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GEOGRAFIA APLICADA À HISTÓRIA Professora Me. Emília Bandeira Perissatto GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PERISSATTO, Emília Bandeira. Geograia Aplicada à História. Emília Bandeira Perissatto. Reimpressão Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 246 p. “Graduação - EaD”. 1. Geograia. 2. Aplicada. 3. História. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0275-1 CDD - 22 ed. 400 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincof Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Coordenador de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Maria Fernanda Vasconcelos Iconograia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Thomas Hudson Costa Robson Yuiti Saito Revisão Textual Daniela Ferreira dos Santos Keren Thaise de Carvalho Pardini Hellyery Agda Gonçalves da Silva Ilustração Bruno Cesar Pardinho Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desaio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eiciência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que izermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por im, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desaios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação proissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Professora Me. Emília Bandeira Perissatto Possui graduação em Geograia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM-2006) e Mestre em Geograia pela mesma instituição (2009), cursando graduação em Direito. Na Geograia tem ênfase em Geograia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: conlitos rurais, assentamentos rurais e desenvolvimento local. Foi professora colaboradora no curso de Geograia da UEM, nas disciplinas de Introdução à Ciência Geográica, Geograia Econômica e Geograia das Redes. Foi professora de Ensino Médio e Fundamental. Atuou como coordenadora de Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). No momento é Coordenadora de Projetos da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC) em Maringá, realizando/ revisando apresentação de projetos para recebimento de verbas federais e estaduais, dentro do campo da Assistência Social. A U T O R A SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a)! É com imenso prazer que apresento a você o material da disciplina de Geograia Apli- cada à História, assumindo o desaio de demonstrar como os elementos geográicos se relacionam e condicionam os fatos históricos. Esse material, bem como a disciplina, não pretende “ensinar” Geograia, busca, sobretudo, apresentar propostas de como ensinar História usando os conceitos e ferramentas propriamente geográicas. No ensino brasileiro, História e Geograia, e mais recentemente, a Sociologia e a Filo- soia são as disciplinas escolares que atuam diretamente na formação cidadã, política e comunitária dos alunos. Há algumas décadas, durante o período ditatorial, História e Geograia foram extintas, dando espaço à disciplina de Estudos Sociais. Hoje, sabemos que essa foi uma estratégia empreendida com vistas a anular o poder de formação crítica das disciplinas, para conter a organização das massas. Os temas ge- ográicos e históricos eram tratados de forma supericial, limitando-se a exposição de fatos históricos devidamente selecionados, memorização de datas, nomes de lugares (principalmente uma lista exaustiva de capitais), nomes de rios e montanhas. O conte- údo visava impor um nacionalismo infundado e esconder a realidade do olhar crítico. Após a redemocratização do país e com a reestruturação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Geograia e História voltam a ser reconhecidas como disciplinas autô- nomas, mas sempre caminhando muito próximas, ainal, os fatos históricos acontecemno espaço geográico. Na unidade I será apresentada a história de formação do pensamento geográico, desde o período Clássico até os dias atuais. Logo de início, reconheceremos similaridades entre o processo de desenvolvimento cientíico, histórico e geográico. Na unidade II, trataremos de uma ferramenta tipicamente geográica, mas tão impor- tante nos estudos de História: os mapas. Discutiremos sobre o avanço da Cartograia, considerada hoje, ao mesmo tempo, ciência, arte e técnica, desde mapas anteriores ao desenvolvimento da escrita, até a tecnologia de imagens de satélite, que em conjunto com a internet, traz “o mundo” para dentro de nossas casas. Os elementos e fenômenos naturais serão foco dos nossos estudos na unidade III. Re- levo, clima, hidrograia, vegetação, geologia são alguns dos conceitos apresentados, de forma sucinta, com intuito de facilitar a elucidação do contexto histórico dos fatos, percebendo a inluência do meio ambiente no desenvolvimento da humanidade. Tra- taremos ainda das questões voltadas à sustentabilidade e a necessidade de mudança cultural na relação do homem e o meio ambiente. Já a unidade IV tratará de globalização, demonstrando como os conceitos de território e dominação precisam ser pensados na atualidade, e como os fatos históricos foram determinantes para alcançarmos essa realidade. APRESENTAÇÃO GEOGRAFIA APLICADA À HISTÓRIA Por im, a unidade V discute sobre geopolítica, demonstrando o vínculo do conheci- mento geográico com as estratégias bélicas e de domínio territorial, desde o surgi- mento do Estado-nação até a ordem geopolítica contemporânea. Espero que os momentos de estudo e discussões sejam enriquecedores, e que pos- samos, juntos (você, eu, a História e a Geograia), construirmos formas inovadoras de ensinar, comparar e pensar. Bons estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I A CIÊNCIA GEOGRÁFICA 15 Introdução 16 A Ciência Geográica 17 Objeto da Geograia 18 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) 32 Categorias Geográicas (Paisagem, Região, Território e Lugar) 39 Espaço Geográico e a História 40 Considerações Finais UNIDADE II O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO 49 Introdução 50 O Papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico 81 Cartograia e Geograia 84 Cartograia na Antiguidade 86 Cartograia na Idade Média 88 Cartograia, Colonialismo e Imperialismo 92 Cartograia e as Guerras 93 Cartograia e Geoprocessamento: Ferramenta Didática 94 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III ELEMENTOS NATURAIS E PRODUÇÃO DO ESPAÇO 105 Introdução 106 Elementos Naturais e Produção do Espaço 109 Principais Elementos da Natureza 144 Desenvolvimento Industrial e a Natureza 146 Questão Ambiental Versus Desenvolvimento Econômico 149 Considerações Finais UNIDADE IV GLOBALIZAÇÃO E ECONOMIA GLOBAL 159 Introdução 160 Globalização 165 Meio Técnico-Cientíico-Informacional 169 Sociedade e as Redes 178 Divisão do Trabalho 182 Urbanização 189 O Lugar Resiste 192 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V GEOPOLÍTICA 199 Introdução 200 Geopolítica 201 Geograia Política 206 Estado-Nação 208 Blocos Econômicos 212 O Papel da Guerra 215 Geopolítica no Brasil 223 Ordem Mundial Contemporânea e a Geopolítica 226 Considerações Finais 231 CONCLUSÃO 233 REFERÊNCIAS 243 GABARITO U N ID A D E I Professora Me. Emília Bandeira Perissatto A CIÊNCIA GEOGRÁFICA Objetivos de Aprendizagem ■ Reconhecer as peculiaridades e objeto da Ciência Geográica e sua relação com a História. ■ Conhecer o processo de evolução histórica da Ciência Geográica. ■ Identiicar e compreender as categorias geográicas. ■ Compreender o espaço geográico como construção da sociedade, entendendo-o como registro histórico. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A Ciência Geográica ■ Objeto da Geograia ■ Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) ■ Categorias Geográicas (Paisagem, Região, Território e Lugar) ■ Espaço Geográico e a História INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a)! Na unidade I, estudaremos o processo histórico de formação do pensamento geográico, desde o período Clássico até a atualidade, dando ênfase aos aspectos mais importantes para o desenvolvimento desta disciplina. De um conhecimento meramente descritivo (com os Gregos Clássicos), a Geograia evolui para instrumento de planejamento do Estado, auxiliando no processo de conquistas de territórios e elaboração de diagnósticos. Hoje, uma das correntes de pensamento busca estudar a segregação e desigualdade no pro- cesso de apropriação do espaço. Tendo como objeto o espaço geográico, que é o espaço produzido pela sociedade, pois estuda tanto os elementos naturais (clima, relevo, vegetação e geologia) quanto o elemento humano (economia, produção rural, produção industrial, urbanização e crescimento populacional), caracterizando-se como uma ciência transversal (não é apenas humana e nem apenas natural). No Brasil, identiicaremos alguns dos principais pensadores, como Milton Santos e Aziz Nacib Ab’Saber, compreendendo as principais inluências que levaram a formação da Geograia em nosso país. O texto é escrito de forma a incentivar a relexão e associação sobre a relação das duas disciplinas – História e Geograia, apresentando também textos e imagens que aproximam o conte- údo geográico do aporte didático do professor de História. Os fatos históricos estão intimamente vinculados ao espaço em que ocor- rem, pois o território relete a materialização das ações da sociedade ao longo do tempo. Por isso, essa disciplina busca demonstrar tais vínculos, com intuito de enriquecer a apresentação do conteúdo pelo futuro professor de História. Se no passado História e Geograia foram uniicadas no currículo escolar, com o objetivo implícito de frear o potencial relexivo dos estudos, aqui, queremos “uni-las” como forma de aprofundar a capacidade relexiva por parte dos pro- fessores e alunos. Espero que você possa se apropriar desses conhecimentos e integrá-los a sua formação. Vamos lá? 15 Introdução R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . ©shutterstock A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I A CIÊNCIA GEOGRÁFICA A Geograia se constituiu como ciência no século XIX, na Alemanha, tendo Alexander von Humboldt e Karl Ritter como sistematizado- res, chamados também de “pais da Geograia”. Desde o surgimento do termo, na anti- guidade, até os dias atuais, o pensamento geográico passou por diversas transforma- ções, vinculado tanto na evolução da Ciência de forma geral, quanto aos acontecimen- tos históricos. Para que a sistematização do conhecimento geográico ocorresse, foram necessários alguns pressupostos históricos, dos quais se cita: aprimoramento da cartogra- ia, conhecimento de toda extensão terrestre, grande quantidade de informações sobre diferentes lugares e a constituição do sistema capitalista. Para que possamos estabelecer um diálogo entre as duas ciências – História e Geograia_, passamos a apresentar alguns conceitos básicos, bem como um breve histórico da evolução do pensamento geográico. Figura 1: Alexander von Humboldt © sh u tt er st o ck ©shutterstock 17 Objeto da Geograia R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . OBJETO DA GEOGRAFIA A Geograia tem como objeto o espaço geográfico, o espaço produzido e transfor- mado pela sociedade. Estuda a localização e a distribuição dos fatores que inluenciamnessa construção (recursos naturais, características cli- máticas, produção industrial, urbanização, entre outros), bem como sua dinâmica, sua “reconstrução”. No aspecto escolar, a Geograia é a disciplina que contribui para o desenvolvimento da noção de localização e orientação, objetivando que o aluno perceba todos os fatores que atuam direta e indiretamente em sua realidade, e, ainda, se reconhecer também como produtor dessa realidade. No campo cientíico, a Geograia estuda a dinâmica natural, social e eco- nômica, se fazendo assim uma ciência transversal, ora se valendo de temas das “ciências naturais”, ora das “ciências sociais”, com intuito de compreender a dinâ- mica de produção/transformação do espaço ao longo do tempo. Nas palavras de Claval (2010, p. 08), Ao lado das obras didáticas ou enciclopédicas que chamam a atenção, a Geograia está presente nas práticas, nas habilidades, nos conhecimen- tos, que todos sempre mobilizamos em nossa vida diária, nos preceitos que os governos observam para dirigir seus países e nos procedimentos aos quais recorrem os empreendedores para conceber, fabricar e divul- gar os bens que eles produzem e vendem. No contexto dessa nossa disciplina (Geograia aplicada à História) se faz mister evidenciar a relação quase indissociável da Geograia com a Cartograia, fazendo com que o mapa, que é um produto cartográico, esteja presente praticamente em todos os trabalhos geográicos e, em especial, na Geograia escolar. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I A Cartograia consiste no conjunto de técnicas utilizadas para a represen- tação de elementos da superfície terrestre, sejam eles humanos ou naturais, ou seja, podemos dizer que a Cartograia realiza a representação do espaço geográ- ico. Na segunda unidade desse livro, trataremos exclusivamente sobre a relação da Cartograia e da Geograia, mostrando como você, futuro(a) professor(a) de História, poderá utilizar tais recursos em suas aulas. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO (BREVE HISTÓRICO) Geograia, em seu sentido etimológico, signiica “des- crição da Terra” (geo=Terra; graia=escrita, descrição). O termo surgiu na Grécia Antiga e foi utilizado por Ptolomeu como título de sua obra “Geograia” que é composta por oito volumes contendo descrição e localização de vários lugares. Isso relete a característica do pensamento geográico da época, con- forme Moreira (2007, p. 14): Na Antiguidade, a Geograia é um registro cartográico de povos e ter- ritórios. Estado, viajantes e comerciantes requerem do geógrafo as infor- mações de caráter estratégico que os orientem em seus deslocamentos no interior dos modos espaciais de vida de cada povo. De maneira que a Geo- graia e o geógrafo agem e se exprimem através do método e da linguagem que combinam no mapa os símbolos da cosmogonia e as informações ter- ritoriais de cada um dos povos, úteis para os ins da ação prática. ©shutterstock 19 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Os gregos antigos já conheciam a esfericidade da Terra, baseados na sombra projetada na Lua, bem como em outros estudos. Eratóstenes (276 a.C. a 194 a.C.), sabendo da forma redonda do planeta, realizou o cálculo da circunferên- cia terrestre que, dentre os propostos no período clássico, mais se aproximou ao valor real: “42.000 quilômetros, medida quase idêntica à hoje aceita de 40.000”. (ANDRADE, 1987, p. 25) No entanto, os estudos de Ptolomeu, posteriores a Eratóstenes, foram mais aceitos e utilizados até o período das grandes navegações, o detalhe é que Ptolomeu chegou a uma circunferência bem menor, 28 mil quilômetros. Especulações não comprovadas cientiicamente dizem que o “possível caminho às Índias pelo Atlântico” foi inluenciado pela ideia de que a Terra seria menor do que é. Na Europa, durante a Idade Média, as atividades tidas como geográicas são inluenciadas diretamente pela Igreja. Nesse contexto, Moreira (2007, p. 14) airma que “A geograia medieval é uma extensão da Bíblia e o geógrafo, um cartógrafo do fantástico”. A produção cartográica nesse período acaba por representar todo imaginário Bíblico, inclusive com representações do “Céu e do Inferno”. O enfo- que no doutrinamento e na difusão dos ideais da Igreja era mais importante do que a adequada representação do espaço geográico. “Ptolomeu [...] proclamou que a população do mundo vivia em um pequeno planeta, com 28 mil quilômetros [...]. Infelizmente, o trabalho de Ptolomeu, e principalmente o que ele deixou de fora, inluenciou profundamente ex- ploradores posteriores. Um deles foi Cristóvão Colombo, cuja tripulação não cansou de ouvi-lo resmungar: ‘De acordo com esse maldito Ptolomeu, a essa altura eu devia estar nas Índias’”. Fonte: Léon (2007, p. 225). A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I Enquanto isso, no mundo árabe, sur- gia uma nova religião monoteísta e com peculiar interesse pelos temas geográi- cos – o Islamismo. Em posse da biblioteca de Alexandria, traduziram obras gregas clássicas e passaram a estudar técnicas de localização e deslocamento para viagens, das quais uma merece destaque: o cami- nho para Meca. De acordo com a pregação de Maomé, todo islâmico precisa ir à Meca ao menos uma vez na vida. Os muçulmanos ainda necessitam conhecer meios de orientação, pois suas ora- ções diárias, entre outras atividades, como o abate de animais para alimentação, pre- cisam ser feitas voltadas à Meca. Com isso, enquanto na Europa a Geograia e a Cartograia icaram restri- tas a “representações fantásticas”, no mundo árabe, as técnicas de cartograia e deslocamento avançaram (conforme já mencionado, trabalharemos mais deta- lhadamente com a Cartograia na unidade II). A Idade Moderna é marcada por fatos históricos que provocaram grandes transformações territoriais, inluenciando diretamente o pensamento geográico do período. Estado moderno, grandes navegações, colonialismo, capitalismo, europeização – a Geograia passa a trabalhar em favor da construção dessa “nova Europa”, criando métodos e instrumentos que são utilizados até hoje, deixando, não apenas nas gerações passadas, o peso da dominação europeia. A Cartograia também cresce enquanto técnica, nitidamente vinculada à ideia de Europa como centro do mundo: É o momento que presencia a invenção do planisfério por Mercator (1569), mostrando os continentes e as linhas imaginárias que irão sus- tentar a plotagem do movimento dos céus na superfície terrestre, que servirá de base para matematização da natureza e a divisão da superfí- cie terrestre na sucessão de fusos horários que padronizam o tempo do mundo a partir do fuso horário da Inglaterra, (MOREIRA, 2007, p. 14) Figura 2: Mapa de Psalter (1250) - uma das páginas de ilustrações de um livro de salmos do século XIII Fonte: Noronha (2000, online). 21 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Figura 3: Planisfério de Mercator Há algum erro no mapa abaixo? Por quê? O que a História pode dizer sobre isso? Fonte da imagem: Mapas... (adaptado, online). S L O N © sh u tt er st o ck A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I É no período moderno também que a Geograia passa a se relacionarcom as questões políticas, iniciando o que, posteriormente, chamaremos de Geopolítica (da qual trataremos com mais propriedade na unidade V). GEOGRAFIA CLÁSSICA OU TRADICIONAL As ações ocorridas a partir do século XIX e até a primeira metade do século XX, no que tange ao desenvolvimento do pensamento geográico, caracterizaram o que podemos chamar de Geograia Clássica (ou Tradicional). Estudiosos da Alemanha, França e Estados Unidos merecem destaque graças às produções que coniguram o pilar da Geograia cientíica, propondo conceitos que são utilizados até hoje. HUMBOLDT, RITTER E RATZEL – ESCOLA ALEMÃ A sistematização da Geograia como ciência, conforme já dito, se deu no século XIX, na Alemanha, um país cujas peculiaridades históricas levaram ao desen- volvimento de uma ciência voltada ao espaço, ao território. As singularidades do período dizem respeito ao: [...] caráter tardio da penetração das relações capitalistas nesse país. Na verdade, o país não existe enquanto tal [séc. XIX], pois ainda não se cons- tituiu como Estado Nacional. A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos) cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexistente qualquer unidade econômi- ca ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a uniicação nacional. As- sim, a Alemanha não conhece a monarquia absoluta (forma de governo própria do período de transição), nem qualquer outro tipo de governo centralizado. O poder está nas mãos dos proprietários de terras, sendo absoluto e a nível local – a estrutura feudal permanece intacta. É neste quadro que as relações capitalistas vão penetrar, sem romper (ao contrá- rio, conciliando) com a ordem vigente. Tal penetração vai produzir um arranjo singular, aquilo que já foi chamado por alguns autores de “feuda- lismo modernizado”. Isto é, um relativo desenvolvimento do capitalismo, engendrado por agentes sociais próprios do feudalismo – a aristocracia agrária; uma transformação econômica, que se opera sem alterar a estru- tura do poder existente (MORAES, 2003, p. 59). 23 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Humboldt e Ritter viveram na mesma época e estavam ligados às classes domi- nantes da Alemanha, e apesar de formações distintas, suas ideias convergiam para os mesmos princípios (ANDRADE, 1987, p. 51). Humboldt teve formação naturalista, mais especiicamente em Botânica. No entanto, procurava estudar também as relações sociais e políticas, buscando vín- culos com as condições naturais encontradas ao longo da superfície terrestre. Adquiriu seus conhecimentos também em diversas viagens realizadas na pró- pria Europa, Ásia Central e Setentrional e América Latina. Seus principais livros foram “Quadros da natureza” e “Cosmos”, nos quais Humboldt tratou de paisa- gens, vendo-as como resultado da interação homem e meio. Ritter, por sua vez, era de formação humana (Filosoia e História) e atuou como professor, buscando relacionar os elementos do clima, relevo, hidrograia à cons- trução histórica. Ele, inclusive, apresentou um estudo chamado “A coniguração dos continentes sobre a superfície do globo e suas funções na História”. Assim, podemos dizer que a Geograia de Ritter é um estudo de lugares. “As preocupações sociais de Humboldt eram muito grandes e entre os livros que escreveu destaca-se o “Ensaio político sobre o reino de Nova Espanha”, que seria posteriormente utilizado por Malthus ao formular as suas teorias demográicas”. Fonte: Andrade (1987). A teoria criada por Thomas Robert Malthus (1766-1834), economista e de- mógrafo inglês, que ganhou o nome de “Malthusianismo”, foi à primeira teoria populacional a relacionar o crescimento da população com a fome, airmando a tendência do crescimento populacional em progressão geo- métrica, e do crescimento da oferta de alimentos em progressão aritmética. Fonte: Faria (online a). A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I A uniicação alemã – da qual Humboldt participou diretamente no im de sua vida, trabalhando com o Rei da Prússia – ocorreu por meio de alianças entre os soberanos locais (pequenos “estados” que formavam a “Pré-Alemanha”) e os grupos burgueses. Os envolvidos buscavam uma uniicação territorial, nacio- nal e política capaz de encarar as disputas imperialistas, já iniciadas por países como Inglaterra e França. Friedrich Ratzel, também alemão, foi aluno de Ritter e viveu em um cená- rio diferente dos dois teóricos citados anteriormente: não mais um território tomado pelo ideal de uniicação, e sim o Estado já uniicado, em suas primei- ras décadas. Seu trabalho aplicou o pensamento evolucionista de Darwin, que escreveu “A Origem das Espécies”, ao contexto social, justiicando, assim, a exis- tência de raças humanas mais evoluídas, mais fortes, com maior capacidade de se adaptar ao meio em que vivem e, com isso, capazes de dominar povos mais fracos, menos evoluídos. Partindo de tal pensamento, sua obra surgiu como uma espécie de manual do imperialismo, pois estava vinculado aos ideais expansionistas. Ainda airmava que o poder de um Estado estava no tamanho de seu território e que a capacidade de dominar novas áreas indicava progresso, enquanto a redução territorial repre- sentava decadência. “Daí se desenvolveria a ideia de espaço vital, tão usada por Hitler nos meados do século XX, e que seria a relação entre a população de um Estado e a capacidade de utilização de seu território” (ANDRADE, 1987, p. 55). Com a uniicação tardia, a Alemanha acabou não conquistando colônias, como França e Inglaterra izeram e, dessa forma, começou a expandir seus ter- ritórios na própria Europa. As principais obras de Ratzel são “Antropogeograia” e “Geograia Política”. Apesar das críticas ao vínculo desse pensador com o imperialismo, ele agiu posi- tivamente trazendo ao campo geográico os temas políticos e sociais. Suas ideias inluenciaram outros pensadores, fazendo surgir posteriormente o que chama- mos de Geopolítica (que trataremos na unidade V). 25 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . LA BACHE – ESCOLA FRANCESA A escola francesa de Geograia formou-se no início do século XX, tendo como principal pensador o historiador Paul Vidal de La Blache. Crítico à forte ligação da Geograia de Ratzel com a política propôs uma perspectiva mais liberal que, entretanto, apresentava uma politização mais sutil, menos declarada. O desenvolvimento da Geograia francesa ocorreu em um período no qual o governo da França empenhou grande preocupação com a educação, em espe- cial, com o ensino de História e Geograia. Um dos fatos históricos que mais inluenciou tal preocupação, segundo Andrade (1987), foi a derrota da França perante a Alemanha na Guerra Franco-Prussiana, em 1871. A qualidade do ensino francês (tido como inferior ao alemão) teria preju- dicado o país e levado a França a se ver “[...] humilhada, derrotada, dependente de uma astronômica dívida de guerra, e tendo a Alsácia e parte da Lorena des- membradas” (ANDRADE, 1987, p. 69). O historiador La Blache deiniu o objeto da Geograia como a relação homem- -natureza, trabalhando fortemente com o conceito de região. É interessante aqui um comparativo entre as correntes de pensamento da Geograia alemã e francesa, em que a primeira icou marcada pelo determinismo, pela inluência direta do meio no homem, utilizando-se disso, inclusive, para justiicar a “inferioridade”de alguns povos. As ideias deterministas se desenvolveram com discípulos de Ratzel, apesar desse não ter se pautado no determinismo puro, pois considerava o poder de transformação o meio. Já a escola francesa, a partir de La Blache, considerava que o meio exercia inluência sobre o homem, mas que este poderia, também, ao se desenvolver tec- nicamente, inluenciar o meio – possibilismo (como sugestão, leia a unidade V do livro da disciplina Teorias da História). A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I O Quadro 1 demonstra as principais diferenças entre possibilismo e determi- nismo, no contexto da evolução do pensamento geográico: DETERMINISMO POSSIBILISMO Origem Alemanha França Principais defensores Friedrich Ratzel (idealizador). Defensores: Ellen Churchill Semple e Ellsworth Huntington. Paul Vidal de La Blache (ideali- zador). Defensores: Emmanuel de Mar- tonne, Jean Brunhes e Albert De- mangeon. Contexto histórico Uniicação reacionária (e tardia) do império Alemão sob as mãos de Otto von Bismarck. Terceira República Francesa e conlito de interesses com a Alemanha Ideia de objeto da Geograia Estudo da inluência que a natureza exerce sobre o Homem. A relação Homem-Natureza é percebida a partir da interpreta- ção da paisagem. Relação homem e natureza A natureza determinaria o sucesso ou o fracasso de um povo. O homem passa a ser ativo, podendo abrir possibilidades de desenvolvimento diante da paisagem. Principais conceitos defendidos Espaço Vital: Estabelecido por meio da obtenção do equilíbrio entre a po- pulação e os recursos disponíveis em dado espaço, de forma a garantir sua sobrevivência e desenvolvimento. Forneceu as bases para o desenvolvi- mento da Geopolítica. Gênero de vida: Conjunto de técnicas e costumes passados no decurso histórico de um povo em seu processo de adap- tação e/ou transformação do meio natural buscando garantir a sobrevivência e desenvolvi- mento da população. Pragmatismo mar- cante Defesa do expansionismo Germâni- co. Defesa do colonialismo Fran- cês e crítica ao expansionismo germânico. Quadro 1: Determinismo e Possibilismo Fontes: Moraes (2003) e Andrade (1987). 27 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . HARTSHORNE – ESCOLA NORTE AMERICANA A partir da década de 1930, nos Estados Unidos, Richard Hartshorne, baseado nas ideias do alemão Hettner - que foram pouco divulgadas - elabora uma pro- posta de estudo geográico que vai além do determinismo e do possibilismo: o estudo da integração dos elementos com a diferenciação de áreas (região). É válido mencionar que, no campo geográico, os Estados Unidos, até então, eram vistos como meros repetidores das teorias europeias. A proposta de Hartshorne estava focada na metodologia, admitindo duas formas de estudo: ■ Nomotética: Geograia Geral, generalizadora, utilizando poucos elemen- tos, mas comparando várias áreas (ex.: Geograia do Petróleo, Geograia do Café etc.). ■ Ideográica: Estudo regional, a partir do particular, com mais detalha- mentos e elementos envolvidos. As principais obras de Hartshorne são “A Natureza da Geograia” (1939) “Questões sobre a natureza da Geograia” (1959). O pensamento de Hartshorne fecha o ciclo da Geograia Tradicional – já dando um primeiro passo para o movimento de renovação posterior –, caracterizada pela síntese de fenômenos, sendo o geó- grafo uma espécie de planejador, desenvolvendo teorias sobre região, localização e análise de recursos, a serviço do Estado. Nas palavras de Moreira (2007, p. 17), o geógrafo leva: [...] para a elaboração dos planos governamentais, as técnicas cartográ- icas da inventariação, da descrição e da sistematização sobre as repar- tições e diferenciações dos modos de vida territoriais dos povos e seus ambientes que aprendera desde a Antiguidade. Tudo isso vazado na técnica dos relatórios detalhados, aos quais adiciona agora o poder da análise, quadro a quadro, dos estágios regionais do desenvolvimento econômico-social da sociedade moderna. E assim transforma a Geo- graia numa ciência de síntese para o im do plano dos grandes arranjos e a si mesmo num especialista do planejamento. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO As transformações ocorridas no cenário mundial na primeira metade do século XX, oriundas de fatos históricos como as duas Guerras Mundiais, a crise do libe- ralismo, a crise de 1929, urbanização e êxodo rural, mostraram a necessidade de mudança também no pensamento geográico. É, então, a partir da década 1950 que os primeiros passos para um movi- mento de renovação começam a aparecer. E graças à diversidade de pensamentos surgem várias especulações sobre proposições metodológicas, e o pensamento geográico se fragmenta. Quanto ao movimento de renovação, podemos citar dois grupos predominantes: a Geograia Pragmática e a Geograia Crítica. A Geograia Pragmática, por vezes com outras denominações (Quantitativa, Teorética ou Nova Geograia), caracteriza-se pelo foco metodológico, com aplica- ção propriamente dita do conhecimento geográico. Com discurso de neutralidade cientíica e racionalidade, busca explicar e aplicar o conhecimento geográico por meio de técnicas estatísticas e matemática, com a deinição de médias, índi- ces, padrões, modelos e sistemas. ©shutterstock 29 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Com o avanço das técnicas de sensoriamento remoto (imagens de satélite), fotos aéreas, programas de informática para processamento de imagens, entre outros, em conjunto com a determinação de índices, modelos, sistemas, o con- teúdo geográico continuou servindo, mas agora de maneira mais eicaz, para a elaboração de estratégias e planejamentos por parte dos governos dos Estados. Com isso, vários autores concordam em dizer que a Geograia Pragmática apre- sentou uma renovação metodológica, mas não alterou seu conteúdo social, pois assim como a Geograia Tradicional continuou a servir para estratégias políticas e de poder (ANDRADE, 1987; MOREIRA, 2007; MORAES, 2003). Em suma, podemos dizer que mudou a forma, mas não o conteúdo, continuando a servir as classes dominantes, orientando as estratégias de capital. No Brasil, a Geograia Pragmática foi difundida principalmente durante o período militar, utilizando-se das informações do Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE), criado em 1934 e fortalecido com as ideias da Nova Geograia. O que é IDH? O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida resumida do progresso em longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimen- to humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômi- ca do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de desenvolvimento. Fonte: Desenvolvimento... (online). A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e1 9 9 8 . I Ao “transformar” a sociedade em população e as condições sociais em índices, o espaço geográico deixa de ser visto como “Teatro da História”, e apenas como uma tabela de dados cronológicos. A realização de diagnósticos territoriais por parte da Geograia é de extrema importância para as políticas públicas mais diversas, porém não podemos deixar de ser críticos ao observar os números e identiicar que os “números” são a sociedade, rica por sua história e evolução. O movimento da Geograia Crítica ou Radical, dentro do movimento de reno- vação do pensamento geográico, se mostra crítico tanto à Geograia Tradicional quanto à Geograia Pragmática, por apresentar uma preocupação com a questão da desigualdade de classes. Critica essa Geograia historicamente comprometida com o poder do Estado e com o capitalismo. Uma das principais obras desse período, e que evidencia essa crítica, é o livro de Yves Lacoste (1985) “Geograia - isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra”. Estudaremos de forma mais profunda a obra na unidade V, quando trata- remos de Geopolítica, mas, basicamente, ele critica a forma de uso das informações geográicas em prol dos detentores do poder, bem como a “Geograia escolar”, que agiria também de modo a não formar cidadãos politicamente conscientes. De modo geral, o pensamento da Geograia Crítica está atrelado em enfati- zar a realidade social, o resultado espacial contemporâneo, a construção histórica (materialismo histórico). Passa a tratar, de forma crítica, temas como pobreza, desnutrição, favelização, buscando na desigualdade social, na luta de classes, a expli- cação para esses fenômenos e, além de explicitá-los, propõe formas de resolvê-los. O IDH brasileiro atual é 0,744, próximo ao de países considerados com alta qualidade de vida (a partir de 0,8). Esse dado relete a realidade do povo brasileiro? Fonte: A autora. 31 Evolução do Pensamento Geográico (Breve Histórico) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . No Brasil, há vários autores que seguem a linha crítica, trazendo ideias marxistas em seu discurso. Destaque para Milton Santos (1926-2001), autor da conhecida frase “Existem apenas duas classes sociais, as do que não comem e as dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem”. Nesse aspecto, notamos a forte inluência francesa na Geograia brasileira. Outro geógrafo brasileiro que merece destaque é Aziz Nacib Ab´Saber (1924- 2012), que propôs a divisão do território brasileiro em Domínios Morfoclimáticos. Figura 4: Domínios morfoclimáticos Fonte: Gobbi (online). A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I CATEGORIAS GEOGRÁFICAS (PAISAGEM, REGIÃO, TERRITÓRIO E LUGAR) Categorias geográicas são diferentes formas de se observar o espaço geográico (objeto da Geograia), seja com objetivo de pesquisa ou ensino. Consideramos quatro categorias geográicas: ■ paisagem; ■ lugar; ■ região; ■ território. Sobre a paisagem, Santos (1988, p. 61) airma que: Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser deinida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, mo- vimentos, odores, sons, etc. O termo paisagem pode apresentar outros conceitos em outras áreas do conhe- cimento, como nas Artes e na Arquitetura. Mas, aqui, nos limitaremos à visão geográica. O estudo da paisagem, dentro do pensamento geográico, se deu com a Geograia Francesa, principalmente com La Blache (como observamos no Quadro 1) Na atualidade, Georges Bertrand, geógrafo francês (nascido em 1932), é a maior referência nos estudos sobre paisagem e geograia. A paisagem não é a simples adição de elementos geográicos dispara- tados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da com- binação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. (BERTRAND, 2004, p. 141) Com o intuito de reconhecimento e apropriação da realidade por parte dos alunos, a Geograia escolar costuma trabalhar com a diferenciação entre paisagem natural e paisagem alterada (ou, ainda, humanizada ou antropizada), na qual a primeira se trata da paisagem que ainda não sofreu inluência da sociedade, e a segunda, como o próprio termo revela, já foi alterada, transformada, para o uso da sociedade. 33 Categorias Geográicas (Paisagem, Região, Território e Lugar) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . É praticamente nula a existência de paisagens naturais na atualidade, pois mesmo as áreas não habitadas recebem indiretamente o resultado da ação humana, como poluição atmosférica. Basta reletirmos que o buraco na camada de ozônio se encontra sobre a Antártica, local não habitado por seres humanos. Já a paisagem alterada está presente no nosso dia a dia e podemos considerá- -la como resultados dos diversos fatos históricos ocorridos ao longo do tempo. Nesse contexto, o professor de História pode se utilizar da paisagem para aná- lise de fatos históricos. Observe: A paisagem que acabamos de observar é marcada predominantemente por um fato histórico: II Guerra Mundial. Mas ela também traz outros elementos, que reletem não apenas as ações da guerra, mas sobre o que havia antes da guerra (prédios que outrora não estavam destruídos, por exemplo). E, ainda, notamos a presença humana, mesmo em meio a uma paisagem de destruição, aguardando o momento de “reconstruir” sua história. Figura 5: Berlim (1945) © sh u tt er st o ck A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I Na atualidade, não há como se falar em Geograia de paisagem sem rela- cionar com a questão ambiental. É direito e responsabilidade de todos (direito difuso) e nunca foi tão discutido como nas últimas décadas. A outra categoria geográica a ser tra- tada é o lugar, que pode ser deinido como “A base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identida- de-lugar. [...]. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido atra- vés do corpo.” (CARLOS, 2007, p. 17) Em uma análise baseada na escala local, podemos compreender melhor o indivíduo, sua história especíica (usos e costumes espe- cíicos) e, ao mesmo tempo, percebendo como a globalização inluencia o local (usos e costumes que se tornaram glo- bais). Trataremos sobre globalização na unidade IV. Quando tratamos de região, encontramos vários significados ao longo da evolução do pensamento geográfico, mas que, de forma resumida, podemos deinir como diferenciação de áreas, mediante crité- rios previamente deinidos. Podemos adotar diversos critérios para deinirmos uma região: produção agrí- cola, produção industrial, vegetação, clima, fatores políticos, relevo, entre mui- tos outros. ©shutterstock Figura 6: Mundo Socialista © sh u tt er st o ck 35 Categorias Geográicas (Paisagem, Região, Território e Lugar) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . A Figura 6 demonstra uma regionalização realizada no globo (durante a Guerra Fria), separando países socialistas e capitalistas, ou seja, baseada no sis- tema econômico. A proposta de regionalização do IBGE, que divide o Brasil em cinco regiões, levou em consideraçãouma série de elementos, como economia, clima e vegetação, processo histórico de formação do território. Os estudos para o estabelecimento de uma regionalização do Brasil tiveram início na década de 1940, conforme consta no site do IBGE: Figura 7: Regiões Brasileiras A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I Os estudos da Divisão Regional do IBGE tiveram início em 1941, sob a coor- denação do Prof. Fábio Macedo Soares Guimarães. O objetivo principal de seu trabalho foi de sistematizar as várias ‘divisões regionais’ que vinham sendo pro- postas, de forma que fosse organizada uma única Divisão Regional do Brasil para a divulgação das estatísticas brasileiras. Com o prosseguimento desses trabalhos, foi aprovada, em 31/01/42, através da Circular nº 1 da Presidência da República, a primeira Divisão do Brasil em regiões, a saber: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste. A Resolução 143 de 6 de julho de 1945, por sua vez, estabelece a Divisão do Brasil em Zonas Fisiográicas, baseadas em critérios econômicos do agrupamento de municípios. Essas Zonas Fisiográicas foram utilizadas até 1970 para a divulgação das estatísticas produzidas pelo IBGE e pelas Unidades da Federação. Já na década de 60, em decorrência das transformações ocorri- das no espaço nacional, foram retomados os estudos para a revisão da Divisão Regional, a nível macro e das Zonas Fisiográicas.1 1 Veja mais em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geograia/default_div_int.shtm?c=1>. 37 Categorias Geográicas (Paisagem, Região, Território e Lugar) R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Figura 8: Histórico da divisão territorial no Brasil Fonte: IBGE (1999). Veriica-se, então, que são vários os critérios utilizados para a regionalização e que a contínua transformação do espaço geográico precisa ser considerada nesse processo, conforme podemos ver em outro trecho do texto encontrado no site do IBGE (DIVISÃO... online): O caráter intrínseco da revisão da Divisão Regional do Brasil refere-se a um conjunto de determinações econômicas, sociais e políticas que dizem respeito à totalidade da organização do espaço nacional, referen- dado no caso brasileiro pela forma desigual como vem se processando o desenvolvimento das forças produtivas em suas interações como o quadro natural. Sem deixar de lado as partes constitutivas da referida totalidade, a Divisão Regional em macrorregiões a partir de uma pers- pectiva histórico-espacial enfatiza a divisão inter-regional da produção no País, a par da internacionalização do capital havida pós-60, buscan- do as raízes desse processo na forma como o estado ora tende a intervir, ora a se contrair, em face da evolução do processo de acumulação e de valorização do capital, que pode ser traduzido nos sucessivos e varia- dos Planos de Governo. Existem outras propostas de regionalização para o território brasileiro. A pró- pria deinição dos domínios morfoclimáticos de Ab´Saber (que vimos a pouco) é um exemplo dessas propostas. Uma, em especial, tem sido amplamente utili- zada e aceita, tanto em livros didáticos quanto por pesquisadores – Os quatro “Brasis” de Milton Santos. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I Figura 9: O quatro “Brasis” de Milton Santos Fonte: Brasil... (online a). Milton Santos e Maria Laura Silveira, na obra “O Brasil: Território e Sociedade no século XXI” (Editora Record, 2008), tratam da formação da região concentrada, assim considerada e denominada por concentrar, desde a década de 1930, as relações econômicas, sejam elas as comerciais e, posteriormente, as industriais e inanceiras. A industrialização e a produção agrícola mais moderna – concentradas do Sudeste – e o consumo – mais difuso que a produção, mas também concentrado – constituem o conteúdo mal visível do novo processo ter- ritorial. Acelera-se a tendência à disparidade estrutural de um espaço nacional já diferenciado, com a produção de uma situação em que se torna mais clara a existência de uma periferia e de um pólo (a “Região Concentrada”) (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p. 46). Na proposta em questão, diferente do IBGE, sul e sudeste formam uma mesma região, pois, para Santos e Silveira (2008), as diferenças naturais são pouco rele- vantes no processo de construção do espaço, no que tange às referidas regiões do país. Em suma, a região pode ser deinida por uma ininidade de critérios, isola- dos ou analisados em conjunto. A escolha dos critérios será determinada pelo objetivo da regionalização. Por im, o território consiste em parcela do espaço geográico, geralmente, delimitada por uma fronteira, onde há o exercício do poder e da soberania (países, estados, municípios). É a categoria geográica mais presente no estudo 39 Espaço Geográico e a História R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . das guerras, envolvendo tomada de territórios, redeinição de fronteiras. A História está repleta de casos de redeinições de fronteiras, a exemplo da ex-Iu- goslávia, e mais recentemente com a divisão do Sudão (fazendo surgir o Sudão do Sul – assunto esse do qual trataremos na leitura complementar da unidade). ESPAÇO GEOGRÁFICO E A HISTÓRIA Finalizamos essa unidade buscando justiicar: por que “Geograia aplicada à História”? Primeiramente, porque o espaço geográico, como já vimos, é o espaço produzido pela sociedade e se faz fato histórico por si só. A cidade está ali, as estruturas de segurança estão ali, a poluição e a degradação ambiental. Ao com- preendermos os fatores que levaram à construção do espaço, reconheceremos a História e, em contrapartida, ao apontarmos o resultado da construção da socie- dade ao longo do tempo, reconheceremos a Geograia. Em se tratando de ensino, o uso do espaço geográico como fato, “prova” histórica, principalmente se próximo e conhecido do aluno, efetiva a compreensão da História. Outro ponto que devemos considerar: a História ocorre em algum lugar, em algum território, em alguma região e cria paisagens. A História não ocorre “solta no espaço”, mas sempre no espaço geográico, que, por sua vez, só existe graças aos acontecimentos históricos. O que estudamos até aqui evidenciou a intrínseca ligação entre a História, a Geograia e a Cartograia. O mapa é uma espécie de símbolo da Geograia, pois é a abstração do espaço geográico. O professor de História, comumente, faz uso do mapa como recurso didático, principalmente dos mapas políticos. Entretanto, o espaço geográico pode ser observado, pelos olhos da Cartograia, em outros aspectos, tão signiicantes para História quanto à divisão política. Napoleão não perdera a guerra para o inverno rigoroso da Rússia? Para tratar desse tema, por exemplo, tão conhecido na História, por que não utilizar um mapa de climas? Ou de isotermas (linhas que marcam a variação da temperatura)? A CIÊNCIA GEOGRÁFICA R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . I Discutiremos tal abordagem na próxima unidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos, nessa unidade, como a Geograia, a ciência do espaço produzido e transformado pela sociedade, evoluiu de uma prática descritiva até seus conhe- cimentos serem utilizados com ins políticos e estratégicos, dando embasamento para acontecimentos históricos, como as grandes navegações, o colonialismo, o imperialismo, bem como as guerras. Ao evidenciarmostais fatos, torna-se simples e necessário relacionar os conhecimentos da Geograia e da História. A interdisciplinaridade, tão discu- tida atualmente, possibilita ao pesquisador resultados consistentes e socialmente aplicáveis; no âmbito escolar, promove um ensino crítico, formador de alunos-ci- dadãos, capazes de interpretar e relacionar os conteúdos apresentados, superando o ensino fragmentado, dissociado, meramente conceitual (“decoreba”). O processo de estudo da evolução do pensamento geográico ocorre simul- taneamente à sistematização de outras ciências sociais, como a própria História e também a Sociologia. Apresenta aspectos peculiares, pois a ciência geográica, como vimos, não é nem somente social, nem somente natural – é transversal. Humboldt e Ritter, considerados os pais da Geograia Moderna, demonstram isso por suas formações: o primeiro botânico, o segundo historiador. Conhecer o processo de formação do conhecimento geográico, por outro lado, se faz necessário para que olhemos também de forma crítica ao que ele nos apresenta. Índices, médias, padrões: até que ponto representam a realidade? Até que ponto mascaram a realidade? As divisões territoriais: que fatos históricos carregam? São benéicas a todos? O olhar conjunto da História e Geograia pode nos dar respostas valiosas para tais perguntas. As atividades a seguir ajudarão na relexão e na ixação do conteúdo visto até aqui. Bons estudos! 41 1. Etimologia é o estudo gramatical da origem e história das palavras, de onde surgiram e como evoluíram ao longo dos anos. Tal estudo auxilia na compreen- são do contexto histórico do surgimento dos diversos termos e terminologias. Quanto à etimologia da palavra Geograia, assinale a alternativa correta: a) O seu signiicado expressa o principal objetivo da ciência geográica: descrever a superfície terrestre, para que as outras ciências interpretem a produção do espaço pela sociedade. b) O termo foi criado pelos árabes, durante a Idade Média, que viam na Geograia os conhecimentos necessários para mapear o caminho à Meca. c) O termo foi criado por Humboldt, conhecido como pai da Geograia. d) A origem da palavra é grega e signiica “escrever sobre a Terra” ou “descrição da Terra”. Apesar do signiicado, a Geograia quanto ciência, atualmente, não se limita a descrever lugares. e) O termo foi introduzido no meio cientíico por Ratzel, e expressa a ideia de es- tratégias para dominação de territórios. 2. Categorias geográicas são diferentes formas de se observar o espaço geográ- ico, seja com objetivo de pesquisa ou ensino. Em relação a tais categorias, analise as sentenças: I. Motivo de conlitos ao longo da História, essa categoria geográica está vincula- da ao poder político, possui geralmente fronteiras delimitadas e marca o limite da soberania. II. Enfatizada no método geográico por Hartshorne, essa categoria pode abordar uma classiicação mais generalizada, com poucos elementos, ou uma análise mais detalhada, em uma área menor, contendo vários elementos. III. Apreendida pelos sentidos humanos, revela, instantemente, elementos visíveis presentes no processo de construção daquele espaço. IV. Espaço vivido, espaço construído e utilizado diretamente por cada indivíduo; palco de resistências culturais. As sentenças acima, quanto às categorias geográicas, representam, respec- tivamente: a) Lugar, paisagem, território, região. b) Região, lugar, paisagem, território. c) Paisagem, região, lugar, território. d) Território, região, paisagem, lugar. e. Território, paisagem, região, lugar. 3. A evolução do pensamento geográico, ao longo da história, é marcada pela in- luência dos interesses de dominação europeia sobre outros territórios, deixan- do traços notórios em nossa cultura e conceitos sobre espaço. Assinale Verda- deiro (V) ou Falso (F) para as sentenças: ( ) Nossa cultura é fortemente marcada pelo que podemos chamar de europei- zação. Acostumamos ver a Europa como centro e na “parte de cima” do mundo nos mapas. O interessante é que nosso planeta não tem “parte de cima” ou “de baixo”: temos norte e sul, que podem ser representados de diferentes formas, sendo necessária apenas a correta indicação da direção pela Rosa dos Ventos. ( ) A Geograia Crítica foi abandonada pela maior parte dos geógrafos, principal- mente no Brasil, por não contribuir para a evolução do pensamento geográico. ( ) A Geograia como ciência surgiu na Alemanha, país cujas peculiaridades his- tóricas se tornaram solo propício para discussões sobre território e produção do espaço. ( ) A Geograia cientíica surgiu primeiramente na França, com os estudos de La Blache, inluenciada pelos ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. A sequência correta é: a) V,F,V,F. b) F,V,F,V. c) F,V,F,V. d) V,V,F,V. e) F,F,V,F. 4. Existem diversas correntes do pensamento geográico, algumas já praticamen- te abandonadas (como o determinismo), e outras ainda ativas, inluenciando as atuais ações voltadas ao estudo e percepção do espaço geográico. Relacione as informações fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Geograia e Estatís- tica (IBGE) à corrente de pensamento geográico pertinente, enfatizando seus objetivos e compromisso social. Para mais informações, consulte o site: <www.ibge.gov.br>). 43 O PAPEL DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD) NA CONSTRUÇÃO DO GOVERNO DA REPÚBLICA DO SUDÃO DO SUL A República do Sudão do Sul declarou sua independência em julho de 2012 a partir de referendo realizado sobre a separação com o Norte, após décadas de conlito civil entre ambas as partes, marcando o desmembramento da porção sul do território sudanês. O mais recente país africano nasce em pobreza absoluta como Estado fraco, devastado por décadas de guerras e abalado por conlitos étnicos. A falta de hospitais, clínicas, estradas, saneamento básico, assistência social e serviços básicos, de maneira geral, demanda a atuação conjunta de organizações internacionais que promovam a reconstrução estatal sul-sudanesa, em áreas essenciais para o desen- volvimento do país, como assistência humanitária, construção civil, repatriação de refu- giados e reconstrução do Estado de direito, por exemplo, pois o Estado parece necessi- tar de apoio inanceiro, estrutural, material e logístico para reestruturar-se. Existem diversas organizações internacionais atuando no país, mas o Programa das Na- ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) destaca-se pela atuação multidimensio- nal, atuando em ações diversas junto às instituições do Governo em todos os níveis, de acordo com as diretrizes expressas. Entretanto, diversas organizações internacionais atuam também em áreas comuns à atuação do PNUD, algumas desenvolvendo políticas isoladas, outras conjuntas. O Sudão, maior país do continente africano, após uma longa e recorrente história de conlitos interétnicos e entre facções contrárias ao governo, vivenciou um processo de secessão que culminou com a declaração de independência da República do Sudão do Sul em julho de 2011, resultado inal da implementação do Acordo de Paz (CPA) im- plementado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005 como tentativa de reconciliação entre Norte e Sul. O conlito entre o Governo do Sudão e o Exército Popular do Sudão teve suas raízes in- cadas na disputa por recursos, poder e religião, conlito este que devastou grande parte do país, causou o deslocamento de refugiados, minou recursos naturais já escassos, con- tribuindo, assim, para a falta de desenvolvimento da região. Leia mais no link disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/ 123456789/107274/319514.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Fonte: Guimarães (2013). U N ID A D E II Professora Me. Emília Bandeira Perissatto O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO Objetivos de Aprendizagem ■ Reconhecer e compreender o papel da Cartograia no desenvolvimento dos conhecimentos históricos e geográicos.■ Discutir a relação intrínseca existente entre a Cartograia e a Geograia, em especial, no ambiente escolar. ■ Reconhecer a produção cartográica na Antiguidade, relacionando os resultados com o contexto histórico. ■ Reconhecer a produção cartográica na Idade Média, relacionando os resultados com o contexto histórico. ■ Identiicar a relação existente entre a evolução do conhecimento cartográico e as conquistas colonialistas e imperialistas. ■ Compreender a importância estratégica das informações cartográicas em períodos de guerra. ■ Identiicar os atuais recursos digitais disponíveis no que tange a materiais cartográicos, discutindo sobre aplicação didática dos mesmos, dentro das aulas de História. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico ■ Cartograia e Geograia ■ Cartograia na Antiguidade ■ Cartograia na Idade Média ■ Cartograia, Colonialismo e Imperialismo ■ Cartograia e as Guerras ■ Cartograia e Geoprocessamento: Ferramenta Didática INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a)! A Cartograia, como veremos, consiste em um misto de ciência, técnica e arte. Tem como principal objetivo registrar, da forma mais precisa e clara possível, as informações sobre o espaço, seja este habitado ou não. Com isso, percebemos a importância do reconhecimento dos materiais cartográicos como verdadei- ros documentos históricos, demonstrando as mutações ocorridas na visão de mundo realizada por nossos antepassados. O estudo de mapas antigos evidencia o histórico de ocupação do território, da troca de informações entre povos, rotas comerciais, conlitos e dominação de terri- tórios, entre outras tantas informações. Vários estudiosos admitem que o homem aprendeu a fazer mapas antes mesmo de aprender a escrever, o que torna ainda mais notável a importância dos conhecimentos cartográicos para comunicação. Apesar da tarefa de fazer mapas não ser necessariamente geográica, os mapas aparecem como uma espécie de símbolo, e material essencial para o desenvolvimento do conhecimento geográico, seja no âmbito cientíico, seja no âmbito escolar. Reconhecer as informações implícitas e explícitas presentes nos materiais cartográicos é de extrema importância para o futuro professor de História que deseja contextualizar espacialmente os fatos estudados. Além das informações históricas, como processo de ocupação, temos com os mapas a possibilidade de expor características naturais, sociais, econômicas levando a um estudo mais profundo, crítico e estruturado. Os mapas caminham junto com a Geograia também em seu papel histó- rico de auxílio à dominação, ao poder. Perceberemos ao longo do estudo dessa unidade (e depois com a unidade V também) que a Geograia e a Cartograia apresentam-se, historicamente, como instrumentos de poder e dominação, e reletindo também os interesses dos mais poderosos (por que a Europa é repre- sentada no centro do mapa?). Na unidade II, trataremos da Cartograia, em seus conceitos, relações históri- cas, objetivos e desdobramentos atuais, em face do desenvolvimento tecnológico. Vamos aos estudos? 49 Introdução R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . ©shutterstock O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO De acordo com Aguirre e Mello Filho (2009, p. 4), “[...] o homem aprendeu primeiro a elaborar mapas rudimentares antes de aprender a ler e escrever”. O pensamento cartográico surge, então, da necessidade do ser humano de conhe- cer o mundo que habita, preocupando-se com o deslocamento sobre este espaço e com suas características. O termo Cartograia, em seu sentido etimológico, refere-se a “descrição de cartas”, entendendo aqui que o termo carta pode ser utilizado como sinônimo de mapa em algumas situações (mais detalhes posteriormente). Na prática, era utilizado para designar a atividade de traçar mapas. Apesar de uma atividade tão antiga, considerações conceituais sobre a Cartograia são consideravelmente recentes, como exposto no site do IBGE (NOÇÕES... online): Em 1949, a Organização das Nações Unidas reconhecia a importância da Cartograia através da seguinte assertiva, lavrada em Atas e Anais: ‘CAR- TOGRAFIA no sentido lato da palavra não é apenas uma das ferramen- tas básicas do desenvolvimento econômico, mas é a primeira ferramenta a ser usada antes que outras ferramentas possam ser postas em trabalho’. Considerada ao mesmo tempo ciência, técnica e arte, a deinição dada pela Associação Cartográica Internacional (ACI) e ratiicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) é: 51 O Papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . A Cartograia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações cien- tíicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observa- ções diretas ou da análise de documentação, volta-se para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como o seu estudo e a sua utilização. (AGUIRRE; MELLO FILHO, 2009, p. 4) Nos estudos geográicos acadêmicos contemporâneos a “Geograia das Redes” é uma forma tão importante de olhar o território, que se constitui em disciplina obrigató- ria em vários cursos de graduação no Brasil, seja de licenciatura ou bacharelado é o que traz o site do IBGE sobre noções básicas de cartograia e a deine dessa forma. É ciência e técnica porque o resultado gráico, para alcançar a exatidão e pre- cisão necessárias, utiliza-se do apoio cientíico no que tange aos conhecimentos astronômicos, geodésicos, topográicos, fotogramétricos e de Sistemas Globais de Navegação por Satélites Artiiciais (GPS), por exemplo. Ou seja, utiliza-se de concei- tos de Astronomia, que consiste basicamente no estudo dos corpos celestes (planetas, estrelas, satélites, entre outros); de Geodésia, que se preocupa com a forma da Terra (conheceremos mais detalhes sobre Geodésia, posteriormente); de Topograia, que aborda a descrição e registro das caraterísticas presentes na superfície de um territó- rio; de Fotogrametria, que consiste no levantamento e interpretação de informações topográicas por meio de fotos (áreas ou não); e enim, de Sensoriamento Remoto, contando com dados de satélites artiiciais, radares, que em conjunto com os avanços de processamento informacional, trazem dados cada vez mais precisos e detalhados. A sigla GPS (Global Positioning System) tem sido traduzida como Sistema de Posicionamento Global. Essa tradução popularizou-se sem qualquer tipo de questionamento pela comunidade técnico-cientíica da área. No entan- to, uma análise aprofundada da tradução mostra sua incoerência. Haja vista que global é a característica fundamental do sistema, e não o posiciona- mento do ponto, que é único. Portanto, se o objetivo é a determinação de pontos sobre a superfície terrestre (X,Y, Z e altura elipsoidal), a tradução cor- reta da sigla GPS deve ser Sistema Global de Posicionamento. Fonte: Aguirre e Mello Filho (2009, p. 4). O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II A Cartograia é, ainda, uma arte, tendo em vista que a representação gráica se subordinaàs leis estéticas da simplicidade, clareza e harmonia, procurando atin- gir, também, um ideal artístico de beleza, satisfação visual (Conf. AGUIRRE; MELLO FILHO, 2009, p. 4). Observe a imagem, que tem como tema a temperatura. Agora relita: o mapa não tem legenda, mas é difícil entender onde as tem- peraturas são mais altas e onde são mais baixas? A informação foi passada de forma clara e, esteticamente, adequada? Fonte: A autora ©shutterstock O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II Figura 11: Domínios morfoclimáticos Fonte: Gobbi (online). 55 O Papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Figura 12: Biomas do Brasil Fonte: SNIF... (online). O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II Os dois mapas evidenciam a questão da subjetividade presente na pro- dução cartográica. O Pantanal, por exemplo, não aparece quanto domínio Morfoclimáticos, e as Araucárias, por sua vez, não constam como bioma. Partindo dessa percepção, entendamos que a Cartograia não é neutra, e questões relacionadas a interesses subjetivos sempre estiveram presentes nos resultados cartográicos. Que a Cartograia, desde os primórdios, caracterizou- -se pela necessidade de orientação e registros de informações sobre lugares, já sabemos, ou pelo menos imaginávamos. Todavia, a inalidade mais marcante na história dos mapas foi a de estarem voltados à prática, a serviço da dominação e do poder. Registrando o que interessava a minoria, e investindo no constante aperfeiçoamento dentro desse pensamento. Sendo assim: Os mapas, junto a qualquer cultura, sempre foram, são e serão formas de saber socialmente construído; portanto, uma forma manipulada do saber. São imagens carregadas de julgamentos de valor. Não há nada de inerte e passivo em seus registros (MARTINELLI, 2008, p. 8) Bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas, são as comunidades bio- lógicas, organismos da fauna e da lora, como lorestas tropicais úmidas, tundras, savanas, desertos árticos, lorestas pluviais, subtropicais ou tem- peradas, biomas aquáticos, como recifes de coral, zonas oceânicas, praias e dunas. Essa palavra foi criada por um ecólogo americano chamado Frederic Cle- ments, que deiniu bioma como uma comunidade de plantas e animais, ge- ralmente de uma mesma formação. Desde a sua criação, bioma vem sofren- do algumas modiicações e muitas deinições. Os biomas apresentam tipos isionômicos semelhantes de vegetação, os mesmos fatores ecológicos e estão estreitamente relacionados às faixas de latitude, por conseguinte ao clima. Por exemplo: nas áreas de baixa latitude ou de clima tropical, predominam as lorestas tropicais; nas áreas de média latitude surgem as lorestas temperadas. Fonte: Bioma In: Signiicados (online). 57 O Papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Ainda nessa unidade, no item Cartograia, Colonialismo e Imperialismo, tra- taremos mais profundamente dessa relação da Cartograia com os interesses de poder e dominação política, territorial, econômica e cultural. Analisando ainda as iguras 10, 11 e 12, expostas a pouco, percebemos tam- bém como a técnica cartográica evoluiu: não encontrou nas duas últimas iguras árvores ou outras plantas como meio de representar as referidas vegetações, enquanto na igura 10, temos a representação do relevo por meio de “desenhos” propriamente dito de montanhas. A evolução das técnicas cartográicas está rela- cionada à própria evolução do conhecimento cientíico, mas, principalmente, às diferentes “visões de mundo” que a humanidade apresentou ao longo da histó- ria. Nessa unidade também trataremos sobre as peculiaridades da Cartograia ao longo da História, de forma mais detalhada do que já vimos na unidade I. Sobre a relação entre percepção do mundo vivido, e produção cartográica Martinelli (2008, p. 8) airma que: Como linguagem, os mapas conjugam-se com a prática histórica, po- dendo revelar diferentes visões de mundo. Carregam, outrossim, um simbolismo que pode estar associado ao conteúdo neles representado. Constituem um saber que é produto social, icando atrelados ao pro- cesso de poder, vinculados ao exercício da propaganda, da vigilância, detendo inluência política sobre a sociedade. E acompanhando o progresso do conhecimento da humanidade, a Cartograia modiica continuamente sua metodologia, em acordo com a disponibilidade tecnológica. Assim, os mapas estão presentes “praticamente em todas as ativi- dades humanas, haja vista que é a primeira ferramenta usada para qualquer tipo de planejamento do espaço físico da superfície terrestre” (AGUIRRE; MELLO FILHO, 2009, p. 4). Para que consigamos compreender adequadamente as informações trazidas pelos materiais cartográicos e, por consequência, utilizá-los como instrumento didático, conheçamos alguns dos conceitos básicos da Cartograia. O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II CONCEITOS BÁSICOS DE CARTOGRAFIA Caro(a) aluno(a), os conceitos aqui explicitados não contemplam a totalidade das deinições que envolvem o processo de produção cartográica, até porque alguns deles são muito especíicos e fogem do contexto e objetivos da nossa dis- ciplina. Com isso, nosso foco estará na interpretação e uso do mapa para ins didáticos, pensando na realidade e pretensões do futuro professor de História. Até os professores de Geograia não estudam profundamente todos os aspec- tos da Cartograia, pois, como já dito, são utilizados na produção cartográica conhecimentos oriundos de diversas ciências. Iniciemos, então, com a diferenciação de mapa e carta. Em suma, a dife- rença entre os dois materiais está na escala e no detalhamento e precisão das informações emitidas. Figura 13: Exemplo de Mapa: Pontos extremos e fronteiras brasileiras Fonte: Pontos... (online). 59 O Papel da Cartograia no Conhecimento Geográico e Histórico R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Figura 14: Exemplo de carta: Geologia do Estado de Roraima Fonte Disponivel em: tp://geotp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/geologia/unidades_federacao/rr_geologia. pdf; Acesso em 29/11/15. O PAPEL DA CARTOGRAFIA NO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . II Na igura 13, podemos notar a demonstração de informações simples, com pouco detalhamento, em um material cartográico de escala pequena, ou seja, cobre um vasto território, mas sem dar muitos detalhes sobre ele. Enquanto isso, a igura 14 é tão rica em detalhes que o limite do tamanho da página desse livro impede a visualização das informações (acessando o link é possível ver todos os detalhes). Na Carta Geológica de Roraima, a escala é grande, e acessando o material pelo site do IBGE é possível ver detalhadamente cada variação rochosa do estado. A diferença entre os dois materiais é enfatizada por Aguirre e Mello Filho (2009, p. 5-6), mostrando que:
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