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910 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX c A glicina e a arginina originam a creatina e a fosfocreati- na, um tampão energético. A glutationa, formada a par- tir de três aminoácidos, é um importante agente redutor na célula. c As bactérias sintetizam D-aminoácidos a partir de L- -aminoácidos, por meio de reações de racemização que requerem piridoxal-fosfato. Os D-aminoácidos são co- mumente encontrados em certas paredes bacterianas e em certos antibióticos. c Os aminoácidos aromáticos originam muitas substâncias nos vegetais. A descarboxilação dependente de PLP de alguns aminoácidos produz importantes aminas biológi- cas, incluindo neurotransmissores. c A arginina é precursora do óxido nítrico, um mensageiro biológico. 22.4 Biossíntese e degradação de nucleotídeos Como discutido no Capítulo 8, os nucleotídeos apresentam uma variedade de importantes funções em todas as células. Eles são precursores do DNA e do RNA; são carreadores essenciais de energia química – papel desempenhado basi- camente pelo ATP e, em parte, pelo GTP; são componentes dos cofatores NAD, FAD, S-adenosilmetionina e coenzima A, assim como de intermediários biossintéticos ativados, como UDP-glicose e CDP-diacilglicerol; e alguns deles, como o cAMP e o cGMP, são também segundos-mensagei- ros celulares. Dois tipos de vias levam aos nucleotídeos: as vias de novo e as vias de salvação. A síntese de novo dos nu- cleotídeos inicia com seus precursores metabólicos: ami- noácidos, ribose-5-fosfato, CO2 e NH3. As vias de salvação COO]CH CH2 H2N 1HO Tirosina H2O CH Ascorbato Desidroascorbato Dopamina b-hidroxilase O2 Dopa HO CH2 Feniletanolamina- N-metiltransferase CH2 NH3 1 HO CH3 Dopamina HO HO OH NH3 1 adoMet adoHcy NH3 1HO CHHO CH2 OH CH2 Adrenalina CO2 PLPDescarboxilase dos aminoácidos aromáticos HO COO]CHCH2 NH3 1 Noradrenalina H2O Tetra-hidrobiopterina Di-hidrobiopterina Tirosina- hidroxilase O2 HO CO2 CH CH2 NH3 PLP Tetra-hidrobiopterina Di-hidrobiopterina Triptofano- -hidroxilase H2O Serotonina Descarboxilase dos aminoácidos aromáticos CHCH2 1 ] OOC 5-Hidróxi- triptofano CH2 NH3 1 CH2] OOC CH2 g-Aminobutirato (GABA) COO] Glutamato NH3 COO] CO2 NH3 1 PLPGlutamato- -descarboxilase CH2 CH2 CHCH2 1 Histidina NH3 COO] N NH CH2 1 NH3 N H N H CO2 1 PLPHistidina- -descarboxilase CHCH2 1 NH3 COO] TriptofanoNH CH2 HOCH2 N NH Histamina O2 HO FIGURA 2231 Biossíntese de alguns neurotransmissores a partir de aminoácidos. Em cada caso, o passo-chave é o mesmo: uma descarboxila- ção dependente de PLP (sombreada em cor salmão). Nelson_6ed_22.indd 910Nelson_6ed_22.indd 910 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 911 reciclam as bases livres e os nucleosídeos liberados a partir da degradação de ácidos nucleicos. Ambos os tipos de vias são importantes no metabolismo celular e são discutidos nesta seção. As vias de novo para a biossíntese de purinas e pirimi- dinas parecem ser quase idênticas em todos os organismos vivos. Uma observação notável é que as bases livres gua- nina, adenina, timina, citidina e uracila não são interme- diárias nessas vias, isto é, as bases não são sintetizadas e então ligadas à ribose, como se poderia esperar. A estru- tura do anel púrico é construída ligada à ribose durante todo o processo, com a adição de um ou de poucos átomos por vez. O anel pirimídico é sintetizado como orotato, li- gado à ribose-fosfato e, então, convertido nos nucleotídeos pirimídicos comuns necessários para a síntese dos ácidos nucleicos. Embora as bases livres não sejam intermediárias nas vias de novo, elas são intermediárias em algumas das vias de salvação. Diversos precursores importantes são compartilhados pelas vias de novo para a síntese de pirimidinas e puri- nas. O fosforribosil-pirofosfato (PRPP) é importante para a síntese de ambas e, nessas vias, a estrutura da ribose é mantida no nucleotídeo produzido, ao contrário do seu des- tino nas vias para a biossíntese de triptofano e histidina, discutidas anteriormente. Um aminoácido é um precursor importante em cada tipo de via: a glicina para as purinas e H3N CO2 C H 1S Metiltioadenosina Adenosina CH2 CH2 1 Ornitina- descarboxilase PLP CH3 CH2 H3N CH2 CH3 Adenosina 1 H3N CH2 (CH2)4 1S COO Ornitina Putrescina adoMet descarboxilada CO2 adomet- descarboxilase PLP COO2 S 1 CH2 CH2 CHCH2 NH Propilaminotransferase II Espermidina Adenosina H3N PPi 1 Pi S-Adenosilmetionina H3N 1 1 NH3 NH (CH2)3 Espermina AdenosinaS Propilaminotransferase i NH3 H3N 1 (CH2)4 1 NH3 NH(CH2)3 (CH2)3 CH3 1 NH3 (CH2)4 Metionina ATP CH3 1 1 Arginina COO2 C HH3N CH2 CH2 CH2 NH NH2 C NH2 1 1 Hidroxiarginina NADPH 1 H1 , O2 NADP1, H2O NADPH, O2 NADP1, H2O COO2 C HH3N CH2 CH2 CH2 NH NH2 C N OH 1 Citrulina COO2 C HH3N CH2 CH2 CH2 NH NH2 C O 1 1 NO• Óxido nítrico 2 1 2 1 FIGURA 2233 Biossíntese de óxido nítrico. Ambos os passos são catalisados pela óxido-nítrico-sintase. O nitrogênio do NO provém do grupo guanidino da arginina. FIGURA 2232 Biossíntese de espermidina e espermina. Os passos envolvendo descarboxilações dependentes de PLP estão sombreados em cor salmão. Nessas reações, a S-adenosilmetionina (em sua forma descarbo- xilada) atua como fonte de grupos propilamino (sombreados em azul). Nelson_6ed_22.indd 911Nelson_6ed_22.indd 911 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 912 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX o aspartato para as pirimidinas. A glutamina é, novamente, a mais importante fonte de grupos amina – em cinco passos distintos das vias de novo. O aspartato também é utilizado como fonte de um grupo amino em dois dos passos das vias das purinas. Duas outras características devem ser mencionadas. Primeiro, existem evidências, especialmente na via de síntese de novo das purinas, de que as enzimas estejam presentes na célula como grandes complexos multienzimá- ticos, tema recorrente na discussão do metabolismo. Se- gundo, os conjuntos celulares de nucleotídeos (outros que não o ATP) são bastante pequenos, talvez 1% ou menos das quantidades necessárias para a síntese de DNA celular. As- sim sendo, as células devem continuar a sintetizar nucleo- tídeos durante a síntese de ácidos nucleicos e, em alguns casos, a síntese de nucleotídeos pode limitar as velocidades de replicação e de transcrição do DNA. Em função da im- portância desses processos nas células em divisão, agentes que inibem a síntese de nucleotídeos se tornaram especial- mente importantes em medicina. Agora serão examinadas as vias biossintéticas para os nucleotídeos púricos e pirimídicos e sua regulação, a for- mação de desoxinucleotídeos e a degradação de purinas e pirimidinas em ácido úrico e ureia. A seção será finalizada com uma discussão a respeito de agentes quimioterápicos que afetam a síntese de nucleotídeos. A síntese de novo de nucleotídeos púricos inicia com o PRPP Os dois nucleotídeos púricos precursores dos ácidos nu- cleicos são 59-monofosfato de adenosina (AMP; adenilato) e 59-monofosfato de guanosina (GMP; guanilato), os quais con- têm as bases púricas adenina e guanina. A Figura 22-34 mos- tra a origem dos átomos de car- bono e de nitrogênio do sistema de anéis púricos, conforme de- terminado por John M. Bucha- nan utilizando experimentos com marcadores isotópicos em aves. A via detalhada para a biossíntese de purinas foi eluci- dada principalmente por Buchanan e por G. Robert Green- berg, na década de 1950. No primeiro passo comprometido com a via, um grupo amino, doado pela glutamina, é ligado ao C-1 do PRPP (Fi- gura 22-35). A 5-fosforribosilamina resultante é alta- mente instável, com meia-vida de 30 segundos em pH 7,5. O anel púrico é depois construído sobre essa estrutura. A via aqui descrita é idêntica em todos os organismos, com exceção de umpasso que difere nos eucariotos superiores, como observado a seguir. O segundo passo é a adição de três átomos doados pela glicina (Figura 22-35, etapa ➋). Um ATP é consumido para ativar o grupo carboxila da glicina (na forma de um acil- -fosfato) para essa reação de condensação. O grupo ami- no da glicina, que foi adicionado, é então formilado pelo N10-formiltetra-hidrofolato (etapa ➌), e um nitrogênio é doado pela glutamina (etapa ➍) antes que a desidratação e o fechamento do anel formem o anel imidazólico do núcleo púrico, com cinco membros, na forma de 5-aminoimidazol- -ribonucleotídeo (AIR; etapa ➎). Nesse ponto, três dos seis átomos necessários para o segundo anel da estrutura das purinas estão colocados no lugar. Para completar o processo, um grupo carboxila é inicialmente adicionado (etapa ➏). Essa carboxilação é incomum pelo fato de não requerer biotina, mas utilizar bi- carbonato, geralmente presente em soluções aquosas. Um rearranjo transfere o carboxilato do grupo amino exocíclico para a posição 4 do anel imidazólico (etapa ➐). As etapas 6 e ➐ ocorrem apenas em bactérias e fungos. Em eucariotos superiores, incluindo os humanos, o 5-aminoimidazol-ribo- nucleotídeo produzido na etapa ➎ é carboxilado diretamen- te em carboxiaminoimidazol-ribonucleotídeo, em uma úni- ca etapa, em vez de duas (etapa ). A enzima que catalisa essa reação é a AIR-carboxilase. O aspartato agora doa seu grupo amino, em duas eta- pas (➑ e ➒): formação de uma ligação amida, seguindo-se a eliminação do esqueleto de carbono do aspartato (como fumarato). (Lembre-se de que o aspartato desempenha um papel análogo em duas etapas do ciclo da ureia; ver Figura 18-10.) O último carbono é doado pelo N10-formiltetra-hi- drofolato (etapa ), e ocorre um segundo fechamento de anel, produzindo o segundo anel fundido ao núcleo púrico (etapa ). O primeiro intermediário com um anel púrico completo é o inosinato (IMP). Assim como nas vias biossintéticas do triptofano e da histidina, as enzimas da síntese do IMP parecem estar or- ganizadas como grandes complexos multienzimáticos na célula. Novamente, evidências surgem da existência de polipeptídeos únicos com diversas funções, alguns catali- sando passos não sequenciais da via. Nas células eucarió- ticas de organismos como fungos, moscas-da-fruta e gali- nhas, as etapas ➊, ➌ e ➎ da Figura 22-35 são catalisados por uma proteína multifuncional. Outra proteína multifun- cional catalisa as etapas e . Em humanos, uma enzima multifuncional combina as atividades da AIR-carboxilase e da SAICAR-sintetase (etapas e ➑). Nas bactérias, essas atividades são encontradas em proteínas separadas, mas as proteínas podem formar um grande complexo não cova- N amídico da glutamina CO2 C C C N Formato Aspartato Formato Glicina C NN C N FIGURA 2234 Origem dos átomos no anel das purinas. Esta informa- ção foi obtida a partir de experimentos utilizando isótopos, com precursores marcados com 14C ou 15N. O formato é obtido na forma de N10-formiltetra- -hidrofolato. John M. Buchanan, 1917-2007 Nelson_6ed_22.indd 912Nelson_6ed_22.indd 912 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 913 H2 H OP H OH N O Aspartato CH2 O H OH OP PH H OH H P O CH2 H H OH NH H2C 1 O ADP 1 Pi H R Glutamato OC N H H N Glicinamida- -ribonucleotídeo (GAR) N-Formilaminoimidazol-4-carboxamida- -ribonucleotídeo (FAICAR) R Glutamina H OC H H O R Formilglicinamida- -ribonucleotídeo (FGAR) PPi Glutamina Glutamato ADP 1 Pi H2C H2O H CH C CH R N Formilglicinamidina- -ribonucleotídeo (FGAM) ADP 1 Pi 5-Fosfo-b - D-ribosilamina HCO 3 ] H C C C COO] ] NH2C Glicina ADP 1 Pi 5-Aminoimidazol- -ribonucleotídeo (AIR) H C O N H2N C N N H H H2O C R COO] 5-Aminoimidazol-4-carboxamida- -ribonucleotídeo (AICAR) N10-Formil H4 folato H4 folato H N C C C R NH2N O H H2N O 5-Fosforribosil-1- -pirofosfato (PRPP) N10-Formil H4 folato H4 folato HC C O N N C R O C H2N HC C H R O N-Succinil-5-aminoimidazol-4- -carboxamida-ribonucleotídeo (SAICAR) Carboxiamino-imidazol- -ribonucleotídeo (CAIR) N5-Carboxiaminoimidazol- -ribonucleotídeo (N5-CAIR) Fumarato H2N C N C HC NC N N H NH C C N O OH H H H Inosinato (IMP) O C O] PO CH2 CH2 O H NH3 C C N N N C H2N N CH C CH R N ADP 1 Pi ] OO ] O C N AIR H O NC CO2 glutamina-PRPP- -amidotransferase GAR-sintetase GAR-transformilase FGAR-amidotransferase FGAM-ciclase (AIR-sintetase) N5-CAIR sintetase AIR-carboxilase N5-CAIR-mutase SAICAR-sintetase SAICAR-liase AICAR-transformilase IMP-sintase ATP ATP ATP ATP ATP FIGURA 2235 Síntese de novo de nucleotídeos púricos: construção do anel púrico do inosinato (IMP). Cada adição ao anel púrico está som- breada de forma equivalente ao código de cores usado na Figura 22-34. Após a etapa ➋, R simboliza o grupo 5-fosfo-D-ribosila, sobre o qual o anel púrico é construído. A formação de 5-fosforribosilamina (etapa ➊) é o primeiro passo comprometido na síntese de purinas. Observe que o produto da etapa ➒, AICAR, é remanescente do ATP liberado durante a biossíntese de histidina (ver Figura 22-22, etapa ➎). As abreviações são fornecidas para a maioria dos intermediários, para simplificar a designação das enzimas. A etapa é uma via alternativa do AIR ao CAIR, que ocorre em eucariotos superiores. Nelson_6ed_22.indd 913Nelson_6ed_22.indd 913 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 914 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX lente. É provável que a canalização dos intermediários das reações de uma enzima até a seguinte, permitida por esses complexos, seja especialmente importante no caso de inter- mediários instáveis, como a 5-fosforribosilamina. A conversão de inosinato em adenilato requer a inser- ção de um grupo amino derivado do aspartato (Figura 22-36); isso ocorre por meio de duas reações semelhantes àquelas utilizadas para introduzir o N-1 do anel púrico (Fi- gura 22-35, etapas ➑ e ➒). Uma diferença crucial é que o GTP, e não o ATP, é a fonte do fosfato de alta energia para a síntese de adenilossuccinato. O guanilato é produzido pela oxidação dependente de NAD1 no C-2 do inosinato, seguindo-se a adição de um grupo amino derivado da glu- tamina. Na etapa final, um ATP é clivado em AMP e PPi (Figura 22-36). A biossíntese de nucleotídeos púricos é regulada por retroalimentação negativa Três principais mecanismos de retroalimentação cooperam na regulação da velocidade geral da síntese de novo de nucleotídeos púricos e das velocidades relativas de forma- ção dos dois produtos finais, adenilato e guanilato (Figura 22-37). O primeiro mecanismo é exercido sobre a primeira reação que é exclusiva da síntese de purinas: a transferên- cia de um grupo amino para o PRPP para formar 5-fosfor- ribosilamina. Essa reação é catalisada pela enzima alosté- rica glutamina-PRPP-amidotransferase, que é inibida pelos produtos finais IMP, AMP e GMP. O AMP e o GMP atuam sinergicamente nessa inibição concertada. Assim, sempre que AMP ou GMP acumulam-se e estão presentes em ex- cesso, o primeiro passo de sua biossíntese a partir de PRPP é parcialmente inibido. No segundo mecanismo de controle, exercido sobre um estágio posterior, um excesso de GMP na célula inibe a formação de xantilato a partir de inosinato, pela IMP-de- sidrogenase, sem afetar a formação de AMP. Por sua vez, um acúmulo de adenilato inibe a formação de adenilossuc- cinato pela adenilossuccinato-sintetase, sem afetar a bios- síntese de GMP. Quando os dois produtos estão presentes em quantidades suficientes, o IMP acumula-se e inibe um passo anterior da via; essa estratégia reguladora é chamada inibição sequencial por retroalimentação. No terceiro mecanismo, o GTP é necessário para a conversão de IMP em AMP, enquanto o ATP é necessário para a conversão de P Inosinato (IMP) NH2 Rib H2O H C] OOC COO] P Guanilato (GMP) N RibP Adenilossuccinato NH Rib P O Rib P Xantilato (XMP) O Rib O Aspartato GDP 1 Pi CH2 Adenilato (AMP) Fumarato Glu AMP 1 PPi H2N Gln N HN N N N HN N N N NN N N N N N H O N HN N Adenilossuccinato- -sintetase Adenilossuccinato-liase IMP- -desidrogenase NAD1 NADH 1 H1 H2O XMP-glutamina- -amidotransferase ATP GTP FIGURA 2236 Biossíntese de AMP e GMP a partir de IMP. Ribose-5-fosfato IMP GMP AMP AMP GMP IMP ADP AMP GMP PRPP 5-Fosforribosilamina Adenilossuccinato XMP Ribose-fosfato- -pirofosfocinase (PRPP-sintetase) Glutamina-PRPP- -amidotransferase XMP-glutamina- -amidotransferase IMP-desidrogenase Adenilossuccinato- -sintetase Adenilossuccinato- -liase 9 etapas ATPADP FIGURA 2237 Mecanismos reguladores na biossíntese de nucleotí- deos da adenina e da guanina em E. coli. A regulação dessas vias difere em outros organismos. Nelson_6ed_22.indd 914Nelson_6ed_22.indd 914 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 915 IMP em GMP (Figura 22-36), arranjo recíproco que tende a equilibrar a síntese dos dois ribonucleotídeos. O último mecanismo de controle é a inibição da síntese de PRPP pela regulação alostérica da ribose-fosfato-piro- fosfocinase. Essa enzima é inibida por ADP e GDP, além de metabólitos de outras vias para as quais o PRPP é o ponto de partida. Os nucleotídeos pirimídicos são sintetizados a partir de aspartato, PRPP e carbamoil-fosfato Os ribonucleotídeos pirimídicos comuns são 59-monofosfa- to de citidina (CMP; citidilato) e 59-monofosfato de uridina (UMP; uridilato), os quais contêm as pirimidinas citosina e uracila. A biossíntese de novo dos nucleotídeos pirimídi- cos (Figura 22-38) ocorre de forma um pouco diferente em relação à síntese dos nucleotídeos púricos; o anel piri- mídico de seis membros é sintetizado inicialmente, sendo então ligado à ribose-5-fosfato. Nesse processo, é neces- sário o carbamoil-fosfato, que também é intermediário no ciclo da ureia. Contudo, como observado no Capítulo 18, nos animais o carbamoil-fosfato necessário para a síntese de ureia é produzido na mitocôndria pela carbamoil-fosfa- to-sintetase I, ao passo que o carbamoil-fosfato necessário para a biossíntese de pirimidinas é produzido no citosol, por uma forma diferente da enzima, a carbamoil-fosfato- -sintetase II. Nas bactérias, uma única enzima fornece o carbamoil-fosfato para a síntese de arginina e pirimidinas. A enzima bacteriana tem três sítios ativos separados, es- paçados ao longo de um canal de aproximadamente 100 Å de comprimento (Figura 22-39). A carbamoil-fosfato- -sintetase bacteriana fornece uma vívida ilustração da canalização de intermediários reacionais instáveis entre sítios ativos. O carbamoil-fosfato reage com o aspartato, produzindo N-carbamoil-aspartato, no primeiro passo comprometido com a biossíntese de pirimidinas (Figura 22-38). Essa rea- ção é catalisada pela aspartato-transcarbamoilase. Nas bactérias, esse passo é altamente regulado, e a aspartato- -transcarbamoilase bacteriana é uma das enzimas alosté- ricas mais bem estudadas (ver a seguir). Pela remoção de água do N-carbamoil-aspartato, uma reação catalisada pela di-hidro-orotase, o anel pirimídico é fechado, formando L-di-hidro-orotato. Esse composto é oxidado, produzindo o derivado pirimídico orotato, reação na qual NAD1 é o aceptor final de elétrons. Nos eucariotos, as primeiras três enzimas dessa via – carbamoil-fosfato-sintetase II, aspar- tato-transcarbamoilase e di-hidro-orotase – são parte de uma única proteína trifuncional. A proteína, conhecida pelo acrônimo CAD, contém três cadeias polipeptídicas idênticas (cada qual com Mr 230.000), cada uma delas com sítios ativos para todas as três reações. Isso sugere que grandes complexos multienzimáticos possam ser a regra nessa via. Uma vez que o orotato esteja formado, a cadeia lateral de ribose-5-fosfato, fornecida mais uma vez pelo PRPP, é ligada, produzindo orotidilato (Figura 22-38). O orotidilato é então descarboxilado, originando uridilato, que é fosfori- lado até UTP. O CTP é formado a partir do UTP pela ação da citidilato-sintetase, com formação de um intermediário acil-fosfato (consumindo um ATP). O doador de nitrogênio Citidilato- -sintetase Uridina 59-trifosfato (UTP) Cinases Uridilato (UMP) Orotidilato- -descarboxilase Orotidilato Orotato- -fosforribosil- -transferase Orotato Di-hidro-orotato- -desidrogenase L-Di-hidro-orotato Di-hidro-orotase N-Carbamoil-aspartato Aspartato- -trans- -carbamoilase Carbamoil- -fosfato Aspartato Citidina-59-trifosfato (CTP) FIGURA 2238 Síntese de novo de nucleotídeos pirimídicos: biossín- tese de UTP e CTP via orotidilato. As pirimidinas são construídas a partir de carbamoil-fosfato e aspartato. A ribose-5-fosfato é então adicionada ao anel pirimídico completo pela orotato-fosforribosil-transferase. O primeiro passo dessa via (não mostrado aqui; ver Figura 18-11a) é a síntese de carba- moil-fosfato a partir de CO2 e NH4 1, catalisada, nos eucariotos, pela carbamoil- -fosfato-sintetase II. Nelson_6ed_22.indd 915Nelson_6ed_22.indd 915 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 916 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX normalmente é a glutamina, embora citidilato-sintetases de muitas espécies possam utilizar diretamente o NH4 1. A biossíntese de nucleotídeos pirimídicos é regulada por retroalimentação negativa A regulação da velocidade de síntese de nucleotídeos pi- rimídicos em bactérias ocorre, em grande parte, sobre a ação da aspartato-transcarbamoilase (ATCase), que cata- lisa a primeira reação da sequência e é inibida pelo CTP, o produto final da sequência (Figura 22-38). A molécula de ATCase bacteriana consiste em seis subunidades catalíti- cas e seis subunidades reguladoras (ver Figura 6-33). As subunidades catalíticas ligam as moléculas de substrato, e as subunidades alostéricas ligam o inibidor alostérico, o CTP. A molécula de ATCase completa, assim como suas subunidades, existe em duas conformações, ativa e inati- va. Quando o CTP não estiver ligado às subunidades regu- ladoras, a enzima apresenta atividade máxima. À medida que o CTP se acumula e se liga às subunidades regula- doras, estas sofrem uma mudança em sua conformação. Essa mudança é transmitida às subunidades catalíticas, que então mudam para uma conformação inativa. O ATP impede essas mudanças induzidas pelo CTP. A Figura 22-40 mostra os efeitos de reguladores alostéricos sobre a atividade da ATCase. Nucleosídeos monofosfatados são convertidos em nucleosídeos trifosfatados Nucleotídeos a serem utilizados em vias biossintéticas ge- ralmente são convertidos em nucleosídeos trifosfatados. As vias de conversão são comuns a todas as células. A fosfori- lação de AMP em ADP é promovida pela adenilato-cinase, na reação ATP 1 AMP ∆ 2 ADP O ADP assim formado é fosforilado, produzindo ATP, pelas enzimas glicolíticas ou por meio da fosforilação oxidativa. O ATP também participa da formação dos demais nu- cleosídeos difosfatados, pela ação de uma classe de enzimas chamadas de nucleosídeo-monofosfato-cinases. Essas enzimas, geralmente específicas para determinada base e não específicas para o açúcar (ribose ou desoxirribose), ca- talisam a reação ATP 1 NMP ∆ ADP 1 NDP Os eficientes sistemas celulares que fosforilam novamente o ADP a ATP tendem a impulsionar essa reação no sentido dos produtos. Os nucleosídeos difosfatados são convertidos nos seus equivalentes trifosfatados pela ação de uma enzima ubíqua, nucleosídeo-difosfato-cinase, que catalisa a reação NTPD 1 NDPA ∆ NDPD 1 NTPA Essa enzima é notável pelo fato de não ser específica para a base (purinas ou pirimidinas) ou para o açúcar (ribose ou desoxirribose). Essa não especificidade aplica-se tanto ao aceptor do fosfato (A) quanto ao doador (D), embora o doador (NTPD) seja quase invariavelmente o ATP, pois está presente em maiores concentrações que outros nucleosí-deos trifosfatados em condições aeróbias. Sítio de ligação da glutaminase Canal Sítio de ligação do ATP Sítio de ligação do ATP FIGURA 2239 Canalização de intermediários na carbamoil-fosfato- -sintetase bacteriana. (Derivado de PDB ID 1M6V) A reação catalisada por essa enzima (e por sua contraparte mitocondrial) está ilustrada na Figura 18-11a. A subunidade pequena e a grande são mostradas em bege escuro e azul, respectivamente. O canal entre os sítios ativos (quase 100 Å de com- primento) é representado em branco. Uma molécula de glutamina liga-se à subunidade menor, doando seu nitrogênio amídico como NH4 1, em uma reação do tipo glutamina-amidotransferase. O NH4 1 entra no canal, que o conduz a um segundo sítio ativo, onde ele se combina com bicarbonato, em uma reação que requer ATP. O carbamato então retorna ao canal, para alcançar o terceiro sítio ativo, onde é fosforilado a carbamoil-fosfato usan- do ATP. Para a determinação desta estrutura, a enzima foi cristalizada com a ornitina ligada ao sítio de ligação da glutamina e ADP ligado aos sítios de ligação do ATP. Vmáx 1 2 Vmáx 10 20 30 K0,5 5 12 mM K0,5 5 23 mM [Aspartato] (mM) Atividade normal (ausência de CTP) CTP 1 ATP CTP V 0 (m M /m in ) FIGURA 2240 Regulação alostérica da aspartato-transcarbamoilase por CTP e ATP. A adição de CTP, inibidor alostérico da ATCase, em uma con- centração de 0,8 mM, aumenta o K0,5 para o aspartato (curva inferior), reduzin- do a velocidade de conversão de aspartato em N-carbamoil-aspartato. ATP, na concentração de 0,6 mM, reverte completamente esse efeito inibitório (curva do meio). Nelson_6ed_22.indd 916Nelson_6ed_22.indd 916 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 917 Os ribonucleotídeos são precursores dos desoxirribonucleotídeos Os desoxirribonucleotídeos, os blocos constitutivos do DNA, são produzidos a partir dos ribonucleotídeos corresponden- tes, por redução direta do átomo de carbono 29 da D-ribose, formando o derivado 29-desóxi. Por exemplo, o difosfato de adenosina (ADP) é reduzido a difosfato de 29-desoxiadeno- sina (dADP) e o GDP é reduzido a dGDP. Essa reação é, de certo modo, incomum, pelo fato de que a redução ocorre em um carbono não ativado; não são conhecidas reações quí- micas análogas muito próximas. A reação é catalisada pela ribonucleotídeo-redutase, melhor caracterizada em E. coli, cujos substratos são ribonucleosídeos difosfatados. A redução da porção D-ribose de um ribonucleosídeo difosfatado em 29-desóxi-D-ribose requer um par de áto- mos de hidrogênio, que são doados, em última análise, pelo NADPH, via uma proteína carreadora de hidrogênios inter- mediária, a tiorredoxina. Essa proteína ubíqua tem uma função redox semelhante na fotossíntese (ver Figura 20-19) e em outros processos. A tiorredoxina tem pares de grupos ¬SH, que carregam átomos de hidrogênio do NADPH até o ribonucleosídeo difosfatado. Sua forma oxidada (dissulfe- to) é reduzida pelo NADPH em uma reação catalisada pela tiorredoxina-redutase (Figura 22-41), e a tiorredoxina reduzida é então utilizada pela ribonucleotídeo-redutase para reduzir nucleosídeos difosfatados (NDP), produzindo desoxirribonucleosídeos difosfatados (dNDP). Uma segun- da fonte de equivalentes redutores para a ribonucleotídeo- -redutase é a glutationa (GSH). A glutationa serve como agente redutor para uma proteína semelhante à tiorredoxi- na, a glutarredoxina, que então transfere poder redutor à ribonucleotídeo-redutase (Figura 22-41). A ribonucleotídeo-redutase é notável por seu mecanis- mo de reação, que fornece o exemplo melhor caracterizado de algo que se acreditava ser raro nos sistemas biológicos, o envolvimento de radicais livres em transformações bio- químicas. A enzima da E. coli e da maioria dos eucariotos é um dímero a2b2, com as subunidades a2 catalíticas e as subunidades b2 funcionando como geradores de radicais li- vres (Figura 22-42). Cada subunidade catalítica contém dois tipos de sítios reguladores, como descrito a seguir. Os NADP1 Glutationa- -redutase Glutarredoxina- -redutase Tiorredoxina- -redutase dNDP NDP S S HS HS SH S S SH S S SH SH GSSG NADP1 H2O Ribonucleotídeo- -redutase Glutarredoxina Glutarredoxina Tiorredoxina Tiorredoxina FADH22GSH FAD NADPH 1 H1NADPH 1 H1 Ribonucleotídeo- -redutase (a) (b) FIGURA 2241 Redução de ribonucleotídeos a desoxirribonucleotí- deos pela ribonucleotídeo-redutase. Os elétrons são transmitidos (setas vermelhas) para a enzima a partir do NADPH, via (a) glutarredoxina ou (b) tiorredoxina. Os grupos sulfeto na glutarredoxina-redutase são fornecidos por duas moléculas de glutationa ligada (GSH; GSSG indica a glutationa oxi- dada). Observe que a tiorredoxina-redutase é uma flavoenzima, com FAD como grupo prostético. FIGURA 2242 Ribonucleotídeo-redutase. (a) Um diagrama esquemá- tico das estruturas das subunidades. A subunidade catalítica (a; também chamada R1) contém os dois sítios reguladores descritos na Figura 22-44 e dois resíduos de Cys centrais para o mecanismo de reação. As subunidades b (também chamadas R2), geradoras de radicais livres, contêm o resíduo de Tyr122 crítico e o centro com o ferro binuclear. (b) As estruturas de a2 e b2 originam a estrutura provável de a2b2 (derivada de PDB ID 3UUS). (c) Via pro- vável para a formação de radical desde a Tyr122 inicial em uma subunidade b até a Cys439 do sítio ativo, usada no mecanismo da reação mostrado na Figu- ra 22-43. Diversos resíduos de aminoácidos aromáticos participam em uma transferência de radicais de longo alcance, desde o ponto de sua formação na Tyr122 até o sítio ativo, onde o nucleotídeo substrato está ligado. SH Fe31 O O O Fe31 Fe31 HS XH HX SH HS Subunidade a Subunidade b Subunidade a ATP, dATP, dGTP, dTTP ATP, dATP Principal sítio regulador Sítio ativo Sítio de especificidade ao substrato Sítios reguladores Substratos (a) Efetores alostéricos F O ADP, CDP, UDP, GDP e31 (c) Tyr 122 Trp48 Tyr 356 Tyr 731 Tyr 730 Cys 439 (b) a a b b a 2b2 Via para os radicaisModelo de ancoramento para Nelson_6ed_22.indd 917Nelson_6ed_22.indd 917 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 918 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX dois sítios ativos da enzima formam-se na interface entre as subunidades catalíticas (a2) e geradoras de radicais livres (b2). Em cada sítio ativo, a subunidade a contribui com dois grupos sulfidrila, necessários para a atividade, e as subu- nidades b2 contribuem com um radical tirosila estável. As subunidades b2 também apresentam um cofator ferro binu- clear (Fe31), que ajuda a gerar e a estabilizar o radical Tyr122 (Figura 22-42). O radical tirosila está muito distante do sítio ativo para interagir diretamente com o sítio, mas diversos resíduos aromáticos formam uma via de longo alcance de transferência de radicais até o sítio ativo (Figura 22-42c). Um mecanismo provável para a reação da ribonucleotídeo- -redutase está ilustrado na Figura 22-43. Na E. coli, fontes prováveis dos equivalentes redutores necessários para essa reação são a tiorredoxina e a glutarredoxina, como observa- do anteriormente. Três classes de ribonucleotídeo-redutases foram des- critas. Seus mecanismos (quando conhecidos) geralmente estão de acordo com o esquema na Figura 22-43, mas essas reações diferem quanto à identidade do grupo que fornece o radical no sítio ativo e quanto aos cofatores utilizados para gerá-lo. A enzima da E. coli (classe I) requer oxigênio para regenerar o radical tiroxila, se ele estiver inativado, de modo que essa enzima somente funciona em um ambiente aeróbio. Enzimas de classe II, encontradas em outros microrganis- mos, apresentam 59-desoxiadenosilcobalamina (ver Quadro 17-2) em vez de um centro de ferro binuclear. Enzimas de classe III evoluíram para atuar em ambientes anaeróbios. A E. coli contém, quando cresce anaerobiamente, uma ribo- nucleotídeo-redutase adicional, declasse III; essa enzima contém um centro de ferro-enxofre (estruturalmente distin- to do centro binuclear de ferro da enzima de classe I) e re- quer NADPH e S-adenosilmetionina para sua atividade. Ela utiliza como substratos nucleosídeos trifosfatados em vez de nucleosídeos difosfatados. A evolução das diferentes classes de ribonucleotídeo-redutases para a produção de precurso- res do DNA em diferentes ambientes reflete a importância dessa reação no metabolismo dos nucleotídeos. A regulação da ribonucleotídeo-redutase da E. coli é in- comum pelo fato de que não apenas sua atividade, mas sua especificidade quanto ao substrato é regulada pela liga- ção de moléculas efetoras. Cada subunidade a contém dois H O NDP Tiorredoxina (SH)2 (glutarredoxina) Tiorredoxina S S (glutarredoxina) NDP dNDP dNDP X H CH2 H Base O H OH H P OP S2 1O H X H CH2 H Base O H OH H P OP O H 39 29 H H X CH2 H Base O H OH H P OP HS HS O H S HS HS Ribonucleotídeo- -redutase H H H H H S X CH2 Base O H OH H P OP S H H H S X CH2 Base O H OH H P OP S H S CH2 Base O H OH H P OP 1 H HX S2 A etapa é revertida, regenerando na enzima um radical tirosila. O ditiol da enzima é reduzido para completar o ciclo. A hidroxila 29é protonada. Eliminação de H2O, formando um carbocátion estabilizado por radical. O ditiol na enzima é oxidado; dois elétrons são transferidos para o carbono 29 Um radical 39-ribonucleotídeo é formado. Subunidade a Subunidade b MECANISMO FIGURA 2243 Mecanismo proposto para a ribonucleo- tídeo-redutase. Na enzima de E. coli e na maioria dos eucariotos, os gru- pos tiol ativos estão na subunidade a. O radical no sítio ativo (¬X•) está na subunidade b e, na E. coli, provavelmente seja um radical tiila da Cys439 (ver Figura 22-42). Nelson_6ed_22.indd 918Nelson_6ed_22.indd 918 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 919 tipos de sítios reguladores (Figura 22-42). Um tipo afeta a atividade geral da enzima e liga ou ATP, que ativa a enzima, ou dATP, que a inativa. O segundo tipo determina uma al- teração na especificidade quanto ao substrato em resposta à molécula efetora – ATP, dATP, dTTP ou dGTP – que ali se liga (Figura 22-44). Quando ATP ou dATP está ligado, a redução de UDP e CDP é favorecida. Quando dTTP ou dGTP está ligado, a redução de GDP ou ADP, respectiva- mente, é estimulada. O esquema é projetado para fornecer um conjunto equilibrado de precursores para a síntese de DNA. O ATP também é um ativador geral para a biossíntese e a redução de ribonucleotídeos. A presença de dATP em pequenas quantidades aumenta a redução de nucleotídeos pirimídicos. Um suprimento excessivo de dNTP pirimídico é sinalizado por altos níveis de dTTP, que altera a especifici- dade em favor da redução de GDP. Níveis elevados de dGTP, por sua vez, deslocam a especificidade para a redução do ADP, e altos níveis de dATP inativam a enzima. Acredita-se que esses efetores induzam diversas conformações enzimá- ticas distintas, com diferentes especificidades. Esses efeitos regulatórios são acompanhados e, possi- velmente, mediados por grandes rearranjos estruturais na enzima. Quando a forma ativa da enzima de E. coli (a2b2) é inibida pela adição do inibidor alostérico dATP, forma-se uma estrutura em anel a4b4, com subunidades a2 e b2 al- ternadas (Figura 22-45). Nessa estrutura alterada, a via de formação de radicais de b para a é prejudicada, e os resíduos no caminho ficam expostos ao solvente, de modo que é efetivamente impedida a transferência de radicais, inibindo assim a reação. A formação das estruturas em anel a4b4 é revertida quando os níveis de dATP são reduzidos. A ribonucleotídeo-redutase de leveduras também sofre oligo- merização na presença de dATP, formando uma estrutura hexamérica em anel, a6b6. dCDP dGDP dADP dTTP dCTP dGTP dATP Regulação nos sítios de especificidade ao substrato Produtos dUDP dCDP dGDP dADP dTTP dCTP dGTP dATP CDP ADP Regulação nos principais sítios reguladores Produtos Substratos ATP (d)ATP GDP dUDPUDP FIGURA 2244 Regulação da ribonucleotídeo-redutase por desoxi- nucleosídeos trifosfatados. A atividade geral da enzima é afetada pela ligação de efetores ao principal sítio regulador (à esquerda). A especificidade da enzima ao substrato é afetada pela natureza da molécula efetora ligada ao segundo tipo de sítio regulador, o sítio de especificidade ao substrato (à direita). O diagrama indica inibição ou estimulação da atividade enzimática para os quatro diferentes substratos. A via desde o dUDP até o dTTP é descri- ta posteriormente (ver Figuras 22-46, 22-47). a2 b2 a2b2 a4b4 FIGURA 2245 Oligomerização da ribonucleotídeo-redutase induzi- da pelo inibidor alostérico dATP. Em altas concentrações de dATP (50 mM), formam-se estruturas a4b4 em forma de anel (PDB ID 3UUS). Nessa con- formação, os resíduos da via formadora de radicais ficam expostos ao solven- te, bloqueando a reação com o radical e inibindo a enzima. A oligomerização é revertida em baixas concentrações de dATP. Nelson_6ed_22.indd 919Nelson_6ed_22.indd 919 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 920 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX O timidilato é derivado do dCDP e do dUMP O DNA contém timina em vez de uracila, e a via de novo até a timina envolve apenas desoxirribonucleotídeos. O precur- sor imediato do timidilato (dTMP) é o dUMP. Em bactérias, a via para o dUMP inicia com a formação de dUTP, seja por desaminação de dCTP ou por fosforilação do dUDP (Figu- ra 22-46). O dUTP é convertido em dUMP por uma dU- TPase. Essa última reação deve ser eficiente para manter baixos níveis de dUTP, impedindo a incorporação de uridi- lato ao DNA. A conversão de dUMP em dTMP é catalisada pela ti- midilato-sintase. Uma unidade de um carbono, no estado de oxidação de hidroximetila (¬CH2OH) (Figura 18-17), é transferida do N5,N10-metilenotetra-hidrofolato para o dUMP, e então reduzida até um grupo metila (Figura 22- 47). A redução ocorre à custa da oxidação do tetra-hidro- folato em di-hidrofolato, que é incomum em reações que requerem tetraidrofolato. (O mecanismo dessa reação é mostrado na Figura 22-53.) O di-hidrofolato é reduzido a tetra-hidrofolato pela di-hidrofolato-redutase – regene- ração essencial para muitos processos que requerem tetra- -hidrofolato. Em plantas e em pelo menos um protista, a timidilato-sintase e a di-hidrofolato-redutase residem em uma única proteína bifuncional. Cerca de 10% dos seres humanos (e até 50% das pes- soas em comunidades pobres) sofrem de deficiência de ácido fólico. Quando a deficiência é grave, os sintomas podem incluir doença cardíaca, câncer e alguns tipos de distúrbios encefálicos. Pelo menos alguns desses sintomas surgem da redução da síntese de timidilato, levando a uma incorporação anormal de uracila no DNA. A uracila é reco- nhecida pelos sistemas de reparo do DNA (descritos no Capítulo 25) e é removida do DNA. A presença de altos níveis de uracila no DNA leva a quebras da fita, que podem afetar muito a função e a regulação do DNA nuclear, cau- sando por fim os efeitos observados sobre o coração e o encéfalo, assim como aumento da mutagênese, que leva ao câncer. ■ A degradação de purinas e pirimidinas produz respectivamente ácido úrico e ureia Os nucleotídeos púricos são degradados por uma via na qual eles perdem seu fosfato por meio da ação da 59-nu- cleotidase (Figura 22-48). O adenilato produz adeno- sina, que é desaminada pela adenosina-desaminase, gerando inosina, a qual é hidrolisada produzindo hipoxan- tina (sua base púrica) e D-ribose. A hipoxantina é sucessi- vamente oxidada a xantina e a ácido úrico pela xantina- -oxidase, flavoenzima com um átomo de molibdênio e quatro centros de ferro-enxofre em seu grupo prostético. O oxigênio molecular é o aceptor de elétrons nessa com- plexa reação. O catabolismodo GMP também produz ácido úrico como produto final. O GMP é inicialmente hidrolisado origi- nando guanosina, a qual é então clivada, liberando guanina livre. A guanina sofre remoção hidrolítica de seu grupo ami- no, produzindo xantina, que é convertida em ácido úrico pela xantina-oxidase (Figura 22-48). dCDP dCTP UDP dUDP dUTP dUMP dTMP Ribonucleotídeo- -redutase Nucleosídeo- -difosfato- -cinase Desaminase dUTPase Timidilato- -sintase CDP FIGURA 2246 Biossíntese de timidilato (dTMP). As vias são mostradas iniciando com a reação catalisada pela ribonucleotídeo-redutase. A Figura 22-47 fornece detalhes da reação da timidilato-sintase. O CH2 OH N N H H H C H CH2 dTMP O P O HN O OH O N H H H H H CH2 dUMP O P O HN H H O ON H2N H N H HN CH2N H H O NH2N C HN H H H N H HN R N R Timidilato-sintase N5,N10-Metileno- -tetra-hidrofolato 7,8-Di-hidrofolato Glicina Serina NADPH 1 H1 1NADP Serina- -hidroximetil- -transferase Di-hidrofolato- -redutase Tetra-hidrofolato CH2N H O NH2N HN H N HN R PLP FIGURA 2247 Conversão de dUMP em dTMP pelas enzimas timidila- to-sintase e di-hidrofolato-redutase. A serina-hidroximetil-transferase é necessária para a regeneração da forma N5,N10-metileno do tetra-hidrofolato. Na síntese do dTMP, todos os três hidrogênios do grupo metila adicionado são derivados do N5,N10-metilenotetra-hidrofolato (em cor salmão e cinza). Nelson_6ed_22.indd 920Nelson_6ed_22.indd 920 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 921 O ácido úrico é o produto final de excreção do catabo- lismo das purinas em primatas, aves e em alguns outros animais. Um adulto humano saudável excreta ácido úrico em uma taxa de cerca de 0,6 g/24 h; o produto excretado origina-se, em parte, das purinas ingeridas e, em parte, da renovação dos nucleotídeos púricos dos ácidos nucleicos. Na maioria dos mamíferos e em muitos outros vertebrados, o ácido úrico é ainda degradado até alantoína pela ação da urato-oxidase. Em outros organismos, a via continua ainda mais, como mostrado na Figura 22-48. As vias para a degradação das pirimidinas geralmente levam à produção de NH4 1 e, assim, à síntese de ureia. A timina, por exemplo, é degradada em semialdeído metil- malônico (Figura 22-49), intermediário do catabolismo da valina. Esse composto é então degradado, via propionil- -CoA e metilmalonil-CoA, gerando, por fim, succinil-CoA (ver Figura 18-27). Aberrações genéticas do metabolismo das purinas em humanos têm sido observadas, algumas com graves consequências. Por exemplo, a deficiência de adenosina- -deaminase (ADA) leva a uma doença com grave imuno- deficiência, na qual os linfócitos T e B não se desenvolvem adequadamente. A falta de ADA leva a um aumento de 100 vezes nas concentrações celulares de dATP, um poderoso inibidor da ribonucleotídeo-redutase (Figura 22-44). Altos níveis de dATP produzem uma deficiência geral de outros dNTP nos linfócitos T. A base para a toxicidade para os lin- fócitos B está menos esclarecida. Pessoas com deficiência de ADA não possuem um sistema imune efetivo e não so- brevivem, a não ser isolados no ambiente de uma “bolha” N H C GMP Guanosina Nucleosidase AMP Guanina- -desaminase Adenosina Inosina Hipoxantina (forma cetônica) Xantina (forma cetônica) Ácido úrico H2O Guanine Nucleosidase H2O2 O H2O Pi 59-nucleotidase 59-nucleotidase H2O Pi NH3 H2O Ribose O HN N N N N H Ribose H2O H2O 1 O2 H O HO Xantina- -oxidase Xantina- -oxidase OH HO HN 4NH4 1 O Adenosina- -desaminase NH2 H2O C C C C C N N H N C O H2O2 H2O 1 O2 Alantoicase N H OHC Ácido úrico Alantoína C O H N C H C NH3 O H2O Alantoinase NH2 NH2 C ON H C H COO2 Alantoato Urease COO2 CHO Glioxilato NH2 C O H2O CO2 Urato-oxidase 2 H2N 2H2O 2CO2 Ureia Excretado por: Primatas, aves, répteis, insetos A maior parte dos mamíferos Peixes ósseos Anfíbios, peixes cartilaginosos Invertebrados marinhos O2 1 H2O H2N O HN N N NN N H N N N HHO HN O N H HN 2 1 FIGURA 2248 Catabolismo dos nucleotídeos púricos. Observe que os primatas excretam muito mais nitrogênio na forma de ureia, via ciclo da ureia (Capítulo 18), do que na forma de ácido úrico, produzido na degradação das purinas. Do mesmo modo, os peixes excretam muito mais nitrogênio em forma de NH4 1 do que em forma de ureia, produzida na via aqui mostrada. Nelson_6ed_22.indd 921Nelson_6ed_22.indd 921 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 922 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX estéril. A deficiência de ADA foi um dos primeiros alvos das tentativas de terapia gênica em humanos (em 1990), que produziram resultados conflitantes. Em tentativas mais re- centes, alguns indivíduos com deficiência de ADA consegui- ram obter função imunitária normal após receberem um gene funcional para a ADA. ■ Bases púricas e pirimídicas são recicladas por vias de salvação As bases púricas e pirimídicas livres são constantemen- te liberadas nas células durante a degradação metabólica dos nucleotídeos. As purinas livres são, em grande parte, salvas e reutilizadas para sintetizar nucleotídeos, em uma via muito mais simples que a síntese de novo dos nucleo- tídeos púricos, descrita anteriormente. Uma das principais vias de salvação consiste em uma única reação, catalisada pela adenosina-fosforribosil-transferase, na qual ade- nina livre reage com PRPP para produzir o correspondente nucleotídeo da adenina: Adenina 1 PRPP ¡ AMP 1 PPi Guanina e hipoxantina (produto da desaminação da adeni- na; Figura 22-48) livres são salvas por essa mesma via, pela hipoxantina-guanina-fosforribosil-transferase. Existe uma via de salvação semelhante para bases pirimídicas em microrganismos e, possivelmente, em mamíferos. Um defeito genético na atividade da hipoxantina-gua- nina-fosforribosil-transferase, observado quase exclu- sivamente em crianças do sexo masculino, resulta no con- junto de sintomas denominado síndrome de Lesch-Nyhan. Crianças com essa doença genética, que se manifesta em torno dos dois anos, apresentam, algumas vezes, baixa coordenação motora e deficiência intelectual. Além disso, são extremamente agressivas e mostram tendências à com- pulsão autodestrutiva: apresentam automutilação, morden- do dedos, artelhos e lábios. Os efeitos devastadores da síndrome de Lesch-Nyhan ilustram a importância das vias de salvação. Hipoxantina e guanina surgem constantemente da degradação dos ácidos nucleicos. Na ausência da hipoxantina-guanina-fosforribo- sil-transferase, os níveis de PRPP aumentam e ocorre uma superprodução de purinas pela via de novo, resultando na produção de altos níveis de ácido úrico e lesão tecidual se- melhante à da gota (ver a seguir). O cérebro é especialmen- te dependente das vias de salvação e isso pode ser a causa da lesão do sistema nervoso em crianças com síndrome de Lesch-Nyhan. Essa síndrome é outro alvo potencial para a terapia gênica. ■ Excesso de ácido úrico causa gota Durante muito tempo, acreditou-se erroneamente que a gota fosse devida a um “estilo de vida elevado”. A gota é uma doença das articulações, causada pela con- centração elevada de ácido úrico no sangue e nos tecidos. As articulações tornam-se inflamadas, doloridas e artríticas devido à deposição anormal de cristais de urato de sódio. Os rins também são afetados, pois ácido úrico em excesso se deposita nos túbulos renais. A gota ocorre predominan- temente em pessoas do sexo masculino. Sua causa precisa não é conhecida, mas frequentemente envolve uma excre- ção reduzida de uratos. A deficiência genética de alguma enzima do metabolismo das purinas também pode ser um fator em alguns casos. A gota pode ser tratada de maneira eficiente por uma combinação de terapias nutricionais e farmacológicas. Ali- mentos especialmente ricos em nucleotídeos e ácidos nuclei- cos, como fígado ou produtosglandulares, devem ser removi- dos da dieta. Um grande alívio dos sintomas pode ser obtido pela administração de alopurinol (Figura 22-50), que ini- be a xantina-oxidase, a enzima que catalisa a conversão de purinas em ácido úrico. O alopurinol é um substrato da xan- NADPH 1 H1 O HN C N H C C O NADP1 O HN C CH N H CH2 C C O H H2N CH3 Timina Di-hidrouracil- -desidrogenase Di-hidrotimina Di-hidropirimidinase CH3 C O NH CH2 CH CH3 C O O2 H2O H3N 2 CH2 CH C O O2 CH3 Aminotransferase b-Aminoisobutirato H2O b-ureidopropionase a-Cetoglutarato Glutamato CH H3 C C O2 O O H Semialdeído metilmalônico 1 NH4 1 HCO3 1 b-Ureidoisobutirato FIGURA 2249 Catabolismo de uma pirimidina. Aqui está mostrada a via do catabolismo da timina. O semialdeído metilmalônico é posteriormen- te degradado a succinil-CoA. Nelson_6ed_22.indd 922Nelson_6ed_22.indd 922 07/04/14 14:2407/04/14 14:24 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 923 tina-oxidase, que o converte em oxipurinol (aloxantina). O oxipurinol inativa a forma reduzida da enzima permanecen- do fortemente ligado ao seu sítio ativo. Quando a xantina- -oxidase é inibida, os produtos de excreção do metabolismo das purinas são xantina e hipoxantina, que são mais hidros- solúveis que o ácido úrico e apresentam menor probabilidade de formar depósitos de cristais. O alopurinol foi desenvolvido por Gertrude Elion e George Hitchings, que também desen- volveram o aciclovir, usado no tratamento de pacientes com infecções orais ou genitais por herpes, e outros análogos das purinas utilizados na quimioterapia contra o câncer. ■ Muitos agentes quimioterápicos têm como alvo enzimas das vias de biossíntese de nucleotídeos O crescimento de células cancerosas não é controlado da mesma forma que o crescimento das células na maioria dos tecidos normais. As células cancerosas apre- sentam maiores necessidades de nucleotídeos, como pre- cursores de DNA e RNA e, em consequência, geralmente são mais sensíveis do que as células normais aos inibidores da biossíntese de nucleotídeos. Um conjunto crescente de agentes quimioterápicos importantes – para o câncer e para outras doenças – atua inibindo uma ou mais enzimas dessas vias. Serão descritos aqui diversos exemplos bem estuda- dos que ilustram abordagens produtivas de tratamento e ajudam a compreender como essas enzimas funcionam. O primeiro conjunto de agentes inclui compostos que inibem glutamina-amidotransferases. Lembre que a gluta- mina atua como doador de nitrogênio em pelo menos meia dúzia de reações isoladas da biossíntese de nucleotídeos. Os sítios de ligação para a glutamina e o mecanismo pelo qual o NH4 1 é extraído são bastante semelhantes em muitas dessas enzimas. A maioria delas é fortemente inibida por análogos da glutamina, como azasserina e acivicina (Fi- gura 22-51). A azasserina, caracterizada por John Bucha- nan na década de 1950, foi um dos primeiros exemplos de inativador enzimático com base no mecanismo da reação (inativador suicida; p. 210 e Quadro 6-3). A acivicina parece promissora como agente quimioterápico contra o câncer. Outros alvos úteis para agentes farmacêuticos são a timidilato-sintase e a di-hidrofolato-redutase, enzimas que fornecem a única via celular para a síntese de timina (Fi- gura 22-52). Inibidor que atua na síntese de timidilato, a fluorouracila, é um importante agente quimioterápico. A fluorouracila, por si só, não é um inibidor enzimático. Na célula, vias de salvação a convertem no desoxinucleosídeo monofosfatado FdUMP, que se liga à enzima, inativando- -a. A inibição por FdUMP (Figura 22-53) é um exemplo clássico de inativação enzimática com base no mecanismo da reação. O metotrexato, outro exemplo importante de agente quimioterápico, é um inibidor da di-hidrofolato-re- dutase. Esse análogo do folato atua como inibidor compe- titivo; a enzima liga-se ao metotrexato com afinidade cerca de 100 vezes maior que ao di-hidrofolato. A aminopterina é um composto relacionado, que atua de forma semelhante. O potencial clínico dos inibidores da biossíntese de nu- cleotídeos não está limitado ao tratamento do câncer. To- das as células de crescimento rápido (incluindo bactérias e OH N HC N NH C C N Hipoxantina (forma enólica) H CN C HC N C C N Alopurinol OH N H CH C H CN C N C C N Oxipurinol OH N H C HO Xantina- -oxidase FIGURA 2250 Alopurinol, inibidor da xantina-oxidase. A hipoxanti- na é o substrato normal da xantina-oxidase. Apenas uma leve alteração na estrutura da hipoxantina (sombreada em cor salmão) produz um inibidor enzimático clinicamente efetivo, o alopurinol. No sítio ativo, o alopurinol é convertido em oxipurinol, um forte inibidor competitivo, que permanece firmemente ligado à forma reduzida da enzima. CH2 NH3 O H N2 1 NH2 C CH NH3 H COO2 1 C Acivicina O C O CH2 COO N1 Glutamina C N 1 CH2 C H Cl COO2 CH C O CH2 NH3 Azasserina FIGURA 2251 Azasserina e acivicina, inibidores das glutamina-ami- dotransferases. Esses análogos da glutamina interferem em diversas vias de biossíntese de aminoácidos e nucleotídeos. Gertrude Elion (1918-1999) e George Hitchings (1905-1998) Nelson_6ed_22.indd 923Nelson_6ed_22.indd 923 07/04/14 14:2407/04/14 14:24