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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS – NEVE CADERNO DE RESUMOS VII CEVE - COLÓQUIO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS II JORNADA DE SIMBOLOGIA RELIGIOSA I ENCONTRO COM OS MITOS 05 – 08 DE NOVEMBRO, 2019 UFPB – CAMPUS JOÃO PESSOA/PB 2 JOÃO PESSOA OUTUBRO, 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS – NEVE VII CEVE - COLÓQUIO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS II JORNADA DE SIMBOLOGIA RELIGIOSA I ENCONTRO COM OS MITOS COORDENAÇÃO GERAL Profª. Drª. Luciana de Campos (NEVE/The Northern Women’s Art Collaborative) Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE) COMISSÃO ORGANIZADORA Profª. Drª. Luciana de Campos (NEVE/The Northern Women’s Art Collaborative) Ma. Andréa Caselli Gomes (PPGCR-UFPB/NEVE/BELVIDERA) Me. Pablo Gomes de Miranda (PPGCR-UFPB/NEVE) Me. Leandro Vilar (PPGCR-UFPB/NEVE) Ma. Angela Albuquerque (NEVE) Ma. Monicy Araujo (NEVE) Ma. Susan Sanae Tsugami (PPGCR-UFPB/NEVE) Me. Victor Hugo Sampaio Alves (PPGCR-UFPB/NEVE/SKS) Me. André de Oliveira (PPGH-UFMT/NEVE) 3 Me. Munir Lutfe Ayoub (PPGA-USP/NEVE) Me. Vitor Bianconi Menini (PPGH-UNICAMP/NEVE) Maria da Penha Felix da Silva (CR-UFPB) Lorenzo Sterza (CR-UFPB) Valentino Sterza (CR-UFPB) COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Hélio Pires (Instituto de Estudos Medievais, Portugal) Prof. Dr. Mariano Gonzalez Campo (St. Paul Gymnas, Noruega) Prof. Dr. Teodoro Manrique Antón (Universidade de Castilla-La Mancha, Espanha) Prof. Dr. Terry Gunnell (Universidade da Islândia) Prof. Dr. Neil Price (Universidade de Uppsala, Suécia) Profa. Dra. Dilaine Soares Sampaio (UFPB) Profa. Dra. Maria Lucia Abaurre Gnerre (UFPB) Profa. Dra. Priscila Gontijo Leite (UFPB) Profa. Dra. Alcione Lucena de Albertim (UFPB) Prof. Dr. Fabricio Possebon (UFPB) Prof. Dr. Milton Marques Junior (UFPB) COMISSÃO EDITORIAL Ma. Susan Sanae Tsugami (PPGCR-UFPB/NEVE) Me. Victor Hugo Sampaio Alves (PPGCR-UFPB/NEVE/SKS) Lorenzo Sterza (CR-UFPB) 4 APOIO PPGCR-UFPB (Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões) Centro de Educação da UFPB PARCEIROS Lofotr Vikingmuseum (Noruega) The Northern Women’s Art Collaborative (Haffenreffer Museum, EUA) 5 APRESENTAÇÃO “Tecemos e tecemos a trama das lanças, onde homens em prontidão avançam os estandartes” Canção das Lanças Assim como está descrito na estrofe da Canção das Lanças (Darraðarljóð), que usamos como epígrafe, há seis anos ininterruptos o Colóquio de Estudos Vikings Escandinavos promovido pelo NEVE - Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos - vem tecendo a trama da difusão da Escandinavística em terras brasileiras. Da mesma maneira que a tecelã joga com precisão a lançadeira formando uma urdidura firme e precisa, os membros do NEVE juntamente com seus colaboradores e parceiros nacionais e internacionais tem a grata satisfação de apresentarem anualmente, na forma de minicursos, palestras e mesas de discussão, não só o resultado de suas pesquisas mas, também, de se esforçarem para proporcionar o debate e a interação interinstitucional que, a cada edição, fortalecem os estudos escandinavos no Brasil. Atualmente, o NEVE conta com a edição anual do Colóquio e também com o periódico Scandia, que tem recebido críticas e reconhecimento altamente positivos de pesquisadores internacionais de renome, comprovando o grau de amadurecimento tanto da pesquisa como de seus membros. Mas, o fortalecimento da pesquisa desenvolvida não está somente ligada ao contato com pesquisadores internacionais – seja pela constante atualização bibliográfica, seja com o intercâmbio de seus membros com instituições internacionais, ou com estágios de doutorado ou então de disciplinas ofertadas em universidades europeias – mas também ao fato de que o grupo sempre esteve aberto às pesquisas e aos pesquisadores que se dedicam ao Neomedievalismo, mais especificamente às reapropriações da Era Viking. Estes buscam compreender os 6 entrelaçados das ressignificações dos mitos e da literatura nórdica antiga no cinema e nas artes, às vezes realizando esse tipo de pesquisa e, em outras ocasiões, recebendo pesquisadores internacionais, que encontram no NEVE respaldo para essas investigações mostrando assim, não só a abertura do grupo às mais diversas pesquisas que envolvam as questões nórdicas, mas o seu grau de excelência e reconhecimento. Além da pesquisa acadêmica tradicional o NEVE também busca parcerias com entidades que desenvolvem pesquisas ligadas à reconstituição da cultura material, arqueologia experimental e divulgação da cultura nórdica antiga através de seus mitos, como é o caso do Lofotr Viking Museum, na Noruega que esse ano ofereceu a consultoria e suporte necessários para a realização do I Encontro com os Mitos, onde é possível assistir como a pesquisa acadêmica, a cultura material e o reconstrucionismo histórico estão em harmonia e que necessitam estar cada vez mais presentes nos eventos voltados aos estudos escandinavos sem, em nenhum momento negligenciar o trabalho de grupos reconstrucionistas sérios que buscam conhecimento e respaldo nos estudos acadêmicos, como é o caso do Grupo Haglaz, do Rio de Janeiro. Assim, por mais que soprem os ventos gélidos e cortantes que muitas vezes possam tentar nos arremessar ao mar bravio, ficamos mais fortes e resistentes e tal qual a Yggdrasil, que se mantém altiva, mesmo com as intempéries mais severas, e assim seguimos fortes e persistentes a trilhar o caminho da pesquisa científica comprometida com a divulgação dos estudos nórdicos sempre realizados com rigor, competência e, acessibilidade tanto para acadêmicos como para os demais interessados. E, tecendo a trama das palavras, erguemos nossos estandartes, que estão sempre altivos a sinalizar, em todas as terras, o caminho da divulgação da Escandinavísitca produzida no Brasil. Profa. Dra. Luciana de Campos (NEVE/ Northern Women Arts Collaborative) 7 PROGRAMAÇÃO Dia 05/11, terça feira 18:30: Cerimônia de abertura – Reencenação do capítulo IV da Saga de Eiríkir, o Vermelho. 19h: Conferência de abertura: Sábias, guerreiras, altivas e outras figuras femininas do imaginário pagão germânico. Dia 06/11, quarta feira 08:00-9:30: Sessão de comunicações I 10:00-12:00: Minicurso I – Deusas e entidades femininas na Eurásia 10:00-12:00: Minicurso II – O Sobrenatural na Escandinávia, da saga ao folclore 13:30-15:30: Minicurso III – Xamanismo Sámi e Finlândia mítica 13:30-15:30: Minicurso IV – História dos Vikings 16:00-17:30: Mesa-redonda I: O feminino na Mitologia Clássica Dia 07/11, quinta-feira 08:00-9:30: Sessão de comunicações II 10:00-12:00: Minicurso I – Deusas e entidades femininas na Eurásia 10:00-12:00: Minicurso II – O Sobrenatural na Escandinávia, da saga ao folclore 13:30-15:30: Minicurso III – Xamanismo Sámi e Finlândia mítica 13:30-15:30: Minicurso IV – História dos Vikings 8 16:00-17:30: Mesa-redonda II: O feminino nos mitos Euroasiáticos e Africanos Dia 08/11, sexta-feira 08:00-9:30: Sessão de comunicações III 10:00-12:00: Minicurso I – Deusas e entidades femininas na Eurásia 10:00-12:00: Minicurso II – O Sobrenatural na Escandinávia, da saga ao folclore 13:30-15:30: Minicurso III – Xamanismo Sámi e Finlândia mítica 13:30-15:30: Minicurso IV – História dos Vikings 16:00-17:30: Mesa-redonda III: Imagens do feminino nórdico 17:30-18:30: Atividade de encerramento: Meet the Myths – Encontro com os mitos (em parceria com o Lofotr Vikingmuseum)9 RESUMOS Conferência de abertura SÁBIAS, GUERREIRAS, ALTIVAS E OUTRAS FIGURAS FEMININAS DO IMAGINÁRIO PAGÃO GERMÂNICO Profª. Drª. Karin Volobuef (UNESP) Resumo: A palavra “fada”, nas línguas românicas, tem sua raiz em “Fatum” (fado, destino). Desse modo, tal como a Sibila ou as parcas/moiras greco-romanas e as nornas germânicas, a fada seria aquela que “fala a sorte”, uma vez que enxerga o passado e o futuro e conhece a vontade dos deuses e o destino dos Homens. Confundindo-se às vezes com sacerdotisas, feiticeiras e bruxas, a genealogia das fadas conecta-se com as deusas pagãs das tradições celta, germânica ou escandinava. O mesmo vale para as figuras femininas guerreiras, que remetem às valquírias e outras entidades do panteão nórdico, como as deusas Skadi e Freya. Algumas marcadas pela sabedoria, outras pela energética diligência, outras ainda pelos poderes mágicos, essas figuras femininas vão povoar diversas obras da tradição oral e da escrita. Como exemplos na literatura valem a Fata Morgana (ou Morgana Le Fay) do ciclo arturiano ou ainda a dama que dá o título para o poema The Lady of Shalott ([A dama de Shalott] 1842), de Alfred Tennyson. Nos contos de fadas de origem popular, são diversas as tecelãs, as “mulheres vindas das águas” e outras heroínas com poderes encantatórios, que trazem a marca de mitos antigos pagãos. 10 Minicursos Minicurso I DEUSAS E ENTIDADES FEMININAS NA EURÁSIA Profª. Drª. Luciana de Campos (NEVE/The Northern Women’s Art Collaborative) Ma. Andréa Caselli Gomes (PPGCR-UFPB/NEVE/BELVIDERA) Ma. Susan Sanae Tsugami (PPGCR-UFPB/NEVE) Resumo: O feminino e suas representações na arte e na literatura, assim como seus resquícios históricos, trata-se de um tema que desperta bastante curiosidade e discussões entre pesquisadores e estudantes das diversas áreas de conhecimento, tais como: historiadores, antropólogos, sociólogos, folcloristas, dentre inúmeras áreas que abrangem temáticas a respeito da mitologia e da religião. Nessa perspectiva, o presente minicurso propõe realizar uma apresentação e discussão a respeito das representações folclóricas, literárias e históricas do feminino na Antiguidade e na Idade Média. O minicurso será realizado em três encontros com o objetivo de elucidar e apresentar algumas deusas bem como outras entidades femininas que são mencionadas nas fontes literárias enquanto responsáveis pela criação de alimentos e de ensinamentos de tecnologias que até hoje são permeados de crenças míticas. Serão realizadas análises por meio de imagens, fragmentos de textos literários e alguns artefatos que proporcionam compreensões sobre essas deidades femininas que ainda hoje permanecem em mistérios, já que muitos de seus aspectos são desconhecidos. Também serão abordadas e analisadas as referências às deusas na literatura maravilhosa, gênero literário no qual o sobrenatural é completamente admissível; abrangendo os contos de fadas e outras narrativas populares. As fontes frequentemente apresentam as entidades femininas relacionando-as à fertilidade da terra, à tecelagem e à guerra; esses aspectos são fundamentais quando o assunto é voltado para as sociedades da Antiguidade e da Idade Média. O minicurso será realizado com enfoque na Eurásia, e, por isso, serão destacadas as deusas da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia, de Roma, da Escandinávia e dos povos Eslavos. Compreendendo que essas entidades femininas estiveram intimamente ligadas à vida cotidiana e à sazonalidade da terra. Bibliografia: JOHNS, Andreas. Baba Yaga: The Ambiguous Mother and Witch of the Russian Folktale. New York: Peter Lang, 2004. 11 OLESZKIEWICZ-PERALBA, Małgorzata. Fierce Feminine Divinities of Eurasia and Latin America: Baba Yaga, Kālī, Pombagira, and Santa Muerte. New York: Springer Publishing, 2015. WARNER, Elizabeth. Russian Myths. Austin: University of Texas Press, 2002. BÉGUIN, Albert. El alma romantica y el sueño. Madrid: Fondo de Cultura Económica, 1993. TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. BASILE, Giambattista. El pentameron: el cuento de los cuentos. Madrid: Siruela, 2006. BENNETT, Naomi. ―Maiden warrior. Peace women: transgressive women” in Old Norse Icelandic heroic and mythological literature, and in Saxo Grammaticus Gesta Danorum. Thesis for the degree of Master of Arts, Victoria University of Wellington, 2009, pp. 77-86. BERGEN, Kristina. 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PhD thesis, University of Nottingham, 2013. 12 Minicurso II O SOBRENATURAL NA ESCANDINÁVIA, DA SAGA AO FOLCLORE Me. André de Oliveira (PPGH-UFMT/NEVE) Me. Pablo Gomes de Miranda (PPGCR-UFPB/NEVE) Resumo: Sem dúvidas na construção de um passado illo ou hoc tempore, os escandinavos medievais, em especial os islandeses, elegeram categorias sobrenaturais para a memória de suas respectivas comunidades: cósmicas instâncias, seres extraordinários, horizontes entrelaçados e deuses transformados. Mais do que ideias sobre uma memória comunitária, e oposta a uma simples oposição binária entre Paganismo x Cristianismo, as questões sobrenaturais revelam a gestação de um pensamento que ultrapassa as barreiras entre as culturas orais e escritas e uma cartografia dos seres que abundam as mais variadas narrativas e ocupam o imaginário da modernidade à contemporaneidade. No primeiro dia serão abordadas as condições históricas para o desenvolvimento das culturas orais e escritas na Escandinávia, traçando um paralelo com as condições mitográficas que proporcionaram a transmissão e o desenvolvimento das expressões acerca do sobrenatural. Buscaremos, assim, entender a expressão do homem sobre os espaços que lhes são familiar, confrontando os lugares habitados pelo desconhecido, que por sua vez abarcam toda a sorte de seres que teimam em não nos deixar esquecer de suas existências. O segundo dia do minicurso tratará dos elementos sobrenaturais e fantásticos dentro das sagas de bispo, focando-se na transição dos elementos sagrados nórdicos para a sacralidade cristã após a cristianização no ano 999. As análises acompanharam o processo de sedimentação da ekklésia e hierarquia clerical até a anexação da Islândia, em 1262, por Haakon IV da Noruega. Como debate norteador utilizaremos a interpretação do processo realizado por Erika Sigurdsson (2011). O terceiro dia do minicurso abordará aspectos do folclore setentrional europeu, com ênfase em lendas nórdicas acerca de dois espíritos, nomeadamente, Nykur e Mara. Por meio das contribuições teóricas de David J. Hufford (1995) e do material folclórico selecionado por William A. Craigie (1896), as lendas serão contempladas a fim de se proporcionar reflexões acerca de crenças populares da Escandinávia, bem como alguns de seus ritos apotropaicos. Bibliografia: DUBOIS, Thomas A. Ethnomemory: ethnographic and culture-centered approaches to the study of memory.In: Scandinavian Studies, v. 85, n. 3, 2013, pp. 306-331. 13 CRAIGIE, William Alexander. Scandinavian Folk-Lore – Illustrations of the traditional beliefs of the Northern peoples. London: Alexander Gardner, 1896. HUFFORD, David J. Beings Without Bodies: An Experience-Centered Theory of the Belief in Spirits. In: WALKER, Barbara. Out of the ordinary: Folklore and the supernatural. Logan, Utah: Utah State University Press, 1995, pp. 11-45. LINDOW, John. Supernatural Others and Ethnic Others: a millenium of world view. In: Scandinavian Studies, v. 67, n. 1, 1995, pp. 8-31. MITCHELL, Stephen. Memory, Mediality, and the “Performative Turn”: recontextualizing remembering in medieval Scandinavia. In: Scandinavian Studies, v. 85, n. 3, 2013, pp. 282-305. SÄVBORG, Dan; BEK-PEDERSEN, Karen (ed.). Supernatural Encounters in Old Norse Literature and Tradition. Brepols: Turnholt, 2018. SIGURDSON, Erika. The Church in Fourteenth-Century Iceland: The Formation of an Elite Cletical Identity. Boston: Brill. 2016. VÉSTEINSSON, Orri. The Christianization of Iceland: Priests, Power and Social Change 1000-1300. Oxford: Oxford Universiry Press. 2000. 14 Minicurso III XAMANISMO SÁMI E FINLÂNDIA MÍTICA Me. Victor Hugo Sampaio Alves (PPGCR-UFPB/NEVE/SKS) Marcos Saulo de Assis Nóbrega (PPGH-UFCG) Resumo: As relações mantidas entre os escandinavos e os povos deles vizinhos têm sido investigadas com cada vez mais afinco, principalmente no que diz respeito a possíveis intercâmbios e circulações de elementos mítico-religiosos. Inúmeros aspectos análogos e convergentes são detectados nos sistemas religiosos e nas narrativas mitológicas desses diferentes habitantes do norte Europeu. Em meio a esse cenário, as interações dos escandinavos com seus vizinhos fino-úgricos, tais como os sámi e os finlandeses, têm se mostrado um elemento chave que necessita ser analisado para que se compreenda a ampla circulação de certos mitos e características comuns às religiões pré-cristãs desses povos, apesar de suas diferenças étnicas. Este minicurso propõe uma introdução às ricas manifestações mágicas e xamânicas presentes nas religiões sámi e finlandesa pré-cristãs, que, conforme sabemos, influenciaram marcadamente os escandinavos desde antes da Era Viking. O conteúdo, em conformidade com teorias e conceitos da História, da Folclorística e das Ciências das Religiões, será dividido em três módulos no decorrer de três dias, totalizando seis horas de minicurso. No primeiro módulo realizaremos uma síntese da história da Finlândia, oferecendo um panorama histórico mais completo e revisado da história finesa. Apresentaremos o histórico finês pré-cristão, a partir das migrações vindas dos Urais e do norte escandinavo que formaram o caráter étnico, linguístico e xâmanico da Finlândia e do Báltico, o processo de formação simbólica e de culto de seres que foram representados no épico Kalevala e sua recepção pelo Báltico. Em seguida, a partir das considerações de Peter Burke acerca do conceito de Cultura Popular, contextualizaremos a chegada do século XVI e sua influência sobre as bases da memória ou cultura popular, esta que começa a extinguir-se, principalmente aquela oral, campesina e rústica, que formou por vários séculos a mentalidade de grupo sociais, mas agora encontrava limites a sua manutenção por meio dessa memória popular. Literatas e etnógrafos em suas pesquisas conseguiram recuperar um pouco daquela memória popular que era engolida pela modernidade, pois da mesma forma que a chegada da modernidade trouxe limites à cultura popular, a mesma propiciou um movimento cultural de redescoberta da prática popular, sendo a própria Kalevala um dos resultados desse movimento. Faremos também o debate na interface da história, literatura e nacionalismo e suas ressonâncias culturais. No segundo módulo, pretendemos fazer uma avaliação historiográfica sobre as “visões do Norte” e seus habitantes – fínicos e sámi – para relacioná-las aos processos de disciplinamento ocorridos na Suécia- Finlândia ao longo dos séculos XVII e XVIII, principalmente o assalto mental e material 15 às culturas locais. Assim, o módulo será dividido em três eixos: Visões do Norte e seus habitantes: uma análise historiográfica; a Cruz vai ao subártico: missionação e julgamentos de bruxaria na Suécia-Finlândia; e o xamanismo sámi nas fontes suecas: a materialização de um encontro cultural. No último módulo, apresentaremos uma breve comparação das representações de magia e xamanismo nos materiais de que dispomos sobre as mitologias e religiões sámi e finlandesa pré-cristãs. Para isso, introduziremos as principais fontes primárias para estudo da magia entre esses povos, caracterizando-as, contextualizando-as e expondo suas problemáticas. Em seguida, apontaremos para os sentidos e construções que a ideia de xamanismo (ou de xamã) carrega em cada uma dessas obras, averiguando se os seus traços, descrições, propriedades e símbolos dialogam com o resto do corpus mítico/folclórico de sua respectiva tradição; por fim, colocaremos os dados apresentados numa perspectiva comparativa, buscando divergências e convergências entre o xamanismo sámi e o xamanismo finlandês, discutindo se é possível caracterizá-los dentro de um modelo fino-úgrico de xamanismo, ou se constituem, de fato, práticas xamânicas das quais devemos nos aproximar como sendo experiências peculiares e únicas a cada povo. Bibliografia: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução: Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ANKARLOO, Bengt; CLARK, Stuart (Orgs.). Witchcraft and Magic in Europe. London: Athlone Press, 2002. BOSLEY, Keith. Introduction and foreword. In: LÖNNROT, Elias. 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Discutiremos a origem e interpretação do termo “Viking”, os aspectos gerais da sociedade nórdica e sua cultura material. No segundo dia o foco será dado sobre a formação política da Escandinávia, com o surgimento de reinos na Dinamarca, Noruega e Suécia, e alguns aspectos da colonização na Islândia. No terceiro dia será apresentado um panorama sobre o expansionismo nórdico, apresentando os territórios pelos quais os vikings percorreram entre os séculos IX ao XI. Bibliografia: BARRET, James H. What caused the Viking Age? Antiquity, n. 82, 2008, p. 671-685. BRINK, Stefan. The Viking World. Nova York: Routledge, 2008. GRAHAM-CAMPBELL, James (org.). Os vikings. Barcelona: Folio S.A, 2006. HAYWOOD, John. Historical Atlas of Vikings. London: The Penguin Books, 1995. HELLE, Knut (ed.). The Cambridge History of Scandinavia, vol. 1: Prehistory to 1520. New York: Cambridge University Press, 2003. 19 HOLMAN, Katherine. Historical dictionary of the Vikings. Lanham: Scarecrow Press Inc, 2003. LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018. LOGAN, T. Donald. The vikings in the history. 2. ed. London/New York: Routledge, 1991. SAWYER, Peter (ed.). The Oxford Illustrated History of the Vikings. New York: Oxford University Press, 1997. SAWYER, P. H. Kings and Vikings: Scandinavia and Europe AD 700-1100. London/New York: Routledge, 1982. STREISSGUTH, Thomas. Life among the Vikings. San Diego, CA: Lucent Books, 1999. 20 Mesas Redondas Mesa Redonda I – O feminino na Mitologia Clássica Coordenador: Prof. Dr. Milton Marques Júnior (UFPB) OS OLHARES DE VÊNUS, EXPRESSÕES DO FEMININO Profa. Dra. Alcione Lucena de Albertim (UFPB) Resumo: Vênus, figura profícua do panteão romano, tem origem obscura, cogitando- se mesmo a possibilidade de no princípio haver sido apenas uma abstração, cuja personificação foi sendo moldada gradativamente. Identificada nos primórdios como deusa ligada à vegetação e aos pomares, sua presença é atestada já no santuário de Lavinium, em Ardea, século VI a. C., onde havia um centro de culto a Vênus. A despeito do caráter religioso a que está vinculada, a sua representatividade perpassa vários vieses, assim sendo, ela é reverenciada através de diversos epítetos que a caracterizam, a saber, Vênus Erycina, Genetrix, Obsequens, Verticordia, etc. Assimilada a Afrodite com o advento das guerras púnicas, a sua feição erótica, sedutora, propulsora do desejo, enredando deuses e mortais na malha de Eros, teve proeminência. Além de deusa a quem templos e cultos eram dedicados, ela é referenciada na literatura, apresentada como força criadora que tudo faz brotar em a natureza, sendo ela mesma a deusa que suscita a primavera. Vênus também é a protetora e mãe dos romanos, assim como é a metáfora da persuasão amorosa, fruto do desejo. Nesse sentido, os olhares que Vênus suscita são múltiplos, sendo ela a representação do feminino figurado em várias facetas. Assim, o presente artigo propõe delinear o perfil de Vênus, cujas características lhe são singulares, uma vez que nela encontramos a anima da feminilidade, a vis da fecundidade, a persuasio da sedução e o apertum do erotismo e da sexualidade. PENÉLOPE E CLITEMNESTRA, O INVERSO SIMÉTRICO DO MITO Prof. Dr. Milton Marques Júnior (UFPB) Resumo: Temos a intenção de mostrar neste trabalho um paralelo entre os éthoi de Penélope e de Clitemnestra, na Odisseia, tipificando-as como personagens simétricas ou antípodas. Ambas são mulheres de reis, ocupando espaços, importâncias e atitudes diferentes. Se Clitemnestra é mulher poderosa, por origem e pelo casamento com o mais poderoso dos Aqueus, Agamêmnon, Penélope tem menos poder, porque Ítaca tem menos importância e riquezas do que Micenas e Argos. Apesar de grade herói, Odisseus é, hierarquicamente, inferior a Agamêmnon. É a partir do retorno dos dois 21 heróis que veremos como se constrói o caráter dessas mulheres: Odisseus volta para a vida; Agamêmnon volta para a morte. Penélope passa para a tradição ocidental como o símbolo da fidelidade; Clitemnestra como o símbolo da traição; uma acolhe o marido com prudência; a outra mata o marido com o auxílio do amante, tendo arquitetado cada detalhe do seu assassínio. Uma será exaltada à posteridade; a outra, execrada. Nessa comparação cabe chamar a atenção para o que as une, ainda que isto as separe: ambas são tecelãs: se Penélope é a tecelã que trama para a salvaguarda da sua fidelidade pessoal, tecendo e destecendo a mortalha do sogro, ela trama também pela salvaguarda de sua casa e, por extensão, do seu reino. Sua trama é proveniente da sōfrosýne, a reflexão e comedimento que a levam às escolhas dignas. Já Clitemnestra trama apenas para a destruição de Agamêmnon, movida pela vingança, por alástōr, o nume vingador, levando-a a matar o próprio marido, trama urdida com o seu amante Egisto. Essa diferença é crucial para que entendamos oporquê de Penélope sendo personagem de uma única narrativa, a Odisseia, sobrevive na memória do ocidente mais do que Clitemnestra, cujo mito se estende por várias outras obras como Agamêmnon e Coéforas, de Ésquilo, e Ifigênia em Áulis, de Eurípides. REFLEXÕES SOBRE MULHER E PODER ATRAVÉS DO MITO DE CLITEMNESTRA Profa. Dra. Priscilla Gontijo Leite (UFPB) Resumo: A mitologia grega possui inúmeros episódios de violência contra a mulher: raptos, abusos, abandonos e punições. Por outro lado, também há figuras femininas fortes e poderosas. O teatro ateniense apropriou-se de algumas dessas personagens fortes, representando mulheres que decidem, controlam a ação e falam. Isso se opõe ao ideal feminino de uma mulher reclusa no oikos, apagada, que não deveria falar e nem ao menos se deveria ouvir falar dela seja por causa de suas virtudes ou de seus defeitos, como aconselhou Péricles dirigindo-se às viúvas na Oração Fúnebre. Dessa maneira, o teatro pode servir de fonte para pensar a relação da mulher na sociedade grega e não a resumindo no par dominação e resistência. O objetivo da comunicação é discutir a questão do poder através do mito de Clitemnestra presente nas tragédias Agamêmnon de Ésquilo (458 a.C.) e Electra de Eurípides (413 a.C.). O mito possibilita pensar a possibilidade das mulheres tecerem sua própria comunidade política, que na pólis se dá por meio da participação nos rituais religiosos. 22 Mesa Redonda II – O feminino nos mitos euroasiáticos e africanos Coordenador: Prof. Me. Sandro Teixeira Moita (IMM/ECEME) AS VÁRIAS FACES DA SHAKTI – O SAGRADO FEMININO NO HINDUÍSMO Profa. Dra. Maria Lucia Abaurre Gnerre (UFPB) Resumo: Nesta apresentação vamos observar, de forma preliminar, alguns dos aspectos centrais relacionados ao sagrado feminino na mitologia hindu, sobretudo no âmbito do tantrismo, a partir do qual se configura um corpo sagrado, altamente relacionado a Shakti. A PRESENÇA FEMININA NA GUERRA DO MUNDO GERMÂNICO Prof. Me. Sandro Teixeira Moita (IMM/ECEME) Resumo: O propósito da conferência trata acerca da presença feminina na guerra no mundo germânico, alvo de recentes debates e polêmicas sobre a possibilidade da existência de mulheres guerreiras nas sociedades germânicas e como isto impactava em seu papel social. Prestígio e poder advindos do ato de se fazer presente nos campos de batalha impactavam em suas reputações bem como nas dinâmicas da vida cotidiana. Assim, por meio do diálogo com fontes escritas e arqueológicas, pretende- se abrir espaço a uma reflexão que leve em conta a figura da mulher guerreira e suas repercussões, que ultrapassaram aquele momento histórico e se estendem até a contemporaneidade, impactando o imaginário e se chocando com os anseios do presente. EPARREI OYÁ! UM OLHAR SOBRE IANSÃ NO CANDOMBLÉ, A DEUSA DOS VENTOS E DAS TEMPESTADES Profª. Drª. Dilaine Soares Sampaio (PPGCR-UFPB) Resumo: Uma das divindades mais populares das religiões afro-brasileiras, Oyá é um orixá feminino do panteão iorubano, tornando-se mais conhecida no Brasil como Iansã, termo proveniente de Ìyámésàn, que em iorubá significa, “a mãe transformada 23 em nove” ou ainda proveniente da locução ìyá mésàn òrun, “senhora dos nove espaços do Orum” (LOPES, 2016). Vinculada ao elemento fogo, é tida como aquela que tem o domínio dos ventos e das tempestades. É ainda uma da iabás guerreiras, trazendo como um de seus símbolos uma espada. Neste trabalho faremos, num primeiro momento, uma breve contextualização histórica de seu culto, mostrando as conexões África-Brasil. Posteriormente, trataremos de modo panorâmico, de seu complexo simbólico-mítico, para ao final discutirmos as múltiplas faces do feminino que Iansã nos traz, mostrando ainda um pouco de seu lugar no cotidiano do Candomblé. Bibliografia: LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2011 Mesa Redonda III – Imagens do feminino nórdico Coordenador: Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE) LA IMAGEM DE LA MUJER VIKINGA A TRAVES DE LA PANTALLA Me. Alberto Robles Delgado (Universidade de Alicante, Espanha) Resumo: Muchas y diversas son las representaciones que habitan nuestro imaginario em torno a la figura de la mujer nórdica: unas veces como valientes y aguerridas guerreras, otras como reinas o dueñas del hogar, o incluso encarnando los valores de la barbarie más acérrima sinónimo de lascivia y depravación. Esta multiplicidad de imágenes y visiones se lleva cultivando desde el siglo XIX con el Romanticismo, pero sin duda la llegada del cine redimensionará estas representaciones y las llevará a un nuevo formato que será accesible a un gran público. Esto supondrá la implantación de gran cantidad de clichés y estereotipos en el imaginario colectivo y el surgimiento de una nueva forma de entender e imaginar a la mujer vikinga. El objetivo de esta charla será analizar cuales han sido las diferentes formas de representar la imagen de la mujer nórdica y cual ha sido la evolución y los cambios acontecidos em dicha imagen, a lo largo de la historia del cine y de la larga y prolífica relación entre los medios audiovisuales y la cultura vikinga. 24 REPRESENTAÇÕES DA MULHER E DAS DEUSAS NÓRDICAS NA ARTE OITOCENTISTA Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE) Resumo: O século XIX é o período responsável pelas representações contemporâneas envolvendo os nórdicos medievais. Foi durante essa época que as produções imaginárias, literárias, artísticas e acadêmicas definiram nossos conceitos sobre os vikings e a Era Viking. Nosso intuito básico nessa palestra é fornecer alguns parâmetros investigativos sobre as representações envolvendo as imagens do feminino nórdico na arte europeia durante o Oitocentos. Elegemos como principais fontes, de um lado as representações sobre as mulheres nórdicas da Era Viking nas obras Hervors død (Peter Nicolai Arbo, 1880) e pinturas da obra Frithiof saga (August Malmström, década de 1880); representações de deusas nórdicas nas obras Ægirs gæstebud (Constantin Hansen, 1857), Balders død (Christoffer Wilhelm Eckersberg, 1817) e várias pinturas e ilustrações de valquírias dos artistas Carl Emil Doepler e Ferdinand Leek nas décadas de 1870 e 1880. Nossa principal metodologia é o conceito de schematta do teórico da arte Ernest Gombrich e como base teórica as problemáticas de reapropriações e recepção da Mitologia Nórdica e da história nórdica na arte moderna pelos pesquisadores Knut Ljogodt, Hans Kuhn, Joran Mjoberg e David Wilson. Nossa principal problemática investigativa é perceber as conexões entre as representações das artes plásticas com a literatura e História do período, atreladas a ideais de nacionalismo e a crescente formação de identidades sociais de cada país e região ou então, a ideais geográfico-nacionalistas mais amplos, como o pan-escandinavismo. Bibliografia: BOYER, Régis. Héros et dieux du Nord: guide iconographique. Paris: Flammarion, 1997. CÓRDOVA, Daniel Salinas. Vikings nas artes plásticas. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017, pp. 757-764. KUHN, Hans. Greek gods in Northern costumes: Visual representations of Norse mythology in 19th century Scandinavia. International Saga Conference. http://sagaconference.org/SC11/SC11_Kuhn.pdf LANGER, Johnni. The origins of the imaginary viking. Viking heritage n. 4, 2002, pp. 0609. https://www.academia.edu/390901 LJOGODT, Knut. 'Northern Gods in Marble': the Romantic Rediscovery of Norse Mythology. Romantiki 1, 2012. https://tidsskrift.dk/rom/article/view/15854 http://sagaconference.org/SC11/SC11_Kuhn.pdf https://www.academia.edu/390901 https://tidsskrift.dk/rom/article/view/15854 25 LONNROTH, Lars. The vikings in History and legend. In: SAWYER, Peter (Org.). The Oxford illustrated history of the vikings. Oxford: Oxford UnivertityPress, 1997, pp. 225-249. MJOBERG, Joran. Romanticism and revival. In: WILSON, David (Org.). The northern world. New York: Harry Abrams, pp. 207-238. Notícias Asgardianas n. 11, 2016: Dossiê – Os mitos nórdicos nas artes. https://www.academia.edu/29067940 WILSON, David. Vikings and gods in european art. Aarhus: Moesgard Museum, 1997. Comunicações Orais Sessão de Comunicação “Estudos Escandinavos I” – Auditório do CE 06/10/2019 08:00 às 09:30 Coordenação: Me. Pablo Gomes de Miranda (PPGCR-UFPB/NEVE) GEFJON E O PODER DO FEMININO NA CULTURA NÓRDICA Bruno Capelari de Lacerda, Licenciando em Ciências Exatas (USP - São Carlos) Resumo: Uma das maiores obras do pintor dinamarquês Lorenz Frølich é a pintura Gefjon ploughs the earth in Sweden (“Gefjon ara a terra na Suécia”, em tradução livre), situada no Castelo de Frederiksborg na Dinamarca. Nela é retratada a deusa Gefjon conduzindo um arado puxado por seus quatro filhos, transformados em auroques, pelo território até então sueco que na conclusão da narrativa é fisicamente separado do continente e incorporado à Dinamarca. Assim é contado no livro Gylfaginning, da Edda em Prosa e na Ynglinga saga. Tais terras pertenciam a Gylfi, um importante rei sueco e foram concedidas à deusa, sendo sua extensão o quanto ela conseguisse arar no decorrer de um dia e uma noite. Na Edda em Prosa Gefjon também é retratada como virgem e é dito que todas as moças que morressem virgens seriam acolhidas por ela. Na saga islandesa Landanámabók é descrita uma situação semelhante à da pintura 26 de Frølich, na qual uma mulher, cujo marido havia morrido, monta em uma cabra e circunda um pedaço de terra no decorrer de um dia de primavera assim clamando-o para si. A saga também explica que tal método era reconhecido como uma forma válida para que mulheres pudessem clamar territórios. A autora Hilda Davidson aponta que essa descrição sugere se tratar de um ritual possivelmente ligado a deusas de fertilidade, e não de uma prática literal. De acordo com a autora, tal prática é um tema recorrente em histórias da cultura nórdico-germânica, podendo até mesmo ser realizada por homens. Davidson também acrescenta que há significativa evidência de que Gefjon represente um aspecto de alguma deusa que fora importante na Escandinávia antiga. No geral Gefjon aparece sempre ligada ao arquétipo da fertilidade, trazendo assim uma forte proximidade com a deusa Freyja, seu nome possivelmente deriva de Gefn, um dos muitos nomes de Freyja. No poema Lokasenna, da Edda Poética, Gefjon é insultada por Loki e imediatamente Odin interfere em sua defesa acusando Loki de ser tolo por ofender uma deusa que possui o poder de ver o destino dos deuses, atribuindo assim a ela uma significativa importância perante os deuses, esta, porém, é a única referência de seus poderes oraculares. O objetivo deste trabalho é discutir a importância e trazer elementos da deusa Gefjon na vida escandinava que conversam com o mito retratado na pintura, esta que retrata a deusa clamando seu território trazendo-o para a Dinamarca e que seria hoje a ilha na qual está situada a cidade de Copenhagen. A cidade também conta com uma estátua em homenagem à deusa. Bibliografia: STURLUSON, Snorri. Edda. Translated and edited by Anthony Faulkes. London: Everyman, 2003 BELLOWS, Henry Adams. The Poetic Edda: The Mythological Poems. Translated from the Icelandic with and Introduction and Notes by Henry Adams Bellows. Mineola, New York: Dover, 2014 LANGER, Johnni, Org. Dicionário de Mitologia Nórdica: Símbolos, Mitos e Ritos. São Paulo: Hedra, 2015 DAVIDSON, Hilda Ellis, "Gefjon, Goddess of the Northern Seas" as collected in Lysaght, Patricia. Ó Catháin, Séamas. Ó hÓgáin, Dáithí. Islanders and Water-Dwellers: Proceedings of the Celtic-Nordic-Baltic Folklore Symposium held at University College Dublin 16–19 June 1996. DBA Publications Ltd, 1999. OS ESPÍRITOS FEMININOS NA RELIGIÃO NÓRDICA ANTIGA: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DESSES SERES 27 Leandro Vilar Oliveira, doutorando em Ciências das Religiões (UFPB/NEVE) Resumo: Na mitologia nórdica existem narrativas que apresentam várias deusas, no entanto, excetuando-se Freyja, as demais divindades femininas não possuem uma função religiosa conhecida. E em muitos casos essas deusas figuram apenas como personagens secundárias nas narrativas. No entanto, quando passamos para a Religião Nórdica Antiga, existem relatos literários encontrados em sagas e crônicas sobre a existência de vários espíritos tutelares que são mulheres. Como as Valquírias que são responsáveis por conduzir e receber os guerreiros valorosos mortos em batalha, as Dísir que cuidavam de aspectos da fertilidade e fecundidade e até recebiam cultos específicos através do disablót; as Fylgjur que eram descritas como assumindo a forma de jovens mulheres e ou de animais, e tinham a função de proteção de uma pessoa ou de sua família. As Hamingjur que personificavam a boa sorte e as Nornas que cuidavam do destino. Tais seres espirituais são mencionados de distintas formas nas sagas e em alguns poemas, e a partir destes relatos estudiosos procuraram compreender se tais figuras seriam reflexo de crenças reais em espíritos tutelares ou invenções literárias. O objetivo dessa comunicação foi tecer algumas breves considerações sobre o assunto, mostrando a opinião de pesquisadores como Turville- Petre (1964) que considerava a possibilidade de tais espíritos pudessem ser apenas seres lendários, não existindo necessariamente uma crença religiosa sobre eles; Munch (1926)) salientava que as referências aislanislandes alguns desses seres femininos eram ambíguas, pois nem sempre elas apareciam de forma benéfica. Com isso, os dois autores questionavam a predominância de dizer que sempre se tratava de espíritos protetores. Naumann (2016) já considera que alguns desses espíritos como as Dísir teriam tido um culto real. O autor se baseia no estudo da toponímia para apontar evidências que poderiam sugerir que naqueles locais seriam realizados o disáblot. Por fim, também nos reportamos a comentar o estudo de Jochens (1996) que a partir de uma perspectiva da história das mulheres e de gênero, analisa a função das mulheres na mitologia e na religião. Bibliografia: JOCHENS, Jenny. Old Norse Images of Women. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1996. MUNCH, Peter Andreas. Norse mythology: legends of Gods and Heroes. Translated by Sigurd Bernhard Hustvedt. New York: The American-Scandinavian Foundation, 1926. NAUMANN, Hans-Peter. Dísir. In: PULSIANO, Philip; WOLF; Kirsten (eds.). Medieval Scandinavia: An Encyclopedia. London: Routledge, 2016, p. 625. 28 TURVILLE-PETRE, E. O. G. Myth and Religion of the North: The Religion of Ancient Scandinavia. Westport: Greenwood Press, 1964. O PODER SIMBÓLICO DA VÖLVA NAS SAGAS ISLANDESAS Vitória Bandeira Amorim, mestranda em Estudos Literários (UFPR) Resumo: Materializadas em conjuntos de textos escritos na Islândia entre os séculos XII e XIV, as Sagas Islandesas, ou Íslendingasögur, representam um dos grandes tesouros da literatura universal, seja por sua forma ou por sua relevância na historiografia literária. Introduzindo um fazer literário precursor, evidenciam a singularidade de um gênero literário o qual agrupa estilo e conteúdo marcadamente humanos, em narrativas que demonstram as peculiaridades relativas a uma época de tradição oral cuja posterior narrativa escrita esteve encoberta durante séculos até a retomada de seu prestígio como documentação histórica da memória social dos povos escandinavos. Registradas por autores desconhecidos por volta dos séculos XIII e XIV, as sagas são divididas em diferentes subgrupos, um deles sendo as sagas familiares, que consiste em um conjunto de mais de quarenta narrativas que juntas parecem criar as bases da genealogia local. Nesse contexto, a reflexão sobre o carátersimbólico permeado nesse tipo de produção tem relevância para o analisar literário e historiográfico. Isso porque, as descrições dos acontecimentos, em sua totalidade, compõem a memória, assinalando a história de um povo, além do valor estético atribuído aos registros da literatura escandinava. O ritual pagão mediado pela vidente “Thorbjörg”, a vidente, sibila, ou völva, na Saga de Eiríkr Vermelho, presente em Três Sagas Islandesas - manuscrito anônimo do século XIII, que foi traduzido por Théo de Borba Moosburger - ilustra a explanação desenvolvida acima. A presente comunicação, por sua vez, visa ao delineamento acerca do eixo de sua trajetória simbólica no contexto dessa narrativa. Logo, objetiva-se categorizar a posição social da völva, explicitando sua influência no ambiente social ao qual pertence. Para isso, será considerada a análise sobre a organização estrutural na qual esse indivíduo se insere, tomando como base teórica as reflexões de Jacques Le Goff no Dicionário temático do Ocidente Medieval, a respeito de feitiçaria e ritos; a presença das reflexões de Carl Gustav Jung em O homem e seus símbolos, ao refletir sobre as perspectivas da feitiçaria e o inconsciente; as definições de “feiticeira” e “sibila” de acordo com Jean Chevalier e Alain Gheerbrant em Dicionário de Símbolos; recobrando ainda a ideia de bruxaria e feitiçaria a partir dos estudos de Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander no trabalho História da bruxaria; bem como uma caracterização de Christopher Abram em Mitos do norte pagão a respeito da função social da völva. A partir das constatações 29 de Pierre Bourdieu em O poder simbólico, a esquematização analítica evidencia a tese das estruturações de poder internos e externos, corroborando com a hipótese deste trabalho sobre o papel fundamental da figura em questão para manutenção do arranjo de poder regido pelos sistemas simbólicos da época. Bibliografia: ANÔNIMO. Três sagas islandesas. Tradução: Théo de Borba Moosburger. Curitiba, PR: Ed. UFPR, 2007. ABRAM. Christopher. Mitos do Norte pagão: Os deuses dos nórdicos. Tradução: Renan Marques Birro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário dos símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução: Vera da Costa e Silva [et al.]. 2. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989 JUNG, Carl G. [et al.] O homem e seus símbolos. Tradução: Maria Lúcia Pinho. 3. Ed. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016. LE GOFF, Jacques; SCHIMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Tradução: coordenada por Hilário Franco Júnior. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado, 2002. AKKAS, DEUSAS SÁMIS: ALGUMAS DE SUAS PROVÁVEIS ÁREAS DE REGÊNCIA Me. Victor Hugo Sampaio Alves, doutorando em Ciências das Religiões (UFPB/NEVE/SKS) Resumo: Nossa presente proposta consiste em apresentar, de maneira introdutória, os nomes de algumas das divindades femininas cultuadas pelos povos Sámi antes de sua cristianização. É provável que tais divindades tenham permanecido objetos de culto e de diversos tipos de crença ainda após a conversão desses povos ao cristianismo, embora obviamente tendo sofrido as respectivas mudanças e impactos trazidos pela chegada desse sistema monoteísta e proselitista de fé. Partiremos dos escritos de Lars Levi Laestadius, pastor de etnia de Sámi que, entre os anos de 1838-1845, escreveu um estudo denso, composto por quatro partes, intitulado Fragments of Lappish Mythology. Além de ter ouvido, ele mesmo – por conta de sua ascendência – diversos contos oriundos da antiga tradição Sámi, Laestadius conhecia profundamente inúmeras partes da então Lapônia, além de ter sido um cientista aos moldes 30 Iluministas da época: era botânico, zoólogo, linguista e etnógrafo. Inclusive, Laestadius foi procurado pelos franceses para que os guiasse em uma expedição pelo Ártico, chamada La Recherche, que resultou no livro Voyages en Scandinavie, en Laponie, au Spitzberg, et aus Feröe, por Xavier Marmier. Laestadius compilou todas as narrativas, estórias e crenças da tradição Sámi que havia recolhido de diversos povos dessa etnia, comparando-as em seguida com informações de autores prévios, como Johannes Schefferus, Olaus Magnus e Peter Lund, acrescentando também, a esse viés comparativo, um conhecimento esclarecedor que detinha sobre os idiomas nórdicos – diversas línguas sámi, finlandês, sueco, norueguês -. Faremos uso das informações elencadas pelo autor a respeito das divindades femininas dos Sámi, como Madder-Akka e suas filhas Zarakka, Juks-Akka e Uksakka, buscando por suas respectivas regências, poderes e atuações. Nossa ferramenta para evidenciar as atuações dessas divindades será a noção de centros semânticos, conforme proposta por Schjodt. Além disso, olharemos para a obra de Laestadius como um relato de herança cultural constituidor de uma etnografia que, conforme defende Kuutma, trata- se de um tipo idiossincrático de experimentação e emulação de uma identidade marginal e sua hibridização com forças culturais subjugadoras (cristianismo). Esperamos, assim, evidenciar quais crenças relacionadas a essas deusas ainda circulavam na época de Laestadius e quais ele aponta como (supostas) crenças do passado, abandonadas por um povo que, então, havia sido ‘devidamente’ cristianizado. Bibliografia: COLLINDER, Björn. The Lapps. United States: Princeton University Press, 1949. KENT, Neil. The Sámi peoples of the north: a social and cultural history. London: C. Hurst & Co., 2014. KUUTMA, Kristin. Interpreting the Creation of a Sámi Ethnography and a Seto Epic. Helsinki: Academia Scientiarum Fennica, 2006. LAESTADIUS, Lars Levi. Fragments of Lappish Mythology. Canada: Aspasia Books, 2002. SCHEFFERUS, John. The History of Lapland. Oxford: Oxford, 1674. SCHJØDT, Jens Peter. The notions of Model, Discourse, and Semantic Center as Tools for the (Re)Construction of Old Norse Religion. The Retrospective Methods Network, n.6, p. 6-15, 2013. RÁN E A POSIÇÃO FEMININA DO MAR NÓRDICO Andréa Caselli, doutoranda em Ciências das Religiões 31 (UFPB/NEVE/BELVIDERA) Resumo: Esta pesquisa apresenta uma análise a respeito da figura de Rán, deidade feminina que, junto com o seu consorte, o gigante Ægir, representa as relações humanas com o mar na mitologia da antiga religião nórdica. Ela é frequentemente associada à uma rede que usa para capturar seus escolhidos e às suas nove filhas que também são entidades marinhas. Como será mostrado, os poetas ressaltam o caráter de Rán em diferentes aspectos, na medida em que sua função mitológica pode ser resumida como estando ligada ao afogamento e alinhada simbolicamente às valquírias que representam o falecimento do guerreiro em batalha. Contudo, também há a compatibilidade com Hel, que personifica a morte em circunstâncias não especificadas. Como esta última, ela age de forma independente, sendo também caracterizada em algumas fontes como uma sedutora de homens, escolhendo marinheiros para levar para sua casa subaquática. As principais fontes sobre Rán são poéticas - embora também haja algumas referências a ela fora do verso. A poesia escáldica, em particular, é cheia de referências às viagens marítimas e, portanto, representa uma fonte valiosa de informações sobre como os escandinavos viam o mar e como o mitologizavam. O objetivo é expor - em idioma português - as discussões, debates e estudos acadêmicos sobre o tema. A partir de um método histórico e de uma crítica literária, serão abordadas as citações sobre Rán existentes na poesia escáldica e nas sagas islandesas; assim como também serão mostradas pinturas e ilustrações que a retratam. Bibliografia: BYOCK, Jesse. 1990. The Saga of the Volsungs. Berkeley: University of California Press, 1990. LINDOW, John. Handbook of norse mythology.California: ABC CLIO, 2001. QUINN, J. Mythologizing the Sea: The Nordic Sea-Deity Rán. In: THANGUERLINI, T. R. (Org.). Nordic Mythologies: Interpretations, Institutions, Intersections. Berkeley: North Pinehurst Press, 2014: 71-97. SIMEK, Rudolf (1993). Dictionary of Northern Mythology. Trans. Angela Hall. Cambridge: D. S. Brewer, 1993. STURLUSSON, S. Edda Mayor. Traducción de Luís Lerate. Madrid: Alianza Editorial, 1986. LITERATURA NA ESCANDINÁVIA MEDIEVAL: A FIGURA DA MULHER NA SAGA DE LAXDAELA Maria Luiza Soares de Medeiros, graduanda em História (UFPE) 32 Resumo: O presente trabalho apresenta como objetivo refletir a condição feminina na sociedade islandesa medieval através da Saga de Laxdaela, enfatizando a relevância das sagas enquanto fontes históricas e a complexidade da figura feminina e sua atuação nesta sociedade. Neste trabalho compreendemos, aliados a uma concepção de nova Escandinavística, que, para além das abordagens acerca da historicidade dos seus eventos, as sagas consistem em valiosas fontes historiográficas pois refletem valores sociais e estruturas da sociedade na qual foram produzidas. A saga de Laxdaela, de autoria anônima e de provável produção do século XIII, apresenta em sua narrativa diversos aspectos relacionados à História da sociedade islandesa medieval, como as relações sociais e de gênero, a colonização da ilha por famílias vindas da Noruega e o processo de cristianização. A escolha pela saga em questão baseou-se em sua particularidade de apresentar diversas figuras femininas, evidenciando, apesar do enfoque nas relações e nos feitos da alta sociedade aristocrática, aspectos da condição feminina do cotidiano, como a costura, e das diferentes posições nas quais as mulheres poderiam se encontrar. Unn, the Deep-minded, constitui uma das mais importantes personagens da saga, sendo admirada pela sua sabedoria e perspicácia. Deste modo, apesar dos homens possuírem grande parte do poder político e social, as mulheres também exerciam poder e influência em sua sociedade, sua família e sua própria vida, sendo sua atuação complexa. A construção deste estudo foi baseada em teóricos nacionais e internacionais dos temas referentes às sagas e à sociedade escandinava medieval, como Chris Callow, Kendall M. Holcomb, Nelly Egger De Iolster, Jenny Jochens e Johnnni Langer. Bibliografia: ANÔNIMO. The Laxdale Saga, Muriel A. C. Press, Icelandic Saga Database, Sveinbjorn Thordarson, 1880. CALLOW, Chris. Reconstructing the past in medieval Iceland. Early Medieval Europe, vol. 14, 2006 EGGER DE IOLSTER, Nelly. Mujeres en la Saga de Njal. Temas Mediev. Buenos Aires, v. 12, p. 17-35, 2004 HOLCOMB, Kendall M. Pulling the Strings: The Influential Power of Women in Viking Age Iceland. Western Oregon University, Student Theses, 2015 JOCHENS, Jenny. Women in old norse society. Ithaca: Cornell University Press, 1985 LANGER, Johnni. História E Sociedade Nas Sagas Islandesas: Perspectivas Metodológicas. Alethéia, vol. 1, 2009. 33 Sessão de Comunicação “Mitologia e Literatura Clássica I” – Auditório do PPGE/PPGCR, 06/10/2019 08:00 às 09:30 Coordenação: Me. André de Oliveira (PPGH-UFMT/NEVE) SOB A ÉGIDE – UMA LUZ SOBRE OS MISTÉRIOS DA GÓRGONA Andrea Vasconcellos Souto Bezerra Resumo: Não há dúvida de que as mitologias em geral exercem um grande fascínio nas pessoas. Dentre elas, uma das que mais exercem esse poder é a helênica, tendo leituras e releituras ao longo dos séculos nas artes e em diversas áreas do conhecimento humano. Entre as figuras que compõem a mitologia helênica, a Medusa e/ou a Górgona é uma das quais mais atraiu e atrai atenção e interesse. Sendo que, esse interesse parece ter se tornado crescente na contemporaneidade se deve a uma certa interpretação largamente difundida de que Medusa seria um tipo de retrato da vítima culpabilizada e injustiçada. No entanto, essa interpretação é equivocada, pois ela se baseia numa alteração. Visto que, em nenhuma das versões helênicas do mito existe alusão a um estupro. Além disso, a ligação de Athena com Medusa é profunda e difere bastante desse retrato de uma deusa que teria sido injusta com sua própria sacerdotisa. E afinal, qual sentido faria uma Deusa carregar no próprio peito o símbolo de alguém visto, por ela mesma, como errado ou vil? O objetivo desse trabalho é iluminar os equívocos em cima da interpretação do mito envolvendo a Medusa/Górgona e trazer um pouco à luz a profunda ligação existente entre a Górgona e Athena, ligação essa que não tem a ver com uma punição, mas algo que tem a ver com a origem da própria Athena e com a essência mesma da Deusa. Outro objetivo, é mostrar também a ligação de Medusa e do seu nome com divindades marinhas femininas. Ressaltando que não se trata da aparentemente óbvia ligação dela com monstros marinhos, mas com deusas mesmo que até aparecem na Odisséia como salvadoras. Como metodologia procurou- se pesquisar em fontes clássicas da literatura, para isso foi utilizado principalmente o site Theoi que tem citações de autores clássicos por tema. Também foi feita pesquisa em livros acadêmicos que tivessem uma abordagem histórica, arqueológica e literária sobre Medusa e Athena. A relação da Medusa/Górgona com Athena consegue ser traçada com a abordagem da ligação dela com a Líbia, mostrando o quanto a máxima o "mito explica o rito" se aplica a esse caso. Onde foram criadas “estórias” para explicar uma ligação cuja origem era bem mais "simples". Além disso, a relação do nome Medusa com epítetos de Leukothea mostra que esse nome carregava, provavelmente, um outro peso e sentido que caíram no esquecimento ao longo do tempo. A curiosidade despertada pela questão da relação entre Medusa e Athena levou a alguns esclarecimentos e conclusões preliminares que espero que possam trazer mais conhecimento acerca dessas figuras míticas. 34 Bibliografia: BERNAL, Martin. Black Athena: The Afroasiatic Roots of Classical Civilization. Rutgers University Press: 1991. Vol. II DEACY, Susan. Athena. Routledge: 2008. Gods anda Heroes of the Ancient World. HERÓDOTO. História. Traduzido do grego por Pierre Henri Larcher (1726–1812). Versão em português de J. Brito Broca. Ed. eBooksBrasil - Agosto 2006. Honor the Gods blog, Modern Retellings of the Myth of Medusa and Hellenic polytheism. Disponível em: <https://honorthegodsblog.wordpress.com/2018/03/28/anonymous-asked- anyway-how-to-explain-the-whole-medusa-athena-poseidon-deal-to-a-beginner- polytheist-without-them-hating-the-gods-and-understanding-the-situation-im-not- good-at-this-kinda-stuff-bu/>. Acesso em 10 de junho de 2019. The Theoi Project, Theoi Greek Mithology. Disponível em <https://www.theoi.com/>. Acesso em 17 de julho de 2019. WILK, Stephen. Medusa: Solving the Mystery of the Gorgon. Oxford University Press: 2000. DIOTIMA DE MANTINEIA: UMA SACERDOTISA HISTÓRICA OU INVENÇÃO PLATÔNICA? Prof. Me. Felipe G. S. da Silva, mestre e doutorando em Filosofia (UFPE) Resumo: As personagens de Platão são em sua maioria reais, ou seja, de existência histórica comprovada. Dentre a variedade de personagens presentes nos seus diálogos, Diotima de Mantineia representa uma importante figura na apresentação da principal tese do diálogo Banquete, onde é apresentada como a mestra de Sócrates na compreensão dos assuntos eróticos (201d). Apesar da importância na obra e no tema, Diotima não aparece em nenhum outro diálogo do filósofo, nem tão pouco como personagem de algum cenário histórico do mundo grego. Sendo assim, a única fonte da qual temos acesso à personagem é justamente o Banquete. Nele, a sacerdotisa aparece em meio a um cenário fortemente marcado por personagens masculinas, num contexto que privilegiava a prática da pederastia ateniense. Outrossim, Diotima não está presente, por esse mesmo motivo, na cena física do Banquete e sobre ela apenas ouve-se Sócrates produzir umdiscurso que descreve um suposto aprendizado com ela. O ensinamento, dentre outras coisas, trata do entendimento da natureza do desejo 35 e da proposta, dita em tons de mistérios iniciáticos, de superação de um amor físico ao espiritual ou metafísico (201e-212a). Em meio a esse cenário e em vista da importância do conteúdo do discurso para a definição da prática filosófica como atividade erótica, é necessário a problematização sobre a suposta fonte do ensinamento que Sócrates diz ter recebido, ou seja, sobre a existência ou não de Diotima. Investigar a real existência de Diotima não é uma tentativa de desqualificar o discurso de Sócrates, mas tentar entender porque Platão quis naquele contexto masculino inserir uma figura feminina que não aparece em outros diálogos e da qual não se tem nenhuma fonte senão o Banquete. Este antigo debate em torno da historicidade e personalidade de Diotima está longe de ser finalizado, mas é um interessante debate para a representação do feminino na antiguidade. Entre os plantonistas, já a algum tempo, a literatura apresenta normalmente três hipóteses ou linhas de pensamento: a primeira, nega a existência histórica de Diotima atribuindo a Platão sua invenção (WILLAMOWITZ, 1959); a segunda defende a existência da suposta sacerdotisa (TAYLOR, 1960) e a terceira, já um tanto mais atual (MENDEZ AGUIRRE, 2010) propõe uma visão mais intermediária, não admitindo a existência real da personagem tal qual descrita por Platão, mas considerando-a uma representação de uma outra personagem do mundo antigo, Safo de Lesbos. O objetivo desse trabalho é demonstrar e comparar os principais argumentos utilizados em cada uma dessas alternativas interpretativas e, com isso, tentar discutir a possibilidade de uma síntese que considere os elementos que o próprio Platão nos oferece no diálogo Banquete. Bibliografia: HALPERIN, D. ¿Por qué Diótima es una mujer? Trad. de M. Serrichio. Córdoba: Cuadernos de Litoral, 1999. KRANZ, W. Diotima von Mantinea. Hermes, v. 61, n. 4, p. 437-447, 1926 MENDEZ AGUIRRE, V. H. ¿Influencia de filósofas y sabias en los Diálogos de Platón? México: II Coloquio de la Asociación Mexicana de Estudios Clásicos, UNAM, 2010. p. 43-56. PLATÃO. Simpósio. Trad. de Carlos Alberto Nunes. – 3ª Ed. – Belém: ed. UFPA 2011. TAYLOR, A. E. Plato, the man and his work. New York: Meridian Books Inc, 1960. WILLAMOWITZ, U. Platon, sein leben und seine werke. Berlin: Weidmannsche Verlagsbuchhandlung, 1959. 36 O PAPEL DO FEMININO NA RENOVAÇÃO E NO EQUILÍBRIO DE TODAS AS COISAS: GAIA E AFRODITE Hamilton Sérgio Nery de Medeiros, graduando em Letras (UFPB); Thallyta Gomes Machado, graduanda em Letras (UFPB) Resumo: Dentre as mais variadas fontes mitológicas que temos acesso, uma das mais conhecidas e estudadas até hoje é a apresentada por Hesíodo e conhecida como Teogonia. Na obra, temos a primeira representação do feminino através de Gaia, que é vista como uma divindade que copula de forma ininterrupta com Urano (deus que representa o céu), pelo qual é impedida de ter os seus filhos, causando assim o caos no cosmos. Após o fim deste caos que fora instaurado, Gaia então consegue se separar de Urano – uma representação da separação do céu e da terra que também é vista, por exemplo, nas narrativas bíblicas –, e parir os seus filhos. A terra, que é vista na Teogonia como Gaia, traz em si toda uma carga de renovação e equilíbrio; tendo em vista as mais diversas destruições que ocorreram como dilúvios, grandes catástrofes, ela ainda consegue se renovar, florescer e dar frutos. Disto, surge, então, o segundo exemplo do feminino como agente na renovação e equilíbrio das coisas, que é a divindade grega Afrodite. O nascimento da deusa ocorre a partir do momento em que um ciclo de caos e desordem se encerra, quando o seu pai Urano tem o órgão genital decepado, separando-se para sempre de Gaia. Mesmo após ter sido decepado, o órgão do deus ejacula e cai sobre o mar, formando espumas que fazem emergir do fundo a grande deusa, que surge como uma forma de prelúdio de um novo ciclo após o seu nascimento: um ciclo de organização cósmica. Quando Afrodite sai do mar e entra em contato com a terra, a natureza a acompanha fazendo nascer e florescer tudo outra vez, como se houvesse neste momento um contato entre as duas representações do feminino no qual Gaia reafirma em Afrodite o seu desejo de poder renovar todas as coisas. Para o desenvolvimento do nosso trabalho, utilizaremos como aporte teórico a Teogonia, de Hesíodo, Mito e Realidade, de Eliade, Hipólito, de Eurípides, dentre outros autores e obras a fim de que possamos aprimorar nosso estudo. Bibliografia: ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. Tradução de Pola Civelli. 6ª reimpressão da 6ª edição de 2000. São Paulo: Perspectiva, 2016. EURÍPEDES. Hipólito; coleção dirigida por J. I. Ciruelo Borge e A. Verjat Massmann. Barcelona, 1977. GUIMARÃES, Ruth. Dicionário da Mitologia Grega. Editora Cultrix, São Paulo, 1982. 37 HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses; estudo e tradução de Jaa Torrano. 2ª edição, 1991 – 6. Reimpressão, 2015. Editora Illuminuras Ltda. São Paulo, 2017. LAVEDAN, Pierre. Dictionnaire Illustré De La Mythologie Et Des Antiquités Grecques Et Romaines. Librairie Hachette. 3ª edição. Paris, 1931. PABÓN, José M. Diccionario Manual Griego: griego clásico-español. Editora Vox. Madrid, 1967. TALENTO OU TRANSGRESSÃO? JULGAMENTO DE UMA VIRGEM VESTAL Letícia Quintella Viana, graduanda em Letras (UFPB); Prof. Me. Lucas Consolin Dezotti (UFPB) Resumo: As Virgens Vestais eram seis sacerdotisas que compunham o colégio pontífice e tinham como função realizar os cultos à deusa Vesta, divindade romana que representava a harmonia do lar e personificava o fogo sagrado. Por isso, sua tarefa principal era o cuidado com o lar público, alimentando a lareira existente no templo da deusa. Quando aderiam ao sacerdócio, as Vestais eram emancipadas, deixando de obedecer ao pater familias para obedecer ao pontifex maximus, perdendo os direitos de herança e sucessão, além de não poderem deter bens próprios, de modo que, quando morriam, tudo o que possuíam era aderido ao tesouro público. Elas recebiam uma soma para aderir ao sacerdócio e ainda uma soma anual pelos serviços prestados, a qual era sempre regularizada e poderia chegar a dois milhões de sestércios, ultrapassando o dobro do recebido pelos senadores, cargo mais alto da política romana. Segundo Tito Lívio (1.20.3), as Vestais foram instituídas por Numa Pompílio (s. vii a.C.), que lhes estabeleceu a função de maneira remunerada e sob voto de castidade, determinando que, caso alguma sacerdotisa fosse acusada da quebra da castidade, seria julgada pelos demais pontífices e, sendo culpada, seria sepultada viva. Tendo em vista tal contexto, analisaremos o excerto de controvérsia 6.8 de Sêneca, o Rétor (54 a.C. – 39 d.C.), em que o autor utiliza a figura de uma Vestal que seria ré de incastidade por ter escrito um verso celebrando a união conjugal e explora suas condições de vida e trabalho para elaborar os argumentos da acusação e da defesa. As controvérsias formavam um subgênero da declamação e consistiam na elaboração de peças jurídicas fictícias em âmbito escolar a fim de treinar técnicas de argumentação, servindo-se de personagens que já estavam presentes nas declamações dos Sofistas gregos, ora simpáticos, como filhos deserdados e moças estupradas, ora reprováveis, como mercenários e tiranos. A análise do documento nos permitirá extrair do texto as referências acerca dos direitos e deveres das Virgens Vestais para entender as normas 38 às quais as Vestais estavam submetidas ao aderirem ao sacerdócio e entender o que configuraria um crime de incastidade cometido por uma sacerdotisa desse grupo. Traduziremos o texto filologicamente estabelecido por Adolf Gottlieb Kiessling (1872), nos servindo ainda do aporte teóricode Alonso (2011), Costrino (2010), Peterlini (1991), entre outros. Bibliografia: Alonso, Ana Carolina C. 2011. “Religião, sociedade e gênero na república romana tardia: o culto de Vesta”. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História da ANPUH. São Paulo. Coelho, Ana Lúcia S. 2010. “As relações de gênero no espaço urbano de Roma”. In: Anais do VIII Encontro de História da ANPUH. Vitória. Costrino, Artur. 2010. A lição dos declamadores: Sêneca, o rétor, e as suasórias. Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo. Kiessling, Adolf G. 1872. Annaei Senecae Oratorum et rhetorum sententiae divisiones colores. Leipzig: Teubneri. Peterlini, Ariovaldo A. 1991. “Lucrécia e o ideal romano de mulher”. Língua e Literatura 16(19): 9-28. Tôrres, Moisés R. 2001. “Considerações sobre a condição da mulher na Grécia clássica”. Mirabilia 01. DOLO E VONTADE: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NA TEOGONIA DE HESÍODO Lívia Maria da Silva, mestranda em Letras (UFPB) Resumo: Considerando a recorrente atribuição da figura feminina à representatividade do mal, tanto na tradição judaico-cristã, quanto na grega antiga, a presente comunicação, busca, em contrapartida, uma vez evidenciada a fundamentação das referidas conjecturas, explorar a significativa participação do feminino, na instituição e manutenção do cosmo, na mitologia grega, segundo a tradição hesiódica. Busca-se, então, explanar alguns aspectos que servissem de respaldo a essa ideia, não com um fim conclusivo, mas, ao contrário, buscando expandir e fundamentar as reflexões. Feito isso, demonstra-se, como, no âmbito divino, malgrado as relações entre as forças femininas e obscuras, o feminino desempenha, através da narrativa mítica de Hesíodo, importante papel no estabelecimento e na perpetuação da ordem do universo. Desta feita, partindo da 39 figura de Pandora, como representação da primeira mulher, é possível observar que ela é descrita não só como a de dissimulada, mas como um mal aos homens <κακὸν ἀνθρώποισιν>. Nesse sentido, MARROU foi essencial, para analisarmos a imagem da mulher em comparação ao conceito de kalokagathia. Em seguida, analisa-se o feminino a partir do campo divino, evidenciando as forças sagradas de Noite, Discórdia e Hécate. Assim, explorou-se como, a partir de uma divindade feminina, Noite, descende diversas forças ditas representativas do mal, contrapondo a uma análise lexical do texto grego, com vistas a investigar se, por meio do léxico, ser-nos-ia possível confirmar que a tradição hesiódica atribuía ao feminino a motivação do mal. Tal análise centrou-se, pois, em dois termos: dolo – averiguando se o engano seria, nesta obra, uma prática essencialmente feminina – e vontade – analisando os termos gregos equivalentes a esse vocábulo, comparando aqueles que vinham relacionados a ações femininas àqueles vinculados a ações masculinas, a fim de distinguir a atuação de cada categoria e, a partir disso, formular sua caracterização. Foram utilizados, portanto, como corpus, a Teogonia, de Hesíodo, pela tradução de JAA Torrano; como extensão desse, o mito de Pandora, extraído de Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo; para tratar da kalokagathia, o trabalho de Henri Irénée Marrou, História da educação na Antiguidade; e, para a elucidação de termos gregos, faz-se uso do Dictionnaire Etymologicque de la Lange Grecque, de Chantraine. Bibliografia: BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega (Vol. I). Petrópolis: Vozes, 1986. CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire Étymologique de la Langue Grecque: histoire des mots. (Tome I Α-Δ). Paris: Éditions Klincksieck, 1968 HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1991 – 2ª. ed. 2012. HESÍODO. Os Trabalhos e os Dias. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1996. MARROU, Henri Irénée. História da educação na Antiguidade. Tradução Mário Leônidas Casanova. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1973. SNELL, Bruno. A Cultura Grega e as Origens do Pensamento Europeu. Tradução de Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2005. 40 Sessão de Comunicação “Estudos Escandinavos II” – Auditório do CE 07/10/2019 08:00 às 09:30 Coordenação: Prof. Dr. Johnni Langer (PPGCR-UFPB/NEVE) O ESCANDINAVISMO OITOCENTISTA NO BRASIL: O INTERCÂMBIO INTELECTUAL ENTRE O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO E A SOCIEDADE REAL DOS ANTIQUÁRIOS DO NORTE André Alcântara Aguiar, graduando em História (UEMG) Resumo: O presente trabalho pretende revisitar as discussões que ocorreram entre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a Sociedade Real dos Antiquários do Norte, que ao longo do século XIX possuíram um diálogo entre seus membros para investigar possíveis vestígios que comprovassem a chegada de nórdicos na costa sul- americana antes do século XV. Desta forma, o objetivo da pesquisa, que ainda se encontra em fases iniciais, é buscar e estudar documentos provenientes deste intercâmbio e analisá-los, inicialmente, a partir do impacto que estes trabalhos tiveram entre os membros e pesquisadores vinculados ao IHGB. Assim sendo, a investigação pretende compreender os interesses dos intelectuais brasileiros que se envolveram na teoria da presença pré-cabralina dos nórdicos no Brasil, através da influência da pesquisa escandinavista da Sociedade Real dos Antiquários do Norte. As fontes levantadas até o atual momento do trabalho são provenientes da coleção da Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (RIHGB) e de outros documentos disponibilizados pelo arquivo digital do IHGB. Os resultados iniciais demonstram que a Real Sociedade foi apresentada ao IHGB através de uma carta escrita pelo naturalista e paleontólogo Peter Wilhelm Lund (1801-1880) ao Instituto, em 16 de maio de 1839. Na carta, Lund apresenta a Sociedade e explicita a importância que ela possui no cenário científico e afirma que uma relação entre as duas instituições seria de grande proveito, por terem interesses em comum. Também enviou uma versão da obra Antiquitates Americanæ, de C. C. Rafn, o secretario e um dos fundadores da Sociedade Real dos Antiquários do Norte, dizendo que recebeu autorização do autor para uma possível tradução pelo IHGB. Tal carta é lida aos membros do Instituto em sua 17ª Sessão, realizada em 13 de julho de 1839, como consta nos extratos das atas do terceiro volume da RIHGB. Após este contato inicial, a obra de Rafn é traduzida, e publicada na revista em 1840. A publicação de Antiquitates Americanæ, no qual o autor narra excursões nórdicas à América Setentrional, mais precisamente na região da Nova 41 Inglaterra, possui uma importante repercussão no meio intelectual da época, em discussões que vão persistir por algumas décadas. Sendo assim, a documentação inicial analisada e a bibliografia consultada que buscou investigar o contato de Rafn com o IHGB e outras partes do mundo, demonstraram que diversas inscrições ou vestígios estudados no Brasil no período, como as epígrafes na pedra da Gávea, a suposta cidade abandonada no sertão da Bahia e as inscrições na ilha do Arvoredo em Florianópolis, foram consideradas similares a informações apresentadas por Rafn, no qual incentivou um debate duradouro sobre a presença nórdica no Brasil em épocas pré-cabralinas. Bibliografia: HOLTEN, Birgitte; GUIMARÃES, Lúcia M. P. Desfazendo as ilusões: o Dr. Lund e a suposta presença escandinava na Terra de Santa Cruz. In: Lócus, Juiz de Fora, v. 3, n. 1, p. 45-62, 1997. LANGER, Johnni. Estudos Nórdicos Medievais: alguns apontamentos historiográficos. In: Roda da Fortuna, v. 6, n. 1, 2017, Dossiê Estudos Nórdicos Medievais, p. 9-24. Disponível em: https://www.revistarodadafortuna.com/2017-1. Roda da Fortuna, v. 06, p. 09-24, 2017. LANGER, Johnni. Vikings no Brasil. In: LANGER, Johnni. Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra,
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