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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PENAL - PARTE GERAL – MARCELO UZEDA AULA69 - TEORIA DA PENA PARTE12 1. TEORIA DA PENA - PARTE 12 1.1 PENA DE MULTA O professor já havia comentado na Aula 67 que, nos crimes, a pena de multa pode ser cominada cumulativa ou alternativamente com a pena privativa de liberdade ou PPL (primeira parte do art. 1º da Lei de Introdução ao CP ou Decreto 3.914/41): Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; (...) Por exemplo, pena de detenção, de três meses a um ano, e/ou multa: inexistente tal possibilidade. Na prevaricação (art. 319, CP), a pena de detenção é cumulada com a de multa: Prevaricação Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Na corrupção passiva privilegiada, a pena de multa é alternativamente cominada (§ 2º do art. 317, CP): § 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Logo, a pena de multa pode ser cumulada ou alternativa com a PPL nos crimes. Nas contravenções penais, pode ser cominada dessa maneira ou isoladamente (segunda parte do art. 1º da Lei de Introdução ao CP ou Decreto 3.914/41): uma distinção formal entre crime e contravenção penal: (...) contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. A pena de multa também pode ser utilizada na substituição da pena. O professor mencionou essa hipótese na substituição da PPL. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 2 Curso Ênfase © 2019 Trabalharemos o critério legal para a fixação da pena de multa (para a dosimetria desta), sendo ela cumulada ou alternativa, ou substitutiva da PPL. O que é a pena de multa? Primeira parte do caput do art. 49, CP: Seção III - Da Pena de Multa Multa Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença (...) Destinada ao fundo penitenciário. Antecipando uma questão importante: a pena de multa, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, é dívida de valor executada conforme as regras da execução fiscal (art. 51, CP): Conversão da multa e revogação (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.96) No entanto, originalmente, possui natureza de sanção penal – a pena de multa é sanção penal – e sua execução se dá conforme as regras da execução fiscal, se não paga voluntariamente. OBSERVAÇÃO! Mais adiante, o professor aprofundará a execução da pena de multa. 1.1.1 SISTEMA DE DIAS-MULTA Como a pena de multa é fixada? No sistema de dias-multa: segue o critério de dias-multa, adotado pelo CP (parte final da primeira parte do caput do art. 49, CP): (...) calculada em dias-multa. (...) A pena de dias-multa mínima é de 10 dias-multa e, a máxima, de 360 dias-multa (segunda parte do caput do art. 49, CP): (...) Será, no mínimo, de 10 e, no máximo, de 360 dias-multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 3 Curso Ênfase © 2019 Portanto, qual o valor mínimo de dias-multa? 10. Qual o valor máximo? 360. OBSERVAÇÃO! Pode haver uma multiplicação. O professor mostrará, posteriormente, como varia essa possibilidade, de acordo com a capacidade econômica do condenado. O sistema de dias-multa estabelece valor pago pelo condenado com o trânsito em julgado da sua sentença condenatória: a pena de multa não pode ser executada provisoriamente. Lembre-se que a execução provisória é permitida na PPL: a jurisprudência do STJ tem inadmitido na pena restritiva de direitos (PRD), bem como na pena de multa. Não obstante, o STF não diz que PRD pode ser executada provisoriamente? Trata-se de uma decisão da 1ª Turma. No entanto, as 5ª e 6ª Turmas do STJ (a 3ª Seção do STJ) afirmam que não cabe execução provisória de PRD. A mesma lógica aplica-se a pena de multa: a sentença condenatória deve transitar em julgado para ser executada. O STF admite a execução provisória de PRD, todavia, essa não é uma decisão do seu Plenário, mas da sua 1ª Turma. À vista disso, o STJ mantém sua divergência e a orientação da sua 3ª Seção se dá nessa linha: pela não execução provisória dessas penas. Na visão do STJ, a execução provisória só abrangeria PPL, visto que todo o discurso e toda a fundamentação adotada pelo STF – inclusive no tocante à autoridade das decisões judiciais – é a PPL. Sendo assim, não faz sentido a execução provisória dessas outras penas. O professor relembra tal contexto, pois, ainda hoje, o tema é polêmico - divergindo em parte o STF e o STJ quanto à execução antecipada da PRD, com o mesmo raciocínio se aplicando à pena de multa, sendo que, no STF, não há referência de execução antecipada de pena de multa até o momento. Se “sair” uma decisão, atualizaremos o material (ou seja, se houver alguma novidade no cenário jurisprudencial). Até o momento, é o que se tem no tocante à execução provisória da pena de multa. Voltando ao sistema de dias-multa, a pena de multa é estabelecida por essa unidade artificial e resulta da multiplicação do número de dias-multa (de 10 a 360) pelo valor dessa unidade. O valor do dia-multa varia entre 1/30 do maior salário mínimo mensal, vigente à época do fato, até 5 vezes esse salário (§ 1º do art. 49, CP): § 1º O valor do dia-multa será fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a 1/30 do Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 4 Curso Ênfase © 2019 maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato nem superior a 5 vezes esse salário. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) IMPORTANTE! O professor já se deparou com decisão – contra a qual recorreu e cujo recurso foi provido – do TRF2, aplicando o valor do salário mínimo vigente no momento da condenação. No entanto, é o valor do maior salário mínimo mensal vigente à época do fato e este é corrigido monetariamente (§ 2º do art. 49, CP): § 2º O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Deve ser respeitado o texto do § 1º do art. 49, CP, que faz referência ao valor do maior salário mínimo mensal vigente na data do fato, e não no momento da sentença. Caso contrário, configura violação da legalidade. A pena de multa é estabelecida de acordo com a capacidade econômica do condenado (caput do art. 60, CP): Critérios especiais da pena de multa Art. 60. Na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Conforme mencionado pelo professor, o valor do dia-multa é de 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, até 5 vezes esse salário (§ 1º do art. 49, CP). Multiplica-se essa unidade - o dia-multa - pela quantidade de dias-multa estabelecida pela sentença condenatória. Inclusive, pode ser triplicada (§ 1º do art. 60, CP): § 1º A multa pode ser aumentada até o triplo se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.84) O dispositivo em questão prevê que, ainda que a pena de multa seja aplicada no valor máximo, poderá, ainda, ser triplicada se evidenciar, pela condição econômica do condenado, que ela é ineficaz: se evidente a ineficácia da pena de multa diante do poderio econômico do condenado, poderá ser triplicada. Suponha-se que o juiz aplique 360 dias-multa (o máximo de dias-multa da pena de multa) e cada dia-multa equivalha 5 salários mínimos (valor máximo dessa unidade), totalizando 1.800 salários mínimos. Imagine, ainda, que o valor do salário mínimo seja R$ 1.000,00: sendo Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 5 Curso Ênfase © 2019 assim, o valor da pena de multa é R$ 1.800.000,00. O juiz pode triplicá-lo - regra do § 1º do art. 60, CP. Mesmo que a quantidade e o valor dos dias-multa sejam aplicados no máximo, a pena de multa pode ser triplicada – R$ 5.400.000,00 – se revelada ineficaz diante da capacidade econômica do condenado. Dependendo da condição econômica do condenado, pode ser interessante. Suponha-se, agora, o cálculo o mínimo. A quantidade mínima de dias-multa é 10 (parte inicial da segunda parte do caput do art. 49, CP) – ver-se-á que pode variar, também, de acordo com a pena; ver-se-á o critério para a fixação da quantidade de dias-multa e o que prevalece no STF e na doutrina é o trifásico: a posição majoritária aponta, como regra, seguir o critério trifásico –, o valor mínimo do dia-multa é de 1/30 do salário mínimo e o valor do salário mínimo era de R$ 900,00 no momento do fato. 1/30 do salário mínimo é R$ 30,00, que, multiplicados por 10 (dias-multa), resulta em R$ 300,00, atualizado e corrigido monetariamente (§ 2º do art. 49, CP). Logo, se a quantidade de dias-multa é a mínima (10) o valor do dia-multa é o mínimo (1/30 do salário mínimo) e o valor do salário mínimo é R$ 900,00. O valor da pena de multa é, portanto, R$ 300,00. Considera-se um bom valor para um condenado hipossuficiente, assistido pela Defensoria Pública: a quantidade mínima de dias-multa e o valor mínimo do dia-multa segue essa condição econômica. O professor expôs esses exemplos para visualizarmos como a pena de multa pode variar de R$ 300,00 a R$ 5.400.000,00. Observe a dimensão, como a dosimetria da pena de multa é extensa e há seus extremos. 1.1.2 DIA-MULTA Em suma, cada dia-multa = 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, no mínimo, e, no máximo, 5 vezes esse salário (§ 1º do art. 49, CP). O professor reforça, visto que já houve caso concreto em que fora aplicado valor errado: da data da sentença, o atual, mas é o do maior vigente na data do fato (§ 1º do art. 49, CP) e, posteriormente, se corrige monetariamente (§ 2º do art. 49, CP). Atualização monetária de acordo com o § 2º do art. 49, CP: no momento da execução da pena de multa, o valor desta é atualizado monetariamente. 1.1.3 MULTA SUBSTITUTIVA O professor já comentou o § 2º do art. 60, CP, ao abordar a substituição da pena: Multa substitutiva § 2º A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a seis meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 6 Curso Ênfase © 2019 Parte da doutrina entende que esse dispositivo teria sido revogado tacitamente pelo § 2º do art. 44, CP, pois este utiliza como critério a PPL de até um ano (PPL ≤ 1): se a PPL substituída é de até um ano (PPL ≤ 1), pode-se aplicar uma PRD ou uma multa (primeira parte do § 2º do art. 44, CP); se a PPL substituída é superior a um ano (PPL > 1), pode-se aplicar duas PRD ou uma PRD + uma multa (segunda parte do § 2º do art. 44, CP): § 2º Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 25/11/98) Isto posto, alguns concluíram que o § 2º do art. 60, CP, teria sido tacitamente revogado pelo § 2º do art. 44 , CP. Ledo engano. O professor concorda com o Professor Guilherme de Souza Nucci, que defender ser inexistente a revogação: trata-se de uma relação de especialidade entre as duas normas. Não há incompatibilidade entre elas, mas relação de especialidade. O professor já explicou, na Aula 67, como o § 2º do art. 60, CP, deve ser aplicado: quando crime for praticado com violência ou grave ameaça à pessoa. Crime violento inadmite substituição de pena pela regra do inciso I do art. 44, CP. No entanto, no § 2º do art. 60, CP, admite: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 25/11/98) I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 25/11/98) Desse modo, o rigor é maior quanto à PPL: até seis meses (PPL ≤ 6 meses), a PPL permite a substituição pela pena de multa, mesmo que exista violência. Claro que a PPL já é baixa (PPL ≤ 6 meses), mas uma ameaça (art. 147, CP), um constrangimento ilegal (art. 146, CP), uma lesão corporal leve (caput do art. 129, CP) admitem a substituição do § 2º do art. 60, CP, pela regra especial - mais rigorosa de um lado, porém, permite o delito violento ser alcançado pela benesse da substituição. 1.1.4 METODOLOGIA DE FIXAÇÃO DA QUANTIDADE DE DIAS-MULTA Como aplicar a pena de multa? Na AP 470/MG (Mensalão), publicada no Informativo 691, do STF, ficou estabelecida a tese de que o critério para a fixação da pena de multa é o mesmo da PPL: ou seja, a dosimetria da pena de multa segue o critério trifásico. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 7 Curso Ênfase © 2019 O Min. Lewandowski defendeu que existem três correntes doutrinárias que disputam o critério de fixação da pena de multa. A primeira, diz que o único a ser utilizado é o correspondente à situação econômica do condenado. Esse argumento é minoritário. Parte da doutrina sugere que o único critério para a fixação - tanto dos dias-multa quanto do valor da unidade “dia-multa” - é o econômico, visto que a pena de multa possui natureza pecuniária, logo, é pena pecuniária. Sendo assim, a condição econômica deve prevalecer. Portanto, primeira corrente: minoritária e o único critério é o da condição econômica do condenado, referindo-se aos artigos 60 e 49, ambos do CP; a condição econômica do condenado seria o único fator para a aplicação dessa pena. A segunda leva em consideração a culpabilidade do agente, porém, afasta agravantes e atenuantes, bem como causas de redução e de aumento de pena. Em outras palavras, a pena- base. Logo, o valor da pena de multa seria fixado conforme a pena-base. Quando se fala em culpabilidade, mas que afasta agravantes e atenuantes, e causas de aumento e de redução de pena, essa segunda corrente não segue o critério trifásico: segue, portanto, a pena-base. A pena de multa é aplicada de acordo com a culpabilidade: o equivalente à pena-base. Lembre-se que o professor já comentou a visão de alguns doutrinadores, os quais destacam que, quando o caput do art. 59, CP, fala em culpabilidade, ao invés de “,” (vírgula), leia-se “:” (dois pontos): Capítulo III - Da Aplicação da Pena Fixação da pena Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) O professor expôs esse comentário quando falou das circunstâncias judiciais. Esse é o entendimento de um setor minoritário da doutrina. Portanto, quando a segunda corrente é indicada pelo STF, quando fala-se em culpabilidade, refere-se às circunstâncias judiciais (dos critérios) do caput do art. 59, CP. Essa posição é, também, minoritária. A terceira corrente baseia-se na posição do revisor (Min. Lewandowski), do STF e da maioria da doutrina: é a majoritária. Segue-se o critério trifásico: o revisor aponta que este deve prevalecer, aduziu que essa posição encontraria embasamento na redação do art. 59, CP, e relevou que o inciso I do art. 59, do CP, estabelece, na primeira fase, a aplicação das penas cabíveis dentre as cominadas, sem distinguir a sanção corporal e a pecuniária: Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 8 Curso Ênfase © 2019 I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) A interpretação concedida por essa corrente segue a lógica de que o art. 59, do CP, fala das espécies de pena e não diferencia quanto à aplicação do critério trifásico no inciso II. O critério trifásico encontra-se referido nesse inciso: II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) A quantidade de pena de multa seguiria a mesma lógica. Em resumo, esse julgado foi a AP 470, na fase em que o Mensalão passou por alguns ajustes na dosimetria da pena e o posicionamento adotado pela Corte baseou-se na adoção do critério trifásico para a fixação da pena de multa. Qual parte? Referente ao número de dias-multa. AP 470/MG - 213 (...) Ensinou que haveria 3 correntes doutrinárias quanto à (...) fixação da quantidade de dias-multa. A primeira entenderia que o único critério a ser utilizado (...) seria (...) correspondente à situação econômica do réu. A segunda levaria em conta a culpabilidade do agente, porém, afastaria (...) agravantes ou atenuantes e as causas de aumento e diminuição da pena. A terceira, a qual o Revisor se filiaria, propugnaria que o julgador não poderia afastar-se do critério trifásico (...) para o cálculo das penas em geral. Aduziu que essa posição encontraria embasamento na redação do art. 59 do CP (...). Relevou que seu inciso I estabeleceria, na primeira fase da dosimetria, a aplicação das penas cabíveis dentre as cominadas, sem distinguir entre a sanção corporal e a pecuniária. AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 5 e 6.12.12. Suponha-se que o delito apresente pena de 1 a 5 anos (estelionato previdenciário: § 3º do art. 171, CP): Capítulo VI - Do Estelionato e Outras Fraudes Estelionato Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, de 500.000 réis a 10 contos de réis. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 9 Curso Ênfase © 2019 (...) § 3º A pena aumenta-se de 1/3 se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. A pena-base fora fixada em 2 anos: ou seja, o dobro do mínimo. Portanto, a pena de multa será fixada em 20 dias-multa: como o mínimo de dias-multa é 10, essa pena de multa será de 20 dias-multa - lógica adotada pelo STF. Imagine que, na pena intermediária, tenha “subido” metade e, ainda, que o condenado apresente diversas agravantes (reincidente, etc.). Logo, a pena irá para 3 anos e a pena de multa para 30 dias-multa. Na pena definitiva do estelionato previdenciário, aumenta-se a pena intermediária em 1/3: logo, a pena chega a 4 anos e a pena de multa irá para 40 dias-multa. Esse é o critério que a ser seguido, segundo o entendimento do STF, para fixar a quantidade de dias-multa. O valor do dia-multa varia entre 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente, ao tempo do fato, e 5 vezes esse salário (§ 1º do art. 49, CP), de acordo com a condição econômica do condenado (caput do art. 60, CP): fixa, portanto, a unidade. Quanto vale a unidade “dia-multa”? 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente, ao tempo do fato, e 5 vezes esse salário (§ 1º do art. 49, CP), conforme a condição econômica do condenado (caput do art. 60, CP). A quantidade de dias-multa segue o critério trifásico. Portanto, é uma combinação: estabelece-se o número de dias-multa e, posteriormente, com base na condição econômica do condenado (caput do art. 60, CP), o valor de cada unidade “dia-multa”. É assim que se observa, no dia a dia, como corretamente se aplica na esfera federal: seguindo a orientação do STF. Caso o candidato acredite, por exemplo, que deve seguir seguir somente a condição econômica do condenado, o professor ressalva que, em uma prova oral de Defensoria Pública – lembre-se: o examinador é um defensor público –, se questionada como aplica-se a pena de multa, o candidato pode responder que: Em que pese a orientação do STF e de uma boa parte da doutrina – que determina o critério trifásico para estabelecer o número de dias-multa –, acredito que o melhor entendimento é no sentido da capacidade econômica do condenado (caput do art. 60, CP) - tanto para fixar o número de dias-multa, como o valor de cada dia-multa. Desse modo, o candidato demonstra que sabe a corrente dominante (a posição do STF). O examinador requer que o candidato demonstre identidade com a instituição. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 10 Curso Ênfase © 2019 Se o candidato prestar concurso público para a AGU, o Direito Penal não é cobrado na prova oral: pode “cair” até a segunda fase. Sendo assim, em uma prova discursiva, redija esta resposta: O STF aponta três critérios: o primeiro é somente a condição econômica, o segundo é somente a pena-base e, o terceiro, o critério trifásico - posição do STF. Essa seria a resposta em uma prova discursiva, pois apresenta as orientações e o mais interessante para a instituição para a qual o candidato presta o concurso. 1.1.5 PRAZO DE PAGAMENTO Como se dá o pagamento da pena de multa? À luz da primeira parte do caput do art. 50, CP, deve ser realizado em dez dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória: Pagamento da multa Art. 50. A multa deve ser paga dentro de dez dias depois de transitada em julgado a sentença. (...) Transitada em julgado a sentença condenatória, o condenado é intimado para pagar a pena de multa. ATENÇÃO! Lembre-se que, no processo penal, os prazos são contados da data da intimação – Súmula 710 do STF –, e não da juntada do mandado. Significa que, transitada em julgado, expede-se mandado de intimação para que o condenado pague a pena de multa. Com o condenado pagando a pena de multa nesses dez dias, voluntariamente, ela é extinta: se paga a pena de multa, ela está extinta. O recolhimento se dá por meio de uma guia: na Justiça Federal, a Guia de Recolhimento da União (GRU). Paga a guia, recolhe-se o valor da pena de multa, junta-se a comprovação do pagamento e o juiz declara extinta a pena de multa, seja ela aplicada cumulativa ou isoladamente. Se isoladamente, extingue-se a execução da pena. O pagamento da pena de multa admite parcelamento (segunda parte do caput do art. 50, CP): (...) A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) O pagamento da pena de multa admite, também, “desconto em folha” (§§ 1º e 2º do art. 50, CP e § 1º do art. 169, LEP): Direito Penal - ParteGeral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 11 Curso Ênfase © 2019 § 1º A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado quando: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) a) aplicada isoladamente; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) c) concedida a suspensão condicional da pena. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) § 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o MP, fixará o número de prestações. Suponha-se que o condenado pretende pagar a pena de multa, no entanto, não pode fazê- lo de uma vez e solicita o parcelamento. Quando isso ocorre – condenado é intimado a pagar e, voluntariamente, se propõe a pagar e solicita parcelamento ou “desconto em folha” –, essa execução não caminha para a execução fiscal: permanece na execução da pena, no juízo criminal. 1.1.6 NATUREZA Se o condenado não paga a pena de multa, o art. 51, CP, faz referência a ela como dívida de valor: transitada em julgado a sentença condenatória, a pena de multa é considerada dívida de valor, para fins de execução fiscal, submetendo-se às regras específicas da Lei de Execução Fiscal (LEF: Lei 6.830/80). ATENÇÃO! Há divergência. A posição do STJ é tema já sumulado – Súmula 521 – e da execução penal. Dito isso, o professor não aprofundará, visto que, nesse momento, esse não é o objetivo do estudo. Contudo, na execução penal, o professor “mergulha” e aprofunda nesse caso. E se a pena de multa não for paga, nem houver pedido de parcelamento ou de “desconto em folha” (o legislador pretende recolher a pena de multa e o condenado pretende recolhê-la) dentro de dez dias após a intimação? Na visão do STJ, expede-se uma certidão comprovando que a pena de multa não foi paga e as peças são encaminhadas à Procuradoria respectiva. Na Justiça Federal, a Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN) executa pena de multa não paga voluntariamente. Na esfera estadual, encaminha-se para a Procuradoria Geral do Estado (PGE) ou para a Procuradoria Geral do DF (PGDF). Qual a polêmica quanto ao tema? O art. 51, do CP, teria revogado o art. 164 da LEP, que confere ao MP a titularidade para executar a pena de multa? Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 12 Curso Ênfase © 2019 O caput do art. 164, da LEP, prevê que a legitimidade é do MP: Capítulo IV - Da Pena de Multa Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá como título executivo judicial, o MP requererá, em autos apartados, a citação do condenado para, no prazo de dez dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora. Já o art. 51, do CP, diz que a pena de multa é executada seguindo as regras da dívida ativa. O STJ assentou entendimento, afirmando que a Procuradoria da Fazenda é legitimada: Súmula 521 - A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. (Súmula 521, 3ª SEÇÃO, julgado em 25/03/15, DJe 06/04/15) Há um caso no STF (ADI 3150), de relatoria do Min. Barroso, em que o mesmo impõe um critério intermediário: o Ministro alegou que, se a pena de multa não é paga e o MP não a executa, depois dessa omissão do MP é que a Procuradoria da Fazenda seria legitimada. Na verdade, Barroso possui entendimento híbrido. Para ele, a legitimidade é do MP: se este não executa no prazo de noventa dias – estabelecido na decisão –, é encaminhado à Procuradoria para ela executá-la (na Justiça Federal, a PFN). Trata-se de uma posição intermediária, divergindo da posição do STJ, na qual diz que a pena de multa é executada pela Procuradoria da Fazenda: ou seja, o STJ entende que o MP não é legitimado a executá-la. Todavia, conforme mencionado pelo professor, refere-se a um tema de execução penal e o objetivo, nesse momento, é trabalhar a aplicação da pena. O estudo do tema de execução, portanto, se dará em outro momento. 1.1.7 APLICAÇÃO DA MULTA NO CONCURSO DE CRIMES Por fim, o art. 72, CP, remete ao cúmulo material. Quando o professor apresentou o concurso de crimes, anotou que a pena de multa segue o critério do cúmulo material. O art. 72, CP, prevê que: Multas no concurso de crimes Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.84) Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula69 - Teoria da Pena Parte12 13 Curso Ênfase © 2019 Não se submetendo ao critério da exasperação, aplicado às PPL. Em resumo: se condenado em concurso de crimes em continuidade (crime continuado), a pena de multa é aplicada somando-se toda a cadeia delitiva, não aplicando o critério da exasperação. Como a pena de multa possui natureza diferente (pecuniária), quando houver concurso de crimes, submete- se ao sistema do cúmulo material - não ao da exasperação. Na próxima aula, o professor apresentará um novo novo tema e abordará sobre a extinção da punibilidade e suas causas - tema de extrema importância e com possibilidade de alta incidência em concursos da esfera federal.
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