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2016 Direito Da SocieDaDe Da informação Prof. Marjo Jucimara Andreata 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof. Marjo Jucimara Andreata Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: A556d Andreata; Marjo Jucimara Direito da sociedade da informação / Marjo Jucimara Andreata : UNIASSELVI, 2016. 168 p. : il. ISBN 978-85-515-0015-6 1.Direito digital. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 343.0999 III apreSentação APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico! A disciplina que você irá estudar compreende o estudo do Direito da Sociedade da Informação. Para tanto, primeiramente será efetuada uma análise sobre a evolução da Sociedade para a Era da Informação, bem como o impacto do surgimento da internet nas relações jurídicas. Para melhor compreendermos a tutela do Direito Digital, abordaremos alguns conceitos indispensáveis, tais como o de sistema computacional, banco e base de dados e provedores de acesso, nomes de domínio, hiperlynks e bens informáticos. Analisaremos também as relações entre o direito e a informática, visto que cada vez mais, com as inovações tecnológicas, o direito necessita adaptar- se para regulamentar as relações jurídicas provenientes de tais inovações. Exemplos de tais regulamentações diferenciadas são as desenvolvidas para o regramento do processo eletrônico, que sofreu inovações com o Novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor em 2016. Ademais, conheceremos o regramento disposto para os direitos autorais sobre os bens informáticos, bem como a aplicação da legislação civil para os contratos eletrônicos. Em um terceiro momento, analisaremos a responsabilização civil e penal no Direito Digital, mediante uma análise dos principais aspectos do Marco Civil da Internet, bem como dos principais crimes digitais e suas modalidades. Mediante tais estudos compreenderemos o Direito da Sociedade da Informação. Bom Estudo!! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 - PROCESSO ELETRÔNICO .......................................................................................1 TÓPICO 1 - A ERA DA INFORMAÇÃO ..........................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE PARA A ERA DA INFORMAÇÃO ........................................3 3 SURGIMENTO DA INTERNET ......................................................................................................7 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................16 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................17 TÓPICO 2 - SISTEMAS COMPUTACIONAIS ...............................................................................19 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................19 2 SISTEMAS COMPUTACIONAIS ...................................................................................................19 3 BANCO E BASE DE DADOS ...........................................................................................................24 4 PROVEDORES DE ACESSO, NOMES DE DOMÍNIO E HIPERLYNKS ................................26 4.1 PROVEDORES DE ACESSO ........................................................................................................26 4.2 NOMES DE DOMÍNIO .................................................................................................................27 4.3 HIPERLYNKS .....................................................................................................................................36 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................38 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................39 TÓPICO 3 - DOS DIREITOS SOBRE BENS INFORMÁTICOS ..................................................41 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................41 2 BENS JURÍDICOS VINCULADOS À INFORMÁTICA .............................................................41 3 RELAÇÕES ENTRE O DIREITO E A INFORMÁTICA ..............................................................43 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................49 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................50 UNIDADE 2 - DIREITO ELETRÔNICO ...........................................................................................51 TÓPICO 1 - INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL ..................................................53 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................53 2 NORMATIZAÇÃO DO PROCESSO ELETRÔNICO ..................................................................54 3 PETICIONAMENTO ELETRÔNICO .............................................................................................60 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................70 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................71 TÓPICO 2 - DIREITOS AUTORAIS SOBRE BENS INFORMÁTICOS 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................73 2 CONCEITUAÇÃO DE BENS INFORMÁTICOS SUJEITOS A DIREITO AUTORAL ........73 3 DIREITOS AUTORAIS SOBRE BENS INFORMÁTICOS........................................................75 4 LICENÇAS E CONTRATOS DE USO ............................................................................................80 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................87 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................88 Sumário VIII TÓPICO 3 - CONTRATOS ELETRÔNICOS ....................................................................................89 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................89 2 CONCEITO E FORMAÇÃO DO CONTRATO ELETRÔNICO ................................................89 3 PRINCÍPIOS, CONDIÇÕES E VALIDADE DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS ..............93 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................103 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104 UNIDADE 3 - A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL .............................................105 TÓPICO 1 - O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014 .......107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 PRINCIPAIS ASPECTOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET ...............................................109 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................125 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126 TÓPICO 2 - RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL NO DIREITO DIGITAL ......................................127 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL ................................................127 3 A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL NO DIREITO DIGITAL .....................................................130 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 TÓPICO 3 - DOS CRIMES DIGITAIS E SUAS MODALIDADES..............................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES DIGITAIS ...................................................................144 3 PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL DE PROGRAMA DE COMPUTADOR .144 4 INTERCEPTAÇÃO DE INFORMAÇÃO ........................................................................................146 5 LEI CAROLINA DIECKMANN ......................................................................................................148 6 REFLEXOS PENAIS DO MARCO CIVIL DA INTERNET ........................................................151 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................158 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................159 1 UNIDADE 1 PROCESSO ELETRÔNICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apontar a evolução da sociedade para a Era da Informação; • relatar noções indispensáveis acerca dos sistemas computacionais; • enumerar os bens jurídicos vinculados à informática; • demonstrar a relação entre o direito e a informática. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o ajudarão a refletir e a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – A ERA DA INFORMAÇÃO TÓPICO 2 – SISTEMAS COMPUTACIONAIS TÓPICO 3 – DOS DIREITOS SOBRE BENS INFORMÁTICOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A ERA DA INFORMAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Vivenciamos uma realidade em que as informações circulam com uma velocidade impossível de se controlar. Aconteceu, está na rede! Mas não foi sempre assim. Pode-se até dizer que tal realidade é bastante recente em nossa sociedade. Neste tópico será abordada a evolução da sociedade da informação e o surgimento da internet, uma das principais invenções que possibilitou nosso estágio atual de revolução digital. 2 EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE PARA A ERA DA INFORMAÇÃO Atualmente nos encontramos no que se convencionou chamar de Era da Informação ou Era Digital. Informação é conceituada pelo dicionário on-line Michaelis , entre outros significados, como o conjunto de conhecimentos acumulados sobre certo tema por meio de pesquisa ou instrução. Explicação ou esclarecimento de um conhecimento, produto ou juízo; comunicação. Notícia trazida ao conhecimento do público pelos meios de comunicação. Assim, constatamos que o atual período de tempo possui como principal bem a informação, seu acesso pela sociedade e a forma de utilização de tal informação. Peter Drucker (EXAME, 1998), chamado de pai da administração, afirma que a atual revolução da informação é a quarta revolução da informação na história da humanidade. Esclarece o autor que primeiro foi a invenção da escrita há 5.000 anos, na Mesopotâmia, milhares de anos mais tarde na China e depois pelos maias na América Central. A segunda revolução da informação aconteceu com a invenção do livro escrito, primeiro na China e depois na Grécia. A terceira revolução da informação teve início com a invenção da prensa de Gutenberg e dos tipos móveis, entre 1450 e 1455, e também pela invenção contemporânea da gravura. UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 4 Pode-se dizer que a atual Era da Informação surgiu juntamente com diversas novas tecnologias, que foram inseridas na sociedade e que alteraram nosso modo de viver, produzir e conviver como sociedade, como o computador e a internet. A Era da Informação iniciou após a Segunda Guerra Mundial, quando a revolução digital iniciou trouxe um avanço nas tecnologias da informação. Tecnologia da informação ou TI consiste em um conjunto de ferramentas e recursos tecnológicos que permitem administrar ou armazenar variadas quantidades de informações (PORTAL EDUCAÇÃO). ATENCAO As inovações tecnológicas revolucionaram a indústria, modificando a expertise do trabalhador, a forma de produzir e prestar serviços e o próprio modelo de organização da sociedade. Modificaram a forma como as pessoas se relacionam e se comunicam. Impactaram a ciência e a tecnologia. “No século XX, descobertas sucederam o pós-guerra, com a inserção de grandes conglomerados e o surgimento da precisão ligada aos computadores”. (ABRÃO, 2011, p. 3) Para Liliana Minardi Paesani (2013, p. 1), os meios de comunicação em massa, potenciados por novas tecnologias, rompem fronteiras culturais, políticas, religiosas e econômicas. Ainda, define que a internet reduziu drasticamente as barreiras de tamanho, tempo e distância entre pesquisadores, empresas e governos, facilitando o crescimento baseado no conhecimento, na pesquisa de ponta e no acesso à informação. Peter Drucker, em 1998, já destacava que a próxima revolução de informação estavaa caminho. Destacava que tal revolução responderia qual o significado da informação e o seu propósito. Relatava o autor: A próxima revolução da informação já está a caminho. Mas ela não vai atingir as áreas em que os cientistas, executivos e a indústria da informação esperam encontrá-la. Não é uma revolução na tecnologia, nas máquinas ou no software. É uma revolução de conceitos. Até agora, a revolução da informação estava centralizada nos dados – sua coleta, transmissão, análise e apresentação. Ela estava focada no chamado "T" da "IT" (Tecnologia da Informação). A próxima revolução da informação tenta responder à seguinte pergunta: qual é o significado da informação e qual é o seu propósito? Esse questionamento exige, de imediato, a redefinição não apenas das tarefas que são realizadas com a ajuda da informação, mas também das instituições que efetuam essas tarefas. A próxima revolução da informação certamente atingirá todas as grandes instituições. Ela já começou e atua com TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 5 maior intensidade dentro do mundo corporativo. Nas empresas, está forçando a redefinição do conceito de empreendimento empresarial. Ou seja, passa a considerá-lo como a "criação de valor e de riqueza” (DRUCKER, 1998, s/d.). A informação hodiernamente possui uma valoração cada vez mais crescente, sendo indispensável que todos nós tenhamos como rotina um estudo continuado, com aprendizagem contínua, para que possamos sempre aumentar nosso valor como profissionais. Ademais, conectividade nos permite um maior acesso às informações, reduzindo a desigualdade em sua obtenção. José Carlos de Araújo Almeida Filho (2011, p. 45) destaca que “estamos em um território virtual, com quebras de barreiras geofísicas mediante a informática, e comunicações quase que imediatas”. Todas estas mudanças nos transformaram em uma Sociedade da Informação, cujo conceito possui muitas divergências doutrinárias, em especial acerca de seu início. Sociedade da Informação é um estágio de desenvolvimento social caracterizado pela capacidade de seus membros (cidadãos, empresas e administração pública) de obter e compartilhar qualquer informação, instantaneamente, de qualquer lugar e da maneira mais adequada (TELEFÔNICA DO BRASIL, 2002, p. 16). A problemática que se verifica é que esta Sociedade da Informação acaba por causar diversos problemas legais, tendo em vista a quebra de barreiras geofísicas. Tudo o que estudamos sobre jurisdição e competência acaba sendo abalado quando abordamos situações virtualmente vivenciadas, cujos limites territoriais tornam-se inexistentes. José Carlos de Araújo Almeida Filho (2011, p. 45) destaca que esta nova sociedade da informação, que intitula sociedade da informação tecnológica, necessita enfrentar a questão da jurisdição em ambientes informatizados. Cita (ALMEIDA FILHO, 2011, p. 52), por exemplo, que um crime pode ser praticado no Brasil, com a utilização de um provedor americano, e provocar seus efeitos na China. Outro exemplo mencionado é a contratação, na modalidade de teletrabalho, de um cidadão que vive no Brasil, por uma empresa americana, a fim de prestar seus serviços, on-line, no Japão! Como tais situações seriam enfrentadas? Qual a autoridade judiciária que teria competência para julgar tal crime? E tal relação de emprego? A maior problemática enfrentada diz respeito ao pilar do Direito Processual: a jurisdição. Preocupamo-nos com a efetividade das decisões, mas a tendência moderna do uso cada vez mais constante UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 6 do computador, em ambientes de trabalho, vem proporcionando facilidades e provocando problemas, sem que nos apercebamos do problema relativo à competência, que é um desdobramento da jurisdição (ALMEIDA FILHO, 2011, p. 53). Torna-se necessário aos operadores do direito compreenderem tal nova realidade, de forma a atuarem conscientes acerca da inexistência de uma legislação transnacional que possa solucionar grande parte dos conflitos da era eletrônica, mas também da necessidade de integração de tal lacuna legislativa. Importa, para tanto, aplicar o disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942), que, em seu artigo 4º, determina que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Acerca da lacuna legislativa, verificam-se inúmeras decisões judiciais que reconheceram a vedação, ao julgador, de eximir-se de prestar jurisdição sob o argumento de ausência de previsão legal. Deve, ao revés, o julgador, integrar o direito utilizando-se das fontes subsidiárias do Direito, quais sejam, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. E o que são analogia, os costumes e os princípios gerais de direito? Sílvio de Salvo Venosa (2008) conceitua Analogia como sendo um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal. Para o citado autor, o juiz pesquisa a vontade da lei, para transportá-la aos casos que a letra do texto não havia compreendido. Já os costumes, estes se perfazem com o uso reiterado de uma conduta. Forma-se paulatinamente, sendo que, em um determinado momento, tal prática reiterada é tida como obrigatória (2008). Sobre os princípios gerais de direito, Sílvio de Salvo Venosa (2008) afirma que sua conceituação é tarefa árdua. Destaca, entretanto, que são regras oriundas da abstração lógica do que constitui o substrato comum do Direito. Exemplo de uso das fontes subsidiárias do Direito é a memorável decisão acerca da união homoafetiva, que se utilizou da analogia com o objetivo de alcançar este caso não expressamente contemplado pelo legislador, mas que continha, em sua essência, coincidência com outros tratados pelo legislador. Neste sentido, manifestou-se o Superior Tribunal de Justiça: PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO HOMOAFETIVA. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. OFENSA NÃO CARACTERIZADA AO ARTIGO 132, DO CPC. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. ARTIGOS 1º DA LEI 9.278/96 E 1.723 E 1.724 DO CÓDIGO CIVIL. ALEGAÇÃO DE LACUNA LEGISLATIVA. POSSIBILIDADE DE EMPREGO DA ANALOGIA COMO MÉTODO INTEGRATIVO. 1. Não há ofensa ao princípio da identidade física do juiz, se a TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 7 magistrada que presidiu a colheita antecipada das provas estava em gozo de férias, quando da prolação da sentença, máxime porque diferentes os pedidos contidos nas ações principal e cautelar. 2. O entendimento assente nesta Corte, quanto à possibilidade jurídica do pedido, corresponde a inexistência de vedação explícita no ordenamento jurídico para o ajuizamento da demanda proposta. 3. A despeito da controvérsia em relação à matéria de fundo, o fato é que, para a hipótese em apreço, onde se pretende a declaração de união homoafetiva, não existe vedação legal para o prosseguimento do feito. 4. Os dispositivos legais limitam-se a estabelecer a possibilidade de união estável entre homem e mulher, dês que preencham as condições impostas pela lei, quais sejam, convivência pública, duradoura e contínua, sem, contudo, proibir a união entre dois homens ou duas mulheres. Poderia o legislador, caso desejasse, utilizar expressão restritiva, de modo a impedir que a união entre pessoas de idêntico sexo ficasse definitivamente excluída da abrangência legal. Contudo, assim não procedeu. 5. É possível, portanto, que o magistrado de primeiro grau entenda existir lacuna legislativa, uma vez que a matéria, conquanto derive de situação fática conhecida de todos, ainda não foi expressamente regulada. 6. Ao julgador é vedado eximir-se de prestar jurisdição sob o argumento de ausência de previsão legal. Admite-se, se for o caso, a integraçãomediante o uso da analogia, a fim de alcançar casos não expressamente contemplados, mas cuja essência coincida com outros tratados pelo legislador. 5. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 820.475/RJ, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/09/2008, DJe 06/10/2008) Em suma, constata-se a absoluta relevância da informática à vida atual, seu impacto no exercício das atividades ao operador do direito e, ainda mais, a necessidade de um crescente estudo das várias facetas do Direito Digital. 3 SURGIMENTO DA INTERNET A internet é uma tecnologia que nos permite interligar milhões de computadores, localizados em todo o mundo, possibilitando que seja acessada uma quantidade de informações imensurável. Através dela, acaba-se com a distância territorial que outrora impossibilitava o compartilhamento de conhecimento. Hoje em dia o uso da internet está tão difundido na sociedade brasileira que nem conseguimos imaginar nossa vida sem ela. No entanto, o seu surgimento não é antigo, e não teve como objetivo seu uso atual. Manuel Castells (2007, p. 82-89), em sua obra A era da Informação: economia, sociedade e cultura, volume I, efetua uma interessante narrativa sobre a origem da internet, conforme será relatado. UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 8 Inicia o autor informando que a internet teve origem no trabalho da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América. De início, objetivou-se criar um sistema de comunicação invulnerável a ataques nucleares, de forma tal que esta rede de comunicação seria independente de centros de comando e controle. Fazia-se necessário um mecanismo de troca de informações, de forma a conectar recursos informáticos isolados. Continua o autor indicando que a primeira rede de computadores, que se chamaria ARPANET, entrou em funcionamento em 1º de setembro de 1969. Após um período, em 1983, permitiu-se o acesso à rede de cientistas de todas as disciplinas, com uma divisão entre a ARPANET, dedicada somente a fins científicos, e a MILNET, dedicada à finalidade militar. Outras redes foram surgindo, utilizando como espinha dorsal a ARPANET, tanto é que a rede das redes se chamava inicialmente ARPA-INTERNET, para somente após um período denominar-se efetivamente INTERNET. Seguiram-se, assim, vários anos de adaptações tecnológicas, especialmente privadas, com o objetivo de possibilitar que os computadores pudessem se comunicar, sendo relevante citar a invenção do sistema UNIX, um sistema operacional que viabilizava o acesso de um computador a outro. Manuel Castells (2007) relata que o que realmente provocou muito entusiasmo foi a comunicação via correio eletrônico entre os participantes da rede, efetuado mediante um aplicativo criado por Ray Tomlinson da BBN, aplicativo este que continua sendo o uso mais popular da comunicação entre computadores em todo o mundo. O e-mail é a ferramenta mais utilizada pelos usuários da rede mundial de computadores. Todos nós usamos o e-mail constantemente, sendo que já não é mais possível imaginar nossa atividade sem tal ferramenta. Ocorre que, no início dos anos noventa, aqueles que não possuíam conhecimento de informática ainda tinham dificuldade para usar a internet. Foi necessária nova evolução tecnológica para o uso da internet atingir a sociedade como um todo, qual seja, a criação de uma teia mundial – a world wide web – www – que organizava o teor dos sítios da internet por informação, e não por localização, permitindo aos usuários um sistema de pesquisa para encontrar as informações que buscavam. A invenção da WWW deu-se na Europa, em 1990, no Centre Européen poour Recherche Nucleaire (CERN), em Genebra, um dos principais centros de pesquisas físicas do mundo. Foi inventada por um grupo de pesquisadores do CERN chefiado por Tim Berners Lee e Robert Cailliau. Não montaram a pesquisa segundo a tradição da ARPANET, mas com a contribuição da cultura dos hackers da década de 1970 (CASTELLS, 2008, p. 88). TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 9 O software WWW foi disponibilizado gratuitamente. Logo após, Marc Andreessen criou o navegador da web Mosaic, que funcionava em computadores pessoais, que fora distribuído também gratuitamente em novembro de 1993. O Mosaic foi o navegador responsável por popularizar a World Wide Web. Sua primeira versão é de 1993, servindo como cliente para protocolos de transferência de arquivos (FTP), leitura de fóruns de discussão via Usenet (NNTP) e Gopher, uma espécie de predecessor da WWW. O Mosaic foi precedido por dois outros navegadores, o Erwise e o ViolaWWW. FIGURA 1 - BROWSER MOSAIC FONTE: Multimedia Man Wordpress (2016) A partir de tal momento, milhões de pessoas já usavam tal navegador. O próprio Andreessen e sua equipe, juntamente com um empresário do Vale do Silício, Jim Clark, fundaram outra empresa, a Netscape, que produziu e comercializou o primeiro navegador da internet confiável, chamado Netscape Navigator, lançado em outubro de 1994. A partir daí novos navegadores foram criados e a internet expandiu sua rede mundialmente, até atingir a proporção atual. Dan Schiller (2002, p. 29) destaca que “a internet que conhecemos aceitou o desafio de satisfazer a procura de informação e ofereceu uma tecnologia acessível e sem precedente para a interligação das redes”. Mas como surgiu a internet no Brasil? O histórico da internet no Brasil é retratado por Érico Guizzo, na sua obra Internet, o que é, o que oferece, como conectar-se (1999). Serão utilizadas, a seguir, as indicações histórias apresentadas por este autor. Retrata Érico Guizzo (1999) que a internet no Brasil se iniciou em setembro de 1988, quando, no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), localizado no Rio de Janeiro, foi conseguido acesso à Bitnet, mediante uma conexão de 9.600 bits por segundo estabelecida com a Universidade de Maryland. UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 10 A Bitnet foi uma predecessora da internet, sendo uma rede de universidades fundada em 1981 e que ligava a Universidade da Cidade de Nova York (CUNY) à Universidade Yale, em Connecticut. Dois meses depois, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) também se conectou à Bitnet, através de uma conexão com o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), em Chicago. Depois de um tempo, a própria FAPESCP criou a rede ANSP (Academic Network at São Paulo), com o objetivo de interligar a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Mais tarde, ligaram-se à ANSP a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Em maio de 1989 constituiu-se o terceiro ponto de acesso à internet no exterior, quando a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também se ligou à rede Bitnet, através da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). A ideia de envio de informações via correio eletrônico surgiu no Brasil através do IBASE, que é o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. O IBASE é uma organização de cidadania ativa, sem fins lucrativos, que desenvolveu o Alternex, que foi o primeiro provedor brasileiro a possibilitar o acesso à internet por pessoas físicas. Conforme informações do Portal IBASE (IBASE), a ideia do Alternex teve início em 1984, quando o IBASE passou a fazer parte de uma rede internacional de troca de informações via correio eletrônico, algo até então inédito. Para fins de implantar um projeto de troca de informações via correio eletrônico no Brasil, o IBASE lançou em julho de 1989, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento(Pnud), o Alternex. O crescimento do Alternex ocorreu com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), realizada no Brasil. Na ocasião, o IBASE importou para o Brasil equipamentos de internet e instalou uma rede de computadores na conferência. Assim, o Alternex era um serviço internacional de mensagens eletrônicas e conferências que possibilitava a troca de mensagens em diversos sistemas de correio eletrônico, incluindo a internet. Em 1994, o Alternex operava o primeiro servidor www do país fora da comunidade acadêmica. Ainda em 1994, o governo brasileiro divulgou, através do Ministério de Ciência e Tecnologia e do Ministério das Comunicações, a intenção de investir na internet. A criação da estrutura necessária para a exploração comercial da internet ficou a cargo da Embratel e da RNP (Rede Nacional de Pesquisa). Já no final de 1994 foi iniciado o serviço experimental de acesso à internet pela Embratel. Foram escolhidos cinco mil usuários para testar o serviço. Vejam TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 11 só que interessante o comunicado publicado pela Embratel acerca do lançamento do Serviço Internet Comercial: FIGURA 2 - COMUNICADO DA EMBRATEL PUBLICADO EM JORNAL FONTE: Arruda (2016) Em maio de 1995, o acesso à internet através da Embratel começou a funcionar de modo definitivo. Logo foi criado o Comitê Gestor Internet Brasil, que objetivava traçar os rumos da implantação, administração e uso da internet no país. Pode-se afirmar que o crescimento vertiginoso da internet no Brasil ocorreu durante o ano de 1996, já que neste ano foram lançados grandes portais e provedores de conexão à internet no país. Assim, em 2015, a internet no Brasil comemorou 20 anos. Nestes 20 anos, muita coisa mudou. Para melhor visualizar toda esta evolução, olhem a linha do tempo disposta a seguir. UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 12 FIGURA 3 – LINHA DO TEMPO DA INTERNET NO BRASIL E NO MUNDO FONTE: Jornal Diário da Região (2016) É relevante reconhecer que o aumento do uso da internet e seu desenvolvimento devem, muito, ao surgimento dos buscadores. Antes deles, apenas tinha-se conhecimento sobre algo da internet quando tal fato era mencionado por alguém. Conseguem imaginar como era isto? Existiam as páginas de internet, mas ninguém sabia delas! Para tentar auxiliar, algumas páginas de internet disponibilizavam listas de outras páginas por assunto, para fins de facilitar a informação acerca da existência de tais páginas. Logo, serviços como o Altavista, o Lycos e, mais tarde, o Google, que procuram o que se objetiva na internet e indexavam sites acerca da temática buscada, viabilizaram a utilidade atual da internet. As redes sociais também modificaram o uso da internet, criando um ambiente de relações interpessoais. Fernando Daquino (2016) apresenta a história das redes sociais. Destaca o autor que o ano de 1994 marcou a quebra de paradigmas e mostrou ao mundo os primeiros traços das redes sociais com o lançamento do GeoCities, que fornecia recursos para que as pessoas pudessem criar suas próprias páginas na web, sendo categorizadas de acordo com a sua localização. Ele chegou a ter 38 milhões de usuários, foi adquirido pela Yahoo! cinco anos depois e foi fechado em 2009. Outros serviços com propósitos assemelhados também foram criados. Em 2002 nasceram o Fotolog e o Friendster. O Fotolog consistia em publicações baseadas em fotografias acompanhadas de ideias, sentimentos ou o que quisesse o internauta. Além disso, era possível seguir as publicações de conhecidos e comentá-las. Já o Friendster foi o primeiro serviço a receber o status de “rede social”, uma vez que permitia que as amizades do mundo real fossem transportadas para o espaço virtual. TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 13 O ano das redes sociais pode ser considerado o ano de 2004, pois nesse período foram criados o Flickr, o Orkut e o Facebook, que são algumas das redes sociais mais populares até hoje. Apesar de ter sido criado em 2004, dentro do campus da Universidade de Harvard, o Facebook só chegou à grande massa de usuários no ano de 2006. O Facebook divulgou, no final de janeiro de 2016, que possui 1,6 bilhão de usuários mensais no mundo, dos quais 99 milhões são brasileiros. Ou seja, 8 em cada 10 brasileiros conectados estão no Facebook. O Facebook também controla o WhatsApp, que, conforme o blog do aplicativo, registrou no dia 1º de fevereiro de 2016 a marca de 1 milhão de usuários. Assim, é impossível ignorar o efeito da internet nas relações (pessoais ou profissionais) do brasileiro. Atualmente, no Brasil, as diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da internet e as diretrizes para a execução do registro de Nomes de Domínio, alocação de Endereço IP (Internet Protocol) e a administração pertinente ao Domínio de Primeiro Nível “.br” é atribuição do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o CGI.br. O CGI.br foi criado em 3 de julho de 1995, com as seguintes atribuições e responsabilidades, entre outras: a proposição de normas e procedimentos relativos à regulamentação das atividades na internet; a recomendação de padrões e procedimentos técnicos operacionais para a internet no Brasil; o estabelecimento de diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da internet no Brasil; a promoção de estudos e padrões técnicos para a segurança das redes e serviços no país; a coordenação da atribuição de endereços internet (IPs) e do registro de nomes de domínios usando “.br”; a coleta, organização e disseminação de informações sobre os serviços internet, incluindo indicadores e estatísticas. Ainda sobre a internet no Brasil, releva apresentar um panorama da demanda por serviços de internet no país. O Brasil ainda tem o desafio de universalizar o acesso à rede, sobretudo nos domicílios, mas as pesquisas realizadas pelo Cetic.br em diversos setores apontam a crescente penetração da internet entre distintos públicos e diversas organizações, conforme disposto no quadro a seguir (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL, 2016, p. 32): UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 14 QUADRO 1 - DADOS SOBRE O ACESSO À INTERNET NOS DIFERENTES SETORES DA SOCIEDADE E DESAFIOS A SEREM SUPERADOS Pesquisa Acesso à internet Principais desafios TIC Domicílios (2005–2014) 50% dos domic í l ios conectados à internet (2014) Conectar a população de baixa renda, enfrentar desigualdades regionais e acesso reduzido em locais de baixa atratividade mercadológica por parte dos grandes provedores, sobretudo nas áreas rurais. TIC Empresas (2005–2014) 9 6 % d a s p e q u e n a s , m é d i a s e g r a n d e s empresas conectadas à internet, sendo 61% com velocidades de até no máximo 10 Mbps (2014) Conectar microempresas, aumentar as conexões de alta velocidade e alta qualidade e fomentar o uso das tecnologias para aumento da eficiência e para a inovação. TIC Educação (2010-2014) 92% das escolas públicas urbanas conectadas à internet (2014) Conectar escolas rurais, aumentar a velocidade de conexão e investimento em logística de suporte e manutenção de equipamentos. TIC Saúde (2013-2014) 72% dos estabelecimentos públicos de saúde e 81% dos estabelecimentos sem internação conectados à internet (2014) Conectar estabelecimentos públicos e sem internação (em especial unidades de atenção básica), aumentar a velocidade de conexão para garantir a adoção de aplicações de alto consumo de banda, por exemplo, compartilhamento de imagens e streaming de vídeo, e incorporação de registros eletrônicos do paciente. T I C G o v e r n o Eletrônico (2013) 100% dos órgãos federais e estaduais e 100% das prefeituras conectados à internet (2013) Fortalecer áreas de governançade TI, aumentar a oferta de serviços on-line pelo setor público e implementar novos canais on-line como forma de comunicação e participação dos cidadãos com as organizações públicas. TIC Organizações S e m F i n s Lucrativos (2012 e 2014) 68% das organizações sem fins lucrativos conectadas à internet (2014) Conectar organizações de menor porte e baseadas no voluntariado. FONTE: Comitê Gestor da Internet no Brasil. Pesquisa Tic provedores (2014) Para as novas gerações, parece impossível ter existido vida antes da internet. Ela possui uma importância tão grande em nossa vida que a Organização das Nações Unidas reconhece que o direito ao acesso à internet é inclusive um direito humano. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) aprovou, no dia 1º de julho de 2016, uma resolução segundo a qual as tentativas de barrar o acesso à internet constituem uma violação dos direitos humanos. TÓPICO 1 | A ERA DA INFORMAÇÃO 15 Conforme informações disponibilizadas no site da Organização das Nações Unidas (ONU) (2016), de acordo com a Resolução L.20 do Conselho de Direitos Humanos da ONU, os mesmos direitos que os cidadãos têm off-line precisam ser protegidos no ambiente on-line, “particularmente a liberdade de expressão, que é aplicável independentemente das fronteiras e da mídia utilizada”. O Conselho de Direitos Humanos solicita nesta resolução que os Estados enderecem suas preocupações com segurança na internet de acordo com suas obrigações de direitos humanos internacionais para garantir a proteção da liberdade de expressão, associação, privacidade e outros direitos humanos on- line. Segundo a Resolução L.20, “O Conselho condena quaisquer violações aos direitos humanos e abusos como tortura, mortes extrajudiciais, desaparecimentos forçados e prisão arbitrária, expulsão, intimidação e assédio, assim como violência baseada em gênero, cometidas contra pessoas por exercerem seus direitos fundamentais e liberdades na internet”. Foi solicitado ainda que todos os Estados garantam transparência sobre o tema e que facilitem a cooperação internacional no desenvolvimento de novas tecnologias de informação, mídia e comunicação. A proposta de tal resolução havia sido construída pela Suécia, em nome de Brasil, Nigéria, Tunísia, Turquia e Estados Unidos. A resolução foi proposta de forma complementar às resoluções 20/8 e 26/13, de 2012 e 2014, adotadas por consenso e que já enfatizavam que todos os direitos humanos valem tanto para o ambiente on-line como off-line. A popularização da internet trouxe novas discussões, por exemplo, questionamentos acerca de direitos de propriedade, crimes digitais, contratos eletrônicos e inclusive debates acerca de direito de informação disponível em tal veículo. Analisaremos muitas destas discussões nas próximas unidades de estudo! Dica de Filme: The Social Network Já que estamos falando do impacto da internet na sociedade, sugiro que assistam ao filme The Social Network (A Rede Social). Este filme norte-americano aborda a criação da rede social Facebook. DICAS 16 Neste tópico, você estudou que: • Atualmente nos encontramos em uma Sociedade da Informação, na qual as informações são compartilhadas quase que instantaneamente. • A internet é uma tecnologia que nos permite interligar milhões de computadores, localizados em todo o mundo, possibilitando que seja acessada uma quantidade de informações imensurável. • A internet trouxe um grande impacto às relações pessoais, profissionais e empresariais do brasileiro, tornando indispensável uma nova visão jurídica acerca de institutos afetados pela rede. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Como pode ser compreendida a Era da Informação? Como ela se originou? 2 O que é a internet? 3 Discorra sobre o surgimento da internet no Brasil. AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 SISTEMAS COMPUTACIONAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A revolução trazida pela invenção do computador é incontestável. Para compreender melhor o impacto desta invenção – e de outras subsequentes – no Direito, torna-se indispensável conhecer algumas das terminologias que são constantemente utilizadas no Direito Digital. E é isto que faremos no presente tópico! 2 SISTEMAS COMPUTACIONAIS Para o dicionário on-line Michaelis, na informática, computador é a máquina destinada ao recebimento, armazenamento e/ou processamento de dados, em pequena ou grande escala, de forma rápida, conforme um programa específico. Sistemas computacionais são sistemas baseados em computador. Os sistemas computacionais são um conjunto de dispositivos eletrônicos que possuem a capacidade de processar informações. Como surgiram os computadores? Vamos conhecer de forma sucinta um breve histórico da computação? A era dos dispositivos mecânicos iniciou com a criação do ábaco: UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 20 FIGURA 4 - ÁBACO FONTE: Free images (2016) O ábaco é um instrumento de cálculo, utilizado na antiguidade pelos egípcios e pelos chineses. O ábaco consiste em um quadro de madeiras com cordas ou arames transversais, no qual cada corda corresponde a uma posição digital (unidades, dezenas etc.). Nas cordas ou arames estão os elementos de contagem (contas, fichas, bolas etc.) que são deslizados para efetuar as operações. Também é relevante citar o tear de Jacquard (1804): FIGURA 5 - TEAR DE JACQUARD FONTE: Museu Virtual de Informática (2016) Joseph Marie Jacquard criou um tear que permitia programação, utilizando cartões perfurados para definir o padrão do tecido (floral, geométrico etc.). Tal ideia de cartão perfurado foi utilizada na computação. TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 21 Em 1934 surgiu a invenção que tornou Charles Babbage conhecido como o “pai do computador”. Charles Babbage foi um matemático inglês que criou o primeiro projeto de computador no mundo. Não chegou a funcionar enquanto Charles estava vivo, visto que não existia a tecnologia para produzir as engrenagens necessárias para seu funcionamento. A máquina analítica tinha memória, processador, saída para impressora e realizava programas. Esse conceito foi utilizado como base para os computadores atuais (MONTEIRO, 2001). A era dos dispositivos eletrônicos iniciou em 1889, com o uso da máquina de tabulações, criada por Hermann Hollerith. Herman Hollerith inventou um dispositivo de perfuração de cartões, um leitor de cartão eletrônico, um dispositivo de classificação e uma forma de codificar respostas a perguntas. Baseou-se no modelo de cartões do tear de Jacquard. Foi também um dos fundadores da IBM. Em 1946 iniciava a era da evolução dos computadores eletrônicos, com a criação do ENIAC. FIGURA 6 - COMPUTADOR ENIAC FONTE: <hardware.com.br> (2016) O ENIAC (Eletronic Numerical Integrator And Computer) foi o primeiro computador eletrônico inventado. Foi fabricado na Universidade da Pensilvânia, por John Eckert e John Maucly, para fazer cálculos balísticos durante a Segunda Guerra Mundial. Somente se tornou operacional com o patrocínio do exército dos Estados Unidos após a guerra, em 1946. Este computador tinha que ser operado manualmente, pois não possuía um programa para gerenciar seus recursos. Para o ENIAC funcionar era UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 22 necessário conectar fios, relês e sequências de chaves para que fosse determinada a tarefa a ser executada. Uma sequência de lâmpadas expressava a resposta. Tal computador foi nominado como computador de primeira geração, que utilizava válvulas para funcionar. Em seguida vieram computadores de segunda geração, que se caracterizavam por serem computadores transistorados; os de terceira geração, que continham circuitos integrados, e, após, os de quarta geração, que começaram a utilizar componentes em miniatura, o que tornou possívelo desenvolvimento de microcomputadores pessoais (MONTEIRO, 2001). São elementos fundamentais do sistema computacional o hardware, o software e o peopleware, cujos conceitos são de conhecimento necessário. Hardware é uma palavra que tem origem na união de duas palavras em inglês: hard (duro) e ware (artigo/componente). Assim, a expressão hardware deve ser utilizada quando se indicam as partes físicas do computador. FIGURA 7 - HARDWARE FONTE: Ciapassostec (2016) Há uma brincadeira, sem autoria identificada, que afirma que o hardware é a parte do computador que a gente chuta! O segundo elemento do sistema computacional, o peopleware, é uma expressão proveniente da junção de people (pessoa) e ware (artigo/componente), sendo utilizada para designar as pessoas que trabalham na área de informática e os usuários. É o elemento que efetiva a ligação lógica entre o hardware e o software. TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 23 FIGURA 8 - PEOPLEWARE FONTE: Clip-art word A palavra software também é originada de duas palavras em inglês: soft (macio/maleável) e ware (artigo/componente). Logo, a expressão software refere-se aos programas de computador. Continuando a brincadeira, dizem que o software é a parte do computador que a gente xinga! FIGURA 9 - SOFTWARE FONTE: Ciapassostec (2016) Juridicamente, tornou-se indispensável conceituar software – programa de computador –, tendo em vista as várias implicações de tal bem na sociedade atual. Tal labor fora atingido pela Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Para a Lei nº 9.609/1998, programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados. Para fins de conhecimento, importa saber quais são as categorias de softwares disponíveis no mercado. João Antônio Carvalho (2013) categoriza software em três tipos principais: software básico, software utilitário e software aplicativo. O software básico é subdividido em sistemas operacionais, linguagens de programação e tradutores (compiladores/interpretadores). UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 24 Continua João Antônio Carvalho (2013, p. 186), dispondo explicações sobre cada um deles. Sistemas operacionais são softwares que gerenciam os recursos do computador, fazendo-o funcionar corretamente. As linguagens de programação são os códigos usados pelos programadores para criar os softwares. Os tradutores são os softwares responsáveis por transformar o código criado pela linguagem de programação em software executável, uma vez que as máquinas só entendem 0 (zero) e 1 (um) devidamente organizados para serem interpretados como instruções. Utilitários são programas que permitem a manutenção dos recursos da máquina, como ajustes em discos, memória, conserto de outros programas etc. Aplicativos são softwares voltados para a solução de problemas dos usuários, por exemplo, os programas para edição de texto, planilhas de cálculos etc. Assim, para o processamento de informação ser realizado por um sistema computacional, é necessária a completa interação entre hardware, software e o peopleware, a exemplo da figura abaixo disposta. FIGURA 10 - HARDWARE, SOFTWARE E O PEOPLEWARE FONTE: A autora 3 BANCO E BASE DE DADOS As duas terminologias – Banco e Base de Dados – são sinônimos. A única diferença é que Banco de Dados é a expressão utilizada no português do Brasil, enquanto Base de Dados é utilizada no português da Europa. Também é conhecido como Data Base - DB, em inglês. Mas o que eles são? Bancos de Dados nada mais são que um conjunto de informações sobre um certo assunto, armazenadas de forma organizada a possibilitar melhor acesso a tais dados. Tais bases de dados podem ser concebidas para fins de qualificar os dados e as informações. Dependendo da espécie de informação, este Banco de Dados é disponível de forma livre a todos, muitas vezes até pela internet. TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 25 FIGURA 11 - BANCO DE DADOS Fonte: Portal do Bibliotecário (2015) Cunha e Cavalcanti (2008, p. 43) definem Base de Dados como: conjunto de arquivos e programas de computador coordenados e estruturados que constituem um depósito de informações que pode ser acessado por diversos utilizadores. A base de dados contém: a) os arquivos ou depósitos de informação; b) os programas de tratamento que são colocados à disposição do usuário com o intuito de lhe assegurar serviços básicos de acesso, interrogação, apresentação dos resultados e, em alguns casos, tratamento da informação contida na base de dados. Hoje em dia você encontra Bancos de Dados em qualquer lugar, desde uma universidade, uma biblioteca ou até na Receita Federal do Brasil! Tais Bancos de Dados são tutelados conforme a espécie de informação disposta neles. Assim, por exemplo, o Banco de Dados da Receita Federal do Brasil não possui acesso público, tendo em vista a disposição legal que determina o sigilo de informações fiscais (como regra geral). Diferentemente, o Banco de Dados de obras disponíveis de uma biblioteca pública, por exemplo, é de consulta livre, inexistindo proteção específica de seus dados. Os Bancos de Dados possuem como desafio constante proteger seus dados com segurança, evitando qualquer ação que possa denegrir sua integralidade e confidencialidade, quando esta for existente. É possível afirmar que os principais eixos de um sistema que coleta, processa, transmite e dissemina informações são o hardware, o software, o peopleware, a Rede e o Banco de Dados, atuando de forma interligada. FIGURA 12 - BANCO DE DADOS FONTE: Papo de bixo (2013) UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 26 4 PROVEDORES DE ACESSO, NOMES DE DOMÍNIO E HIPERLYNKS 4.1 PROVEDORES DE ACESSO A terminologia provedor de acesso é bastante utilizada no meio informático e no meio jurídico, especialmente quando se pretende buscar responsabilização acerca de certas ocorrências da internet. Mas o que são provedores de acesso? “De forma resumida, são uma empresa prestadora de serviços de conexão à internet e de serviços de valor adicionado” (PECK, 2002, p. 52). Para o direito os provedores de acesso possuem grande importância, uma vez que estes possibilitam o acesso dos usuários à internet, oferecendo (além do acesso) conteúdo, hospedagem, e-mail ou aplicações. Tal fato traz como consequência que muitas das soluções jurídicas que possibilitam a proteção de valores sociais e das relações entre pessoas na internet têm seu início nos provedores, podendo ser controladas ou melhor controladas por meio deles (PECK, 2002). Sobre os provedores no país, releva trazer dados disponibilizados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que no ano de 2016 publicou pesquisa sobre o setor de provimento de serviços de internet em território nacional: TIC Provedores 2014 (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL, 2016). Tal pesquisa identificou 2.138 empresas atuando no mercado de provedores no Brasil em 2014. Dos 2.138 provedores de serviços de internet, 68% estão sediados nas regiões Sul e Sudeste. Já a região Norte é sede para apenas 5% das empresas de provimento de serviços de internet. O Sudeste, apesar de contar com o maior número de provedores atuantes, não é a região que possui a maior densidade de provedores: há 1,08 provedores para cada 100 mil habitantes. Considerando os tamanhos populacionais, as maiores densidades de provedores são encontradas nas regiões Sul (2,29) e Centro-Oeste (2,10). O resultado mais baixo é o Nordeste (0,82). A maioria dos provedores de serviços de internet(PSI) oferece seus serviços para o mercado privado (90%) e domiciliar (88%). As empresas atuam em menor escala no mercado público: 63% têm como clientes governos municipais, 31% os estaduais e 21% o federal. TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 27 4.2 NOMES DE DOMÍNIO A FAPESP conceitua nome de domínio como sendo um nome que serve para localizar e identificar conjuntos de computadores na internet. O nome de domínio foi concebido com o objetivo de facilitar a memorização dos endereços de computadores na internet. Sem ele, teríamos que memorizar uma sequência grande de números para conseguirmos acessar uma página da internet (FAPESC, 2016). De forma simples, podemos dizer que domínio é o endereço virtual da empresa. Para o Direito Digital, o domínio não é um endereço eletrônico, e sim a união entre território e valor. Deter o nome de uma empresa na rede é deter seu valor; é deter sua capacidade de ser alcançada por seu público- alvo, o que pode representar um sério problema, especialmente no caso de marcas conhecidas do público em geral. (PECK, 2002, p. 64). Patrícia Peck afirma que os domínios são muito mais que o representante virtual do ponto comercial. Para a autora, o domínio determina a visibilidade da empresa e a capacidade de ela ser localizada, quando não imprime também valor, agindo como marca virtual (PECK, 2002). Sobre o nome de domínio, não existe um marco jurídico regulatório no Brasil. Não obstante, sua importância é reconhecida pela doutrina, que acaba integrando-o à parcela incorpórea do estabelecimento empresarial. Tal é o posicionamento, por exemplo, do Conselho da Justiça Federal, que na I Jornada de Direito Comercial estabeleceu que: “o nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito”. Mas o que é estabelecimento empresarial? O nome serve à identidade, permitindo que a pessoa seja reconhecida e referida. O nome não apenas individualiza; dá uma identidade ainda maior, agregando passado (uma história), valores sociais (a imagem, a honra) etc. O que se chama de nome empresarial nada mais é do que a ideia e a prática do nome aplicadas à empresa e às relações negociais, identificando o empresário ou a sociedade empresária. As mesmas regras, contudo, aplicam-se às sociedades simples. O mercado reconhece seus agentes por meio de seus nomes, seja nas relações que as empresas mantêm entre si, seja nas relações que mantêm com seus clientes [...] (MAMEDE, 2012, p. 118). A proteção aos bens incorpóreos do estabelecimento comercial tem adquirido crescente importância no cenário atual, uma vez que o nome empresarial, o nome de fantasia, a marca e até mesmo sua embalagem tornam- se elementos decisivos na atração do consumidor e identificação dos produtos e seus fabricantes. UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 28 No atual sistema brasileiro, o nome empresarial encontra guarida, do ponto de vista material, no Código Civil (BRASIL, 2002), em seu artigo 1.155, destacando que este tem como finalidade a identificação da pessoa jurídica, indicando sua relação direta com os direitos de personalidade empresarial. Dispõe o mencionado artigo 1.155: Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa. Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações. Interessa, no presente momento, destacar ainda a existência de um novo instituto, identificado como ponto empresarial eletrônico. Necessário esclarecer que tal instituto é diverso do domínio e do nome empresarial, contendo uma conceituação mais ampla que tais institutos. Gladston Mamede (2012) destaca que tal ponto empresarial eletrônico corresponde a um número telefônico ou a um endereço eletrônico, seja para mensagens, seja para navegação pela world wide web (www). Ainda abordando sobre o domínio no Brasil, releva informar que seu registro é função do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). No ano de 1995, essa função cabia ao CGI.br (Comitê Gestor Internet no Brasil). Em maio de 1998, tal competência foi transferida à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), objetivando-se redução de custos e considerando-se que ela já realizava esse serviço relativo ao Projeto Rede Nacional de Pesquisas (RNP). Em dezembro de 2005, por meio da Resolução nº 001/2005, o Comitê Gestor, nos termos autorizados pelo Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, atribuiu ao NIC.br a execução do registro e do cancelamento de nomes de domínio, por meio do Registro.br. O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que desde 2005 recebeu a atribuição das funções administrativas e operacionais relativas ao domínio.br. Além de manter a atividade de registro de domínio, o NIC.br investe em ações e projetos que trazem melhoria das atividades relacionadas à infraestrutura da internet disponível no Brasil, conforme orientações do Comitê Gestor da internet no Brasil. Os Procedimentos para Registro de Nomes de Domínio no Brasil estão previstos na Resolução nº 008/2008 (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL), aprovada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil CGI.br, que estabeleceu, dentre outras disposições, que: TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 29 Um nome de domínio disponível para registro será concedido ao primeiro requerente que satisfizer, quando do requerimento, as exigências para o registro do mesmo; Constitui-se em obrigação e responsabilidade exclusivas do requerente a escolha adequada do nome do domínio a que ele se candidata; Não poderá ser escolhido nome que desrespeite a legislação em vigor, que induza terceiros a erro, que viole direitos de terceiros, que represente conceitos predefinidos na rede Internet, que represente palavras de baixo calão ou abusivas, que simbolize siglas de Estados, Ministérios, ou que incida em outras vedações que porventura venham a ser definidas pelo CGI.br; É permitido o registro de nome de domínio apenas para entidades que funcionem legalmente no país, profissionais liberais e pessoas físicas. No caso de empresas estrangeiras poderá ser concedido o registro provisório, mediante o cumprimento das exigências definidas pelo CGI.br; Um nome de domínio escolhido para registro sob um determinado DPN (Domínio de Primeiro Nível) – em inglês TLDs (Top Level Domains) – considerando-se somente sua parte distintiva mais específica, deve: o I. Ter no mínimo 2 (dois) e no máximo 26 (vinte e seis) caracteres. o II. Ser uma combinação de letras e números [a-z;0-9], hífen [-] e os seguintes caracteres acentuados [à, á, â, ã, é, ê, í, ó, ô, õ, ú, ü, ç]. o III. Não ser constituído somente de números e não iniciar ou terminar por hífen. o IV. O domínio escolhido pelo requerente não deve tipificar nome não registrável. Somente será permitido o registro de um novo domínio quando não houver equivalência a um domínio preexistente no mesmo DPN, ou quando, havendo equivalência no mesmo DPN, o requerente for a mesma entidade detentora do domínio equivalente; Os Domínios de Primeiro Nível se subdividem da seguinte forma: o I. DPNs com restrição e destinados exclusivamente a Pessoas Jurídicas: a) .am.br, destinado a empresas de radiodifusão sonora AM. Exige-se o CNPJ e a autorização da Anatel para o serviço de radiodifusão sonora AM; b) .coop.br, destinado a cooperativas. Exige-se o CNPJ e comprovante de registro junto à Organização das Cooperativas Brasileiras; c) .edu.br, destinado a Instituições de Ensino e Pesquisa Superior, com a devida comprovação junto ao Ministério da Educação e documento comprovando que o nome de domínio a serregistrado não é genérico, ou seja, não é composto por palavra ou acrônimo que defina conceito geral ou que não tenha relação com o nome empresarial ou seus respectivos acrônimos. d) .fm.br, destinado a empresas de radiodifusão sonora FM. Exige-se o CNPJ e a autorização da Anatel para o serviço de radiodifusão sonora FM; e) .gov.br, destinado ao Governo Brasileiro (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), ao Ministério Público Federal, aos Estados e ao Distrito Federal. Excetuados os órgãos da esfera federal, os demais deverão ser alojados sob a sigla do Estado correspondente (ex: al.gov.br, am.gov.br, etc). Exige-se o CNPJ UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 30 e a autorização do Ministério do Planejamento; f) .g12.br, destinado a instituições de Ensino Fundamental e Médio. Exige-se CNPJ e a comprovação da natureza da instituição; g) .mil.br, destinado aos órgãos militares. Exige-se CNPJ e a autorização do Ministério da Defesa; h) .org.br, destinado a organizações não governamentais e sem fins lucrativos. Exige-se a comprovação da natureza da instituição e o CNPJ. Em casos especiais, a exigência do CNPJ para essa categoria poderá ser dispensada; i) .psi.br, destinado a provedores de serviços internet em geral. Exige-se o CNPJ e a comprovação de que a entidade é um provedor de acesso à internet, bem como o contrato de backbone ou o contrato social, desde que comprove no objeto social de que se trata de um provedor de serviço. o II. DPNs sem restrição e destinados a Pessoas Jurídicas: a) .agr.br, destinado a empresas agrícolas e fazendas; b).art.br, destinado a instituições dedicadas às artes, artesanato e afins; c) .com.br, destinado a instituições comerciais; d) .esp.br, destinado a entidades relacionadas a esportes em geral; e) .far.br, destinado a farmácias e drogarias; f) .imb.br, destinado a imobiliárias; g) .ind.br, destinado a instituições voltadas à atividade industrial; h) .inf.br, destinado aos fornecedores de informação; i) .radio.br, destinados a entidades que queiram enviar áudio pela rede; j) .rec.br, destinado a instituições voltadas às atividades de recreação e jogos, em geral; k) .srv.br, destinado a empresas prestadoras de serviços; l) .tmp.br, destinado a eventos temporários, de curta duração, como feiras, seminários, etc; m) .tur.br, destinado a entidades da área de turismo. n) .tv.br, destinado a entidades que queiram enviar vídeo pela rede; o) .etc.br, destinado a instituições que não se enquadrem em nenhuma das categorias acima. o III. DPNs sem restrição destinados a Profissionais Liberais: a) .adm.br, destinado a administradores; b) .adv.br, destinado a advogados; c).arq.br, destinado a arquitetos; d) .ato.br, destinado a atores; e) .bio.br, destinado a biólogos; f) .bmd.br, destinado a biomédicos; g) .cim.br, destinado a corretores; h) .cng.br, destinado a cenógrafos; i) .cnt.br, destinado a contadores; j) .ecn.br, destinado a economistas; k) .eng.br, destinado a engenheiros; l) .eti.br, destinado a especialistas em tecnologia de informação; m) .fnd.br, destinado a fonoaudiólogos; TÓPICO 2 | SISTEMAS COMPUTACIONAIS 31 n) .fot.br, destinado a fotógrafos; o) .fst.br, destinado a fisioterapeutas; p) .ggf.br, destinado a geógrafos; q) .jor.br, destinado a jornalistas; r) .lel.br, destinado a leiloeiros; s) .mat.br, destinado a matemáticos e estatísticos; t) .med.br, destinado a médicos; u) .mus.br, destinado a músicos; v) .not.br, destinado a notários; x) .ntr.br, destinado a nutricionistas; w) .odo.br, destinado a odontólogos; y) .ppg.br, destinado a publicitários e profissionais da área de propaganda e marketing; z) .pro.br, destinado a professores; aa) .psc.br, destinado a psicólogos; ab) .qsl.br, destinado a radioamadores; ac) .slg.br, destinado a sociólogos; ad) .trd.br, destinado a tradutores; ae) .vet.br, destinado a veterinários; af) .zlg.br, destinado a zoólogos. o IV. DPNs sem restrição destinados a Pessoas Físicas: a) .nom.br, pessoas físicas, seguindo os procedimentos específicos de registro neste DPN; b) .blog.br, destinado a "blogs"; c) .flog.br, destinado a "foto logs"; d) .vlog.br, destinado a "vídeo logs"; e) .wiki.br, destinado a páginas do tipo "wiki"; o V. DPN restrito com obrigatoriedade da extensão DNSSEC: a) .b.br: destinado exclusivamente às instituições financeiras; b) .jus.br: destinado exclusivamente ao Poder Judiciário, com a aprovação do Conselho Nacional de Justiça; o VI. DPN sem restrição, genérico a) .com.br, a pessoas físicas ou jurídicas que exercem atividade comercial na rede. b) .net.br, a pessoas físicas ou jurídicas que exercem atividade comercial na rede. o VII. DPN pessoa física, especial: a) .can.br, destinado aos candidatos à eleição, durante o período de campanha eleitoral. Necessário citar que, apesar da marca e o nome de domínio serem institutos diversos, o registro do domínio deverá respeitar os direitos reconhecidos sob o escopo da Lei de Propriedade Industrial, para que se evite que o registro de domínio com marca de terceiro seja interpretado como violadora de direitos. Tal entendimento inclusive já foi temática de decisão judicial proferida pela 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que UNIDADE 1 | PROCESSO ELETRÔNICO 32 estabeleceu que o registro de nome de domínio na internet deve respeitar os direitos sobre marcas existentes: PROPRIEDADE INDUSTRIAL – NOMES DE DOMÍNIO NA INTERNET – UTILIZAÇÃO POR QUEM NÃO TEM REGISTRO DA MARCA PERANTE O INPI – VIOLAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE – ABSTENÇÃO DO USO DOS NOMES DE DOMÍNIO PERTENCENTES À APELADA – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO. […] Como cediço, a resolução n° 1/98 (Comitê Gestor Internet do Brasil) em seu artigo 1o, determina o registro do nome de domínio em favor daquele que primeiro o requerer (princípio do first come, first serve). Entretanto, o registro de “nome de domínio” na internet deve respeitar os direitos sobre marcas existentes. (TJSP. 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação nº 0078378-34.2004.8.26.0000. Relator: Des. Adilson de Andrade. Julgado em 29.07.08). Ainda sobre o registro de domínio, como se apresentou, sua primeira e principal regra é a regra “First Come, First Served”, que determina que o domínio será concedido ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o registro. Sobre o tema, já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça, quando da análise de situação onde se constatou que ambos os litigantes possuíam registros vigentes. Em sua decisão, o STJ destacou que deveria ser aplicado integralmente o princípio “First Come, First Served”. Vejamos: DIREITO EMPRESARIAL. RECURSO ESPECIAL. COLIDÊNCIA ENTRE MARCAS. DIREITO DE EXCLUSIVA. LIMITAÇÕES. EXISTÊNCIA DE DUPLO REGISTRO. IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA. TÍTULO DE ESTABELECIMENTO. DIREITO DE PRECEDÊNCIA. INAPLICABILIDADE. NOME DE DOMÍNIO NA INTERNET. PRINCÍPIO "FIRST COME, FIRST SERVED". INCIDÊNCIA. 1. Demanda em que se pretende, mediante oposição de direito de exclusiva, afastar a utilização de termos constantes de marca registrada do recorrente. 2. O direito de precedência, assegurado no art. 129, § 1º, da Lei n. 9.729/96, confere ao utente de marca, de boa-fé, o direito de reivindicar para si marca similar apresentada a registro por terceiro, situação que não se amolda a dos autos. 3. O direito de exclusiva, conferido ao titular de marca registrada sofre limitações, impondo-se a harmonização do princípio da anterioridade, da especialidade e da territorialidade. 4. "No Brasil, o registro de nomes de domínio na internet é regido pelo princípio 'First Come, First Served', segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o registro". Precedentes. 5. Apesar da legitimidade de o registro do nome do domínio poderser contestada ante a utilização indevida de elementos característicos de nome empresarial ou marca devidamente registrados, na hipótese ambos os litigantes possuem registros vigentes, aplicando-se integralmente o princípio "First Come, First Served". 6. Recurso especial desprovido. (REsp 1238041/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe 17/04/2015). 33 A adoção de tal preceito não significa, contudo, que a legitimidade do registro do nome do domínio obtido pelo primeiro requerente não possa ser contestada pelo titular de signo distintivo similar ou idêntico anteriormente registrado - seja nome empresarial, seja marca. Tal pleito, entretanto, não pode prescindir da demonstração de má-fé, a ser aferida caso a caso, podendo, se configurada, ensejar inclusive o cancelamento ou a transferência do domínio e a responsabilidade por eventuais prejuízos, conforme manifestou-se o Superior Tribunal de Justiça no julgado abaixo ementado: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE USO. NOME EMPRESARIAL. MARCA. NOME DE DOMÍNIO NA INTERNET. REGISTRO. LEGITIMIDADE. CONTESTAÇÃO. AUSÊNCIA DE MÁ- FÉ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. 1. A anterioridade do registro no nome empresarial ou da marca nos órgãos competentes não assegura, por si só, ao seu titular o direito de exigir a abstenção de uso do nome de domínio na rede mundial de computadores (internet) registrado por estabelecimento empresarial que também ostenta direitos acerca do mesmo signo distintivo. 2. No Brasil, o registro de nomes de domínio é regido pelo princípio "First Come, First Served", segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o registro. 3. A legitimidade do registro do nome do domínio obtido pelo primeiro requerente pode ser contestada pelo titular de signo distintivo similar ou idêntico anteriormente registrado – seja nome empresarial, seja marca. 4. Tal pleito, contudo, não pode prescindir da demonstração de má-fé, a ser aferida caso a caso, podendo, se configurada, ensejar inclusive o cancelamento ou a transferência do nome de domínio e a responsabilidade por eventuais prejuízos. 5. No caso dos autos, não é possível identificar nenhuma circunstância que constitua sequer indício de má-fé na utilização do nome pelo primeiro requerente do domínio. 6. A demonstração do dissídio jurisprudencial pressupõe a ocorrência de similitude fática entre o acórdão atacado e os paradigmas. 7. Recurso especial principal não provido e recurso especial adesivo prejudicado. (STJ - REsp: 658789 RS 2004/0061527-8, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 05/09/2013, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/09/2013). Na lide acima exposta constata-se que a improcedência foi fundamentada na ausência de prova de má-fé por parte do primeiro requerente do domínio. Outra decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça reitera a necessidade de demonstração de má-fé, conforme descreve sua ementa: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE USO. NOME EMPRESARIAL. NOME DE DOMÍNIO NA INTERNET. REGISTRO. LEGITIMIDADE. CONTESTAÇÃO. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. 1. A anterioridade do registro no nome empresarial no órgão competente não assegura, por si só, ao seu titular o direito de exigir a abstenção de uso do nome de domínio na rede mundial de 34 computadores (internet) registrado por estabelecimento empresarial que também ostenta direitos acerca do mesmo signo distintivo. 2. No Brasil, o registro de nomes de domínio na internet é regido pelo princípio "First Come, First Served", segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o registro. 3. A legitimidade do registro do nome do domínio obtido pelo primeiro requerente pode ser contestada pelo titular de signo distintivo similar ou idêntico anteriormente registrado - seja nome empresarial, seja marca. 4. Tal pleito, contudo, não pode prescindir da demonstração de má-fé, a ser aferida caso a caso, podendo, se configurada, ensejar inclusive o cancelamento ou a transferência do domínio e a responsabilidade por eventuais prejuízos. 5. No caso dos autos, não é possível identificar nenhuma circunstância que constitua sequer indício de má-fé na utilização do nome pelo primeiro requerente do domínio. 6. A demonstração do dissídio jurisprudencial pressupõe a ocorrência de similitude fática entre o acórdão atacado e os paradigmas. 7. Recurso especial não provido. (REsp 594.404/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 11/09/2013). Acerca da proteção ao domínio, releva citar duas condutas que podem ser consideradas práticas extorsivas. A primeira é o cybersquatting, que é quando uma empresa registra o domínio de uma marca famosa com o objetivo de ganhar valores com isso. A segunda modalidade é o typosquatting, que ocorre quando uma empresa registra um domínio de marca famosa por pequenos erros de digitação (PECK, 2002). Tais condutas, dependendo da situação real, poderão caracterizar inclusive concorrência desleal, uma vez que poderão afrontar direitos dos consumidores. Conforme Carolina de Aguiar Teixeira Mendes (ÂMBITO JURÍDICO), para evitar ações de cybersquatters e typosquatters e preservar sua reputação, a empresa deve registrar as variáveis de suas marcas junto aos órgãos de domínio de internet nacionais e internacionais. O ideal é que se faça o registro de domínio tão logo seja registrada a marca, preferindo endereços que se desta aproximem, a nomes genéricos, para melhor protegê-la. Sobre o tema cybersquatters, interessante decisão foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cuja ementa de acórdão cita-se a seguir: REGISTRO DE DOMÍNIO NA INTERNET. Ação cominatória para abstenção de uso indevido de marca c.c. indenização. Marca titularizada pelas apelantes que não é notória, de modo que o registro do domínio "rosettastone.com.br", por si só, não implica violação de direito. Princípio do "first come, first served". Blog mantido pelo apelado que, todavia, não tem utilidade econômica ou intelectual para o seu titular, tampouco para os que venham a consultar a página. Ofensa à função social da propriedade. Finalidade exclusiva de obter lucro com a venda do domínio para as apelantes, que foi demonstrada, 35 o que configura a ilícita prática de "cybersquatting". Prejuízo material não demonstrado. Dano moral, todavia, que se verifica. Condenação do apelado a abster-se de usar o domínio, bem como a transferi-lo às apelantes, além do pagamento de indenização por danos morais no total de R$ 20.000,00. Sentença reformada. Recurso parcialmente provido. (TJ-SP - APL: 01124271420128260100 SP 0112427-14.2012.8.26.0100, Relator: Teixeira Leite, Data de Julgamento: 14/08/2014, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 19/08/2014) Em tal decisão, verifica-se que o Tribunal de Justiça de São Paulo constatou das provas dos autos que o primeiro registrador efetuou conduta de cybersquatting, além de deixar de atribuir uma utilidade relevante ao domínio, o que motivou a decisão de condenar o primeiro registrador a transferir o domínio em lide em benefício da pretendente, bem como a indenizar a ofendida em danos morais. Ainda, registrar domínio sem a observância de direitos de marca poderá caracterizar aproveitamento parasitário, que seria um exercício irregular do direito de livre concorrência. O aproveitamento parasitário de marca configura abuso de direito, conceituado no artigo 187 do Código Civil, que determina que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
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