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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 AS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO: A INTERNET COMO ESPAÇO PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO Paula Roberta Santana Rocha Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER A revolução tecnológica trouxe uma nova forma de vida em sociedade. É vivenciado hoje, não mais o nascimento da cibercultura salientada por Lévy1, mas sim, o seu desenvolvimento e expansão. A cibercultura é um termo cunhado pelo filósofo francês Pierre Lévy que designa a transformação das culturas humanas para uma cultura globalizada e cibernética. É a mudança da forma de vida das sociedades, das diversas áreas de conhecimento, dos planos econômico, político, cultural e humano. Numa linha semelhante, tem-se o conceito de Castells em sua célebre obra “A sociedade em rede”2, onde ele explana sobre esse momento histórico vivido pelas sociedades, em que a nossa “cultura material” transforma-se a partir desse novo paradigma tecnológico, que se organiza por meio das tecnologias da informação3. Entre as tecnologias de informação, é possível citar, segundo Castells, a microeletrônica, a computação, as telecomunicações, a optoeletrônica e ainda a engenharia genética. O autor faz a concepção de tecnologia através dos conceitos de Harvey Brooks e Daniel Bells, que seria “o uso de conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível”4. A linguagem digital torna-se assim, o modus operandi do processo tecnológico, a forma como a informação é gerada, armazenada, processada e transmitida. Dessa forma, a revolução tecnológica tem aquilo que Castells denomina de penetrabilidade, isto é, as tecnologias penetram em todos os campos da vida humana e é nesse ponto que o autor demonstra a real essência da revolução, onde o cerne se encontra nas tecnologias de informação, processamento e comunicação. E é neste sentido, que o presente trabalho abordará, isto é, através de uma revisão bibliográfica tratará de questões concernentes à internet, inserida no campo das tecnologias de informação e comunicação. A internet como meio de comunicação e informação foi difundida massivamente na metade da década de 1990 e início dos anos 2000. Todavia, a função que exerce hoje não é a mesma de quando foi criada. Para que se torne possível a compreensão da evolução da internet, suas especificidades e como democratizou a informação, é preciso conhecer sua história e criação da World Wide Web. Breve história da internet A internet teve suas raízes no período da Guerra Fria, quando uma organização do Departamento de Defesa norte-americano, a Arpa (Advanced Research Projects Agency - Agência de Pesquisa e Projetos Avançados) criou, em 1 Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2 ed. São Paulo: 34, 1999. 2 Cf. CASTELLS, Manuel. A sociedade em redes. 5 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 3 Cf. CASTELLS, Manuel. Idem, 1999. 4 Idem, Ibidem, p. 49. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 2 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 1969, a Arpanet, uma rede nacional de computadores. A Arpanet foi desenvolvida para garantir comunicação emergencial caso os Estados Unidos fossem atacados por outro país, especialmente a União Soviética, sua rival5. Como o projeto obteve êxito, em 1970, cientistas e a comunidade acadêmica, que faziam trabalhos relativos à defesa e à segurança nacional tiveram acesso à rede para transferir dados e utilizar e-mails. A partir desse momento, é que se começou a expansão da rede, pois outros centros de pesquisa passaram a oferecer acesso para outras universidades e instituições de pesquisa. Contudo, nesse período, o nome “internet” ainda não existia; era apenas uma rede que se conectava a outras, possibilitando a transferência de dados e o uso do correio eletrônico. Em 1975, a Agência de Comunicações e Defesa passou a ter o controle da Arpanet, depois de inúmeros testes para conexão entre estados distantes como Dallas e Washington. Apesar da comunidade acadêmica e pesquisadores utilizarem a rede para transferência de documentos através do correio eletrônico, o foco da Arpanet ainda era o serviço de informação militar, pois todo o projeto era financiado pelo governo norte-americano. De acordo com Ferrari novas redes começaram a aparecer proporcionando acesso para outras universidades e organizações de pesquisa dentro do país como a Bitnet (Because It‟s Time Network) e a CSNET (Computer Science Network – Rede de Ciência da Computação)6. Segundo Pinho (2003)7, um importante pioneiro dos sistemas de trocas de mensagens foi o Bulletin Board System (BBS), criado em 1978 por Ward Christianson. O BBS permitia que qualquer pessoa pudesse instalar seu próprio servidor com a utilização de um microcomputador e um modem. O servidor disponibilizava aos usuários, programas, dados ou imagens, softwares de domínio público e conversas on-line, os populares chats. No início dos anos 80, o desenvolvimento e utilização do TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocolii) como protocolo para a troca de informações na Arpanet possibilitou a conexão entre redes diferentes, aumentando bastante a abrangência da rede. Ferrari explica que em 1986, uma importante rede foi desenvolvida para conectar pesquisadores dos Estados Unidos por meio de centros de informática, a NSFNET. A NSFNET foi desenvolvida por um órgão independente do governo norte- americano, denominado NSF (National Science Foundation), que de acordo com Pinho passou a ser detentora da Arpanet. Segundo o autor “como uma das primeiras medidas, a NSF criou em 1986, cinco centros de supercomputação para aumentar a largura da banda disponível, todos eles conectados entre si a 56 Kbps, formando a NSFNET, a espinha dorsal da ARPAnet”8. A NSFNET continuou sua expansão, se ligando a outras redes existentes, inclusive fora dos Estados Unidos, passando a interconectar centros de pesquisa e universidades em todo o mundo. Em 1990, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos derrubou a Arpanet, que foi substituída pela rede da NSFNET que se popularizou, em todo o mundo, com a denominação Internet. A palavra internet vem 5 Cf. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2010. 6 Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p.15 7 Cf. PINHO, J. B.. Jornalismo na Internet: planejamento e produção on-line. São Paulo: Summus Editorial, 2003. 8 Cf. PINHO, J. B. Idem, p.29, 2003. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 3 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 de uma expressão inglesa denominada “INTERaction or INTERconnection between computer NETworks” (Interação ou Interconexão entre as redes de computador), tradução livre9. Conforme Ferrari explica, no começo da década de 1990, já existia mais de oitenta países conectados à rede: O cenário do final dos anos 80 era este: muitos computadores conectados, mas principalmente computadores acadêmicos instalados em laboratórios de pesquisa. A internet não tinha a cara amigável que conhecemos hoje. Era uma interface simples e muito parecida com os menus dos BBS. Mas, enquanto o número de universidades e investimentos aumentava em progressão geométrica, tanto na capacidade dos hardwares, como dos softwares usados nas grandes redes de computadores, outronúcleo de pesquisadores, até bem modesto criava silenciosamente a World Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), baseada em hipertexto e sistemas de recursos para a internet10 Em 1991, o protótipo da internet que se conhece hoje estava sendo criado, o World Wide Web pelo pesquisador e engenheiro Tim Berners-Lee e a equipe do Laboratório Europeu de Física de Partículas, o CERN, localizado em Genebra, Suíça. “A World Wide Web é fundamentalmente um modo de organização da informação e dos arquivos na rede” (PINHO, 2003, p.33). O HTML, o HTTP e o URL são métodos que fazem parte da web, que a torna mais simples para usar e mais eficiente. O HTML (Hypertext Markup Language) é a linguagem da web para escrever páginas de documentos, onde se encontram textos, sons e imagens. O HTTP (Hypertext Transport Protocol) é um protocolo de comunicação que possibilita ao usuário transferir dados e informações relativas à WWW. O URL (Uniform Resource Locator) é um localizador de identificação de recursos e serviços da web11. Ferrari12 explica que desde que o www foi lançado, seu crescimento nunca mais parou. “Para dar uma dimensão do crescimento da internet, o número de computadores conectados ao redor do mundo pulou de 1,7 milhão em 1993 para vinte milhões em 1997”. No ano de 2000, segundo dados da UIT13 citados pelo site g1.com, havia 250 milhões de usuários de internet no mundo. Já no início do ano de 2011, o número pulou para dois bilhões. No Brasil, de acordo com dados da ComScore14 de 2010, o crescimento de internautas brasileiros saltou para 20% em relação ao ano anterior. O Brasil possui atualmente a maior número de usuários de internet da América Latina, com cerca de 40 milhões de usuários acima de 15 anos que acessam a internet de casa ou do trabalho. Se consideradas as pessoas abaixo dessa idade e as que acessam a internet de lan houses e da casa de amigos, chega-se a um número estimado de 77,3 milhões de pessoas. 9 Idem, ibidem. 10 Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p. 16, 2010. 11 Cf. Pinho, J. B. Idem. 2003 12 Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p.17, 2010. 13 In: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/01/numero-de-usuarios-de-internet-no-mundo- alcanca-os-2-bilhoes.html 14 In:http://www.comscore.com/por/Press_Events/Presentations_Whitepapers/2011/State_of_the_Inter net_in_Brazil http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/01/numero-de-usuarios-de-internet-no-mundo-alcanca-os-2-bilhoes.html http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/01/numero-de-usuarios-de-internet-no-mundo-alcanca-os-2-bilhoes.html http://www.comscore.com/por/Press_Events/Presentations_Whitepapers/2011/State_of_the_Internet_in_Brazil http://www.comscore.com/por/Press_Events/Presentations_Whitepapers/2011/State_of_the_Internet_in_Brazil Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 4 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 Não se pode deixar de afirmar também o quanto o desempenho dos equipamentos digitais evoluíram (e ainda continuam), em curtíssimos espaços de tempo. Não apenas a técnica em si pode ser levada em conta neste caso, mas também as mutações sociais e culturais que as novas tecnologias, em especial a internet provocou e continua provocando na sociedade contemporânea. Como diz Lévy ao presumir a evolução da cibercultura: As projeções sobre os usos sociais do virtual devem integrar esse movimento permanente de crescimento de potência, de redução dos custos e de descompartimentalização. Tudo nos leva a crer que estas três tendências irão continuar no futuro. Em contrapartida, é impossível prever as mutações qualitativas que se aproveitarão desta onda, bem como a maneira pela qual a sociedade irá apropriar-se delas e alterá-las. É neste ponto que projetos divergentes podem confrontar-se, projetos indissoluvelmente técnicos, econômicos e sociais15 Aqui, o autor prevê o crescimento exponencial dos equipamentos digitais, mas não se propõe a fazer o mesmo em relação ao impacto causado na sociedade. Vivenciamos atualmente esta ascensão, visto que a internet já faz parte da vida de milhões de pessoas e oferece amplos recursos técnicos e um novo suporte para as mais diversas atividades. Internet: o grande fenômeno tecnológico Diversos autores acreditam que a internet é uma das mais importantes inovações provenientes das novas tecnologias. No campo das comunicações, isso se mostra ainda mais visível, já que é um meio que abriga várias mídias em uma só (multimídia) e transmite as informações no momento em que acontecem (tempo real). Para muitos estudiosos, a internet é a mais importante revolução na área da comunicação, desde a invenção da prensa de tipos móveis de Johannes Gutenberg por volta de 1439. Ferrari16 afirma que “o ciberespaço nos permite misturar, articular, e incorporar formatos não-textuais em textuais, imagéticos em sonoros e vice-versa – tudo em um fluxo de negociações intersemióticas”. Tudo isso, por possuir uma textura híbrida e ser elástico e plástico. Essa hibridez mostra o quanto a web se manifesta como uma tecnologia revolucionária que, juntamente com outras tecnologias foi capaz de transformar, não só a sociedade atual, mas todo o cenário da comunicação. Para a autora, a hipermídia entrelaçou a sociedade pós-moderna e derrubou fronteiras entre as profissões por fazer parte da grade curricular de várias delas. (...) a textura híbrida da hipermídia entrelaçou a sociedade pós- moderna em uma hierarquizada replicação rizomática de Deleuze, que foi capaz de prever a desterritoriolização da escrita, saindo de um regime maquínico – com o livro e a imprensa como seus maiores 15 Cf. LÉVY, Pierre. Idem, p. 33, 1999. 16 Cf. FERRARI, Pollyana (Org.). Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007, p. 79. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 5 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 expoentes – e torna-se um rizoma orgânico na web. Absorvemos regimes complexos como um caldo tecnocultural que ingerimos sem grandes reflexões17. Segundo a autora, o filósofo francês Gilles Deleuze já previa como a hipermídia modificaria a tradição da escrita, tornando-a acessível a todos, desterritorializada. Deleuze, juntamente com Félix Guattari, utilizaram a palavra rizoma, que significa raízes de plantas, para simbolizar, de forma filosófica, uma construção horizontal, não-hierárquica, possuindo múltiplas portas de entrada e saída. E essa é a característica da hipermídia. Semelhante ao pensamento dos filósofos acima citados, o “universal sem totalidade” é outra expressão que caracteriza a hipermídia. Segundo Lévy, devido à enorme expansão do ciberespaço, ele só tende a tornar-se “universal”, enquanto que o mundo informacional só tende a tornar-se menos “totalizável”. Assim, ele explica que “o universal da cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo particular”18. Contudo, não é neutro, muito pelo contrário. É um universo indeterminado, paradoxal, desprovido de significado central, que a cada momento se amplia e se desenvolve. Dessa forma, com o advento das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) inauguram-se os termos “Sociedade do Conhecimento” e “Sociedade da Informação”, este último, cunhado por Castells. O paradigma desse novo momento histórico é a manifestação do conhecimento como um novo fator de produção da sociedade capitalista. Kucinski ao dizer sobre as implicações que as novas tecnologias causam, especialmente a internet,acredita que: A internet é o espaço paradoxal em que melhor se manifesta a fragmentação ética e o individualismo de nosso tempo, ao mesmo tempo em que é uma nova e poderosa ferramenta dos libertários, dos que não se resignaram ao triunfo do neoliberalismo19. Com isso, o autor explica que a internet e as novas tecnologias não são um desenvolvimento da revolução industrial do século XVIII, como muitos autores apontam, “as novas tecnologias levam a organização da produção a uma direção oposta à da revolução industrial”20. Agora, grupos de trabalhadores, principalmente de intelectuais podem ter de volta sua autonomia perdida devido à expansão do capitalismo. A liberdade de expressão se torna ainda mais ampla, graças aos mecanismos que a internet oferece. Além disso, esse novo meio de comunicação pode ser acessível a todos por ser barato e de fácil uso. E é nesse ponto que Kucinski expressa maior exaltação: “esse é o maior significado da atual revolução tecnológica. Ela é barata, anticoncentradora e libertária”21. Já na visão filosófica de Chauí, com os meios digitais, o poder do capital se detém sobre o espaço, o tempo, o corpo e a psique humanos. Ela explica que agora 17 Idem, ibidem, p. 79. 18 Cf. LÉVY, Pierre. Idem, p. 111, 1999. 19 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual: ensaios sobre o colapso da razão ética. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; São Paulo: UNESP, 2005, p. 71. 20 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 71. 21 Cf. Idem, p. 71 e 72. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 6 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 existe uma nova forma de inserção do saber e da tecnologia no modo de produção capitalista. Para a autora, a revolução tecnológica mudou “o modo de inserção social dos pensadores porque se tornaram agentes econômicos diretos, e a força e o poder capitalistas, encontram-se hoje, no monopólio dos conhecimentos e da informação...”22. Cabe ressaltar aqui, que atualmente sabe-se que contrariamente ao que Chauí explica, o conhecimento e a informação não estão centralizados e, sim, como Kucinski suscita, eles se mostram anti-concentrados e descentralizados. E, portanto, democratizados. A internet possui inúmeras características que a faz muito diferente dos outros meios de comunicação. Segundo Kucinski, “como mídia, ou meio de comunicação social, a internet se apresenta em várias formas”23. Existem diversas maneiras de comunicação na internet como os blogs pessoais, os grandes sites e portais de notícias, os boletins e newsletters, os e-mails e os jornais e revistas on-line. Podem- se destacar também as redes sociais, que são outra forma de comunicação social que possuem milhares de adeptos (sobre as redes sociais, será visto em outra seção deste trabalho). Outra funcionalidade que Kucinski expõe é a de ferramenta de trabalho, onde se pode ter acesso a bancos de dados, jornais e publicações de todo o mundo; a de memória: todo e qualquer arquivo digitalizado pode ser encontrado na rede, além da produção intelectual, artística e científica; e por último a de transmissão de dados: a internet abriga funções que o telefone, o telégrafo e o fax possuem. Além disso, outras características importantes podem ser encontradas neste novo meio, como a interatividade; os conceitos de hipertexto, hipermídia e tempo real; o acesso irrestrito ao sistema tanto pelo emissor, quanto pelo receptor; a existência de um banco de dados gigantesco e biblioteca virtual e outras inúmeras. Principais características da internet A internet como meio de comunicação e informação é bastante distinta dos outros meios tradicionais, como os impressos, rádio ou TV. Na rede, pode-se ter acesso a qualquer tipo de informação, entretenimento, serviços e negócios. No âmbito das comunicações, é possível citar as principais existentes na web. Fazem parte, a não-linearidade dos textos, a hipertextualidade, a interatividade, a multimidialidade, a customização do conteúdo, a instantaneidade, entre vários outros, variando do conceito de cada autor. Aguiar24 aponta como principal característica, a hipertextualidade que consiste na interconexão entre texto, som, vídeo e fotografia – através de links. Para Pinho (2003) a forma não-linear do texto na web vincula-se com o hipertexto. Enquanto no papel, as informações são lidas de maneira linear, por exemplo, da primeira à última página, no hipertexto, o usuário pode movimentar a estrutura do texto sem uma seqüência predeterminada e pular de um ponto do mesmo documento para outro documento. Isso afeta profundamente o modo como o receptor absorverá a informação. De acordo com o autor, a principal característica do hipertexto é o seu modo natural de processar a informação, fazendo com que se pareça com a mente 22 CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder. Uma análise da mídia. São Paulo: Perseu Abramo, 2006, p. 61. 23 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 76. 24 In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 7 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 humana que trabalha por associação ou identificação de ideias já armazenadas na mente, não recebendo a informação linearmente. Kucinski25 afirma que somente a internet pode oferecer essa opção de leitura (hipertexto). Apesar de os textos, em sua maioria serem curtos para uma leitura rápida, na web pode-se fazer uma leitura comparativa, ter acesso a textos grandes e o usuário tem a possibilidade de ler imediatamente um assunto que está sendo veiculado em jornais do mundo inteiro. Nenhum outro meio de comunicação pode oferecer isso. Hoje, o ato de escrever nunca foi tão constante. De acordo com reportagem publicada na revista Língua Portuguesa26, o texto está mais acessível e por causa da leitura não-linear, o usuário recebe a informação em diferentes linguagens, tornando o leitor mais ativo, receptivo e participativo. Partindo para outra característica também ligada à hipertextualidade, tem-se a multimidialidade que é a “convergência dos formatos dos meios de comunicação tradicionais – jornal, rádio e televisão – para o relato do fato jornalístico”27. A internet permite abrigar todos os meios de comunicação. Nela, é possível ouvir a uma rádio, assistir a televisão e ler textos de quaisquer jornais e revistas do mundo. Cabe ressaltar que, como Aguiar explica, essa tecnologia não pode ser vista apenas como uma reprodução ou soma dessas três matrizes midiáticas, “e sim uma produção discursiva disponibilizada de forma integrada e complementar pelo suporte web”28. Dessa forma, com a convergência das mídias, vê-se uma mudança do termo multimídia para hipermídia, que possui como característica mais significante, a interatividade. E este é outro aspecto essencial da comunicação digital. A internet proporciona ao usuário comentar e opinar sobre a informação que recebeu. E isso pode ser feito no mesmo instante em que recebe a notícia. Hoje, jornalista e público trabalham juntos, o feedback é imediato. “O jornalismo ingressa na era da produção colaborativa de notícias”, este é o título do artigo de Castilho e Fialho29. Os autores levantam questões relevantes ao afirmarem que, com o advento da web 2.0, a melhoria das interfaces gráficas e o jornalismo digital, forma-se uma base de transição para o processo de produção colaborativa online de notícias. Os meios pelos quais essa colaboração acontece, parte de contribuições individuais de pessoas quefazem parte de blogs noticiosos; redes sociais, como Twitter, Facebook, Orkut; newsletters; reportagens e textos colaborativos; fóruns; além das plataformas wiki. A avalanche informativa atingiu uma intensidade tal que o jornalista já não é mais capaz de processar sozinho toda a demanda de notícias por parte de comunidades, porque isso exigiria redações gigantescas, cujo custo inviabilizaria a sobrevivência econômica do jornal, revista, rádio ou televisão, em uma grande metrópole. Portanto, a colaboração entre profissionais do jornalismo e membros de comunidades é inevitável e mutuamente interessante. Em vez de ficar discutindo quem pode ou não pode ser jornalista, deveríamos 25 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem. 26 Cf. Murano, Edgard. O texto na era digital. Revista Língua Portuguesa . v. 64, n. 64, p. 29-33. fev. 2011. 27 In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009, p. 129. 28 Idem, ibidem. 29 In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 8 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 estar preocupados em como capturar a incalculável massa de conhecimento tácito, mais popularmente conhecido como sabedoria popular, existente em nossas comunidades urbanas e rurais30. A customização, também chamada de personalização ou individualização do conteúdo refere-se a outra característica que está relacionada à opção feita pelo usuário de escolher e configurar produtos jornalísticos baseados em seus interesses pessoais. Existe um programa que permite ao usuário “criar um sistema individual de busca e seleção de notícias de diversas fontes informativas, associada com o clipping de notícias, capaz de reunir assuntos selecionados pelo usuário (...)”31. Este sistema é chamado de RSS (Really Simple Syndication). O site Spectra Visual Newsreader (www.spectravisualnewsreader.com) é um bom exemplo desse tipo de customização. Nele, o próprio usuário monta sua página, adicionando os canais de notícia de seu interesse, a partir de um cardápio variado: mundo, esportes, tecnologia, política, negócios, entretenimento, saúde, viagem e outros. Ele ainda pode filtrar palavras e expressões, escolhendo dentro dos canais de notícias os temas específicos que devem ser disponibilizados. Além destes, tem-se a instantaneidade e velocidade da informação. Essas duas características sempre foram inerentes à comunicação, especificamente ao jornalismo, porém, com o advento da internet como um veículo de comunicação, elas se potencializaram. O afã na busca da velocidade, a introjeção do tempo real são marcas registradas à comunicação digital. Outras características que necessitam ser explanadas são a dirigibilidade, os custos de produção e de veiculação e a acessibilidade. A dirigibilidade refere-se à filtragem da notícia pelo editor. Enquanto que na mídia tradicional, existem as restrições de tempo e espaço, além da intervenção do editor para escolher que notícia será ou não será veiculada, “na Internet, outra grande vantagem é que a informação pode ser instantaneamente dirigida para a audiência sem nenhum filtro”32. Além disso, os custos de produção e de veiculação na teia de abrangência mundial são mínimos. O necessário é fazer um investimento inicial com softwares e hardwares. Posteriormente, as despesas são muito baixas, tanto para o site noticioso quanto para o público. Se comparado a um programa televisivo ou mesmo a um jornal impresso, vê-se uma enorme diferença. Cada vez mais, os microcomputadores estão diminuindo os preços e a despesa com internet também é mínima. A última característica também assinalada por Pinho faz referência à acessibilidade. A internet mudou radicalmente os conceitos de espaço e tempo. Pode-se ter acesso a ela em qualquer momento, 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. A internet como espaço para a democratização da informação Diante do exposto, é possível visualizar as inúmeras potencialidades que a internet possui e também os seus aspectos positivos. No que concerne às comunicações, a democratização da informação é um deles. 30 Cf. Idem, p. 142. 31 Idem, p. 170. 32 PINHO, J. B. Idem, p. 52. http://www.spectravisualnewsreader.com/ Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 9 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 Com o advento da internet e sua massificação, muitos autores apregoaram que haveria um novo tipo de exclusão, a exclusão digital. Kucinski critica fortemente esse pensamento, que foi até tema de teses. Para ele, “dizer que a internet e o computador criaram uma nova forma de exclusão, „a exclusão digital‟, é como dizer que, ao inventar a impressão com tipos móveis, Gutenberg criou o analfabeto”33. No mesmo contexto, no início dos anos 2000, muitos estudiosos diziam que a internet ainda não tinha capacidade de alcançar grande parte da população por vários motivos e consequentemente, a informação através das redes não poderia ser acessível a todos: Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 1999, menos de 7% da população mundial está conectada à internet, sendo que a maior parte desta parcela (90%) reside nos Estados Unidos e em outros países industrializados. No Brasil, somente 8,93% da população tem acesso à rede34 (...). Entretanto, por outro lado, percebe-se que a internet cresce de forma exponencial no mundo inteiro. Como dito na seção “Breve História da Internet”, no ano de 2000 havia 250 milhões de usuários de internet no mundo. Já no início do ano de 2011, o número pulou para dois bilhões. Isso quer dizer um crescimento de cerca de 1.250% em 11 anos. O mesmo ocorre no Brasil, que concentra o maior número de usuários de internet de toda a América Latina. Pesquisas quantitativas como essa demonstram a capacidade que a internet tem de alcançar as inúmeras camadas da população. É claro que quando se fala de populações que vivem em situação de miséria, o quadro muda. Mas, atualmente, esse tipo de discurso não pode mais ser defendido. Pinho35 elaborou um esquema onde explica o intervalo de descoberta de um novo meio de comunicação e sua difusão maciça. De acordo com o autor, a imprensa demorou 400 anos (de 1454 ao século XIX); o telefone, 70 anos (de 1876 até o período posterior à Segunda Guerra Mundial); o rádio, 40 anos (1895 até o período entre as duas guerras mundiais); a televisão, 25 anos (de 1925 até os anos de 1950) e a internet que precisou apenas de sete anos (de 1990 até 1997) para estar acessível à população. Séculos atrás, o saber, a informação restringia-se à Igreja e à Universidade. O fluxo de informação era armazenado de forma hierárquica e tido como um “mistério” e privilégio dos iniciados. No entanto, tudo muda a partir do ano de 1800 com a Revolução Francesa, quando o Estado se incumbe de assegurar à sociedade a circulação da informação. Os primeiros jornais impressos surgiram neste mesmo período, entre 1780 e 1880. E foi a partir daí, que a informação começou a fazer parte da vida dos cidadãos36. 33 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 72. 34 Cf. MONTEIRO, Luís. A internet como meio de comunicação: possibilidades e limitações. (2001). Disponível em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4714/1/NP8MONTEIRO.pdf. Acesso em: 07 de julho, 2011. 35 Cf. PINHO, J.B. Idem, p. 38. 36 Cf. MARCONDES FILHO,Ciro. Comunicação & Jornalismo: a saga dos cães perdidos. São Paulo: Hacker editores, 2000. http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4714/1/NP8MONTEIRO.pdf Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 10 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 A chamada penny press37, que alcançou seu auge nos fins do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos, também contribuiu fortemente para uma maior circulação de informação, assim como o surgimento do rádio e da televisão no século XX. Mas foi no fim da década de 1990 e começo dos anos 2000 que um novo meio ou espaço38 surge, consolidando de forma abrangente o acesso à informação, tanto da emissão quanto da recepção. Portanto, é nesta perspectiva que se torna possível considerar que o universo digital, especialmente a internet, contribui para uma nova e maior democratização da informação, já que cria novos espaços ou canais para divulgação de idéias, possui um número de fontes de consulta gigantesco, o que permite a pluralidade da informação e, além disso, possibilita uma nova forma de socialização entre as pessoas através das mídias sociais e é acessível às diversas classes sociais. Sabe-se também, que graças a essa acessibilidade e pluralidade de informações, “o direito à informação”, resguardado nos direitos fundamentais da Constituição Federal recebe maior respaldo e pode ser usufruído por todos. 37 Jornais surgidos no fim do século XIX, destinados às massas, que custavam o equivalente a um centavo e possuíam características sensacionalistas. 38 Por ser um meio híbrido e complexo, a internet se define mais como um espaço, o ciberespaço do que como veículo de comunicação.
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