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Aula83 - Prescriºúo Parte2

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Curso	Ênfase	©	2019
DIREITO	PENAL	-	PARTE	GERAL	–	MARCELO	UZEDA
AULA83	-	PRESCRIÇÃO	PARTE2
Dando	continuidade	ao	estudo	da	prescrição	da	pretensão	executória,	passemos	à	análise
do	 Art.	 117,	 V	 e	 VI,	 do	 CP,	 o	 qual	 aborda	 as	 suas	 causas	 interruptivas.	 Pela	 visão	 do	 STJ,	 a
prescrição	da	pretensão	executória	tem	como	marco	inicial	o	trânsito	em	julgado	para	a	acusação.
Art.	117	-	O	curso	da	prescrição	interrompe-se:
[...]
V	-	pelo	início	ou	continuação	do	cumprimento	da	pena;
VI	-	pela	reincidência
Com	o	início	do	cumprimento	da	pena,	há	o	marco	interruptivo	da	prescrição	(Art.	117,	V),
ele	 será	 zerado	 e	 voltará	 a	 correr	 novamente.	 A	 prescrição	 também	 será	 interrompida	 pela
continuação	do	cumprimento	da	pena.
EXEMPLO:	 o	 sujeito	 fugiu	 e,	 com	 a	 fuga,	 a	 prescrição	 continua	 correndo.	 Após	 ser
capturado	e	ter	retomado	o	cumprimento	da	pena,	o	prazo	prescricional	será	interrompido.	Outro
fator	que	interrompe	a	prescrição	da	pretensão	executória	é	a	reincidência,	sendo,	portanto,	o	pior
efeito	secundário	da	pena.
Art.	117	[...]
§	 1º	 -	 Excetuados	 os	 casos	 dos	 incisos	 V	 e	 VI	 deste	 artigo,	 a	 interrupção	 da
prescrição	 produz	 efeitos	 relativamente	 a	 todos	 os	 autores	 do	 crime.	Nos	 crimes
conexos,	 que	 sejam	 objeto	 do	 mesmo	 processo,	 estende-se	 aos	 demais	 a
interrupção	relativa	a	qualquer	deles.
§	2º	 -	 Interrompida	a	prescrição,	salvo	a	hipótese	do	 inciso	V	deste	artigo,	 todo	o
prazo	começa	a	correr,	novamente,	do	dia	da	interrupção.	
A	ressalva	trazida	pelo	§1º,	do	Art.	117	é	referente	à	continuação	da	pena,	visto	que	se	o
sujeito	cumpriu	uma	parte	da	pena,	esta	parte	já	cumprida	é	extinta.	Portanto,	dado	o	momento
em	que	seu	cumprimento	for	retomado,	a	prescrição	será	calculada	com	base	na	pena	restante	a
cumprir,	bem	como	ocorre	na	situação	trazida	pelo	Art.	113,	do	CP.
1.	CAUSAS	SUSPENSIVAS	OU	IMPEDITIVAS	DA	PRESCRIÇÃO	(ART.	116,
PARÁGRAFO	ÚNICO,	DO	CP)
Art.	116	-	Antes	de	passar	em	julgado	a	sentença	final,	a	prescrição	não	corre:
[...]
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Parágrafo	 único	 -	 Depois	 de	 passada	 em	 julgado	 a	 sentença	 condenatória,	 a
prescrição	não	corre	durante	o	 tempo	em	que	o	condenado	está	preso	por	outro
motivo.
A	prescrição	será	suspensa,	caso	o	condenado	esteja	preso	por	outro	motivo,	visto	que,	de
tal	 forma,	 a	 pena	 não	 pode	 ser	 executada.	 Por	 este	 fator,	 a	 prescrição	 não	 correrá	 contra	 o
Estado,	haja	vista	que	esse	não	pode	ser	prejudicado	pela	impossibilidade	de	execução	da	pena,
em	razão	de	o	condenado	estar	preso	por	outro	crime.
Prevalece	 no	 STJ	 o	 entendimento	 no	 sentido	 de	 que	 o	 regramento	 trazido	 no	 Art.	 116,
parágrafo	único,	do	CP,	abrange	simultaneamente	aqueles	que	se	encontram	cumprindo	pena	em
regime	aberto,	prisão	domiciliar	ou	em	livramento	condicional.
"Dessa	 forma,	 encontrando-se	 o	 paciente	 cumprindo	 pena	 em	 livramento
condicional,	 o	 curso	 da	 prescrição	 da	 pretensão	 executória	 não	 teve	 início	 com	 o
trânsito	 em	 julgado	 para	 o	 ministério	 público,	 haja	 vista	 a	 existência	 de	 causa
impeditiva.	 (HC	 429.545/SP,	 QUINTA	 TURMA,	 julgado	 em	 24/04/2018,	 DJe
07/05/2018)."
2.	PRESCRIÇÃO	DA	PENA	DE	MULTA
Art.	114	-	A	prescrição	da	pena	de	multa	ocorrerá:
	I	-	em	2	(dois)	anos,	quando	a	multa	for	a	única	cominada	ou	aplicada;
	 II	 -	no	mesmo	prazo	estabelecido	para	prescrição	da	pena	privativa	de	 liberdade,
quando	a	multa	for	alternativa	ou	cumulativamente	cominada	ou	cumulativamente
aplicada.
O	 inciso	 I,	 do	 Art.	 114,	 do	 CP,	 ao	 mencionar	 o	 termo	 "única	 cominada"	 remete	 às
contravenções	penais.	Via	de	regra,	os	crimes	não	têm	pena	de	multa	aplicada	isoladamente,	no
tocante	ao	termo	"única	aplicada",	imagine	que	a	pena	era	alternativa	"detenção	ou	multa"	e	o
juiz	aplicou	a	pena	de	multa,	ou	substituiu	a	pena	privativa	pela	pena	de	multa.	Nessas	hipóteses,
conforme	visto	acima,	o	prazo	prescricional	será	de	02	(dois)	anos.
O	 inciso	 II,	 por	 sua	 vez,	 ao	 abordar	 acerca	 da	 pena	 de	 multa	 alternativa	 ou
cumulativamente	cominada,	se	refere	à	prescrição	em	abstrato,	sem	a	condenação,	a	prescrição
da	pena	de	multa	deve	ser	calculada	com	base	na	pena	privativa	de	liberdade,	de	igual	maneira
ocorre	quando	a	pena	de	multa	é	cumulativamente	aplicada	com	a	pena	privativa	de	liberdade,	ou
seja,	pena	em	concreto.
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Existe	um	questionamento,	visto	que	a	pena	de	multa	é	executada	como	dívida	de	valor	e
o	Art.	51,	do	Código	Penal,	estabelece	que	ela	tem	de	seguir	as	regras	da	Lei	de	Execução	Fiscal,
todavia,	o	STJ	se	manifestou	acerca	do	assunto	da	seguinte	forma:
"Esta	corte	Superior	de	Justiça	já	estabeleceu	que	prevalece	o	entendimento	de	que
a	nova	redação	do	Art.	51,	do	CP,	não	retirou	o	caráter	penal	da	multa.
Assim,	 embora	 se	 apliquem	as	 causas	 suspensivas	da	prescrição	previstas	 na	 Lei
6.830/80	 e	 as	 causas	 interruptivas	 disciplinadas	 no	 Art.	 174,	 do	 Código	 Tributário
Nacional,	O	 PRAZO	 PRESCRICIONAL	 CONTINUA	 SENDO	 REGIDO	 PELO	 ART.
114,	INCISO	II,	DO	CÓDIGO	PENAL"	(HC	394.591/AM	QUINTA	TURMA,	julgado	em
21/09/2017).	(AgRg	no	AREsp	1279188/ES,	SEXTA	TURMA,	julgado	em	22/05/2018,
DJe	04/06/2018.
O	STJ	 afirma	que	o	Art.	 51,	do	CP,	 versa	 somente	em	 relação	à	execução	da	pena	de
multa	e	não	 retirou	seu	caráter	de	sanção	penal,	portanto,	não	 revogou	o	Art.	114,	do	CP,	de
modo	que,	se	a	pena	de	multa	for	aplicada	cumulativamente	com	a	pena	privativa	de	liberdade,
em	que	pese	sua	execução	seguir	a	regra	da	execução	fiscal,	seu	prazo	prescricional	continuará
seguindo	o	disposto	no	Art.	114,	II,	do	CP.
Art.	118	-	As	penas	mais	leves	prescrevem	com	as	mais	graves.
As	 penas	 restritivas	 de	 direitos	 observam	 os	 mesmos	 prazos	 prescricionais	 das
penas	privativas	de	liberdade	(Art.	109,	parágrafo	único,	do	CP).	Ou	seja,	se	a	pena
restritiva	 de	 direito	 substitui	 a	 pena	 privativa	 de	 liberdade,	 a	 prescrição	 da	 pena
restritiva	acompanha	o	prazo	prescricional	da	pena	privativa	de	liberdade,	seguindo
a	lógica	de	que	as	penas	mais	leves	prescrevem	com	as	mais	graves.
EXCEÇÃO:	 O	 crime	 de	 porte	 de	 drogas	 para	 o	 consumo	 pessoal	 tem	 um	 prazo
diferenciado,	que	é	de	02	(dois)	anos,	posto	que	a	Lei	de	drogas,	no	Art.	30,	prevê	esse	prazo.
Levando	 em	 consideração	 que	 as	 penas	 cominadas	 no	 Art.	 28	 são	 restritivas	 de	 direitos	 e
prescrevem	no	prazo	de	02	(dois)	anos.
Na	hipótese	dos	crimes	ambientais	cometidos	por	pessoa	jurídica,	as	penas	previstas	para
esses	crimes	são	 restritivas	de	direitos	ou	pecuniárias.	Esse	é	um	caso	 interessante,	visto	que,
como	 analisamos,	 a	 pena	 restritiva	 substitui	 a	 pena	 privativa	 de	 liberdade.	 Surge,	 portanto,	 a
dúvida	de	como	calcular	o	prazo	prescricional	da	pena	de	multa	ou	restritiva	de	direitos	aplicadas
às	pessoas	jurídicas.	Acerca	do	tema,	o	STJ	se	manifestou	da	seguinte	maneira:
Omissa	 a	 lei	 ambiental	 acerca	 dos	 prazos	 prescricionais	 aplicáveis	 aos	 crimes
cometidos	por	pessoas	jurídicas,	a	teor	do	art.	79	do	referido	diploma	legal,	aplicam-
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se	subsidiariamente	as	disposições	do	Código	Penal	e	do	Código	de	Processo	Penal.
O	Art.	21,	§3º	da	Lei	9.605/98	(Lei	de	Crimes	Ambientais),	dispõe	que	às	pessoas
jurídicas	serão	aplicáveis	isolada,	cumulativa	ou	alternativamente	as	penas	de	multa,
de	restrição	de	direitos	ou	de	prestação	de	serviços	à	comunidade.
Podendo,	 portanto,	 no	 caso	 dos	 crimes	 ambientais,	 além	 da	 pena	 de	multa,	 ser
aplicada	 cumulativamente	medida	 restritiva	de	direitos,	 para	o	 cômputo	do	prazo
prescricional	 deve-se	 levar	 em	 consideração	 a	 disposição	 do	 Art.	 109,	 parágrafo
único,	do	Código	Penal,	 segundo	a	qual	antes	de	 transitar	em	 julgado	a	sentença
final,	 aplicam-se	 às	 penas	 restritivasde	 direito	 o	 mesmo	 prazo	 previsto	 para	 as
privativas	 de	 liberdade.	 (AgRg	 no	 RMS	 56.158/PA,	 Min.	 NEFI	 CORDEIRO,	 SEXTA
TURMA,	DJe	29/06/2018).
Na	Lei	de	Crimes	Ambientais	não	existem	crimes	exclusivos	de	pessoas	jurídicas,	os	crimes
vão	prever	penas	privativas	de	 liberdade	cumuladas	ou	alternativas	com	penas	de	multa,	e	as
penas	 aplicáveis	 às	 pessoas	 jurídicas	 são	 restritivas	 de	 direitos,	 prestação	 de	 serviços	 à
comunidade	e	multa.	De	modo	que	as	penas	privativas	não	são	aplicáveis	às	pessoas	 jurídicas,
ficamos	 sem	 essa	 referência.	 Todavia,	 o	 STJ	 determina	 que	 antes	 de	 transitar	 em	 julgado,	 as
penas	restritivas	seguem	o	mesmo	prazo	das	penas	privativas	de	liberdade.
Na	concepção	do	Prof.	Marcelo,	 as	penas	de	multa	 continuam	seguindo	a	 regra	do	Art.
114,	CP.	Com	 isso,	 caso	 seja	aplicada	a	pena	de	multa,	 isoladamente,	a	prescrição	 será	de	02
(dois)	 anos,	 tanto	 para	 a	 pessoa	 física	 quanto	 para	 a	 pessoa	 jurídica.	 Se	 a	 pena	 de	multa	 for
aplicada	alternativa,	cumulativamente	cominada	ou	cumulativamente	aplicada,	seguirá	a	mesma
sorte	 da	 pena	 privativa	 de	 liberdade.	 A	 pessoa	 jurídica	 não	 terá	 a	 pena	 privativa	 de	 liberdade
cumulativamente	 aplicada,	 apenas	 a	 pena	 de	multa	 e	 a	 pena	 restritiva,	 seguindo,	 portanto,	 o
critério	do	parágrafo	único	do	Art.	109,	do	CP.
3.	MEDIDAS	SOCIOEDUCATIVAS
De	acordo	com	o	STJ:
"A	prescrição	penal	é	aplicável	nas	medidas	socioeducativas"	(Súmula	338,	do	STJ)	e
a	 jurisprudência	 desta	 Corte	 Superior	 firmou	 a	 orientação	 de	 que,	 via	 de	 regra,
tratando-se	de	medida	socioeducativa	sem	termo	final,	deve	ser	considerado	para	o
cálculo	do	prazo	prescricional	da	pretensão	socioeducativa,	o	 limite	máximo	de	03
(três)	anos	previsto	para	a	duração	da	medida	de	internação	(Art.	121,	§3º,	ECA)
[...]
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Tal	lógica	é	utilizada	para	medidas	socioeducativas	sem	termo	final.	Caso	o	ECA	estabeleça
um	termo	final,	o	cálculo	da	prescrição	será	sobre	o	limite	legalmente	fixado.	Do	contrário,	será
considerada	a	pior	hipótese,	que	é	de	03	(três)	anos	de	internação.	Inserindo	esses	três	anos	na
tabela	do	Art.	109,	CP,	extrairemos	que	o	prazo	prescricional	será	de	08	(oito)	anos.	Devendo-se
aplicar	a	hipótese	de	 redução	 trazida	pelo	Art.	115,	o	qual	estabelece	que	o	prazo	prescricional
será	reduzido	pela	metade	no	caso	de	o	acusado	ser	menor	de	21	anos.
[...]	 Reconhecida	 a	 prática	 de	 ato	 infracional	 análogo	 ao	 delito	 do	 Art.	 33,	 da	 Lei
11.343/2006	-	cuja	pena	máxima	excede	o	limite	de	03	(três)	anos	estabelecido	para
a	medida	de	internação	-,	a	paciente	foi	submetida	à	medida	de	liberdade	assistida
pelo	prazo	mínimo	de	06	(seis)	meses	[...]
Como	a	pena	do	tráfico	de	drogas	é	de	05	(cinco)	a	15	(quinze)	anos,	portanto,	maior	que
o	 limite	 da	 internação,	 deve-se	 usar	 como	 critério	 os	 03	 (três)	 anos	 de	 internação,	 com	 a
prescrição	em	08	(oito)	anos,	reduzindo	pela	metade	o	prazo	prescricional	à	luz	do	Art.	115,	do	CP,
o	prazo	cai	para	04	(quatro)	anos.
Caso	o	delito	análogo	ao	ato	 infracional	 tenha	uma	pena	muito	baixa,	deve	ser	usada	a
pena	desse	delito.

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