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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL APLICADOS MÓDULO 1: PRINCÍPIOS DAS CIÊNCIAS CRIMINAIS TEMA 1 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS I Aula II – Devido Processo Legal TEXTO Com previsão expressa no art. 5º, LIV, da Constituição Federal, ao lado da Dignidade da Pessoa Humana, o Devido Processo Legal é um princípio regente, de valor pré-constituinte e hierarquia supraconstitucional, igualmente sustentáculo da efetividade das propostas do Estado Democrático de Direito, garantindo que a prestação jurisdicional somente se concretize mediante o respeito de regras instrumentais previamente estabelecidas, distante das quais ninguém poderá sofrer sanção penal. Em outras palavras, o devido processo legal exige respeito aos mecanismos procedimentais fixados, somente em razão dos quais o Estado pode conferir a cada um o que merece. Depreende-se, pois, que o Devido Processo Legal possui dois aspectos: a) Substantivo - voltado ao direito penal material, assegurando respeito a legalidade, a anterioridade, a irretroatividade, a proporcionalidade, a individualização, a vedação contra dupla punição e todos os demais; b) Procedimental - de ordem processual penal, referente aos instrumentos necessários à formação da culpa, tendo como corolários a ampla defesa, a contraditório, o juiz natural, e todos os outros princípios processuais penais. Com efeito, denota-se que o devido processo legal é sustentáculo para todos os demais princípios norteadores penais e processuais penais, reclamando sua observância e fiel cumprimento, como instrumentos de garantia da prestação jurisdicional. Por fim, acerca da terminologia empregada, é certo que o devido processo legal deve ser observado por todos os ramos do direito processual e, em se tratando da seara penal, inexiste motivos para se conferir designação distinta1, porquanto obviamente voltada ao processo penal. ASPECTOS CRIMINAIS Sob o viés substancial, o devido processo penal impõe o respeito ao princípio da legalidade, assegurando que ninguém responda por algo desprovido de previsão legal, ainda garantindo que a tipificação das condutas seja compreensível por todo o cidadão, como forma de orientar seus comportamentos futuros dentro da licitude, sem margem para arbitrariedades e autoritarismos pelo Estado, imperativos consubstanciados através da taxatividade, anterioridade e irretroatividade da lei penal. Do mesmo modo, ilide a responsabilidade penal objetiva, a padronização das penas e a dupla punição pelo mesmo fato, exigindo a efetiva demonstração da presença de dolo ou culpa pelo acusado, somente mediante a qual restará justificada a aplicação da sanção penal, respectiva ao mal perpetrado, inclusive de forma direcionada à pessoa do infrator, respeitando, portanto, a culpabilidade, a proporcionalidade e a individualização da pena. ASPECTOS PROCESSUAIS Sob o prisma procedimental, o devido processo penal se revela através das diversas garantias conferidas ao acusado, durante a persecução penal, para que desempenha sua defesa, diante de um juízo imparcial, contemplando, 1 Nesse sentido Rogério Lauria Tucci opta por denominar como Devido Processo Penal (Direitos e Garantias Individuais no processo penal brasileiro, 3 ed, São Paulo:RT, 2009, p.57-64) portanto, o contraditório, a ampla defesa, a publicidade, o juiz natural e imparcial. O mesmo se observa durante a execução penal, onde o Judiciário segue gerindo o cumprimento da reprimenda pelo sentenciado, ao qual são garantidos todos os mecanismos de defesa. Por certo, a execução penal integra a atividade jurisdicional, cabendo ao magistrado fiscalizar e conduzir a concretização da pretensão punitiva, permitindo ao executado formular pedidos ou defender-se em procedimento disciplinar. LEITURA COMPLEMENTAR O conceito de devido processo legal aparentemente anda um pouco esquecido entre nós nos últimos tempos. Cuida-se de uma das mais importantes garantias para defesa dos direitos e liberdades das pessoas, configurando um dos pilares do constitucionalismo moderno. Tem origem na Magna Carta, de 1215, através da qual o rei João Sem Terra, da Inglaterra, foi obrigado a assegurar certas imunidades processuais aos seus súditos. O parágrafo 39 desse importante documento, ainda hoje em vigor, estabelece que "nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão, ou privado de seus bens, ou colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado [...] senão mediante um julgamento regular de seus pares ou em harmonia com a lei do país". Tais prerrogativas foram sistematicamente reconfirmadas pelos monarcas subsequentes, sendo a expressão, "lei do país", substituída pela locução "devido processo legal", em 1354, no Estatuto de Westminster. Com isso, os direitos das pessoas passaram a ser assegurados não mais pela mera aplicação da lei, mas por meio da instauração de um processo levado a efeito segundo a lei. De lá para cá, essa franquia incorporou-se às Cartas políticas da maioria das nações democráticas, constando do artigo 5º, LIV, de nossa Constituição, com o seguinte teor: "Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal." Para a íntegra do texto, segue link abaixo: Conceito de devido processo legal anda esquecido nos últimos tempos LEGISLAÇÃO Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; JURISPRUDÊNCIA PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PROCESSO PENAL. BENS APREENDIDOS. ALIENAÇÃO ANTECIPADA. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE. DIREITO DE PROPRIEDADE. DEVIDO PROCESSO LEGAL. AGRAVO REGIMENTAL. 1. Decisão assentada no princípio da não culpabilidade (art. 5º, LVII, da Constituição Federal, razão por que se concedeu a segurança para evitar venda antecipada de bens apreendidos em processo penal destinado a apurar a prática de tráfico ilícito de entorpecentes. 2. Acórdão que preserva também a eficácia do direito de propriedade, garantido pelo art. 5º, XXII, da Constituição Federal. 3. Aresto que afirma a observância do devido processo legal, inserido na Carta Política (art. 5º, LIV), a determinar, em qualquer processo, sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, da Constituição Federal). 4. O fundamento da decisão recorrida, https://www.conjur.com.br/2017-set-27/lewandowski-conceito-devido-processo-legal-anda-esquecido conforme afirmado na decisão agravada, tem evidente índole constitucional. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1079930 GO 2008/0173030-6, Relator: Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), Data de Julgamento: 18/11/2010, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/12/2010). BIBLIOGRAFIA NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 – págs. 62 a 65; NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 – nota 1 do art. 1º; NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, págs. 68 a 70.
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