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Penal -Roteiro 02 - História Direito Penal

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Página 1 de 80 
NOME DO ALUNO 
Camila Fragozo Vargas e 
 Radharani Bertazzo da Silva 
2020-04 ESTUDO DIRIGIDO 
DIREITO 
PENAL 
1 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
DO DIREITO PENAL 
 
ORIENTAÇÕES: 
1. Preencha os tópicos abaixo, utilizando ao menos TRÊS autores diferentes, fazendo as 
devidas citações dos mesmos em notas de rodapé, e referindo exemplos esclarecedores. 
2. Ao final, CRIE UMA questão objetiva, que abranja todo o conteúdo do presente estudo, e 
UMA questão objetiva sobre um conteúdo específico, destacando-as com a resposta correta. O 
critério para avaliação deste item será a ORIGINALIDADE (o não envolvimento do nome do 
Professor.) 
3. O trabalho deverá ser entregue em formato PDF, com o corpo do texto em fonte Calibri, 
tamanho 12, em parágrafos com o alinhamento justificado, 6 pontos “antes” e 0 pontos “depois”, 
e recuo de 1,25cm na primeira linha. As notas de rodapé em fonte Calibri, tamanho 9, em 
parágrafos com o alinhamento justificado, 6 pontos “antes” e 0 pontos “depois”, e Hanging de 
0,5cm. O documento deverá ter margem direita em 1,5cm e as demais em 2,0cm. 
Bom trabalho!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 ORIGENS HISTÓRICAS 
Conforme as palavras de Noronha: “A história do direito penal é a história da humanidade. 
Ele surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra 
sinistra, nunca dele se afastou.”1 
Conforme as palavras de Luiz Flávio Gomes: “O Direito penal o instrumento de controle 
(social) mais drástico com que conta o Estado, precisamente porque dispõe dos meios coativos mais 
gravosos (penas e medidas de segurança), mais ameaçadores aos direitos fundamentais da pessoa, 
desde o Iluminismo (veja em seguida as bases desse movimento filosófico) a preocupação do 
penalista crítico sempre foi a de construir limites ao exercício desse poder.”2 
Conforme as palavras de Francisco de Assis Toledo: “A verdadeira história do direito penal 
brasileiro começa, pois, no período colonial, com as Ordenações Afonsinas, vigentes em Portugal à 
época do descobrimento, seguidas pelas Manuelinas e, por último, pelas Filipinas. Mas, na verdade, 
em relação ao Brasil, as Afonsinas não chegaram a ter aplicação, por ausência de uma organização 
estatal adequada; as Manuelinas, publicadas em 1521, tiveram, por sua vez, aplicação escassa, até 
que foram substituídas pelas Filipinas, publicadas em janeiro de 1603 e revalidadas por D. João IV em 
1643. Estas últimas, as Filipinas, em cujo Livro V se encontra a codificação penal do Reino, é que 
foram aplicadas, com toda a sua dureza, durante o Brasil colonial e, depois disso, até a edição e início 
de vigência do Código Criminal do Império, de 1830. Note-se que, mesmo depois da Independência 
(7-9-1822), continuou o país a reger-se por aquelas ordenações até se dar a sua substituição pelo 
ordenamento jurídico editado pelo Estado recém- criado.” 3 
 
Deste modo compreendemos por origens históricas do direito penal, que ela vem das 
primeiras civilizações humanas, levando até as primeiras sociedades. O direito desde os primórdios 
sempre teve uma imagem punitiva embasada pelas diversas culturas onde se estalava. No Brasil por 
sua vez o Direito Penal veio aos moldes do Direito Português, sendo que a utilização da expressão 
Sistema Normativo veio a delimitar a ser um conjunto de normas que foram utilizadas no Brasil desde 
o seu descobrimento. Ressaltamos que o Direito Português exerceu em sua amplitude uma enorme 
influência na formação aplicada à legislação penal brasileira, pelo motivo de sua grande importância 
influenciadora, pois somente no meado de 1830 veio a surgir o primeiro conjunto de normas penais 
sistematizadas e reduzidas em um único código. 
Exemplo: Na antiguidade a origem histórica do Direito Penal, já se dava quando em um reino 
existia a norma de que um agente não poderia cometer adultério contra sua esposa, se o mesmo o 
fizesse teria sua mão cortada. 
 
 
1
 Noronha, E. Magalhães Direito penal, vol 1 : introdução e parte geral — 38. ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2004. 
2
 GOMES. Luiz Flávio. Direito Penal: Parte Geral Introdução. 2ª. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. P 307. 
3
 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal: de acordo com a Lei n. 7 .2 0 9, de 1 1 -7-1 984 e com a Constituição 
Federal de 1988. 5ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. P 64. 
 
1.1 O antigo oriente 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “No Oriente antigo, fundava-se a punição 
em caráter religioso, castigando-se o infrator duramente para aplacar a ira dos deuses. Notava-se o 
predomínio do talião, que, se mérito teve, consistiu em reduzir a extensão da punição e evitar a 
infindável onda de vingança privada. Nas palavras de CEZAR ROEERTO BITENCOURT, “o castigo era 
aplicado, por delegação divina, pelos sacerdotes, com penas cruéis, desumanas e degradantes, cuja 
finalidade maior era a intimidação. Pode-se destacar como legislação típica dessa fase o Código de 
Manu [Índia], embora legislações com essas características tenham sido adotadas no Egito (Cinco 
Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia (Avesta), em Israel (Pentateuco) e na Babilônia”. 4 
Cuidando-se, particularmente, da Babilônia, deve-se fazer referência ao Código de Hamurabi, nos 
idos do século XXIII a.C., prevendo-se delitos e penas cruéis, embora admitindo-se a composição, que 
era a troca de bens materiais, quando se tratava de crime patrimonial. Mesmo assim, prevalecia o 
talião, encontrando-se lesão por lesão, morte por morte. Esse mesmo critério do talião estendeu-se à 
legislação hebraica, sob a nomenclatura de lei mosaica (originada na lei de Moisés). 5 Na Grécia 
antiga, como retrataram os filósofos da época, a punição mantinha seu caráter sacro e continuava a 
representar forte tendência expiatória e intimidativa. Em uma primeira fase, prevalecia a vingança de 
sangue, que terminou cedendo espaço ao talião e à composição.”4 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Seguindo, ainda, as lições de Magalhães Noronha, 
no que diz respeito à vingança divina: “Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas 
de conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo 
crime. Pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a 
grandeza do deus ofendido. É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. Um dos principais 
Códigos é o da Índia, de Manu (Mânava, Dharma, Sastra). Tinha por escopo a purificação da alma do 
criminoso, através do castigo, para que pudesse alcançar a bem-aventurança. Dividia a sociedade em 
castas: brâmanes, guerreiros, comerciantes e lavradores. Era a dos brâmanes a mais elevada; a 
última, a dos sudras, que nada valiam. Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. 
Aliás, podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente antigo. Além da 
Babilônia, Índia e Israel, o Egito, a Pérsia, a China etc.” 7 Era o direito aplicado pelos sacerdotes, ou 
seja, aqueles que, supostamente, tinham um relacionamento direto com um deus e atuavam de 
acordo com sua vontade. Incontáveis atrocidades foram praticadas em nome dos deuses, muitas 
delas com a finalidade de aplacar-lhes a ira. A criatividade maligna dos homens não tinha limites. As 
sociedades, nesse período, eram carregadas de misticismos e crenças sobrenaturais. Eventos da 
natureza, como chuvas, trovões, terremotos, vendavais etc., podiam demonstrar a fúria dos deuses 
para com os homens e, para tanto, precisava ser aplacada, mediante o sacrifício humano. Alguém era 
apontado como culpado e, consequentemente, devia ser entregue aos deuses.”5 
 
 
 
 
4
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.98 
5
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1.Niterói: Impetus,2017p.48 
 
 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Esse era, enfim, o espírito dominante nas 
leis dos povos do Oriente antigo (além da Babilônia, China, Índia, Israel, Egito, Pérsia etc.). Além da 
severidade, que era sua característica principal, decorrente do caráter teocrático, esse direito penal 
era aplicado pelos sacerdotes. Evoluiu-se, posteriormente, para a vingança privada, que poderia 
envolver desde o indivíduo isoladamente até o seu grupo social, com sangrentas batalhas, causando, 
muitas vezes, a completa eliminação de grupos. Quando a infração fosse cometida por membro do 
próprio grupo, a punição era o banimento (perda da paz), deixando-o à mercê de outros grupos, que 
fatalmente o levariam à morte. Quando, no entanto, a violação fosse praticada por alguém estranho 
ao grupo, a punição era a “vingança de sangue”, verdadeira guerra grupal. Com a evolução social, 
para evitara dizimação das tribos, surge alei de talião, determinando areação proporcional ao mal 
praticado: olho por olho, dente por dente. Esse foi o maior exemplo de tratamento igualitário entre 
infrator e vítima, representando, de certa forma, a primeira tentativa de humanização da sanção 
criminal. A lei de talião foi adotada no Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo (hebreus) e na Lei 
das XII Tábuas (romanos) 3. No entanto, como passar do tempo, como o número de infratores era 
grande, as populações iam ficando deformadas, pela perda de membro, sentido ou função, que o 
Direito talional propiciava. Assim, evoluiu-se para a composição, sistema através do qual o infrator 
comprava a sua liberdade, livrando-se do castigo. A composição, que foi largamente aceita, na sua 
época, constitui um dos antecedentes da moderna reparação do Direito Civil e das penas pecuniárias 
do Direito Penal. Mas, com a melhor organização social, o Estado afastou a vindita privada, 
assumindo o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, surgindo a vingança pública, que, 
nos seus primórdios, manteve absoluta identidade entre poder divino e poder político. A primeira 
finalidade reconhecida desta fase era garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação da 
sanção penal, ainda dominada pela crueldade e desumanidade, característica do direito criminal da 
época. Mantinha-se ainda forte influência do aspecto religioso, como qual o Estado justificava a 
proteção do soberano.” 6 
 
 Deste modo compreendemos que nas cidades e civilizações do antigo oriente, o direito, ainda 
rudimentar, tinha um cordão umbilical intrínseco ao meio religioso. Sendo assim o crime era a 
conduta que ofendia os preceitos divinos, e como consequência seria o castigo dos deuses. Por 
conseguinte, o líder religioso tinha a tarefa em trazer a vontade dos deuses até o alcance do seu 
grupo. 
 Exemplo: A Grécia era governada em nome de Zeus, assim se um cidadão grego cometesse 
qualquer crime que seja repressivo por Zeus ele teria que ter uma punição; na Roma Antiga por sua 
vez recebeu a Lei das XII Tábuas, assim se alguém não cumprisse o que estava escrito lá também 
receberia uma punição, etc. 
 
 
 
 
 
6
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012p.32 
 
 
1.2 Direito penal Romano 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “O direito romano, dividido em períodos, 
contou, de início, com a prevalência do poder absoluto do pater famílias, aplicando as sanções que 
bem entendesse ao seu grupo. Na fase do reinado, vigorou o caráter sagrado da pena, firmando-se o 
estágio da vingança pública. No período republicano, perdeu a pena o seu caráter de expiação, pois 
separaram-se o Estado e o culto, prevalecendo, então, o talião e a composição. Havia, para tanto, a 
possibilidade de entregar um escravo para padecer a pena no lugar do infrator, desde que houvesse a 
concordância da vítima – o que não deixava de ser uma forma de composição, como bem lembra 
PIERANGELI. 7 A Lei das XII Tábuas teve o mérito de igualar os destinatários da pena, configurando 
autêntico avanço político-social. Durante o Império, a sanção penal tornou-se novamente mais 
rigorosa, restaurando-se a pena de morte e instituindo-se os trabalhos forçados. Se na República a 
pena tinha caráter predominantemente preventivo, passou-se a vê-la com o aspecto eminentemente 
intimidativo. Entretanto, foi também a época de significativos avanços na concepção do direito penal 
romano, reconhecendo-se a divisão entre o público e o privado, desenvolveu-se a doutrina da 
imputabilidade, da culpabilidade e de suas excludentes, diferenciaram-se, quanto ao elemento 
subjetivo do delito, o dolo de ímpeto e o dolo de premeditação, entre outras conquistas.8 
Continuavam a existir, no entanto, as penas infamantes, cruéis, de morte, de trabalhos forçados e de 
banimento.”7 
Conforme as palavras de Cezar Roberto Bitencourt: “O Direito Romano oferece um ciclo 
jurídico completo, constituindo até hoje a maior fonte originária de inúmeros institutos jurídicos. 
Roma é tida como síntese da sociedade antiga, representando um elo entre o mundo antigo e o 
moderno. No período da fundação de Roma (753 a. C.), a pena era utilizada com aquele caráter sacral 
que já referimos, confundindo-se a figura do Rei e do Sacerdote, que dispunham de poderes 
ilimitados, numa verdadeira simbiose de Direito e religião. Durante a primitiva organização jurídica 
da Roma monárquica prevaleceu o Direito consuetudinário, que era rígido e formalista. A Lei das XII 
Tábuas (séc. Va. C.) foi o primeiro código romano escrito, que resultou da luta entre patrício se 
plebeus. Essa lei inicia o período dos diplomas legais, impondo – se a necessária limitação à vingança 
privada, adotando a lei de talião, além de admitira composição 5. Ainda nos primeiros tempos da 
realeza surge a distinção entre os crimes públicos e privados, punidos pelos lus publicum e lus civil e, 
respectivamente. Crimes públicos eram a traição ou conspiração política contra o Estado (perduellio) 
e o assassinato (parricidium), enquanto os demais eram crimes privados — delicta — por 
constituírem ofensas ao indivíduo, tais como furto, dano, injúria etc. O julgamento dos crimes 
públicos, que era atribuição do Estado, através do magistrado, era realizado por tribunais especiais, 
cuja sanção aplicada era a pena de morte. Já o julgamento dos crimes privados era confiado ao 
próprio particular ofendido, interferindo o Estado somente para regular o seu exercício. Os crimes 
privados pertenciam ao Direito privado e não passavam de simples fontes de obrigações. Na época 
do império surge uma nova modalidade de crime, os criminal extraordinária, “fundada nas 
ordenações imperiais, nas decisões do Senado ou na prática da interpretação jurídica, que resulta na 
 
 
7
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.99 
 
 
aplicação de uma pena individualizada pelo arbítrio judicial à relevância do caso concreto”. O núcleo 
do Direito Penal Romano clássico surge com o conjunto de leis publicadas ao fim da República (80 
a.C.), com as leges Corneliae e Juliae, que criaram uma verdadeira tipologia de crimes, para a sua 
época, catalogando aqueles comportamentos que deveriam ser considerados criminosos. As leges 
Corneliae preocuparam-se basicamente com aqueles crimes praticados nas relações interpessoais 
dos cidadãos — patrimoniais, pessoais etc. —, enquanto as leges Juliae preocuparam-se, 
fundamentalmente, com os crimes praticados contra o Estado, seja pelos particulares, seja pelos 
próprios administradores, destacando-se os crimes de corrupção dos juízes, do parlamento, 
prevaricação, além d e alguns crimes violentos, como sequestro, estupro etc. Duas ou três décadas 
antes de Cristo desaparece a vingança privada, sendo substituída pela administração estatal, que 
passa a exercer oius puniendi, ressalvando o poder conferido ao pater família e, mas agora já com 
restrições. O fundamento da pena, pode-se afirmar, era essencialmente retributivo, embora, nesse 
período final, apareça já bastante atenuado, vigindo o princípio da reserva legal, pois as leis Cornelia 
e Juliae exigiam que os fatos incriminados e as sanções correspondentes estives sempreviamente 
catalogados 7. A pena de morte, que praticamente havia desaparecido, pois, até a era de Adriano 
(117-138 d.C.), ressurge com grande força, no século II d.C., com o aparecimento dos chamados 
crimes extraordinários, tais como furto qualificado, estelionato, extorsão, aborto, exposição de 
infante. A esses crimes pode-se acrescentar os crimes essencialmente religiosos, como blasfêmia, 
heresia, bruxaria etc. A prisão era conhecida na Antiguidade tão somente como prisão-custódia, 
como depósito, uma espécie de antessala do suplício, onde os condenados aguardavam para a 
execução da pena propriamente dita. O Direito repressivo dessa compilação é basicamente o da 
época clássica, tendo por base as leis de Sila, Césare Augusto. Destacamos algumas das principais 
características do Direito Penal Romano 9 : a) a afirmação do caráter público e social do Direito Penal; 
b) o amplo desenvolvimento alcançado pela doutrina da imputabilidade, da culpabilidade e de suas 
excludentes; c) o elemento subjetivo doloso se encontra claramente diferenciado. O dolo — animus 
—, que significava a vontade delituosa, que se aplicava a todo campo do direito, tinha, juridicamente, 
o sentido de astúcia — dolus malus —, reforçada, a maior parte das vezes, pelo adjetivo má, o velho 
dolus malus, que era enriquecido pelo requisito da consciência da injustiça 10 ; d) a teoria da 
tentativa, que não teve um desenvolvimento completo, embora se admita que era punida nos 
chamados crimes extraordinários; e) o reconhecimento, de modo excepcional, das causas de 
justificação (legítima defesa e estado de necessidade); f) a pena constituiu uma reação pública, 
correspondendo ao Estado a sua aplicação; g) a distinção entrecrimina publica, delicta privata e a 
previsão dos delicta extraordinaria; h) aconsideração do concurso de pessoas, diferenciando a autoria 
e a participação 11 . Finalmente, nesse período, os romanos não realizaram uma sistematização dos 
institutos de Direito Penal. No entanto, a eles remonta a origem de inúmeros institutos penais que na 
atualidade continuam a integrara moderna dogmática jurídico-penal. Na verdade, os romanos 
conheceram o nexo causal, dolo, culpa, caso fortuito, inimputabilidade, menoridade, concurso de 
pessoas, penas e sua medição. Não procuraram defini-los, trabalhavam-nos casuisticamente, 
isoladamente, sem se preocupar com a criação, por exemplo, de uma Teoria Geral de Direito Penal.”8 
 
 
 
8
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012p.32 
 
 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “O Direito Romano pode ser considerado um dos 
marcos mais importantes da nossa história. Roma foi fundada em 753 a.C. e surgiu de uma pequena 
comunidade agrícola existente na península itálica no século VIII, tornando-se um dos maiores 
impérios do mundo antigo. Em virtude de uma proposta levada a efeito por um plebeu chamado 
Gaius Terentilius, em 462 a.C., que se opunha ao modo pelo qual as leis eram conhecidas e aplicadas, 
principalmente pelos patrícios, foi designado um decenvirato (um grupo de dez homens), que teve 
por encargo a preparação de um conjunto de leis que, posteriormente, ficou conhecido como Lei das 
XII Tábuas, que chegou a seu termo e foi promulgada de 451 a 450 a.C. Foi, originalmente, escrita em 
doze tabletes de madeira, que foram afixados no Fórum Romano, permitindo, assim, que todos as 
conhecessem e pudessem fazer a sua leitura. Sua temática estava dividida da seguinte forma: Tábuas 
I e II: Organização e procedimento judicial; Tábua III – Normas contra os inadimplentes; Tábua IV – 
Pátrio poder; Tábua V – Sucessões e tutela; Tábua VI – Propriedade; Tábua VII – Servidões; Tábua VIII 
– Dos delitos; Tábua IX – Direito público; Tábua X – Direito sagrado – Tábuas XI e XII – 
Complementares.”9 
 
Deste modo compreendemos que o Direito Penal Romano, veio como meio de auxilio para os 
romanos, pois mesmo tendo exércitos forte mente capacitados para qualquer eventualidade os 
mesmos acharam necessário, elaborar um avançado sistema jurídico, que mantivesse a ordem, a 
chamada pax romana, nas mais distantes regiões dominadas por seus governantes. Daí decorre o 
motivo de serem tão extraordinários no início da história da jurisdicidade, com seus institutos, 
práticas e entendimentos doutrinários perdurando até hoje. Os romanos não sistematizaram os 
institutos penais. Cada caso era julgado em sua particularidade. O processo penal teve relevante 
importância. Se tratando de Direito Penal em específico, o período primitivo de caráter 
essencialmente religioso, houve uma preocupação de laicizar o sistema repressivo, punindo o infrator 
com fundamento no interesse individual ou público. As infrações passam a ser divididas em crimes 
públicos (crimina pública) e privados (delicta privata). Os primeiros constituíam-se em atos 
atentatórios à segurança interna ou externa do Estado Romano e, por isso, cabia a este exercer a 
repressão contra o delinqüente. Com o transcorrer dos tempos outros atos passaram à categoria de 
crimes públicos, como é o caso do homicídio, originariamente sancionado pelos familiares da vítima 
sob a denominação. As penas eram severas, como de morte ou deportação. Os crimes privados 
ficavam sujeitos à repressão do ofendido ou de seus familiares e eram julgados pela justiça civil que, 
na maioria dos casos, impunha às partes a composição. Contribuindo assim decisivamente para 
evolução do Direito Penal com a criação de princípios penais sobre o erro, a culpa (leve e lata), dolo 
(bonus e malus), imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa e estado 
de necessidade, além do fim de correção da pena. 
 
 
 
 
9
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. p.50 
 
1.3 Direito penal Germânico 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “O direito germânico, de natureza 
consuetudinária, caracterizou-se pela vingança privada e pela composição, além de conhecerem a 
vingança de sangue. Sob tal prisma, LUIZ REGIS PRADO demonstra que, “de acordo com a concepção 
germânica antiga, o direito era entendido como sendo uma ordem de paz – pública ou privada – e o 
delito significava sua ruptura, perda ou negação – Friedlosigkeit. A reação era feita individualmente 
ou através do grupo familiar (Sippe), dando lugar à Faida (feithu), em que o agressor era entregue à 
vítima ou aos seus parentes para que exercessem o direito de vingança. Primitivamente, foi uma 
verdadeira guerra familiar; a partir do século IX se transformou em direito pessoal”. 9 Além de terem 
conhecido a pena de talião, por influência romana, adotaram, para a prova do crime, as denominadas 
ordálias ou juízos de Deus. Eram provas que submetiam os acusados aos mais nefastos testes de 
culpa: caminhar pelo fogo, ser 994. Colocado em água fervente, submergir num lago com uma pedra 
amarrada aos pés – e, caso sobrevivessem, seriam considerados inocentes; do contrário, a culpa 
estaria demonstrada, não sendo preciso dizer o que terminava ocorrendo nessas situações. Havia, 
também, os duelos judiciários, em que acabava prevalecendo a lei do mais forte.”10 
Conforme as palavras de “O Direito Germânico primitivo não era composto de leis escritas, 
caracterizando-se como um Direito consuetudinário. O Direito era concebido como uma ordem de 
paz e a sua transgressão como ruptura da paz, pública ou privada, segundo a natureza do crime, 
privado ou público. Areação à perda da paz, porcrime público, autorizava que qualquer pessoa 
pudesse matar o agressor. Quando se tratasse de crime privado, o transgressor era entregue à vítima 
e seus familiares para que exercessem o direito de vingança, que assumia um autêntico dever de 
vingança de sangue 12. Essa política criminal germânica, em seus primórdios, representava uma 
verdadeira guerra familiar, evoluindo para um direito pessoal a partir do século IX, para, finalmente, 
em1495, como advento da Paz Territorial Eterna, ser definitivamente banida. Os povos germânicos 
também conheceram a vingança de sangue, “que somente em etapas mais avançadas, como 
fortalecimento do poder estatal, foi sendo gradativamente substituída pela composição, voluntária, 
depois obrigatória” 13. Com a instalação da Monarquia, começa a extinção paulatina da vingança de 
sangue. A compositor consistia, em geral, no dever de compensar o prejuízo sofrido com uma certa 
importância em pecúnia, objetivando a supressão da vingança privada, que, em determinados casos, 
mais que um direito, era um dever da vítima ou de sua Sippe de vingar as ofensas recebidas. (...). A 
composição representava um misto de ressarcimento e pena: parte destinava-se à vítima ou seus 
familiares, como indenização pelo crime, e parte era devida ao tribunal ou ao rei, simbolizando o 
preço da paz. Aos infratores insolventes, isto é, àqueles que não podiam pagar pelos seus crimes, 
eram aplicadas, em substituição, penas corporais. Só tardiamente o Direito Germânico acabou 
adotando a pena detalião, por influência do Direito Romano e do Cristianismo. A responsabilidade 
objetiva também é característica do Direito Germânico. Há uma apreciação meramente objetiva do 
comportamento humano, onde o que importa é o resultado causado, sem questionar se resultou de 
dolo ou culpa ou foi produto de caso fortuito, consagrando-se a máxima: o fato julga o homem. Mais 
tarde, por influência do Direito Romano, começa-se a exigir um vínculo psicológico. Em relação ao 
 
10
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.99 
aspecto procedimental, adotava-se um Direito ordálico (provas de água fervendo, de ferro em 
brasaetc.).” 11 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “O Direito germânico primitivo não possuía fontes 
escritas, sendo suas normas transmitidas por meio dos costumes. Os problemas penais eram 
resolvidos pela vingança ou pela perda da paz (friedlosigkeit). O agente infrator era colocado fora da 
proteção jurídica do grupo a que pertencia, podendo ser perseguido e morto por qualquer pessoa. 
Por essa razão, segundo Aníbal Bruno, a friedlosigkeit “se torna uma modalidade de pena de morte, a 
mais velha e persistente das formas de reação anticriminal – também a mais absurda, nas condições 
do Direito Penal moderno.” 13 O direito aplicado a cada indivíduo variava de acordo com o grupo a 
que efetivamente pertencia. Aos poucos, o contato com o mundo romano fez com que esse direito 
consuetudinário fosse sendo modificado, uma vez que Roma prezava suas leis escritas. As ordálias, 
ou juízos de Deus, foram amplamente utilizadas pelo Direito Penal germânico durante toda a Idade 
Média, onde eram consideradas uma espécie de prova judiciária utilizada para a determinação da 
culpa ou mesmo da inocência dos acusados. A palavra “ordália” tem o significado de um julgamento 
no qual não existe interferência dos homens, pois seu resultado depende exclusivamente de Deus. O 
acusado, portanto, deveria provar sua inocência se submetendo a diversas provas, a exemplo de 
segurar, durante determinado tempo, uma pedra incandescente ou colocar suas mãos dentro da 
água fervente. Se suportasse o sofrimento, significava que era inocente e que Deus o havia absolvido; 
caso contrário, estaria comprovada sua culpa.”12 
 
Deste modo compreendemos que o Direito Penal Germânico era visto como uma ordem da 
paz; desta forma o crime seria a quebra, a ruptura com este estado, composto assim apenas pelo 
caráter consuetudinário e não por leis escritas. Inicialmente eram utilizadas a vingança e da 
composição, porém, com a invasão de Roma, o poder Estatal foi consideravelmente aumentado, 
desaparecendo a vingança, a partir de então, se transforma num sistema de sanções de 
características acentuadamente patrimoniais, "num minucioso tabelamento de taxas penais, 
variáveis segundo a gravidade das lesões e também a categoria do ofendido", como trabalha Aníbal 
Bruno. Surgindo assim, três tipos de penas: a primeira, consistia no pagamento de uma indenização, 
mas principalmente na submissão do infrator, obrigado a dar o seu trabalho em favor da vítima ou de 
seu grupo; a segunda, uma verdadeira pena de multa, paga ao ofendido, para se livrar da vingança 
privada; a terceira, consistente no pagamento ao soberano de uma soma em dinheiro pela violação 
da paz. Deste modo entendemos que as três tem o caráter pecuniário das penas criminais, que 
constituíram o sistema repressivo dos povos germânicos. Mesmo assim eles não deixaram de praticar 
a pena de morte e as demais penas em geral, como as mutilações. A composição, com suas penas 
patrimoniais bem definidas, constituía-se num Direito Penal de homens livres, da nobreza 
proprietária das terras. Aos servos se aplicavam as penas corporais mais severas. Não distinguia dolo, 
culpa e caso fortuito, determinando punição do autor sempre em relação ao dano por ele causado e 
não de acordo com o aspecto subjetivo do seu ato. 
 
 
 
 
11
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. p.34 
12
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 52. 
 
1.4 Direito penal Canônico 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “O direito canônico, predominando na 
Idade Média, perpetuou o caráter sacro da punição, que continuava severa, mas havia, ao menos, o 
intuito corretivo, visando à regeneração do criminoso. A religião e o poder estavam profundamente 
ligados nessa época e a heresia implicava crime contra o próprio Estado. “Assim, na Europa medieval 
o Estado concebeu-se, em termos religiosos, como Estado confessional cristão, e isso gerava uma 
justificação também religiosa do direito penal. O delito era visto como uma forma de pecado, e a 
pena era justificada como exigência de justiça, análoga ao castigo divino”.10 Introduziu a pena em 
claustro nos monastérios, que foi a origem da pena privativa de liberdade dos tempos atuais. Daí veio 
o termo “penitenciária”, conhecido atualmente.11 Surgiram os manifestos excessos cometidos pela 
Santa Inquisição, que se valia, inclusive, da tortura para extrair a confissão e punir, exemplarmente, 
com medidas cruéis e públicas, os pretensos culpados. Inexistia, até então, qualquer 
proporcionalidade entre a infração cometida e a punição aplicada. Não se pode olvidar o resultado 
do procedimento inquisitivo, instaurado pela Igreja romana, na Idade Média, que levou à morte 
milhões de pessoas, cujo elemento central era a obtenção da confissão, a qualquer custo. A chamada 
“rainha das provas”. Durante a época da Inquisição, morreram de 5.000.000 a 15.000.000 de pessoas 
em decorrência de sua ação. Os dominicanos foram eleitos inquisidores e, diligentemente, 
procuravam por suspeitos de heresia, submetendo-os a investigações e torturas (que o Papa 
Inocêncio IV legalizou, em 1252, e o Papa Alexandre VI, em 1261, abençoou). Em 1484, o Papa 
Inocêncio VIII instruiu os inquisidores a usar a tortura não apenas para atingir condenações, mas 
também para dramatizar os horrores do inferno. Tendo em vista que a confissão poderia fazer cessar 
a tortura, muitas vítimas admitiram a prática de crimes hediondos. 100 5. Não eram incomuns, nessa 
época, julgamentos após a morte. Num único dia, em 1245, em Montsegur, 200 infiéis foram 
queimados. Sob a tutela de TORQUEMADA(1483-1498), a repressão da Igreja atingiu proporções 
terríveis. Ele possuía uma rede de espiões, muitos dos quais juntavam-se a ele apenas por 
autoproteção. Ainda que a confissão pudesse salvar o acusado da morte, não o salvava do confisco e 
da prisão. Dados da Inquisição indicam que TORQUEMADA conseguiu mandar para a fogueira cerca 
de 10.000 pessoas e mais de 100.000 para a prisão.”13 
Conforme as palavras de Cezar Roberto Bitencourt: “(...) O Cristianismo ingressou na 
Monarquia franca em496 d.C., coma conversão de Clodovéu, surgindo a repressão penal de crimes 
religiosos e a jurisdição eclesiástica, protegendo os interesses de dominação 17. O Direito Canônico 
— ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana — é formado pelo Corpus Juris 
Canonici, que resultou do Decretum Gratiani (1140), sucedido pelos decretos dos Pontífices Romanos 
(séc. XII), de Gregório IX(1234), de Bonifácio VIII (1298) e pelas Clementinas, de Clemente V (1313). O 
Papa João Paulo II, em25 de janeiro de 1983, promulgou o atual Código de Direito Canônico 18. 
Primitivamente, o Direito Penal Canônico teve caráter disciplinar. Aos poucos, com a crescente 
influência da Igreja e consequente enfraquecimento do Estado, o Direito Canônico foi-se estendendo 
a religiosos e leigos, desde que os fatos tivessem conotação religiosa 19. A jurisdição eclesiástica 
 
 
 
13
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.100. 
 
aparecia dividida em: ratione personae e ratione materiae. Pela primeira — em razão da pessoa — o 
religioso era julgado sempre por um tribunal da Igreja, qualquer que fosse o crime praticado; na 
segunda — em razão da matéria — a competência eclesiástica era fixada, ainda que o crime fosse 
cometido por um leigo. A classificação dos delitos era a seguinte: a) delicta eclesiastica — ofendiamo 
direito divino, eram da competência dos tribunais eclesiásticos, e eram punidos com as poenitentia e; 
b) delicta mere secularia — lesavam somente a ordem jurídica laica, eram julgados pelos tribunais do 
Estado e lhes correspondiam as sanções comuns. Eventualmente, sofriam punição eclesiástica comas 
poenae medicinales; c) delicta mixta — violavamas duas ordens (religiosa e laica) e eram julgados 
pelo tribunal que primeiro deles tivesse conhecimento. Pela Igreja eram punidos com as poene 
vindicativae. O Direito Canônico contribuiu consideravelmente para o surgimento da prisão moderna, 
especialmente no que se refere às primeiras ideias sobre a reforma do delinquente. Precisamente do 
vocábulo “penitência”, de estreita vinculação como Direito Canônico, surgiram as palavras 
“penitenciário” e “penitenciária” 21. Essa influência veio completar-se como predomínio que os 
conceitos teológico-morais tiveram, até o século XVIII, no Direito Penal, já que se considerava que o 
crime era um pecado contra as leis humanas e divinas. Sobre a influência do Direito Canônico nos 
princípios que orientaram a prisão moderna 22, afirma-se que as ideias de fraternidade, redenção e 
caridade da Igreja foram transladadas ao direito punitivo, procurando corrigir e reabilitar o 
delinquente. Os mais entusiastas manifestam que, nesse sentido, as conquistas alcançadas em plena 
Idade Média não têm logrado solidificar-se, ainda hoje, de forma definitiva, no direito secular.”14 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “(...) Até 1917, a Igreja Católica era regida por um 
conjunto disperso de normas, e chegou-se à conclusão de que havia necessidade de condensá-las em 
um único corpo, compilando aquelas que estavam em vigor. Assim, em 27 de maio de 1917, foi 
promulgado, pelo papa Bento XV, o Código de Direito Canônico (Codex Iuris Canonici), regulando a 
organização da Igreja Católica Romana (de rito latino), a hierarquia do seu governo, os direitos e 
obrigações dos fiéis, bem como o conjunto de sacramentos e sanções que se estabelecem pela 
contravenção das mesmas normas, o que, na prática, pode ser considerado como a “Constituição” da 
Igreja Católica. Em 25 de janeiro de 1983, o Papa João Paulo II, substituindo o anterior, promulgou 
um novo Código de Direito Canônico, que entrou em vigor em 27 de novembro do mesmo ano.”15 
 
Deste modo compreendemos que o Direito Penal Canônico é o ordenamento jurídico da Igreja 
Católica Apostólica Romana, o mesmo dividia os crimes em delicta eclesiastica (de exclusiva 
competência dos tribunais eclesiásticos); delicta mere secularia (julgados pelos tribunais leigos) e 
delicta mixta, os quais atentavam ao mesmo tempo contra a ordem divina e a humana e poderiam 
ser julgados pelo tribunal que primeiro deles conhecesse. As penas distinguem-se em espirituales 
(penitências, excomunhão, etc) e temporales, conforme a natureza do bem a que atingem. As penas 
eram, em princípio, justa retribuição, mas dirigiam-se também ao arrependimento e à emenda do 
réu. Esse direito deu uma atenção ao aspecto subjetivo do crime, combateu a vingança privada com o 
direito de asilo e as tréguas de Deus, humanizou as penas, reprimiu o uso das ordálias e introduziu as 
penas privativas de liberdade (ocorriam nos monastérios em celas) em substituição às patrimoniais. 
Este Direito por sua vez criou as penitenciarias: que era um local onde o condenado não cometeria 
crimes, se arrependeria dos seus erros e por fim se redimiria podendo voltar ao convívio social. 
 
14
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. 
15
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 53. 
 
1.5 Direito penal Humanitário 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “O direito penal comum, vigente nas 
várias regiões da Europa medieval, girava em torno das bases fornecidas pelo direito penal romano, 
germânico e canônico, logo, nada a se elogiar, sob o ponto de vista humanístico. Entretanto, os 
aspectos históricos terminam por evidenciar que os povos precisam sofrer para aprender um novo 
caminho, visualizar luzes em meio às trevas. Por volta do século XIII, surgiram os glosadores, que 
comentavam textos de lei em poucas palavras (a glosa). Na sequência, os pós-glosadores, também 
chamados práticos ou praxistas, pois ofertaram comentários mais sistemáticos às leis.Quanto mais 
prosperavam os comentários e debates acerca das duríssimas leis vigentes, mais emergiam novas 
ideias, surgindo o período humanitário do direito penal. (...) Substituem-se as trevas pela época das 
luzes, justificador do período denominado Iluminismo, cujo ápice se deu na Revolução Francesa. O 
sistema punitivo nunca mais foi o mesmo após esse século, com as ideias de BECCARIA, 
MONTESQUIEU, ROUSSEAU, VOLTAIRE, DIDEROT, HOWARD, BENTHAM, entre outros. Tanto é 
verdade que RADERUCH bem assinala essa evolução, afirmando que “somente quando o direito 
penal era exercido em nome de leis divinas ou morais podia-se castigar de consciência tranquila. 
Quando se castiga em nome de necessidades ou conveniências públicas ou sociais, de valorações de 
múltiplo sentido, mutáveis e discutíveis, a mão primitiva fica trêmula. Em novas anistias cada vez 
mais frequentes, na abundância dos indultos, sursis e abrandamentos de penas, praticamente na 
fuga diante da pena mostra-se com clareza cada vez maior que o direito penal perdeu sua consciência 
tranquila, direito penal perdeu sua consciência tranquila. É também o nascimento da Escola Clássica 
de direito penal.”16 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “As características da legislação criminal 
na Europa em meados do século XVIII — século das luzes — vão justificar a reação de alguns 
pensadores agrupados em torno de um movimento de ideias que têm por fundamento a razão e a 
humanidade. As leis em vigor inspiravam-se em ideias e procedimentos de excessiva crueldade, 
prodigalizando os castigos corporais e a penacapital. O Direito era um instrumento gerador de 
privilégios, o que permitia aos juízes, dentro do mais desmedido arbítrio, julgar os homens de acordo 
com a sua condição social. Inclusive os criminalistas mais famosos da época defendiam em suas obras 
procedimentos e instituições que respondiam à dureza de um rigoroso sistema repressivo. A reforma 
dessa situação não podia esperar mais. É na segunda metade do século XVIII quando começam a 
remover-se as velhas concepções arbitrárias: os filósofos, moralistas e juristas dedicam suas obras a 
censurar abertamente a legislação penal vigente, defendendo as liberdades do indivíduo e 
enaltecendo os princípios da dignidade do homem. As correntes iluministas e humanitárias, das quais 
Voltaire, Montesquieu e Rousseau foram fiéis representantes, realizam uma severa crítica dos 
excessos imperantes na legislação penal, propondo que o fim do estabelecimento das penas não 
deve consistir em atormentar a um ser sensível. A pena deve ser proporcional ao crime, devendo-se 
levarem consideração, quando imposta, as circunstâncias pessoais do delinquente, seu grau de 
malícia e, sobretudo, produzira impressão desereficaz sobre o espírito dos homens, sendo, ao mesmo 
tempo, a menos cruel para o corpo do delinquente 30. Esse movimento de ideias, definido como 
Iluminismo, atingiu seu apogeu na Revolução Francesa, com considerável influência em uma série de 
pessoas comum sentimento comum: a reforma do sistema punitivo. O Iluminismo, aliás, foi uma 
 
16
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.101. 
 
 
 concepção filosófica que se caracterizou por ampliar o domínio da razão a todas as áreas do 
conhecimento humano. O Iluminismo representou uma tomada de posição cultural e espiritual de 
parte significativa da sociedade da época, que tinha como objetivo a difusão do uso da razão na 
orientação do progresso da vida em todos os seus aspectos. Em outros termos, esse movimento, 
também conhecido como a era da Ilustração, é resultado da concorrência de duas correntes distintas. 
Não esquecendo o grande destaque que tiveram os filósofos franceses, como Montesquieu, Voltaire, 
Rousseau, entre outros, que pugnam contra a situação reinante na defesa veemente da liberdade, 
igualdade e justiça 31, na seara político-criminal, fizeram coro comesse movimento, particularmente, 
Beccaria, Howard e Bentham, seguidos por Montesinos, Ladirzábale Conceptión Arenal. Façamos 
uma pequena síntese dos três que julgamos mais expressivos para a seara do Direito Penal.”17 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “As modalidades de penas foram variando ao longo 
dos anos. A privação da liberdade, como pena principal em virtude da prática de um fato criminoso, é 
relativamente recente. Até basicamente o período iluminista, as penas possuíam caráter aflitivo, ou 
seja, o corpo do homem pagava pelo mal que ele havia praticado. Os olhos eram arrancados, os 
membros mutilados, o corpo esticado até se destroncar, sua vida esvaía-se numa cruz, enfim, o mal 
da infração penal era pago com o sofrimento físico e mental do criminoso. Sobretudo a partir do final 
do século XVIII, as penas corporais, aflitivas foram sendo substituídas, aos poucos, pela pena de 
privação de liberdade, que, até aquele momento, com raras exceções (a exemplo do que ocorria com 
a punição dos monges religiosos em seus monastérios, cuja finalidade era levá-los a refletir sobre a 
conduta praticada, ou ainda com as casas de correção criadas a partir da segunda metade do século 
XVI na Inglaterra – houses of correction e bridewells – e na Holanda – rasphuis para os homens e 
spinhuis para as mulheres), era tida tão somente como uma medida cautelar, ou seja, sua finalidade 
precípua era fazer com que o condenado aguardasse, preso, a aplicação de sua pena corporal. 
[...]Com a virada do século XVIII, principalmente após a Revolução Francesa, em 1789, a pena de 
privação de liberdade começou a ocupar lugar de destaque, em atenção mesmo a um princípio que, 
embora embrionário, começava a ser discutido, vale dizer, o princípio da dignidade da pessoa 
humana. Analisando essa mudança de opção punitiva, Foucault dizia que, a partir daquele momento, 
o sofrimento não mais recairia sobre o corpo do condenado, mas, sim, sobre sua alma. O período 
iluminista teve importância fundamental no pensamento punitivo, uma vez que, com o apoio na 
“razão”, o que outrora era praticado despoticamente, agora, necessitava de provas para ser 
realizado. Não somente o processo penal foi modificado, com a exigência de provas que pudessem 
conduzir à condenação do acusado, mas, e sobretudo, as penas que poderiam ser impostas. O ser 
humano passou a ser encarado como tal, e não mais como mero objeto, sobre o qual recaía a fúria do 
Estado, muitas vezes sem razão ou fundamento suficiente para a punição. Mediante um raciocínio 
jusnaturalista, passou-se a reconhecer direitos inatos ao ser humano, que não podiam ser alienados 
ou deixados de lado, a exemplo de sua dignidade, do direito a ser tratado igualmente perante as leis 
etc. Até mesmo no que dizia respeito à pena de morte, algumas formas de aplicação foram sendo 
aperfeiçoadas, com a finalidade de trazer o menor sofrimento possível ao condenado, como ocorreu 
com a utilização da guilhotina, sugerida por Ignace Guillotin, pela primeira vez no dia 25 de abril de 
1792, que consistia em fazer com que a morte ocorresse rapidamente por meio de um golpe seco, 
produzido por uma lâmina afiadíssima e pesada, que pendia sobre a cabeça do executado. As penas, 
 
17
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 35. 
 
 
que eram extremamente desproporcionais aos fatos praticados, passaram a ser graduadas de acordo 
com a gravidade do comportamento, exigindo-se, ainda, que a lei que importasse na proibição ou 
determinação de alguma conduta, além de clara e precisa, para que pudesse ser aplicada, estivesse 
em vigor antes da sua prática. Era a adoção do exigível princípio da anterioridade da lei.”18 
 
Deste modo compreendemos que o Direito Penal Humanitário se instalou no decorrer do 
período iluminista, que por sua vez era um movimento pregava a reforma das leis e da administração 
da justiça penal no fim do século XVIII, significando a auto emancipação do homem da simples 
autoridade, preconceito convenção e tradição, com insistência no livre pensamento sobre problemas 
que tais instâncias consideravam incriticáveis. Com a ajuda de grandes filósofos da história do 
planeta este movimento vai tendo cada vez mais ênfase, moldando assim a cabeça de várias pessoas 
da sociedade, tais mudanças de pensamento produziram resultados para o desenvolvimento de uma 
ampla mudança legislativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 55. 
 
 
1.6 Escolas penais 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “(...) são teorias absolutas todas aquelas doutrinas 
que concebem a pena como um fim em si mesma, ou seja, como “castigo”, “reação”, “reparação” ou, 
ainda, “retribuição” do crime, justificada por seu intrínseco valor axiológico, vale dizer, não um meio, 
tampouco um custo, mas, sim, um dever ser meta jurídico que possui em si seu próprio fundamento. 
São, ao contrário, “relativas” todas as doutrinas utilitaristas que consideram e justificam a pena 
enquanto um meio para a realização do fim utilitário da prevenção de futuros delitos. As teorias 
absolutas, com os olhos voltados para o passado, ou seja, simplesmente para a infração penal 
praticada pelo agente, advogam a tese da retribuição, sendo que as teorias relativas, com suas lentes 
voltadas para o futuro, buscando evitar que outras infraçõespenais sejam cometidas, apregoam a 
prevenção. Na reprovação, conforme preconiza a teoria absoluta, reside o caráter retributivo da 
pena. A punição se justifica pelo fato de ter o agente cometido uma infração penal. Ao mal do crime, 
retribui-se com o mal da pena. Emanuel Kant foi o grande expoente da teoria absoluta. Para ele, a 
pena é imperativo categórico e deve ser aplicada porque a exigem a razão e a justiça. Ao lado de 
Kant, Hegel foi outro grande defensor da teoria absoluta da pena. (...) A sociedade em geral se 
satisfaz e, na verdade, busca tão somente fazer com que a pena tenha essa finalidade retributiva, 
pois tende a fazer com ela uma espécie de “pagamento” ou compensação ao condenado que 
praticou a infração penal, desde que, obviamente, a pena seja, pelo menos, privativa de liberdade. Se 
ao condenado for aplicada uma pena restritiva de direitos ou mesmo a de multa, a sensação, para a 
sociedade, é de impunidade, uma vez que o homem, infelizmente, ainda se regozija com o 
sofrimento causado pelo aprisionamento do infrator. (...) A concepção retributiva da pena parte do 
pressuposto de que o homem é livre, que possui o direito e a faculdade de escolher entre o bem e o 
mal. Se opta por praticar o mal, deve receber a sanção previamente determinada pelo Estado. Sua 
preocupação não está na prevenção de futuros atos semelhantes praticados pelo próprio agente, ou 
mesmo por outras pessoas. Por isso, a teoria retributiva é conhecida, também, como uma teoria 
absoluta, já que a pena é um fim em si mesma. É importante frisar que essa concepção retributiva, 
principalmente no pensamento de Kant, surgiu em um Estado Liberal, onde se pressupunha que 
todos eram iguais perante a lei. No entanto, esse conceito de igualdade formal não é suficiente. Que 
igualdade poderia haver entre um homem que foi criado em meio à pobreza absoluta e outro, em 
“berço de ouro”? A maioria esmagadora dos delinquentes, selecionada pelo Direito Penal, é oriunda 
das classes sociais mais baixas e desfavorecidas. Embora seja criticável esse raciocínio de Justiça 
proposto pela teoria retributiva, seu surgimento, no século XVIII, teve como fundamento limitar o 
arbítrio no que dizia respeito à aplicação das penas. Se a pena era uma compensação, uma 
retribuição do mal praticado pelo agente, essa retribuição, obrigatoriamente, devia ser proporcional 
ao mal praticado. Assim, a retribuição não permite que se castigue além da gravidade do fato 
cometido. A teoria relativa, a seu turno, sob o enfoque utilitarista, fundamenta-se no critério da 
prevenção, que se biparte em: 
 
 
 
 
 
 
a) prevenção geral – negativa e positiva; 
b) prevenção especial – negativa e positiva. 
A teoria de prevenção geral foi desenvolvida de forma mais eficaz por Paul Johann Anselm von 
Feuerbach, 45 tendo sido extraída de uma teoria por ele formulada, denominada “teoria psicológica 
da coação. Além de Feuerbach, outros nomes de vulto que atuaram na defesa das teorias utilitárias 
da pena foram o filósofo e jurista inglês Jeremy Benthan (1748 – 1832) e o também jurista e filósofo 
italiano Gian Domenico Romagnosi (1761 – 1835). A prevenção geral pode ser analisada sob dois 
enfoques. Por meio da prevenção geral negativa, conhecida também por prevenção por intimidação, 
a pena aplicada ao autor da infração penal tende a refletir-se na sociedade, evitando, assim, que as 
demais pessoas, que se encontram com os olhos voltados para a condenação de um de seus pares, 
reflitam antes de praticar qualquer infração penal. Segundo Hassemer, 48 com a prevenção por 
intimidação, existe a esperança de que os concidadãos com inclinações para a prática de crimes 
possam ser persuadidos, por meio da resposta sancionatória à violação do direito alheio, 
previamente anunciada, a comportarem-se em conformidade com o Direito; esperança, enfim, de 
que o Direito Penal ofereça sua contribuição para o aprimoramento da sociedade. Por meio dessa 
vertente da prevenção geral, tida como negativa, a sociedade é advertida a respeito do Direito Penal 
tanto mediante ameaça da pena, em abstrato, contida na lei, como também na oportunidade em que 
essa mesma lei é aplicada, gerando a condenação de um de seus pares. Nesta última hipótese, o 
agente, na verdade, serve de exemplo 49 aos demais, fazendo com que sua condenação reflita em 
seu meio social, levando à compreensão de todos aqueles que o cercam, ou que, pelo menos, 
tiveram conhecimento da sua condenação, as consequências pela prática de determinada infração 
penal. Segundo Nilo Batista, Zaffaroni, Alagia e Slokar, a lógica da dissuasão intimidatória propõe a 
clara utilização de uma pessoa como recurso ou instrumento empregado pelo Estado para seus 
próprios fins: a pessoa humana desaparece, reduzida a um meio a serviço dos fins estatais. Por outro 
lado, com enfoque distinto dos anteriores, existe a finalidade preventiva especial da pena, que pode 
também ser concebida em seus dois sentidos: positiva e negativa. Por intermédio da prevenção 
especial negativa, busca-se levar a efeito a neutralização daquele que praticou a infração penal, 
neutralização que ocorre com sua segregação no cárcere, retirando o agente momentaneamente do 
convívio social, impedindo-o de praticar novas infrações penais, pelo menos na sociedade da qual foi 
retirado. A neutralização do agente, como se percebe, somente ocorre quando a ele for aplicada 
pena privativa de liberdade. De acordo com o raciocínio da prevenção especial positiva, segundo 
Roxin, “a missão da pena consiste unicamente em fazer com que o autor desista de cometer futuros 
delitos”, 52 e, acrescenta, ressocializando-o. No escólio de Cezar Roberto Bitencourt, “a prevenção 
especial não busca a intimidação do grupo social nem a retribuição do fato praticado, visando apenas 
àquele indivíduo que já delinquiu para fazer com que não volte a transgredir as normas jurídico-
penais.” 53 Do embate entre as duas teorias – retributivas e preventivas –, surgiu uma terceira, como 
não poderia deixar de ser, chamada de mista ou unificadora da pena, tal como ocorre com a teoria 
adotada pelo art. 59 do Código Penal, que funde as necessidades retributiva e preventiva da pena.” 19 
 
 
 
19
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 70. 
 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “A pena aplicada aos criminosos da época 
antiga e medieval consistia em sofrimentos atrozes, infamantes e aterrorizantes. Não havia 
proporção entre delito e pena. Muitos processos eram conduzidos sob o instrumento da tortura, para 
que despertasse a confissão do réu. Enfim, por mais que se evoluísse, o direito penal girava em torno 
da vingança privada, da composição e da vingança pública.”20 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “(...) Não houve, contudo, um processo 
linear de evolução do pensamento sistemático, porque também está vinculado às vicissitudes 
políticas, sociais, culturais e econômicas das sociedades, desde o advento do Iluminismo até nossos 
dias. Realizaremos, contudo, a exposição somente das mais importantes etapas da evolução 
epistemológica do Direito Penal. Por questões didáticas, começaremos, neste Capítulo, como estudo 
das escolas penais que antecederam o que conhecemos como moderna dogmática penal para, no 
Capítulo seguinte, aprofundarmos o estudo de seu desenvolvimento e consolidação, (...) Com efeito, 
no século XIX surgiram inúmeras correntes de pensamento estruturadas de forma sistemática, 
segundo determinados princípios fundamentais. A principal característica desse período é o repúdio 
do caráter científico das valorações jurídicas do delito e a consequente substituição destas pelo 
método da sociologia, da antropologia, biologia etc., como consequente desenvolvimento da 
Criminologia como ciência autônoma dedicada ao estudo do delito. A visão criminológica do 
fenômeno delitivo não foi, contudo, compartilhada por todos ospensadores do Direito Penal dessa 
época. Como destaca Muñoz Conde, em reação ao positivismo científico, surgiu o positivismo 
jurídico, reivindicando o estudo do delito sob o ponto de vista exclusivamente jurídico. O positivismo 
jurídico foi, portanto, o resultado dessa nova mentalidade no âmbito da doutrina jurídica: encontrou 
no dado real do direito positivo o material empírico suscetível de observação científica e adotou 
perante ele um método descritivo e classificatório assemelhado, em parte, ao utilizado pelas ciências 
naturais. O positivismo, enquanto cientificismo, convenceu-se de que a certeza que dominava as 
ciências físico-experimentais — método positivo — absorveria e resolveria todas as questões que a 
sociedade apresentasse, cabendo à ciência a função de reorganizar a sociedade ordenadamente. 
Nessa linha de entendimento, a missão da nascente dogmática penal consistia na exegese e 
sistematização do Direito positivo por meio do método indutivo: “trata-se de deduzir da leia solução 
aplicável ao caso mediante a ‘construção jurídica’, isto é, através da abstração progressiva dos 
conceitos específicos aos mais gerais” 9. Existia, nesse sentido, um ponto de encontro entre as 
diferentes correntes positivistas: o método indutivo, causal explicativo, aplicado para a elaboração de 
conceitos.”21 
Deste modo compreendemos que as Escolas Penais são chamadas assim por terem diversas 
correntes filosófico-jurídicos em matéria penal que surgiram nos Tempos Modernos. Todas 
trabalhavam como corpos de doutrinas sobre os problemas em relação com o fenômeno do crime e 
sobre os fundamentos e objetos do sistema penal, parafraseando Aníbal Bruno. As Escolas Penais no 
que lhe diz respeito apesar de terem base de pensamentos parecidos se distinguiram umas das 
outras conforme a tempo, as mesmas lidaram com problemas que abordam o fenômeno do crime, os 
fundamentos e objetivos do sistema penal de forma completamente diversificada. 
 
 
 
20
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.104. 
21
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 40. 
 
1.6.1 Escola Clássica 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Não houve, realmente, uma escola “Clássica.” Tal 
denominação lhe foi dada pelos positivistas, com uma conotação nitidamente pejorativa, no sentido 
de antiga, anterior, ultrapassada. As ideias postuladas pela Escola Clássica ainda podem ser 
consideradas como o fundamento dos modernos sistemas jurídico-penais aplicados em todo o 
mundo.”22 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Não houve uma Escola Clássica 
propriamente, entendida como um corpo de doutrina comum, relativamente ao direito de punir e 
aos problemas fundamentais apresentados pelo crime e pela sanção penal. Com efeito, é 
praticamente impossível reunir os diversos juristas, representantes dessa corrente, que pudessem 
apresentar um conteúdo homogêneo. Na verdade, a denominação Escola Clássica não surgiu, como 
era de esperar, da identificação de uma linha de pensamento com um entre os adeptos do 
positivismo jurídico, mas foi dada, com conotação pejorativa, por aqueles positivistas que negaram o 
caráter científico das valorações jurídicas do delito. Os postulados consagrados pelo Iluminismo, que, 
de certa forma, foram sintetizados no célebre opúsculo de Cesar e de Beccaria, Dos Delitos e das 
Penas (1764), serviram de fundamento básico para a nova doutrina, que representou a humanização 
das Ciências Penais. A crueldade que comandava as sanções criminais em meados do século XVIII 
exigia uma verdadeira revolução no sistema punitivo então reinante.”23 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “A pena aplicada aos criminosos da época 
antiga e medieval consistia em sofrimentos atrozes, infamantes e aterrorizantes. Não havia 
proporção entre delito e pena. Muitos processos eram conduzidos sob o instrumento da tortura, para 
que despertasse a confissão do réu. Enfim, por mais que se evoluísse, o direito penal girava em torno 
da vingança privada, da composição e da vingança pública.”24 
 
1.6.1.1 Origem 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Modernamente, os anseios reformistas e 
ressocializadores questionam a racionalidade desse contrato e a legitimidade da resposta 
estritamente punitiva. Na verdade, apesar da evolução liberal da Escola Clássica, a teoria do Contrato 
Social representou um marco ideológico adequado para a proteção da burguesia nascente, insistindo, 
acima de tudo, em recompensar a atividade proveitosa e castigar a prejudicial. Carrara é quem 
simboliza a expressão definitiva da Escola Clássica, eternizando sua identificação como a “Escola 
Clássica de Carrara”25 
 
 
 
22
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 71. 
23
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 40. 
24
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.106. 
25
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 41. 
 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “Os pensadores do século XVIII 
provocaram imensa modificação no cenário penal da época. Em particular, com a publicação da obra 
Dos delitos e das penas, de CESARE BONESANA, MARQUES DE BECCARIA, em 1764, nasceu a corrente 
de pensamento denominada escola clássica.”26 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Com o surgimento da Escola Clássica, no século 
XVIII, e principalmente por intermédio da obra de Beccaria (1764 – dos delitos e das penas) e de 
Bentham (1789 – Introdução aos princípios da moral e da legislação), (...).”27 
 
1.6.1.2 Princípios fundamentais 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “(...) o princípio da proporcionalidade da 
pena à infração praticada, dando relevo ao dano que o crime havia causado à sociedade. O caráter 
humanitário presente em sua obra foi um marco para o direito penal, até porque se contrapôs ao 
arbítrio e à prepotência dos juízes, sustentando que somente leis poderiam fixar penas (...)”28 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “(...) a exemplo dos princípios da necessidade e da 
suficiência da pena, proporcionalidade, utilidade, prevenção geral e especial, in dubio pro reo, 
publicidade dos julgamentos, presunção de inocência, culpabilidade, dentre outros, sem falar, talvez, 
na maior conquista da história da humanidade, que é o princípio da dignidade da pessoa humana, 
fazendo com que a pena deixasse de ser aflitiva, tendo o corpo do criminoso como seu objeto 
principal, evoluindo para a privação da liberdade como pena principal.(...) ”29 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “(...) enunciava os princípios fundamentais 
de sua escola, como sendo, em síntese, os seguintes: 1) crime é um ente jurídico — buscando 
encontrar uma fórmula para sintetizar o seu pensamento, afirmou que o crime não é um ente de 
fato, é um ente jurídico; não é uma ação, é uma infração. É “um ente jurídico, porque sua essência 
deve consistir necessariamente na violação de um direito. Mas o direito é congênito ao homem, 
porque foi dado por Deus à humanidade desde a sua criação, para que aquela pudesse cumprir seus 
deveres na vida terrena”; 2) livre-arbítrio como fundamento da punibilidade. A responsabilidade 
penal somente é admissível quando estiver embasada no livre-arbítrio, na culpa moral do cidadão. É 
indispensável a presença de uma vontade livre e consciente orientando a realização da conduta; 3) a 
pena como meio de tutela jurídica e retribuição da culpa moral. O primeiro objetivo da pena é a 
restauração da ordem externa da sociedade, que foi violada pelo crime, produto de uma vontade elivre e consciente. E, como o crime tem sua essência na violação do direito, a sua repressão também, 
surgindo do direito, deverá ter como razão fundamental a tutela jurídica ou defesa do direito; 4) 
princípio da reserva legal. Como a função da lei é tutelar bens jurídicos selecionados pelas sociedade, 
quem infringe a tutela social infringirá, claro, também a lei. Mas uma ação converte-se em crime 
somente quando se choca com uma lei.”30 
 
 
26
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.104. 
27
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. p.71 
28
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.104. 
29
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. p.79. 
30
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012 . p 41. 
 
1.6.1.3 Função histórica 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Entre a escolha de cometer ou não um delito, a 
pena deveria ser utilizada como fator de dissuasão nessa escolha, ou seja, na comparação entre o mal 
da pena e o benefício a ser alcançado pela prática da infração penal, aquele teria de ser um fator 
desestimulante ao agente. Por meio de uma espécie de balança, o agente colocaria em seu prato as 
vantagens da infração penal e as desvantagens da pena que a ele seria aplicada, e nessa 
compensação a pena deveria desestimulá-lo, pois que superior às vantagens obtidas por meio do 
delito. (...) No entanto, coincidiam no fundamental: na existência de um sistema de normas jurídicas 
anterior e superior ao Estado, contestando, dessa forma, a legitimidade da tirania estatal. 
Propugnavam pela restauração da dignidade humana e o direito do cidadão perante o Estado, 
fundamentando ambas, dessa forma, o individualismo, (...) a igualdade absoluta entre todos os 
homens. Sob essa perspectiva se questionava a imposição da pena, o salcances do livre-arbítrio, ou o 
problema das relações de dominação que podia refletir uma determinada estrutura jurídica “(...) 
deveria servir a uma função preventiva, tanto geral quanto especial. Beccaria já dizia que “o fim da 
pena, pois, é apenas o de impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e demover os 
outros de agir desse modo.”31 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “(...) serviram de fundamento básico para 
a nova doutrina, que representou a humanização das Ciências Penais. A crueldade que comandava as 
sanções criminais em meados do século XVIII exigia uma verdadeira revolução no sistema punitivo 
então reinante.”32 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “A escola clássica consagrou o livre-
arbítrio do ser humano para o cometimento do crime; pregou a proporcionalidade entre delito e 
punição; afastou-se da pena de morte e outras penas cruéis.”33 
 
1.6.1.4 Principais representantes 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Carrara, depois de afirmar, no § 604 do programa do 
curso de direito criminal, que existe uma lei eterna, absoluta, constituída pelo complexo dos 
preceitos diretivos da conduta externa do homem, revelada por Deus à humanidade, por meio da 
simples razão, sob o enfoque éticojurídico, deixando transparecer seu caráter retributivo, nos §§ 622 
e 623 da obra citada, diz que a pena (...) Com o surgimento da Escola Clássica, no século XVIII, e 
principalmente por intermédio da obra de Beccaria”34 
 
 
 
 
 
31
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 80. 
32
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 40. 
33
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. P 107. 
34
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 79. 
 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Cesare de Beccaria Cesar Bonessana, 
Marquês de Beccaria (Milão, 1738-1794), publica em 1764 seu famoso Dei Delitti e delle Pene, 
inspirado, basicamente, nas ideias defendidas por Montesquieu, Rousseau, Voltaire e Locke. Os 
postulados formulados por Beccaria marcamo início definitivo do Direito Penal moderno, da Escola 
Clássica de Criminologia, bem como o da Escola Clássica de Direito Penal. Alguns autores, inclusive, 
chegam a considerar Beccaria como um antecedente, mediato, dos delineamentos da Defesa Social, 
especialmente por sua recomendação Escola Positiva (...)”35 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci : “A escola clássica encontrou seu grande 
representante e consolidador em CARRARA, que se manifestou contrário à pena de morte e às penas 
cruéis, afirmando que o crime seria fruto do livre-arbítrio do ser humano, devendo haver 
proporcionalidade entre o delito e a sanção aplicada. (...)Nos dois, como explica CEZAR ROEERTO 
BITENCOURT, havia a proibição de contato durante a noite, pois estavam separados em celas 
individuais. Ambos adotaram, basicamente, a visão punitiva e retributiva da pena. (...) Aprimorado na 
Irlanda por Walter Crofton, o sistema passou (...).”36 
 
 
Deste modo compreendemos que a Escola Clássica de Direito Penal nasceu sob os ideais 
iluministas. A mesma ensinava que a pena era um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo 
por motivo de uma falta que considerava crime, cometida voluntária e conscientemente pelo 
mesmo, afirmavam assim que a pena é o restabelecimento da ordem externa na sociedade. Sendo 
uma escola importantíssima para a evolução do direito penal na medida em que defendia o individuo 
contra o arbítrio do Estado. Dividida posteriormente em dois grandes períodos o filosófico / teórico e 
o jurídico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 40. 
36
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. P 105. 
 
1.6.2 Escola Positiva 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt : “Durante o predomínio do pensamento 
positivista no campo da filosofia, no fim do século XIX, surge a Escola Positiva, coincidindo com o 
nascimento dos estudos biológicos e sociológicos. A Escola Positiva surgiu no contexto de uma 
celerado desenvolvimento das ciências sociais (Antropologia, Psiquiatria, Psicologia, Sociologia, 
Estatística etc.). Esse fato determinou de forma significativa uma nova orientação nos estudos 
criminológicos. Ao abstrato individualismo da Escola Clássica, (...).”37 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “A escola positiva deslocou o estudo do 
direito penal para o campo da investigação científica, proporcionando o surgimento da antropologia 
criminal, da psicologia criminal e da sociologia criminal. FERRI e GAROFALO foram discípulos de 
LOMEROSO e grandes expoentes da escola positiva, sobretudo o primeiro.”38 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Cesar e Lombroso nasceu em Verona, na Itália, em 6 
de novembro de 1835. Formou-se em medicina na Universidade de Pavia, em 1858. Em 1876 
escreveu uma de suas obras mais importantes, que o deixaram conhecido no cenário mundial: 
L’uomo deliquente (O homem delinquente). Foi professor de Medicina Legal da Universidade de 
Turim e é considerado o pai da criminologia moderna. Foi o introdutor do positivismo, método 
cientíFico utilizado nas ciências naturais, a exemplo da Física, da Botânica, da Medicina ou da 
Biologia. Embora a Antropologia Criminal tivesse alguns precursores diretos e imediatos, a exemplo 
de Nicolson, Thomson e Musdsley, foi com os trabalhos de Lombroso que ela ganhou ares de ciência. 
De acordocom as precisas lições de Moniz Sodré:”39 
 
1.6.2.1 Origem 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt : “(...) no fim do século XIX, surge a Escola 
Positiva, coincidindo com o nascimento dos estudos biológicos e sociológicos. A Escola Positiva surgiu 
no contexto de uma celerado desenvolvimento das ciências sociais (Antropologia, Psiquiatria, 
Psicologia, Sociologia, Estatística etc.). Esse fato determinou de forma significativa uma nova 
orientação nos estudos criminológicos.”40 
Conforme as palavras de Rogério Greco : “Cesare Lombroso nasceu em Verona, na Itália, em 6 
de novembro de 1835. Formou-se em medicina na Universidade de Pavia, em 1858. Em 1876 
escreveu uma de suas obras mais importantes, que o deixaram conhecido no cenário mundial: 
L’uomo deliquente (O homem delinquente). Foi professor de Medicina Legal da Universidade de 
Turim e é considerado o pai da criminologia moderna. Foi o introdutor do positivismo, método 
científico utilizado nas ciências naturais, a exemplo da Física, da Botânica, da Medicina ou da Biologia. 
 
 
37
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 42. 
38
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. P 110. 
39
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus,2017. P 79. 
40
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 42. 
 
 
Embora a Antropologia Criminal tivesse alguns precursores diretos e imediatos, a exemplo de 
Nicolson, Thomson e Musdsley, foi com os trabalhos de Lombroso que ela ganhou ares de ciência.”41 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “Com a publicação do livro O homem 
delinquente (1876), de CESARE LOMEROSO, cravou-se o marco da linha de pensamento denominada 
escola positiva. LOMEROSO sustentou que o ser humano poderia ser um criminoso nato, submetido a 
características próprias, originárias de suas anomalias físico--psíquicas. Dessa forma, o homem 
nasceria delinquente, ou seja, portador de caracteres impeditivos de sua adaptação social, trazendo 
como consequência o crime, algo naturalmente esperado. Não haveria livre-arbítrio, mas simples 
atavismo.”42 
 
1.6.2.2 Princípios fundamentais 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Apena perde seu tradicional caráter 
vindicativo-retributivo, reduzindo-se a um provimento utilitarista; seus fundamentos não são a 
natureza e a gravidade do crime, mas a personalidade do réu, sua capacidade de adaptação e 
especialmente sua perigosidade. (...) O fundamento do direito de punir assume uma posição 
secundária, e o problema da responsabilidade perde importância, sendo indiferente a liberdade de 
ação e de decisão no cometimento do fato punível. Admitindo o delito e o delinquente como 
patologias sociais, dispensava a necessidade de a responsabilidade penalfundar-se em conceitos 
morais. Apena perde seu tradicionalcarátervindicativo-retributivo, reduzindo-se a um provimento 
utilitarista; seus fundamentos não são a naturezaea gravidade do crime, masa personalidade do réu, 
sua capacidade de adaptação e especialmente sua perigosidade. ”43 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “Não há dúvida de que a escola positiva 
exerceu forte influência sobre o campo da individualização da pena, princípio que rege o direito penal 
até hoje, levando em consideração, por exemplo, a personalidade e a conduta social do delinquente 
para o estabelecimento da justa sanção. (...) Nas suas próprias palavras, GAROFALO afirma que a 
prisão por tempo preestabelecido somente deve ser aplicada excepcionalmente no seu sistema. No 
mais, “seguindo o princípio da reação racional contra o crime, mostramos quais os delinquentes a 
quem cabe a eliminação, aqueles para quem ela deve ser absoluta, pela pena de morte, aqueles para 
quem ela pode ser limitada e relativa, pela deportação com abandono, relegação perpétua e 
relegação indeterminada. Mostramos em que casos basta o pagamento da multa ao Estado e de 
indenização, larga e superior ao dano, à parte ofendida, podendo obter-se do réu, espontaneamente 
ou pela imposição de trabalhos forçados.”44 
 
 
 
 
41
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus, 2017. P 82. 
42
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. P 110. 
43
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1ed.17º. vol.1 São Paulo: Saraiva, 2012. P 42. 
44
 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral. ed. Vol.1 Rio de Janeiro: Forense, 2017. P 112. 
 
 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “Podemos concluir com Heleno Fragoso que os 
princípios básicos da Escola Positiva são os seguintes: “(a) o crime é fenômeno natural e social, 
estando sujeito às influências do meio e aos múltiplos fatores que atuam sobre o comportamento. 
Exige, portanto, o método experimental ou o método positivo para explicação de suas causas; (b) a 
responsabilidade penal é responsabilidade social (resultado do simples fato de viver o homem em 
sociedade), tendo por base a periculosidade do agente; (c) a pena é exclusivamente medida de 
defesa social, visando à recuperação do criminoso ou à sua neutralização, nos casos irrecuperáveis; 
(d) o criminoso é sempre psicologicamente um anormal, de forma temporária ou permanente, 
apresentando também muitas vezes defeitos físicos; e (e) os criminosos podem ser classificados em 
tipos (ocasionais, habituais, natos, passionais e enfermos da mente).”45 
 
1.6.2.3 Função histórica 
Conforme as palavras de Cesar Roberto Bitencourt: “Escola Positiva opôs a necessidade de 
defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente, priorizando os interesses 
sociais em relação aos individuais.”46 
Conforme as palavras de Guilherme de Souza Nucci: “Defendeu ENRICO FERRI, considerado 
uma das principais figuras da sociologia jurídica, que o ser humano seria responsável pelos danos 
causados simplesmente porque vivia em sociedade. Negou terminantemente o livre-arbítrio, 
legitimado pela escola clássica. Assim, o fundamento da punição era a defesa social. A finalidade da 
pena consubstanciava-se, primordialmente, na prevenção a novos crimes. Como ensina ANTONIO 
MONIZ SODRÉ DE ARAGÃO, “a escola antropológica baseia se no método positivo. A observação 
rigorosa e exata dos fatos é a fonte única e o fundamento racional das suas conclusões indutivas. O 
assunto primordial dos seus estudos é a pessoa real e viva do delinquente, e não a figura abstrata e 
jurídica do crime. Este é estudado, em sua origem e seus efeitos, também como um fenômeno 
natural e social, essencialmente complexo. Na investigação das suas causas, era indispensável fazer-
se a história natural do criminoso, de cuja natureza ele é dependente; observá-lo nos laboratórios, 
sujeitá-lo a dissecações anatômicas, a experiências fisiológicas e a um exame completo da sua 
personalidade psíquica”. Não aceita o livre-arbítrio e nega a responsabilidade moral dos 
indivíduos.”47 
Conforme as palavras de Rogério Greco: “(...) foi com os trabalhos de Lombroso que ela 
ganhou ares de ciência. De acordo com as precisas lições de Moniz Sodré: A antropologia criminal é a 
história natural do homem criminoso, como Quatrefages considerava a zoologia ‘a história natural 
dos animais’, e a antropologia geral a ‘história natural dos homens’. A antropologia geral é, na 
definição de Topinard, ‘o ramo da história natural que trata do homem e das raças humanas.”48 
 
 
 
45
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 19ºed. Vol.1. Niterói: Impetus, 2017. P 85. 
46
 BITENCOURT, Cesar Roberto - Tratado de Direito Penal – Parte

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