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AULA 04 – PENAS PRIVATIVAS DE DIREITOS (CONTINUAÇÃO) E PENA DE MULTA 1. A prestação de serviços à comunidade: Art. 46 – CP: A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) § 1º A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. O legislador impôs um mínimo de seis meses de penas privativas de liberdade para a substituição pela prestação de serviços à comunidade, já que se trata de uma pena restritiva de direito extremamente desgastante para o réu e que gera uma obrigação diária. Exige-se, portanto, um padrão de gravidade da conduta (a qual tem como consequência uma pena de, no mínimo, 6 meses de privação de liberdade). § 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. Tal prestação de serviço à comunidade não gera remição nem remuneração. § 3º As tarefas a que se refere o § 1 o serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. Observa-se que o trabalho deve estar de acordo com as aptidões do condenado com o fito de manter a dignidade do interno (evitar que o trabalho represente um mecanismo de humilhação). Uma hora de tarefa por dia de condenação (almeja a evitar o desemprego). Destarte, se a sentença foi de três anos de prisão, ter-se-á três anos de serviço à comunidade. Tempo/duração da prestação de serviços à comunidade: · Regra geral: mesmo tempo da pena privativa de liberdade; · Exceção: caso aumente o número de tarefa por dia de condenação (ex: 1h e 30min por dia), os dias de prestação de serviços à comunidade serão reduzidos. Todavia, tal redução não pode ser superior a 50% do tempo que tem a cumprir (ex: 2h por dia = 50% de abatimento). § 4º Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Ex: 4 anos de prisão · 4 anos de prestação de serviço (1h/dia); · 2 anos de prestação de serviço (2h/dia); · 3 anos de prestação de serviço (1,3h/dia ou 1h e 18min/dia); · ... 2. Interdição temporária de direitos: Art. 47 – CP: As penas de interdição temporária de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O réu cumprirá o tempo de privativa de liberdade substituída. Como a interdição de direitos é temporária, reforça-se, assim, o princípio da não perpetuação das penas (não há pena perpétua no Brasil). A OAB impõe a sanção de excluir o indivíduo dos quadros da OAB no caso deste ser condenado por violência contra a mulher (inidoneidade). Se, após o cumprimento da pena, o indivíduo for aprovado novamente na OAB, surge mais uma problemática: ele pode integrar o quadro da OAB? Alguns defendem que não em virtude da sua má reputação, o que é inconstitucional já que o nosso ordenamento jurídico, como já citado, veda a pena perpétua. Para Daniela Portugal, a idoneidade não pode ser uma mancha eterna. I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - proibição de freqüentar determinados lugares. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos. (Incluído pela Lei nº 12.550, de 2011) No caso do inciso III, faz sentido, por exemplo, um indivíduo que foi condenado por crime de trânsito, ter a sua licença para dirigir suspensa como interdição temporária de direito. A luz do inciso IV, um torcedor que se envolve em uma briga de torcida no estádio, fica impedido de frequentar praças esportivas por x dias. O esquema de venda de gabarito pode conduzir a uma pena restritiva do indivíduo se inscrever, temporariamente, em um concurso ou exame público. 3. Limitação de fim de semana: Art. 48 – CP: A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Observa-se que a lei fala “sábados e domingos”, não contemplando feriados. Tempo: 5 horas diárias pelo tempo que durar a pena privativa de liberdade substituída. Local: casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. Constata-se, a luz do parágrafo único do artigo transcrito, o interesse em promover medidas para a reeducação e ressocialização do condenado. OBS: Lei especial pode também impor outras penas restritivas de direito para além do Código Penal, todavia, o juiz nunca pode fazer isso. 4. Pena de multa: No âmbito penal, a pena de multa pode ser aplicada: · Fixada cumulativamente com a pena privativa de liberdade ou · Alternativamente à pena privativa de liberdade; Exemplos: Não prevê pena de multa Art. 121, CP - Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Prevê a pena de multa cumulativamente com uma pena privativa de liberdade Art. 155, CP – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Prevê a possibilidade da escolha discricionária do juiz entre uma pena privativa de liberdade ou a aplicação de uma multa Art. 156, CP – Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Tem-se um sistema bifásico de dosimetria da pena de multa: · Quantidade de dias - multa: Proporcional à gravidade do delito; · Valor de cada dia-multa: Proporcional à capacidade econômica do réu; Depois multiplica-se a quantidade de dias-multa pelo valor de cada dia-multa. MULTA = Q x V Visa-se a proporcionar o mesmo impacto com a pena de multa. Exemplo: Um rico (A) e um pobre (B) praticam um crime em conjunto (coautoria) com contribuições semelhantes para o delito. Ambos foram condenados a pagar 20 dias-multa. Destarte, A pagará um valor muito mais considerável em comparação a B, como, a título exemplificativo, 5x Salário Mínimo e 1/30 Salário Mínimo, respectivamente. A ideia pautada na equidade almeja a que ambos gastem o mesmo período para quitar a dívida da multa. Por mais que o critério bifásico busque um sistema isonômico, na prática, nem sempre isso se verifica. Objetivo do legislador (dever-ser) x o que de fato acontece (ser). Quem determina a multa é o juiz de condenação. · Parâmetros legais para a fixação dos dias-multa: · 10 a 360 dias-multa; · 1/30 até 5x do Salário Mínimo por cada dia-multa; OBS: A gravidade delitiva será auferida a partir do sistema trifásico: circunstâncias judiciais,agravantes/atenuantes e causas de aumento/diminuição; · Exercício: A foi condenado por crime de furto a um ano de privação de liberdade e, cumulativamente, ao pagamento de 360 dias-multa no valor de 2x o salário mínimo cada. Considerando que o réu é pobre, acertou o magistrado? R: Não. Se a pena privativa de liberdade é um ano, a quantidade de dias-multa não pode ser 360 (número máximo). · Análise do art. 60 do Código Penal: Art. 60 – CP: Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Consoante o caput do art. 60 do Código Penal, a capacidade econômica do réu tem prioridade na dosimetria da pena. Deve-se, lendo essa norma, ter cautela nas provas objetivas com pensamentos autointuitivos. Lei especial poderá estabelecer critérios especiais para a dosimetria da pena de multa, ocasião na qual o Código Penal continuará sendo aplicado subsidiariamente. A título exemplificativo pode-se citar a Lei de Drogas, a qual impôs diferenças no que concerne a determinados crimes tanto no que diz respeito aos dias-multa quanto no que diz respeito ao valor por dia-multa. Art. 60, § 1º - CP: A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Vale ressaltar que o que se multiplica é o valor final e não o valor de cada dia-multa (permanece 5x SM e não 15x SM). O parágrafo transcrito discorre sobre a ineficácia da pena de multa, dialogando com o caput. · Pagamento: · Regra geral: Recolhido junto ao Fundo Penitenciário Nacional; · Exceções: Lei de Drogas – Fundo Nacional Antidrogas; · Prazo para pagamento: · Parcela única em até dez dias do trânsito em julgado da decisão condenatória. · Há a possibilidade de parcelamento, a qual deve ser requerida ao juiz e este analisará a situação econômica do réu. É possível, também, a ocorrência do abatimento antes do recebimento do salário, desde que respeitadas as seguintes hipóteses: · Aplicada isoladamente; · Aplicada cumulativamente com a pena restritiva de direitos; · Concedida a suspensão condicional da pena. OBS: Nas três hipóteses o agente não está cumprindo pena privativa de liberdade. Art. 60, § 2º - CP: O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. Examinando o parágrafo segundo do artigo 60 do Código Penal, constata-se a preocupação do legislador em garantir um “mínimo existencial” ao réu – expressão, por sinal, bastante questionada por doutrinadores como Miguel Calmon (o qual defende o emprego do termo “máximo existencial”). · Não pagamento injustificado: Outrora, o indivíduo era preso. Todavia, com a promulgação da CF/88 e a proibição da prisão por dívida, esse cenário mudou. Hoje, a execução da dívida gera intensos debates acerca do agente legitimado para promover a ação de execução (Fazenda Pública ou Ministério Público) e sobre em qual juízo o réu será processado (varas da Fazenda Pública ou vara de execução penal). Antes da Lei 13.964/2019 – Art. 51, CP: Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas de prescrição. Depois da Lei 13.964/2019 – Art. 51, CP: Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. Nesse contexto, faz-se importante destacar a súmula 521 do STJ. Súmula 521 - STJ: “A legitimidade para execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.” Todavia, tal súmula não pôs fim à discussão, já que o STF discordou do STJ, debate que será detalhado na próxima aula.
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