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Inadimplemento Relativo das Obrigações A mora 1) Definições importantes → Ocorre quando a prestação, ainda passível de ser realizada, não foi cumprida no tempo, lugar e forma convencionados, remanescendo o interesse do credor de que seja adimplida, sem prejuízo de exigir uma compensação pelo atraso causado. → Este retardamento culposo no cumprimento de uma obrigação ainda realizável caracteriza a mora → A mora pode ser: ↳ Do credor (mora accipiendi ou credendi) ↳ Do devedor (mora solvendi ou debendi). Obs.: se o credor obsta injustificadamente o pagamento, recusando-se a receber a coisa ou a quantia devida no lugar e forma convencionados, também aí haverá a mora. Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Obs.: Sem culpa, não há mora do devedor: Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. Ex.: se a equipe contratada para animar uma festinha de aniversário de criança convencionou chegar às 18:00h, mas, em razão de um congestionamento imprevisto, somente compareceu às 19:30h, sem que se possa acusá-la de negligência ou imprudência por este atraso, e sendo a prestação ainda de interesse do credor, este não poderá pretender uma compensação pelo atraso, considerando-se que o retardamento se deu por evento fortuito, não imputável ao devedor. ↳ Obs.: se a equipe somente compareceu às 03:00h, da madrugada, já não havendo nenhum convidado, e sendo a prestação inútil, considerarse-á a obrigação extinta, se, de fato, restar comprovado que os contratados não concorreram culposamente para o evento. 2) Mora do devedor (“solvendi” ou “debendi”) → Ocorre quando o devedor retarda culposamente o cumprimento da obrigação Ex: o sujeito se obriga a pagar a quantia de R$ 100,00, no dia 15, e, chegado o vencimento, simplesmente não paga. Obs.: Interessante notar que, se a obrigação for negativa (não fazer), e o indivíduo realizar a prestação que se comprometeu a não efetivar, não se poderá dizer ter havido mora, mas sim inadimplemento absoluto. Ex.: É o caso do sujeito que, obrigando-se a não levantar o muro, realiza a construção, incorrendo em inadimplência absoluta, e não simplesmente em mora, a partir da data em que realizou a obra. 2.1) requisitos da mora do devedor: 2.1.1) a existência de dívida líquida e certa: → somente as obrigações certas quanto ao seu conteúdo e individualizadas quanto ao seu objeto podem viabilizar a ocorrência da mora. ↳ Ninguém retarda culposamente o cumprimento de uma prestação incerta, ilíquida ou indeterminada. Ex.: Se sou devedor de R$ 100,00 ou de determinado serviço de carpintaria, incorro em mora ao não realizar qualquer das prestações especificadas; 2.1.2) o vencimento (exigibilidade) da dívida: → se a obrigação venceu, tornou-se exigível, e, por conseguinte, o retardamento culposo no seu cumprimento poderá caracterizar a mora. Obs.: Lembre-se de que o não cumprimento das obrigações com termo de vencimento certo (dia 23 de junho, por exemplo) constitui de pleno direito em mora o devedor. ↳ Trata-se da chamada mora ex re. Obs.: Não havendo termo definido, o credor deverá interpelar o devedor judicial ou extrajudicialmente, para constituí-lo em mora. ↳ Cuida-se, neste caso, da mora ex persona. Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. ● A citação inicial válida produz os seguintes efeitos: a) completa a formação do processo, agora em relação ao réu, pois o mesmo já existia entre o autor e o juiz, como relação bilateral (art. 263, CPC, primeira frase); ou, então, triangulariza a relação processual; b) e, especificamente, produz os efeitos discriminados no art. 219 do CPC, quais sejam, previne a competência, induz litispendência, faz litigiosa a coisa, constitui o devedor em mora e interrompe a prescrição. → Não tendo a obrigação vencimento certo, e mesmo sem prévia interpelação judicial ou extrajudicial, a citação do devedor em uma ação condenatória que tenha por objeto o cumprimento da prestação constitui, de pleno direito, o devedor em mora. → se houver autorização legal ou contratual, e não se tendo operado o inadimplemento absoluto, o devedor poderá purgar a mora no prazo fixado pela lei, pelo contrato ou pelo próprio juiz da causa 2.1.3) a culpa do devedor → Não há mora sem a concorrência da atuação culposa do devedor. Mesmo se afirmando que o retardamento já firma uma presunção juris tantum de culpa, o fato é que, sem esta, o credor não poderá pretender responsabilizar o devedor (art. 396 do CC/2002). Obs.: a mora somente se caracterizará se houver viabilidade do cumprimento tardio da obrigação. Vale dizer, se a prestação em atraso não interessar mais ao credor, este poderá considerar resolvida a obrigação, hipótese em que restará caracterizado o seu inadimplemento absoluto. Art. 395. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos. → Trata-se de inadimplemento absoluto, em virtude do qual o credor deverá ser cabalmente indenizado, fazendo jus a receber o que efetivamente perdeu (dano emergente) e o que razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes). Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. 2.3) Efeitos jurídicos decorrentes da mora do devedor. a) responsabilidade civil pelo prejuízo causado ao credor em decorrência do descumprimento culposo da obrigação. ↳ Esta compensação, se não for apurada em procedimento autônomo, poderá vir expressa, previamente, no próprio título da obrigação, por meio de uma cláusula penal moratória. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Obs.: Os juros moratórios aqui referidos não devem ser confundidos com os compensatórios. ↳ Estes remuneram o credor pela disponibilização do capital ao devedor, ao passo que aqueles traduzem a compensação devida por força do atraso no cumprimento da obrigação, e são contados desde a citação (art. 405 do CC/2002). b) Perpetuatio obligationis: responsabilidade pelo risco de destruição da coisa devida, durante o período em que há a mora do devedor. Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. → Em caráter excepcional, o devedor poderá ser responsabilizado pela impossibilidade da prestação, ainda que decorrente de caso fortuito ou de força maior Ex.: o comodatário que recebeu um puro sangue, a título de empréstimo gratuito por quinze dias, e, findo o prazo, atrasa a devolução do animal. Perecendo o mesmo em decorrência de uma enchente (evento fortuito) que inundou completamente o pasto onde estava, o devedor poderá ser responsabilizado com fundamento na referida norma legal. Obs.: Entretanto, se provar isenção de culpa no retardamento da prestação(x), ou se provar que o dano sobreviria mesmo que a prestação fosse oportunamente desempenhada(y), cessará, nesses dois casos, a obrigação de indenizar Ex. X: Imagine que o credor não pôde receber o animal, no dia convencionado, sem que o devedor houvesse concorrido para isso. Ex. Y: hipótese de a enchente também haver invadido os pastos do credor, de maneira que afogaria o animal ainda que já estivesse sob a guarda do seu proprietário. 3) Mora do credor (“accipiendi” ou “credendi”) → O próprio sujeito ativo da relação obrigacional, recusa-se a receber a prestação no tempo, lugar e forma convencionados, incorreu em mora.Obs.: Sem razão plausível, o credor estará em mora, não sendo necessário que o devedor demonstre a sua atuação dolosa ou culposa. → Não importa se atuou com dolo ou culpa: recusando-se, está em mora. Obs.: Pode ocorrer, entretanto, que o credor esteja transitoriamente impedido de receber, por fato plenamente justificável, situação está que, obviamente, não caracterizaria a sua mora. → Diante da recusa do credor, o devedor, pretendendo exonerar-se da obrigação, utiliza-se da consignação em pagamento, que é uma forma especial de extinção de obrigações. 3.1) Efeitos da mora do credor Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita- -o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. a) subtrai do devedor o ônus pela guarda da coisa, ressalvada a hipótese de ter agido com dolo: Ex.: Apresentou-se para devolver o touro reprodutor de propriedade do credor, e estando este em mora de receber, poderá providenciar o seu depósito judicial, à custa do credor moroso. Obs.: Caso permaneça com o animal e realize despesas, poderá cobrá-las posteriormente. OBS.: O que a lei proíbe, à luz do superior princípio ético da boa-fé, é que o devedor atue dolosamente, abandonando o animal na estrada ou deixando de alimentá-lo. Em tais casos, a sua responsabilidade persiste; b) Obriga o credor a ressarcir o devedor pelas despesas de conservação da coisa: estando o credor em mora, correm por sua conta as despesas ordinárias e extraordinárias, de natureza necessária, empreendidas pelo devedor, que fará jus ao devido ressarcimento, monetariamente corrigido; c) sujeita o credor a receber a coisa pela estimação mais favorável ao devedor, se houver oscilação entre o dia estabelecido para o pagamento (vencimento) e o dia de sua efetivação: Ex.: Se o devedor se obrigou a transferir, em virtude de uma compra e venda, no dia 15, um touro reprodutor pelo preço de R$ 10.000,00, e o credor retardou injustificadamente o recebimento da coisa, somente efetivado no dia 25, quando a cotação do animal atingiu o preço de R$ 12.000,00, deverá o referido credor moroso arcar com a diferença, pagando o valor maior. ↳ Se a oscilação for para menor, todavia, deverá pagar o preço convencionado. 4) Purgação e cessação da mora → A purgação ou emenda da mora consiste no ato jurídico por meio do qual a parte neutraliza os efeitos do seu retardamento, ofertando a prestação devida (mora solvendi) ou aceitando-a no tempo, lugar e forma estabelecidos pela lei ou pelo título da obrigação (mora accipiendi). Art. 401. Purga-se a mora: I – Por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II – Por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data (Art. 400). Obs.: a eficácia da purgação da mora é para o futuro (ex nunc), de forma que os efeitos jurídicos até então produzidos deverão ser observados (os juros devidos pelo atraso, até o dia da emenda, por exemplo). 4.1) purgação X cessação da mora. → A primeira, como visto, traduz uma atuação reparadora do sujeito moroso, neutralizando os efeitos de seu retardamento. → A segunda, por sua vez, é mais abrangente, e decorre da própria extinção da obrigação. É o que se dá, por exemplo, quando se opera a novação ou a remissão de dívida. A sua eficácia é retroativa (ex tunc). Obs.: Súmula 173 do STF, na parte de purgação, explicita a possibilidade de purgar a mora, sem extinguir obrigação principal, afirmando que “em caso de obstáculo judicial admite-se a purga da mora, pelo locatário, além do prazo legal. Obs.: Estando ambos em mora, elas se anulam, já que as partes colocam-se em estado idêntico e uma nada pode imputar à outra. ↳ É como se os efeitos da mora simultânea de uma parte e de outra se eliminassem reciprocamente, não havendo que se cogitar de renúncia.
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