Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ciências Biológicas - UniCesumar. Módulo: 2020/52. --- * --- Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação Prof. Éder Gimenes. AULAS CONCEITUAIS UNIDADE 2 Sociologia Clássica 1 Ambiente para a formação da sociologia. 1. A sociedade um objeto estranho. “[...] e o desenvolvimento da Sociologia e da Antropologia está ligado, diretamente ao desenvolvimento da sociedade ocidental capitalista. Nela surgiu a necessidade de compreender as transformações que passou a Europa. A formação de uma vida urbana tensa gerou novos fatos sociais ainda desconhecidos para o mundo europeu. As tensões sociais se agravaram com o desenvolvimento industrial. [...] em uma sociedade considerada perdida pelo caos instalado e expresso no conflito entre os grupos humanos, alguns acreditavam que a crise passaria e que era necessário acomodar a ordem social ao desenvolvimento”. “O contexto de desenvolvimento da sociologia e antropologia é o contexto das grandes transformações sociais”. A grande preocupação que se colocava nestes séculos de desenvolvimento da sociologia e antropologia era justamente a organização da vida em coletividade, buscando, cada uma a seu modo, responder a grande questão: “estávamos diante do caos?! Estávamos vivendo uma crise nas relações humanas?!”. A partir, então, dessas questões, foi que se desenvolveu a base para o surgimento das ciências sociais. As ciências sociais vieram com a perspectiva de analisar a vida social (seu objeto de estudo) a partir do comportamento dos indivíduos, sobre qual era sua cultura e valores, como estes agiam e quais as relações que eles estabeleciam em sociedade, tudo isso como aspectos da vida em coletividade. Vale lembrar que a racionalidade se desenvolveu no período moderno em contraposição a interpretação religiosa (males como tentações malignas) e em conformidade com os avanços econômicos e sociais decorrentes das grandes navegações e revoluções (francesa e industrial). Relação da evolução do pensamento filosófico ao longo do tempo: Período clássico (Período medieval) - marcado pela escolástica e metafísica; Período Moderno (pensamento racional) - pautado na observação e experimentação – desligado do teológico. As ciências sociais tiveram como pilares a sociologia antropologia e a ciência política. A sociologia emergiu em um período de caos e crises, de grandes conflitos e dúvidas sobre como a vida em sociedade se colocaria, ou seja, ela surgiu num contexto de conflitos e sob a necessidade de compreender fenômenos sociais em consequência destes conflitos e de suas implicações na vida em coletividade/sociedade. Séculos XIII – XIX: êxodo rural urbanização, novos costumes/arranjos familiares e relações com o trabalho (inserção de mulheres e crianças, turnos de 12h sem descanso, baixos salários, condições exploratórias e degradantes), concentração populacional sem estrutura adequada, violência e outros males sociais. Luta contra o desenvolvimento tecnológico: revoltas de trabalhadores contra as máquinas (uma forma de alienação?!). Desenvolvimento do liberalismo e do socialismo – duas formas de pensar os arranjos sociais relacionadas as perspectivas econômicas e de trabalho. Liberalismo: defesa do capitalismo e livre regulação do mercado, com menor interferência do Estado (governo). Socialismo: crítica ao capitalismo, pautada pelo compromisso do Estado em intervir na vida social e econômica. “[...] é importante pontuar que ao nascimento da sociologia há um posicionamento da sociedade capitalista em formação, seja na crítica (como nas teses de Marx) ou na defesa de uma reorganização da vida em sociedade (Comte ou Durkheim) ”. AUGUSTE COMTE (1978, Montpelier, França). Considerado um dos fundadores da Sociologia, foi especulador da vida social e da dinâmica das ciências naturais. Entendia que as leis naturais era um fator Objetivos de aprendizagem: Reconhecer o contexto do nascimento da sociologia e antropologia como ciência; 1. A sociedade um objeto estranho. Dominar a formação das teses positivistas e suas críticas ao liberalismo e socialismo; 2. Auguste Comte. Estudar a formação do estruturalismo como método de análise social. 3. A herança positivista no estruturalismo de Emilie Durkheim. importante para a análise da vida social. Considerou o método das ciências naturais como fundamental para estabelecer os princípios para interpretar as sociedades humanas – física social. Perspectiva analítica: “criar uma ciência que estude a sociedade, deveria partir de uma outra ciência, da forma como essa ciência pensa e constrói seu objeto de estudo”. Analogia do corpo biológico ↔ corpo social. A sociedade refletia uma estrutura composta por vários elementos que se precisariam trabalhar de uma maneira combinada de modo que essa sociedade tivesse êxito. Nessa perspectiva de Comte, cada indivíduo é um componente desta estrutura dotado de uma função específica a cumprir (com atividades que se relacionam para que haja saúde no corpo social), ao passo que este deixa de cumpri-la, ocorre os problemas (o corpo adoece). Física social – análise social de algo relacionada com as ciências naturais. Buscava compreender os fenômenos sociais como resultado da evolução das civilizações até alcançar o padrão da “Europa Civilizada” (um organismo social se tornaria mais saudável conforme ele se aproximasse do que era a Europa civilizada - Eurocentrismo). Noção de direitos-deveres, obrigações/finalidades - Entendia o homem como parte do corpo social, como um elemento que deveria se relacionar aos demais sob uma lógica universal de respeito às leis naturais dentro da vida social. Cada homem, grupo/classe social/profissional tem uma finalidade específica dentro da vida social que precisa ser cumprida, pois a vida em sociedade se constitui um grande corpo composto por elementos que se integram, devendo trabalhar corretamente e em conjunto. Caso o contrário, o corpo social adoece. Positivismo e o racionalidade: refere-se a positivação das ações dos homens com relação à política e a moral. Os homens devem agir pautados por relações que atuam no âmbito do poder e de valores morais, costumes e tradições que se perpetuam ao longo do tempo, decorrentes de avanços/estágios de desenvolvimento da sociedade, caminho para as sociedades chegarem ao padrão da Europa civilizada. Lei dos três estágios: “[...] busca a compreensão do desenvolvimento social mediante a presença do conhecimento científico na vida social. A ciência está presente nas relações entre o homem e as instituições que servem de orientação para a ordem social”. Estágio teológico (primeiro): defendia que os fenômenos naturais só seriam compreendidos com a crença de um elemento divino (o conhecimento do homem sobre a vida é superficial e a verdadeira compreensão estaria além da capacidade humana). Pensamento ideológico predominante ao período medieval, fortemente vinculado aos dogmas religiosos (autoridade da igreja católica). Para Comte, as sociedades que seguiam este pensamento eram atrasadas. Estágio de abstração (segundo): preocupação com a compreensão de fenômenos físicos, a partir da observação, o que permitiria a comprovação de fenômenos sociais aos moldes das ciências naturais, sendo que o corpo social (sociedade como um todo) deveria ser regulado pelo Estado. Separado dos conceitos religiosos, este é o estágio de desenvolvimento do período moderno, que buscava a comprovação de fenômenos sociais, afirmava que o que regularia a vida social não era a religião, mas sim, o próprio Estado. Estágio intermediário que marcou a passagem do período teocêntrico (medieval) ao estágio positivo. Estágio positivo (terceiro): buscava a compreensão de fenômenos sociais a partir da observação e comprovação científica, sendo que as descobertas seriamconsideradas científicas conforme sua aplicabilidade. A ideia de um estágio positivo está atrelada a ideia de cientificidade daquilo que era produzido, no qual a sociedade só alcançaria este estágio quando não mais os valores religiosos fossem os responsáveis por reger sua organização social, mas sim, a busca pela utilidade e a finalidade daquilo que era pesquisado ou produzido (comprovação de sua aplicabilidade). A ciência pautada pela aplicabilidade/utilidade. A herança positiva no estruturalismo de Émile Durkheim Acadêmico, discípulo de Comte, se destacou por suas preocupações com as relações entre sociedade e ciência e entre a sociologia e a educação e também pelo conceito do fato social. Buscava ter seu método reconhecido pelos demais cientistas e ingressar a sociologia como disciplina dentro das instituições de ensino. “Sua perspectiva pautava-se em desdobramentos científicos daquilo que Comte analisava sob a perspectiva de como as relações sociais se colocavam”. Segundo Durkheim os fenômenos sociais compreendiam num fazer científico específico, pois não seria possível reproduzi-los em laboratórios, sendo, então, uma condição coletiva, que considerava a coação e a coesão social dentro da condição solidária em que se realiza. [...] “Os fatos sociais devem ser tratados como coisas — eis a proposição fundamental de nosso método, e que mais tem provocado contradições. Esta assimilação que fazemos, das realidades do mundo social às realidades do mundo exterior, foi interpretada como paradoxal e escandalosa. Estabeleceu- se singular confusão a respeito do sentido e da extensão desta assimilação; seu objetivo não é rebaixar formas superiores às formas inferiores do ser, e sim, ao contrário, reivindicar para as primeiras um grau de realidade pelo menos igual ao que todos reconhecem como apanágio das segundas. Com efeito, não afirmamos que os fatos sociais sejam coisas materiais, e sim que constituem coisas ao mesmo título que as coisas materiais, embora de maneira diferente”. (DURKHEIM, 1960, p 52). Portanto, é preciso se refletir sobre aquilo que se colocava a sociedade como fatos materiais ou imateriais. Os fatos sociais seriam condições coletivas que se manifestariam como fenômenos nos indivíduos. Não fatos individuais, mas fenômenos oriundos da sociedade enquanto coletividade pautadas em mecanismos de solidariedade. As relações de coesão e coação são pautadas em mecanismos de solidariedade... Neste contexto, que quer dizer “solidariedade”? “[...] condição em que os fenômenos ocorrem – cumplicidade entre os agentes que proporcionam a existência dos fenômenos, sem, no entanto, indicar a existir consciência por parte daqueles que praticam o ato”. “[...] conjunto de agentes sociais que produzem a vida humana, porém sem ser espontâneo ou afetivo, mas sob uma condição típica das sociedades humanas e da organização física da vida social”. A ideia geral de “solidariedade” para DURKHEIM é: O homem é um ser social que depende da coletividade! Caso contrário, ele seria um ser isolado, não habitaria em sociedade. Isto implica que, a perspectiva de atuação em sociedade faz do homem um ser social que precisa agir em conformidade a solidariedade e a coletividade. Nesse contexto, a solidariedade se refere a fenômenos sociais mutuamente reconhecidos pelos indivíduos. [...] há dois tipos de solidariedade estabelecida por Durkheim: a primeira liga diretamente o indivíduo à sociedade, o que chamamos de solidariedade mecânica. A segunda, só pode ser entendida na complexidade das relações sociais em sua divisão do trabalho social, na qual o indivíduo é apenas um componente dentro da complexa cadeia de dependência – a solidariedade orgânica. Nesta, o indivíduo exalta suas particularidades e parece negar sua relação com a sociedade. “O indivíduo se coloca no conjunto social como ser social a partir de relações desenvolvidas no ambiente da sociedade, na qual suas ações assumem duas raízes (formas de solidariedade, de interação) ”. Solidariedade mecânica – relacionada a baixas divisões do trabalho social e dependência indivíduo- sociedade, na qual os indivíduos não possuem consciência social individual, mas com sentimento de pertencimento típico em sociedades primitivas. Não implica, necessariamente, reflexão, pensamento individual e consciente. As ações ocorrem de maneira estruturada, regular, repetitiva sem questionamentos. Solidariedade orgânica – alta divisão do trabalho social e dependência indivíduo-sociedade, pautada por normas, direitos e deveres, sem relação direta com a produção daquilo que consome, típico em sociedades industriais. Onde o capitalismo, a industrialização e relações de consumo já estão estruturadas, não ocorre a mecanização das ações e comportamentos nas relações sociais. Possui uma perspectiva mais crítica. Para Durkheim, é importante pensar os impactos da divisão do trabalho social sobre as relações nestes dois conceitos (entre sociedade mecânica e orgânica). Sociedade mecânica perspectiva abstrata, de continuidade, de considerar os costumes sem questionar, havia baixa divisão do trabalho social; Sociedade orgânica perspectiva mais crítica, possibilidade de contestação, divisão alta do trabalho social. Para Durkheim, a divisão do trabalho social definiria as relações da vida em sociedade. A complexidade das atividades nas sociedades industriais, gerou uma descaracterização das particularidades e individualidades que permitiam compreender a ordem social e os fatos que ela produz. Ou seja, a nossa sociedade com a solidariedade orgânica desconstruiu uma série de aspectos que nos diferenciavam, uma vez que para fazer a diferenciação eu preciso conhecer a mim e ao outro. Se com o desenvolvimento da solidariedade orgânica e da divisão de trabalho as pessoas desempenham tarefas cada vez mais específicas, elas passam a conhecer cada vez menos o andamento dos processos como um todo, valendo, inclusive, para a totalidade dos campos de desenvolvimento das relações humanas, especialmente as sociais (em sociedade). Então, neste contexto de divisão social do trabalho por solidariedade orgânica, num contexto de estabelecimento de sociedades industriais em desenvolvimento, ocorre a produção e consumo em massa, a globalização de produtos, valores, comportamentos e saberes... Crítica de Durkheim... Com a expansão da sociedade orgânica nos arranjos sociais há a ausência de padrão no comportamento da vida social, ela torna-se o encontro solidário de todos esses elementos, enquanto um organismo gera as condições de todos e de cada um... Ocorre então a perda de referências da individualidade. Segue-se à obediência ao padrão da solidariedade orgânica, a moda por ela posta, ao que é mais recorrente (tipo... eu uso porque está na mídia/moda!). Se, seguindo por Durkheim, a lógica que defendia Comte, de que os indivíduos, quando vivem em sociedade, fazem parte de um grande corpo social, onde cumprem funções específicas e ocupam espaços específicos, diante da solidariedade orgânica (produção e consumo em massa, globalização, da padronização), cada um conhece aquilo que lhe disponibilizado, cada um segue a moda que consegue acessar. Assim, se cada um de nós ocupa determinado espaço, segue determinados valores e tem seus próprios comportamentos, a forma de organização da vida em sociedade favorece a manutenção dessa condição. Pois se estamos encerrados em nossos espaços, em nossas atividades, naquilo que somos capazes de estabelecer, ou que nos dizem que somos capazes de realizar, nós estamos numa condição de alienação, sem questionamento a estrutura que está posta. Coesão - coação - anomia - patologia. Para Durkheim, a Coesão diz respeito a ação de diversos agentes em um mesmo sentido com a mesma finalidade. Refere-se a busca por unidade na qual, grupos dentro dasociedade (que ocupam espaços e têm finalidades específicos) se organizam para buscar mais do que lhes cabe dentro do corpo social, em prol de um mesmo objetivo. Quando, dentro do nosso corpo, um determinado conjunto de células passa a funcionar de maneira distinta daquela que lhe foi conferida como função, ou um órgão passa a produzir resultados diferentes definidos como sua finalidade, este passa a ser rejeitado pelo próprio organismo (torna-se estranho ao que lhe é próprio – análogo a uma doença autoimune?!). Referente ao corpo social, segundo Durkheim, a coesão significa uma tentativa ou uma perspectiva de realocação de forças sociais para algum tipo de enfrentamento que produz alguma alteração na coletividade. No entanto, esse agrupamento, essa articulação para mudança, sempre vai ser enfrentada (haverá resistência a ela). Já a coação é uma ação contraria, uma resposta a coesão; busca romper com a coesão para a manutenção de determinada condição ou alterá-la, caso sua persistência seja defendida pela coesão. Assim, a coação tem a finalidade de combater algo, seja para manter algo que o grupo coeso busca mudar ou alterar algo defendido por ele em permanecer como está. “Na vida em sociedade há diferentes forças em conflito” (conflito de interesses entre grupos sociais?!). Dentro da coletividade há aqueles que buscam mudar determinados aspectos, e há aqueles que esperam manter estes aspectos como estão. Ou, ainda, quando há aqueles que buscam fazer mudanças em determinados processos, ou áreas de políticas públicas como a educação, há os que buscam a manutenção de determinadas condições relacionadas a produção do conhecimento. “Estes conceitos são importantes para pensarmos nosso papel na educação a nós remetidos como educadores”. A anomia e patologia são conceitos “importados” das ciências naturais (ou biológicas), que também fazem relação entre ao corpo biológico e corpo social. A anomia diz respeito a uma forma específica de alterações, a patologia outra forma mais específica ainda. Para Durkheim, estes conceitos são relativos, podendo assumir significados distintos conforme a sociedade, de modo que uma anomia pode significar normalidade numa coletividade ou uma patologia para outra. Ambas apresentam uma distinção por meio da qual relacionam a sociologia e a antropologia. Dizem respeito aos arranjos sociais e aos valores culturais, aos costumes de um determinado grupo. A anomia se refere a mudanças, fenômenos ou processos pontuais que tendem a desaparecer ou ser incorporados à dinâmica social ao longo do tempo, nunca será um problema, mas uma reordenação. Uma anomia social significa uma tentativa de mudar algo que está estabelecido na sociedade, seja por meio de uma revolução ou pela aprovação de leis, movimento ou manifesto. A ideia é despertar uma nova questão a ser debatida e incorporada pela sociedade por meio de uma alteração daquela condição social que despertou a dúvida ou por entender que aquele problema é pontual, não necessariamente coletivo, sendo incorporado junto a outras críticas já existentes e, assim, a sociedade segue com sua organização. Já as patologias se referem a anormalidades que causam desordens temporárias constituídas fora da normalidade com capacidade de desencadear patologias, gerar outros problemas. Tendem a não ser resolvidos, não promovem incorporações na coletividade, mas geram problemas maiores (geram doenças - uma doença abre pode abrir caminho para outras. Quando consideramos patologias numa sociedade, a lógica é que problemas podem surgir (questionamentos, problemas de fato que desestruturam a ordem social), e, caso não sejam enfrentados, podem evoluir e gerar novos problemas. O desencadeamento de problemas pode ruir com a perspectiva de uma solidariedade orgânica, de coletividade que permaneça estruturada organizada. O que pode ser problema para um país, pode não ser para outro. Uma discussão colocada como revolucionária num determinado local, pode ser rapidamente incorporada e dissuadida em algum outro local. Um grande problema para uma sociedade poder significar uma pequena anomia facilmente resolvida para uma outra.
Compartilhar