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IMPRESSÕES LIGEIRAS, E SOB O ENFOQUE COLETIVO-SINDICAL, ORIUNDAS DOS ARTIGOS 2° E 30 DA MEDIDA PROVISÓRIA (MP)N° 927/2020 Marcus de Oliveira Kaufmann Doutor e mestre em Direito das Relações Sociais (Direito do Trabalho) pela PUC/SP, além de ser advogado e sócio do escritório Paixão Côrtes e Advogados Associados. É bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. É membro efetivo do IBDSCJ – Instituto Brasileiro de Direito Social Cesarino Júnior e da ABRADT – Academia Brasiliense de Direito do Trabalho. A) INTRODUÇÃO ACERCA DA ONTOLOGIA DO DIREITO DO TRABALHO Representando o pacote “antidesemprego” anunciado pelo Governo Federal há alguns dias, a recém-editada MP 927/20 (DOU de 22/03/2020, Edição 55-L, Seção 1 – Extra, página 1), surgida no interstício de menos de dois dias depois de editado o Decreto Legislativo n° 6/2020 (DOU) de 20/03/2020, Edição 55-C, Seção 1), altera, já em regime de calamidade pública, reconhecida e vigente no Brasil até 31/12/2020, diversas normas de natureza trabalhista e, agora, na alcatifa de alterações propugnadas para a estrutura do Direito Coletivo do Trabalho – na linha de normas que, sem calamidade, já alteraram tal estrutura desde a chamada “Reforma Trabalhista” –, insere curiosa situação de modificação da dinâmica de interação entre as fontes de produção de normas trabalhistas. O mundo que ensejou o surgimento, forte e prestigiado, do clássico Direito do Trabalho, era um mundo de desenvolvimento da acumulação capitalista que necessariamente dependia, para manter a própria produção de proteção aos trabalhadores, de um sistema tutelar regrado pelo Estado. Muito embora esse mesmo mundo, hoje, já não seja o mesmo, uma vez que impregnado de um capitalismo que está se desgarrando de seu ápice desenvolvimentista, em que há uma crise estrutural incentivadora de um modelo de produção centrado em formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas e, ainda, de uma crescente inibição do Estado Social, atingido por uma tendência, também, de descentralização normativa, não se deve, de toda a sorte, desconsiderar que os sustentáculos do Direito do Trabalho concebido quando forte era o Estado são os pilares por meio dos quais, em um novo mundo, se combate a degradação social. Enquanto se vive em um modelo capitalista, a tônica do Direito do Trabalho, que só se explica se integrado a esse modelo, é a da, não tanto a regulação de conflitos, mas a de incentivar e propiciar uma adequada e proporcional proteção ao trabalhador, sem aniquilamento empresarial, segundo a principiologia que se construiu pela sua história, revelada no princípio da norma mais favorável, específico do Direito do Trabalho porque “em nenhuma outra disciplina jurídica e em nenhum outro caso, ao menos no Brasil, admite-se a aplicação de norma inferior com desprezo da hierarquicamente superior”1. O princípio da norma mais favorável é representativo, dir-se- ia, da própria ontologia do Direito do Trabalho, sua razão de ser, sua gênese, e, também, da axiologia dos valores trabalhistas, enquanto sistema imposto pelo Estado, razão pela qual jamais o sistema jurídico trabalhista poderia se espelhar em modelos kelsenianos, fechados, mas, sim, em modelos dinâmicos, autopoiéticos, em que, a todo instante, a aplicação da norma mais favorável transita, livremente, desde a leitura do direito positivo, do ordenamento jurídico positivo, até as cadeias de linguagem que a ciência do direito dispõe para o estudo da realidade normativa. Talvez em nenhuma outra disciplina da enciclopédia jurídica se tenha concretizado uma facilidade de construção do sistema jurídico em tal grau. Pelo princípio da norma mais favorável, a leitura do direito positivo, objeto da ciência do direito, confere, ao jurista, ao cientista do direito, tudo o que precisa para o seu discurso descritivo, de modo a formar o sistema jurídico trabalhista sem problemas de consistência. Dito isso, algumas das inovações trazidas pela MP 927/20, mesmo em regime de calamidade pública, parecem, sem dúvidas, tentar obstaculizar aquele livre trânsito que o princípio da norma mais favorável apresenta para trafegar desde a ciência do direito à leitura do direito posto. B) DA INSERÇÃO DA VOZ COLETIVA INTERMEDIADA, NECESSARIAMENTE, PELA PARTICIPAÇÃO SINDICAL, PROFISSIONAL OU ECONÔMICA Nem se arriscaria, aqui, a criticar a opção feita pelo legislador ordinário no que diz respeito à alteração capitaneada no artigo 620 da CLT, na redação oriunda da “Reforma Trabalhista” – quanto à prevalência do acordo coletivo de trabalho sobre a convenção coletiva de trabalho, em temário que ainda requer uma mais profunda reflexão –, uma vez que se coaduna, bem consideradas as opiniões divergentes, com as experiências que se verificam, na Europa continental, no sentido de se prestigiar, cada vez mais, e lá desde a década de 90, a negociação coletiva que tende à empresa, por abrangências materiais e territoriais mais delimitadas, menores, ao mesmo tempo em que se impulsiona o fomento a participação das entidades de representação coletiva em diversos níveis de negociação, tudo em paralelo ao impulso dado a novas representações coletivas de trabalhadores, de perfil unitário e não sindical também atuando, em coordenação, em diversos níveis de negociação. Se não pela negociação coletiva e pelo seu caminhar em direção à empresa, o máximo que se experimentou, no famoso relatório da comissão capitaneada por Alain Supiot2, foi o incremento, de um lado, de organizações competentes para alguma negociação, paralelas à sindical, das quais, por uma aproximação ainda muito frágil, se poderia indicar a comissão de representação dos empregados de que tratam os artigos 510-A e seguintes da CLT, desguarnecidas de um mínimo direito à informação; e, de outro, dos níveis possíveis de negociação para uma estrutura articulada desde os setores mais amplos do espectro confederativo até a realidade do local de trabalho, muitas vezes melhor tratadas por entidades de perfil unitário, e não sindical, em coordenação e articulação de competências com as clássicas entidades sindicais naqueles níveis de representação e de negociação. Como o Brasil só se aproximou, pela realidade oriunda a partir da “Reforma Sindical”, da experiência de negociações tendentes à empresa, no que é simbólico o disposto no artigo 620 da CLT, mas com fantasioso trato do que seria um alargamento das entidades capazes da negociação coletiva em vários níveis de negociação ou em variados níveis setoriais, a realidade que impera, ainda, é a realidade de a voz coletiva só poder ser vertida, para o Direito do Trabalho, mediante a participação efetiva das entidades sindicais e mediante a expressão da função negocial. A lógica, inclusive, imperante, é a da prevalência do negociado sobre o legislado, observadas os limites constitucionais e, também, as omissões constitucionais. Se o princípio da proteção, expresso na vertente da norma mais favorável, é da ontologia do Direito do Trabalho, a sua manifestação, para o Direito Coletivo do Trabalho, só pode ser espelhada em relação ao Direito Individual, uma vez que faces de uma mesma moeda. Para o Direito Individual do Trabalho, o princípio protetivo e da norma mais favorável se expressa pela via heterônoma, pelo Estado, pela norma posta sob aquela vertente. Para o Direito Coletivo do Trabalho, o princípio protetivo se expressa na autonomia privada coletiva e na ação coletiva desenhada a partir e para a negociação coletiva. C) ALGUMAS CURIOSIDADES NORMATIVAS DA MP 927/20: OS ARTIGOS 2° E 30 As explicações que foram feitas balizam a análise, que se quer empreender, aqui, acerca do disposto nos artigos 2° e 30 da MP 927/20. Dispõe, o artigo 2°, que, no estado de calamidade pública (e que não é estado de sítio, frise-se, para os fins dos artigos 137 e seguintes da Constituição Federal), empregador e empregado poderão firmar acordo individual escrito, para garantir a manutenção do vínculo empregatício, e que prevalecerá sobre quaisquer instrumentos normativos,legais e negociais, “respeitados os limites estabelecidos na Constituição”. Os exemplos da MP 927/20 para o enaltecimento do acordo individual escrito em um primeiro plano e para, em outro fenômeno cada vez mais presente no direito positivo, a potestade do empregador em um segundo plano, nesse sentido, são vários: (i) no artigo 4°, quando se prevê que o empregador poderá, a seu critério e no âmbito do teletrabalho, alterar o regime presencial para o teletrabalho, independentemente da existência de acordos individuais ou coletivos; (ii) no artigo 14, § 2°, quando se prevê, no que concerne ao banco de horas, que o empregador determinará a compensação do saldo de horas independentemente de convenção ou acordo individual e coletivo de trabalho; e (iii) no já revogado artigo 18, § 1°, inciso I3, quando se previa, ao contrário da normatização já conhecida do artigo 476-A da CLT, que a suspensão do contrato de trabalho por até quatro meses se dará para a participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional não presencial, de duração igual à da suspensão, independente de qualquer autorização coletiva ou individual. A prevalência do negociado sobre o legislado, na estreiteza pensada para acordos individuais, talvez só se tenha encontrado na hipótese do empregado “hiperssuficiente” tratado no parágrafo único do artigo 444 da CLT, mas sem ter se espraiado por demais e para outros institutos trabalhistas. Isso porque os limites para aquela prevalência foram inseridos nos artigos 611-A e 611-B da CLT, obviamente, sempre, mediante a negociação coletiva para os fins reformistas pretendidos. Salvo as exceções, que confirmariam a regra, a negociação coletiva se porta, no ordenamento jurídico brasileiro, como última barreira jurídica, padronizada para os intuitos flexibilizantes, no âmbito do Direito Coletivo do Trabalho, para permitir o trânsito da aplicação do princípio da aplicação da norma mais favorável, ainda que setorialmente considerada, quando da leitura do direito posto pelo jurista, eliminando, do sistema jurídico trabalhista, problemas de consistência sob o ponto de vista lógica formal. Se a negociação coletiva passou, no estrangeiro, a servir como importante ferramenta para a flexibilização das normas trabalhistas aplicadas setorialmente, de preferência no âmbito da empresa, também serviu como ferramenta para uma melhor gestão da empresa, mas, como se vê, ainda assim, a negociação sempre se deu coletivamente e não individualmente, até para comportar a hipótese do caput do artigo 444 da CLT. O disposto no artigo 2° da MP 927/20 afeta, portanto, sobremaneira, a dinâmica de atuação do princípio da norma coletiva e inverte a lógica da prevalência da negociação coletiva sobre o legislado, interferindo na ontologia do Direito do Trabalho e, dir-se-ia, na autonomia da ação coletiva das entidades sindicais, podendo configurar, no limite, prática discriminatória, de natureza antissindical, de origem estatal, quando da formulação da hipótese, por afronta à disposição do artigo 4° da Convenção n° 98 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), segundo o qual deverão ser tomadas, pelos Estados, medidas apropriadas às condições nacionais para fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação voluntária entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores com o objetivo de regular, por meio de “Convenções”, “os termos e condições de emprego”. Fora dos meandros do princípio da adequação setorial negociada, nesse contexto, parece, inclusive, um tanto quanto descuidada (para não dizer “irônica”), na MP, a observação final, no artigo 2°, de que se deverão observar os limites constitucionais, uma vez que as exceções constitucionais, independentemente de decretação, ou não, de estado de calamidade, estão textualmente previstas e se efetivam não por negociação individual, mas, sim, por negociação coletiva (artigo 7°, incisos VI, XIII e XIV, da Constituição Federal). Em outra vereda, o artigo 30 da MP 927/20 dispõe que convenções coletivas de trabalho e acordos coletivos de trabalho, vencidos ou vincendos em até 180 (cento e oitenta) dias contados de 22/03/2020, poderão ser prorrogados pelo prazo de 90 (noventa) dias, a critério unilateral e exclusivo do empregador, sem, evidentemente, qualquer deliberação ou mínima participação dos trabalhadores envolvidos, e de suas entidades sindicais representativas, a respeito de eventual interesse na prorrogação, ou não. O impacto é muito forte porque afeta, já agora, as datas-bases que se fixam para os meses de abril a setembro de 2020. Esse artigo 30 já tem despertando inúmeras dúvidas porque, como já é público e notório, vários sindicatos, representativos de categorias profissionais e econômicas, entabularam, nos últimos dias, antes, até, do reconhecimento do estado de calamidade, normas coletivas tratando de medidas de combate à pandemia, mormente para a preservação dos vínculos empregatícios mediante a utilização do arsenal e instrumental jurídico já previsto e de certa forma sedimentado na prática da leitura da legislação trabalhista, como, por exemplo: a redução da jornada de trabalho mediante a diminuição proporcional do salário; a utilização, sob o aspecto coletivo, da suspensão do contrato de trabalho na hipótese do artigo 476-A da CLT (e mediante negociação coletiva); a instituição de férias coletivas na hipótese do artigo 139 da CLT (inclusive com previsão de flexibilidade para certos regramentos burocráticos); a instituição da redução de salários em até 25% (vinte e cinco por cento) na hipótese do controverso artigo 503 da CLT (quando confrontado com o artigo 7°, inciso VI, da Constituição Federal); a instituição, mediante negociação coletiva, da instituição de licenças remuneradas e não remuneradas (e, na omissão coletiva, com observância do disposto no artigo 474 da CLT); e a instituição do banco de horas coletivo na hipótese do artigo 59 da CLT (observadas as exceções relativas ao banco de horas individual para a compensação em um período de até seis meses, quando se poderá formalizar por acordo individual escrito; e ao banco de horas em que se permite a compensação horária no próprio mês, quando se admite o acordo individual tácito ou expresso – artigo 59, §§ 5° e 6°, da CLT). Esses casos envolvem instrumentos coletivos de trabalho aperfeiçoados, muitas vezes com grande rapidez graças aos esforços de todos os envolvidos no combate à pandemia e na busca pela preservação do emprego, antes, portanto, da vigência da MP 927/20, mas que estarão vigendo sob a égide da MP 927/20. O estado de calamidade reconhecido pelo Congresso Nacional, agora inserto na MP 927/20, revogaria as normas coletivas já vigentes anteriormente à sua edição e que possuem vigência sob a égide da MP? A preocupação adentra o campo da dúvida prática quando é factível a hipótese de o empregador, arvorando-se em sua potestade e diante das prerrogativas que a MP 927/20 concedeu para a entabulação de acordo individual, poder concluir pela não prorrogação da norma coletiva já sob o império da MP. O problema, que poderia ser pensado como característico de categorias profissionais, é, também, grave para entidades sindicais de categorias econômicas que lutam por fixar a sua representatividade sindical após a “Reforma Trabalhista”. Quid juris? D) ALGUMAS CONCLUSÕES POSSÍVEIS Por tudo o quanto aqui exposto, quer-se crer que a conduta mais segura, para entidades sindicais patronais ou obreiras, que tenham entabulado instrumentos coletivos de trabalho com pactuação de cláusulas de combate à pandemia antes do advento da MP 927/20, seja a de, por termo aditivo ao instrumento coletivo de trabalho, ou por convenção ou acordo coletivo de trabalho, reiterar e ratificar os termos da norma coletiva disposta antes do advento da MP, agora para frisar que o que antes se negociou coletivamente valerá, sem titubeios, em contexto de calamidade e tambémsob o império da MP 927/20, até o termo final da norma coletiva. Poder-se-á dispor, ainda, em termo aditivo de instrumento coletivo de trabalho ou de novo instrumento de reiteração e ratificação da norma coletiva anterior à MP, da necessidade de a prorrogação da norma coletiva só se dar após deliberação assemblear de empregados e empregadores no contexto da negociação coletiva, a fim de obstar a prerrogativa de o empregador deliberar, unilateralmente, a respeito da ultratividade da norma coletiva ou não, o que impediria mais um ataque ao princípio da autonomia privada coletiva e, assim, um mínimo de segurança jurídica, ainda que em clima de calamidade, aos sujeitos coletivos de trabalho de representações profissionais e econômicas. Talvez um dos bens mais relevantes, em crises estruturais, como a da calamidade brasileira, seja o da segurança jurídica, ou da segurança jurídica coletiva, principalmente no que tange ao respeito à negociação coletiva, aos seus sujeitos coletivos de trabalho e à força normativa de suas disposições, elevadas ao patamar constitucional de reconhecimento e tutela. Afinal, assim como não é dado, ao particular, mesmo em calamidade, descumprir a norma heterônoma porque se arvorou na prerrogativa de não a cumprir; não é dado, ao particular, representado coletivamente e sujeito destinatário de normas coletivas de trabalho, unilateralmente prorrogar, ou não, norma coletiva entabulada sob o manto da boa-fé objetiva e lealdade após o advento da MP 927/20. O estado de calamidade não pode chegar ao ponto de destruir a segurança jurídica coletiva, sob pena de mais calamidade institucional. Não é dada, a uma MP, de nítida feição precária, dispor a respeito do afastamento de instrumentos coletivos de trabalho de estatura e proteção constitucional. Mesmo que anteriores à MP 927/20, os instrumentos coletivos de trabalho entabulados não foram revogados pela só disposição do artigo 30 da MP e estão livres da potestade do empregador quando de sua prorrogação, ou não, nos prazos estabelecidos naquele artigo 30. Convém, apenas, como acima se sugeriu, que as entidades sindicais profissionais e econômicas tomem o cuidado, porque a insegurança é reinante4, por intermédio de termo aditivo ao instrumento coletivo de trabalho ou por intermédio de acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, ratifiquem e reiterem normas coletivas produzidas anteriormente à MP 927/20 e que tendem a viger já sob o seu império, destacando o seu caráter normativo e cogente mesmo no contexto da calamidade decorrente da pandemia. 1 SILVA. Luiz de Pinho Pedreira da. Principiologia do Direito do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 1999, p. 65. 2 E da qual surgiu o precioso livro intitulado “Transformações do Trabalho e Futuro do Direito do Trabalho na Europa” (Coimbra, 2003). 3 De tanta repercussão negativa na data de 23/03/2020, o Governo Federal, mediante uma outra medida provisória, a MP 928/2020 (pelo artigo 2°), dada a público no calar da noite de 23/03/2020 (DOU de 23/03/2020, Edição Extra-C), revogou o artigo 18 da MP 927/20. 4 Essa constatação é flagrante no próprio texto da MP 927/20. No revogado artigo 18, por exemplo, embora a suspensão do contrato individual de trabalho ensejasse a imposição independentemente de acordo coletivo de trabalho e de convenção coletiva de trabalho, o seu § 4°, inciso II, regia a hipótese em que se o curso de qualificação profissional não fosse viabilizado, o empregador estaria sujeito às sanções previstas naqueles mesmos, dispensados, acordo coletivo de trabalho e convenção coletiva de trabalho! MEDIDA PROVISÓRIA 927/2020 – CORONAVÍRUS – RELAÇÃO DE TRABALHO Mauricio Reis Advogado no escritório Rocha e Barcellos Advogados. Foi publicada, dia 22/3, a MP 927/20, que trata da flexibilização de diversos dispositivos legais em matéria de trabalho para o enfrentamento da crise de coronavírus. Abaixo os principais pontos tratados nesta MP. TELETRABALHO Mesmo antes da edição da MP a maioria das empresas adotou o regime de teletrabalho nas atividades que comportam tal tipo de execução, notadamente nas atividades administrativas. Segundo a MP, o regime pode ser adotado independentemente da existência de acordos individuais ou coletivos, dispensado o registro prévio da alteração no contrato individual de trabalho. A comunicação deve ser feita com 48 horas de antecedência. O mais importante, considerando que a maioria das empresas já adotou o home office, é atentar para a necessidade de que a situação seja formalizada e regulada em aditivo escrito em até 30 dias contados da mudança para o teletrabalho. DA ANTECIPAÇÃO DAS FÉRIAS INDIVIDUAIS Durante o período de calamidade pública o empregador pode antecipar as férias individuais do empregado, ainda que o período aquisitivo a elas relativo não tenha transcorrido, notificando-o com 48 horas de antecedência. O período de férias não poderá ser inferior a 5 dias corridos. Os trabalhadores que pertençam ao grupo de risco do coronavírus (covid-19) serão priorizados para o gozo de férias, individuais ou coletivas. Para estas férias, o empregador poderá optar por efetuar o pagamento do adicional de um terço de férias após sua concessão, até a data em que é devido o 13º salário e o pagamento do abono pecuniário de 10 dias, caso solicitado pelo empregado, está sujeito à concordância do empregador. Ao pagamento destas férias extraordinárias, não se aplica o disposto no artigo 145 da CLT, ou seja, o empregador poderá fazer o pagamento até o quinto dia útil do mês subsequente ao início do gozo das férias. DAS FÉRIAS COLETIVAS A concessão de férias coletivas não precisa observar o prazo de comunicação com antecedência de 15 dias, bastando 48 horas. Os empregadores estão dispensados da comunicação prévia ao órgão local do Ministério da Economia e a comunicação aos sindicatos representativos da categoria profissional. DA ANTECIPAÇÃO DE FERIADOS Os empregadores poderão antecipar o gozo de feriados não religiosos federais, estaduais, distritais e municipais e deverão notificar, por escrito ou por meio eletrônico, o conjunto de empregados beneficiados com antecedência de 48 horas, mediante indicação expressa dos feriados aproveitados. Para os feriados religiosos, é necessária a concordância do empregado, mediante acordo escrito. DO BANCO DE HORAS Fica autorizada a criação de um banco de horas por meio de acordo coletivo ou individual formal. A compensação deve ocorrer no prazo de até dezoito meses, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública. A compensação de tempo para recuperação do período interrompido poderá ser feita mediante prorrogação de jornada em até 2 horas, que não poderá exceder 10 horas diárias. DA SUSPENSÃO DE EXIGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Durante o período de calamidade pública fica suspensa a obrigatoriedade de realização dos exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais. O exame demissional poderá ser dispensado caso o exame médico ocupacional mais recente tenha sido realizado há menos de 180 dias. Também fica suspensa a obrigatoriedade de realização de treinamentos periódicos dos empregados, previstos nas NRs. As comissões internas de prevenção de acidentes poderão ser mantidas até o encerramento do estado de calamidade pública e os processos eleitorais em curso poderão ser suspensos. DO DIRECIONAMENTO DO TRABALHADOR PARA QUALIFICAÇÃO O contrato de trabalho poderá ser suspenso, pelo prazo de até 4 meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional não presencial oferecido pelo empregador ou por entidades responsáveis por qualificação. Não é necessário negociação coletiva e, embora o pagamento de salários fique suspenso, o empregador poderá pagar, durante o período, uma ajuda compensatória mensal, sem natureza salarial. O valor da ajuda será definido livremente entre empregado e empregador, via negociação individual. O empregado, por sua vez, terá direitoaos benefícios voluntariamente concedidos pelo empregador, que não integrarão o contrato de trabalho, como, por exemplo, vale alimentação, plano de saúde etc. Não poderá haver trabalho durante o período de qualificação, sob pena de serem devidos os salários e encargos de todo o período, sem prejuízo da aplicação de multas. DO FGTS O empregador não precisa pagar nas datas previstas ordinariamente as contribuições ao FGTS relativas às competências de março, abril e maio de 2020, com vencimento em abril, maio e junho de 2020. O recolhimento destes meses poderá ser feito em até 6 parcelas, sem atualização, multa e encargos. OUTRAS DISPOSIÇÕES EM MATÉRIA TRABALHISTA Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. As normas coletivas que vencerem em 180 dias poderão ter sua vigência prorrogada. Por fim, e muito importante, é esclarecer que foram convalidadas todas as medidas trabalhistas anteriormente adotadas por empregadores em relação ao cororonavírus, desde que não contrariem os termos da MP. O CONTRATO DE TRABALHO FRENTE À PANDEMIA DE CORONAVÍRUS: POSSIBILIDADES LEGAIS COM O FIM DE PRESERVAR OS POSTOS DE TRABALHO Afonso Almeida Advogado Trabalhista do escritório MoselloLima Advocacia. Especialista em Direito Constitucional, Administrativo e Tributário pela Universidade Estácio de Sá. Em dias de pandemia do coronavírus, inúmeros são os questionamentos acerca dos reflexos nos contratos de trabalho. Os mais pessimistas defendem que ocorrerão demissões em massa decorrentes da ausência de demanda por mão de obra ou pela falência de empresas (de pequeno, médio e até grande porte). Há quem resguarda certo otimismo, no sentido de que em tempos de crise, alguns setores da economia necessitarão de força de trabalho, como nas empresas de saúde, indústria farmacêutica e outros. Otimista ou pessimista, fato é que a hodierna crise mundial afeta diretamente nosso país (como não poderia ser diferente), fazendo com que Empresas e Empregados unam esforços para que sejam mantidos os postos de trabalho e a continuidade da atividade empresarial, de forma a garantir a vida, saúde e incolumidade física e psicológica dos agentes envolvidos. Em meio a essa problemática, trazemos algumas possibilidades para que haja o enfrentamento da crise, inclusive com as alterações trazidas pela MP 927/20. FÉRIAS COLETIVAS A Empresa poderá conceder férias coletivas, seja para todos os empregados, para determinados estabelecimentos (filiais, por exemplo) ou setores da empresa (administrativo, operacional, oficina etc.). O art. 139, parágrafos segundo e terceiro da CLT1 estabelece que que o Empregador deverá comunicar ao Ministério da Economia Local (antigo Ministério do Trabalho e Emprego) a data de início e término das férias, bem como quais estabelecimento e grupos de empregados serão abrangidos pela medida. A inobservância ao prazo para comunicação estabelecido ensejaria fiscalização e aplicação por parte do Ministério da Economia e, eventualmente, a aplicação de multa. Entretanto, a MP 927/20 de 22 de março, trouxe significativa alteração: o empregador poderá conceder férias coletivas a seus empregados, devendo notificá-los com antecedência mínima de 48 horas, sendo dispensada a comunicação prévia dos sindicatos das categorias e do Órgão local do Ministério da Economia. Não mais é necessária a observância dos limites anuais e relativos aos dias corridos de férias, ficando afastada, por ora, a aplicação do art. 139, § 1º da CLT. Dizeres outros, é permitido que o empregador conceda férias coletivas, comunicando tão somente os empregados atingidos com antecedência mínima de 48 horas, dispensada a comunicação formal ao Órgão local do Ministério da Economia e os Sindicatos. FÉRIAS INDIVIDUAIS Há a possibilidade de concessão de férias individuais aos empregados, inclusive àqueles que não tenham passado pelo período aquisitivo, como se verá oportunamente. Concernente ao gozo das férias individuais, temos que: (i) a comunicação prévia ao empregado foi reduzida de 30 dias para 48 horas; (ii) o tempo mínimo do período de gozo será de 5 dias; (iii) o pagamento das férias poderá ser feito até o quinto dia útil do mês subsequente ao início do gozo das férias2; (iv) o abono (terço de férias) poderá ser pago até a data da última parcela do 13º salário do ano corrente; (v) a conversão de um terço das férias em abono pecuniário (art. 143 da CLT) dependerá de concordância expressa do empregador, devendo o requerimento por parte do empregado ser feito em até 48 horas antes do início do gozo das férias; (vi) os funcionários tidos como integrantes do grupo de risco terão prioridade. Inovação trazida também pela MP 927/20, refere-se à possibilidade de antecipação de férias individuais, mesmo não tendo havido a transcorrência do período aquisitivo. No caso de férias em que já se cumpriu o período de aquisição, aplicam-se as regras dispostas alhures. Relativo à antecipação de férias em que não houve o cumprimento integral do período aquisitivo, sem prejuízo das ressalvas anteriores, importante ter em mente que esse instituto tem ligação direta com questões de saúde e segurança do trabalhador. Dessa forma, a antecipação das férias cujo período aquisitivo não foi integralmente cumprido, pode ocasionar o labor por dois, três, quatro ou mais anos sem gozar férias, o que é contraindicado, mormente sobre a possibilidade de aumento de casos de doenças de cunho ocupacional ou acidentes de trabalho. Desse modo, considerando a urgência e excepcionalidade do momento, a concessão das férias seria providência que visa preservar a vida, a saúde e a incolumidade física dos empregados e da população, além de assegurar os postos de trabalho e a renda. LICENÇA REMUNERADA E COMPENSAÇÃO A Lei 13.979/20, que trata justamente das excepcionalidades decorrentes do coronavírus, prevê medidas de afastamento, quarentena e restrição de circulação. Em seu Art. ٣º, § ٣º, a referida Lei prevê o abono dos dias de falta do empregado, em consequência das medidas preventivas para fins de controle, nesse caso, da pandemia. Noutros dizeres, o contrato de trabalho dos empregados atingidos pela quarentena ou isolamento, mesmo que não infectado, mas como medida de prevenção, ficará interrompido. Dessa forma, por se tratar de interrupção do contrato de trabalho, deverá o Empregador arcar com os salários e demais obrigações pecuniárias. No entanto, caso a licença seja superior a 30 dias consecutivos, o empregado não mais terá direito às férias, iniciando novo período aquisitivo após o fim desse afastamento (art. 133, inciso III, da CLT). A Empresa poderá celebrar ajuste por escrito com os seus colaboradores, prevendo que o período de licenciamento servirá como compensação das horas extras anteriormente laboradas ou, ainda, adotar a regra do artigo 61, § 3º3, da CLT, que prevê que o empregado, mediante a interrupção da prestação de serviços, poderá prorrogar a jornada diária por até 2 horas extras (respeitando o limite de 10 horas por dia), por um período de até 45 dias, para compensar o período de afastamento. TELETRABALHO (HOME OFFICE) Previsto nos artigos 75-A e seguintes da CLT e com alterações trazidas pela MP 927/20, o teletrabalho é o serviço prestado preponderantemente fora das dependências da Empresa por meio de tecnologias da informação e comunicação, os quais, por sua natureza, não sejam considerados como trabalho externo. Nesse caso, não há necessidade de novas contratações no regime de teletrabalho. Com efeito, a alteração do regime presencial para o teletrabalho e vice-versa poderá ser feita por iniciativa exclusiva do empregador, dispensada as formalidades de registro prévio por meio de aditivo contratual Entretanto, as alterações para o regime de teletrabalho ou a reversão deverá ser precedida de notificação com antecedência mínima de 48 horas, por escrito ou por meio eletrônico. Nesse particular, vale registrar que os equipamentos e a infraestruturapara a realização do trabalho remoto ou home office poderão ser fornecidos pelo empregador, sem que isso configure salário ou integre o contrato de trabalho. Lado outro, não havendo o fornecimento dos equipamentos e infraestrutura, o período normal da jornada de trabalho deverá ser considerado como tempo à disposição e, portanto, haverá a necessidade de remuneração. Merece atenção, ainda, que o tempo despendido na utilização de aplicativos ou outros programas de comunicação fora do horário ou jornada de trabalho, não será considerado como tempo à disposição do empregador, salvo se acordo individual ou coletivo contiver previsão em sentido contrário. Por fim, é permitida também aos estagiários e aprendizes a aplicação do regime de teletrabalho, desde que observadas as disposições da Medida Provisória e leis específicas. REDUÇÃO SALARIAL E DA JORNADA DE TRABALHO Não por acaso vista por derradeiro, a Constituição Federal permite4 a redução dos salários por meio de negociação coletiva. Assim, é possível que o ACORDO COLETIVO ou a CONVENÇÃO COLETIVA E TRABALHO estabeleçam a redução da jornada de trabalho com a consequente adequação da remuneração devida. A adequação poderá abranger a jornada (tempo/horas) ou dias de trabalho, sendo vedado o trabalho em regime extraordinário, sob pena de nulidade do novo regime. Importante repisar que redução feita por meio de negociação coletiva deverá observar os princípios constitucionais da dignidade humana e vedação ao retrocesso. Para a negociação coletiva, o Sindicato convocará assembleia geral e, caso não haja a celebração de acordo, a Empresa poderá submeter os termos à Justiça do Trabalho. A nosso sentir, o art. 503 da CLT não foi recepcionado pela Carta Republicana, mormente porque essa trouxe previsão expressa de que a redução salarial só será possível mediante negociação coletiva. Na mesma esteira segue a Lei 4.923/65, de modo que os critérios nela previstos (à exceção do caput do art. 2º) não serão aplicados. Isso porque o critério de flexibilização escolhido pelo legislador constituinte foi a negociação coletiva, sendo essa específica e mais acurada no que diz respeito à defesa dos empregados e à saúde da empresa. Todavia, não há empecilho para a adoção dos critérios da supramencionada lei, desde que sejam feitos por instrumento coletivo de trabalho (acordo ou convenção). Considerando o contexto e a motivação da adoção dessa medida, principalmente no que diz respeito ao zelo pela saúde dos colaboradores e das pessoas da sociedade em geral, entendemos que a aplicação de multa ou ações judiciais que discutam a (i)legalidade das férias concedidas poderá ser dirimida, com base nos princípios da razoabilidade, proporcionalidade, supremacia do interesse público/coletivo sobre o privado. 1 “§ 2º – Para os fins previstos neste artigo, o empregador comunicará ao órgão local do Ministério do Trabalho, com a antecedência mínima de 15 (quinze) dias, as datas de início e fim das férias, precisando quais os estabelecimentos ou setores abrangidos pela medida. § 3º – Em igual prazo, o empregador enviará cópia da aludida comunicação aos sindicatos representativos da respectiva categoria profissional, e providenciará a afixação de aviso nos locais de trabalho.” 2 Afastou-se temporariamente a aplicação do art. 145 da CLT, o qual prevê que “o pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período.” 3 “Art. 61 – Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto. [...] § 3º – Sempre que ocorrer interrupção do trabalho, resultante de causas acidentais, ou de força maior, que determinem a impossibilidade de sua realização, a duração do trabalho poderá ser prorrogada pelo tempo necessário até o máximo de 2 (duas) horas, durante o número de dias indispensáveis à recuperação do tempo perdido, desde que não exceda de 10 (dez) horas diárias, em período não superior a 45 (quarenta e cinco) dias por ano, sujeita essa recuperação à prévia autorização da autoridade competente.” – destacamos. 4 Art. 7ª, VI, Constituição Federal. IMPACTOS DO COVID-19 NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Adalberto Pimentel Diniz de Souza Advogado do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados. Rafael Meng Nóbrega Advogado do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados. O Governo Federal promulgou, em 22.3.2020, a MP 927/20, para enfrentamento do estado de calamidade pública deflagrado pelo Coronavírus (Decreto Legislativo 6/20). Essencialmente, a MP flexibiliza a adoção de providências urgentes pelos empregadores dispensando as negociações com sindicatos de categoria, que poderiam atrasar tais providências. Todas as disposições trazidas já têm precedente em nosso direito trabalhista. São elas: suspensão do contrato para qualificação, antecipação de férias individuais e coletivas, antecipação de feriados, teletrabalho, banco de horas, e diferimento para saque do FGTS. Vejamos como devem ocorrer as medidas. LAY-OFF Essa previsão causa maior alvoroço, pois permite a suspensão dos contratos de trabalho (inclusive do pagamento de salário). No período, a empresa deve oferecer cursos de qualificação online aos empregados e manter benefícios. Conhecido na doutrina como lay-off, o instituto já tinha previsão na CLT, no art. 476-A. A novidade é que se dispensa a autorização em norma coletiva para tanto, isto é, torna supérflua a participação do sindicato na regulamentação da matéria. Ocorreu que o Presidente, por meio de publicação em sua conta pessoal do Twitter, determinou a revogação do art. 18 da MP 927/20. Assim, é possível que a matéria de suspensão dos contratos fique sujeita exclusivamente ao regime da CLT, cuja diferença é a previsão do lay-off em norma coletiva. Por certo, a medida seria adotada por inúmeras empresas. Porém, cabe ressalvar o ônus ao empregador de prestar os cursos de qualificação. Essa condição impede que pequenos negócios, responsáveis por fatia significativa da empregabilidade no Brasil, se habilitem para a adoção do lay-off. DA ANTECIPAÇÃO DAS FÉRIAS COLETIVAS E INDIVIDUAIS E DE FERIADOS A nova MP ainda permite a antecipação de férias individuais e coletivas, que não poderão ser gozadas em período inferior a cinco dias e poderão incidir sobre o período aquisitivo ainda incompleto. Já quanto aos funcionários da saúde, ao contrário, o empregador poderá suspender as férias em curso, mediante notificação por escrito. Com relação ao terço constitucional que incidiria sobre as férias antecipadas, o empregador poderá pagá-lo somente junto do 13º salário, sendo ainda que o pagamento das férias poderá ser realizado até o 5º dia útil do mês subsequente. Também poderão ser adiantados feriados. Se antecipadas as férias coletivas, ficará dispensada a notificação ao Ministério da Economia e aos respectivos sindicatos. TELETRABALHO O teletrabalho, ou trabalho à distância, também já tinha previsão na CLT, nos arts. 75-A e seguintes, desde a aprovação da Reforma Trabalhista. Nos termos da MP 927/20, este regime ficará condicionado à notificação prévia do empregado, por prazo de 48h, sendo que quaisquer gastos com equipamentos e infraestrutura ficarão a cargo do empregador. A novidade neste tópico está relacionada à possibilidade de teletrabalho para estagiários e aprendizes. BANCO DE HORAS Durante o estado de calamidade pública, os empregadores poderão interromper suas atividades. Neste caso, as horas não trabalhadas constituirão de regime especial de compensação de jornada, por meio de banco de horas, estabelecido por meio de acordo coletivo ou individual formal, para a compensação no prazo de até dezoito meses, contado da data de encerramento do estado de calamidade. Mais uma vez, a medidaindepende de notificação às autoridades e ao sindicato. FGTS Sob a vigência da MP, ainda, fica suspensa a exigibilidade de recolhimento do FGTS, que constituirá débito para pagamento parcelado em até seis vezes mensais. De todo modo, persiste a obrigação de declarar as informações sociais. MEDIDAS DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO Por último, o recente diploma suspende a realização de exames ocupacionais e de treinamentos em saúde e segurança. Permite ainda a prorrogação da jornada acima do limite legal, mesmo para as atividades insalubres. REDUÇÃO DA JORNADA Afora a MP 927/20, cabe lançar luz sobre outras prerrogativas ao alcance das empresas para superação da crise. Nesse sentido, artigo 503 da CLT permite a redução geral dos salários em até 25%, observado o salário mínimo da região. O dispositivo permite reduzir os encargos ao empregador, mas pode conflitar com o art. 7°, VI, da Constituição, portanto é recomendável que a redução esteja ancorada em instrumento coletivo. Neste ponto, o governo já prometeu a edição de Medida Provisória que permitirá redução de salário proporcional à jornada, em até 50%, e que deverá otimizar a aplicação do instituto. Por ora, não se sabe os encargos que serão impostos ao empregador como contrapartida. PDV Outra estratégia ao alcance do empregador consiste na propositura de um Plano de Demissão Voluntária, nos termos do art. 477-B, da CLT, a fim de enxugar sua folha salarial e sanear a saúde financeira da empresa. POSSIBILIDADES E LIMITES NA MOBILIZAÇÃO DE INSTITUTOS TRABALHISTAS NO CONTEXTO DA CRISE PANDÊMICA À LUZ DA MP 927/20 Gáudio Ribeiro de Paula Sócio-fundador da Maschietto & De Paula Sociedade de Advogados e vice- presidente da RedeJur – Associação de Escritórios de Advocacia Empresarial. Em um emblemático domingo, já no final da noite, a comunidade jurídica trabalhista foi, enfim, apresentada à MP 927/20, publicada no dia 22 de março de 2020 como uma das respostas institucionais à crise desencadeada pela propagação do COVID-19 em território nacional. No epicentro das perturbações socioeconômicas resultantes da pandemia, patrões e empregados aguardavam sequiosos alguma manifestação oficial do Estado Brasileiro quanto às dúvidas que pairavam em torno de diversos temas trabalhistas, sobretudo aqueles relativos aos efeitos da paralisação da atividade econômica em diversos segmentos. O que se viu foi o fruto de um consenso construído de maneira apressada, como só acontece em cenários de grave comoção social. De um lado, a MP trouxe alguma luz e amparo jurídico no tocante à possibilidade de se mitigar o rigor de diversas regras que poderiam atuar como obstáculos para se imprimir alguma flexibilidade a institutos trabalhistas que poderiam amenizar os duros impactos da retração abrupta das atividades laborais, por razões de ordem pública. Foi o que se deu quanto ao teletrabalho, especialmente útil ante o isolamento social imposto e para cuja implantação passou-se a exigir apenas uma notificação prévia de 48 horas (art. 4º, § 2º, da MP 927/20). Também foi o quanto se verificou relativamente à antecipação de férias individuais e à concessão de férias coletivas, em relação às quais atuava como dificultador o prévio aviso de 30 e 15 dias, respectivamente, exigidos pela CLT (arts. 135 e 139, § 2º, da CLT). Tais prazos foram reduzidos drasticamente para 48 horas, em ambos os casos (arts. 6º e 11 da MP 927/20). O diploma elasteceu, igualmente, o prazo para pagamento da remuneração das férias até o quinto dia útil do mês subsequente ao do início de sua fruição (art. 9º da MP 927/20), assim como do terço constitucional, o qual poderá ser pago em conjunto com 13º salário (art. 8º da MP 927/20). Na mesma direção flexibilizante, institui-se a possibilidade de aproveitamento e antecipação dos feriados, mediante simples cientificação no prazo de 48 horas, com ressalva para os de natureza religiosa, quanto aos quais se requer concordância do trabalhador (art. 13 da MP 927/20). Ainda nessa esteira foi dilatado o prazo para compensação de jornada em banco de horas para 18 meses, prescindindo-se da intervenção sindical para esse fim (art. 14 da MP 927/20). A suspensão de exames médicos ocupacionais, com ressalva do demissional (art. 15 da MP 927/20) e de treinamentos periódicos previstos nas NRs (art. 16 da MP 927/20), ao lado do diferimento do recolhimento do FGTS (art. 19 da MP 927/20), figuram como últimos exemplos da maleabilidade normativa empreendida. De outro lado, a Medida Provisória ofereceu lastro jurídico para a dilatação da jornada dos heroicos profissionais de saúdes mesmo em atividades insalubres e escalas 12X36 (art. 26 da MP 927/20), autorizando a compensação das horas extras no prazo de 18 meses (art. 27 da MP 927/20). Afastou, ainda, o reconhecimento do contágio pelo vírus (COVID-19) como doença ocupacional, a não ser que esteja comprovado o nexo de causalidade entre a enfermidade e o desenvolvimento da atividade laboral (art. 27 da MP 927/20). Garantiu a sobrevida de instrumentos coletivos com prazo de vigência expirado ou em vias de expirar, a critério do empregador e por um lapso de até 90 dias (art. 30 da MP 927/20). A par de outras medidas de menor relevância, fixou, enfim, como diretriz para a fiscalização do trabalho o papel orientador, com ressalva para casos de maior gravidade, como acidentes fatais e exploração de trabalho análogo ao de escravo (art. 30 da MP 927/20). Todas as referidas medidas foram recebidas com algum entusiasmo por empresários e gestores de empresas, embora tenham atraído críticas formuladas por parte dos magistrados trabalhistas1 e procuradores do trabalho2. Entretanto, ao disciplinar aquela que talvez pudesse ser a principal solução para a interrupção forçada das atividades empresariais, a MP findou por frustrar a expectativa tanto de empregados como de empregadores. Com efeito, o “direcionamento do trabalhador para qualificação profissional” passou a contar com prazo de até 4 meses (antes era de 2 a 5 meses), podendo ser implementado por simples acordo individual, o que outrora encontrava-se condicionado à negociação coletiva (art. 18 da MP 927/20). Ao impor ao empregador o ônus de eventual pagamento de “ajuda compensatória” durante o período da suspensão contratual, desonerou completamente o Estado de sua cota- parte, tornando insustentável o uso de tal mecanismo. Não por acaso, antes de se completarem 24 horas da publicação da MP 927/20, o preceito veio a ser revogado por outra medida provisória (MP 928/20, art. 2º), diante da ingente pressão política que se exerceu contra os termos da resposta legiferante. No enfrentamento desse que se tornou o maior desafio global das últimas décadas, as medidas mais brandas mostraram-se ineficientes para a contenção do crescimento exponencial do contágio e seus trágicos consectários, consoante se verificou na lamentável experiência italiana. À semelhança do que se passa com as estratégias sanitárias, as linhas de ação quanto à crise no mercado de trabalho devem passar por uma intervenção firme e ágil, oferecendo rápido socorro a trabalhadores e patrões, antes que se alcance um “ponto de não-retorno” e postos de trabalho sejam extintos de modo mais definitivo. 1 A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA) divulgou nota com teor fortemente crítico [https://www.anamatra.org.br/imprensa/noticias/29459-anamatra-se-manifesta- sobre-o-teor-da-mp-927-2020 – acesso em 23/03/20]. Cumpre notar que a Associação Brasileiro de Magistrados do Trabalho (ABMT) posicionou-se em sentido mais neutro quanto às novas disposições normativas, afirmando o compromisso de uma análise técnica e imparcial dos eventuais conflitos surgidos na aplicação da MP 927/20 [http://www.abmtrab.com.br/n.php?ID=83&T=nota-p-blica-a – acesso em 23/03/20]. 2 A nota da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) foi especialmente dura quanto à Medida Provisória, ao afirmar que o diploma “submete o trabalhador à caridade empresarial” [http://www.anpt.org.br/imprensa/noticias/3642-para-procuradores-do-trabalho-mp-927-2020-submete-o-trabalhador-a-caridade- voluntarista-empresarial – acesso em 23/03/20]. RELAÇÕES TRABALHISTAS EM TEMPOS DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS Sergio Eduardo Canella Advogado sócio do escritório Brandão Canella Advogados Associados. A MP 927/20, publicada no diário oficial em 22 de março de 2020, permite a flexibilização de algumas regras trabalhistas. O objetivo da Medida Provisória, segundo informações do Governo Federal, é tentar apresentar ações para combater os efeitos da pandemia de coronavírus sobre a economia brasileira e evitar o desemprego em massa. O Congresso Nacional deve votar a aprovação do texto em até 120 dias para que este se transforme em Lei. Porém, as medidas já estão valendo, tais como: 1. Teletrabalho, home-office e utilização de banco de horas; 2. A antecipação de férias individuais com a comunicação prévia de 48 horas, sendo que o período concedido não pode ser inferior a 5 (cinco) dias corridos. As férias podem ser concedidas mesmo que o período aquisitivo não tenha transcorrido integralmente e, por opção do empregador, o adicional de um terço das férias poderá ser pago ao empregado em período posterior; 3. A concessão de férias coletivas, também com o aviso- prévio de 48 horas; 4. Antecipação de feriados não religiosos. Para isso é necessária a notificação do empregado com antecedência de 48 horas, por escrito ou por via eletrônica, com a relação dos feriados que serão antecipados. Essa compensação pode ser usada no banco de horas. Para feriados religiosos é necessária a concordância escrita do empregado; 5. As empresas podem retardar o pagamento do FGTS dos próximos 3 meses (abril, maio e junho). O recolhimento destas parcelas poderá ocorrer a partir de julho de 2020 em até seis parcelas. Esse benefício foi autorizado para todas as empresas, independentemente do número de empregados, do regime de tributação, natureza jurídica, ramo de atividade ou de adesão prévia; 6. Suspensão de exigência administrativa em segurança e saúde do trabalho, como por exemplo a autorização do trabalho em regime 12 por 36 em ambiente insalubre, mediante acordo individual. Lembrando que a suspensão do contrato de trabalho sem a contraprestação do pagamento de salário, diante da grande polemica que se instalou entre políticos, partidos e entidades de classes, foi revogada no o dia 23 de março de 2020, pelo Presidente da República. A REVOGAÇÃO DO ART. 18 DA MP 927/2020 E A MANUTENÇÃO DA POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DO LAY OFF MEDIANTE AJUSTE INDIVIDUAL ENTRE EMPREGADOS E EMPREGADORES Daniel Sebadelhe Aranha Sócio do Sebadelhe Aranha & Vasconcelos. Presidente da AATRA-PB – Associação dos Advogados Trabalhistas da Paraíba. Diretor do CESA PB – Centro de Estudos das Sociedades de Advogados, Seccional Paraíba. Mateus Souto Maior Caldas Ribeiro Sócio do Sebadelhe Aranha & Vasconcelos. Especialista em relações de trabalho. Consultor. Dentre as medidas de enfrentamento ao estado de calamidade pública decorrente da epidemia de COVID-19, elencadas pela MP 927/20, de 22.3.2020, a suspensão da relação de emprego em caso de direcionamento do trabalhador para qualificação profissional apresentava-se como a mais viável aos empregadores, já que suspenso o contrato de trabalho inexiste obrigação de pagamento ou de antecipação de salário ou mesmo de adimplemento de quaisquer verbas trabalhista. A repercussão negativa da MP 927/20, sobretudo quanto a dita suspensão de salários, não é consequência da natural e massiva inclinação dos empresários pela aplicação da medida, já que a qualificação profissional como causa de suspensão do contrato de trabalho foi instituída há quase duas décadas, pela MP 2.164- 41, de 24.8.2001, que acrescentou o art. 476-A da CLT, redação ainda vigente. A rejeição popular decorre da previsão contida no § 5º, art. 18, da MP 927/20, o qual isentava o Governo Federal de conceder a bolsa-qualificação prevista no art. 476-A da CLT, abrindo espaço para a possibilidade daqueles empregados direcionados para qualificação profissional permanecerem sem qualquer amparo financeiro. Pressionado pela opinião pública, a Presidência da República revogou o art. 18, caput e parágrafos, da MP 927/20, desta feita através da publicação da MP 928, de 23.3.2020. Ocorre que a revogação parcial da MP 927/20 não impede, em princípio, que as empresas adotem, como forma de preservar os postos de trabalho, a suspensão do contrato de trabalho para qualificação profissional, já que a norma de regência é o art. 476- A da CLT, dispositivo não revogado e que está em plena produção de efeitos jurídicos. Também permanece em vigor o inciso VII do art. 3º da MP 927/20, que integra o direcionamento do trabalhador para qualificação profissional no rol das medidas de enfrentamento ao estado de calamidade pública decorrente da epidemia de COVID-19. Com a revogação do art. 18, caput e parágrafos, da MP 927/20, a regra geral para a suspensão da relação de emprego para qualificação profissional voltou a ser o art. 476-A da CLT, que impõe formalidades para adoção da medida, tais como a negociação coletiva, comunicação com antecedência mínima de 15 dias. Contudo, o art. 2º da MP 927/20, expressamente concede autorização a empregados e empregadores para definição de medidas e concessões necessárias, mediante ajuste individual escrito, para evitar a rescisão contratual durante o período de calamidade decorrente da epidemia de COVID-19. A parte final do referido dispositivo deixa claro que as disposições ajustadas nesse pacto excepcional prevalecem sobre as disposições contidas na CLT e nos instrumentos coletivos. Sob a perspectiva da preservação da relação de emprego, com respaldo no art. 2º da MP 927/20, as formalidades previstas no art. 476-A da CLT, tais como a negociação coletiva e comunicação com antecedência mínima de 15 dias, podem ser flexibilizadas, desde que de comum acordo entre empregado e empregador, possibilitando, destarte a então “vedada” suspensão da relação de emprego para qualificação profissional. Não se pode perder de vista que a finalidade e o bem jurídico tutelado pelo art. 476-A da CLT ao impor autorização sindical, qual seja, preservação dos interesses do trabalhador, serão atingidos com o ajuste particular, já que este tem como objetivo único, desde que firmado com boa-fé e probidade, evitar o seu desemprego e consequente desassistência sua e de seus familiares. Aliás, a boa-fé, em todo esse duro processo epidêmico, possui sobrelevada relevância, afinal sem solidarização de todos os players que orbitam em torno do contrato de emprego, se valendo de razoabilidade e proporcionalidade, os danos ao País serão bem mais profundos. Eis a exegese que se extrai do disposto na Lei 13.874/2019, a qual possui denso conteúdo principiológico que deve ser aplicado a panorama social vivido e que impacta obrigatoriamente no direito do trabalho. Não há como não se interpretar a suspensão momentânea do contrato de emprego, às expensas do Estado, nos moldes propostos, como um grito em favor da ordem econômica, ex-vi art. 170 da Carta Magna, mas que respeita os direitos sociais mínimos estabelecidos no art. 7º da Constituição Federal, motivo pelo qual o que está em jogo é o interesse público com o lay off, e não das partes contratantes (art. 8º da CLT). Portanto, fechado o parêntese, com a revogação do § 5º, art. 18, da MP 927/20, prevalece a obrigação ao Governo Federal para concessão de bolsa-qualificação prevista no art. 476-A da CLT, sem prejuízo de outras medidas pecuniárias emergenciais, de natureza indenizatória, que possam vir a ser concedidas pelo Poder Público. Instituído o lay off, poderá, ainda, o empregado manter ou conceder benefícios como vale-alimentação, cesta-básica e até complementação pecuniária, sem que caracterize salário ou integre de forma definitiva ao contrato de trabalho, conforme §3º do art. 476-A da CLT. E mais, após a suspensão contratual, o empregado não poderá ser demitido nos três meses subsequentes ao retorno dasatividades, sob pena de pagamento de indenização compensatória de no mínimo o valor equivalente a sua remuneração, conforme §5º do art. 476-A da CLT. Com isso, pelo que se percebe, o Governo Federal não conseguiu vedar a instituição de lay off pelos empregadores que devem utilizar o instituto com parcimônia e atenção, desde que se encaixe na sua atividade empresarial e em seu modelo de negócio. E não venha o Governo Federal alegar criação de obrigação nova de concessão de benefício assistencial, uma vez que o instituto em defesa vige no ordenamento jurídico há quase 20 anos, sem qualquer eiva de inconstitucionalidade. Enfim, em um momento de tamanha repercussão social, sem precedentes na história nacional, chegou a hora do Poder Público arregaçar as mangas, sair do misto de letargia e ineficiência que o acomete a fim de assumir a responsabilidade que lhe é inerente, por disposição constitucional, e encontrar soluções urgentes, eficazes que mantenham vivos empresas e empregos. MEDIDA PROVISÓRIA DO PACOTE ANTIDESEMPREGO Erika Mello Advogada do escritório Pires & Gonçalves – Advogados Associados, especialista em Direito Trabalhista. A tão esperada MP 927/20, conhecida como “Pacote antidesemprego” foi, enfim, publicada. Contudo, ela deixou de fora disposições específicas, que antes tinham sido divulgadas, sobre a flexibilização da redução de salários e jornadas em até 50%. Ambas por acordo individual entre empregado e empregador. Neste cenário, a MP 927/20 não trouxe muitas alternativas para as empresas que não têm como abrir mão da força de trabalho, mesmo que reduzida. Isso porque todas as demais medidas previstas (férias, banco de horas, antecipação de feriados, suspensão do contrato de trabalho) tornam o empregado indisponível ao empregador. Na realidade, ela exclui aqueles que não têm como abrir mão da força de trabalho (ainda que reduzida), que precisam do mínimo de empregados para a manutenção de atividades que garantam a continuidade do negócio e, consequentemente, a manutenção da renda dos trabalhadores. Continuamos, na maioria dos casos, na situação “8 ou 80”: manutenção integral do contrato de trabalho sem flexibilização ou dispensa dos empregados. Existem informações de edição de uma nova MP que tratará desse tema, mas, por enquanto, não temos nada concreto. O governo focou, anteriormente, na possibilidade de suspensão do contrato de trabalho por 120 dias, com obrigatoriedade de direcionamento dos empregados para curso ou programa de qualificação profissional. Durante esse período, não haveria pagamento de salário e seria dada como facultativa a fixação do que a MP chamou de “ajuda compensatória mensal sem natureza salarial”, sendo que também não foi definido o valor mínimo de tal “ajuda”. A MP previa, ainda, que durante a suspensão do contrato fossem mantidos os benefícios voluntariamente concedidos pelo empregador, como plano de saúde. Um dos grandes pontos de fragilidade da MP 927/20 foi exatamente a forma proposta pelo Governo para suspensão do contrato de trabalho, o que levou o presidente da República, Jair Bolsonaro, a publicar, no mesmo dia da publicação da MP 927/20, a MP 928, revogando especificamente o art. 18 da MP 927/20, que previa a suspensão. Isso em virtude da extrapolação, com relação à Constituição Federal, da permissão de retirada integral dos salários dos empregados, impactada ainda, pela inexistência de outras medidas de equilíbrio com relação à renda dos trabalhadores submetidos a essa medida. Ou seja, ignorou-se o fato de que o trabalhador sem renda é o consumidor que não consome; logo, a economia, já brutalmente impactada seria ainda mais comprometida. Os demais itens tratados na MP 927/20 continuam válidos e apenas tornaram menos burocráticas outras medidas já existentes de possível ajuste nos contratos de trabalho (teletrabalho, trabalho remoto, férias individuais e coletivas). Um ponto positivo para os empregadores foi a disposição, no art. 36 da MP 927/20, de reconhecimento de validade das medidas trabalhistas já adotadas, que acompanhem o que foi autorizado na MP, no período de 30 dias anteriores à sua edição. Isso traz segurança jurídica a diversas ações que as empresas já tinham implementado em caráter de urgência, com objetivo principal de resguardar a saúde e a segurança dos trabalhadores diante da pandemia da Covid-19. IMPACTOS DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 927/20 PARA ENFRENTAMENTO DO ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA Rafael Tedrus Bento Sócio do escritório Luz & Tedrus Bento Advogados, mestrando em Direito Internacional pela PUCCAMP, especializado em Direito do Trabalho pela PUC/SP e especializado em Direito Empresarial pelo INSPER. Vinicius Medeiros Rossi Advogado do escritório Luz & Tedrus Bento Advogados, especializando em Direito Civil pela Damásio Educacional, formado pela PUCCAMP. Com o advento do vírus Covid-19 e o decreto de estado de calamidade pública nacional, muitos empregadores modificaram a forma da prestação de serviços do empregado sem uma regulamentação, porém, fez-se necessária a instituição de uma norma para reger os contratos de trabalho. O Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, por meio da MP 927/20 trouxe algumas diretrizes, para os empregadores e empregados, que podem ser tomadas sem que desvirtue a finalidade do contrato de trabalho em curso. A regulamentação traz a necessidade da preservação do emprego e da renda, assim, seus dispositivos somente possuem eficácia durante o período em que estiver decretado o estado de calamidade pública, abrindo possibilidade para a existência de acordos individuais por escrito, entre empregado e empregador, para garantir o emprego. A medida provisória traz a superioridade dos acordos efetuados a qualquer outra norma, seja ela coletiva ou legislação vigente, colocando a possibilidade de serem adotadas as medidas de: teletrabalho, antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas, aproveitamento e a antecipação de feriados, banco de horas, suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho, direcionamento do trabalhador para qualificação e o diferimento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. No mesmo dia da Publicação da MP, o Presidente da República determinou a revogação do artigo que estabelece a suspensão do contrato de trabalho por início de curso telepresencial. TELETRABALHO O teletrabalho, regulamentado pelos artigos 4º e 5º da medida provisória, demonstram a possibilidade de o empregador colocar seus empregados em trabalho remoto ou à distância, sem se confundir com trabalho externo. Os obreiros precisam ser notificados com pelo menos 48 horas de antecedência, de forma escrita ou eletrônica, vez que não terão alteração do registro. Além disso, as necessidades de infraestrutura e suas despesas para o desempenho da atividade deve ser firmado por meio de contrato escrito prévio ou em 30 dias da data da mudança da forma de prestação da atividade. Salienta-se que os empregadores podem instituir o regime de teletrabalho para os indivíduos que possuem cargo de menor aprendiz, bem como aos que laboram como estagiários para experiência profissional. FÉRIAS ANTECIPADAS Da mesma maneira, é possível que seja antecipada as férias individuais de cada funcionário (artigos 6º ao 10), por ser esta uma escolha do empregador, sendo obrigado a comunicar com 48 horas de antecedência por meio escrito ou eletrônico, declarando o período de férias que será usufruído pelo trabalhador. As férias individuais não podem ser inferiores a 5 dias corridos, porém, fica autorizada a possibilidade de ser concedida as férias mesmo que o período aquisitivo não tenha ocorrido, ou seja, não é necessário a existência de férias vencidas, além de que, é possível a antecipação de períodos futuros de férias, mas com a necessidade de um acordo individual escrito com o empregado. FÉRIAS PARA GRUPO DE RISCO Ainda, existe a proteção aos trabalhadores que são vistos como grupo de risco pelo contágio da patologia, sendo que estes possuemprioridade para a concessão das férias individuais, por outro lado, podem os empregadores de profissionais da saúde suspenderem as férias ou licença não remunerada de seus obreiros, respeitando a comunicação com antecedência de 48 horas, por meio formal. Em caso de concessão das férias individuais, o empregador tem a opção do pagamento do terço de férias após o empregado já ter saído de férias, até a data que for devida a gratificação natalina, havendo a possibilidade de conversão do terço de férias em abono pecuniário, mas com prévia concordância do empregado, em relação a remuneração de férias, poderá o empregador pagar até o 5º dia útil do mês posterior ao início das férias. Em relação a rescisão contratual, os valores devidos em relação as férias do período de calamidade pública deverão ser acrescidas aos as demais verbas rescisórias. FÉRIAS COLETIVAS Existe ainda, a possibilidade de o empregador conceder férias coletivas (artigos 11 e 12), com aviso prévio de 48 horas ao conjunto de funcionários, com máximo de períodos anuais e limite mínimo de dias corridos, sem qualquer necessidade de notificação ao ministério da economia e aos sindicatos da categoria. ANTECIPAÇÃO DE FERIADOS A medida provisória prevê também a possibilidade de antecipação de feriados federais, estaduais, distritais e municipais (artigo 13), que não sejam de cunho religioso, com aviso prévio de 48 horas de forma escrita ou eletrônica, com expressa indicação do feriado antecipado, no entanto, caso seja necessária a antecipação de feriados religiosos deve existir autorização e concordância do empregado, por meio de acordo individual escrito. BANCO DE HORAS Em continuidade, é previsto a possibilidade de utilização de banco de horas (artigo 14), podendo ser instituído por acordo coletivo ou individual, colocado formalmente aos empregados, pela interrupção das atividades, constituindo um regime especial de compensação de jornada, em até 18 meses, após o estado de calamidade pública, com prorrogação de jornada de até 2 horas, que não exceda 10 horas diárias. EXAMES MÉDICOS OCUPACIONAIS Fica suspensa as exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho (artigos 15 ao 17), para redução de contágio, assim, os exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, ficam suspensos, sendo que os exames que ficaram suspensos devem ser feitos no prazo de 60 dias após o estado de calamidade. Os exames demissionais ficam mantidos de forma geral, podendo ser dispensado pelas empresas se existir exame ocupacional efetuado dentro do prazo de 180 dias, afastando sua obrigatoriedade. TREINAMENTOS Os treinamentos previstos nas normas regulamentadoras, da mesma maneira, ficam suspensos, autorizando a possibilidade de treinamentos online, com observância do empregador dos conteúdos práticos, além de que, as comissões internas de prevenção de acidentes (CIPA), poderão ser mantidas até o final do estado de calamidade pública, suspendendo os processos eleitorais. SUSPENSÃO DO TRABALHO PARA QUALIFICAÇÃO (REVOGADA) Existe ainda, a possibilidade de direcionamento do trabalhador para qualificação (artigo 18), suspendendo o contrato de trabalho pelo prazo de quatro meses, para a participação em curso ou programa de qualificação profissional, não presencial, oferecido pelo empregador. A suspensão não depende de qualquer acordo ou convenção coletiva, sem ligação ao sindicato, podendo ser feito o acordo individualmente ou em grupo, porém, será registrado o período de suspensão na CTPS dos obreiros. Neste período, é facultado ao empregador em conceder ajuda compensatória mensal, sem natureza salarial, com valor definido no acordo efetuado. Cumpre destacar que se o curso não for ministrado ou houver trabalho durante o período de suspensão, fica descaracterizada o instituto, sujeitando o empregador a sanções salarias, encargos e penalidades previstas no acordo. FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço ficará com sua exigibilidade de recolhimento suspensa (artigo 19), nos meses de março, abril e maio do ano corrente, os recolhimentos do período poderão ser feitos de forma parcelada, sem atualização, multas ou encargos, em até 6 parcelas mensais, a partir de julho de 2020. DOENÇA OCUPACIONAL Importante mencionar ainda que existindo o caso de contaminação pelo Covid-19 (coronavírus), não será considerada como doença ocupacional (artigo 29), exceto se for demonstrado o nexo de causalidade da atividade a contaminação, recaindo ônus de comprovação ao empregado. PRAZO PARA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS As medidas tomadas pelos empregadores que não contrariam as determinações da medida provisória estão convalidadas, desde 30 dias antes da data da regulamentação, sendo ainda facultado a estes a prorrogação dos acordos e as convenções coletivos vencidos ou vincendos dentro no prazo de 180 dias da data de vigor da medida presidencial, podendo ser prorrogado por 90 dias. Diante disso, foram instituídas as medidas para a regulamentação de diretrizes trabalhistas aos empregadores e empregados, para que não houvesse qualquer informalidade dos períodos de quarentena da pandemia, legitimando qualquer medida tomada pelos empregadores. (DA SUSPENSÃO) DO CONTRATO DE TRABALHO A DOSE DO REMÉDIO QUE IRIA MATAR O PACIENTE José Carlos Manhabusco Advogado sênior da banca Manhabusco Advogados. Em 22 de março de 2020, o Presidente da República editou a MP 927/20 que dispõe sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), e dá outras providências. O ato está amparado no artigo 62 da Constituição Federal. É verdade que estamos vivendo em estado de calamidade pública, tendo em vista a propagação incontrolável do vírus. O mundo está sendo atacado por algo que não se sabe a proporção da sua malignidade. Não importa quem é o responsável. Todavia, os danos são incalculáveis à humanidade, especialmente aos idosos (mais frágeis). Também é verdade que todos devem dar a sua cota de sacrifício (Poder Judiciário, Poder Legislativo, Poder Executivo, Forças Armadas, Fundos Partidários, auxílios de todos os tipos...), não importando a sua condição e/ou status, seja financeira, social etc. Todos devem contribuir na mesma proporção. Veja-se alguns dispositivos da CLT que tratam da questão: Artigos 468; 472; 476-A. Logo, há previsão da Carta Laboral da possibilidade de alteração, suspensão e interrupção do contrato de trabalho. No entanto, há ressalvas na própria CLT: “Art. 9º. Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”; “Art. 444. As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, às convenções coletivas que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes”. Tudo que consta no texto encontra-se devidamente fundamentado, bem assim de maneira compreensiva. “As empresas poderão suspender o contrato de trabalho de seus funcionários por até quatro meses, período em que eles ficarão sem trabalhar nem receber salário, mas deverão fazer um curso online de qualificação profissional. O texto prevê uma série de mudanças que, segundo o governo, tem o objetivo de evitar o desemprego em massa durante o período de calamidade pública, decretado até 31 de dezembro em razão do novo coronavírus. Segundo a MP, o empregador poderá conceder ao empregado ajuda compensatória mensal, sem natureza salarial, durante o período de suspensão contratual, com valor definido livremente entre as duas partes, via negociação individual. A empresa será obrigada a oferecer cursos de qualificação online ao trabalhador e a manter benefícios, como o plano de saúde. A medida provisória permite, ainda, que empresas atrasemo recolhimento do FGTS, flexibiliza o regime de home office, libera a antecipação de férias individuais mesmo que o trabalhador ainda não tenha trabalhado o tempo exigido para desfrutar do descanso mensal, facilita a https://congressoemfoco.uol.com.br/economia/governo-e-congresso-discutem-suspensao-de-contrato-de-trabalho-durante-pandemia/ https://congressoemfoco.uol.com.br/economia/bndes-anuncia-r-55-bilhoes-para-combate-ao-coronavirus/ concessão de férias coletivas e o uso do banco de horas e permite a antecipação de feriados não religiosos”1. É importante destacar que, segundo a MP, à suspensão dos contratos não dependerá de acordo ou convenção coletiva, ou seja, os acordos individuais entre patrões e empregados estariam acima das leis trabalhistas, desde que a Constituição Federal não seja descumprida (?). É certo também que no período de validade da MP, o empregador não pagará salário e o empregado deixa de trabalhar. De acordo com a MP, caso o empregador não forneça o curso de qualificação, o contrato de trabalho não será considerado suspenso e a empresa fica obrigada a pagar salário e recolher encargos trabalhistas. O período de validade da MP é de 120 dias, mas deve ser aprovada pelo Congresso Nacional, caso em que, se não submetida e aprovada, perde a sua validade. Estão previstos na MP: “a antecipação das férias individuais de seus funcionários mesmo que o tempo de aquisição ainda não tenha sido completado, com aviso antecipado de 48 horas; os trabalhadores do grupo de risco como idosos e pessoas com doenças crônicas serão priorizados; o empregador pode prorrogar o prazo para o depósito do 1/3 proporcional das férias, ou seja até, até 20 de dezembro, coincidindo com o 13º salário; o valor das férias, sem o terço constitucional, poderá ser feito até o quinto dia útil no mês seguinte que o trabalhador sair de férias; e caso o contrato de trabalho seja suspenso antes desta data, o empregador deve quitar os valores na rescisão; a postergação de recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) por três meses; com relação aos meses de março, abril e maio poderão ser parceladas e pagas sem a incidência de multa; para a suspensão do contrato, o empregador deve oferecer um curso de qualificação online ao trabalhador e que benefícios como o plano de saúde sejam mantidos; a empresa poderá conceder uma ajuda compensatória mensal, “sem natureza salarial”, “com valor definido livremente entre empregado e empregador, via negociação individual”; a suspensão do contrato precisa ser registrada em carteira”2. Pois bem. A questão é que esse sacrifício não deve ser suportado, apenas, pelos trabalhadores de um modo geral ou, apenas, pelos seus respectivos empregadores. Todos devem atuar de modo a amenizar os efeitos, não só financeiro, mas acima de tudo, social da população. Os empregados e empregadores não podem pagar essa conta sozinhos, especialmente os micro, pequenos e médios empresários. Outro ponto questionável da MP é também quanto ao fato de convalidar as medidas trabalhistas adotadas por empregadores em momento anterior a edição da MP (período dos trinta dias anteriores à data de entrada em vigor), ainda que não contrariassem o disposto na MP, abre-se um espaço para futuras discussões, pois o poder diretivo do empregador e a subordinação jurídica do empregado, com certeza, desequilibram a relação capital x trabalho. O conteúdo da MP determina o respeito à Constituição Federal, ou seja, no mínimo, devem ser resguardados e respeitados os direitos sociais, isto porque, a dignidade do ser humano está acima de tudo. Em suma, não deveria o Poder Executivo interferir de forma tão invasiva na relação entre patrões e empregados, tendo em vista que se trata de ato-condição, em que os empregados apenas aderem às condições impostas pelo empregador, em que pese a boa intenção. Para surpresa nossa, antes de acabarmos de redigir esse artigo, o presidente Jair Bonsonaro avisou nas redes sociais que revogou o artigo 18 da MP 927/20, que permitia a suspensão do contrato de trabalho por até 4 meses sem salário. O artigo 18 previa que, “Durante o estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º, o contrato de trabalho poderá ser suspenso, pelo prazo de até quatro meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional não presencial oferecido pelo empregador, diretamente ou por meio de entidades responsáveis pela qualificação, com duração equivalente à suspensão contratual...”3. Auguramos sorte e felicidade à iniciativa presidencial. QUE DEUS NOS AJUDE! 1 Fonte: congressoemfoco. 2 Fonte: revista VEJA. 3 Fonte: Agência Brasil, às 14h, do dia 23.03.2020. BREVES COMENTÁRIOS ACERCA DA MP 927 Denise Alvarenga Sócia responsável pela área trabalhista do escritório Motta Fernandes Advogados. Helena Gomez Advogada associada do escritório Motta Fernandes Advogados. Foi publicada no dia 22/3, a MP 927/20, com objetivo de regulamentar as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade, decretada em virtude da emergência de saúde pública internacional decorrente da expansão epidemiológica do Novo Coronavírus. A MP 927/20 teve sua vigência iniciada no ato da sua publicação e sobreveio diante dos novos dilemas relacionados aos contratos de trabalho no atual momento atravessado pelo Brasil, bem como diante da premente necessidade de regular ações que já vinham sendo tomadas pelos empregadores em todo o país. Nos diversos canais de comunicação já se tinha ciência das condutas adotadas pelas empresas, sendo muitas destas condutas irregulares até então, mas que agora, diante da edição da MP 927/20 passam a ser dotadas de alguma segurança jurídica, tanto para empregados, quanto para empregadores. O momento é de extrema excepcionalidade, por isso admitida a flexibilização das condições do trabalho. É importante ter em mente que existem dois prazos no cerne da discussão. O primeiro deles é o período de duração do estado de calamidade que, nos termos do Decreto Legislativo 6/20, produzirá efeitos até 31 de dezembro de 2020, o que evidencia o caráter temporário das medidas constantes na MP 927/20. O segundo é o prazo de vigência da própria MP 927/20. Necessário recordar que a sua subsistência está condicionada à sua conversão em lei pelo Poder Legislativo, que deverá deliberar sobre o texto no prazo de 60 dias prorrogáveis por igual período (uma única vez). Se aprovada pelo Congresso Nacional, a medida retorna à presidência para sanção e passa vigorar como lei federal. Se rejeitada, vetada pela presidência ou não aprovada no prazo de 120 dias, deixará de produzir efeitos. Nota: enquanto este artigo era redigido, obtivemos informações provenientes das redes sociais do Presidente Jair Bolsonaro, informando possíveis alterações nos dispositivos da MP 927/20. Assim, chamamos a atenção do leitor para possíveis mudanças no texto legal após a publicação do presente artigo. Em apertada análise do conteúdo da MP 927/20, verifica-se de pronto grande esforço do Governo Federal na adoção de medidas visando a preservação dos contratos de trabalho. À toda evidência, o objetivo parece ser evitar demissões em massa, o que fatalmente contribuiria para uma crise maior na economia nacional, na sociedade brasileira e culminaria no abarrotamento dos Tribunais Trabalhistas, afinal (arriscamos a afirmar diante do contexto apresentado) a grande massa dos trabalhadores seria dispensada sem o pagamento dos haveres rescisórios. As alternativas propostas pelo Governo (capítulos II, III, IV, V, VI e VIII da MP 927/20) para dar destino à força de trabalho dos empregados, devem ser analisadas de acordo com o tipo de operação de cada empresa, observada a necessidade de mão-de- obra ativa enquanto perdurar o período da crise. Um microempreendedor que não tenha ferramentas para viabilizar o regime de teletrabalho ou para direcionar seus empregados para qualificação, por exemplo, poderá se valer de outras possibilidades conferidas pela MP para dar providência a esses
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