre os quais está o “saber-fazer” (GARCIA 1999 p. 19). Educação e formação, embora sejam conceitos que se complementam, dependendo do contexto, assumem sentidos diferentes, segundo Zabalza (2005) enquanto a educação está mais vinculada ao desenvolvimento pessoal, formação é algo mais pontual e fundamental direcionada à aquisição de habilidades específicas vinculada à, normalmente, ao mercado de trabalho. 2.2-EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA Considerando a educação como um desenvolvimento pessoal que favorece a cidadania, que se refere à participação dos indivíduos na sociedade, torna-se evidente que, para o cidadão efetivar a sua participação comunitária, é necessário que ele disponha de informações. E tais informações são aquelas que estão diretamente vinculadas aos problemas sócias que afetam o cidadão, os quais exigem um posicionamento quanto ao encaminhamento de soluções. (SANTOS, 2003). Falando em cidadania para estabelecer relações com a educação e propondo uma reflexão sobre tal vinculação, faz-se necessário definir primeiramente o que seria ser um cidadão. O conceito de cidadania teve origem na Grécia antiga, e segundo Aristóteles, “Um cidadão no sentido absoluto não se define por nenhum outro caráter mais adequado senão pela participação nas funções judiciárias e nas funções públicas em geral” (Aristóteles)1. 25 A legislação de ensino estabeleceu como função geral para a educação a formação da cidadania. Encontra-se na Constituição Breasileira de 1988, o seguinte dispositivo: “A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Partindo dessa conceituação, destaca-se a participação como característica básica da cidadania, podendo dizer que cidadão é o homem participante e ao considerarmos a participação como processo de autopromoção, vemos no conhecimento químico um enquadramento nessas condições. Nesse sentido, o reconhecimento do papel central da ciência e, em especial, da química na formaçãodo cidadão tem sido feito pelos educadores em ciências brasileiros, os quais tem proposto uma educação por meio da ciência e química, como se tem constatado em diferentes publicações nacionais. Portanto, setores da sociedade têm percebido que a educação deve se aproximar mais dos aspectos éticos, coletivos, comunicativos, comportamentais e emocionais do seu alunado. Todos, fatores necessários para alcançar uma educação democrática para os futuros cidadãos, valorizando o papel que a educação assume. Para que esta mudança se consolide perante a sociedade, é necessário que as instituições de ensino deixem de ser um ambiente em que se aprende exclusivamente o básico, e de reproduzir o conhecimento dominante. Razão que leva à necessidade de renovação destas instituições em busca de uma nova forma de educar. Um acontecimento que requer uma redefinição importante da profissão docente, em que esta deverá assumir novas competências profissionais no quadro de conhecimentos pedagógicos, culturais e científicos desta nova sociedade que está se reconfigurando, ou seja,faz-se essencial o surgimento de um novo profissional da educação. Considera-se hoje indispensável conceber a educação com a plena consciência da necessidade de se desenvolver a criatividade, sendo, portanto, necessário que se forme um homem capaz de confrontar-se crítica e independentemente ao enorme acúmulo de conhecimentos existentes, que saiba lidar com esses conhecimentos para tomar decisões, que seja cada vez mais criativo, autodeterminado e comprometido com as transformações técnicas, científicas, econômicas e sociais. 26 O contexto em que trabalha o magistério tornou-se complexo e diversificado. Hoje, a profissão não se restringe apenas a transmissão de um conhecimento acadêmico ou a transformação do conhecimento comum do aluno em conhecimento em um conhecimento acadêmico. A profissão exerce outras funções: motivação, luta contra a exclusão social, participação em grupos sociais, animação de grupos, relações com estruturas sociais com a comunidade. É claro que tudo isso requer uma nova formação: inicial e permanente (IMBERNÓN, 2004, p. 14). Atualmente, o tipo de formação que os novos professores estão recebendo apresenta-se de maneira um tanto confusa, já que esta necessita de uma nova reflexão sobre as mudanças que ocorrem com a chegada de um mundo novo, cheio de interdisciplinaridade e tecnologia, enquanto que a educação de futuros docentes continua a estar presa a costumes e a formas de trabalho ultrapassados. A realidade educacional brasileira, através de muitos estudos já realizados revela que os cursos de formação de licenciados têm sido objeto de reflexões críticas em relação à possibilidade de preparar docentes. Um fator apontado como determinante dos problemas de formação profissional do magistério é a fragmentação entre as disciplinas de conteúdos específicos e as de base pedagógica, estabelecendo-se, assim, a dicotomia de ensino - ciência, educação - conteúdo e pedagogia - conhecimento (PIMENTA, 2008). Frente a um curso de licenciatura da área de exatas e tecnológicas, têm-se um desafio muito grande em tomo do sentido da educação do graduando. O docente universitário toma-se responsável por estimular o seu alunado para a docência e para as pesquisas tecnológicas, assumindo assim, o desafio de mesclar as duas formas de educar em uma única, sem haver perca de conteúdos e objetivos conteúdo de ambas as partes. A realidade educacional brasileira, através de muitos estudos já realizados revela que os cursos de formação de licenciados têm sido objeto de reflexões críticas em relação à possibilidade de preparar docentes. Um fator apontado como determinante dos problemas de formação profissional do magistério é a fragmentação entre as disciplinas de conteúdos específicos e as de base pedagógica, estabelecendo-se, assim, a dicotomia de ensino - ciência, educação - conteúdo e pedagogia – conhecimento. Frente a um curso de licenciatura da área de exatas e tecnológicas, têm-se 27 um desafio muito grande em tomo do sentido da educação do graduando. O docente universitário toma-se responsável por estimular o seu alunado para a docência e para as pesquisas tecnológicas, assumindo assim, o desafio de mesclar as duas formas de educar em uma única, sem haver perca de conteúdos e objetivos conteúdo de ambas as parte. 2.3 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS 2.3.1 Surgimento da educação A Historia da Educação é o desenrolar da educação, desde o seu aparecimento, nas civilizações ocidentais e orientais até o seu desenvolvimento hoje, ou seja, é a sucessão cronológica. Estudando o desenvolvimento das ideias educacionais, a evolução das teorias pedagógicas e as personalidades mais influentes na educação, as doutrinas técnicas educativas para interpreta-la e realiza- la do melhor modo. Provavelmente não há prática social na qual estamos mais duradouramente inseridos que a educação, individual ou coletivamente. Quer em uma ou em outra perspectiva, trata-se de uma prática social histórica. Por uma historia (que foi ou não escrita). E produz uma estória (que poderá ou não ser escrita). Deixamos as. Por enquanto. (Lopes 2002, p.8) O caráter evolucionista ou etapista, da Historia da Educação vem a ser uma serie de etapas que se sucedem, num desenrolar temporal único, estudando-se a evolução das instituições escolares, dos métodos pedagógicos e das doutrinas pedagógicas. Trabalha-se com a relação educação-sociedade, destacando a dependência das práticas educativas e do pensamento pedagógico, o conjunto das praticas sociais, econômicas e política. No Período Primitivo não existia educação na forma de escolas no formato tradicional que conhecemos, o objetivo era ajustar a criança a reconhecer o seu ambiente físico e social, através da aquisição das experiências e os chefes de família eram os primeiros professores e em seguida os sacerdotes devido a essa pratica de transmissão de conhecimento familiar. 28 Depois desta fase, entra-se (cerca de 8 ou 10 mil anos atrás) na época do Neolítico, na qual se assiste a uma verdadeira e própria revolução cultural (Aranha 1989, pI5). Nascem, as primeiras civilizações agrícolas em que criam animais, aperfeiçoam e enriquecem as técnicas de cultivo, cria-se uma divisão do trabalho entre homem e mulher e um domínio sobre a mulher por parte do homem. Também sendo uma revolução educativa fixando uma divisão educativa: paralela a essa divisão do trabalho os vários papéis sociais, embora ocorram sempre por imitação e segundo processos de participação ativa no exercício de uma atividade tendem a dar vida a momentos ou locais cada vez mais específicos para a aprendizagem. Depois, a linguagem que regula de maneira cada vez mais especifica os modelos de educação. O Período Oriental é de fundamental importância, pois está ai o surgimento da escrita; Nas civilizações orientais a educação era tradicional dividida em· classes, organizada em escolas fechadas e separadas para a classe dirigente, sendo que o conhecimento da escrita era restrito, grande parte da comunidade foi excluída da escola e restringida à educação familiar informal. As preocupações com educação apareceram nos livros sagrados, que ofereceram regras ideais de conduta e enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e se mantinha a cultura dominante através da educação e também se começa a transição da sociedade primitiva para a civilização no surgimento da cidade e do estado; A História da Educação no Período Grego é de suma importância o estudo do mesmo, pois este é o berço da civilização, tendo como seus principais representantes Sócrates, Aristóteles e Platão (Aranha 1989, p.27); Neste período as crianças viviam sem estudo na primeira parte de sua vida, a infância, que não era valorizadapor toda a cultura antiga, pois se acreditava que era uma idade de passagem, ameaçada por doenças, incertezas nos seus sucessos, colocada à margem da vida social e como tal sofria violência e exploração sob vários aspectos. A partir dos sete anos de idade, o individuo era inserido em instituições públicas e sociais que lhe concediam uma identidade e lhe indicavam uma função. A menina não recebia qualquer educação formal, mas aprendia os ofícios domésticos e os trabalhos manuais com a mãe. A educação grega era centrada na formação integral do indivíduo. Quando não existia a escrita, a educação era ministrada pela 29 própria família, conforme a tradição religiosa como a escola ainda permanecia elitizada, sendo que a formação era mais esportiva que intelectual. No Período Romano não existia democratização, a educação dava ênfase à formação moral e física (formação do guerreiro), sublinhava-se o valor da tradição e delineava-se um código civil, fixavam à dignidade, a coragem, a firmeza como valores máximos. A educação na Roma arcaica teve, sobretudo, caráter prático, familiar e civil, formado antes de tudo em família pelo papel central do pai, mas também da mãe, por sua vez menos submissa e menos marginal na vida da família em comparação com a Grécia. A mulher é que controlava a educação dos filhos, confiando-os a pedagogos e mestres, a educação para estas era voltada a preparar seu papel de esposas e mães, mesmo se depois, gradativamente, a mulher tenha conquistado maior autonomia na sociedade romana. No Período Medieval a História da Educação tem como ponto de início a doutrina da igreja católica sendo desenvolvida em estreita simbiose com a Igreja, com a fé cristã e com as instituições eclesiásticas. Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação, organizavam-se as instituições e programavam-se. Práticas e modelos para o povo, práticas e modelos para as classes altas, ou seja, uma Educação conservadora; A escola, como nós conhecemos, é um produto da Idade Média. A sua estrutura ligada à presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a outro poder vêm daquela época. O Período do Renascimento também ficou conhecido como século das luzes, esse período da história européia foi marcado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. A razão foi eleita como a principal forma através da qual o conhecimento seria alcançado. Deu-se grande privilégio à matemática e às ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas desse período. Os humanistas eram homens letrados profissionais, normalmente provenientes da burguesia ou do clero que, por meio de suas obras, exerceram grande influência sobre toda a sociedade; rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade Média e foram responsáveis por conduzir modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. 30 O Período Moderno, a família e a escola sofreram uma profunda redefinição e reorganização na Modernidade, tomaram cada vez mais centrais na experiência formativa dos indivíduos e na própria reprodução da sociedade. A família elaborava um sistema de cuidados e de controles da criança, que tendia não apenas a conformá-la a um ideal, mas também a valorizá-la como mito. Os pais não se contentavam mais em apenas pôr filhos no mundo, mas também dar- lhes uma preparação para a vida. A tarefa de assegurar tal afirmação é atribuída à escola. Ao lado da família, a escola: uma escola que instruía e que formava que ensinava conhecimentos, mas também comportamentos, que se articulava em tomo da didática, da racionalização, da aprendizagem dos diversos saberes e em tomo da disciplina, da conformação programada e das práticas repressivas. Mas, sobretudo, uma escola que reorganizava suas próprias finalidades e seus meios específicos. 2.3.2 Breve histórico da formação de professores no Brasil A profissão docente perpassou e perpassa por mudanças na sua forma e estrutura; A concepção dominante no século XIX, de mera transmissora do conhecimento é abandonada em seu século XXI pois tornou-se obsoleta em uma sociedade que está vivendo a democracia, que tem como princípios a integração e a participação, e aquela concepção antiga obstruía a educação dos futuros cidadãos na forma plena de direitos. Evoluindo no decorrer do século XX, a instituição educativa não rompeu com a centralidade e a transmissão que são algumas das diretrizes lhe atribuíram em sua origem. Em busca de uma melhor educação, essa supera as barreiras tecnológicas e burocráticas, aproximando-se de um caráter mais relacional, cultural e comunitário, o que abrange todas as pessoas que trabalham dentro e fora da instituição, refletindo um maior dinamismo social e cultural a serviço da comunidade. Os professores são potencialmente os agentes mais importantes de sua própria formação e da formação de seus alunos, e nessa perspectiva a educação deixa-se de ser exclusivamente o aprendizado do básico (o "B-A-BÁ"), assumindo-se como uma manifestação da vida em torno de um cotidiano, integrado a uma rede social em torno de várias movimentações das relações sociais, pois precisa que 31 outras instituições se envolvam no processo educacional. Como a educação dos seres humanos tornou-se mais complexa, o mesmo ocorre à profissão docente. A instituição educativa e a profissão docente desenvolvem-se em um contexto marcado por uma evolução acelerada da sociedade em suas estruturas materiais, formas de organização da convivência, produção e distribuição, e principalmente nos modelos de família, refletindo a mudança inevitável das atuais formas de pensar, sentir e agir das novas gerações. A educação não é mais considerada patrimônio dos docentes mas de toda a comunidade, estabelecendo assim modelos relacionais e participativos. Mudando o modo de ver a Instituição Escolar e as funções do professor, uma maior participação social do docente. Vivemos em uma sociedade globalizada que exige dos profissionais um permanente processo de formação e de aprendizagens. Uma formação que tenha como princípio orientador o direito de aprender, o que pressupõe, portanto, uma formação comprometida com a aprendizagem de qualidade dos alunos. Nessa perspectiva, um aspecto a ser considerado é que o processo de formação dos professores é inclusivo, não se completando com o fim da formação inicial, visto que, a partir deste patamar, é que de fato se inicia a prática profissional do professor, tornando-se indispensável a questão da formação continuada. Assim concebidas, formação inicial e continuada, são consideradas momentos de um mesmo processo, interdependentes e em constante comunicação. 2.3.3 Formação docente no Brasil Na busca de uma compreensão mais ampla sobre a educação de professores, podemos observar que o ponto de partida, situa-se na indagação sobre o que determina o desempenho do professor em sala de aula, pois este é o ambiente fundamental para a realização e concretização do ato pedagógico do educador. A sala de aula atua como ponto de encontro dos mais diversos tipos de temas atinentes à educação. De acordo com Cunha (1989, p.23-24), nela afluem as contradições do contexto social, os conflitos psicológicos, as questões da ciência e 32 as concepções valorativas daqueles que compõem o ato pedagógico: o professor e os alunos. Estudar estas relações, os motivos pelos quais acontecem e as formas através das quais se apresentam são algumas das questões que se apresentam na busca por uma educação mais eficaz. Um ponto de partida na busca do entendimento destas relações pode ser encontrado no fato de os professores não estarem conseguindo atenderas necessidades do ensino. Esse fato acontece porque a escola se caracteriza como uma instituição contextualizada, isto é, sua realidade, seus valores, sua configuração variam segundo as condições histórico-sociais que a envolvem. A incapacidade dos profissionais de lidar com situações práticas que se situam na separação entre pensamento e ação, teoria e prática, mundo acadêmico e dia-a-dia. (MALDANER 2006, p.50). No exercido de educar habita um ato bastante influenciador na forma com que a educação ocorre. Este fator é representado pela visão simplista e inadequada da atividade exercida pelo professor, onde muitos afirmam de maneira errônea que a função do professor é apenas ensinar e repetir este ato, de forma mecânica, durante sua vida profissional. Principalmente devido a cursos de licenciatura pouco eficientes para a formação de professores, é comum encontrarmos em inúmeros colegas uma visão muito simplista da atividade docente. Isto porque concebem que para ensinar basta saber um pouco do conteúdo específico e utilizar algumas técnicas pedagógicas, já que a função do ensino é transmitir conhecimentos que deverão ser retidos pelos alunos. Esse ensino, usualmente denominado ‘tradicional’ “é caracterizado pelo verbalismo do mestre e pela memorização do aluno (...) Os alunos são instruídos e ensinados pelo professor. Evidencia-se preocupação com a forma acaba- da: as tarefas de aprendizagem quase sempre são padronizadas, o que implica poder recolher-se à rotina para se conseguir a fixação de conhecimentos/conteúdos/informações.” (Mizukami, 1986, p. 14) Muito embora encontremos atual- mente formas diferenciadas de ensino tradicional, configuradas em função do estilo cognitivo do professor, não parece haver dúvidas de que a prática pedagógica de cada professor manifesta suas concepções de ensino, de aprendizagem e de conhecimento, como também suas crenças, seus sentimentos, 33 seus compromissos políticos e sociais. Uma prática de ensino encaminhada quase exclusivamente para a retenção, por parte do aluno, de enormes quantidades de informações passivas, com o propósito de que essas sejam memorizadas, evocadas e devolvidas nos mesmos termos em que foram apresentadas – na hora dos exames, através de provas, testes, exercícios mecânicos repetitivos – expressa muito bem uma concepção de ensino aprendizagem correspondente ao modelo de transmissão-recepção (tradicional). Há, numa prática assim proposta, poucos indícios de que o ensino possa visar a compreensão do aluno e, certamente, ao usar o termo ‘compreensão’, o professor superpõe essa idéia à de ‘memorização’ e à de ‘proposição verdadeira’, posto que ambas parecem de fato compatíveis com o verbalismo (as formas verbatim), a forma acabada, as tarefas padronizadas, a rotina, as formas mecânicas para fixação de conhecimentos/conteúdos/informações e até de procedimentos. O termo ‘compreensão’, no entanto, utilizado para expressar objetivos educacionais, jamais pode ser usado como referência ao produto de aprendizagem, mas sim a uma qualidade que se manifesta em qualquer processo de aprendizagem que possa ser válido em termos educativos. O que constitui compreensão não se pode padronizar, nem se pode definir cabalmente de forma operacional em termos tais que possam ser mensurados (Aragão, 1993). Grande parte deste problema educacional provém da forma inadequada da aplicação das disciplinas pedagógicas. Psicólogos, lingüistas e sociólogos, que atuam diretamente na formação de professores, não procuram conhecer, a partir do interior, a futura profissão dos seus alunos. Resultado disso é a formação de professores de forma técnica e ao mesmo tempo inadequada, já que o ato de lecionar não é uma atividade predeterminada e pronta. [...] É provável que muito dos nossos cursos de formação de professores limitem-se a esta perspectiva. Entretanto, sabe-se que o professor não ensina no vazio, em situações hipoteticamente semelhantes. O ensino é sempre situado com alunos reais em situações definidas. E nesta definição interferem os fatores internos da escola, assim como as questões sociais mais amplas que identificam uma cultura e um momento histórico-político. (ISABEL CUNHA 1989, P 24) Uma conseqüência deste ato é revelada pela forma de aula expositiva e acabada, característica da atual forma de lecionar, baseado no despreparo que os professores têm de oportunizar discussões com os alunos devido ao temor de não 34 estarem prontos para as perguntas feitas por estes. Isso impede os alunos de manifestarem suas percepções, suas duvidas e concepções sobre a matéria em estudo na escola. Através desta atitude, pode-se perceber que os cursos de formação de professores não estão conseguindo responder às necessidades de nenhum nível de ensino. Esta evidencia se apresenta de forma mais marcante a quem se propõe a observar as críticas feitas pelos alunos de graduação, ao se iniciarem as disciplinas de formação pedagógica ou encontros que refletem a formação pedagógica sobre a sua formação para atuar na docência. Segundo MALDANER (2006), os estudantes criticam, com razão, desde a falta de didática apresentada pela maioria dos professores da graduação, passando pela dicotomia das aulas práticas e teóricas, até a falta de transparência dos conteúdos de Química para os ensinos secundário e elementar, podendo-se afirmar que há um despreparo pedagógico dos professores universitários, afetando a formação em Química de maneira geral, não só aos licenciados. Tal afirmação é comprovada ao se observar o ambiente acadêmico, onde se pode perceber que os professores universitários se comprometem pouquíssimo com os alunos, em relação à questão pedagógica e principalmente com a sua própria formação pedagógica, deixando esta responsabilidade para outros docentes, externos ao curso. Os profissionais alheios ao curso de Química, mesmo tentando passar a formação pedagógica necessária, à busca de uma nova prática docente, às vezes são falhos. Esta falha é ocasionada pelo fato desses profissionais da área pedagógica não pertencerem ao contexto de ensino de Química, além de muitas vezes estarem afastados da própria realidade escolar. A forma com que os currículos dos cursos de licenciatura se apresentam, impossibilita que se pense em cursos de formação de professores como um todo. Isso acontece porque a prática atual de formação acadêmica docente está baseada na separação da formação profissional específica da formação em conteúdos. MALDANER (2006, p.44-45) afirma que: Espera-se, em uma das instâncias da universidade, que a formação pedagógica dê conta da formação prática do professor, como se fosse possível separar toda uma carga de trabalho pedagógico a que o estudante é submetido, de forma tácita ou não intencional, 35 em disciplinas de formação geral e de conteúdos específicos dentro dos cursos de licenciaturas, geralmente acoplados aos cursos de bacharelados, ao menos nas grandes universidades. As universidades têm tido dificuldades de superar esse fosso que separa a formação pedagógica da formação específica no campo de conhecimento em que vai atuar. Para que essa mudança ocorra, é necessário aplicar uma nova metodologia e, ao mesmo tempo, realizar uma pesquisa constante que faça mais do que lhes proporcionar um amontoado de conhecimentos formais e formas culturais preestabelecidas, estáticas e fixas, impedindo-lhes que assumam uma postura investigativa que considere tanto a perspectiva teórica como prática, a observação, o debate, a reflexão, o contraste de pontos de vista, a análise da realidade social, a aprendizagem alternativa por estudo de casos, simulações e dramatizações. Para Perrenoud (2002, p.I8) et al, necessita-se urgentemente de que se criem as bases para uma transposição didática a partir de práticas efetivas de um grande número de professores, respeitandoa diversidade de condições de exercício da profissão. Sem nos limitarmos a isso, encontraremos então a justa distância entre o que é feito cotidianamente e os conteúdos e objetivos da formação inicial. 2.3.4 Perspectiva para formação de Professores A sociedade atual é constituída por uma população bastante dependente da Química, mesmo sem saber da sua atuação no dia-a-dia. Um exemplo é o caso da utilização de determinadas plantas que possuem propriedades terapêuticas e são utilizadas na forma de fármacos, através de processos químicos. Dessa forma pode- se perceber a participação da Química no desenvolvimento cientifico e tecnológico por meio das suas importantes contribuições especificas. Apesar desta grande importância econômica, social e política, o Brasil, ainda aborda o ensino de Química com descaso, com uma educação disfarçada, aparentando ser moderna, mas que ao se analisar de perto revela falhas na falta de dinâmica, permanecendo apenas em uma educação de transmissão de informações desligadas do contexto e da realidade vivida por alunos e professores. A falha nesta dinâmica de ensino ocorre pela forma com que o conhecimento é passado de professor para aluno. De modo geral, a aluno apenas interage com o conhecimento acadêmico que é apresentado em sala de aula, que 36 na maioria das vezes dá-se apenas pela recepção passiva de informações transmitidas pelo professor. A debilidade apresentada na forma de transmissão de conhecimento pelo professor se deve a, segundo Schon (1983, 1992) por esses currículos que procuram proporcionar um conhecimento básico sólido no inicio do curso, com subseqüentes disciplinas de ciências aplicadas desse conhecimento para, finalmente, chegarem à prática profissional, com os diferentes tipos de estágio. Dessa forma, o conhecimento aplicado pelos professores em sala de aula não chega a contemplar um novo tipo de abordagem, cotidianos e inovadores, objetivando a modificação dos alunos em futuros cientistas, cidadãos mais conscientes, alem de procurar desenvolver conhecimentos aplicáveis ao sistema produtivo, industrial e agrícola. Esta situação acontece, porque muitos professores vêem o ensino da Química restrito à transmissão de informações, definições e leis isoladas sem qualquer relação com a vida do aluno, exigindo deste quase sempre a simples memorização, restrito a baixos níveis cognitivos. Reduz-se o conhecimento químico à formulas matemáticas e a aplicações de regrinhas, que devem ser exaustivamente treinadas, supondo a mecanização e não o entendimento de uma situação problema. (Secretaria de Educação Média e Tecnologia 2002, p.241) De forma geral, uma das maiores conseqüências da formação' atual e mascarada que os professores utilizam para ensinar provem da sua deficiente formação acadêmica, já que' a maioria dos professores universitários que também ao mesmo tempo são pesquisadores, de institutos chamados das ciências básicas, acreditam que uma boa formação acadêmica para os futuros professores do ensino médio se caracteriza principalmente pela sólida formação cientifica básica. Segundo MALDANER (2006, p.44), os professores da formação pedagógica percebem a falta de uma visão mais clara e mais consciente dos conteúdos específicos, por parte dos licenciados, de tal maneira que lhes permita uma reestruturação pedagógica, tornando-os disponíveis e adequados à aprendizagem de crianças e de adolescentes. A atitude de descaso com as disciplinas pedagógicas por parte dos graduandos dos cursos de licenciatura resulta da maneira que elas são encaixadas 37 nos programas de disciplinas de curso de licenciatura das muitas instituições de ensino superior do Brasil. Disciplinas como Psicologia, Sociologia, Didática, entre outras, existentes nas grades curriculares dos cursos acabam por não encaixar de forma harmônica com as disciplinas que formam a base do curso, no caso da Química, disciplinas como inorgânica, bioquímica, orgânica, físico-química, etc. A conscientização de que a educação acadêmica está se desenvolvendo de maneira incorreta chega a provocar um estimulo em uma minoria de professores, que desenvolvem esforços, mesmo de forma isolada, na tentativa de encontrar um melhor ensino da Química. Esta tentativa baseia-se na implantação de novas disciplinas, híbridas na forma, que convergem entre disciplinas pedagógicas e especificas de base das ciências. Disciplinas como estas procuram unir em um mesmo entendimento ciências e pedagogias. História da Química, Epistemologia da Ciência, História da Ciência, Instrumentação para o ensino de Química são exemplos de disciplinas hibridas citadas acima. Esta se apresenta como a forma mais eficiente encontradas pelas instituições de ensino na tentativa de modificar a atua formação docente, que se apresenta ultrapassada e inadequada, oportunizando assim à sociedade o surgimento de um novo profissional da educação. É aquele capaz de refletir a respeito de sua prática de forma crítica, de ver a sua realidade de sala de aula para além do conhecimento na ação e de responder, reflexivamente, aos problemas do dia-a- dia na sala de aula. (MALDANER 2006 p. 30) Essa nova formação oportunizará ao professor a mudança da metodologia aplicada atualmente, deixando de lado a metodologia tradicional de transmissão e reprodução de conteúdos prontos e acabados por metodologias que levem o aluno a aprender Química, formulando conceitos através da observação de fatos cotidianos. Com estes novos tipos de metodologias, os alunos poderão interpretar informações do dia-a-dia com os conceitos ensinados anteriormente, além de poder construir outros novos, levando-o ao desenvolvimento de habilidades e competência para a leitura de um mundo químico que é real e de fácil compreensão, Dessa forma, ecoa a mudança da formação acadêmica e da atuação do profissional em sala de aula, o aluno passara a ter a oportunidade de compreender 38 as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de foram abrangente e integrada, podendo assim julgar com fundamento as informações advindas da tradição cultural da militar e da própria escola, tomando decisões autonomamente, enquanto indivíduo e cidadão. ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM 1. De acordo com o tema apresentado explique como podemos definir a formação docente nos dias atuais. Explique o que representa o tema formação. 2. Defina cidadania e o que ela representa na formação. 3. Explique porque é indispensável conceber a educação com plena consciência da necessidade de se desenvolver a criatividade, estando comprometido com as transformações técnicas, científicas, econômicas e sociais. 4. Quais desafios os cursos de licenciatura no campo das exatas têm para uma formação de qualidade? 5. De acordo com o texto, abordando o surgimento da educação, explique o que representa o termo caráter evolucionista ou etapista. 6. Faça um breve histórico sobre as etapas apresentadas nesta unidade para justificar o surgimento da educação. 7. Discorra sobre a formação do professor no Brasil e suas perspectivas. 8. Como você apresentaria a forma mais eficiente encontrada pelas instituições e ensino para modificar a formação docente vigente? 9. Justifique a incapacidade que os profissionais da educação apresentam ao lidar com situações práticas que se situam na separação entre pensamento e ação, teoria e prática, mundo acadêmico e dia-a-dia. 10. Nos cursos de licenciatura pouco eficientes para a formação de professores observamos uma visão simplista da atividade docente, pois concebem que para ensina basta saber um pouco do conteúdo específico e utilizar algumas técnicas pedagógicas, já que a função do ensino é transmitir conhecimentos que deverão ser retidos pelos alunos. Esse ensino, é usualmente denominado “tradicional”. De acordo com seus conhecimentos e com base no acima
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