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Carandiru - Resenha

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Estação Carandiru
 DRAUZIO VARELLA
 
Sol e Lua - Página 44 (Resenha)
Para quem servia o café da manhã no presídio o dia começava às 05:00 horas. Eles moravam no segundo andar do pavilhão, e faziam parte da faxina.
Os inimigos da aurora deixavam a vasilha de café no guichê da porta e assim penduravam uma sacola para receber o café da manhã e evitar a tortura de sair da cama.
Havia um certo indivíduo que era baixo e de cor branca que tinha o apelido de ¨Sem Chance¨, ele ganhou esse apelido pois repetia inúmeras vezes essa palavra no final de cada frase:
- Tem que ser na manhã. Se acordar cedinho, todo mundo dormindo, se for urinar no boi e der descarga ou fazer qualquer zuadinha, o senhor tem que mudar de xadrez. Acordar vagabundo, é sem chance.
Quando chegava perto das 05:00 da manhã os carcereiros da noite faziam a contagem dos presos pra ter certeza de que todos estavam ali.
Às 08:00 da manhã os portões se abriam. Saía um grupo de funcionários pela direita e outro pela esquerda. O da frente abria os cadeados e logo em seguida o de trás retirava e puxava a tranca. Os homens saíam silenciosos.
Existia um certo grupo que trabalhava como costuradores de bolas de futebol, exerciam essa atividade no próprio cárcere.
Ás 09:00 era a hora de servir o almoço. Não existiam refeitórios nos pavilhões, novamente o grupo de faxina entra em ação. O ritual de serviço era bem diferente do café: cada um devia estar em seu xadrez, galeria livre para a passagem dos carrinhos com a pilhagem de quentinha ou, quando a cozinha geral ainda funcionava, com o ¨Picadão¨, este momento delicado era interpretado como um atentado à higiene alimentar.
O velho Lupércio contou que no tempo em que havia respeito, nas refeições estendia-se um cobertor Parahyba no chão do xadrez e sobre ele colocavam-se os pratos. Então, o que estava preso há mais tempo naquela cela escolhia o seu; o mais novo era o último a se servir. Na hora da refeição não podia ir ao banheiro, tossir ou usar fio dental nos dentes, que tomava umas pauladas no ato.
No período da manhã se concentrava as atividades esportivas e de lazer: futebol, boxe, capoeira, halterofilismo, música e as aulas. A mais popular era o futebol. 
Os campeonatos eram organizados como é posto no papel, depois de discussões intermináveis, pelo pessoal da FIFA (Federação Interna de Futebol Amador), um grupo unido de detentos experientes e respeitados, escolhidos por eleição direta entre os times de futebol de cada pavilhão, comandados pelo diretor do Departamento de Esportes, o funcionário Waldemar Gonçalves.
Ao redor de duas, três da tarde, já era servido a janta seguindo ao mesmo ritual de faxinas, carrinhos, galerias vazias e respeito obsessivo pela higiene. 
Dessa hora em diante, quem tivesse fome que se servisse por contra própria. 
Os horários incomuns das refeições justificam-se em função da contagem, que deve acontecer às cinco da tarde. Daí a importância do recorte e a necessidade dos "jumbos":
- O jumbo é tipo uma cesta que a família leva para os detentos na visita ou deixa na portaria nos dias de semana. 
Às 17:00, todos retornam para os seus andares e a cela é fechada. As celas permanecem abertas até as 19:30, exceto as daqueles cujas atividades justifiquem a permanência fora do xadrez, como os faxineiros e os enfermeiros.
A tranca é outro dos rituais da cadeia: galeria movimentada, luzes acesas, comida no fogo, as portas abertas com as mulheres nuas viradas para o lado de fora, música no rádio, entra e sai com panelas e roupas. Um funcionário aparecia na cela e batia um cadeado contra a grade ou um cano contra o chão. Todos corriam para o seu próprio xadrez, porque a tranca impõe respeito. Em pares os carcereiros começavam a fechar: o primeiro pendurava o cadeado na alça, o que vinha atrás puxava a tranca e travava o cadeado. Aquele que ficava de fora teria o nome anotado; na reincidência, são trinta dias de castigo isolado.
Dentro da cadeia os suicídios acontecem pela manhã, depois de noites de depressão ou pânico claustrofóbico, espremidos entre os outros, sem poder chorar: 
- Homem que chora na cadeia não merece respeito.
O homem chamado Lupércio, disse que eram muitos que se enforcavam nas grades das janelas, e achava que as noites ficavam mais calmas depois que permitiram as visitas íntimas.
Antigamente era pior. O silêncio da noite era quebrado por gritos que ecoavam pela cadeia inteira.
 FIM
Nome: Ana Vitória Nava - Turma: 1C (noturno)
Disciplina: Direito Penal 1 Professor: Rafael

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