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Análise de Alguns contos de Clarisse Lispector

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ANÁLISE DE ALGUNS CONTOS DE CLARISSE LISPECTOR
Clarice Lispector (1920-1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, de origem judia. É reconhecida como uma das maiores escritoras do século XX. Nos parágrafos abaixo, será dissertado sobre a condição da literatura em quatro contos da referida autora. 
O conto “A felicidade clandestina” de Clarice Lispector fala sobre a amizade e o engano, trazendo uma mensagem muito importante que deixa claro que a mentira tem perna curta. Afirma-se isso, pois a narradora gostava de ler, mas sua situação financeira era baixa, então não era possível comprar livros. Por isso, ela vivia pedindo-os emprestado a uma colega filha do dono da livraria. Porém, essa colega não valorizava a leitura e devido isso, no mais profundo de seu ser, sentia-se inferior as outras pessoas. Certo dia, a filha do livreiro disse a narradora que podia lhe emprestar o livro “As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, contanto que ela fosse buscar em sua casa. A menina passou a sonhar com a leitura do livro, só que ela mal sabia que era uma armação da filha do dono da livraria, pois todo dia a menina passava em sua casa mas o livro nunca aparecia, e a filha do livreiro sempre inventava a desculpa do livro não estar por já ter sido emprestado. Essa situação durou muito tempo. Até que, certo dia a mãe da menina que armou a peça interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha e então, emprestou o livro à sonhadora menina por tanto tempo quanto ela desejasse. Essa foi a “felicidade clandestina” da menina, pois ela era impedida de ter a felicidade de ler o livro pela filha do dono da livraria. Assim, após ter conseguido ter o livro em suas mãos, ela fazia questão de esquecer que estava com ele para depois ter a surpresa de achá-lo. Ser “imperdoavelmente bonitinha”, ser leitora e personagem, escritora e leitora, essas faces que se contestam e se completam, tornam o texto fluido. A personagem é leitora ficcional, o narrador vai desvendando a sua realidade, mas precisa dos horizontes do leitor implícito para construir juntos, um sentido para o texto, pois “na minha ânsia de ler, eu nem notava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia” (LISPECTOR, 1998). A presença de livros não é apenas demarcadora social, mas um índice cultural e transformador de um estado inicial da protagonista e instrumento de tortura para a antagonista. Nessa obra, percebe-se a dupla atividade da ficção em que a função de escritor e leitor se alterna, estabelecendo um repertório mínimo à compreensão da própria realidade do fazer literário. (SALES, PAMPLONA E NOBRE, 2008)
O conto “Restos de Carnaval” conta a história de uma menininha de Recife que gostava de carnaval. Entretanto, a atenção da família se concentrava na doença da mãe. Por isso, a menina só tinha permissão de ficar pouco tempo na folia. Assim, ela ficava até onze horas da noite, ao pé da escada do sobrado onde morava, olhando os outros se divertirem. Passava o carnaval inteiro economizando o lança-perfume e o saco de confetes que ganhava. Ela não se fantasiava, porém, cheia de felicidade, se assustava com os mascarados e até conversava com alguns deles. Aos oito anos, houve um carnaval diferente. A mãe de uma amiguinha fantasiou a filha de rosa, usando papel crepom e, com as sobras, fez a mesma fantasia para ela. Ela pensou em deixar os cabelos enrolados e passar batom e rouge. Desde cedo, ela viveu a expectativa do momento de vestir a fantasia, a euforia era tanta que até superou o orgulho ferido de ganhar um presente porque sobrou papel. Porém, quase na hora de ser fantasiada, a sua mãe subitamente piorou de saúde. Com isso, coube à menina, sem os cabelos enrolados e sem maquiagem, correr pela rua para buscar remédio. Mais tarde, acalmada a crise da mãe, ela saiu com a fantasia completa, contudo o encantamento já não existia mais. Ao findar o conto, fica a clareza de que o encanto da menina para fantasiar-se e ir brincar a festa de carnaval já não havia como existir, devido ela saber que sua mãe estava mal. Só horas depois veio a compensação para o carnaval dessa menina: um garoto de doze anos encheu a cabeça dela de confetes. “Considerei pelo resto da noite que alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.” Fica evidente que o título faz alusão a fantasia da menina ter sido criada usando os restos de papel crepom de uma colega e devido ela ter experienciado os momentos finais da festa de carnaval após o momento apavorante de socorrer sua mãe que estava passando mal. Além disso, mostra até que ponto o Recife estava vinculado com a mãe de Clarice, que ficou naquele sobrado olhando pela praça Maciel Pinheiro, num país totalmente estrangeiro, sem poder andar, sem poder falar o idioma, morrendo uma morte cruel. Ao lado daquela imagem da mãe doente, ​tinha também a lembrança da alegria da criança que queria ser feliz, que queria se fantasiar e ir ao Carnaval como as crianças 'normais', as que não tinham aquela situação em casa. No conto, que é um dos muito raros explicitamente autobiográficos que ela contou, ela lembra este momento de dor e de alegria, que perpassa todas as suas lembranças da cidade onde se criou, e onde a sua mãe morreu quando tinha 9 anos. (MOSER, 2020),
O conto “O grande passeio” fala da história de uma velhinha pobre que andava pelas ruas. Ela era apelidada de Mocinha. Havia sido casada, tivera dois filhos, mas todos morreram e ela ficou sozinha. Depois de dormir em vários lugares, Mocinha acabou, não se sabia por que, passando a dormir sempre nos fundos de uma casa grande no bairro Botafogo. Cedinho ela saía “passeando”. Na maior parte do tempo, a família moradora da casa se esquecia dela. Certo dia, a família achou que Mocinha já estava lá por muito tempo. Resolveram levá-la para Petrópolis, entregá-la na casa de uma cunhada alemã. Um filho da casa, com a namorada e as duas irmãs, foi passar um fim-de-semana lá e levou Mocinha. Na noite anterior, a velhinha não dormiu, ansiosa por causa do passeio e da mudança de vida. Como se fossem flashes descontínuos, vinham-lhe à cabeça pedaços de recordações de sua vida no Maranhão: a morte do filho Rafael atropelado por um bonde; a morte da filha Maria Rosa, de parto; o marido, contínuo de uma repartição, sempre em manga de camisa – ela não conseguia se lembrar do paletó... Só conseguiu dormir de madrugada. Acordaram-na cedo e a acomodaram no carro. A viagem transcorreu para Mocinha entre cochilos e novos flashes de memória com cenas entrecortadas da vida passada. Foi deixada perto da casa do irmão do rapaz que dirigia, Arnaldo; indicaram-lhe o caminho e recomendaram que dissesse que não podia mais ficar na outra casa, que Arnaldo a recebesse, que ela poderia até tomar conta do filho... A alemã, mulher de Arnaldo, estava dando comida ao filho; deixou Mocinha sentada sem lhe oferecer alimento, aguardando o marido. Este veio, confabulou com a mulher e disse a Mocinha que não poderia ficar com ela. Deu-lhe um pouco de dinheiro para que tomasse um trem e voltasse para a casa de Botafogo. Ela agradeceu e saiu pela rua. Parou para tomar um pouco de água num chafariz e continuou andando, sentindo um peso no estômago e alguns reflexos pelo corpo, como se fossem luzes. A estrada subia muito. “A estrada branca de sol se estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco de árvore e morreu.” Esse conta mostra que essa pobre velhinha solitária, sem família, ficou no lugar de esquecimento das pessoas que a cercavam. Jogaram ela de um lugar para outro, como se ela fosse um objeto, levavam para outro lugar para que outras pessoas ficassem responsáveis por ela, mas em nenhum momento perguntaram o que ela realmente queria, que no caso, era voltar para sua casa em Botafogo. Até que a última família onde ela foi deixada a expulsou claramente de casa, lhe dando dinheiro para que ela voltasse para a casa que ela queria, porém nesse “grande passeio”, atormentada por uma fome voraz, a pobre velhinha deu seuúltimo fôlego de vida na sombra de uma árvore. As idades são construções sociais, assim como a protagonista desta história não é somente uma criação da autora Clarice Lispector, como também uma metáfora para retratar o estágio da vida – a velhice, e suas implicações, principalmente nas relações interpessoais. Uma real ficção da discriminação com os idosos, que é tipificado pelo Estatuto do Idoso como uma conduta criminosa, punida com aplicação de sanção. Essa aproximação da narrativa do conto com o fato real é um exercício mental da corrente do Direito na Literatura, marcado pelo amparo legal, pelo tratamento dispensado pela doutrina e pela jurisprudência, verdadeiras fontes de pesquisa jurídica. (ROCHA, 2020)
O conto “Uma esperança” fala da história de um inseto que se chama esperança que pousou na parede da casa da narradora. Ela e os filhos ficaram observando a esperança andar, sem voar. Um dos filhos falou: “Ela esqueceu que pode voar, mamãe.” Até que uma aranha saiu de trás do quadro e avançou em direção à esperança. Embora que “dê azar” matar aranha, ela foi morta por um dos filhos. A narradora se espanta consigo mesmo por não ter pego a esperança, tendo em vista que ela gosta de pegar nas coisas. Lembrou-se de certa vez que uma esperança pousou no seu braço e disse: “Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada”. Ao analisar o conto fica claro que por mais simples que sejam as situações que passam em nosso cotidiano, todas são cheias de sentimentos, sensações, lembranças. Cada sujeito tem um modo de interpretar as situações, como já dizia Leonardo Boff que “o ponto de vista é a vista de um ponto”. Então, percebe-se que muitas vezes quando nós temos esperança que algo irá acontecer, que dará certo, sempre aparece alguém ou algo como a aranha que quer destruir nossa luz no fim do túnel. Fica a certeza de que é necessário aproveitarmos cada momento vivenciado, enchergando infinitas possibilidades nas singularidades que a vida nos oferta. Clarice Lispector mostra no conto como uma simples passagem de uma esperança pode fazer toda uma história filosófica se desenrolar na cabeça da autora. Não obstante de outras obras suas, Clarice enfoca a subjetividade humana. Desde pequena já tinha essa essência; quando mandava, com sete anos, contos para o jornal que nunca foram publicados, por não relatarem um acontecimento. (SILVEIRA, 2020)
Ao analisar estes contos, foi notório que as obras da referida autora trazem uma nova perspectiva para as coisas que são aparentemente insignificantes. 
REFERÊNCIAS
MOSER, Benjamin. "Restos De Carnaval", de Clarice Lispector. Disponível em: < http://www.suplementopernambuco.com.br/edi%C3%A7%C3%B5es-anteriores/92-ficcao/1806-restos-de-carnaval- >. Acesso em: 22 abr. 2020;
ROCHA, Sheila Marta Carregosa. Diálogo Interdisciplinar com Clarice Lispector sobre “O Grande Passeio”. Disponível em: <http://www.publicadireito. com.br/artigos/?cod=3a97a9a154f2f626>. Acesso em: 25 abr. 2020;
SALES, Germana Maria Araújo. PAMPLONA, Alessandra Gaia. NOBRE, Izenete Garcia. Leitura: Uma Felicidade Clandestina. Rev. de Letras - N0 . 29 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2008 Disponível em: < http://www. revistadeletras.ufc.br/rl29Art02.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2020;
SILVEIRA, Ana Júlia. Resenha do conto “Uma Esperança” Clarice Lispector. Disponível em: < https://leituradeemergencia.wordpress.com/2016/02/20/resenha-do-conto-uma-esperanca-clarice-lispector/>. Acesso em: 25 abr. 2020.

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