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2 No dia a dia do profissional de segurança pública existem atitudes intrínsecas à prática da educação para o trânsito: orientar a população sobre atitudes seguras, prestar informações acerca de legislações, ajudar a travessia nas faixas de pedestres, entre outras. Ainda assim, seu papel como agente transformador e multiplicador de atitudes seguras no trânsito pode ser aprofundado. Você, agente de segurança pública, consciente de sua missão de garantir segurança com cidadania, necessita agir preventivamente no exercício de suas atribuições legais, combatendo comportamentos imprudentes que geram risco de acidentes. Nesse sentido, o conhecimento do tema “educação para o trânsito” torna-se importante para todos os profissionais de segurança pública. Haja vista que a redução da violência no trânsito é uma responsabilidade de todos e, em especial, sua. Dessa forma, o curso tem o objetivo de fomentar a prática da educação para o trânsito em sua atuação como agente de segurança pública. Proporcionando, nesse ínterim, uma reflexão de seu papel e responsabilidade no trânsito, de forma a te permitir atuar como agente transformador para construção de um trânsito mais seguro. Para isso, a educação para o trânsito relaciona o contexto da vivência funcional com a social, tratando das causas da violência. Ao mesmo tempo, busca no indivíduo a conscientização para agir com atitudes corretas, evitando, assim, o seu envolvimento em acidentes de trânsito. Que o conteúdo do curso entrelace o propósito da educação para o trânsito com a sua atuação, seja você policial, bombeiro, guarda municipal, agente penitenciário ou agente de trânsito, trazendo conhecimento como cidadão para, e, em defesa da vida. Aproprie-se do Curso de Educação para o Trânsito para Profissionais de Segurança Pública, agregando sua experiência profissional com as novas perspectivas da educação para o trânsito. Bom estudo! Objetivo do curso Ao final do estudo deste curso, você será capaz de: • Compreender o trânsito como espaço para o exercício da cidadania; • Identificar as causas que provocam os acidentes de trânsito; • Reconhecer sua responsabilidade para com a segurança do trânsito; • Evitar acidentes de trânsito em serviço; • Promover a aproximação do profissional de segurança pública com a sociedade; 3 • Estimular a prática de solidariedade, companheirismo, respeito, tolerância, prudência e ética; • Perceber-se como agente de transformação, estimulando as reflexões sobre a paz e a segurança no trânsito; • Contribuir no meio profissional e social, com práticas de boa convivência no trânsito, sendo multiplicador da educação para o trânsito. Estrutura do curso Este curso compreende os seguintes módulos: • Módulo 1 – A realidade brasileira e a violência no trânsito • Módulo 2 – A educação para o trânsito e suas concepções • Módulo 3 – O profissional de segurança pública e o trânsito • Módulo 4 – O profissional de segurança pública como agente de transformação 4 Apresentação do módulo Para se falar em educação para o trânsito, primeiramente, o profissional deve entender a realidade na qual ele se encontra, facilitando assim a conscientização do tema. Por isso, neste módulo você estudará alguns aspectos da realidade brasileira e algumas situações cotidianas relacionadas ao trânsito, com as quais você se depara na vida particular e na atuação profissional. Objetivo do módulo Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de: • Refletir sobre os aspectos da realidade brasileira voltada para o trânsito; • Identificar os fatores que potencializam a violência no trânsito; • Enumerar os comportamentos que geram a possibilidade do profissional de segurança pública se tornar vítima no trânsito; • Conscientizar-se sobre o comportamento seguro na atuação como profissional de segurança pública. Estrutura do Módulo Esse módulo compreende as seguintes aulas: • Aula 1 - A violência no trânsito • Aula 2 - O profissional de segurança pública como vítima • Aula 3 - Direção defensiva Aula 1 – A violência no trânsito Imagine um quadro com carros, pessoas, bicicletas, motocicletas, ruas, fumaça, MÓDULO 1 A REALIDADE BRASILEIRA E A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO 5 sons variados de buzinas, freios e você caminhando no meio, percebendo tudo a sua volta. Amplie o quadro, inserindo uma movimentação intensa. Imaginou? Você está no trânsito! 1.1 Dados Mundiais Um dos maiores desafios da sociedade contemporânea é organizar seu trânsito, conciliando interesses de deslocamento com a segura utilização dos veículos. Contudo, utilizar os veículos com completa segurança, hoje, é um desejo que ainda tem um longo caminho para ser realizado. Segundo Souza e Minayo (2014), em 1896, foi relatado o primeiro acidente de veículo a motor. Desde então, grandes mudanças sociais aconteceram, na forma de vida e na mobilidade das pessoas. Isso resultou no crescimento do número de veículos. Ao mesmo tempo, como parte das transformações do mundo contemporâneo, mudaram-se os conceitos antigos de espaço e tempo. Acompanhando essas transformações, os acidentes de trânsito passaram a constituir uma das principais causas de morte e traumatismo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2010, cerca de 1,24 milhões de pessoas morreram em consequência de acidentes de trânsito (ATs) em 178 países. Aproximadamente 62% dessas mortes ocorrem em 10 países (em ordem decrescente): Índia, China, EUA, Rússia, Brasil, Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito. Países que, juntos, englobam 56% da população mundial. Dados do Relatório Global de Segurança no Trânsito 2013 (acesse: http://www.detran.rs.gov.br/decadars/?p=1655). Além das mortes, entre 20 a 50 milhões de pessoas sofreram de traumatismo não fatais, em consequência de acidentes de trânsito (ATs), sendo uma relevante causa de incapacidade. Segundo Pechansky et al. (2014), os acidentes de trânsito no mundo são a segunda causa mais comum de morte de pessoas entre cinco e vinte nove anos de idade, sendo que 90% ocorrem em países de baixa renda. Além dos custos sociais e pessoais, as lesões decorrentes dos acidentes elevam os gastos com serviços de saúde, interferindo na economia dos países. 1.2 Realidade Brasileira Segundo o Ministério da Saúde (2005), a violência no trânsito é um dos mais importantes problemas de saúde pública mundial, sendo que, o Brasil é um dos países com maiores índices de acidentes de trânsito. Veja, na sequência. alguns dados sobre esta dura realidade. 6 1.2.1 Dados sobre a realidade Confirmando as informações do Ministério da Saúde, o IPEA (2015) também aponta que a violência no trânsito é um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil. No nosso país, os acidentes de transporte terrestre matam aproximadamente 43 mil pessoas por ano, segundo os dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), do Ministério da Saúde (MS), representando uma das principais causas de morte no país. Segundo Paulino (2010), no período de 2003 a 2012, ocorreram mais de 536.000 mortes por violência no trânsito. Esses dados colocam o Brasil na posição entre os países com maior morbimortalidade no trânsito; Souza e Souza (2014), demonstram também que os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) mostram que, nos últimos cinco anos que foram coletados dados, a taxa brasileira de mortes no trânsito era em torno de 20/100.000 habitantes, bem superior às taxas das Américas (15,8), Europa (13,4) e de outros países do Mercosul, como Argentina (13,7) e Uruguai (4,3); Os números dos acidentes de trânsitos se traduzem em custos enormes. Conforme relatório realizado pelo IPEA (2015), apenas em 2014, ocorreram 170 mil acidentes em rodoviasdo país, com 8 mil mortes e mais de 100 mil feridos. “64,7% dos custos desses acidentes estavam associados diretamente às vítimas, relacionados aos cuidados de saúde e perda de produção laboral”; Souza e Minayo (2014) revelam em sua obra que cerca de dois terços dos leitos hospitalares dos setores de ortopedia e traumatologia são ocupados por vítimas do trânsito. 1.2.2 Causas dos acidentes De acordo com o IPEA (2015), as causas diretas mais comuns provenientes dos condutores são: • Falta de atenção; • Velocidade incompatível; • Ultrapassagem indevida; • Ingestão de álcool; e • Desobediência à sinalização. Souza e Minayo (2014) revelam que, no Brasil, já são demasiadamente conhecidas as causas consideradas mais comuns de acidentes fatais, atribuídas aos condutores. Além de reforçarem as causas citadas anteriormente, apontam ainda: 7 • Impunidade quanto às infrações; • Fiscalização deficiente ou corrupta e sem caráter educativo da legislação; • Uso do veículo como demonstração do poder e virilidade. Observe que a maioria das causas de acidentes fatais nas vias ocorre por culpa do próprio condutor. Todavia, esses fatores não podem ser isolados da falta de investimentos públicos, econômicos e sociais na qualidade dos veículos, vias públicas e das estradas, elementos que deveriam ser pensados para preservar e garantir a segurança dos cidadãos. 1.2.3 Ações para segurança viária Na realidade brasileira, o trânsito tem se tornado um problema social*. O grande fluxo diário de veículos e pessoas intensifica a necessidade de organização estatal, no que tange as vias de circulação, a busca do respeito, a livre movimentação e a garantia do direito de ir e vir com mais fluidez. Essa questão é bem ilustrada por Corrêa (2013) que indica que, sempre que falarmos de trânsito, o governo estará presente e é dele a obrigação de prover segurança. *problema social: alguns autores classificam como um problema de saúde. O Brasil, país que ocupa o 5º lugar nesse ranking violento (SENADOFEDERAL, 2016), preocupado com os números negativos, integrou, junto com mais 182 países, a Década de Ação para Segurança Viária 2011-2020, proclamada pela ONU, em 02/03/2010, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por meio da Resolução nº A/64/255* que se direciona à “Melhoria da Segurança Viária no Mundo”. *A Resolução nº A/64/255 tem o objetivo de “estabilizar e, posteriormente, reduzir os índices de vítimas fatais no trânsito em todo o mundo, aumentando as atividades nos planos nacional, regional e mundial”. Como bem pontua Honorato (2011), a abordagem das Nações Unidas dada a segurança viária é importante para a percepção dos países em relação a esta problemática. Sem dúvida, o despertar das Nações Unidas para a grave crise mundial de segurança viária e a convocação da OMS para coordenar as atividades da ONU sobre segurança viária (a partir de 2003) representaram mudanças significativas na forma de tratar o fenômeno trânsito em nível internacional: afastando-o do aspecto predominantemente econômico e individualista da liberdade de circulação, para evidenciar o aspecto coletivo e a necessidade de proporcionar segurança viária em favor de um bem maior, denominado vida. Definido o rumo a ser seguida no século XXI, o próximo passo consiste na especificação do Trânsito Seguro (Road Safety) como Direito Humano a ser consagrado em tratados e convenções internacionais, impondo-se aos Estados, como compromisso assumido perante a comunidade 8 internacional, o dever de promover ações visando a melhoria da segurança viária e a redução dos índices de mortes no trânsito (HONORATO, 2011, p. 3). De acordo com Resolução nº A/64/255, as ações para a “Melhoria da Segurança Viária no Mundo” devem ser articuladas em torno de cinco pilares: • Gestão da Segurança no Trânsito; • Infraestrutura mais segura e mobilidade; • Veículos mais seguros; • Usuários mais seguros; e • Atendimento a vítimas. Baseado nesses pilares, definidos pela ONU, o Brasil apresentou o Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária – Proposta preliminar*, para a Década de 2011-2020, com o objetivo de reduzir o número de acidentes e em prol da segurança viária. *O Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária ainda não foi implantado. As ações do referido plano estão fundamentadas em cinco pilares: I – Fiscalização; II – Educação; III- Saúde; IV- Infraestrutura; e V - Segurança Veicular. Veja, abaixo, a descrição de cada um dos pilares do Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária – Proposta preliminar: I – Fiscalização Criar selo de qualidade na fiscalização de trânsito; Priorizar campanhas fiscalizatórias no âmbito nacional; Elaborar um diagnóstico da fiscalização exercida pelos agentes; Padronizar procedimentos fiscalizatórios no âmbito nacional; Fortalecer a capacidade de gestão do Sistema Trânsito; Incentivar a celebração de convênios entre os entes federados para a gestão do trânsito de trechos urbanos em rodovias; • Priorizar a fiscalização das condutas infracionais com maior potencial de vitimização. 9 II – Educação Implementar a educação para o trânsito como prática pedagógica cotidiana nas pré-escolas e nas escolas de ensino fundamental; Promover o debate do tema trânsito nas escolas de ensino médio; Promover cursos de extensão e de pós-graduação, na área de trânsito (presenciais, semipresenciais e a distância); Desenvolver uma estratégia de integração com os meios de comunicação com a finalidade de criar uma mídia de trânsito cidadã; Capacitar, formar e requalificar (nas modalidades presencial, semipresencial e a distância) profissionais do Sistema Nacional de Trânsito, professores e profissionais da educação básica e superior, instrutores, examinadores, diretores gerais e de ensino dos Centros de Formação de Condutores, em diferentes áreas do trânsito. III – Saúde Promover os preceitos de promoção da saúde voltada à mobilidade urbana junto aos setores responsáveis pelo espaço/ambiente de circulação; Promover e garantir o cuidado e a atenção integral às vítimas; Fortalecer a intersetorialidade entre os órgãos de saúde e trânsito. IV – Infraestrutura Incentivar a celebração de convênios entre os entes federados para gestão do trânsito em trechos urbanos de rodovias; Criar programas de manutenção permanente, adequação e tratamento de segmentos críticos de vias; Garantir a utilização somente da sinalização viária regulamentada em todo território nacional. V – Segurança Veicular Implementar a Inspeção Técnica Veicular ; Definir as diretrizes gerais para desenvolvimento de um projeto de “veículo seguro”. Saiba Mais... Acesse e leia o Plano Nacional de Redução de Acidentes Segurança Viária – Proposta preliminar na íntegra, disponível no curso digital (dentro da Plataforma). 10 Outras medidas importantes tomadas pelo país, anteriores até mesmo ao Plano Nacional de Redução de Acidentes, também merecem destaque, como: • O endurecimento da Lei Seca (Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008 para inibir o consumo de bebida alcoólica por condutor de veículo automotor, e dá outras providências); e • O uso obrigatório do cinto de segurança e das cadeirinhas infantis que fizeram melhorar em 6% o índice do número de vítimas no trânsito nas estradas e rodovias entre 2012 e 2013, segundo o Ministro da Saúde. Contudo, apesar da proposta de um Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária e de ações que apresentam resultados positivos, os números ainda são alarmantes e indicam a necessidade de ampliar os esforços em prol da segurança no trânsito. Como você estudou, as causas recorrentes que potencializam os acidentesde trânsito já foram identificadas, porém, ainda há ocorrências em nossa realidade. A mudança dessa realidade deve ser incentivada pelos próprios sujeitos do trânsito. Cabe à eles assumir um comportamento preventivo, por meio da conscientização das suas próprias limitações e do respeito em relação aos outros. Contudo, essa conscientização somente se concretizará quando as autoridades reforçarem seus instrumentos de conscientização individual e coletiva por meios educativos e coercitivos que induzam à obediência, às leis e à sociabilidade. Saiba Mais... Segurança no trânsito melhora no mundo, mas piora no Brasil, diz OMS. País teve 47 mil das 1,25 milhão de mortes por acidentes registradas em 2013. Principal falha brasileira é nos limites de velocidade, aponta novo relatório. Acesse e leia a reportagem, disponível no curso digital (dentro da Plataforma). Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/10/seguranca-no-transito-melhora-no-mundo-mas- piora-no-brasil-diz-oms.html 1.2.4 Desafios ao fenômeno trânsito no Brasil Honorato (2011) revela que são três os desafios ao fenômeno trânsito no Brasil do século XXI (Década de Ações para a Segurança Viária): [..] reconhecer (internalizando no fundo da alma e do coração do povo brasileiro) a seriedade e a natureza (social e coletiva) da utilização das vias terrestres; revelar ao 11 Estado sua função de Enforcement e, como tal, seu dever de promover ações visando assegurar todos os direitos inerentes aos seres humanos e garantir a realização do trânsito em condições seguras (HONORATO, 2011, p. 4). O elemento Enforcement é retratado, por Honorato (2011), como Esforço Legal e, assim, considerado um conjunto de esforços direcionados à realização do trânsito em condições seguras que deve fazer reconhecê-lo (no âmbito pessoal) como um Direito Fundamental de Segunda Dimensão e, a partir daí, conscientizar o Estado de seu dever de proteger os direitos humanos para, então, promover ações visando a efetiva realização do Trânsito Seguro. Aula 2 – O profissional de segurança pública como vítima 2.1 Risco: fator inerente à profissão de segurança pública O ambiente profissional dos envolvidos na segurança pública intensifica as possibilidades de ocorrência de acidentes de trânsito, haja vista que lidar com situações de risco e com alto nível de estresse fazem parte dessa realidade. Envolver-se com o perigo é inerente àqueles que se prestam a trabalhar com segurança pública. Sendo assim, agir preventivamente, com proatividade e atenção, são essenciais para evitar acidentes. Seguir a máxima do “Ser exemplo” é fundamental no desempenho das funções profissionais. Para Refletir... Você conhece algum colega que sofreu algum acidente no trânsito? E você, já sofreu algum acidente de trânsito? 2.2 Acidentes envolvendo profissionais de segurança pública As notícias a seguir relatam acidentes envolvendo profissionais de segurança pública. A intenção de trazê-las até você não é para assustá-lo ou chocá-lo. O seu trabalho envolve lidar com situações arriscadas e que colocam até sua segurança em jogo, contudo, é necessário lidar com esses momentos de perigo sempre da forma mais segura possível. Espera-se que tais exemplos possam ajudá-lo(a) a refletir sobre a necessidade de segurança. Notícia 1 Viatura do Cotam se envolve em colisão Esta primeira notícia mostra uma colisão ocorrida por uma viatura ao realizar um acompanhamento tático. É conhecido que o acompanhamento tático é uma ferramenta importante no enfrentamento ao crime. Todavia, deve-se repensar a respeito de acompanhamentos imprudentes, que reúnem pequenas 12 infrações, e acidentes nos quais os profissionais, suspeitos ou espectadores inocentes, são feridos ou mortos. Os profissionais que lidam com essa realidade devem treinar bem a direção em alta velocidade em curvas e outros aspectos das perseguições (não seria razoável dizer que os profissionais que lidam com essa realidade devem estar preparados e conscientes de suas atitudes), mas, antes de qualquer coisa, eles precisam aprender como operar com segurança todos os equipamentos existentes em um veículo oficial. Ativar as luzes e sirenes, mexer no rádio e usar o terminal de dados são algumas das possíveis distrações ao dirigir. É fundamental manter total concentração nas vias e no trânsito. Fonte: http://cnews.com.br/cnews/noticias/93960/viatura_do_cotam_se_envolve_em_colisao Notícia 2 Bombeiros são atropelados enquanto socorriam vítima de acidente no DF Esta segunda notícia foi a de um atropelamento de bombeiros ao prestarem socorro à uma vítima de acidente de trânsito. Os riscos aos quais um bombeiro se sujeita em sua profissão são altos, mas, ao prestar socorro, o profissional sempre deve se assegurar de todos os meios possíveis em prol de sua própria segurança. O caso noticiado mostra que os cuidados foram tomados, mas o carro aquaplanou e perdeu o controle, atingindo os bombeiros. Fonte: http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/04/bombeiros-sao-atropelados-enquanto- socorriam-vitima-de-acidente-no-df.html Notícia 3 Acidente mata agente penitenciário durante o transporte de preso Esta última notícia retrata um acidente envolvendo agentes penitenciários no transporte de presos. O fato retoma que chovia e que a pista estava escorregadia. Ao dirigir na chuva, é necessário reduzir a velocidade e redobrar a atenção. Além disso, é preciso ter cuidado nas curvas, manter distância segura do veículo da frente e todos os demais cuidados ao dirigir em qualquer condição. Como você pôde observar, os profissionais de segurança pública estão expostos a acidentes de trânsito, muitos deles alheios ao seu controle. Por isso, é importante o conhecimento a respeito da direção defensiva, o qual você estudará a seguir. Fonte: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/acidente-mata-agente-penitenciario-durante-transporte- de-presos-no-rio-17092014 13 Aula 3 – Direção Defensiva 3.1 Definição A direção defensiva, ou direção segura, é a forma mais adequada de dirigir e de se comportar no trânsito, pois preserva a vida, a saúde e o meio ambiente (DENATRAN, 2005). É a forma de dirigir que permite reconhecer, antecipadamente, as situações de perigo e prever o que pode acontecer com você, com seus acompanhantes, com o seu veículo e com os outros usuários da via. Importante! O Código de Trânsito Brasileiro exige, hoje, cursos teórico-técnicos e de prática de direção veicular, incluindo em seus conteúdos a direção defensiva, proteção ao meio ambiente e primeiro socorros. Também exige a sua realização para condutores já habilitados, que não tenham curso de direção defensiva e primeiros socorros, no momento da renovação da Carteira Nacional de Habilitação (Art. 150). Nota Na REDE EAD-SENASP você encontra o curso Condutores de Veículos de Emergência. Caso ainda não tenha cursado, inscreva-se para o próximo curso. 3.2 Noções de Direção Defensiva Conforme você estudou, a realidade do trânsito brasileiro é bastante violenta e os números demonstram que a grande maioria dos acidentes não acontece por acaso, por obra do destino ou por azar. O fator humano está presente em boa parte deles. Isso significa que cabe aos condutores e aos pedestres uma boa dose de responsabilidade. Toda ocorrência trágica, quando previsível, é evitável (DENATRAN, 2005). Diante dos fatos, compreender a responsabilidade no trânsito é importante para o seu cotidiano profissional e pessoal. Sendo assim, veja a seguir algumas importantes noções a respeito da direção defensiva, de acordo com o Denatran (2005): 1. É vital realizar a manutenção periódica e preventiva do veículo: verificar pneus; nível de combustível; nível de óleo de freio, motor e direção hidráulica; água do sistema limpador depara-brisa; as palhetas do limpador de para-brisa; funcionamento e regulagem dos faróis e lanternas, dentre outras. O hábito da manutenção preventiva e periódica gera economia e evita acidentes de trânsito. 14 2. A direção, muitas vezes, é uma atividade desgastante. Evite o desgaste físico relacionado à maneira de sentar e dirigir, pois a posição correta ao dirigir evita desgaste físico e contribui para evitar situações de perigo. Veja as orientações que estão disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma). 3. Ao conduzir, evite distrações. O problema da concentração está relacionado a telefones, rádios e outros mecanismos que diminuem sua atenção ao dirigir. 4. Ao fazer uso de motocicletas, tenha em mente que elas são como os demais veículos: devem respeitar os limites de velocidade, manter distância segura, ultrapassar apenas pela esquerda e não circular entre veículos. Nunca esqueça o capacete! 5. Em situações nas quais o piso esteja molhado, há redução da aderência dos pneus. Velocidade reduzida e pneus em bom estado evitam acidentes. 6. Mantenha sempre uma distância segura dos veículos que estão a sua frente. Existe uma regra simples: regra dos dois segundos - que pode ajudar você a manter a distância segura do veículo da frente. Veja, a seguir: Escolha um ponto fixo à margem da via; Quando o veículo que vai à sua frente passar pelo ponto fixo, comece a contar; Conte dois segundos pausadamente. Uma maneira fácil é contar seis palavras em sequência “cinquenta e um, cinquenta e dois”; A distância entre o seu veículo e o que vai à frente vai ser segura se o seu veículo passar pelo ponto fixo após a contagem de dois segundos; Caso contrário, reduza a velocidade e faça nova contagem. Repita até estabelecer a distância segura. De olho na tela... O vídeo “Dicas de Pilotagem” mostra na prática como a regra dos dois segundos funciona. Que tal assistir? (disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=u615sAg3EPE). Saiba mais... Aprofunde seus conhecimentos a respeito da direção defensiva com os materiais complementares produzido pelo DENATRAN, disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma): • “DIREÇÃO DEFENSIVA: TRÂNSITO SEGURO É UM DIREITO DE TODOS”. • Acidentes de Trânsito nas Rodovias Federais Brasileiras: caracterização, tendências e custo para a sociedade. 15 3.2.1 Os mandamentos do motorista defensivo Veja, a seguir, algumas dicas importantes para um comportamento seguro no trânsito. De acordo com o Portal Educação (2016), pode-se listar dez mandamentos do motorista defensivo. São eles: 1. Saber das leis de trânsito e obedecer à sinalização sempre; 2. Sempre usar o cinto de segurança; 3. Saber comandar o veículo que está dirigindo e conhecê-lo; 4. Manter o veículo sempre em boas condições de funcionamento; 5. Ser capaz de prever e evitar acidentes, assim como as possibilidades; 6. Decidir com rapidez a correção em situações de perigo; 7. Não aceitar provocações e desafios; 8. Jamais dirigir cansado ou sob efeito de drogas e álcool; 9. Ver e ser visto sempre; e 10. Jamais abusar da autoconfiança. 3.2.2 Dicas importantes quanto ao uso de viaturas ou veículos oficiais em serviço 1. Ao iniciar o serviço, você deve verificar as condições da viatura ou veículo oficial que vai usar, checando, primeiramente, o nível de óleo do motor e da água do sistema de arrefecimento, as condições de uso dos pneus e o funcionamento dos faróis, lanternas, sirene e luzes de emergência intermitentes. Ao dirigir a viatura, caso perceba qualquer anormalidade que comprometa a segurança dos ocupantes e de tráfego, encaminhe-a para manutenção, fazendo a troca por outra viatura em boas condições de manutenção e conservação. Não esqueça que viaturas sem condições de funcionamento para o serviço podem causar acidentes. 2. O profissional de segurança pública deve respeitar os limites de velocidade e não realizar ultrapassagem em local proibido. Contudo, em caso de emergência, dirija respeitando seus limites de controle total da viatura e evite fazer ultrapassagem forçada em alta velocidade que ocasione a saída de outros veículos da sua faixa de direção. Não deixe o estresse dominar as situações. Lembre- se que, nessas horas, é importante o uso de sirene e luzes intermitentes, aumentando a percepção de sua intenção em avançar no tráfego. 3. Independente da situação emergencial ou não, todos os ocupantes da viatura devem fazer uso do cinto de segurança. 16 Grande parte dos acidentes ocorre por fatores humanos. Ter conhecimentos a respeito da direção defensiva salva vidas. Ou seja, a educação é o meio de transformar esse cotidiano de acidentes. O meio mais viável para se criar uma cultura de segurança no trânsito é a educação para o trânsito. No módulo seguinte vamos entender seus fundamentos. Finalizando... Neste módulo, você estudou que ... • De acordo com o IPEA (2015), a violência no trânsito é um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, pois os acidentes de transporte terrestre matam no nosso país aproximadamente 43 mil pessoas por ano, segundo os dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) e do Ministério da Saúde (MS), representando uma das principais causas de morte no país. • A maioria das causas de acidentes fatais nas vias ocorre por culpa do próprio condutor. Todavia, esses fatores não podem ser isolados da falta de investimentos públicos, econômicos e sociais na qualidade dos veículos, vias públicas e das estradas, elementos que deveriam ser pensados para preservar e garantir a segurança dos cidadãos. • O Brasil ocupa o 5º lugar nesse ranking violento (SENADOFEDERAL, 2016), e preocupado com os números negativos, integrou, junto com mais 182 países, a Década de Ação para Segurança Viária 2011-2020, proclamada pela ONU, em 02/03/2010, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por meio da Resolução nº A/64/255 que se direciona a “Melhoria da Segurança Viária no Mundo”. • Baseado nesses pilares, definidos pela ONU, o Brasil apresentou o Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária – Proposta preliminar*, para a Década 2011-2020, com o objetivo de reduzir o número de acidentes e em prol da segurança viária. • A direção defensiva, ou direção segura, é a forma mais adequada de dirigir e se comportar no trânsito, pois preserva a vida, a saúde e o meio ambiente (DENATRAN, 2005). • Alguns importantes comportamentos devem ser tomados para se realizar uma direção segura, como: realizar manutenção periódica e preventiva, evitar o desgaste ao dirigir, manter distância de segurança dos veículos a frente, entre outros. *O Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária ainda não foi implantado. Exercícios 1. As assertivas abaixo estão corretas, exceto: 17 a. As ações de educação para o trânsito devem ser articuladas em torno de cinco pilares: gestão da Segurança no Trânsito; infraestrutura mais segura e mobilidade; veículos mais seguros; usuários mais seguros; e atendimento às vítimas. b. O Brasil integrou à Década de Ação para Segurança Viária 2011-2020 proclamada pela ONU, a qual aderiu 182 países, objetivando reduzir as mortes no trânsito. c. A maioria das causas de acidentes fatais nas vias ocorre diretamente pela falta de investimentos públicos, econômicos e sociais na qualidade dos veículos, vias públicas e das estradas. d. A ações de educação para o trânsito auxiliam na minimização das ocorrências de acidente de trânsito. 2. Marque as sentenças verdadeiras: ( ) a. Segundo o IPEA (2015), a violência no trânsito é um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, matando aproximadamente 43 mil pessoas por ano. ( ) b. O ambiente profissional dos envolvidos na segurança pública intensifica aspossibilidades de ocorrência de acidentes de trânsito, haja vista que lidar com situações de risco e com alto nível de estresse fazem parte dessa realidade. ( ) c. De acordo com o IPEA (2015), as causas diretas mais comuns provenientes dos condutores são: falta de atenção, velocidade incompatível, ultrapassagem indevida, ingestão de álcool e desobediência à sinalização. ( ) d. A realidade do trânsito brasileiro é bastante violenta e os números demonstram que a grande maioria dos acidentes acontece por acaso, por obra do destino ou por azar. ( ) e. As ações promovidas pelas autoridades para conscientização individual e coletiva, por meios educativos e coercitivos, não inibem a violência no trânsito. ( ) f. A direção defensiva, ou direção segura, é a forma mais adequada de dirigir e se comportar no trânsito, pois preserva a vida, a saúde e o meio ambiente (DENATRAN, 2005). 3. Observe as figuras e associe as frases referentes a direção segura: 1) ( ) Não aceitar provocações e desafios 18 2) ( ) Saber das leis de trânsito e obedecer à sinalização sempre 3) ( ) Sempre usar o cinto de segurança 4) ( ) Manter o veículo sempre em boas condições de funcionamento 4. Analise os casos a seguir e responda “correta” ou “incorreta” diante da conduta apresentada: Situação 1 - Naquela manhã, quando o Soldado Marcos pegou a viatura, sentiu que a embreagem não estava boa. Marcos encaminhou a viatura para manutenção. A conduta de Marcos está: a. Correta b. Incorreta Situação 2 – Mesmo cansado e com sono, pois havia acabado de sair de um plantão, o papiloscopista Rubens pegou seu carro e foi para casa. A conduta de Rubens está: a. Correta b. Incorreta Situação 3 – Foi apenas um drink, disse Carlos antes de entrar no seu carro e ir para a casa da namorada. A conduta de Carlos está: a. Correta 19 b. Incorreta Situação 4 – Paulo está fazendo o curso Condutores de Veículos de Emergência, da REDE EAD da SENASP e com isto espera estar mais preparado para conduzir a viatura. A conduta de Paulo está: a. Correta b. Incorreta 20 Gabarito 1. Resposta Correta: Letra C. 2. As alternativas corretas são: Letras A, B, C e F. 3. A associação correta é: ( 3 ) Não aceitar provocações e desafios; ( 4 ) Saber das leis de trânsito e obedecer à sinalização sempre; ( 2 ) Sempre usar o cinto de segurança; ( 1 ) Manter o veículo sempre em boas condições de funcionamento. 4. Respostas corretas: Situação 1 – Correta Situação 2 - Incorreta Situação 3 - Incorreta Situação 4 - Incorreta 21 Apresentação do módulo Neste módulo você estudará a fundamentação legal e doutrinária da educação para o trânsito e a sua aplicação na formação das pessoas para a boa convivência, segurança e proteção no trânsito. Objetivo do módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Analisar a fundamentação legal da educação para o trânsito; • Identificar os elementos que compõem o trânsito seguro: Engenharia, Educação para o Trânsito e Enforcement; • Assumir práticas éticas e seguras no trânsito; • Reconhecer os conflitos das relações sociais no trânsito; • Identificar seu papel como agente de segurança na promoção da paz e segurança no trânsito. Estrutura do Módulo Este módulo está organizado nas seguintes aulas: • Aula 1 - Concepção legal – Educação para o trânsito/segurança de trânsito • Aula 2 - Concepção de segurança • Aula 3 - Concepção moral, ética e pedagógica • Aula 4 - Relações sociais no trânsito: convivência e comportamento no trânsito Aula 1 – Concepção legal – Educação para o trânsito/ segurança de trânsito MÓDULO 2 A EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO E SUAS CONCEPÇÕES 22 Antes de iniciarmos o estudo da fundamentação legal, reflita, listando no quadro abaixo cinco atitudes corretas no trânsito, de acordo com suas prioridades e na condição de profissional de segurança pública: ATITUDES CORRETAS NO TRÂNSITO 1. 2. 3. 4. 5. Uma vez feita a reflexão sobre o que é certo fazer no trânsito em relação à sua própria segurança, estude, a seguir, as principais fundamentações e conceitos da educação para o trânsito no Brasil, que não podem ser confundidas com as normas legais de circulação no trânsito. Essa educação é o conjunto da aplicação da lei, do domínio da técnica para condução de veículos e, principalmente, do comportamento ético das pessoas no trânsito. 1.1 Normas legais Observe que a Constituição Federal de 1988 trata da responsabilidade dos entes federativos estabelecerem e implantarem uma política de educação para o trânsito em seu artigo 23: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Por sua vez, a Lei Federal n° 9.503 de 1997 (disponível aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis /L9503.htm), que estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em vigor, considera que a educação para o trânsito é direito de todos. A sua aplicação não pode ser vista apenas como uma obrigação, e sim, como uma atitude fundamental para o exercício democrático de mobilidade das pessoas, e promover a educação e segurança de trânsito. O capítulo VI, que trata da educação para o trânsito no CTB, estabelece que: 23 Art. 74. A educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito. Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação. Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras diretamente ou mediante convênio, promoverá: I - A adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito; II - A adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores; III - A criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito; IV - A elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade na área de trânsito. A legislação que trata sobre a educação para o trânsito é uma garantia de ordem jurídica em defesa da vida, da paz, da segurança e da saúde. A respeito da segurança pessoal, a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos diz em seu artigo III que esse é direito de todos: Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 1.2 O Sistema nacional de trânsito e a educação para o trânsito Apesar de todo um amparo legal e esforço internacional em favor da internalização de atitudes seguras no trânsito, a educação para o trânsito, principal meio transformador nesse sentido, ainda é fragilizada na formação educacional do cidadão brasileiro. Nas escolas, temas transversais como: ética; meio ambiente; saúde; pluralidade cultural; e orientação sexual; hoje são mais comuns nos currículos, ao contrário da educação para o trânsito, que para acontecer ainda depende da ação dos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. 24 Os seguintes órgãos e entidades compõem o Sistema Nacional de Trânsito(Artigo 7º do CTB): I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo; II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e coordenadores; III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; V - a Polícia Rodoviária Federal; VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações – JARI. Esses órgãos devem atuar coordenadamente, em prol da valorização da educação para o trânsito no âmbito escolar, objetivando a formação de condutores e pedestres conscientes. Considerando a importância do tema, o DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito, (disponível aqui: http://www.denatran.gov.br/index.php/portarias/68-portarias/193-portarias-2009) órgão do Ministério da Justiça e Cidadania, publicou a Portaria 147/2009, estabelecendo as diretrizes para a Pré-Escola (Anexo I da portaria) e para o Ensino Fundamental (Anexo II da portaria). A portaria e os referidos anexos pretendem: [...] oferecer aos professores da Pré-Escola e do Ensino Fundamental a oportunidade de desenvolver atividades que tragam à luz a importância da adoção de posturas e de atitudes voltadas ao bem comum; que favoreçam a análise e a reflexão de comportamentos seguros no trânsito; que promovam o respeito e a valorização da vida. (DENATRAN, Portaria 147, ANEXOS 1 e 2). Outro dispositivo legal é a resolução 265/2007 do CONTRAN que trata da formação teórico-técnica do processo de habilitação de condutores como atividade extracurricular de 90 (noventa) horas em escolas de Ensino Médio. Ela reconhece o curso como cumprimento de requisito para que o aluno possa submeter-se ao exame escrito de legislação de trânsito no DETRAN para, se habilitado, conduzir veículo automotor. A título de exemplo, essa resolução é implementada no Distrito Federal por meio do Projeto “Detran nas Escolas” (disponível aqui: http://www.detran.df.gov.br/educacao/programa-detran-nas-escolas.html) que auxilia a formação de motoristas conscientes. 25 Todas essas resoluções são instrumentos de fomento educacional e auxiliam o fortalecimento de atitudes seguras no trânsito. Aula 2 – Concepção de Segurança 2.1 Trânsito seguro Para que possa compreender a concepção de segurança, é importante que você verifique alguns conceitos de trânsito, além da definição de segurança. O Código de Trânsito Brasileiro traz o conceito de trânsito em seu art. 1º, §1º: § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga. Vasconcelos (2010 apud PAULINO, 2010, p. 27-28) conceitua trânsito como: [...] conjunto de todos os deslocamentos diários, feitos pelas calçadas e vias da cidade, e que aparece na rua na forma de movimentação de pedestres e veículos. Observe, na figura 2, que “graficamente, o fenômeno trânsito é representado como um triângulo (denominado ‘3E’ – Engenharia, Educação para o Trânsito e Enforcement – ou ‘trinômio do trânsito’), assim composto por diversos (e distintos) ramos do conhecimento humano.” O Enforcement é entendido como tornar obrigatório o cumprimento da lei” (HONORATO, 2009, p. 3). Figura 2 – 3E Fonte: Google. Somente com a conjunção desse tripé basilar - os 3E - que será possível a concretização da segurança no trânsito. A engenharia colabora com a organização do espaço transitável de maneira eficiente. O enforcement é fazer valer a lei por meio da fiscalização. Por fim, a educação é um importante instrumento preventivo, que 26 envolve formação de personalidade, mudança de mentalidade e conscientização dos perigos do trânsito, seja na condução de veículo ou animal, seja enquanto pedestre (PAULINO, 2010). E qual é a definição de segurança? O conceito literal de segurança, segundo o dicionário Michaelis (2016), é o seguinte: Estado do que se acha seguro; garantia; proteção. Com segurança é com firmeza; livre de risco; seguramente; sem temor. Para Refletir... Considerando os conceitos de trânsito e a definição de segurança apresentados, como você definiria trânsito seguro? Segundo Honorato (2011), o conceito de trânsito seguro é formado pela união da Liberdade de Circulação com o dever de o Estado proporcionar Segurança Pública. Assim, esse conceito atua com o objetivo de qualificar a forma como nosso Estado Democrático de Direito pretende que o uso das vias terrestres seja realizado em território nacional. Por sua vez, a segurança no trânsito pode ser entendida como: O conjunto de componentes e atitudes que condiciona a nossa proteção e de terceiros no exercício da mobilidade no trânsito. Como profissional é seu dever funcional cuidar e zelar de sua própria segurança e dos outros em serviço. Veja, a seguir, os componentes e as atitudes que compõem a segurança no trânsito. Componentes de segurança no trânsito: Infraestrutura viária em boas condições de tráfego, com vias pavimentadas, sinalizadas e sem buracos; Presença do órgão competente para fiscalização e policiamento do trânsito na via; Controle do tráfego nos horários de pico, como também em situações emergenciais causadas por danos na via, pelo órgão competente. Atitudes de segurança no trânsito: Conhecer e respeitar a sinalização de trânsito; Cuidar da manutenção e manter em boas condições o veículo sob sua responsabilidade; Dirigir com atenção e cuidado; Atravessar ruas, avenidas e rodovias preferencialmente pela faixa de pedestres e passarela; 27 Manter as boas condições físicas e mentais do organismo para dirigir, como descansar para evitar o sono e a fadiga; Usar os equipamentos de segurança obrigatórios, como cinto de segurança para carro e capacete para motocicleta. 2.2 Segurança no trânsito e prática funcional: estudo de caso Para você entender melhor a necessidade de atitudes seguras no trânsito na prática funcional, leia e analise o caso a seguir - baseado numa situação de um acidente de trânsito em serviço, envolvendo agentes penitenciários -, e depois reflita sobre as questões colocadas. Caso 1 Na manhã do dia 25 de agosto de 2013, três agentes penitenciários se deslocavam de viatura, de uma cidade do interior do estado para a capital. Quando passavam por um trecho de rodovia estadual, um veículo caminhoneta, que vinha em sentido contrário, adentrou a contramão, colidindo frontalmente com a viatura. Na ocasião, o condutor e o passageiro do banco dianteiro* usavam o cinto de segurança, ao contrário do passageiro do banco traseiro, que estava sentado logo atrás do condutor. No local do acidente, apenas o condutor faleceu* e os passageiros ficaram gravemente feridos. Dois dias após o acidente, o passageiro do banco traseiro* também veio a óbito. * O passageiro do banco dianteiro que usava o cinto foi o único sobrevivente. * O corpo do condutor que usava o cinto de segurança não se chocou com as partes físicas da direção e painel do veículo, mas recebeu toda a energia cinética gerada pela projeção do corpo do passageiro que estava sem o cinto. * O passageiro do banco traseiro sem o cinto foi projetado com muita força para frente se chocando violentamente com a cadeira DO CONDUTOR que estava logo a sua frente. Para Refletir... Você conheceu ou soube de uma situação como essa? Você sempre faz uso dos equipamentos de segurança na sua atuação profissional e na sua vida cotidiana? Qual a importância do cintode segurança? No caso relatado fica muito claro que a falta de cinto de segurança certamente contribuiu para as mortes dos dois agentes. A energia transmitida pelo corpo ao ser lançado à frente, devido ao choque brusco dos veículos, resulta em um efeito multiplicador equivalente a várias vezes seu peso. 28 Saiba mais... Entenda o aumento do peso com a aceleração, acessando o site: http://www.if.ufrgs.br/cref/?area=questions&id=450. Importante! As mortes em serviço, em veículo oficial, por conta de acidentes de trânsito, em alguns casos são resultados de atitudes imprudentes do próprio agente, como o não uso dos equipamentos de segurança, ultrapassagens indevidas e excesso de velocidade. Tais atitudes imprudentes só aumentam a violência no trânsito e põem em risco a vida das pessoas envolvidas. 2.2.1 Atitudes preventivas em viatura ou veículo oficial Veja, no quadro abaixo, exemplos de atitudes preventivas que podem evitar acidentes como no caso analisado. Observem que algumas devem ser tomadas antes mesmo de se utilizar a viatura ou veículo oficial. Porte e validade dos documentos do condutor e do veículo (Art. 159). Condições do condutor e passageiros. O estado e as condições do veículo (Art. 27). CNH, original, compatível com a categoria do veículo e dentro do período de validade. Estar emocionalmente equilibrado, bem disposto e sóbrio. Veículo em bom estado de funcionamento e conservação. Portar próteses ou lentes corretivas indicadas na CNH. Não haver qualquer parte do corpo do condutor ou de qualquer passageiro para fora do veículo, nem jogar qualquer objeto sobre as vias. Combustível em quantidade suficiente. Portar a identificação pessoal e profissional. Estar com o número de passageiros e o volume de carga compatíveis com a capacidade do veículo e com a CNH. Existência dos itens obrigatórios em boas condições. Os equipamentos poderão ser checados pelas autoridades de trânsito em vistorias ou “blitz”. Estarem condutor e passageiros usando cinto de segurança. Para Refletir... Em seu ambiente de trabalho são observadas as atitudes preventivas que contribuem para a segurança no trânsito? 29 Importante! O profissional de segurança pública, no exercício de suas funções, não pode deixar-se dominar pelo estresse de uma ocorrência e deixar a segurança de lado. A sua segurança e a dos que estão em sua volta sempre deve ser prioridade. Aula 3 – Concepção moral, ética e pedagógica 3.1 Concepção Moral e Ética Como você estudou no módulo 1, o fator humano é o maior responsável por acidentes. A gravidade dos acidentes tem relação direta com imprudências, falta de atenção das pessoas no trânsito e falta de manutenção de veículos. Os acidentes decorrem da reprodução de uma cultura que não valoriza a prevenção, a segurança e a ação defensiva. Essa visão despreocupada de algumas pessoas com a segurança é reforçada com o relato de Corrêa (2013): Boa parte da sociedade brasileira, há algumas décadas, mantinha a crença (crendice?) de que acidente e mortes no trânsito eram “vontade de Deus” ou “coisas do destino”, como se não pudessem ser evitados. Ainda hoje em algumas regiões se ouve expressões como “o trânsito é assim mesmo – fazer o quê?”, como se o caos por ele gerado viesse do além e não pudesse ser contido ou atenuado.” (CORRÊA, 2013, p. 189) Diante desse cenário, a necessidade do fortalecimento de algumas concepções morais e éticas ganha a cena na formação de cidadãos cada vez mais preocupados no desenvolvimento de um trânsito seguro. Percebe-se que a reflexão moral aflora naturalmente quando os indivíduos se veem diante de uma difícil questão de natureza pessoal, como ilustrado pelo exemplo a seguir. Exemplo Um indivíduo não acha correto obrigar seus filhos a usarem cintos de segurança já que os incomoda. Ele se baseia no fato de que não quer fazer seus filhos chorarem e não vê a necessidade do uso por achar a parte de trás do carro segura. Contudo, em um evento inesperado que exige uma freada brusca, seus filhos são arremessados para a frente do carro, machucando suas cabeças no choque com o para- brisa. Após essa ocorrência, o pai agora entende a importância do uso do cinto de segurança pela experiência negativa, mas lhe incomoda fazer seus filhos chorarem e usarem a contragosto o instrumento de segurança. Ele agora tem um dilema. 30 Segundo Sandel (2012), quando expostos a uma tensão, a opinião pessoal de cada um é revista no que tange a coisa certa a se fazer – como no exemplo: “usar o cinto de segurança”. - Ao mesmo tempo, impõe o repensar sobre o princípio que inicialmente era considerado – de acordo com o exemplo: “não acha correto obrigar seus filhos a usarem cintos de segurança já que os incomodam”. - Assim, deparando-se com novas situações, recua-se ou avança-se nas opiniões e princípios formados e se revisa cada um deles à luz dos demais. Essa alteração na maneira de pensar, indo e vindo do mundo da ação para o da razão, é o que consiste a reflexão moral. Agora o pai da situação ilustrada terá que pesar: agradar seus filhos ou prezar pela segurança deles? Qualquer bom pai sempre optará pela segurança de sua prole. Alinhado a Platão, Sandel (2012) defende que para captar o sentido de justiça e da natureza de uma vida boa é preciso se posicionar acima dos preconceitos e rotinas do dia-a-dia, entretanto, a pessoa necessita de estímulos advindos de um terceiro como ponto de partida para pensar diferente. A reflexão moral não é uma busca individual, e sim coletiva. É nesse contexto que você, como profissional da área de segurança pública, deve assumir o papel de promotor dessas reflexões sobre o que é certo fazer no trânsito, sendo um interlocutor que, por meio do diálogo e de suas práticas, auxilia o indivíduo a se questionar e repensar seus valores e suas atitudes. Para Refletir... A sociedade é capaz de construir um comportamento ético de como agir no trânsito? Para responder a essa questão é preciso diferenciar a moral e a ética. Segundo Lins (2007), a moral é um conjunto de prescrições normativas (regras socialmente manifestadas em atitudes e comportamentos capazes de orientar a vida individual e coletiva), consideradas a partir de coordenadas de tempo e lugar, relativa à formação de caráter e à conduta dos indivíduos. Já a ética, por sua vez, é o nome que se dá ao conjunto dessas regras socialmente manifestadas que nos orienta (por que ou para que agir de tal maneira), que norteiam as ações individuais e sociais. As reflexões morais, sobre as mais variadas condutas, tomadas como motorista ou pedestre, contribuem para o desenvolvimento de comportamentos éticos no trânsito. Reforça-se assim, a importância do papel do agente de segurança pública, como interlocutor, na busca pela construção de valores morais e éticos para favorecer práticas culturais transformadoras que consolidem um trânsito mais seguro. 3.1.1 Atitudes éticas no trânsito e a prática funcional: estudos de casos Os casos a seguir os ajudarão a refletir sobre os temas estudados até aqui. 31 Caso 2 Num acompanhamento tático, o motorista da viatura faz uma ultrapassagem em local proibido, colocando em risco as pessoas ocupantes de um veículo que vinha em sentido contrário. Esse veículo, para não colidir na viatura, teve que desviar para o acostamento. Mais a frente, a viatura com a equipe de policiais alcançou o veículo perseguido e uma pessoa foi presa. O motivo da prisão: o motorista não era habilitado e fazia direção perigosa. Considere que, caso a ultrapassagem em local proibido não fosse realizada, a viatura não alcançaria o veículo acompanhado. Para a equipe de policiais, a ultrapassagem foi necessária, mesmo sob risco de acidente, e a ação foi um sucesso. Caso 3 Um dos policiaisda equipe, viajando com seu filho em seu veículo particular, se envolveu em uma colisão frontal entre seu veículo e uma viatura policial que fez uma ultrapassagem proibida durante um acompanhamento tático a outro automóvel. O acidente ocasionou a morte do policial e do seu filho. Para Refletir... As situações relatadas nos casos podem acontecer na vida real? Por estar em um acompanhamento tático, o motorista de uma viatura pode fazer ultrapassagens proibidas? Ao estudar o módulo 1, você teve noção dos dados que demonstram em números o quão violento é o trânsito de nosso país, assim como o custo elevado que isso causa ao Estado. Para não fazer parte dessas estatísticas ou ocasionar danos a terceiros é importante que se tenha em mente que conduzir uma viatura ou ser passageiro é assumir responsabilidades de segurança. Acidentes provocam mortes e feridos. A ação do agente de segurança pública não é motivo para gerar mais violência no trânsito, policiais não morrem só por tiro no combate a criminalidade ou bombeiros salvando vidas em incêndios e situações perigosas, muitos morrem em acidentes de trânsito com viatura ou em seus veículos particulares, por motivos variados: excesso de velocidade, ultrapassagem indevida, falta do uso do cinto ou capacete e outros. Importante! Ser ético exige respeito à própria vida e a dos outros. 32 É preciso entender que, geralmente, casos de mortes no trânsito brasileiro são considerados pelas autoridades um crime culposo. Crime culposo é conceituado no Código Penal como sendo: Art. 18 - Diz-se o crime: (...) II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. O Código Penal Militar traz de forma detalhada a conceituação: Art. 33 - Diz-se o crime: (...) II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. Logo, as mortes no trânsito são tratadas como aquelas que o agente não tem intenção de matar, sendo um caso de fatalidade por atitude de um cidadão. Os profissionais de segurança pública devem assumir cuidados no trânsito, com um zelo indiscutível, pois você sabe que durante o serviço, muitas vezes no atendimento de uma ocorrência, podem ocorrer condições vulneráveis a acidentes. Então, compromisso e responsabilidade, assim como risco e segurança, caminham juntos durante os deslocamentos nas ocorrências. Importante! No exercício profissional ser responsável e cauteloso no trânsito é preservar sua própria vida e a dos outros, seja dentro de uma viatura como motorista ou passageiro, assim também, como pedestre nas ruas e rodovias. A falta de cuidado no trânsito e desrespeito às normas é uma afronta à vida. Assim, quando o agente de segurança comete erro no trânsito, seja por imprudência, imperícia ou negligência, também está sendo avaliado pelas mesmas regras que ele zela, seja ela legal* ou moral*. Então, uma atitude profissional ou pessoal no trânsito que seja contrária às regras legais e morais será qualificada como não ética, gerando prejuízos a sua imagem do servidor, e, consequentemente, a moralidade da sua instituição e do próprio serviço público. *legal: Estabelecido, definido ou aprovado de acordo com a lei jurídica; que se origina de leis: documento legal. *moral: Preceitos e regras que governam as ações dos indivíduos, segundo a justiça e a equidade natural; as leis da honestidade e do pudor; a moralidade. 33 3.2 Concepção Pedagógica A educação tem papel fundamental para a compreensão de novos saberes e transformações no cidadão. Segundo Paulo Freire (1987), a educação sozinha pode não transformar tudo, mas sem ela não alcançaríamos as transformações sociais. Ele também defende que a educação é uma forma de intervenção no mundo, o que nos remete a utilizá-la no combate as atitudes de violência e desrespeito no trânsito, como por exemplo, alguém ter o entendimento social de normalidade no ato de beber e dirigir. Para possibilitar profundas reflexões morais, você deve trabalhar as relações homem-mundo, os temas e os conteúdos, ao educando-cidadão, partindo de uma situação presente, existencial, concreta (contexto problematizado), desafiando-o na busca de respostas para o enfrentamento do problema. (FREIRE, 1987) Se as situações práticas expostas são pedagógicas, então, você, como profissional de segurança pública, entende que aprender e ensinar são ações inerentes à sua função pública. Sua formação profissional e suas experiências o capacitam para agir como agente transformador da sociedade, valorizando nossa segurança e a dos outros e, por que não dizer, nossa vida e a dos outros. Fazer a coisa certa, no contexto de formador de um trânsito seguro, é não se expor ao risco de acidente. A mudança de atitude não deve acontecer após o acidente, pois pode ser tarde demais. De acordo com Balestreri (1998): Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obrigam a repensar o agente educacional de forma mais includente”. Dessa forma, todo agente de segurança pública deve ser também um educador, por também ser aquele que proporciona transformações por meio da ação educativa intrínseca em suas atribuições enquanto profissional. Balestreri (1998, p. 8) também revela que: [...] No passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, professores, especialistas em educação. Hoje é preciso incluir no rol pedagógico também outras profissões irrecusavelmente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e policiais. Nesse viés, o agente de segurança pública é um legítimo educador, pois o que muitas vezes não observamos é que há uma dimensão pedagógica no agir desses agentes que, como em outras profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua especialidade. 34 Diante de toda a apresentação das concepções que norteiam a educação para o trânsito, pode-se concluir que, por intermédio dessa educação, os indivíduos realizarão reflexões morais em prol de atitudes éticas no trânsito. Aula 4 – Relações sociais no trânsito: convivência e comportamento no trânsito 4.1 O espaço social do trânsito O trânsito é um espaço em que todos os seus participantes devem colaborar entre si de maneira a permitir que cada um deles alcance seu destino em segurança. Contudo, como em qualquer espaço onde se encontram mais de uma pessoa, pode haver divergências. Normalmente, ao se deparar com algum conflito, o natural é sempre buscar as melhores soluções possíveis, no entanto, isso demanda tempo e paciência. É por isso que os problemas no trânsito se tornam tão conflituosos, pois não existe o tempo para a aproximação entre as pessoas, haja vista que os conflitos são imediatos: a colisão e as paradas bruscas repentinas podem gerar, de imediato, agressões verbais e físicas. Uma necessidade básica à boa convivência social no trânsito é a organização com padrões de segurança das vias e espaços públicos, com regras equilibradas e proporcionais de ocupação e circulação que devem ser respeitadas. O equilíbrio e a proporcionalidade tem referência aos tipos de usuários da realidade local, se existem muitos ciclistas, é preciso ter ciclovias ou ciclofaixas para eles circularem com segurança. Se o transporte coletivo é utilizado por boa parte da população, seus espaços de circulação devem ter a medida equilibrada para bom fluxo e segurança, adotando faixas exclusivas, por exemplo. A infraestrutura viária não deve ser pensada apenas para os automóveis particulares, estabelecendo um privilégio de proporção maior para aqueles que possuem ou optam por esse tipo veículo. É imprescindívela necessidade de criar alternativas e soluções de forma a atender todos os personagens do trânsito para o controle da paz social, devido à diversificação desses atores, que convivem lado a lado nas ruas, estradas, estacionamentos, calçadas e praças. A disputa no trânsito pelo mesmo espaço social é mais acentuada por diferenciações econômicas, considerando que o carro é um status social. Outra situação é que as diferenças econômicas determinam também as classes sociais, distanciando ainda mais as pessoas nas relações sociais. Segundo DaMatta (2010), o veículo é símbolo de cidadania diferenciada. 35 Entenda que carros mais caros em geral são mais potentes e garantem mais conforto no isolamento do espaço interno do veículo com o mundo exterior. O que isto significa? Os espaços de circulação de pessoas e veículos são diferentes, mas lembre-se que eles são públicos, compartilhados e regidos por normas. O profissional de segurança pública é agente de controle estatal e social, devendo sanar conflitos. Não existem dúvidas que a atividade que envolve segurança pública é estressante, exigindo principalmente dos condutores de viaturas e comandantes das equipes controle emocional para não se envolverem em conflito no trânsito, diante do poder que a viatura impõe aos demais veículos. Trabalhe essa condição de poder com responsabilidade e equilíbrio! Algumas atitudes auxiliam na manutenção da paz no trânsito no convívio profissional: Realizar o curso de Condutores de Veículo de Emergência na REDE EAD SENASP; Conhecer as regras descritas no Código de Trânsito Brasileiro; Conhecer bem a região por qual conduzirá o veículo oficial, procurando visualizar o trajeto até mesmo antes de colocar o carro em movimento; Não conduzir veículo oficial sob o efeito de forte abalo emocional: estresse, recebimento de notícia ruim, euforia, pressa, entre outros; Respeitar o espaço dos demais personagens do trânsito: pedestre, ciclista, motociclista, entre outros; Somente fazer uso de sirenes e luzes intermitentes quando estritamente necessário para o êxito de sua função; e Evitar desavenças no trânsito, mantendo-se tranquilo na ocorrência de algum imprevisto. Finalizando... Caro aluno, neste módulo você estudou que: • A educação para o trânsito é direito de todos, segundo a legislação em vigor, estando presente na Constituição e na Lei Federal 9.503 de 1997, que estabeleceu o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), além de outras normas e objeto de convenções internacionais. Contudo, sua aplicação não pode ser vista apenas como uma obrigação, e sim, como uma atitude fundamental para o exercício democrático de mobilidade das pessoas. • Apesar de todo um amparo legal, a educação para o trânsito é ainda fragilizada na formação educacional do cidadão brasileiro, que para acontecer ainda depende da ação dos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. Assim, você já identifica seu importante papel na promoção da educação e segurança de trânsito. • O trânsito é caracterizado pelo triângulo “3E”: Engenharia, Esforço Legal e Educação. Somente com a efetividade dos três em conjunto se concretizará um trânsito seguro. 36 • A segurança no trânsito é composta pelo conjunto de componentes e atitudes que condiciona a nossa proteção e de terceiros no exercício da mobilidade no trânsito. Como profissional, é seu dever funcional cuidar e zelar pela própria segurança e dos outros quando estiver em serviço. • São atitudes de segurança no trânsito: conhecer e respeitar a sinalização de trânsito; dirigir com atenção e cuidado; manter as boas condições físicas e mentais do organismo e usar os equipamentos de segurança. • O profissional da área de segurança pública deve se reconhecer como um importante interlocutor na transformação da realidade em um trânsito seguro. • Uma necessidade básica à boa convivência social no trânsito é a organização com padrões de segurança das vias e espaços públicos, com regras equilibradas e proporcionais de ocupação e circulação que devem ser respeitadas. Exercícios 1. Quanto à educação para o trânsito é correto afirmar: a) Que trata-se de um direito apenas do condutor. b) É um dever secundário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito. c) Não pode ser vista apenas como uma obrigação, e sim, como uma atitude fundamental para o exercício democrático de mobilidade das pessoas. d) O Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras diretamente ou mediante convênio, promoverá a adoção, apenas no Ensino Médio, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito. e) A legalização da educação para o trânsito não é uma garantia de ordem jurídica em defesa da vida, da paz, da segurança, e da saúde. 2. Compõe o triângulo que representa o fenômeno trânsito: a) Vias terrestres, veículos e pedestres. b) Motoristas, pedestres e vias terrestres. c) Calçadas, vias da cidade e veículos. d) Engenharia, Enforcement (Esforço legal) e Educação para o trânsito. e) Educação, Fiscalização e Veículos. 3. Em relação à concepção de segurança e dos componentes de segurança no trânsito, é INCORRETO afirmar: 37 a) A segurança no trânsito é composta pelo conjunto de componentes e atitudes que condiciona a nossa proteção e de terceiros no exercício da mobilidade no trânsito. b) É dever funcional do profissional de segurança pública cuidar e zelar pela própria segurança e dos outros quando estiver em serviço. c) A presença do órgão competente na via para fiscalização e policiamento do trânsito na via é componente de segurança no trânsito. d) É componente da segurança no trânsito a infraestrutura viária em boas condições de tráfego, com vias pavimentadas, sinalizadas e sem buracos. e) Controle de tráfego do órgão competente na via, nos horários de pico, quando acarreta congestionamentos e em situações emergências causados por danos na via que gere perigo de acidentes não é considerado um componente de segurança no trânsito. 4. Quanto ao uso da viatura ou carro oficial em serviço, assinale as alternativas corretas. ( ) a. Ao iniciar o serviço, verifique as condições da viatura que vai usar durante o plantão, se a mesma está em boas condições de manutenção e conservação. ( ) b. Em caso de emergência, dirija de forma extremamente rápida, mesmo que isso signifique desrespeitar seus limites de controle total da viatura, haja vista o estresse da situação que não permite tomar os cuidados devidos. ( ) c. Em situações de emergência, abuse do uso de ultrapassagens forçadas em alta velocidade mesmo que isso cause a saída de outros veículos da sua faixa de direção, colocando em risco de acidente terceiros. ( ) d. É importante não esquecer o uso de sirene e luzes intermitentes em momentos de emergência, visando aumentar a percepção de sua intenção em avançar no tráfego. ( ) e. Independente da situação emergencial ou não, todos os ocupantes da viatura devem fazer uso do cinto de segura. 5. Em relação ao espaço social no trânsito é CORRETO afirmar: a) No trânsito, por causa da recorrente aproximação das pessoas, é raro haver conflitos como agressões verbais e físicas. b) Uma necessidade básica à boa convivência social no trânsito é a organização com padrões de segurança das vias e espaços públicos, com regras equilibradas e proporcionais de ocupação e circulação que devem ser respeitadas. c) A infraestrutura viária deve ser pensada apenas para os automóveis particulares, estabelecendo um privilégio de proporção maior para aqueles que podem possuir ou optar por esse tipo veículo, tendo em vista o grave problema dos engarrafamentos nos grandes centros urbanos. d) O veículo não é símbolo de cidadania diferenciada, haja vista as facilidades hoje existentesno mercado de se adquirir um veículo. 38 e) Diante do poder que a viatura impõe aos demais veículos, os condutores de viaturas e comandantes das equipes sempre terão a razão em caso de conflito no trânsito. 39 Gabarito 1. Resposta Correta: Letra C. 2. Resposta Correta: Letra D. 3. Resposta Correta: Letra E. 4. As alternativas corretas são: A, D e E. 5. Resposta Correta: Letra B. 40 Apresentação do módulo Você conhece MAHATMA GANDHI? A “Grande Alma”, como muitos seguidores o chamam. Seu pensamento e suas ações podem ser resumidas em uma de suas frases: “Não existe um caminho para a paz; a PAZ é o caminho”. Para o seu contexto profissional, pense com ele: “Seja você a mudança que quer ver no mundo.” Neste módulo você estudará sobre a relação existente entre educação e segurança pública, com o objetivo de compreender a importância da formação do profissional de segurança, da mediação de conflitos e da educação para o trânsito na promoção da paz e na diminuição da violência no trânsito. Objetivo do módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Identificar a atuação na educação para o trânsito como competência do profissional de segurança pública; • Refletir sobre a importância do tema educação para o trânsito na formação do profissional de segurança pública; • Identificar a atuação do profissional de segurança pública na mediação de conflitos de trânsito; e • Perceber a importância da atuação do profissional de segurança pública em ações e projetos em educação para o trânsito. MÓDULO 3 O PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÂNSITO 41 Estrutura do Módulo Este módulo está organizado nas seguintes aulas: Aula 1 – Formação do Profissional da Segurança Pública Aula 2 – Mediação de Conflitos no Trânsito Aula 3 – Educação para o Trânsito: situação, espaços e caminhos Aula 1 – Formação do Profissional da Segurança Pública 1.1 Ampliando um pouco mais sobre o cenário do trânsito brasileiro A compreensão do que é a cultura da segurança no trânsito, no que tange a realidade do profissional de Segurança Pública e das áreas afins que atuam diretamente com a sociedade, se apresenta como um desafio para o século XXI, tendo em vista os altos índices de violência, inclusive no trânsito, conforme você estudou no Módulo I. Segundo Corrêa (2013), no livro Cultura de Segurança no Trânsito: casos brasileiros, a cultura de segurança no trânsito pode ser entendida como: A maneira como os usuários do trânsito se comportam para evitar acidentes e ferimentos (CORRÊA, 2013, p. 189). Para Refletir... Como você se comporta no trânsito? Imagine agora o percurso que você faz de casa para o trabalho. Você, como cidadão, está promovendo a segurança no trânsito? Os grandes centros têm como uma de suas piores características a presença de um trânsito caótico. O grande volume de carros circulando ocasionam uma avalanche de notícias a respeito de acidentes, engarrafamentos, colisões, entre outros. Contudo, devido a falta de um planejamento viário e o aumento da frota, cidades de médio e pequeno porte também sofrem as consequências de um trânsito desorganizado que causa inúmeros transtornos (GAZETA DO POVO, 2016). Mas o que tem sido feito na busca de uma solução? Como trabalhar a temática trânsito na formação do profissional de segurança pública? 42 1.2 O desenvolvimento de competências e as ações de formação de educação para o trânsito Foi apresentada no Brasil, em 2014, pela SENASP, a nova versão da Matriz Curricular Nacional (MATRIZ) (disponível no curso digital, dentro da Plataforma) que caracteriza-se como um referencial teórico- metodológico para orientar as ações formativas dos profissionais da área de segurança pública. A intenção é que a Matriz seja uma ferramenta de gestão educacional e pedagógica com ideias e sugestões que possam estimular o raciocínio estratégico, político e didático educacional necessários à reflexão e ao desenvolvimento das ações formativas na área de segurança pública. De acordo com a Matriz (2014), o contexto social aponta a necessidade de se formar profissionais capazes de lidar com as diferentes formas de violência, conflitualidades e criminalidade, buscando garantir a qualidade de vida e a integridade das pessoas. O trânsito está inserido nesse contexto, e cabe ao profissional de segurança pública desenvolver competências que atendam a essas necessidades. Mas o que são competências? No âmbito da Matriz, competência é entendida como a capacidade de mobilizar saberes para agir em diferentes situações da prática profissional. Dessa forma, é necessário gerar reflexões que estimulem a autonomia intelectual, antes, durante e após a ação. A MCN trabalha com três conjuntos de competências para agrupar os saberes a serem mobilizados. São elas: Competências cognitivas: são competências que requerem o desenvolvimento do pensamento por meio da investigação e da organização do conhecimento. Elas habilitam o indivíduo a pensar de forma crítica e criativa, posicionar-se, comunicar-se e estar consciente de suas ações. Competências operativas: são as competências que preveem a aplicação do conhecimento teórico em prática responsável, refletida e consciente. Competências atitudinais: são competências que visam estimular a percepção da realidade, por meio do conhecimento e do desenvolvimento das potencialidades individuais; a conscientização de sua pessoa e da interação com o grupo; a capacidade de conviver em diferentes ambientes: familiar, profissional e social. Assim, é importante que se faça as seguintes perguntas ao planejar ações para formação que envolvam a temática educação para o trânsito: O que o profissional de segurança pública precisa saber sobre a educação para trânsito (competências cognitivas – relacionadas ao conhecimentos)? O que o profissional de segurança pública precisa fazer em relação à educação para trânsito (competências atitudinais – apontam as atitudes)? O que o profissional de segurança pública precisa ser em relação à educação para trânsito (competências operativas – indicam as habilidades)? 43 As respostas a essas questões possibilitarão a elaboração de mapas de competências*, que servirão de base para que os profissionais da área de segurança publica desenvolvam ações formativas: cursos, oficinas, palestras, entre outras atividades de ensino em relação à educação para o trânsito. Veja, a título de ilustração, o exemplo a seguir, mas observe que ele não esgota as possibilidades da temática trânsito. *mapas de competências: instrumento que auxilia os profissionais envolvidos no processo formativo a pensar de forma estratégica e intencional sobre o conjunto de competências profissionais que serão desenvolvidas durante o processo de aprendizagem. Quadro 2 – Mapa de competências Conhecimentos Habilidades Atitudes • Conceituar trânsito; • Compreender o trânsito como fenômeno social; • Conhecer as normas de trânsito. • Utilizar os procedimentos de segurança; • Aplicar técnicas de direção defensiva. • Respeitar e adotar os procedimentos de segurança no desempenho das tarefas inerentes ao cargo; • Agir de forma segura; Segundo a própria Matriz (2014), para ações formativas dos profissionais da área de segurança pública, o ensino é um processo que requer a ação intencional do educador para que ocorra a promoção da aprendizagem, a construção/reconstrução do conhecimento e apropriação crítica da cultura elaborada. Assim, para que o profissional de segurança pública desenvolva competências de educador do trânsito deve se ater aos processos de construção/reconstrução do conhecimento. Eles estão relacionados à capacidade de aprender continuamente e
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