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ECA Prof. Franciele Kühl 1 1. CONHECIMENTO INTRODUTÓRIO: A Constituição Federal de 1988 foi o marco interruptivo entre a teoria da Situação Irregular – tratada pelo Código de Menores, de 1927 e adotado explicitamente no Código de 1979 – e a teoria da Proteção Integral, que veio a ser posteriormente regulada pela Lei n. 8.069, de 13 de Julho de 1990, denominado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As concepções do Direito do Menor, à luz da teoria Situação Irregular, eram de que os menores fossem apenas sujeitos de direito quando se encontravam em uma situação caracterizada como irregular, que engloba toda e qualquer situação concretizada de delinquência, vitimização e pobreza, hipóteses vagas, que permitiam a atuação discricionária dos denominados Juízes de Menores (os quais tinham autoridade para investigar os fatos, denunciar, acusar, defender, sentenciar e fiscalizar suas próprias decisões) (LEITE, 2005, p. 15). Isto é, havia uma discriminação legal quanto à situação do menor, o qual só era objeto de interesse jurídico após cometimento de infrações ou pela própria situação de exclusão social, todas formas denominadas de irregulares. Significa dizer que a irregularidade era sempre da criança ou do adolescente, e não das instituições, seja pela prática de infração penal ou pela sua condição de exclusão social, onde havia distinção entre criança (filho de família financeiramente melhor) e o menor (filho de família pobre). No antigo código, nem sequer havia distinção entre delinquente e menor abandonado, tratando todas as situações como irregulares apenas, considerando ambas as situações iguais, com aplicação das mesmas medidas, incluindo o cumprimento na mesma unidade de atendimento. Contudo, a partir de 1980 surgiu um ambiente que almejava a democratização, “onde os movimentos sociais assumiam o papel de protagonistas na produção de alternativas ao modelo imposto” (CUSTÓDIO, 2008, p. 05). Diante das diversas denúncias apontando injustiças contra o tratamento das crianças e adolescente em internatos, como também da necessidade de ação contra a prostituição e o trabalho infantil, surgem debates sobre a importância dos direitos das crianças e adolescentes, pugnando-se pelo reconhecimento destes, enquanto sujeitos de direitos (LEITE, 2005, p. 15). 2 Oportunidade em que era traçada uma nova visão dos direitos humanos, reconhecidos como fundamentais para crianças e adolescentes na nova Constituição Federal. A doutrina da Proteção Integral surge para romper paradigmas da situação irregular, do assistencialismo, da estabilidade e da centralização das ações e funções anômalas do Poder Judiciário, na figura do Juiz de Menor (LEITE, 2005, p. 15). A teoria da Proteção Integral encontra amparo jurídico na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e nas Convenções Internacionais sobre os Direitos da Criança e dos Direito Humanos, sendo que seus princípios fundamentais, em um sistema jurídico baseado no reconhecimento de direitos, são como imposições às autoridades, isto é, são obrigatórios, especialmente para as autoridades públicas (BRUÑOL, 2001, p. 101). Assentando-se basicamente em três princípios pilares: a criança e ao adolescente como sujeitos de direitos, destinatários de absoluta prioridade e respeitando sua condição de desenvolvimento. Desta forma, todos os atos relacionados ao atendimento das necessidades da criança e do adolescente devem atender o seu melhor interesse e essa perspectiva deve ser seguida pelas famílias, pela sociedade e principalmente pelo Estado, que nas suas decisões e nos seus procedimentos cotidianos devem tomar uma série precauções e cuidados com a finalidade de proteger a criança e ao adolescente, levando em conta, principalmente, a sua condição de pessoa em desenvolvimento. Nota-se um grande marco diferenciador entre os dois paradigmas. 1.1 Evolução jurídica dos direitos e a Teoria da Proteção Integral O novo olhar jurídico traçado pela Constituição Federal é um somatório pela busca de direitos e garantias às crianças e adolescentes, está ligado a importantes tratados RESPOSÁVEIS PELA PROTEÇÃO INTEGRAL: ESTADO SOCIEDADE FAMÍLIA 3 internacionais que passaram a ser adotados pelo Brasil, como: Declaração de Genebra (1924), a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica (1969), a Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das crianças (1989), e, também, a pluralidade de direitos nacionais, como a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que aprovou o Estatuto da Criança e do Adolescente. A Constituição Federal representa o marco jurídico da redemocratização do país, seu texto trouxe o ser humano e a preservação da sua dignidade como pontos centrais da nova organização política e jurídica do Brasil. Tanto é, que a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF) e a promoção do bem de todos sem qualquer distinção ou discriminação (art. 3º, IV, CF) estão descritas nos fundamentos e objetivos da Constituição. A partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 05 de outubro de 1988, o processo de valorização dos direitos humanos contou com o reconhecimento de novos sujeitos de direitos, pela primeira vez homens e mulheres são juridicamente sujeitos de direitos iguais, as pessoas indígenas ganharam capítulo próprio, e as crianças e adolescentes passaram a ser tratadas como sujeitos de direito, principalmente após a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 13 de julho de 1990, onde, uma nova visão foi adotada sobre os direitos da criança e do adolescente, passou-se a adotar a teoria da proteção integral. A doutrina da proteção integral está adotada expressamente no artigo 1º do Estatuto. Importante destacar que a doutrina confere juridicidade aos direitos, isto é, todos direitos assegurados são plenamente exigíveis pelo poder público, instituições e pelo indivíduo, que, mediante o direito de ação, poderá pleitear determinado direito. 2.FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS A Proteção Integral está amparada na Constituição Federal, onde, os artigos 227, 228 e 229 tratam dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes e dos deveres do Estado, da família e da sociedade com estes. 4 Prevalece no artigo 227: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. É dever, estabelecido constitucionalmente, a punição severa ao abuso, violência e a exploração sexual de criança e adolescentes (art. 227, §4º, CF). O Estado deverá promover programas de assistência integral à saúde, programas de prevenção e atendimento especializado para pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, que contarão com a aplicação de percentual dos recursos públicos, assim como, disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, adequados às pessoas portadoras de deficiência (§1º e 2º, do artigo 227, CF). Por fim, estabelece, no artigo 229, que os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Todos os direitos de crianças e adolescentes devem ser garantidostanto para filhos havidos ou não da relação do casamento e os adotados, que deverão ter os mesmos direitos e qualificações, sem designações discriminatórias relativas à filiação. 2.1 Os artigos 227, 228 e 229 são cláusulas pétreas? Devido a sua localização, por estarem fora do rol de direitos individuais fundamentais do Título II da Constituição Federal, há quem questionem se seriam eles abrangidos pelas cláusulas pétreas, a resposta é SIM! A resposta justifica-se pela primazia dos Direitos Humanos, pois não há limitação à previsão de outros direitos fundamentais de forma esparsa no texto constitucional, assim, é possível aplicar o disposto no artigo 60, §4º, IV, da CF, que veda a emenda constitucional tendente a ABOLIR direitos e garantias individuais. Garantias de impossibilidade de retrocesso em matéria de direitos humanos também previstas no artigo 5º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos (1966) e no artigo 5º, 5 §2º, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), ambos ratificados pelo país (ZAPATER, 2017). Nada impede as alterações no texto ou a criação de leis que sejam para ampliar esses direitos, como é o caso das recentes Leis: a) Lei n. 13.715/2018: Dispõe sobre hipóteses de perda do poder familiar pelo autor de determinados crimes contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente, alterando o artigo 23, §2º, do ECA. b) Lei n. 13.715/2018: Dispõe sobre a racionalização de atos e procedimentos administrativos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e institui o Selo de desburocratização e Simplificação, trazendo importante alteração quanto as regras de viagem de crianças e adolescentes. c) Lei n. 13.509/2017: Dispõe sobre adoção e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). d) Lei n. 13.257/2016: Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância, que dispõe sobre as políticas públicas para crianças até 6 anos de idade. e) Lei n. 13.306/2016: Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de fixar em cinco anos a idade máxima para o atendimento na educação infantil. f) Lei n. 13.185/2015: Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). g) Lei n. 13.010/2014: Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. h) Lei n. 12.962/2014: Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, para assegurar a convivência da criança e do adolescente com os pais privados de liberdade. 6 i) Lei n. 12.594/2012: Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratique ato infracional; 3.DISPOSIÇÕES GERAIS: SISTEMA DE DIREITOS E GARANTIAS Antes de falarmos sobre questões mais principiológicas, é necessário estabelecermos a classificação de crianças e adolescentes, que será de acordo com a sua idade, segundo artigo 2º do ECA. O critério estabelecido pelo legislador é objetivo, CRIANÇAS são aquelas de até 12 anos INCOMPLETOS, já os ADOLESCENTES, são aqueles de 12 anos até 18 anos INCOMPLETOS, em outras palavras, criança é o ser humano até 11 anos completos e o adolescente é o ser humano de 12 anos completos até 17 anos completos. Lembrando que são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, os quais, estão sujeitos às normas da legislação especial (o Estatuto da Criança e do Adolescente). 3.1 Criança e adolescente como sujeitos de direitos: De acordo com o artigo 3º, a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata o estatuto, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. ATENÇÃO! O ECA pode ter aplicação EXCEPCIONAL para pessoas até 21 anos de idade, nos casos de ato infracional com medida socioeducativa de internação, se o adolescente atingir maioridade durante o seu cumprimento. Ocorrerá a liberação compulsória quando completar 21 anos (Art. 2º, parágrafo único, art. 120, §2º e artigo 121, §5º, do EAC. 7 A Lei 13.257/2016 (Marco legal da 1ª Infância), inseriu o parágrafo único, no artigo 3º, reforçando que os direitos enunciados no Estatuto da Criança e do Adolescente aplicam- se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. No mesmo sentido, o artigo 5º, reforça que o dever de todos prevenir que qualquer criança ou adolescente seja vítima de alguma forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, devendo, nesses casos, ser punido na forma da lei qualquer atentado aos direitos fundamentais, seja por ação ou omissão. 3.2 Direito à prioridade absoluta: O princípio da prioridade absoluta, está legalmente previsto no artigo 4º, do estatuto, bem como, no artigo 227, da Constituição Federal. Crianças e adolescentes precisam ser o foco principal, tanto do Poder Executivo, na destinação de verbas para amparo à família e à criança ou adolescente em situação de risco, assim como, o Poder Legislativo precisam priorizar a elaboração e votação de leis com prioridade total, e o Poder Judiciário deve garantir que os processos que envolvem crianças e adolescentes sejam céleres e que tenham juízes comprometidos (NUCCI, 2017, p.8). 4.DIREITO FUNDAMENTAL: À VIDA E À SAÚDE (Arts. 7º a 14): Em consonância com os princípios gerais de Direitos Humanos, adotados pelos pactos internacionais, os direitos fundamentais à vida e à saúde, estão contemplados expressamente no artigo 7º, que diz “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. 8 O legislador preocupou-se em garantir os direitos da infância desde a fase gestacional, incluindo o planejamento reprodutivo, assegurando a todas as mulheres o acesso a programas de saúde, nutrição, atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no SUS. Inclusive, a partir da lei da 1ª infância, a gestante tem direito a ter garantida sua vinculação, no último trimestre da gestão, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher. Essas mães terão asseguradas pelo poder público, assistência psicológica, para prevenir o estado puerperal, assistência para aquelas que tem interesse em entregar seus filhos para adoção e para auxiliar mães que estejam em situação de privação de liberdade. O poder público, a partir da Lei n. 13.257/2016, deverá garantir à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança (Art. 8º, §§ 2, 4, 5 e 10, ECA). Quanto as garantias de aleitamento materno, oartigo 9º, do ECA, traz que o poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. Ainda, os serviços e unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de leite humano (Art. 9º, §2º, ECA). Outras ampliações às garantias de direitos fundamentais como a saúde, trazidas pela Lei da 1ª Infância, cabe destacar os §§1º e 2º, do artigo 11, o qual reforça a garantia ATENÇÃO! Em relação às mulheres que desejam entregar seus filhos para adoção, estas serão obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude, de acordo com o artigo 13, §1º, do ECA. Incorre em sanção administrativa, o médico, enfermeiro, dirigente de estabelecimento de saúde ou funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar, que deixar de encaminhar (art. 258-B, ECA). 9 de atendimento sem discriminação ou segregação de crianças e adolescentes com deficiência e o dever de oferecer gratuitamente: medicamentos, órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes. Nesse sentido, a obrigação de promover assistência médica, odontológica e vacinação, de acordo com o artigo 14, §§2º e 3º, ECA. 5. DIREITO FUNDAMENTAL: À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (Art. 15 a 18-B): O capítulo II do Estatuto da Criança e do Adolescente, traz em sua redação que as crianças e os adolescentes têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição Federal e nas leis esparsas, assim como, nos tratados internacionais. Possuem, portanto, direito de ir, vir, ter opinião, crença, brincar, praticar esportes, divertir-se, participar da vida familiar e comunitária sem discriminação. De suma importância, os artigos 18-A e 18-B, do ECA, que foram introduzidos pela Lei n. 13.010/2014, inovação legislativa para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. Além disso, é dever dos pais, integrantes da família ampliada, responsáveis, agentes públicos ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e adolescentes, de trata- • Sofrimento físico • LesãoCastigo Físico • Humilhe • Ameaçe • Ridicularize Tratamento cruel ou degradante 10 los, educa-los ou protege-los de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como forma de correção, disciplina, estando sujeitos às sanções pelo Conselho Tutelar, como: a) encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família. b) encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico. c) encaminhamento a cursos ou programas de orientação. d) obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado. e) advertência. 6.DIREITO FUNDAMENTAL: À EDUCAÇÃO, CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER (Arts. 53 a 59) A criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. O artigo 53, inciso V, do ECA assegura o acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica (segundo alteração advinda em junto de 2019), e o artigo 54, do ECA, elenca rol de deveres do Estado, dentre os quais: a) de ensino fundamental, obrigatório e gratuito (para qualquer idade e como oferecimento de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde). b) ensino médio. c) ensino educacional especializado aos portadores de deficiência. d) atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos. e) oferta de ensino noturno. f) de acesso ao ensino mais elevado, da pesquisa e criação artística. Os pais ou responsáveis são obrigados a matricular seus filhos ou pupilos no ensino regular. Os pais podem contestar critérios avaliativos, organizar e participar de entidades estudantis, de forma democratizada. 11 Aos educadores e dirigentes de estabelecimento de ensino, cabe o dever de comunicar maus-tratos, reiteração de faltas injustificadas, evasão escolar, elevados níveis de repetência, segundo o artigo 56, do ECA. Além disso, conforme Art. 58, no processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. E os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude, conforme artigo 59, do ECA. A lei 13.840/2019 acrescentou ao estatuto o artigo 53-A, o qual trata sobre o dever das instituições de ensino, clubes e agremiações recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas ilícitas. 7.DIREITO FUNDAMENTAL: À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO AO TRABALHO (Art. 60 a 69): O direito à profissionalização e ao trabalho protegido estão assegurados somente para os adolescentes. Isto porque, o trabalho infantil é proibido, mas o trabalho do adolescente é permitido, desde que atenda alguns critérios. O artigo 60, do ECA, possui uma redação confusa, traz em sua redação que “é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”, essa redação nos faz pensar que é possível o trabalho antes dos quatorze anos, se for na condição de menor aprendiz, mas esse NÃO é o entendimento correto! A partir da leitura do artigo 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal, podemos perceber que a idade mínima é de 14 anos, trabalho na condição de aprendiz, sendo que crianças e adolescentes até 14 anos incompletos NÃO PODEM TRABALHAR. 12 A partir dessa leitura e também da leitura dos artigos 403, 404 e 428 da CLT, podemos concluir que: Por fim, importante ressaltar que mesmo na condição de menor aprendiz, o adolescente tem direito a capacitação profissional, bolsa de aprendizagem, direitos trabalhistas e previdenciários, de acordo com os artigos 64 a 69, do ECA. 8.DIREITO FUNDAMENTAL: A PREVENÇÃO ESPECIAL (Arts. 70 a 85): Trata-se do sistema de prevenção, atribuindo individualmente, coletivamente e ao Estado, o dever de prevenir a ocorrência de ameaça, riscos iminentes e futuros, de violação de direitos de crianças e adolescentes (art. 70, do ECA). O ECA estipula medidas preventivas relativas a informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espetáculos (art. 74 a 80), a produtos e serviços (art. 81 e 82) e a viagens de crianças e adolescentes (art. 83 a 85). 13 É da União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, o dever de agir de forma articulada e com integração dos órgãos do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Conselho Tutelar, os Conselhos de Direitos da Criança e dos Adolescentes e entidades não governamentais, que atuam na proteção e defesa de direitos, o deve de articular políticas públicas e executar ações destinada a promoção de campanhas educativas, formação e capacitação de profissionais da saúde, educação e da assistência social. Também, promove pela articulação dos órgãos públicos e da sociedade na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formasnão violentas de educação de crianças e adolescentes (ZAPATER, 2017, p.1008), conforme o artigo 70-A e incisos, do ECA, incluído através da Lei n. 13.010/2014. 8.1 Da informação, cultura, lazer, esportes, diversão e espetáculos: O poder público é responsável por regular as diversões e espetáculos públicos, informando em lugar de visível e fácil acesso, a natureza, local, horário e a faixa etária que poderá assistir ou participar (art. 74, do ECA). Sendo que, crianças menores de 10 anos deverão estar sempre acompanhadas dos pais ou responsáveis. As emissoras de rádio e televisão devem respeitar horários recomendados para público infantil, sendo que nada poderá ser apresentado ou anunciado sem o aviso prévio da classificação etária. Essa regra aplica-se aos proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas/revistas/CD’s/DVD’s/ ou qualquer tipo de material, cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente. ATENÇÃO! Nos casos de revistas ou publicações com conteúdo impróprio ou inadequado, deverão ser comercializadas em embalagens lacradas, com advertência de seu conteúdo, todavia, se o conteúdo inadequado estiver na capa, a embalagem deverá ser opaca. 14 As revistas e outras publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Os estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou similares e casas de jogos, deverão cuidar para que não seja permitida a entrada de crianças e adolescentes, afixando orientação na entrada do local. 8.2 Produtos e Serviços É proibida a venda às crianças e adolescentes, de armas, munições, explosivos, bebidas alcoólicas, produtos que possam causar dependência física ou psíquica, fogos de estampido e de artifício (exceto de reduzido potencial ofensivo), revistas e publicações inadequadas, bilhetes lotéricos e equivalente, segundo o artigo 81, do ECA. Portanto, veda-se hospedagem em hotéis, motéis, pensões e estabelecimentos congêneres para evitar problemas como a fuga de casa, sequestro, prática de sexo não autorizado, encontros ocultos, para preservar a dignidade sexual de pessoas menores de 18 anos, evitando, assim, o estupro de vulnerável ou a o comércio sexual de crianças e adolescentes. A infração a essa regra importa em sanção administrativa, conforme o artigo 250, do ECA, com pena de multa, no caso de reincidência, além da multa o estabelecimento poderá ser fechado até 15 dias, e se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada. O artigo 82, do ECA, traz que é PROIBIDA a hospedagem de criança e adolescente em: Hotel, motel, pensão ou estabelecimentos congêneres. Salvo se AUTORIZADO ou ACOMPANHADO pelos pais ou responsáveis. Autorização: não precisa ser com firma reconhecida, basta uma simples autorização. 15 8.3 Autorização para viajar: Segundo as regras estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 83 a 85) e pela Lei 13.726/2018 temos as seguintes regras para viagem de crianças e adolescentes: Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019) § 1º A autorização não será exigida quando: a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019) b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019) 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco; 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável. § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: I - Estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; II - Viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. Lei da desburocratização: Art. 3º Na relação dos órgãos e entidades dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios com o cidadão, é dispensada a exigência de: [...] VI - Apresentação de autorização com firma reconhecida para viagem de menor se os pais estiverem presentes no embarque. É dispensável autorização judicial para crianças e adolescentes brasileiros que residem no exterior, quando estão voltando para seu país de domicilio, desde que estejam 16 na companhia de pais (ainda que um dos genitores, sem precisar de autorização escrita do outro), se estiverem desacompanhados ou acompanhados de terceiros maiores, deverá ter a autorização escrita com firma reconhecida. Deve-se comprovar a residência da criança ou adolescente no exterior, através de Atestado de Residência, emitido por repartição consular brasileira a menos de dois anos. Nenhuma criança ou adolescente brasileira poderá sair do Brasil, acompanhada de estrangeiro residente no exterior, sem prévia autorização judicial, salvo se o estrangeiro é seu genitor ou se a criança ou adolescente não tiver nacionalidade brasileira. Quando solicitado, a autoridade judiciária poderá conceder autorização validade até dois anos para viagem. Nestes casos, dos artigos 83, 84 e 85, se uma empresa de ônibus ou avião, por exemplo, transportar uma criança acompanhada de ascendente, mas sem a documentação que comprova o parentesco, estará incorrendo em ilícito administrativo previsto no artigo 251, do ECA, aplicando-se multa. ATENÇÃO! Não é necessária a autorização de genitores suspensos ou destituídos do poder familiar, devendo o interessado comprovar a circunstância por meio de certidão de nascimento devidamente averbada. 17 A partir do que foi estudado sobre as regras de viagem podemos concluir da seguinte forma as regras vigentes: 9.DIREITO FUNDAMENTAL À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA (Art. 19 a 52): As concepções de convivência familiar e comunitária tiveram grandes mudanças a partir de promulgação da Constituição Federal de 1988. Durante a vigência da Constituição 18 Federal de 1967, família era somente aquela constituída através do casamento, sendo ele indissolúvel. O Código Civil de 1916, que vigorou até 2002, previa que era legítimo somente os filhos concebidos no casamento, autorizado, porém, o reconhecimento voluntário, salvo se quanto a filhos “adulterinos ou incestuosos”, cujo reconhecimento de filiação era vedado (o que, posteriormente, foi revogado pela Lei de Investigação de Paternidade). A Constituição Federal de 1988, confere maior ênfase aos laços de consanguinidade e afetividade, do que ao casamento, além disso, adota-se a isonomia entre filhos havidos na constância do casamento e filhos havidos fora do casamento, sendo vedada qualquer discriminação, segundo o artigo 227, §6º, da CF. O atual entendimento é que a filiação passa a ser entendida como relação de parentesco de 1º grau e não mais vinculado aocasamento, tanto de natureza consanguínea (geração biológica), quanto a civil (por adoção), e seu reconhecimento passa a ser personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser oposto contra pais e herdeiros, indiferente se havidos fora ou dentro do casamento, possuindo os mesmos direitos, observado apenas o segredo de Justiça, segundo os artigos 20, 26 e 27, do ECA. 9.1 Poder familiar O poder familiar pode ser considerado como o direito/função/dever dos pais ou responsáveis, em relação aos deveres pessoais e patrimoniais com relação ao filho não emancipado, que deve ser exercido com observância do princípio do melhor interesse deste (ZAPATER, 2017, p. 1004). Segundo o artigo 21, do ECA, o poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. São deveres impostos ao poder familiar, tanto para família natural, família extensa ou ampliada e a família substituta: a) Dever de sustento: provisão de subsistência material, se estiver estudando em ensino superior, aplica-se por analogia as regras previdenciárias e tributárias, que 19 fixam idade final como dependência os vinte e quatro anos de idade (art. 77, §2º, da Lei n. 3.000/1999). b) Dever de guarda: direito ao filho de conviver com os pais. c) Dever de educação: abrange a educação formal, para instrução básica e a familiar (de crenças e cultura). É direito da criança e do adolescente permanecer no seio familiar, excepcionalmente ocorrerá a suspensão ou destituição do poder familiar. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê o acolhimento institucional (que substituiu o termo “abrigamento”), de criança e adolescentes que tiveram seus direitos violados e necessitam ser afastados temporariamente da convivência familiar, mas cuidado: Ainda, lembre-se do princípio do direito à convívio familiar e comunitário, assim, mãe privada de liberdade tem direito a visitas periódicas com seus filhos. O acolhimento institucional é medida aplicada a partir de decisão judicial, salvo em caráter de urgência, no caso de uma criança ou adolescente encontrado em situação de violação de direitos e não houver outra medida cabível no momento senão o encaminhamento à instituição de acolhimento, o Juiz da Infância e Juventude deverá ser notificado no prazo máximo de 24 horas sobre este acolhimento. A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária, é o que trata o artigo 19 e parágrafos, do ECA. Esse recolhimento passará por reavaliação no prazo de três meses, sendo que a manutenção ou a ATENÇÃO! O acolhimento familiar é medida excepcional, antes desta hipótese é necessário avaliar a possibilidade de afastar o agressor do convívio familiar ou da colocação da criança ou adolescente em família extensa. 20 reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência. A criança e adolescente em situação de acolhimento institucional tem direito a visitas, o qual só será suspenso pela autoridade judiciária no caso de existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. 9.2 Família natural Entende-se por família natural, segundo o artigo 25, caput, do ECA, a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes, isto é, corresponde ao parentesco biológico. As recentes alterações advindas das Leis n. 12.962/2014 e n. 13.257/2016, que alteraram a redação de alguns artigo do ECA, asseguraram que a carência de recursos materiais (art. 23), a dependência de substâncias entorpecentes ou a condenação criminal, com cumprimento de pena privativa de liberdade, do pai ou da mãe, salvo se for crime doloso contra o próprio filho(a), descendente ou contra outrem igualmente titular do poder familiar(art. 23, §2º), não implicam, por si só, na destituição do poder familiar. A perda ou suspensão do poder familiar só podem ser decretadas judicialmente, respeitado o contraditório e somente nas hipóteses previstas no Código Civil e se forem injustificadamente descumpridos os deveres de sustento, guarda e educação (art. 24, do ECA). 21 9.3 Família extensa ou ampliada: A família extensa ou ampliada é entendida por aquela formada além da unidade pais e filhos, isto é, parentes próximos, com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade afeto. 9.4 Família substituta: A colocação em família substituta ocorre em três modalidades: através da guarda, tutela ou da adoção, todas elas estão condicionadas a decisão judicial, sendo, em todos os casos, analisado se a família substituta possui compatibilidade com a natureza da medida e se oferece ambiente familiar adequado, segundo os artigos 28 e 29, do ECA. Considerando o profundo impacto que a colocação em família substituta causa, o Estatuto determina, que sempre que possível a criança será previamente ouvida por equipe interprofissional, sendo que sua manifestação será levada em consideração, já tratando-se de maior de 12 anos de idade, portanto, adolescente, será necessário o consentimento obrigatório, conforme artigo 28, §§1º e 2º, do ECA. Além disso, deve ser apreciado o parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, afim de preservar o melhor interesse. Os grupos de irmãos não serão separados, via de regra, salvo situações excepcionais de solução diversa, plenamente justificados, evitando o rompimento definitivo de qualquer modo. O estatuto procura ainda considerar a diversidade cultural, em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo. Respeitando a identidade social e cultural, costumes e tradições, prevalecendo a colocação familiar prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia. No caso de crianças indígenas, estas, deverão ter acompanhamento de antropólogos e de agentes da FUNAI. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção, segundo o artigo 31, do ECA. 22 No caso da gestante que pretende entregar o filho à adoção, esta deverá ser encaminhada à Justiça da Infância e Juventude, onde será ouvida por equipe interprofissional. O juiz buscará primeiro pela família extensa (no prazo de 90 dias), após o nascimento a mãe deverá confirmar sua vontade em audiência, até a audiência a mãe poderá retratar-se, ou então arrepender-se do seu consentimento até 10 dias contado da data de prolação da sentença de extinção do poder familiar. 9.4.1 Da guarda: Inicialmente cabe a nós lembrarmos que a guarda é um dos deveres inerentes do poder familiar, assim, preferencialmente são os pais (da família de origem) que detêm a guarda (ZAPATER, 2017, p. 1006). A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. Ela destina-se a regularizar a posse da criança ou do adolescente, podendo ser concedida no final de uma ação judicial, liminarmente ou incidentalmente, salvo nos casos de adoção estrangeira, que não poderá ocorrer de forma liminar ou incidental, segundo o artigo 33, §1º, do ECA. Em regra, a guarda será utilizada para casos de tutela e adoção, excepcionalmente para atender situações peculiares ou para suprir a falta dos pais ou responsáveis, podendo o direito de representação ser para apenas alguns atos determinados. Ela confere acriança ou ao adolescente a condição de dependente para qualquer fim, inclusive para fins previdenciários. Ela não impede o direito de visitas dos pais, ou o dever deles de prestar alimentos. A guarda pode ser revogada a qualquer momento mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público, segundo o artigo 35, do ECA. 23 9.4.2 Da tutela A tutela pode ser deferida a pessoa até 18 anos de idade, ela pressupõe a prévia decretação da perda do poder familiar e implica, necessariamente o dever de guarda. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, tem o prazo de 30 dias após a abertura da sucessão, para ingressar com o pedido de tutela, sendo que nesse pedido será avaliada a vontade do tutelando e também se não existe outra pessoa em melhores condições para assumir. A tutela está subordinada as regras do artigo 24, do ECA e também dos artigos 1.728 a 1.734 do Código Civil. É medida que visa suprir a ausência da representação legal dos pais, para cuidado da criança ou adolescente e de seus patrimônios. 9.4.3 Da adoção: A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, atribui a condição de filho ao adotado, análoga à do parentesco biológico, com os mesmos direitos e deveres, inclusivo sucessórios, desligando o adotado de qualquer vínculo com pais e parentes, segundo os artigos 39, §1º, e 40, do ECA. É vedada a adoção por procuração, ela ocorre somente pela via judicial, sendo observados os interesses do adotando. A criança ou adolescente deve contar com no máximo 18 anos de idade, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Segundo o artigo 41, §1º, do Eca, se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes. 24 Quem não pode adotar? Os ascendentes e os irmãos do adotando e quem tiver menos de 16 anos de diferença do adotado. O que precisa para adoção conjunta? Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. É possível a guarda compartilhada? Conforme §2º, do artigo 42, do ECA e artigo 1.583 e seguinte do Código Civil, é possível a aguarda compartilhada, salvo se houve a perda do ATENÇÃO! Requisitos para adotar: • Maiores de 18 anos idade (quem pretende adotar). • Menores de 18 anos de idade (criança ou adolescente). • Diferença de 16 anos de idade entre adotante e adotado. • Consentimento dos pais ou destituição do poder familiar. • Somente por via judicial. • Manifestação da criança e consentimento do adolescente. • Estágio de convivência (para formação de vínculos). NACIONAL: prazo máximo de 90 dias, podendo ser prorrogador por igual período (dispensado se houver vinculo, tutela ou guarda anterior, art. 46). Se adoção INTERNACIONAL: prazo mínimo de 30 dias e máximo de 45 dias, podendo ser prorrogado por igual período. Estágio de convivência internacional deve ser cumprido em território nacional. • Necessária prévia habilitação. • Idoneidade, motivos legítimos e desejo de filiação. 25 poder familiar. A guarda compartilhada corresponde a responsabilização conjunta do exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivem sob o mesmo teto (NUCCI, 2017, p. 186). E se o adotante falecer no curso do processo de adoção? A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando (art. 45), isto é, ela não poderá ser forçada, esse consentimento só será dispensado se os pais forem desconhecimento ou se ocorreu a destituição do poder familiar. Lembrando que o maior de 12 anos tem direito de consentir com a adoção. Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, será cumprido no território nacional, preferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de residência da criança. Depois de trânsito em julgado da ação de adoção (nacional ou internacional) a decisão será inscrita no registro civil mediante mandado, a inscrição constará o nome dos pais adotantes, bem como de seus ascendentes. A nova inscrição cancelará o registro ATENÇÃO! Família significa núcleo doméstico, pouco importa se é formada por pessoas heteroafetivas ou homoafetivas. Ainda que não haja previsão expressa quanto a possibilidade de adoção por causa homoafetivos, o STF decidiu pelo reconhecimento da União Estável homoafetiva (DPF 132), e a jurisprudência admite a possibilidade de ação. 26 original do adotado. A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante, inclusive será possível, a pedido de qualquer um deles, a modificação do prenome do adotado. O adotado, após completar 18 anos de idade, tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como, ter acesso irrestrito ao processo de adoção, sendo assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica, conforme artigo 48 e parágrafo único, do ECA. A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais, segundo artigo 48 e parágrafo único, do ECA. Cabe a autoridade judiciária manter na comarca ou foro regional, o registro de crianças e adolescente e pessoas aptas para adotar e serem adotadas. A inscrição será orientada pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude (art. 50 e parágrafos, do ECA). O Estatuto também prevê a criação e implementação de cadastros estaduais e a nível nacional, de crianças e adolescentes e postulantes à adoção. Para casais estrangeiros, o cadastro será distinto, e somente serão consultados na ausência de casais nacionais habilitados (brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros). Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar (§11, art. 50, do ECA). É possível pedido de adoção de quem não tenha prévio cadastro, desde que: Que o candidato seja domiciliado no Brasil. Se tratar de pedido de adoção unilateral. Se formulado por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade. Oriundo de quem detém tutela ou guarda legal de criança maior de três anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprova fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja verificada a ocorrência de má-fé ou qualquer situação prevista nos artigos 237 ou 328 do ECA. O candidato comprova, no curso do processo, que preenche os requisitos necessários para adotar, conforme previstos em lei. 27 Criançascom deficiência, doença crônica ou necessidades específicas de saúde tem prioridade no cadastro de adoção. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, os países devem ser ratificantes da Convenção de Haia, com as seguintes adaptações: a habilitação deve ocorrer Autoridade Central em matéria de adoção do país onde reside, a qual deverá emitir relatório sobre aptidão e enviará para a Autoridade Centra Estadual, com cópia para Autoridade Central Federal Brasileira, a Autoridade Centra Estadual poderá exigir complementações, de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente. As autoridades do Brasil devem analisar o pedido e emitir, com validade de um ano, o laudo de habilitação para adoção. Todo esse processo poderá ser intermediado por organismos credenciados, cadastrados pelo Departamento de Polícia Federal e aprovados pela Autoridade Central Federal Brasileira. Após o trânsito em julgado da decisão que concede a adoção é expedido o alvará de autorização de viagem do adotando. 10.AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO: PARTE ESPECIAL As políticas de atendimento são um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, que tem como linha de ação desde as políticas básicas até os serviços especiais de prevenção, identificação e proteção dos direitos e garantias de crianças e adolescentes (art. 87, do ECA). Os atendimentos ocorrem de forma municipalizada, existe a criação dos conselhos municipais, estaduais e nacionais, órgão deliberativo e controlador das ações em todos os níveis, que visa assegura a participação popular, a função do membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais não é remunerada, pois considera-se como de interesse público relevante. O Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente é responsável por manter os registros das inscrições das entidades de atendimento, assim como, por 28 reavaliar, a cada dois anos, os programas em execução, constituindo critérios para renovação da autorização de funcionamento. Essas entidades são fiscalizadas pelo judiciário, Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. Em caso de descumprimentos das obrigações, as entidades podem sofrer advertências, afastamento provisório ou definitivo de seus dirigentes, fechamento da unidade ou interdição do programa. Se for entidade não-governamental, poderá haver, além da advertência, a suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas, interdição ou suspensão do programa e cassação do registro, segundos os artigos 96 e 97, do ECA. 11.AS MEDIDAS DE PROTEÇÃO As medidas de proteção, são aplicáveis sempre que direitos reconhecidos são ameaçados ou violados, de acordo com o artigo 98, do ECA. São três hipóteses de cabimento para medidas de proteção: As medidas de proteção podem ser aplicadas isoladas ou cumulativamente, bem como, substituídas a qualquer tempo, elas não correspondem a qualquer tipo de sanção ou punição (inclusive nos casos de crianças ou adolescente autor de ato infracional), sua propositura serve para cessar a violação de direito ou para parar com alguma ameaça de direitos. Deve-se levar em conta sempre o caráter pedagógico e a necessidade de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (art. 99 e 100, do ECA). Verificada alguma das hipóteses do artigo 98, as autoridades competentes poderão aplicar as seguintes medidas de proteção (art. 101, do ECA): encaminhamento aos pais e responsáveis, orientação e acompanhamento, matrícula e frequência à escola, inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários (como para tratamento em problemas com 29 entorpecentes), requisição de tratamento médico, acolhimento institucional, inclusão em programa de acolhimento familiar, colocação em família substituta. O acolhimento institucional e o acolhimento em família substituta, são provisórios e excepcionais, correspondem a uma etapa de transição entre a reintegração familiar ou colocação em família substituta, não pode implicar na privação de liberdade. E, conforme parágrafo único do referido artigo, são também princípios que regem a aplicação das medidas: I - Condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos; II - Proteção integral e prioritária; III - responsabilidade primária e solidária do poder público; IV - Interesse superior da criança e do adolescente; V - Privacidade; VI - intervenção precoce; VII - intervenção mínima; VIII - proporcionalidade e atualidade; IX - Responsabilidade parental; X - Prevalência da família; XI - obrigatoriedade da informação; XII - oitiva obrigatória e participação. 11.1 Medidas pertinentes aos pais ou responsáveis: As medidas pertinentes aos pais ou responsável, estão previstas nos artigos 129 e 130, do ECA, são medidas aplicadas a eles, quando não observam os direitos e garantias de crianças e adolescentes e oferecem risco ou violam esses direitos. São medidas aplicadas aos pais ou responsáveis: encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; encaminhamento a cursos ou programas de orientação; obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua 30 frequência e aproveitamento escolar; obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; advertência; perda da guarda; destituição da tutela; suspensão ou destituição do pátrio poder familiar. Deve-se destacar o artigo 130, do ECA, a respeito da medida cautelar de afastamento do agressor da moradia, quando verificado maus-tratos, opressão ou abuso sexual, tendo como agressor os pais ou responsável. 11.2 Conselho Tutelar O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, segundo o artigo 131, do ECA. Será composto por 5 membros, escolhidos pela população local, para um mandato de 4 anos, permitida a reeleição, a idade mínima para concorrer será de 21 anos, além da idade mínima, deverá ter reconhecida idoneidade moral e residir no mesmo município (art. 132 e 133, do ECA). Atenção, antes da alteração advinda pela lei 13.824/2019, a reeleição do conselho era possível uma única vez, agora não existem mais limitações. Cabe a Lei municipal ou distrital definir local, dia, horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive sobre a remuneração. As principais atribuições do conselheiro são: atender crianças e adolescentes, bem como, seus pais ou responsável, aconselhar, requisitar serviços públicos na área da saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança, encaminhar ao Ministério Público notícia de violação de direitos, expedir notificações, assessorar o Poder Executivo local na elaboração de proposta orçamentária para planos e programas de atendimento, representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar. São impedidos de servir no mesmo Conselho (lembrando que mesmo município poderá haver mais de um Conselho Tutelar) marido e mulher, ascendente e descendente, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteada. O impedimento também se aplica para autoridade judiciária e ao 31 representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e Juventude, em exercício na comarcar, foro regional ou distrital. 12.ATO INFRACIONAL: Ato infracional é a conduta descrita como crime, ou como contravençãopenal, praticada por adolescente ou por uma criança (art. 103, do ECA), ao ato infracional praticado por criança, são aplicadas as medidas protetivas previstas no artigo 101, do ECA (art. 105, do ECA), já para os casos de ato infracional praticado por adolescentes, por se tratarem de pessoas penalmente inimputáveis, estão sujeitos as medidas socioeducativas, mediante procedimento pautado pelo devido processo legal (art. 110 e 111, do ECA) e assegurados os direitos individuais (art. 106 a 109, do ECA). Ato infracional não é sinônimo de crime, justamente pela ausência de um dos requisitos que é a falta de uma das condições para a culpabilidade, apesar de ser conduta típica e ilícita. A inimputabilidade penal do menor de 18 anos está prevista tanto no Estatuto, quanto no artigo 228 da Constituição Federal e no artigo 27 do Código Penal. Essa diferenciação de tratamento ocorre em razão do reconhecimento de que a pessoa menor de 18 anos se encontra em peculiar condição de desenvolvimento e, portanto, não possui a mesma maturidade emocional que um adulto, assim, em um processo criminal, o adolescente não é mero sujeito de intervenção, mas um sujeito de direito. Dentre as garantias individuais e o devido processo legal, cabe ressaltar o direito do adolescente de não ser privado da sua liberdade, salvo em flagrante ato infracional ou por ordem escrita e muito bem fundamentada da autoridade judiciária, baseada em indícios ATENÇÃO! Para efeitos do Estatuto da Criança e do Adolescente, considera-se a idade do adolescente na data do fato, não importando se completou a maio idade penal posteriormente ou durante o processo de verificação de ato infracional. 32 suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Sendo que os pais ou responsáveis sempre serão informados acerca do ocorrido e dos direitos. Uma eventual internação antes da sentença não poderá ultrapassar 45 dias, sendo que durante o processo criminal deverá ser garantida devida defesa, o direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. O adolescente autor de ato infracional não poderá ser transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física e moral. A privação provisória de liberdade poderá ocorrer de forma excepcional quando: a) Flagrante ato infracional. b) Ou por ordem escrita, baseada em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Ocorrendo a privação de liberdade provisória, o adolescente deverá ser identificado e informado a ele seus direitos. Caso não seja libertado, deverá ocorrer a comunicação imediata à família ou pessoa por ele indicada. A prisão provisória não poderá exceder 45 dias, sendo eles improrrogáveis. Direitos assegurados: a) Conhecimento do ato, através da citação b) Igualdade nas relações. c) Defesa técnica e gratuidade da justiça d) Direito de ser ouvido pela autoridade competente. e) Direito de solicitar a presença dos pais ou responsáveis f) Impossibilidade de ser conduzido em compartimento fechado de veículo policial (art. 178). g) Vedação da internação em sistema prisional (art. 185). 12.1 Dos procedimentos para apuração de ato infracional: Os procedimentos são regulados pelo Estatuto, apenas na falta de regulamentação específica é que serão aplicados, de forma subsidiária, as normas gerais previstas na legislação processual pertinente (art. 152, ECA). Procedimentos judiciais que envolvam 33 criança e adolescente possuem prioridade absoluta na tramitação, assim como atos e diligências. O adolescente poderá ter ingresso no sistema de justiça, a partir do ato infracional, de três maneiras: 1) Flagrante: o adolescente é apreendido enquanto praticava o ato infracional, ou logo após ter praticado (art. 106 e 172 ECA). 2) Por ordem judicial: a autoridade judiciária competente determina a apreensão do adolescente (art. 106, do ECA). 3) Indícios de participação em crime envolvendo adultos: se identificado que adolescente tem coautoria com maior, é realizado remessa do relatório das investigações e documentos juntados ao Ministério Públicos (art. 173). Quando ocorre a apreensão de um adolescente por ato infracional, imediatamente a autoridade judiciária competente e a família do apreendido precisam ser comunicadas, a autoridade policial deverá, ainda, lavrar o auto de apreensão, ouvir testemunhas e o adolescente, apreender o produto ou instrumento da infração, requisitar exames ou perícias, se não foi o caso de flagrante, a autoridade policial substituirá o auto de apreensão pelo boletim de ocorrência (art. 173, ECA). Sempre que possível, se comparecer qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será liberado sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público no mesmo dia ou até o primeiro dia útil subsequente (art. 174, ECA). Em caso de gravidade do ato e sua repercussão social, o adolescente permanecer apreendido, a autoridade policial deverá apresenta-lo ao MP ou a uma unidade de atendimento em até 24hs (art. 175, ECA). Em caso de não comparecimento, o MP poderá requisitar concurso das polícias civil e militar (art. 179, parágrafo único, ECA). Feito isso, o Ministério Público poderá tomar três decisões (art. 181, ECA): 34 1) Promover o arquivamento dos autos: quando o promotor de justiça não identificar a existência do fato, ou se o fato não constituir ato infracional, ou se não estiver comprovado a autoria ou participação do adolescente na prática do fato, o parquet promoverá pelo arquivamento, cabendo ao juiz homologar ou não. Se o juiz discordar do pedido do promotor de justiça, deverá remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, para que ofereça representação, designe outro membro do MP para apresentar ou ratifique o pedido de arquivamento, estando, então, a autoridade obrigada a homologar (art. 181, §2º, do ECA). 2) Conceder a remissão: a remissão é uma causa de exclusão do processo, ou seja, é um perdão judicial embasado na Lei, para atos infracionais mais brandos, e volta- se para adolescentes primários (sem antecedentes). A Remissão extrajudicial, na fase do procedimento, é apenas do MP (NUCCI, 2017, p. 640). Não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação (art. 126 a 128, ECA). 3) Representar à autoridade judiciária para aplicação de medida socioeducativa: diferente do processo penal, no Estatuto da Criança e do Adolescente, não existe a denúncia, mas sim a representação, essa é a peça judicial que dá início à ação socioeducativa. Ela conterá o resumo dos fatos, a classificação do ato infracional, rol de testemunhas, não sendo necessária prova pré-constituída da autoria e materialidade (art. 182, ECA). O juiz também poderá conceder remissão, durante a ação socioeducativa, não ocorrendo, o advogado ou defensor nomeado terá o prazo de 3 dias, para apresentar DEFESA PRÉVIA e rol de testemunhas. Na audiência serão ouvidas as testemunhas, debates orais (Ministério Público e defensor, cada um com o tempo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos), na sequência a autoridade judiciária proferirá sentença (art. 186, do ECA). Se o adolescente, devidamente notificado, não comparecer, 35 injustificadamente à audiência de apresentação, a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua condução coercitiva (art. 187, ECA). Na sentença, o juiz poderá decidir de 3 formas: 1) Aplicar remissão: A remissão, como forma de extinçãoou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença (art. 188, ECA). 2) Não aplicar nenhuma medida: o juiz poderá deixar de aplicar qualquer medida quando estiver provada a inexistência do fato, se não houver provas do fato ou da autoria/participação do adolescente, não constituir fato infracional (art. 189, ECA). 3) Aplicar medida socioeducativa: Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as medidas socioeducativas, que serão estudadas no próximo capítulo (art. 112, ECA). 13. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: Como já vimos, medidas socioeducativas não tem natureza de pena e por que é importante sabermos isso? Porque as condutas infracionais apesar de corresponder a crimes, não tem previsão de sanção específica, isso se dá, pois, a medida socioeducativa é aplicada conforme a necessidade de proteger e reintegrar o adolescente ao convívio social, por meio de ações pedagógicas e educacionais. Lembrando que se falarmos de ato infracional praticado por criança, poderá ser aplicado somente medida de proteção e se for ato infracional praticado por adolescente, teremos a possibilidade de aplicar medida socioeducativa ou medida de proteção, em ambos os casos, sempre respeitando o princípio da proteção integral. Outro motivo para não confundirmos com crime, é que ato infracional não gera condenação criminal, portanto, não gera reincidência (embora seja possível verificar os antecedentes do adolescente). Todavia, aplica-se as regras de prescrição penal nas medidas socioeducativas, segundo a súmula n. 338 do STJ. 36 O artigo 112 do ECA traz o rol taxativo de medidas socioeducativas, são medidas de meio aberto: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida. Já as medidas restritivas de liberdade: semiliberdade e internação. Na aplicação de medida deve ser considerado: capacidade do adolescente de cumprir, as circunstâncias do fato e a gravidade do ato. Atenção: a oferta irregular de programas em meio aberto não é motivo para privar a liberdade (art. 49, §2º da Lei 12.594/2012). Vale lembrar que a Lei n. 12.594/2012 instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), a qual regulamenta a execução das medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes infratores e também estabelece princípios orientadores da execução de medidas, bem como, direitos individuais. O SINASE é fiscalizado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), sendo gerido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Compete aos munícipios formular, instituir, coordenar e manter o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo, respeitadas as diretrizes fixadas pela União e pelo respectivo Estado (Art. 5º, do SINASE). Os princípios norteadores da execução das medidas socioeducativas estão previstos no artigo 35 do SINASE. O juízo da infância e da juventude é competente para executar medidas socioeducativas, a execução dessas medidas é realizada a partir de um plano individual de atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente (Art. 52, SINASE). O plano é elaborado pela equipe técnica do programa de atendimento, com a participação dos pais ou responsável, que tem o dever de contribuir com o processo ressocializador. Neste plano deve constar os resultados da avaliação interdisciplinar, os objetivos, previsão de atividade de integração social e/ou capacitação, entre outras (art. 54, SINASE). Quanto aos direitos individuais, o SINASE traz em seu artigo 49 o seguinte rol, sem prejuízo das garantias previstas no ECA. Os procedimentos aplicáveis para a execução das medidas são disciplinados pelos artigos 36 a 48 da Lei do SINASE, sendo importante destacar que a gravidade do ato 37 infracional, os antecedentes e o tempo de duração da medida não são fatores que, por si, justifiquem a não substituição da medida por outra menos graves (Art. 42, §2º, do SINASE). A substituição por medida mais gravosa somente ocorrerá em situações excepcionais, após o devido processo legal, quando ocorrer o descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (art. 122, III, do ECA). A autoridade judiciária dará vistas da proposta de plano individual de que trata o art. 53 desta Lei ao defensor e ao Ministério Público pelo prazo sucessivo de 3 (três) dias, contados do recebimento da proposta encaminhada pela direção do programa de atendimento. O defensor e o Ministério Público poderão requerer, e o Juiz da Execução poderá determinar, de ofício, a realização de qualquer avaliação ou perícia que entenderem necessárias para complementação do plano individual. Admitida a impugnação, ou se entender que o plano é inadequado, a autoridade judiciária designará, se necessário, audiência da qual cientificará o defensor, o Ministério Público, a direção do programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável. Findo o prazo sem impugnação, considerar-se-á o plano individual homologado (art. 41, SINASE). Aplica-se as regras de prescrição penal nas medidas socioeducativas, segundo a súmula n. 338 do STJ. Outras súmulas importantes: Súmula 265 STJ: é necessária a oitiva do adolescente antes de regressão de regime. Lembrando que: privação de liberdade como sanção tem o limite de 3 meses. Súmula 342, STJ: é nula a desistência de outras provas em face da confissão do adolescente. 14.ESPÉCIES DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVAS: 14.1 Advertência: A advertência consiste em uma admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada, segundo o artigo 115, do ECA. Ela é geralmente utilizada para ato infracional leve, ou para adolescente sem histórico de práticas infracionais. Sua aplicação pode ser tanto do Ministério Público (antes da instauração do procedimento, quando é dada a 38 concessão da remissão) ou, então no curso da ação, na instrução do procedimento ou na sentença final, pela autoridade judiciária (ZAPATER, 2017, 1016). 14.2 Obrigação de reparar o dano: A medida socioeducativa de reparar o dano está prevista no artigo 116, do ECA, trata-se do ato infracional com reflexos patrimoniais, nestes casos, a autoridade poderá determinar que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Se for manifestamente impossível, a medida pode ser substituída por outra adequada. 14.3 Prestação de serviço à comunidade: Prevista no artigo 117, do ECA, a medida socioeducativa de prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. 14.4 Liberdade assistida: Está prevista nos artigos 118 e 119, do ECA, trata-se de medida socioeducativa que consiste na designação de um orientador para acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Cabe a direção do programa de prestação de serviços à comunidade ou de liberdade assistida, segundo o artigo 13, do SINASE, selecionar e credenciar orientadores, bem como, de receber o adolescente, os pais ou responsável, orientá-los sobre a finalidade da medida, encaminhar o adolescente ao orientador, o qual irá promover socialmente o adolescente e sua família, supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do 39 adolescente, promovendo,inclusive, sua matrícula, diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho e apresentar relatório do caso. 14. 5 Regime de semiliberdade: Previsto no artigo 120, do ECA, o regime semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição da internação para o meio aberto, possibilita a realização de atividades externas, são obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. A medida não comporta prazo determinado (nem mínimo, nem máximo) aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação. De dia o adolescente realiza atividades normais, a noite fica na unidade de internação. Apesar de não ter prazo mínimo, seu prazo máximo é de três anos (por analogia à medida de internação), sendo que a cada seis meses deverá passar por reavaliação para que seja verificado o seu progresso. 14.6 Internação: A internação é medida socioeducativa mais grave, prevista nos artigos 121 a 125, do ECA, constitui-se em medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Mesmo com a internação, é possível o adolescente realizar atividades externas, salvo determinação contrária da autoridade judiciária. A internação não possui prazo mínimo, apenas máximo, sendo de 3 anos, devendo a cada seis meses, ser reavaliada a internação. Quando atingido os 3 anos, o adolescente deverá ser colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. Se o adolescente tiver completado 21 anos, neste caso a liberação será compulsória. Em todos casos, será ouvido o Ministério Público. 40 A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao acolhimento institucional por medida de proteção, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração, e deverão conter obrigatoriamente, atividades pedagógicas. O ECA prevê expressamente no artigo 124, do ECA, que o adolescente privado de liberdade terá direito de entrevistar-se com o representante do MP; peticionar diretamente a autoridade; avistar-se reservadamente com seu defensor; ser informado sobre seu processo sempre que solicitar; ser tratado com respeito e dignidade; permanecer internado na mesma localidade ou próxima ao domicílio dos pais ou responsável; receber visitas semanalmente; corresponder-se com familiares; ter acesso aos objetos de higiene e asseio pessoal; alojamento higiene e salubre; receber escolarização e profissionalização; realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; ter acesso aos meios de comunicação social; receber assistência religiosa se desejar; dispor de lugar seguro para guardar seus pertences; receber seus documentos quando posto em liberdade. Jamais haverá a incomunicabilidade do adolescente. A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. ATENÇÃO! A medida de internação poderá ser aplicada em 3 situações: 1) Tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; 2) Por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 3) Por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta: neste caso o prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal. 41 Poderá realizar atividade externas, a partir dos critérios dos educadores que lhe acompanham, salvo se o juiz restringir. Passará por reavaliação a cada seis meses para que seja verificado seu progresso. 15. OUTROS PROCEDIMENTOS: O procedimento para perda ou suspensão do poder familiar e para colocação em família substituta estão regulados pelos artigos 155 a 170, do ECA. 15.1 Perda ou suspensão do poder familiar: Pode ser iniciado pelo Ministério Público, pelos pais, ou qualquer pessoa que tenha interesse, como um membro da entidade familiar. Ao receber a petição inicial. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do pátrio poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente. O procedimento tem prioridade na tramitação, o prazo é em contagem de dias corridos, conforme estabelece o estatuto (não em dias úteis, conforme código de processo civil). Todos procedimentos regulados pelo ECA possuem isenção de custas e emolumentos. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente. 42 15.2 Colocação em família substituta: O procedimento para colocação de criança ou adolescente em família substituta é instaurado por petição inicial ajuizada por quem tiver interesse. A inicial poderá conter pedido de guarda provisória e nos pedidos de adoção o requerimento para a determinação do estágio de convivência (art. 167, do ECA). No caso de pais vivos e conhecidos, deverão ser citados para apresentar resposta na ação de destituição do poder familiar, sob pena de violação do princípio da ampla defesa e do contraditório. Ademais, no caso de pedido de adoção, os pais deverão ser citados para que confirmem o seu consentimento perante o juiz. O juiz requererá a realização de estudo social, ou perícia por equipe de profissionais interprofissional, para decidir sobre a concessão de guarda provisória, ou no caso de adoção, pelo estágio de convivência. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias. 16.SISTEMA RECURSAL: Em regra os procedimentos que acontecem na Justiça da Infância e Juventude são os que versem sobre: ato infracional; pedido de adoção; interesses individuais, difusos ou coletivos; decorrentes de irregularidades de entidades de atendimento às crianças e adolescentes; nos casos de penalidades administrativas; casos encaminhas ao Conselho Tutelar; ou qualquer caso que poderia ser da Vara de Família, mas como possuí uma situação de risco junto são atraídos para a Vara da Infância e Juventude. O artigo 198, do ECA, determina que nas ações relativas a Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal do Código de Processo Civil com as seguintes adaptações: Não haverá necessidade de preparo para interposição de recursos; Prazos recursais são de 10 dias, salvo embargos de declaração que são 5 dias; Terão preferência no julgamento; Dispensam revisor; Da sentença de adoção, de destituição de poder familiar ou ato infracional, só cabe 43 efeito devolutivo, exceto: a) adoção internacional; b) Perigo de dano irreparável ou de difícil reparação; ocasião que será possível efeito suspensivo do processo. Ainda, caberá apelação das decisões proferidas com base no artigo 149 (que trata da competência da autoridade judiciária para disciplinar,
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