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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PENAL - PARTE GERAL – MARCELO UZEDA AULA5 - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (CONTINUAÇÃO) Dando sequência ao estudo sobre o princípio da insignificância, neste segundo momento serão abordadas algumas decisões e súmulas do STJ com pertinência temática, das quais se verifica a evolução da abordagem da insignificância na jurisprudência dos Tribunais Superiores. Nesses termos, vejamos o julgado do Superior Tribunal de Justiça, a seguir colacionado: 1.1. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: HC 425168 SC HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. FURTO SIMPLES TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. VALOR EXPRESSIVO DA RES FURTIVAE E REINCIDÊNCIA. INAPLICABILIDADE. REGIME PRISIONAL. PENA QUE NÃO EXCEDE 4 ANOS E PACIENTE REINCIDENTE. SÚMULA 269/STJ. ADEQUAÇÃO DO REGIME SEMIABERTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. 2. O princípio da insignificância deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal, no sentido de excluir ou afastar a própria tipicidade penal, observando-se a presença de "certos vetores, como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada" (HC 98.152/MG, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe 5/6/2009). 3. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou-se no sentido de ser incabível a aplicação do princípio da insignificância quando o montante do valor da res furtivae superar o percentual de 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Precedentes. 4. O princípio da insignificância não tem aplicabilidade em casos de reiteração da conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando demonstrado ser tal medida recomendável diante das circunstâncias concretas. Precedentes. 5. No caso, além de o paciente ser multirreincidente, inclusive em delitos patrimoniais, o valor das coisas subtraídas - R$ 200,00 em espécie e uma carteira de cigarro - não pode ser considerado ínfimo, na medida em que representa mais de Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 2 Curso Ênfase © 2019 20% do salário mínimo vigente ao tempo da subtração (R$ 937,00). 6. Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC: 425168 SC 2017/0297946-8, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 07/06/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/06/2018) Logo, apreciando caso de furto, o STJ fixou entendimento no sentido de que é admitida a aplicação do princípio da insignificância quando o montante do valor da res furtivae não superar o percentual de 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos Nesses termos, para melhor compreensão do tema, imagine que o salário mínimo equivale a R$ 1.000,00, de modo que se o valor da coisa furtada for de até R$ 100,00, admite-se a aplicação do Princípio da Insignificância Contudo, perceba que esse critério matemático, puramente objetivo, não é adotado de forma isolada. Tal critério soma-se aos vetores da insignificância, estudados na última aula, quais sejam: • mínima ofensividade da conduta; • inexistência de periculosidade social da ação; • reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e, • inexpressividade da lesão jurídica provocada. Note-se que ao estabelecer esse critério objetivo[1] de 10% do salário mínimo, o STJ trata da inexpressividade da lesão jurídica provocada. Ademais, quando se fala em reiteração da conduta delitiva é necessário atenção, pois se o sujeito se dedica a atividades criminosas, o modus vivendi e a habitualidade à dedicação a atividade criminosa é incompatível com a insignificância. Assim, caso o sujeito furte um objeto de pequeno valor, mas a conduta seja reiterada, pois o agente se dedica a essas atividades de crimes patrimoniais, a reiteração delituosa pode será óbice à aplicação da insignificância ou bagatela. Isso porque, embora aparentemente a afetação seja de pequeno valor (em vista da inexpressividade da lesão jurídica provocada), quando a prática delituosa é reiterada, há prejuízo aos vetores da Insignificância, ante a ofensividade da conduta, a periculosidade social da ação e a reprovabilidade do comportamento Nesses termos no exemplo do julgado, que é um caso de furto, não há aplicabilidade da insignificância, tendo em vista a reiteração delituosa [2]. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 3 Curso Ênfase © 2019 Contudo o STJ ressalva que, ainda que haja reincidência, o Princípio da Bagatela ou Insignificância pode ser aplicado quando demonstrado ser tal medida recomendável diante das circunstâncias concretas. Em suma, a análise é casuística, mas os quatro vetores devem estar presentes cumulativamente para o reconhecimento da insignificância. Para mais, no caso em tela, além de o paciente se multireincidente [3], inclusive em delitos patrimoniais, o valor das coisas subtraídas em espécie (R$ 200,00) [4] e a res furtiva (uma carteira de cigarro), não autorizam a incidência da bagatela. Isso porque, o montante de R$ 200,00 equivalia à época mais de 20% do valor do salário mínimo, ultrapassando, portanto, o parâmetro de 10% estabelecido pelo STJ. Além disso, há a multirreincidência, ou seja, a delinquência habitual (postura do sujeito como, reiteradamente, autor de furto e de dedicação à atividade delituosa). Portanto, a conduta é incompatível com o princípio da insignificância, na medida em que apresenta reprovabilidade social e periculosidade. Outrossim, em caso recente (2018), o Superior Tribunal de Justiça tratou da subtração de R$ 4,80. Embora o valor seja notadamente ínfimo, o STJ não aplicou a insignificância, porque a autora do furto se valeu do seu filho, menor impúbere, para subtrair esse valor de um cofre de uma instituição de amparo a pessoas em tratamento de câncer. Nesse cenário, o STJ afastou a insignificância, em vista da reprovabilidade do comportamento, em detrimento do valor da res furtivae [5]. Ademais, vejamos outro julgado do STJ. 1.2. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: HC: 395.690 SP In casu, não há se falar em aplicação do princípio da insignificância, diante da especial gravidade depreendida da continuidade delitiva (subtração de bens de duas lojas), bem como do valor da res (duas bermudas e uma faca, avaliadas em R$ 150,00) que não é ínfimo, além do fato de ser o paciente reincidente específico, contando com ao menos três condenações anteriores, valoradas nas duas primeiras fases da dosimetria. Em tais circunstâncias, não há como reconhecer o caráter bagatelar do comportamento imputado, havendo afetação do bem jurídico. (STJ - HC: 395690 SP 2017/0081930-5, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Publicação: DJ 20/04/2017) Perceba que o STJ tem usado o critério dos 10% do salário mínimo. Nesse caso, o valor da res furtivae é de R$ 150,00, superando o patamar estabelecido pelo Tribunal. Além disso, há continuidade delitiva e reincidência específica (três condenações anteriores por crime patrimonial, Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 4 Curso Ênfase© 2019 por furto). Em tais circunstâncias, afirma o STJ, não há como reconhecer o caráter bagatelar do comportamento imputado, havendo afetação do bem jurídico, Observe que os vetores da insignificância não estão presentes, razão pela qual houve o afastamento do Princípio da Insignificância, enquanto causa supralegal de atipicidade. Para mais, verifique o julgado seguinte. 1.3. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: PROAFR NO RESP: 1709029 MG Nesse caso, trata-se de tema afeto à área federal, na medida que diz respeito ao crime de descaminho e o valor para a aplicação do princípio da insignificância. Tem-se, dessa feita, tema obrigatório em prova e que certamente será cobrado nas provas para Delegado Federal, Defensor Federal, AGU, Procurador Federal e Procurador da Fazenda. E que, portanto, merece muita atenção. Essa decisão é recente, e modificou o entendimento [6], fixando novo patamar para aplicação do Princípio da Insignificância, em R$ 20.000,00. Observe: RECURSO ESPECIAL. PROPOSTA DE AFETAÇÃO PARA FINS DE REVISÃO DO TEMA N. 157. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AOS CRIMES TRIBUTÁRIOS FEDERAIS E DE DESCAMINHO, CUJO DÉBITO NÃO EXCEDA R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS). ART. 20 DA LEI N. 10.522/2002. ENTENDIMENTO QUE DESTOA DA ORIENTAÇÃO CONSOLIDADA NO STF, QUE TEM RECONHECIDO A ATIPICIDADE MATERIAL COM BASE NO PARÂMETRO FIXADO NAS PORTARIAS N. 75 E 130/MF - R$ 20.000,00 (VINTE MIL REAIS). AFETADO O RECURSO PARA FINS DE ADEQUAÇÃO DO ENTENDIMENTO. Considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, nos termos do art. 927, § 4º, do Código de Processo Civil, afetou-se recurso especial para fins de revisão da tese fixada no REsp n. 1.112.748/TO (representativo da controvérsia) - Tema 157 (Relator Ministro Felix Fischer, DJe 13/10/2009), a fim de adequá-la ao entendimento externado pela Suprema Corte, no sentido de considerar o parâmetro fixado nas Portarias n. 75 e 130/MF - R$ 20.000,00 (vinte mil reais), para aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho. (STJ - ProAfR no REsp: 1709029 MG 2017/0251879-9, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 28/11/2017, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 01/12/2017) Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal tem acolhido, por maioria (não sendo ainda pacífico), considerando o parâmetro fixado nas portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda, o patamar de R$ 20.000,00 para a incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 5 Curso Ênfase © 2019 federais e no crime de descaminho. Logo, verifica-se que a jurisprudência expandiu a análise da questão, passando a aplicá-la, também, aos crimes tributários federais. Nesse âmbito, para que se compreenda a lógica aplicada, rememore a redação do art. 20 da Lei 10.522/2002, ipsis litteris: Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Ademais, acrescente-se que esse valor (de R$ 10.000,00) foi alterado pelas Portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda, de modo que são arquivados, sem baixa na distribuição [7], aqueles lançamentos e inscrições em dívida ativa de até R$ 20.000,00. Tal entendimento é aplicado em razão de uma lógica simples: a movimentação da máquina estatal e da Procuradoria da Fazenda para executar tributos de até R$ 20.000,00 não compensa. Ou seja, o custo para executar não compensa frente ao que seria arrecadado, de modo que são arquivados, sem baixa na distribuição, até que esses valores estejam consolidados, ultrapassando o montante de R$ 20.000,00. Nesse sentido, é empregado o seguinte raciocínio: se não há execução fiscal desses valores [8], por que o direito penal, que é a ultima ratio, deveria incidir? Isto é, se a Fazenda Pública não cobra (e tem autorização legal para isso), por que o Direito Penal, que é subsidiário e ultima ratio, deveria incidir nesse caso criminalizando esse comportamento? Desse modo, o princípio da insignificância deverá ser aplicado a crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 a teor do artigo 20 da Lei 10.522/2002. Superado o tema [9], analise a Súmula a seguir colacionada. 1.4. SÚMULA 606 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA A Súmula 606 do Superior Tribunal de Justiça dispõe, in verbis: Não se aplica o princípio da insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/1997. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 6 Curso Ênfase © 2019 Logo, o princípio da insignificância não será aplicado aos casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, visto que a conduta está tipificada no artigo 183 da Lei Geral de Telecomunicações, in verbis: Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação: Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer para o crime Nesse âmbito, lembre-se da rádio pirata e dos provedores de internet via rádio, etc. Por óbvio, para que alguém explore o sinal do provedor de internet via rádio, deve obter a autorização do órgão competente, de modo que a emissão ou a transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência caracteriza o crime do artigo 183. E, nesses casos, não há que se falar em insignificância, conforme Súmula 606 do Superior Tribunal de Justiça. Ademais, no caso da rádio clandestina, poderá ser aplicada a insignificância desde que preenchidos alguns critérios (como, por exemplo, com relação à potência do transmissor). Adiante, verifique a Súmula 599 do STJ. 1.5. SÚMULA 599 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA A Súmula 599 do Superior Tribunal de Justiça dispõe, ipsis litteris: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra administração pública. Nesse ínterim, podemos verificar alguns precedentes, principalmente no âmbito do STF, aplicando a insignificância em crimes contra a administração, mas a jurisprudência atual está mais rigorosa. Para mais, observe a Súmula 589 do STJ. 1.6. SÚMULA 589 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Em que pese a Súmula 589 do STJ não guarde pertinência temática com a esfera federal, é importante conhecê-la, visto que é relativamente recente. Desse modo, verifique a sua redação a seguir transcrita: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 7 Curso Ênfase © 2019 Logo, o dispositivo versa sobre violência contra a mulher, e pode ser aplicado, por exemplo, em vias de fato. Outrossim, ainda acerca da Princípio da Insignificância, segue-se na análise de outros julgados. 1.7. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: RESP 1.535.956-RS Outro exemplo encontrado na jurisprudência da não aplicação do princípio da insignificância diz respeito ao dólar-cabo, e foi veiculado no informativo nº 578 do STJ, nos termos seguintes: Nos casos de evasão de divisas praticada mediante operação do tipo "dólar-cabo", não é possível utilizar o valor de R$ 10 mil como parâmetro para fins de aplicação do princípio da insignificância. A legislação autoriza, em relação ao valor inferior a R$ 10.000,00 (ou seu equivalenteem moeda estrangeira), apenas a saída física de moeda sem comunicação às autoridades brasileiras. No caso de transferência eletrônica, saída meramente escritural da moeda, a lei exige, de forma exclusiva, o processamento através do sistema bancário, com perfeita identificação do cliente ou beneficiário (Lei n° 9.069/1995, art. 65, caput) No caso das operações “dólar-cabo” existe uma grande facilidade na realização de centenas ou até milhares de operações fragmentadas sequenciais [10]. É muito mais simples do que a transposição física, por diversas vezes, das fronteiras do país com valores inferiores a R$ 10.000,00. Admitir a atipicidade das operações do tipo “dólar-cabo” com valores inferiores a R$ 10.000,00 é fechar a janela, mas deixar a porta aberta para a saída clandestina de divisas. 6. A evasão de divisas pode ser praticada de diversas formas, desde meios muito rudimentares – como a simples saída do país com porte de dinheiro em valor superior a dez mil reais sem comunicação às autoridades brasileiras – até a utilização de complexos esquemas de remessas clandestinas.. (REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1/3/2016, DJe 9/3/2016). Em princípio, tal julgado é muito relevante, pois envolve crime de esfera federal, qual seja o crime do art. 22 da Lei 7.492/1986. Assim, se o sujeito faz viagem internacional e leva consigo menos de R$ 10.000,00, ou o equivalente em moeda estrangeira, a ausência de declaração é atípica. Isso é, a pessoa que leva R$ 9.999,00, ou o equivalente em dólares, sem declarar às autoridades, não comete crime. Portanto, quando a saída do indivíduo (portando os valores) for física, e o montante for de até R$ 10.000,00, não há evasão de divisas. Contudo, superado esse valor, há crime. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 8 Curso Ênfase © 2019 No que se refere especificamente ao dólar-cabo, a operação ocorre por transferência eletrônica, e quando não comunicada às autoridades, independentemente do valor, configura evasão de divisas. Isso porque, a fiscalização é mais difícil no meio eletrônico. Adiante, verifica-se que o princípio da insignificância não se aplica aos crimes de contrabando, senão vejamos: 1.8. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: RESP: 1735749 PR RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO DE CIGARROS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. INSURGÊNCIA PROVIDA. 1. Os Tribunais Superiores possuem entendimento consolidado de que o princípio da insignificância não se aplica aos crimes de contrabando de cigarros, por menor que possa ter sido o resultado da lesão patrimonial, pois a conduta atinge outros bens jurídicos, como a saúde, a segurança e a moralidade públicas. Precedentes do STF e do STJ. 2. Ao manter a rejeição da denúncia, por considerar insignificante a importação irregular de 290 (duzentos e noventa) maços de cigarros de origem e de procedência estrangeira (art. 334-A do CP), o acórdão impugnado dissentiu da jurisprudência sobre o tema. 3. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1735749 PR 2018/0088329-6, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 07/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/08/2018) Trata-se de julgado recente, de agosto de 2018, dispondo que o princípio da insignificância não se aplica aos crimes de contrabando de cigarros, e contrabando em geral. Isso porque, por menor que possa ter sido a lesão patrimonial, a conduta atinge outros bens jurídicos como a saúde pública, a segurança e a moralidade. Em suma, não se aplica o princípio da bagatela ao crime de contrabando, consoante entendimento pacificado no STJ e no STF. Ademais, verifique o julgado a seguir. 1.9. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: AGRG NO RESP 1729206 / PR PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. HABITUALIDADE DELITIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior entende ser incabível a aplicação do princípio da insignificância quando constatada a habitualidade delitiva nos crimes de descaminho, configurada tanto pela multiplicidade de procedimentos administrativos quanto por ações penais ou inquéritos policiais em curso. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1729206 / PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 9 Curso Ênfase © 2019 julgado em 07/08/2018, Dje 15/08/2018) O julgado preceitua que não se admite a aplicação do princípio da insignificância quando há habitualidade delitiva nos crimes de descaminho. Nesse sentido, o patamar de R$ 20.000,00, anteriormente citado, é considerado para um fato isolado. Desse modo, se o sujeito reitera (ou seja, há multiplicidade de procedimentos administrativos, ações penais ou inquéritos em curso) não é aplicado o Princípio. Aqui, o STJ entende que não há violação a Presunção de Inocência e que são indicativos de reiteração. Assim, por exemplo, se o sujeito pratica várias viagens ao Paraguai e traz mercadorias sem recolher o tributo devido, pratica descaminho várias vezes. Ainda que o montante não ultrapasse R$ 20.000,00. A reiteração delitiva afasta a insignificância, porque esta conduta carrega reprovabilidade social e periculosidade social do comportamento. Portanto, a questão patrimonial não é a única considerada, visto que a conduta atinge também outros interesses como a livre concorrência,, a economia popular, os consumidores e, por óbvio, o Fisco que não recolhe o tributo devido. Outrossim, analisemos outro caso a respeito do princípio da insignificância no tocante à posse de munição. 1.10.SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: HC 446915 RS [11] PENAL E PROCESSO PENAL. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO. NÃO CABIMENTO. POSSE DE MUNIÇÕES. AUSÊNCIA DE ARMA. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. PEQUENA QUANTIDADE DE MUNIÇÃO. AUSÊNCIA DE ARTEFATO. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. ENTENDIMENTO QUE NÃO PODE LEVAR À PROTEÇÃO DEFICIENTE. NECESSIDADE DE ANÁLISE DO CASO CONCRETO. POSSE DE 2 MUNIÇÕES DESACOMPANHADAS DE ARMA. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO, PARA ABSOLVER O PACIENTE. 1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. 2. Não há se falar em atipicidade em virtude da apreensão da munição desacompanhada de arma de fogo, porquanto a conduta narrada preenche não apenas a tipicidade formal mas também a material, uma vez que "o tipo penal visa à proteção da incolumidade pública, não sendo suficiente a mera proteção à incolumidade pessoal" (AgRg no REsp n. 1.434.940/GO, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de 4/2/2016). Nesse Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 10 Curso Ênfase © 2019 contexto, verifico que permanece hígida a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, bem como do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que a posse de munição, mesmo desacompanhada de arma apta a deflagrá-la, continua a preencher a tipicidade penal, não podendo ser considerada atípica a conduta. 3. Passou-se a admitir, no entanto, a incidência do princípio da insignificância quando se tratar de posse de pequena quantidade de munição, desacompanhada de armamento capaz de deflagrá-la, uma vez que ambas as circunstâncias conjugadas denotam a inexpressividade da lesão jurídicaprovocada. Precedentes do STF e do STJ. 4. A possibilidade de incidência do princípio da insignificância não pode levar à situação de proteção deficiente ao bem jurídico tutelado. Portanto, não se deve abrir muito o espectro de sua incidência, que deve se dar apenas quando efetivamente mínima a quantidade de munição apreendida, em conjunto com as circunstâncias do caso concreto, a denotar a inexpressividade da lesão. Com efeito, analisando os precedentes, verifico a insignificância se apresenta em situações nas quais se portava de 1 a 7 munições. Outrossim, a Quinta Turma já considerou que a apreensão de 20 projéteis não autorizava a aplicação do mencionado princípio. 5. A situação apresentada está mais próxima das hipóteses em que se reconheceu a possibilidade de incidência do princípio da insignificância, possuindo, assim, a nota de excepcionalidade que autoriza a incidência do referido princípio, porquanto apreendidos 2 cartuchos de calibre .40, desacompanhados de arma de fogo. 6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para absolver o paciente pelo crime tipificado no art. 12 da Lei nº 10.826/03. (STJ - HC: 446915 RS 2018/0093867-7, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 07/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/08/2018) ATENÇÃO: O julgado pontua que permanece hígida a jurisprudência do STJ, bem como do STF, no sentido de que a posse de munição, mesmo desacompanhada de arma apta a deflagrá-la, continua a preencher a tipicidade penal, não podendo ser considerada atípica a conduta. Contudo, passou-se a admitir, a incidência do princípio da insignificância quando se tratar de posse de pequena quantidade de munição, desacompanhada de armamento capaz de deflagrá-la, uma vez que ambas as circunstâncias conjugadas denotam a inexpressividade da lesão jurídica provocada Adiante, dispõe o julgado que a possibilidade de incidência do princípio da insignificância não pode levar à situação de proteção deficiente ao bem jurídico tutelado. Portanto, não se deve abrir muito o espectro da sua incidência, a qual deve se restringir àqueles casos em que for Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 11 Curso Ênfase © 2019 efetivamente mínima a quantidade de munição apreendida e, em conjunto com as circunstâncias do caso concreto, apure-se a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Desta feita, verifica-se que os Tribunais Superiores têm adotado um posicionamento mais rigoroso quanto à insignificância. Para mais, na decisão, pontua-se que tem sido admitida a incidência da Insignificância quando o agente porta de 1 a 7 munições. Entretanto, a jurisprudência não se vale de critério meramente matemático, analisam-se as circunstâncias de cada caso concreto. Acrescentou-se, ainda, que a Quinta Turma já considerou que a apreensão de 20 projéteis não autoriza a aplicação do princípio. Ademais, in casu, a situação se aproximava da possibilidade de incidência do princípio da insignificância, visto que o agente portava 2 cartuchos de calibre .40 desacompanhados de arma de fogo, atendendo, portanto aos critérios elencados pela jurisprudência do STJ. Restando, desse modo, absolvido o acusado.[12] Em essência, portanto, a jurisprudência admite a aplicação do Princípio da Bagatela no caso de (a) apreensão de pequena quantidade de munição, (b) desacompanhada de arma de fogo. Nesse contexto, deve-se ter atenção nas provas do CESPE: • Se a banca dispor sobre “apreensão de munição desacompanhado de arma de fogo” trata-se de fato típico; mas, • se referir a “apreensão de pequena quantidade munição desacompanhada do armamento, há aproximação à posição jurisprudencial e ao entendimento do STJ e do STF, sendo viável a aplicação do Princípio da Insignificância. Por fim, analise a questão da (não) aplicação do princípio da insignificância na importação de simulacros. 1.11. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: RESP: 1727222 PR RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO. IMPORTAÇÃO DE SIMULACRO DE ARMA DE FOGO. TIPICIDADE. ARTIGO 26 DA LEI N. 10.826/2003. BEM JURÍDICO TUTELADO. SEGURANÇA E INCOLUMIDADE PÚBLICAS. NÃO INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. 1. Nos termos do artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, são vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. 2. A importação de arma de brinquedo capaz de ser confundida com verdadeira configura o delito de contrabando, diante da proibição contida no artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, considerando os riscos à Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 12 Curso Ênfase © 2019 segurança e incolumidade públicas. 3. No crime de contrabando a tutela jurídica volta-se não apenas ao interesse estatal patrimonial, mas também à segurança e à incolumidade pública, de modo a afastar a incidência do princípio da insignificância. Precedentes. 4. Recurso provido. (STJ - REsp: 1727222 PR 2018/0045379-3, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 02/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/08/2018) Logo, o STJ fixou entendimento no sentido que, nos termos do artigo 26 da Lei de Armas, são vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de arma de fogo que com estas possam se confundir. Proíbe-se, portanto, a detenção de réplica, brinquedo ou simulacro hábil a gerar o risco de confusão com uma arma real. Entretanto, embora vedada pelo artigo 26, esta conduta não é criminalizada na Lei de Armas. Contudo, configura-se a prática do delito de contrabando, na medida em que há a importação de mercadoria proibida. . Em resumo, a importação de simulacro ou réplica de arma de fogo, que possa ser confundida com arma verdadeira caracteriza contrabando, pois tal conduta é vedada pela Lei de Armas. Todavia, reitere-se: • Não há criminalização da conduta pela Lei de Armas, a qual se restringe a proibir a prática; • não é contrabando de armas ou o tráfico de armas; • é contrabando genérico do 334 do Código Penal; Por fim, pontue-se que se trata de assunto muito importante para fins de prova, em especial para Delegado Federal. 2. NOTAS DE RODAPÉ [1] a decisão é recente. [2] . E essa lógica serve para outros delitos também. [3] Veja-se que o STJ não criou uma nova modalidade de reincidência, visto que o uso da expressão "multirreincidência" apenas indica que o agente é reincidente e tem várias condenações com trânsito em julgado. [4] Não pode ser considerado ínfimo, na medida em que representa mais de 20% do salário mínimo vigente na época, que era R$ 937. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula5 - Princípio da Insignificância 13 Curso Ênfase © 2019 [5] Nota do monitor: o professor pontua que tem as suas críticas em relação a essa decisão. [6] Houve certa resistência ao novo entendimento. [7] Para fins de execução. [8] Já que a Fazenda Nacional e a Procuradoria da Fazenda não executam esses valores, porque não compensa. [9] Nota do monitor: o professor reforça que a probabilidade de o tema ser cobrado em prova é alta. [10] Permitindo, por exemplo, que o agente faça uma série de transferências, sequencialmente, de valores ate R$ 10.000,00. [11] Nota do monitor: O professor ressalta que esse julgado é muito importante, e que se trata de decisão recente. [12] Nota do monitor: o professor relata que já fez defesa técnica de ré que foi presa portando mil cartuchos. E que, ainda que ela não estivesse com a arma, seria inviável a aplicação do Princípio da Insignificância.
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