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Lei 11

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16
 
 
 UNIVERSIDADE PAULISTA- CAMPINAS
 Faculdade de Ciências Jurídicas
 Campus Vitale
 Curso Direito
 LEI MARIA DA PENHA
 SUA HISTÒRIA, APLICABILIDADE E OS DESAFIOS ENFRENTADOS 
 Aparecida Cleres Becari
 Campinas
 2020
 
 UNIVERSIDADE PAULISTA- CAMPINAS
 Faculdade de Ciências Jurídicas
 Campus Vitale
 Curso Direito
 LEI MARIA DA PENHA
 SUA HISTÒRIA, APLICABILIDADE E OS DESAFIOS ENFRENTADOS 
 Aparecida Cleres Becari
 Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Paulista como requisito à aprovação da disciplina TCC
 Orientadora: Profa Dra. Fernando Henrique Cardoso
 Campinas
 2020
 Universidade Paulista
 Superintendência de Documentação
 Biblioteca da Faculdade de Direito
 Aparecida Cleres Becari
 LEI MARIA DA PENHA
 SUA HISTÒRIA, APLICABILIDADE E OS DESAFIOS ENFRENTADOS 
 Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Pulista UNIP 
Aprovada em ____ de __________ de 2020. 
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________________________
Prof,. Fernando Henrique Cardoso– Orientador 
 UNIVERSIDADE PAULISTA
_____________________________________________________________________________
 Prof. 
 UNIVERSIDADE PAULISTA
_____________________________________________________________________________
Prof. 
 UNIVERSIDADE PAULISTA
 À minha amada família e à minha doce princesa Eduarda.
 Amo você minha filha.
 AGRADECIMENTOS
Agradeço, inicialmente, à Deus por toda minha trajetória acadêmica , por toda força e por não ter deixado-me desistir
Agradeço à meus pais por toda dedicação e mesmo ausente Mãe sei que você se alegra com minha conquista. Sua força me deu forças para prosseguir.
À meu marido Nilton , pelo apoio.
À meus irmãos que sempre estiveram presentes e ajudaram como puderam. Amo vocês.
À meu primo vereador Paulo Galtério por todo apoio. Você foi essencial à minha conquista.
À minha amada filha Eduarda. Todo sacrifício e persistencia foram por você minha doce princesa.
À todos os professores , especialmente ao meu orientador Prof. Fernando Henrique Cardos por toda paciência e conhecimento., enriquecendo meus conhecimentos e experiências.
Agradeço também à todos os funcionários do Campus Vitale e do Campus Swift da UNIP por todo suporte necessário à minha caminhada, Toda minha saudade e minha gratidão.
 “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.”
Jean-Paul Sartre
 RESUMO
O respeito à igualdade entre homens e mulheres é primordial . Além de um direito fundamental é a garantia de uma sociedade mais justa e pacifica. A questão da igualdade material entre homens e mulheres esbarra em várias questões sócio-culturais que perpetuam as desigualdades entre os gêneros , fomenta a violência , a perpetuação do machismo e toda desigualdade sócio –econômica entre eles.
A discução se faz necessária uma vez que a desigualdade entre os gêneros é calcada em situações históricas que previlegiam o homem como provedor e detentor do poder.A aplicabilidade da Lei Maria da Penha encontra barreiras nesses mecanismos , baseados em uma sociedade machista e misógina , onde a mulher ocupa papel secundário.
Ha de se fazer a discussão necessária sobre a igualdade de gênero prevista em nossa Carta Magna, quebrando paradigmas históricos e machistas arraigados em nossa cultura.
A Lei Maria da Penha apresenta um marco imprtante nessa luta , principalmente por dar visibildade à violência contra a mulher e qualquer pessoa que se identifique com o gênero feminino. A luta é garnde mas obtivemos importantes vitórias nos campos jurídico, social , familiar, comunitário, porém ainda há um longo caminho a ser percorrido para que a igualdade de gêneros se efetive em sua plenitude.
O presente estudo se propõe a abordar a história da Lei, seus impactos, a resistência à sua plena aplicabilidade e os avanços conquistados e os pretendidos.
Palavras-chave: Violência, Machismo, Lei Maria da Penha, Igualdade de gênero
Abstract
Respect for equality between men and women is paramount. In addition to a fundamental right, it is the guarantee of a more just and peaceful society. The issue of material equality between men and women comes up against several socio-cultural issues that perpetuate inequalities between genders, foment violence, the perpetuation of machismo and all socio-economic inequality between them.
The discussion is necessary since inequality between genders is based on historical situations that favor man as a provider and holder of power. The applicability of the Maria da Penha Law finds barriers in these mechanisms, based on a sexist and misogynist society, where the woman occupies a secondary role.
The necessary discussion on gender equality provided for in our Constitution must be made, breaking historical and sexist paradigms rooted in our culture.
The Maria da Penha Law presents an important milestone in this struggle, mainly for giving visibility to violence against women and anyone who identifies with the female gender. The struggle is huge but we have achieved important victories in the legal, social, family, community fields, but there is still a long way to go before gender equality is fully realized.
This study proposes to address the history of the Law, its impacts, resistance to its full applicability and the achievements achieved and intended.
Keyword: Violence, Machismo, Maria da Penha Law, Gender equality
 Sumário
Capítulo I
1- O que é a Lei?
1.1- O que é a Lei
1.2- A Lei e a Constituição
1.3- Machismo e a violência contra a mulher
 1.3.1O direito de ir e vir e suas limitaçãoes
Capítulo II
2- Legislação 
2.1- Lei do Feminicídio
2.2- Surgimento da Delegacias da Mulher
Capítulo III
3-Conflitos
3.1- Quais os conflitos existentes?
3.2-Quais os embates atuais
3.3-O porquê da não efetividade e aplicação
Conclusão
Referências bibliográficas
Capítulo I 
1.1-Resumo histórico 
A construção de um novo marco legal contra os crimes de violência doméstica contra as mulheres, começou com o estudo realizado pela ONG CEPIA(2002) junto com representantes das organizações CFEMEA, AGENDE,ADVOCACI, CLADEM/BR e THEMIS, grupo que ficou conhecido como Consórcio de ONGs,cujo objetivo er apresentar uma propost a de adequação legislativa , baseada no art.226, § 8º da CF/88 e da Convenção de Belém do Pará..
Para tanto a metodologia usada foi:
“a) análise dos efeitos da aplicação da Lei nº 9.099/95 sobre os casos de violência doméstica; 
 b) análisede projetos em tramitação no Congresso e; 
 c) estudo comparado de leis especiais sobre violência doméstica, já existentes nos países latino-americanos”.
Como nos explica Calazans e Cortes (2011, p. 42): 
 “No balanço dos efeitos da aplicação da Lei 9.099/95 sobre as mulheres, diversos grupos feministas e instituições que atuavam no atendimento a vítimas de violência doméstica constataram uma impunidade que favorecia os agressores. Cerca de 70% dos casos que chegavam aos juizados especiais tinham como autoras mulheres vítimas de violência doméstica. Além disso, 90% desses casos terminavam em arquivamento nas audiências de conciliação sem que as mulheres encontrassem uma resposta efetiva do poder público à violência sofrida. Nos poucos casos em que ocorria a punição do agressor, este era geralmente condenado a entregar uma cesta básica a alguma instituição filantrópica.
 Os juizados especiais, no que pese sua grande contribuição para a agilização de processos criminais, incluíam no mesmo bojo rixas entre motoristas ou vizinhos, discussões sobre cercas ou animais e lesões corporais em mulheres por parte de companheiros ou maridos. Com exceção do homicídio, do abuso sexual e das lesões mais graves, todas as demais formas de violência contra a mulher, obrigatoriamente, eram julgadas nos juizados especiais, onde, devido a seu peculiar ritmo de julgamento, não utilizavam o contraditório, a conversa com a vítima e não ouviam suas necessidades imediatas ou não.”.
Sendo assim a Lei 9.099/95 mostra-se incompatível com realiade sofrida pelas mulheres além de de ser também incompatível com as disposições da Convenção de Belém do Pará e a violação dos Direitos Humanos, embora houvesse propstas pontuais de reforma da legislação em geral mas não contemplavam a prevenção e´proteçãqo integral da mulher..
O ante projeto elaborado pelo Consórcio de ONGs, segundo Calazans e Cortes(2011) contava com as seguintes propostas:
a. conceituação da violência doméstica contra a mulher com base na Convenção de Belém do Pará, incluindo a violência patrimonial e moral; 
 b. criação de uma Política Nacional de combate à violência contra a mulher; 
 c. medidas de proteção e prevenção às vítimas; 
 d. medidas cautelares referentes aos agressores; 
 e. criação de serviços públicos de atendimento multidisciplinar; 
 f. assistência jurídica gratuita para a mulheres; 
 g. criação de um Juízo Único, com competência cível e criminal através de Varas Especializadas, para julgar os casos de violência doméstica contra as mulheres e outros relacionados; 
 h. não aplicação da Lei 9.099/1995 – Juizados Especiais Criminais – nos casos de violência doméstica contra as mulheres
O anteprojeto foi apresentado em 2004 aà então Ministra da Secretaria Especial de Política para as Mulheres., instituindo um Grupo de Trabalho pelo Decreto nº 5.030/2004, com a finalidade de “elaborar proposta de medida legislativa e outros instrumentos para coibir a violência doméstica contra a mulher”. 
Participaram das discussões como convidados ou convocados para oitivas a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, representações de mulheres indígenas e negras, representantes da Magistratura, da Segurança Pública, do Ministério Público e da Defensoria Pública e um grupo de juízes integrantes do Fórum Nacional de Juizados Especiais (FONAJE). 
 
O Projeto de Lei foi recebido pela Câmara de Deputados sob o nº 4.559/04 em 25 de nopvembro de 2004 e O Projeto de Lei recebeu o nº 4.559/04 na Câmara dos Deputados. Foi distribuído para as Comissões de Seguridade Social e Família (Relatora: Deputada Jandira Feghali), Comissão de Finanças e Tributação (Relatora: Deputada Zulaiê Cobra) e Constituição, Justiça e de Cidadania (Relatora: Deputada Iriny Lopes). O projeto seguiu primeiro para a Comissão de Seguridade Social e Família, onde levou mais tempo para ser apreciado e votado, tendo em vista a opção dos integrantes da Comissão em ampliar o debate para a sociedade, mediante audiência pública nos estados. 
Sancionada em 2006 a Lei 11.340, leva o nome de Maria da Penha em homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de agressões brutais por parte de seu marido Marco Antonio Heredia Viveros, professor universitário durante os longos 23 anos de união. 
 Maria da Penha sofreu agressões físicas e psicológicas, além de duas tentativas de homicídio perpetradas pelo marido, sendo que na primeira tentativa foi atingida por tiro de espingarda que a deixou paralítica e na segunda tentativa, que ocorreu durante sua recuperação médica, o agressor derrubou-a da cadeira durante o banho e tentou eletrocultá-la. 
Maria da Penha tomou coragem para denunciá-lo e consegui, através de decisão judicial, sair de casa. Mas a batalha para condenar seu agressor estava apenas começando. 
Embora fosse julgado por duas vezes o caso permaneceu aberto devido às alegações de irregularidades por parte da defesa. 
Inconformada com a inércia do Judiciário, Maria da Penha formaliza denuncia junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Para tal teve ajuda do Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL)e do Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM). 
Com a formalização da denúncia houve o indiciamento do próprio Estado, uma vez que o país não dispunha de mecanismos eficientes que proibissem a violência contra a mulher. As acusações incluíram : omissão, negligência e tolerância ao agressor por parte do Estado . A Comissão recomendou a finalização do processo penal contra Marco Antonio. Com a solução do caso em 2002, o Brasil teve de se comprometer a reformular suas leis sobre violência doméstica e familiar. 
A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) foi decretada pelo então Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva em agosto de 2006, entrando em vigor no mês de setembro de 2006, sendo que essa lei é uma das três melhores legislações no mundo de enfrentamento à violência contra a mulher. 
“A violência contra as mulheres causa enorme sofrimento, deixa marcas nas famílias, afetando várias gerações, e empobrece as comunidades. Impede que as mulheres realizem as suas potencialidades, limita o crescimento econômico e compromete o desenvolvimento. No que se refere à violência contra as mulheres, não há sociedades civilizadas”. Kofi Annam – ex-Secretário-Geral da ONU
 
 
 
 
 
 
: 
 Em sua Ementa
“Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências”. 
 A lei inclui todas as pessoas que se identificam como do sexo feminino, tais como, heterossexuais, homossexuais e transsexuais, além de comtemplar as vítimas em situação de vulnerabilidade ao agressor, sendo ele companheiro, pai irmão ou qualquer um da convivência da vítima. 
São abrangidos pela lei não apenas os casos de agressões físicas ,mas também os de violência psicológica, afastamento de entes queridos, destruição de documentos e objetos, calúnia, difamação, ofensas etc. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2015 a Lei Maria da Penha conseguiu reduzir em 10% a projeção da taxa de feminicídio no país. 
A Lei tipifica a violência doméstica como violação dos Direitos Humanos, cujos crimes relacionados à ela são julgados em Varas Criminais, até a criação dos Juizados da Violência Doméstica contra a Mulher. 
Segundo a jurista Carmen Helen de Campos, o arquivamento massivo dos casos de violência doméstica, ocorriam, principalmente antes da Lei Maria da Penha, pelo fato dos casos de violência doméstica serem considerados de menor potencial ofensivo. 
 
 
1.2-A Constituiçãoe os Direitos da Mulher 
 
“Onde não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência dignam não forem asseguradas, onde não houver limitação de poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade e os direitos fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para dignidade humana e a pessoa não passará de mero objeto de arbítrio e injustiças.” (Ingo Sarlet – Juiz e Jurista brasileiro). 
“Desde a chegada dos portugueses à costa brasileira, a instalação das plantações de cana de açúcar e a importação de milhões de escravos africanos para trabalhar nos engenhos que se espalharam pelo litoral, a mulher no papel de companheira, mãe ou filha se destacou. No início não se tratava exatamente da mulher branca. Caramuru, na Bahia, unido a Paraguaçu, e João Ramalho, fundador de Santo André da Borda do Campo, casado com Mbici ou Bartira, deram o exemplo. (..) 
 A dispersão dos núcleos de povoação reforçou as funções da família no interior da qual a mulher era mantida enclausurada. Ela era herdeira das leis ibéricas que a tinha na conta de imbecilitas sexus: incapaz, como crianças ou os doentes. Só podia sair de casa para ser batizada, enterrada ou se casar. Sua honra tinha de ser mantida a qualquer custo. O casamento, quando havia bens a se preservar, era organizado para manter a paz entre vizinhos e parentes, estes últimos sendo os escolhidos com mais frequência como maridos. 
 Pobre ou rica, as mulheres possuíam um papel: fazer o trabalho de base para o edifício familiar – educar os filhos segundo os preceitos cristãos, ensinar-lhes as primeiras letras e atividades, cuidar do sustento e da saúde física e espiritual deles, obedecer e ajudar o marido. Ser, enfim, a “santa mãezinha”. Se não o fizesse, seria confundida com um “diabo doméstico”. Afinal, sermões difundiam a ideia de que a mulher podia ser perigosa, mentirosa e falsa como uma serpente. (...) O modelo ideal era Nossa Senhora, modelo de pudor, severidade e castidade. 
 A Soma dessa tradição portuguesa com a colonização agrária e escravista resultou no chamado patriarcalismo brasileiro. Era ele que garantia a união entre parentes, a obediência dos escravos e a influência política de um grupo familiar sobre os demais. Tratava-se de uma grande família reunida em torno de um chefe, pai e senhor, forte e destemido, que impunha sua lei e ordem nos domínios que lhe pertenciam. Sob essa lei, a mulher tinha de se curvar.” (Del Priore, Mary. Histórias e Conversas de Mulher. 1ª, ed, São Paulo: Planeta, 2013,
As Ordençãoe Filipinas, vigentes na época do Brasil Colônia tratavam a mulher como fracas de entendimento, portanto estando sujeitas ao poder disciplinar do pai ou do narido.. Segundo o Livro V, título 36, § 1° que eram isentos de pena aqueles que ferissem as mulheres com pau ou pedra, bem como aqueles que castigassem suas mulheres, desde que moderadamente .Os maridos também tinham o direito de matar suas mulheres em caso de adultério, bastando para isso que houvessem rumores públicos sem necessiade de provas robustas.
 Com a criação do Código Criminal de 1830 afasta os castigos e a morte de mulheres por adultério.Porém o adultério cometido pela mulher casada seria crime em qualquer circunstância enquanto que o homenm só seria culpado se hovesse prova pública e stável do adultério.
Sob a vigência dos Códigos de de 1890 e 1940 foram criadas duas figuras jurídicas para proteger os uxoricidas, noivos, namorados, maridos , que matavam suas companheiras: “ crimes de paixão” e “legítima defesa da honra” .
 
A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, caput, sobre o princípio constitucional da igualdade, perante a lei, nos seguintes termos: 
“Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.”... 
 
Apesar da Declaração dos Direitos Humanos ter mais de cinco décadas a expressão “os direitos das mulheres são direitos humanos” foi cunhada nos anos 90. 
A Constituição de 1988 traz em seu bojo o êxito da luta feminina ao garantir a isonomia jurídica de homens e mulheres, proibindo a discriminação no mercado de trabalho por motivo de sexo, protegendo, assim , a mulher com regras especiais, resguardando o direito das presidiárias amamentarem seus filhos, sendo a maternidade considerado direito social, planejamento familiar ser livre decisão do casal além de ser dever do Estado combater a violência doméstica, além de outras conquistas. 
No Brasil as Constituições de 1824 e 1891 asseguraram formalmente o pressuposto da isonomia. A Carta de 1934confere às mulheres direito de voto além da vedação expressa aos privilégios e distinção por motivo de sexo, sendo ainda, sob a égide do governo Vargas que se assegurou à gestante, o direito à assistência médica e sanitária antes e após o parto, sem prejuízo ao salário e emprego, tópico esse repetido nas Cartas de 1937, 1946 e 1967 que foi emendada em 1969. 
 
Segundo Maria Elizabeth Guimarães Teixeira:
“As determinações constitucionais, por sua vez, foram complementadas pelas Cartas Estaduais e pela legislação infraconstitucional, dentre as quais se destacam o novo Código Civil que operou mudanças substanciais na situação feminina; a Lei no 8.930/94 que incluiu o estupro no rol dos crimes hediondos; a Lei no 9.318/96 que agravou a pena dos crimes cometidos contra a mulher grávida; a Lei no 11.340/06 – a famosa Lei Maria da Penha – que penaliza com efetividade os casos de violência doméstica e a da lei do feminicídio – a Lei no 13.104, promulgada em 9 de março de 2015. São normas que ilustram os significativos avanços operados na proteção dos direitos fundamentais femininos no cenário da história legislativa pátria.” 
No plano internacional, paralelamente, tratados sobre os Direitos Humanos foram firmados tais como: Convenção sobre a Eliminação de Todas Formas de Discriminação contra a Mulher, da ONU, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida por Convenção do Belém do Pará, da OEA entre outras. 
Portanto o Brasil vem adotando, tanto na ordem jurídica interna quanto na internacional, medidas legislativas em favor das mulheres.
O conceito de igualdade , na Constituição , prevê o tratamento isonômico dos cidadãos e a iguladade de aptidões e possibilidades, sendo vedadas as diferenciações arbitrárias não justificáveis pelos valores da Constituição Federal, limitando, assim,a liberdade do legislador, autoridade pública e do particular.
Ta princípio ncontra-se , por exemplo, no art. 4°, inc. VII que dsipõe sobre a iagualdade racial, no art.5°, inc. I que dispõe da igualdade entre os sexos, no mesmo art. Inc. VIII que trata da iagualdade de credo e religião entre outros.
 O princípio da iagualdade consagrado pela nossa Carta Magna trabalha em duas vertente: perante a lei e na lei. Perante a lei a igualdade se manifesta no dever de aplicar o Direito ao caso concreto e na lei pressupõe que as normas jurídicas não devem conhecer distinções, salvo as autorizadas pela Constituição.
“O princípio da igualdade consagrado pela constituição opera em dois planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio Poder Executivo, na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórias, impedindo que possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que se encontram em situação idêntica. Em outro plano, na obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça e classe social. (MORAES, 2002, p. 65).[2]” 
Ainda segundo Nery Júnior:
 “ O princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de formadesigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. (NERY JUNIOR, 1999, p. 42)”
O principio da igualade previsto no art. 5° da Constituição é norma de eficácia plena assegurando a todos tratamento igual perante a leialém de igualade material ou substancial.Yal tratamento independe de sexo, raça, cor classe socila, situação econômica ou convicções ploticas e religiosas.
A Constituição Federal de 1988 foi um marco imprtante para atransição demcrática no país. Conhecida como Cosntituição Cidadã trouxe o reconhecimento dos direitos individuaís e sociais das mulheres. Na legislação infraconstitucional eraq imperios revogar leis, normas expressões discriminatórias contar as mulheres bem como editar norma jurídica específica para tratar da violência contar a mulher, sendo que essa conduta não poderia mais ser tratada pela norma geral com caráter meramente punitivo-repressiva.
Nessa diapasão foram publicadas: Lei Lei 10.406/2002, a Lei 10.886/2004 e a Lei 11.106/2005 que alterarm tanto o Código Civil quanto o Código Penal, dando tartamento diferenciado e não discriminatório à mulher.
A Lei 11.340/2006 vem coroar esse processo não apenas reprimindo e punindo mas principalmente buscando a prevenção e erradicação da violência de gênero.
 ”A participação das mulheres no processo constituinte foi de grande repercussão na história político-jurídica do país. Com o lema “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, em 1985, criou e divulgou a campanha Mulher e Constituinte, a qual mobilizou uma série de debates entre as mulheres, por todo o Brasil, e resultou na elaboração da Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes, que foi entregue ao Congresso Nacional, no dia 26 de agosto de 1986, por mais de mil mulheres. (MONTEIRO, 1998).
O Brasil abrigou em seu bojo jurídico as recomendações da Convenção Interamericana para Prevenir , Punir,e Erradicar a Violência contra a Mulher-Convenção de Belém do Pará, comprometendo-se a incluir em sua legislação interna normas civis admistrativas visando prevenir , punir e erradicar a violência conta a mulher além de modificar e abolir leise práticas jurídicas ou costumeiras que respaldassem a persistência ou tolerância da violência contra a mulher.
A Convenção é um marco sobre o combate à violência conta a mulher e um grande avanço na conquista da emancipação mulher conforme preconiza em sei art. 1°:
Artigo 1º. A violência, para os efeitos da lei, é aquela contra a mulher, seja em decorrência de uma ação ou omissão que encontre base no gênero (gênero masculino e feminino), criação de natureza social, não biológica), que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, de dano moral ou patrimonial, desde que realizada no âmbito da unidade doméstica, ou seja, o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas, ou no âmbito próprio da família, como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa, e por último, sempre independentemente de orientação sexual, também se compreende as decorrentes da relação íntima de afeto quando o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida.
A igualdade entre homens e mulher foi tardiamente contemplada pelo Direito Internacional, surgindo apenas em 1945, na Carta da ONU. Surgiram, posteriormente, a Declaração Universal de Direitos Humanos e o Pacto de Direitos Civis e Políticos, instrumentos internacionais que vedaram a discriminação sexista. A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de 1953, dirigiu atenção especial para o aspecto político da discriminação histórica das mulheres. (HIRAO, 2007, p. 754).[5]
Outra importante Convenção é a Convenção sobre A Eliminaçãode Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), que conceituou pela primeira vez o que é discriminação contra a mulher explicitada em seu art. 1°:
“Artigo 1°. Para fins da presente Convenção, a expressão “discriminação contra a mulher” significará toda distinção, e exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.”
Segundo Denise Hirao:
 “[...] Relembrando que a discriminação contra a mulher viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas mesmas condições que o homem, na vida política, social, econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para prestar serviço a seu país e à humanidade.”
A igualdade entre homens e mulher foi tardiamente contemplada pelo Direito Internacional, surgindo apenas em 1945, na Carta da ONU. Surgiram, posteriormente, a Declaração Universal de Direitos Humanos e o Pacto de Direitos Civis e Políticos, instrumentos internacionais que vedaram a discriminação sexista. A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de 1953, dirigiu atenção especial para o aspecto político da discriminação histórica das mulheres. (HIRAO, 2007, p. 754).
Ainda segundo a CEDAW cumpre destacar seu art.16 ao qual o Brasil após ratificar o tratado em 1° de fevereiro de 1984 apresentou restrições.Trancrevemoaqui o artigo
 Artigo 16
1. Os Estados-partes adotarão todas as medidas adequadas para eliminar a discriminação contra a mulher em todos os assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e, em particular, com base na igualdade entre homens e mulheres, assegurarão:
a) o mesmo direito de contrair matrimônio;
b) o mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de contrair matrimônio somente com livre e pleno consentimento;
c) os mesmos direitos e responsabilidades durante o casamento e por ocasião de sua dissolução;
d) os mesmos direitos e responsabilidades como pais, qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes aos filhos. Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a consideração primordial;
e) os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente sobre o número de seus filhos e sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à educação e aos meios que lhes permitam exercer esses direitos;
f) os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à tutela, curatela, guarda e adoção dos filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos existirem na legislação nacional. Em todos os casos os interesses dos filhos serão a consideração primordial;
g) os mesmos direitos pessoais como marido e mulher, inclusive o direito de escolher sobrenome, profissão e ocupação;
h) os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de propriedade, aquisição, gestão, administração, gozo e disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título oneroso. (CFEMEA, 2007, on-line).
A Convenção define ainda três áreas de abrangência da violência contra a Mulher:
· -a violência no âmbito familiar ou doméstico, ou em relação interpessoal onde o agressor compartilhe ou tenha compartilahdo ou não sua residência , incluindo-se entre outras formas de violência o estrupo, abuso sexual, tortura física ou psicológica;
· --a que ocorre no âmbito comunitário, violência essa cometida por qualquer pessoa, incluindo o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de pessoas, prostituição forçada, seuqestr, assedio sexual no trabalho, instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local, 
· -e a violência praticad ou permitida pelo Estado por meio de seus agentes onde quer que ocorra.
As dua Convenções são de importtância impar pois segundo Piovesan:
 Essas convenções apontaram tambémpara a necessidade de proteção e garantia do direito das mulheres à igualdade no casamento, à propriedade, à liberdade de exercerem qualquer ofício ou profissão, de se expressarem, participarem da política e da economia, em patamar de igualdade com os homens. (PIOVESAN, 2004).
1.3-Machismo e a violência contra a mulher
No âmbito histórico-sociológico as civilizações sempre impuseram um a posição de inferioridademulheres baseadaem leis discriminatórias e exclusivistas que, como instrumento , serviram para consolidar a desigualdade e assimetria na relação enter homens e mulheres, sendo que o próprio movimento dos direitos humanos ignorou durante muito tempo as reinvindicações do feminismo em prol da participação política, igualdade no trabalho, educação , abortoe sexualidade das mulheres entre outras reinvindicações. A questão das mulheres foram tratadas de forma secundária durante muto tempo, como se todassuas lutas , conquistas e direitos fossem atrelados aos dos homens.
O homem sempre foi tratadocomo paradigmados direitos humanos em detrimento dos direitos e lutas de outros etores sociais mais vulnurárveis como as mulheres, crianças, idosos, indígenas, negros , migrantes, homossexuais, trasngêneros, transexuais, deficientes físicos e mentais.
A ONU, no ano 2000 deu um importante passo ao reconhecer a importância da promoção da igualdade entre homens e mulheres, atarvés do Relatório de Direitos Humanos concluindo que a discriminação histórica contra amulher causa impacto negativo no crescimento econômico e social nos paises e no mundo.
O  princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. (NERY JUNIOR, 1999, p. 42). 
Faz-se necessário um resumo da sociedade machista para que se entenda a “cultura “ da violência contra a mulher.
O machismo é um pensamento baseado em um modelo patriarcal inserido culturalmente no mundo desde que o conceito de família se consolidou como instituição na Roma Antiga. A família romana tinha no homem o líder e autoridade máxina sobre os membros da família , escravos e vassalos. O poder do patriarca conferia à ele o direito de vida e morte sobre esposa, filhos e servos.
O patriaracado é uma forma de organização social que vai além da família , na qual as mulheres são subordinadas aos homens eos jovens subordinados aos hoemns mais velhos, os patriarcas da comunidade. È caracterizadao pela supermacia masculina, depreciação da figura feminina cuja atribuição de procriação como principal função da mulher, tendo raízes na Grécia Antiga onde a mulher era considerada coisa e não pessoa, perpetuando-se em diversas culturas ao longo da história, como por exemplo uma tribo na atual Escandinávia em que o valor da mulher era baseado na quantidade de filhos.
Apesar da evolução dedes então , a relação que prevalece na sociedade atual em relação a homens e mulheres continua desigual. 
Um dos pilares de sustentação do machiemo é a esteriot´pação de gênero, que nada mais é do que um conjunto de crenças sobre os atributos pessoais considerados adequados às mulheres e aos homens.
O machismo é uma forma de sexismo, atitude discriminatória baseada no sexo ou gênero de uma pessoa.Porém há uma forma mais grave de machismo, a misoginia , que é o ódio e o desprezo à condição de mulher. Ambos são profundamente prejudiciais à nossa sociedade e baseada nesses conceitos a violência contra a mulher sempre grassou em nosso meio como uma atitude tolerável, porém já não se admita esse comprtamente em nossos dias, embora seja necessária , ainda muita luta e conscientização por parte tanto dos homens quanto das mulheres.
A visão jurídica tem sofrido profundas alterações visando a igualdade de homens e mulheres .
Se faz necessária uma reflexão sobre como o machismo é prejudicial às mulheres e aos próprios homens e buscarmos a iagualdade de gênero como uma coisa benéfica à todos. O envolvimento dos homens, respeitando sempre o protagonismo feminino , nesse movimento, se faz necessário.
Infelizmente o machismo se encontra no cerne dos casos de violência doméstica e feminicídio no país.O machista, consiente ou não, crê na inferioridade da mulher e que é é o lider superior , a autoridade que não deva ser contestada.
A maioria dos casos de violência ou feminicídio ocorre após a mulher tomar alguma atitude que confronte a vontade do parceiro.
E o machismo está tão arraigado em nossa cultura que ainda é difícil a mulher perceber que é vítima de relacionamento abusivo.
Era comum as mulheres, quando conseguiram o direito ao voto, por exemplo, votarem no candidato do pai ou do marido, pois não se aperceberam da sua autonomia para escolher seu candidato.
A cultura da violência contra a mulher , no Brasil,tem como um exemplo dessa trivialidade o samba” Mulher de Malandr”, lançado em 1931 por Francisco Alves, o maior cantor da época. A música de grande sucesso dizia:
 “Mulher de malandro sabe ser / Carinhosa de verdade / Ela vive com tanto prazer / Quanto mais apanha / A ele tem amizade / Longe dele tem saudade”
Outra “pérola” é a música “ Ai que saudade da Amélia” de Ataulfo Alves
 “ As vezes passava fome ao meu lado/ E achava bonito não ter o que comer/E quando me via contrariado dizia/Meu filho que se há de fazer/Amélia não tinha a menor vaidade/Amélia que era mulher de verdade”.
O principal fundamento do machismo é a idéia de que o homem é superior à mulher.
O machismo enquanto sistema ideológico oferece modelos de identidade, tanto para o elemento masculino como para o elemento feminino : Desde criança, o menino e a menina entram em determinadas relações, que independem de suas vontades, e que formam suas consciências: por exemplo, o sentimento de superioridade do garoto pelo simples fato de ser macho e em contraposição o de inferioridade da menina (DRUMMONTT, 1980, p.81).
1.3.1O direito de ir e vir e suas limitaçãoes
Segundo pesquisas 57% das mulherees não se sentem à vontade para andar na rua, uma atiividade banalem nossas vidas. Mesmo em outras atividades , tais como andar de táxi, uber ou transporte público as mulheres não se sentem confortáveis .
O direito de ir e vir da s mulheres é limitado por várias atitudes machistas “inofensivas” tais como as cantadas, a maioria gorsseiras, comentários sobre seus corpos , assédio sexual no trabalha, imortunação sexual no transporte público entre outros.
O dia 25 de novembro é celebrado como o Dia Internacional para a Eliminação da Violênciqa contra as Mulheres. No Brasil tem havido o crescimento do debate sobre a violência e assédio em espaços públicos , devido , especialmenteàs denuncias feitas pelas mulheres sobre assédio e estupros sofridos dentro do transporte público.
Segundo Marcelo Montenegro;
“Pomover o acesso das mulheres a um transporte público de qualidade é promover o acesso à serviços e oprotunidades de emprego, educação, saúde e lazer, garantindo melhores codições de vida e , em última instância , igualdade de gênero”
 Segundo pesquisas e gráficos feitos por Artigo 19.org em seu relatório “Violência Contra as Mulheres no Brasil temos:
Outra questão que limita o direito de ir vir das mulheres é a objetificação do corpo feminino e incentiva a violência sexual. Por objetificação entendemos a banalização da imagem da mulher , ou seja, a aparência da mulher importa mais doq os demais aspectos que definem as mulheres enquanto indivíduo.
Um exemplo clássico da objetificação da mulher são as campanhas publicitáriasa , principalmente as de cerveja onde as mulheres são estereotipadas e hipersexualizadas. Em pesquisas do nstituto Patrícia Galvão e Instituto Data Popular 84% dos entrevistados concordam que o corpo da mulher é usado para a venda de produtos nos comerciais de TV e 58% entendem que a mulher é representada como objeto sexual nas campanhas..
A sociedade patriaracal entende o homem como provedor e a mulhercomo sua dependente. O “contrato de troca” previa as mulheres deveriam cuidar dos afazeres domésticos e satisfazerem sexualmente os maridos pelo simples fato de serrem sustentadas por ele.
 Aobjetificação da mulher apresenta consequea~encias danosas tais como a estereotipificação da mulher estabelecendo padrões estéticos irreais. Vemos mulherees sendo hostilizadas no ambiente familiar e profisssional por causa do peso, altura, cabelo, depilação, formato do corpo edemais aspectos físicos .
A objetificação stá intimamente ligada à função da mulher enquanto mero objeto de prazer sexual masculino.
Tal comportamento reflete-se na cultura do estupro onde a mulher é a culpada da violência , seja pelas roupas, atitudes, profissões.
Direito á Expressão
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ratificado pelo Brasi , afirma em seu item 3, artigo 19, que o exercício da liberdade de expressão "implicará deveres e responsabilidades especiais" e, dessa forma, "poderá estar sujeito a certas restrições", no sentido de "assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas
No Brasil, o discurso machista e misógino impede a livre expressão das mulheres , pois ao externar suas opiniões são alvos de comentários negativamente críticos, depreciativos e inferiorizantes quanto à sua condição e capacidade.
Portanto esse direito não é absoluto uma vez que necessita de restrições principalmente ao diálogo machista e misógino.
As mulheres tem conquistado cada vez mais o seu direito de expressão, seja través da arte, da música, da fala e de toadas as formas de expressão
Canção das mulheres 
 
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. 
 
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. 
 
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. 
 
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. 
 
Que se eu faço uma bobagem, o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. 
 
Que se estou apenas cansada, o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. 
 
Que o outro sinta quanto me dói a ideia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida. 
 
Que se estou numa fase ruim, o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!'' 
 
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize. 
 
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire. 
 
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso. 
 
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo, se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher. 
 
(Lya Luft)
Capítulo II
2-Legislação 
Segundo o art.5º, inciso I, o direito a igualdade de gênero foi estabelecido na CF/88, com fulcro no princípio da isonomia entre homens e mulheres. Com a adesão do Brasil, em 2002 à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), que veda qualquer tipo de distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo, determinando políticas públicas de inclusão, como destaca Pimentel(s/d, p.20)
 Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo 
O Protocolo Facultativo da CEDAW foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1999. Até fevereiro de 2002, 73 países já o haviam assinado – dentre eles o Brasil – e 31 países já o haviam ratificado. O Governo brasileiro assinou o Protocolo Facultativo à CEDAW em março de 2001 e, em 2002, ratificou-o”. In: PIMENTEL, Silvia. Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. Cedaw 1979, pp. 17-18. Disponível em: http://compromissoeatitude.org.br/wpcontent/uploads/2012/08/SPM2006_CEDAW_portugues.pdf. 12
Artigo 2º - Os Estados-partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal objetivo se comprometem a: a) consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas Constituições nacionais ou em outra legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei outros meios apropriados à realização prática desse princípio; 
b) adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação contra a mulher;
 c) estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher em uma base de igualdade com os do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra todo ato de discriminação; 
d) abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a mulher e zelar para que as autoridades e instituições públicas atuem em conformidade com esta obrigação;
 e) tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa;
 f) adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam discriminação contra a mulher; 
g) derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam discriminação contra a mulher. 
A cescente valorização da igualdade entre homens e mulheres, baseado na primazia dos direito humanos, nos leva a discussão da problematização do gênero, sendo que pretende demosntrar e compreender a aceitação natural de aspectos sociais e comportamentais associados culturalmente aos homens e às mulheres. Tal constatação nos mostra que a existencias das atribuições femininas e masculinas , frutos de uma construção social, estão tão profundamente arraigados , por terem sido absorvidos psioclógico e socialmente, como produtos da essência do corpo ou da natureza do sexo.
Sobre isso Heilborn nos diz:
A Antropologia tem chamado a atenção de que estas realidades são apenas aparentes. Trata-se de uma ilusão de que compartilhamos com os outros seres humanos uma mesma condição fundada na existência do corpo, do sexo, no sentido 13 de existirem machos e fêmeas, e da sexualidade. Na verdade, isso passa sempre e necessariamente por uma simbolização, por uma construção cultural e social específica. (HEILBORN, 1997, p. 01)
Desde 2003 vem sendo lançado pelo Governo Federal o Plano Nacional de Política para Mulheres, realizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, que ao traçar planejamentos e metas específicas para a redução das desigualdades de gênero nas mais diversas áreas, tendo como fundamento o princípio da transversalidade, conforme destacado: 
 Sabemos que as práticas patriarcais seculares enraizadas nas relações sociais e nas diversas institucionalidades do Estado devem ser combatidas no cotidiano de maneira permanente. A busca pela igualdade e o enfrentamento das desigualdades de gênero fazem parte da história social brasileira, história esta construída em diferentes espaços e lugares com a participação de diferentes mulheres, com maior e menor visibilidade e presença política.Há muito as mulheres vêm questionando nos espaços públicos e privados a rígida divisão sexual do trabalho; com isto, vêm contribuindo para mudar as relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens. Nesse sentido, gerações de mulheres têm se comprometido em construir um mundo igual e justo, buscando igualdade entre mulheres e homens, com respeito às diferentes orientações sexuais, além da igualdade racial e étnica. Afinal, tais diferenças são apenas mais uma expressão da rica diversidade humana e é preciso garantir igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Para a transformação dos espaços cristalizados de opressão e invisibilidade das mulheres dentro do aparato estatal, faz-se necessário um novo jeito de fazer política pública: a transversalidade. A transversalidade das políticas de gênero é, ao mesmo tempo, um construto teórico e um conjunto de ações e de práticas políticas e governamentais. Enquanto construto teórico orientador, a transversalidade das políticas de gênero consiste em ressignificar os conceitos-chave que possibilitam um entendimento mais amplo e adequado das estruturas e dinâmicas sociais que se mobilizam – na produção de desigualdades de gênero, raciais, geracionais, de classe, entre outras. Já enquanto conjunto de ações e de práticas, a transversalidade das políticas de gênero constitui uma nova estratégia para o desenvolvimento democrático como processo estruturado em função da inclusão sociopolítica das diferenças tanto no âmbito privado quanto no público; sendo também, e sobretudo, necessária nos espaços de relação de poder e de construção da cidadania. (Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2013, p. 10)
O projeto de lei que viria se tornar a Lei 11340/2006 foi proposto perante o Congresso Nacional através da EM nº 16 –SPM/PR
“EM n° 016 - SPM/PR
Brasília, 16 de novembro de 2004.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
1. Submetemos à consideração de Vossa Excelência proposta de Projeto de Lei que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição Federal.
2. A presente propositura foi elaborada pelo Grupo de Trabalho Interministerial criado pelo Decreto n° 5.030, de 31 de março de 2004, integrado pelos seguintes órgãos: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, na condição de coordenadora; Casa Civil da Presidência da República; Advocacia-Geral da União; Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Justiça e Secretaria Nacional de Segurança Pública/MJ.
 3. Em março do corrente ano, foi encaminhada pelo Consórcio de Organizações Não-Governamentais Feministas proposta de anteprojeto de Lei para subsidiar as discussões do Grupo de Trabalho Interministerial instituído com a finalidade de elaborar proposta de medida legislativa para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
 4. A proposta foi amplamente discutida com representantes da sociedade civil e órgãos diretamente envolvidos na temática, tendo sido objeto de diversas oitivas, debates, seminários e oficinas. 5. A Constituição Federal, em seu art. 226, § 8º, impõe ao Estado assegurar a "assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas relações". A Constituição demonstra, expressamente, a necessidade de políticas públicas no sentido de coibir e erradicar a violência doméstica.
6. O projeto delimita o atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, por entender que a lógica da hierarquia de poder em nossa sociedade não privilegia as mulheres. Assim, busca atender aos princípios de ação afirmativa que têm por objetivo implementar “ações direcionadas a segmentos sociais,historicamente discriminados, como as mulheres, visando a corrigir desigualdades e a promover a inclusão social por meio de políticas públicas específicas, dando a estes grupos um tratamento diferenciado que possibilite compensar as desvantagens sociais oriundas da situação de discriminação e exclusão a que foram expostas”1.
7. As iniciativas de ações afirmativas visam “corrigir a defasagem entre o ideal igualitário predominante e/ou legitimado nas sociedades democráticas modernas e um sistema de relações sociais marcado pela desigualdade e hierarquia”2. Tal fórmula tem abrigo em diversos dispositivos do ordenamento jurídico brasileiro precisamente por constituir um corolário ao princípio da igualdade.
 8. A necessidade de se criar uma legislação que coíba a violência doméstica e familiar contra a mulher, prevista tanto na Constituição como nos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, é reforçada pelos dados que comprovam sua ocorrência no cotidiano da mulher brasileira. 
9. Dentre os inúmeros compromissos internacionais ratificados pelo Estado Brasileiro em convenções internacionais, merecem destaque a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), o Plano de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (1995), Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994), o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, além de outros instrumentos de Direitos Humanos.
 10. Em abril de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, órgão responsável pelo recebimento de denúncias de violação aos direitos previstos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e na Convenção de Belém do Pará, atendendo denúncia do Centro pela Justiça pelo Direito Internacional (CEJIL) e do Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), publicou o Relatório nº 54, o qual estabeleceu recomendações ao Estado Brasileiro no caso Maria da Penha Maia Fernandes. A Comissão concluiu que o Estado Brasileiro não cumpriu o previsto no artigo 7º da Convenção de Belém do Pará e nos artigos 1º, 8º e 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos. Recomendou o prosseguimento e intensificação do processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra a mulher no Brasil e, em especial recomendou “simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias do devido processo” e “o estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às conseqüências penais que gera”.
 11. Ao longo dos últimos anos, a visibilidade da violência doméstica vem ultrapassando o espaço privado e adquirindo dimensões públicas. Pesquisa da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar - PNAD do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, no final da década de 1980, constatou que 63% das agressões físicas contra as mulheres acontecem nos espaços domésticos e são praticadas por pessoas com relações pessoais e afetivas com as vítimas. A Fundação Perseu Abramo, em pesquisa realizada em 2001, por meio do Núcleo de Opinião Pública, investigou mulheres sobre diversos temas envolvendo a condição da mulher, conforme transcrito abaixo:
A projeção da taxa de espancamento (11%) para o universo investigado (61,5 milhões) indica que pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras vivas, já foram espancadas ao menos uma vez. Considerando-se que entre as que admitiram ter sido espancadas, 31% declararam que a última vez em que isso ocorreu foi no período dos 12 meses anteriores, projeta-se cerca de, no mínimo, 2,1 milhões de mulheres espancadas por ano no país (ou em 2001, pois não se sabe se estariam aumentando ou diminuindo), 175 mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto – uma a cada 15 segundos.
12. É contra asrelações desiguais que se impõem os direitos humanos das mulheres. O respeito à igualdade está a exigir, portanto, uma lei específica que dê proteção e dignidade às mulheres vítimas de violência doméstica. Não haverá democracia efetiva e igualdade real enquanto o problema da violência doméstica não for devidamente considerado. Os direitos à vida, à saúde e à integridade física das mulheres são violados quando um membro da família tira vantagem de sua força física ou posição de autoridade para infligir maus tratos físicos, sexuais, morais e psicológicos.
13. A violência doméstica fornece as bases para que se estruturem outras formas de violência, produzindo experiências de brutalidades na infância e na adolescência, geradoras de condutas violentas e desvios psíquicos graves.
14. As disposições preliminares da proposta apresentada reproduz as regras oriundas das convenções internacionais e visa propiciar às mulheres de todas as regiões do País a cientificação categórica e plena de seus direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, a fim de dotá-la de maior cidadania e conscientização dos reconhecidos recursos para agir e se posicionar, no âmbito familiar e na sociedade, o que, decerto, irá repercutir, positivamente, no campo social e político, ante ao factível equilíbrio nas relações pai, mãe e filhos. 
15. O artigo 5º da proposta de Projeto de Lei define violência doméstica e familiar contra a mulher como qualquer ação ou conduta baseada na relação de gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico. É importante ressaltar que a Convenção de Belém do Pará possui objeto mais amplo, considerando a violência ocorrida no âmbito público e privado. Para os fins desta proposta, e de forma a conferir-lhe maior especificidade, somente foi considerada a violência ocorrida no âmbito privado. Cabe especial atenção a um conceito basilar previsto na proposta: a relação de gênero. A violência intra-familiar expressa dinâmicas de poder e afeto, nas quais estão presentes relações de subordinação e dominação. 
16. As desigualdades de gênero entre homens e mulheres advêm de uma construção sócio-cultural que não encontra respaldo nas diferenças biológicas dadas pela natureza. Um sistema de dominação passa a considerar natural uma desigualdade socialmente construída, campo fértil para atos de discriminação e violência que se “naturalizam” e se incorporam ao cotidiano de milhares de mulheres. As relações e o espaço intra-familiares foram historicamente interpretados como restritos e privados, proporcionando a complacência e a impunidade.
 17. O artigo 6°, afirma que a violência doméstica contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos, independente da penalidade aplicada. Conforme dispõe a Convenção de Belém do Pará, a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens.
18. Segundo previsto na Convenção de Belém do Pará, o artigo 7º do Projeto define claramente as formas de violência contra a mulher. De acordo com o “Modelo de Leyes y Políticas sobre Violencia Intrafamiliar contra las Mujeres”, publicado em abril de 2004, pela Unidad, Género y Salud da Organização Mundial de Saúde – OPS/OMS, toda legislação política e pública deve incluir as definições de violência contra a mulher em cada uma de suas manifestações: física, sexual, psicológica, moral e patrimonial. 
19. O artigo 8° tem por objetivo definir as diretrizes das políticas públicas e ações integradas para a prevenção e erradicação da violência doméstica contra as mulheres, tais como implementação de redes de serviços interinstitucionais, promoção de estudos e estatísticas, avaliação dos resultados, implementação de centros de atendimento multidisciplinar, delegacias especializadas, casas abrigo e realização de campanhas educativas, capacitação permanente dos integrantes dos órgãos envolvidos na questão, celebração de convênios e parcerias e a inclusão de conteúdos de eqüidade de gênero nos currículos escolares.
20. Somente através da ação integrada do Poder Público, em todas as suas instâncias e esferas, dos meios de comunicação e da sociedade, poderá ter início o tratamento e a prevenção de um problema cuja resolução requer mudança de valores culturais, para que se efetive o direito das mulheres à não violência.
 21. Nos artigos em que são tratados o atendimento pela autoridade policial, foram propostas alterações no que tange ao procedimento nas ocorrências que envolvam a violência doméstica e familiar contra a mulher.
22. Ficou consignado, no artigo 10, que a autoridade policial ou agente devem comparecer, de imediato, ao local do fato e adotar as medidas de proteção cabíveis para o atendimento da vítima. Essa alteração visa trazer para o procedimento especial da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, alguns dos aspectos do inquérito previstos no Código de Processo Penal, uma vez que o Termo Circunstanciado, em vigor, ao privilegiar o princípio da informalidade, termina por impedir uma visão mais abrangente da situação fática pela autoridade julgadora.
23. Outros procedimentos inovadores, em relação à Lei 9.099/95, são atribuídos ao agente e à autoridade policial após o registro do fato, entre os quais, o colhimento das provas necessárias ao esclarecimento do fato e suas circunstâncias, as oitivas da vítima, do agressor e das testemunhas, quando houver, determinando que se proceda ao exame de corpo de delito e os exames periciais necessários.
24. É de fundamental importância o atendimento por equipe multidisciplinar, conforme prevê os artigos 14 a 17 da proposta de projeto de Lei. A equipe multidisciplinar deverá ser formada por profissionais de diversas áreas de conhecimento, inclusive externa ao meio jurídico, tais como psicólogos, assistentes sociais e médicos. Esse sistema viabiliza o conhecimento das causas e os mecanismos da violência. A implementação deste sistema em alguns Juizados Especiais Criminais tem se mostrado eficaz no enfrentamento à violência doméstica contra as mulheres.
25. O Ministério Público se afigura hoje como advogado dos interesses sociais, difusos e coletivos. É titular da ação que se fizer necessária para proteger o que é de todos, conforme determina o artigo 129 da Constituição Federal. Os artigos 18 e 19 do presente Projeto referem-se à garantia da participação integral do Ministério Público nos casos de violência doméstica, intervindo nas causas cíveis e criminais, requisitando a força policial e a colaboração dos serviços públicos, exercendo a fiscalização nos estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência.
26. A assistência jurídica integral e gratuita, aludida no Art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, refere-se ao conceito de assistência judiciária envolvendo serviços jurídicos não somente relacionados com a atividade processual, mas abrangendo serviços de orientação jurídica, aconselhamento ou informação dos direitos à comunidade. Desta forma, o Projeto prevê, nos artigos 20 e 21, a assistência judiciária à mulher em situação de violência doméstica como forma de garantir o seu acesso à justiça.
 27. O presente Projeto amplia o leque de medidas cautelares tanto em relação ao agressor, como em relação a medidas de proteção à mulher agredida, proporcionando ao juiz a escolha da providência mais ajustada ao caso concreto, considerando-se as áreas cíveis e penais.
 28. Os artigos 22 a 25 da presente proposta pretendem garantir às mulheres o acesso direto ao juiz, quando em situação de violência e uma celeridade de resposta à necessidade imediata de proteção.
 29. O Projeto reúne medidas cautelares em relação ao agressor, possibilitando ao juiz não só exigir o seu afastamento do lar, mas, também, o seu encaminhamento a programa de acompanhamento psicossocial. Além disso, prevê a proibição de aproximação ou comunicação do agressor com a vítima, com testemunhas e familiares, a restrição de visitas aos dependentes menores e a prestaçãode alimentos provisionais.
30. O artigo 27 inova ao propor o encaminhamento das mulheres e seus dependentes, em situação de violência, a programas e serviços de proteção às mulheres, resguardando seus direitos relativos aos bens e a guarda dos filhos. Imputa ao agressor a responsabilidade econômica pela provisão alimentar e determina a recondução da mulher e seus dependentes, ao domicílio, após o afastamento do agressor.
31. As medidas cautelares previstas no artigo 28 de natureza patrimonial, possibilitam a revogação das procurações conferidas pela mulher ao agressor, a garantia do ressarcimento de bens e a indenização pelos danos e prejuízos causados. Nestes últimos casos são medidas do processo civil, cumuladas no processo penal. Visam à execução dos pronunciamentos de natureza civil, ou seja, a restituição de bens determinados e a indenização pelos danos e prejuízo sofridos.
32. Todos estes procedimentos se aplicam tanto às varas comuns como aos Juizados Especiais. A Constituição estabelece, como forma de atendimento no âmbito do Judiciário, as varas comuns e os Juizados Especiais, conforme previsto em seu artigo 98, inciso I.
33. O Juizado Especial Criminal a partir de sua previsão constitucional no art.98, foi criado para julgar as ações penais não superiores há dois anos, mediante procedimento sumaríssimo e com possibilidade de transação penal.
34. Os números mostram que, hoje, 70% dos casos julgados nos Juizados Especiais Criminais são de violência doméstica. A Lei 9.099/95, não tendo sido criada com o objetivo de atender a estes casos, não apresenta solução adequada uma vez que os mecanismos utilizados para averiguação e julgamento dos casos são restritos.
35. A Justiça Comum e a legislação anterior também não apresentaram soluções para as medidas punitivas nem para as preventivas ou de proteção integral às mulheres. Examinando-se o modo pelo qual a violência doméstica era tratada pela Justiça Comum, a pesquisa de Carrara, Vianna e Enne realizada no Rio de Janeiro de 1991/1995, “mostra que a Justiça condena apenas 6% dos casos de lesão corporal contra as mulheres, enviados pelas Delegacias da Mulher para a Central de Investigações, encarregada da distribuição às Varas Criminais.”3
36. O presente Projeto propõe inovações específicas para os Juizados Especiais Criminais. As inovações gerais propostas, como a previsão dos procedimentos dos Capítulos do Ministério Público, Assistência Judiciária, Equipe de Atendimento Multidisciplinar e Medidas Cautelares, aplica-se em todos os Juizados e Varas.
37. O atual procedimento inverte o ônus da prova, não escuta as vítimas, recria estereótipos, não previne novas violências e não contribui para a transformação das relações hierárquicas de gênero. Não possibilita vislumbrar, portanto, nenhuma solução social para a vítima. A política criminal produz uma sensação generalizada de injustiça, por parte das vítimas, e de impunidade, por parte dos agressores.
38. Nos Juizados Especiais Criminais, o juiz, ao tomar conhecimento do fato criminoso, designa audiência de conciliação para acordo e encerramento do processo. Estas audiências geralmente são conduzidas por conciliadores, estudantes de direito, que não detêm a experiência, teórica ou prática, na aplicabilidade do Direito. Tal fato pode conduzir a avaliação dos episódios de violência doméstica como eventos únicos, quando de fato são repetidos, crônicos e acompanhados de contínuas ameaças.
39. A conciliação é um dos maiores problemas dos Juizados Especiais Criminais, visto que é a decisão terminativa do conflito, na maioria das vezes induzida pelo conciliador. A conciliação com renúncia de direito de representação geralmente é a regra.
40. Caso não haja acordo, o Ministério Público propõe a transação penal ao agressor para que cumpra as condições equivalentes à pena alternativa para encerrar o processo (pena restritiva de direitos ou multa). Não sendo possível a transação, o Ministério Público oferece denúncia e o processo segue o rito comum de julgamento para a condenação ou absolvição. Cabe ressaltar que não há escuta da vítima e ela não opina sobre a transação penal.
41. A presente proposta mantém a celeridade do previsto na Lei 9.099/95, mas altera o procedimento do Juizado Especial Criminal em razão da especificidade dos casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres.
42. Prevê, a criação de audiência de apresentação para permitir que a vítima seja ouvida primeiro pelo juiz, em separado do agressor, e ainda que a audiência se balize pelo princípio da mediação, não podendo a mulher ser, em nenhuma hipótese, forçada à conciliação. Esta audiência deverá ser conduzida por juiz ou mediador, devendo este último ser profissional do direito, devidamente habilitado no Curso de Ciências Jurídicas e capacitado em questões de gênero.
43. A presente proposta garante, também, que a vítima esteja acompanhada por advogado na audiência, visto que a Lei 9.099/95, em seu artigo 68, concede esta prerrogativa apenas ao agressor.
44. O Projeto propõe, outrossim, alteração na Audiência de Instrução e Julgamento retirando a realização da transação penal da primeira audiência e postergando esta possibilidade para a segunda audiência. O objetivo é disponibilizar ao juiz outras ferramentas mais adequadas e eficazes para solucionar a questão, como por exemplo, o encaminhamento das partes à equipe de atendimento multidisciplinar, realização de exames periciais e providências cautelares.
45. O Projeto proíbe a aplicação de penas restritivas de direito de prestação pecuniária, cesta básica e multa, pois, atualmente, este tipo de pena é comumente aplicado nos Juizados Especiais Criminais em prejuízo da vítima e de sua família.
 46. As disposições finais deste Projeto estabelecem que esta Lei se aplique nas Varas Cíveis e Criminais e nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
 47. Como objetivo mediato, propõe a criação de Varas e Juizados Especiais da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com competência cível e penal, reconhecendo que a melhor estrutura judiciária, para o atendimento à mulher em situação de violência, será a criação destas Varas e Juizados Especiais.
 48. As atuais Varas, por não terem um atendimento urgente e global, tem colocado a mulher e sua família em situação de risco. Além das medidas penais a serem impostas, há medidas cíveis a serem julgadas. Com a criação das Varas com competência cível e penal, será outorgada ao juiz maior competência para julgar estas causas e facilitado as mulheres o acesso à justiça e a solução dos conflitos.
 49. O artigo 46 do Projeto prevê a alteração do artigo 313 do Código de Processo Penal, acrescentando nova hipótese de prisão preventiva, quando o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer que seja a pena aplicada. 
50. O pedido de tramitação especial em regime de urgência, nos termos do § 1° do artigo 64 da Constituição Federal, para o Projeto de Lei apresentado, justifica-se pelo cumprimento das recomendações ao Estado Brasileiro do Comitê para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW, do Plano de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (1995), da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher - Convenção de Belém do Pará (1994), do Protocolo Facultativo à Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, além de outros instrumentos de Direitos Humanos. E, finalmente, pelo clamor existente na sociedade com o sentido de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher que hoje alcança índices elevadíssimos e pouca solução no âmbito do Judiciário e outros Poderes estabelecidos.
 51. Estas, em síntese, são as propostas que integram o Projeto que submetemos à apreciação de Vossa Excelência. 
Respeitosamente,
Nilcéa Freire Secretária Especial de Políticas para as Mulheres”
 A Lei Maria da Penha torna-se , portanto, instrumento de igualdade material conferindo efetividade aos preceitos constitucionais , conforme nosdiz Piovesan e Pimentel:
A "Lei Maria da Penha", ao enfrentar a violência que, de forma desproporcional, acomete tantas mulheres, é instrumento de concretização da igualdade material entre homens e mulheres, conferindo efetividade à vontade constitucional, inspirada em princípios éticos compensatórios. (PIOVESAN; PIMENTEL, 2007, p. 01).
PROJETO DE LEI
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, e dá outras providências.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal e dos tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil, e estabelece as medidas para a prevenção, assistência e proteção às mulheres em situação de violência.
Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Art. 3o É dever da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público, em especial, assegurar à mulher condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, desenvolvendo ações que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-la de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Art. 4o Na interpretação desta Lei serão considerados os fins sociais a que ela se destina e a condição peculiar da mulher em situação de violência doméstica e familiar.
TÍTULO II DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura-se violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada na relação de gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, ocorrida: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como relações pessoais afetivas; III - em qualquer outra relação pessoal de afeto na qual o acusado compartilhe, tenha compartilhado ou não o mesmo domicílio ou residência da ofendida.
Parágrafo único. Consideram-se relações de gênero as relações desiguais e assimétricas de valor e poder atribuídas às pessoas segundo o sexo.
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.
CAPÍTULO II DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, dentre outras previstas em lei: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade corporal ou a saúde da mulher; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da auto-estima, que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher, vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insultos, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou, por qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força, assim como ações que forcem a mulher a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, ao impedimento ao uso de qualquer método contraceptivo, ou ações que a forcem ao matrimônio, gravidez, aborto ou prostituição, mediante coação, chantagem, suborno, manipulação ou qualquer outro meio que limite ou anule seu arbítrio; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta ilegítima que configure perda, retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos da mulher e os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria à honra ou à reputação da mulher.
TÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CAPÍTULO I DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, tendo como diretrizes: I - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública, Assistência Social, Saúde, Educação, Trabalho e Habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, concernentes às causas, conseqüências e freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação dos resultados das medidas adotadas; III - a observância, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar; IV - a implementação de centros de atendimento multidisciplinar para as pessoas envolvidas em situação de violência doméstica e familiar, visando agilizar e garantir o atendimento integral às mulheres; V - a implementação de atendimento policial especializado às mulheres; VI - a realização de campanhas educativas, voltadas à prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher e à difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VII - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para a promoção de parcerias entre si ou com entidades não-governamentais, objetivando a implementação de programas voltados à erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como a capacitação permanente dos integrantes dos órgãos referidos no inciso I deste artigo. VIII - a capacitação permanentemente dos integrantes do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, da Polícia Civil, bem assim dos profissionais da saúde, da educação, da assistência social, dentre outros; IX - a promoção de programas educacionais formais e não-formais que disseminem valores éticos, do irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana e dos direitos das mulheres, e X - privilegiar nos currículos escolares, em todos os níveis, de conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e à violência doméstica e familiar contra a mulher.
CAPÍTULO II DA ASSISTÊNCIA SOCIAL À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Art. 9o A assistência social às mulheres em situação de violência doméstica e familiar deverá ser prestada de forma articulada, emergencial ou não, conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, dentre outras normas pertinentes.
CAPÍTULO III DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
Art. 10. Nas hipóteses de violência familiar ou doméstica praticadas ou na iminência de serem praticadas contra mulheres deverá ser imediatamente notificada a autoridade ou o agente policial para que possa comparecer ao local.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput

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