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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG UNIDADE FRUTAL CURSO DE DIREITO A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA OBSERVÂNCIA DO CUMPRIMENTO DO ORDENAMENTO DA TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PLANURA/MG DANIEL BORGES PEREIRA FRUTAL 2018 DANIEL BORGES PEREIRA A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA OBSERVÂNCIA DO CUMPRIMENTO DO ORDENAMENTO DA TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PLANURA/MG Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito à Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – Unidade Frutal, sob a orientação da Prof. Renato Maso Previde. FRUTAL 2018 FOLHA DE APROVAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG UNIDADE FRUTAL CURSO DE DIREITO A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA OBSERVÂNCIA DO CUMPRIMENTO DO ORDENAMENTO DA TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PLANURA/MG Elaborado por DANIEL BORGES PEREIRA Como requisito parcial para obtenção de Bacharel em Direito Frutal, 27 de novembro de 2018. _____________________________________________ Profa. Ma. Loyana Christian de Lima Tomaz Coordenador do Curso BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Me. Renato Maso Previde Prof. Orientador ________________________________________ Prof. Me. Márcio Martins Marano Membro da Banca Examinadora ________________________________________ Prof. Me. Moacir Henrique Júnior Membro da Banca Examinadora Dedico este trabalho а Deus, por sempre estar presente de forma viva e sustentadora em minha vida, pois Ele é a bussola de nossos melhores caminhos; dedico, ainda em especial, à minha esposa Juliana e aos meus filhos Ana Clara e Augusto sendo que estes sempre serão a razão e motivação dos meus passos; dedico aos meus pais Maria Antonieta e Ronaldo por proporcionarem educação e encaminhamento para mais esta conquista; dedico, ainda com sentimento de família, aos meus amigos e irmãos de vida pois sem esses a caminhada não seria completa; por fim, dedico a todos os professores e mestres de verdade pelos quais tive a imensa honra de aprender o conhecimento técnico e pessoal em toda minha vida, pois sem eles não poderia nem mesmo escrever estas palavras. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, mesmo sabendo das dificuldades e incompreensões particulares deste momento acadêmico, me incentivaram e fortaleceram para mais esta conquista, em especial minha esposa, Juliana e meus irmãos de vida, os educadores, de essência, pelo compromisso, carinho e esforço em semear o conhecimento da liberdade e independência em nós alunos, a família pela possibilidade de educação e valor moral, pois todos possibilitaram a honrosa caminhada universitária em tão conturbado momento de minha vida. “A evolução é a transição do ser da condição de escravo à condição de senhor do próprio destino.” Lameira de Andrade RESUMO O presente trabalho apresenta a importância do cumprimento das normas de transparência pública e sua manutenção constante, através da atuação do Ministério Público, proporcionando a participação popular no controle e atuação da administração pública. O trabalho foi construído através de farta pesquisa bibliográfica, das áreas do direito, informática e administração, além assessoria de integrante do Ministério Público Estadual de Minas Gerais, como também de ter se complementado com entrevistas breves de profissionais que atuam diariamente com as questões de transparência pública. O texto mostra também, que a relação entre o uso das tecnologias e o acesso às informações dos atos públicos está diretamente ligado ao nível de corrupção dos agentes públicos e outros envolvidos, apresentando dados de avaliações, obtidos pelas Nações Unidas e pela Transparency International em países de todo o mundo. Ainda sobre dados e avaliações, o trabalho mostra os “check-list” dos Ministérios Públicos Federal e Estadual de Minas Gerais, utilizados para avaliar e fiscalizar os sites de transparência dos entes federativos em nosso país, juntamente com resultados. Em especial foi observado o trabalho realizado pela 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Frutal/MG diante da transparência do site do município de Planura/MG, onde ficou percebido que mesmo após as avalições do Ministério Público, o município de Planura/MG ainda apresentava pontos não atendidos ao olhar e análise do Ministério Público Estadual, que de forma mais incisiva e pedagógica, agiu além da avaliação, fiscalização e recomendação, passando a acompanhar os resultados pós recomendação, reunindo com os entes na cobrança e saneamento de dúvidas, assim como na assessoria para realização dos pedidos ministeriais para atingir melhor a transparência dos entes federativos. Palavras-chave: Transparência pública; Direito à informação; Ministério Público no combate a corrupção. ABSTRACT This piece of work presents the importance of public transparency rules observation and its constant maintenance, trough the action of the Public Prosecution, providing popular participation in the control and action of the public administration. The piece of work was built through large bibliographical research, in the areas of law, informatics and administration, besides the consultancy of a member of the State Public Prosecution of Minas Gerais, as well complemented with short interviews with professionals who work daily with public transparency issues.The text also shows, that the relation between the use of technologies and the access to public acts is directly linked to the corruption levels of public agents and others envolved, showing data from evaluations, acquired by the United Nations and by the Transparency International in countries around the globe. Also about the data from evaluations, the work shows the “check-list” from the Federal and State of Minas Gerais Public Prosecutions, used to evaluate and monitor the federal entities transparency websites in our country, together with the results obtained. In particular was observed the work done by the 3th Prosecution Office of the district of Frutal/MG regarding the Planura/MG municipality transparency website, where was noticed that even after the evaluations made by the Public Prosecution, the municipality of Planura/MG still had non-observed points according to the view and analyses of the State Public Prosecution, which, in a more vigorously and pedagogical way, acted beyond evaluation, monitoring and recommending, starting to follow the results after guidelines were stated, gathering with the entities to clear doubts, as well consulting the completion of ministerial orders to achieve the best transparency of the federal entities. Keywords: Public Transparency; Right to information; Public Prosecution fighting against corruption. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11 1. DIREITO A INFORMAÇÃO ............................................................................................. 14 1.1. O Direito à Informação - fundamental e universalmente reconhecido ........................ 20 1.2 Transparência no Brasil e sua Normatização ............................................................. 25 1.3 PrincipaisLeis de Transparência no Brasil e seu detalhamento na construção das exigências dos Ministérios Públicos Federal e de Minas Gerais para uma informação pública transparente ......................................................................................................... 28 1.4. As obrigações implícitas na lei e as boas práticas de transparência como itens de exigência do Ministério Público do Estado de Minas Gerais ............................................. 35 2. A TRANSPARÊNCIA PÚBLICA E O COMBATE A CORRUPÇÃO ................................ 42 2.1 A avaliação da transparência pública dos entes federativos- estaduais e municipais . 47 2.2 O “check-list” da avaliação/métrica dos portais de transparência pelo Ministério Público Federal- MPF ................................................................................................................... 52 3. O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E SUA PARTICIPAÇÃO NO SITE DO EXECUTIVO DO MUNICÍPIO DE PLANURA-MG ............................................................... 55 3.1 A Avaliação do Site de Planura Após o Arquivamento do Procedimento Administrativo do MPMG ......................................................................................................................... 60 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 66 5. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 69 11 11 INTRODUÇÃO Ao longo da história humana instituiu-se o Estado. Ou seja, uma organização que possui a tutela, muitos chamam de poder soberano, para gerir os interesses de um povo em seu território. Este, após diversos formatos e conquistas históricas pelos cidadãos, hoje é mantido através de tributos e de seus próprios sucessos financeiros. Quando se considera os termos tutela e gestão, na definição do Estado perante seu povo, isto traz a incumbência do próprio Estado em satisfazer seu povo com aquilo de mais básico e necessário para uma vida livre, justa e saudável. Diante de tal compromisso, o Estado Democrático possui a responsabilidade de transparecer sua gerência para com seus cidadãos, pois ao contrário, a obscuridade das informações, a gestão sombria e secreta, promoverá um Estado Ditatorial, onde a participação do povo será severamente afetada, pois não mais terá informações para crítica embasada, uma vez que falta a informação. Em um Estado Democrático como o Brasil, todo o funcionalismo público está nada mais, do que a serviço de seu povo, devendo, hoje, por obrigação de lei, não somente prestar satisfação de seus atos e serviços, mas também de publica-los com a maior clareza possível. O Estado foi estruturado basicamente por representantes do povo que foram legalmente constituídos, passando então a gerir os recursos a fim de atender as demandas. Demandas que devem, antes de tudo, ter como razão de existir e realizar-se, a necessidade da população ou do Estado, a justificava de retorno positivo ao Estado e ainda a concordância do próprio povo, por meio de seus representantes ou de forma direta. Nesse contexto, diante dos significativos numerários econômicos dos recursos arrecadados, coloca-se perplexo o próprio povo a informar-se das ocorrências de fraudes, desvios, má gestão do bem público, entre outras atitudes que mais beneficiam os governantes e seus aliados na corrupção e ganância, que o próprio povo, tornando situações tais, como corriqueiras, porém jamais aceitáveis pelo povo sofrido deste país rico, mas desigual. Diante do exposto, esse trabalho propõe uma análise da publicidade transparente na gestão pública. Assim os próximos capítulos tratarão dos temas 12 12 necessários para uma melhor compreensão do exposto diante de tamanho desafio no sistema brasileiro que é o combate a corrupção através da transparência. Foram utilizados elementos metodológicos, com a forma exploratória, a análise mais qualitativa dos dados e técnicas como como entrevistas, análise documental, revisão bibliográfica e pesquisa de campo nos sites de transparência. No primeiro capítulo, o presente trabalho traz uma abordagem sobre o tema informação, seus conceitos e a importância no bom andamento de uma nação e na solidificação de um país democrático, mostrando a informação pública em um contexto internacional e seu processo de normatização no contexto Brasileiro, a evolução dos sistemas jurídicos e a percepção da influência no contexto democrático. A análise desenvolvida permitirá perceber o quanto o tema tem adquirido relevância no contexto internacional e os países tem buscado desenvolver formas de inibir a corrupção com práticas de gestão transparente. Ainda, na primeira parte do trabalho, fica demonstrado a relação do nível de educação e acesso à tecnologia com o nível de sucesso econômico dos Estados, apresentados em dados das Nações Unidas. O segundo capítulo traz uma abordagem do quanto a transparência é importante para o combate a corrupção, utilizando um estudo através da organização Transparência Internacional, apontando para as últimas propostas das 70 medidas anticorrupção desenvolvidas para atender o contexto federal, estadual e municipal, as quais buscam melhoria na gestão pública com ênfase na sua eficiência no trato das contribuições, administração dos recursos e responsabilidades a ela delegadas pelos cidadãos. Além disto, esta parte do trabalho mostra o trabalho desenvolvido pelo Ministério Público Federal na avaliação e ranqueamento da transparência dos sítios eletrônicos dos estados e municípios do Brasil, assim como a ferramenta, “check-list”, utilizada e de confecção própria do MPF. Por fim o terceiro e último capitulo faz uma abordagem do trabalho do Ministério Público do Estado de Minas Gerais na fiscalização, avaliação e assessoria, com relação aos sítios eletrônicos dos munícipios mineiros no atendimento das normas de transparência pública, em especial ao procedimento administrativo em razão do município de Planura/MG, realizado a partir do Plano Geral de Atuação do MPMG de 2016-2017, com enfoque nas observâncias do projeto Águas Limpas. Como também, as medidas ministeriais tomadas e os resultados 13 13 alcançados. Ainda no último capítulo está apresentada avaliação pós encerramento e arquivamento do procedimento administrativo do MPMG em face do município de Planura/MG para observação da continuidade no cumprimento das exigências apontadas pelo MPMG. Estima-se que este trabalho possa creditar uma visão ideal na parceria dos entes federativos e o ministério público com o objetivo de atingir melhores resultados no cumprimento legal de transparência pública, mostrando que o empenho e compromisso podem promover grandes avanços com bom entendimento entre as instituições, fazendo com que a transparência seja uma real ferramenta popular e governamental contra a corrupção e má gestão que tanto assola nosso país. 14 14 1. DIREITO A INFORMAÇÃO O Direito a Informação é a bússola orientadora e libertadora de um povo na busca plena de um Estado Democrático. A verdadeira informação, sua interpretação, sua crítica e sua divulgação livre, traz ao indivíduo a realidade do seu redor, das relações alheias, do distante físico, porém próximo na comunicação, e principalmente da relação do próprio cidadão com o Estado e assim sua participação na construção da democracia. A informação pública contemporânea tem o poder de consolidar a democracia, enriquecer o conhecimento dos cidadãos, dando lhes condições de fortalecer sua participação nas tomadas de decisões do Estado, fiscalizar o trabalho dos representantes do povo e servidores públicos em geral, atuar não mais com acomodação por não ter conhecimento, mas ser coadjuvante ou atéprotagonista na atuação administrativa do Estado, seja como fiscal, como auxiliador ou mesmo como integrante de equipe de governo na posição de representante do povo. Visando uma participação ativa do cidadão, no objetivo de, junto com o Estado, buscar atingir os objetivos fundamentais da democracia e da dignidade humana, a Constituição Federal Brasileira dispõe de norteadores em seu Art. 3º, no intuito da evolução de sua sociedade normatizada, a saber: I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – Garantir o desenvolvimento nacional; III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – Promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação. Com o olhar mais apurado e voltado a entender a razão do Estado democrático e do cidadão livre e participativo, o artigo 3º da Constituição, através do Direito à Informação, mostra que a sociedade deve ser livre na produção, divulgação e alteração das informações relevantes a manutenção de uma sociedade democrática, assim como a condição justa e balanceada no poder de acesso e produção a informação por todas as camadas sociais e seus grupos, ao mesmo tempo solidária em compartilhar as informações e dados entre seus compatriotas e interessados. A liberdade, equilíbrio e solidariedade nas várias formas de manipulação da informação garante o melhor, mais adequado e democrático 15 15 desenvolvimento social, sendo que somente assim o Estado terá um desenvolvimento às claras e com possibilidade de participação real de seu povo. A Constituição Federal, em seu artigo 205, também traz o compromisso, de uma educação como garantia e caminho para o pleno desenvolvimento do indivíduo, possibilitando assim, diminuir a pobreza da informação de seus cidadãos, pois sempre coexistirá a relação entre a baixa informação e a marginalização do indivíduo, possibilitando assim, através da evolução e fortalecimento do acesso à informação, a redução das desigualdades sociais, regionais e morais, desde que a informação jamais se contamine de preconceito quanto a seu acesso, produção, manipulação e divulgação. Costa, 2002, ressalta que: Se conjugarmos esse comando constitucional com a norma do retro referido art. 205 – que prevê a educação para a cidadania – e levarmos em conta o princípio democrático, revelado na afirmação categórica do parágrafo único do art. 1º - todo o poder emana do povo - evidencia-se a obrigação de o Estado garantir que os meios de comunicação social, especialmente rádio e televisão, sejam instrumentos para que o povo atinja um grau de maturidade política tal que lhe possibilite uma efetiva participação nas discussões e decisões relativas a assuntos que interessam à coletividade. Ter conhecimento do que acontece e como se dá a administração pública é preponderante, sendo que essa proximidade visa não apenas a fiscalização, mas a construção de um Estado mais participativo, consequentemente mais próximo da realidade de seus cidadãos. Florêncio, 2013, destaca que: Contudo, mesmo com a legitimação da participação popular por meio dos instrumentos normativos, a teoria dista da realidade, pois existem vários condicionantes quando da operacionalização da participação dos administrados na esfera administrativa, haja vista a legislação por si só não se revelar suficiente para estruturar um Estado verdadeiramente democrático. A falta de comprometimento do Estado em promover ações educativas para o exercício da cidadania, conforme determina a constituição Federal de 1988, além do baixo nível do conhecimento e interesse político da sociedade são fatores determinantes no baixo índice de participação popular. 16 16 O cidadão brasileiro possui o seu direito ao acesso a informação protegido e garantido, direito este considerado fundamental e protegido pela nossa Constituição Federal Brasileira, em seu Artigo 5º, inciso XXXIII, que estabelece: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível a segurança da sociedade e do Estado. A regulação desse artigo garante o exercício de acesso a informação pelo cidadão e cumpre compromissos assumidos pelo país perante a comunidade internacional em vários tratados e convenções (Cartilha de Acesso à Informação Pública, 2011). A Constituição de 1988 é considerada o marco histórico e político entre a ditadura e democracia no Brasil. Não distante no tempo, o país vivenciou períodos de regulação extrema da informação, seja pela busca e manutenção do poder, por razões tidas como antiterroristas, por um período longo de pós-guerra no dualismo capitalismo e socialismo ou por outros motivos. O fato é que todo sistema ditatorial combate o acesso livre a informação, por saber que uma população desinformada ou mal informada pode ser mais facilmente controlada, convencida, acoitada e silenciada em sua vontade (ORLANDI,1995). Essa previsão na constituição é importante, pois devido o Brasil vir de uma ditadura a cultura de transparência não era o forte dos governantes, na época o Estado utilizava o argumento de segurança nacional para manter em sigilo não apenas informações de segurança, mas quaisquer informações que não fosse do interessantes que a população soubesse (MERELES, 2017). Nesse sentido, é que a Constituição Federal de 1988 passou a disciplinar como direito fundamental o acesso às informações, valendo o exercício democrático da soberania popular. E para que exista o exercício democrático, entra então a transparência nas contas públicas, por ser de relevância social e gerencial as informações que dizem respeito àquilo que pertence a todos. O fácil e simples acesso as informações públicas e a ampla divulgação, dão condições de formação de um pluralismo verificador e fiscalizador, onde as múltiplas opiniões formarão posteriormente a opinião pública. 17 17 Em uma sociedade onde as mudanças ocorrem a todo instante, a informação é poder, e o fluxo de informações é responsável pelas mudanças impactantes na sociedade atual, pois promovem no povo, em especial, habilidades de participação democrática, as quais vão desde uma simples troca de conversa, até a criação de aplicativos para celulares na busca de fiscalizar e melhorar a gestão pública. Surgem assim, novos direitos e conflitos que, com o advento tecnológico, fornecerão uma gama de recursos na utilização das tecnologias de informação e comunicação. Desta forma, a internet torna-se uma aliada fundamental à administração pública, visto que o potencial esclarecedor da informação pode ser compreendido como um redutor ou eliminador de incertezas na medida em que se torna vital ao usuário para a tomada de decisão (MARIZ, 2012). As informações atuais passam por duas importantes ferramentas na publicidade, transparência e conferência de informações públicas, são elas a internet cada vez mais rápida, de qualidade e acessível à população em geral, e a chamada “Big Data”, que em tecnologia da informação, TI, é a capacidade de interpretação e análise de grande quantidade de dados, o que proporciona a análise cada vez mais rápida de dados em volumes cada vez maiores, utilizando uma grande variedade de dados e de origens diversas, para obtenção de resultados mais verídicos possíveis. O Estado, nesse sentido, cada vez mais, é demandado a promover a publicidade e transparência, em tempo real, ou quase imediato, com todas as informações necessárias para o conhecimento pleno e necessário do cidadão. Apesar de a Constituição Federal ter dado a garantia do real Direito à Informação, o Brasil vem construindo e promovendo na prática a aplicaçãodeste direito, através de ações na promoção das informações públicas e na elaboração de leis que assegurem o cumprimento e exigência do Direito à Informação. Contudo o divisor de águas em nossa legislação foi a aprovação da Lei 12.527/11, Lei de Acesso à Informação- LAI, onde o Brasil deu um passo importante na consolidação do seu regime democrático, fortalecendo os instrumentos de controle através da participação cidadã, garantido o acesso de dados e informações públicas livres, e a obrigação de publicação de uma variedade de informações por parte do Estado, seus representantes e agentes. Quando o assunto é informação fica impossível a não relação obrigatória com algum tipo de tecnologia, em especial os computadores e smartphones, com toda 18 18 sua infinidade de programas e aplicativos. Um cidadão comum pode não apenas acessar uma informação em praticamente qualquer lugar a qualquer tempo, como também salvar esta informação da mesma maneira, possibilitando que uma enorme gama de informações seja acessada e trabalhada por um grande número de pessoas próximas a origem da informação ou da problemática analisada, ou até mesmo por pessoas distantes, em tempo real. Outra característica nos meios tecnológicos é a capacidade dos dados a serem compartilhados, com tamanha rapidez e facilidade por um alto número de pessoas, fazendo com que estes dados acabem sendo guardados e salvos numa simples visita a fonte da informação. Devido a evolução na capacidade de armazenamento e uma eficiente transmissão de dados entre as fontes e os receptores, tal armazenamento proporciona maior dificuldade na modificação posterior de dados, na manipulação posterior a informação lançada, fazendo com que existam sempre registros das informações originais e suas alterações, proporcionando maior controle da fonte ao lançar os dados e provas de qualquer manipulação para fins ilícitos e mal-intencionados. Por meio da tecnologia é que o cidadão moderno se torna receptor das informações, seja de forma direta, buscando a informação na fonte primária, ou indireta, quando a informação já é passada por uma fonte secundária. Isto traz na tecnologia da informação uma grande característica, porém com dois viés bem impactantes, o primeiro e positivo é o fato da informação através da tecnologia ter um auto poder de expansão e circulação de dados pelas pessoas, porém a segunda característica, e muitas vezes negativa, é a de funcionar como a brincadeira do telefone sem fio em nossa infância, ou seja, conforme a informação passa por novas fontes receptoras, os dados podem e geralmente são interpretados e alterados, fazendo com que a informação inicial seja alterada, podendo provocar mudanças e erros na utilização da própria informação. Com toda velocidade de transmissão da informação, com toda capacidade de armazenamento de dados, com a continua expansão do atendimento da tecnologia aos cidadãos, a tecnologia da informação proporciona ao Estado e sua administração ferramentas para executar a publicidade e transparência de toda informação aberta ao cidadão, possibilitando ao bom e honesto gestor público a 19 19 interatividade com a população e a participação efetiva do povo como agente administrativo do bem público. Diante desta maior sinergia e simbiose de informação, entre a administração pública e o cidadão, fica evidente a necessidade do Estado se empenhar na elaboração de políticas públicas que melhorem a inclusão info-digital como agente de transformação, pois somente assim a população em geral terá sua plenitude na participação administrativa do Estado, atuando como simples consultor, vigia e fiscalizador, ou mesmo como agente administrativo. Segundo AMORIM (2013), importância da informação através da tecnologia é intrinsecamente ligada ao sucesso econômico do país, como mostra a tabela abaixo, que utiliza o IDI, ICT Development Index- índice de desenvolvimento das tecnologias da informação, produzido e elaborado pelas Nações Unidas, segue. Figura 1 – Lista de 14 países objeto do estudo relacionando força de trabalho e renda per capita e o IDI. Fonte: PAZOTTO (2013, p. 76). Fica evidente que o Brasil, comparado e tendo como referência a Coréia do Sul no estudo realizado, precisa percorrer um longo caminho na educação da informação tecnológica de sua população, como mostra a tabela a seguir, apontando a variação dos outros países em relação ou máximo de IDI encontrado: 20 20 Figura 2: Lista de 14 países objeto de estudo relacionado ao IDI desejado a justado ao máximo atual e variação do PIB. Fonte: PAZOTTO (2013, p. 77) Tal análise pode trazer perspectiva negativa com a presente realidade, porém com um olhar mais animador, poderíamos dizer que o “copo estaria enchendo e não pela metade ou esvaziando”, pois, nosso país apesar de muitas de suas mazelas e vícios corruptivos, não se fechou para a tecnologia da informação, possibilitando um crescimento econômico através da melhor instrução tecnológica de seu povo. 1.1. O Direito à Informação - fundamental e universalmente reconhecido O direito à informação é um direito universal, por ser direito de todos, ao mesmo tempo fundamental, pois o indivíduo sem informação não consegue ser partícipe de sua própria história como ser social. Diante de um direito universal o mais comum e esperado é que o mundo, ou ao menos, os países, que respeitem, e aqueles que começam a entender e respeitar tal direito fundamental, direito tão iminente e incontrolável nos tempos atuais com tamanha importância e força, dado conquista, evolução e presença da internet que promove a cada dia a globalização das informações e comunicações. Segundo a Cartilha da Lei de Acesso a Informação: 21 21 A primeira nação no mundo a desenvolver um marco legal sobre acesso foi a Suécia, em 1766. Já os Estados Unidos aprovaram sua Lei de Liberdade de Informação, conhecida como FOIA (Freedom of Information Act), em 1966, que recebeu, desde então, diferentes emendas visando a sua adequação à passagem do tempo. Na América Latina, a Colômbia foi pioneira ao estabelecer, em 1888, um Código que franqueou o acesso a documentos de Governo. Já a legislação do México, de 2002, é considerada uma referência, tendo previsto a instauração de sistemas rápidos de acesso, a serem supervisionados por órgão independente. Chile, Uruguai, entre outros, também aprovaram leis de acesso à informação (CARTILHA DA TRANSPARÊNCIA, 2011). Aponta também o reconhecimento por importantes órgãos internacionais, de alguns tratados e convenções assinados pelo Brasil, além de outros documentos internacionais que expressam a validade, respeito e presença do direito à informação pelo mundo. Segundo a Convenção de Viena: Tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica (BRASIL, 2009). Temos como referência internacional a Declaração Universal dos Direitos Humanos que versa em seu art. 19: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras (UNESCO, 1998). A Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção nos seus artigos 10 e 13 dispõem: Artigo 10 Informação pública Tendo em conta a necessidade de combater a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas que sejam necessárias para aumentar a transparência em sua administração pública, inclusive no relativo a sua organização, funcionamento e processos de adoção de decisões,quando proceder. Essas medidas poderão incluir, entre outras coisas: a) A instauração de procedimentos ou regulamentações que permitam ao público em geral obter, quando proceder, informação sobre a organização, o funcionamento e os processos de adoção de decisões de sua administração pública, com o devido respeito à 22 22 proteção da intimidade e dos documentos pessoais, sobre as decisões e atos jurídicos que incumbam ao público; b) A simplificação dos procedimentos administrativos, quando proceder, a fim de facilitar o acesso do público às autoridades encarregadas da adoção de decisões; e c) A publicação de informação, o que poderá incluir informes periódicos sobre os riscos de corrupção na administração pública. Artigo 13 Participação da sociedade 1. Cada Estado Parte adotará medidas adequadas, no limite de suas possibilidades e de conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, para fomentar a participação ativa de pessoas e grupos que não pertençam ao setor público, como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as organizações com base na comunidade, na prevenção e na luta contra a corrupção, e para sensibilizar a opinião pública a respeito à existência, às causas e à gravidade da corrupção, assim como a ameaça que esta representa. Essa participação deveria esforçar-se com medidas como as seguintes: a) Aumentar a transparência e promover a contribuição da cidadania aos processos de adoção de decisões; b) Garantir o acesso eficaz do público à informação; c) Realizar atividade de informação pública para fomentar a intransigência à corrupção, assim como programas de educação pública, incluídos programas escolares e universitários; d) Respeitar, promover e proteger a liberdade de buscar, receber, publicar e difundir informação relativa à corrupção. Essa liberdade poderá estar sujeita a certas restrições, que deverão estar expressamente qualificadas pela lei e ser necessárias para: i) Garantir o respeito dos direitos ou da reputação de terceiros; ii) Salvaguardar a segurança nacional, a ordem pública, ou a saúde ou a moral públicas. 2. Cada Estado Parte adotará medidas apropriadas para garantir que o público tenha conhecimento dos órgão pertinentes de luta contra a corrupção mencionados na presente Convenção, e facilitará o acesso a tais órgãos, quando proceder, para a denúncia, inclusive anônima, de quaisquer incidentes que possam ser considerados constitutivos de um delito qualificado de acordo com a presente Convenção (BRASIL, 2006). A Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão em seu item 4, dispõe: O acesso à informação em poder do Estado é um direito fundamental dos indivíduos. Os Estados estão obrigados a garantir o exercício deste direito. Este princípio só admite limitações excepcionais, que devem ser estabelecidas com antecedência pela lei, como em casos em que exista um perigo real e iminente que ameace a segurança nacional em sociedades democráticas (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2000). O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos no seu art. 19, dispõe: 23 23 Artigo 19 1. ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha. 3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública (BRASIL, 1992). A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em seu artigo 13, dispõe: Artigo 13 Liberdade de pensamento e de expressão 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha. 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar: a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas. 3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões. 4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2. 5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 1969) A Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, em seu artigo 10, dispõe: 24 24 Artigo10° Liberdade de expressão 1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de transmitir informações ou ideias sem que possa haver ingerência de quaisquer autoridades públicas e sem considerações de fronteiras. O presente artigo não impede que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorização prévia. 2.O exercício destas liberdades, porquanto implica deveres e responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime, a proteção da saúde ou da moral, a proteção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder judicial (OEA, 1950) A Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, em seu artigo 9º, dispõe: Artigo 9º 1.Toda pessoa tem direito à informação. 2.Toda pessoa tem direito de exprimir e de difundir as suas opiniões no quadro das leis e dos regulamentos (CADHP, 1986). Ainda como exemplo pelo mundo, temos a Índia, um país democrático, porém de tradições muito conservadoras e peculiares, que em 23 de junho de 2005 aprovou a Lei de Acesso à Informação da Índia, sendo que tal lei provocou uma revolução sociocultural, tendo proporcionado, principalmente a população pobre, o acesso a informações, provocando a desburocratização e a concessão de direitos, promovendo uma avalanche de pedidos feitos por cidadãos ao governo, chegando a 4,5 milhões de pedidos após 10 anos da lei (ETHOS, 2015). Fica evidente, que a importância e eficácia do direito à informação, é reconhecido, aplicado e protegido internacionalmente. Tal importância do direito à informação, em especial a informação pública, é demonstrado pelo combate à corrupção no planeta, a Transparência Internacional, que promove estudo em mais de 100 países, relaciona e utilizam como parâmetroas 25 25 informações, sua interpretação e análise, assim como a falta, manipulação e dificuldade em obtê-la, como índice de corrupção em seu Ranking. 1.2 Transparência no Brasil e sua Normatização O acesso à informação pública é normatizado na Constituição Federal de 1988, no artigo 5, incisos XXXIII, no capítulo dos Direitos e Deveres individuais e coletivos. Em conjunto com os artigos 37 e 216, a saber: Art. 37 – A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I – as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; III – a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo do cargo, emprego ou função na administração pública. (BRASIL, 2018) Art. 216 - Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem (BRASIL, 1988). Todas essas garantias constitucionais, juntamente com a Lei de Acesso a Informação Pública 12.257/11, fica observado as disposições sobre a publicidade dos atos públicos, que consolida e define o marco regulatório sobre o acesso à informação pública sob a guarda do Estado, estabelece procedimentos para que a Administração responda a pedidos de informação do cidadão e estabelece que o acesso à informação pública é a regra, e o sigilo, a exceção. Como especificado, a lei vale para as administrações diretas e indiretas de todos poderes e entes federativos. Sendo sancionada em 18 de novembro de 2011 a Lei 12.527, originou debates no âmbito do Conselho de Transparência Pública e 26 26 Combate à Corrupção, órgão este, vinculado à Controladoria Geral da União – CGU. A lei foi discutida e votada no congresso entre 2009 e 2011 (Cartilha da Lei de Acesso a Informação, 2011). A normatização tem como objetivo estabelecer meios de esclarecimentos, informações, acesso de forma transparente e claro. Com pontos essenciais para utilização da informação, seja para apenas conhecimento, ação judicial e administrativa, e conflito de interesses. Deixa assim, claro que as atividades dos gestores públicos devem estar dispostas em informações que possibilitem que os cidadãos acompanhem sua atuação, pois a publicidade é um dos expoentes mais qualificados da transparência, que obriga a administração pública a exposição de todo e qualquer comportamento administrativo (JÚNIOR, 2010). A publicidade é um princípio que visa demonstrar e alcançar os objetivos da transparência dos serviços da administração pública diante do desejo da população. E o objeto de percepção do povo perante a publicidade é a informação real, completa e clara do Estado e sua administração, demonstrado sua normatização tanto no contexto nacional como internacional. A informação gera a transparência, a partir do momento que aquela chega ao conhecimento do cidadão comum com facilidade no acesso, com formato fácil para interpretação do leigo, com verdade nos dados informados, tendo assim ampla importância no contexto nacional contra a corrupção, na melhoria e controle da gestão pública e participação do cidadão comum na manutenção do Estado (FLORÊNCIO, 2013). Ao pensar na transparência da administração pública, a primeira percepção é da publicidade das ações governamentais, porém, outras medidas são necessárias do que a simples divulgação dos dados ou serviços prestados a sociedade. A transparência para sua eficiência necessita que sua publicidade se dê de forma clara e acessível a toda sociedade que tem direito a ela. Assim, salvo as exceções normativas, a sociedade tem condições de participar nos rumos do Estado. Não é garantido que ocorra a prevalência do interesse público, mas, por outro lado, sem ela tornaria difícil garantir o comportamento legal dos inseridos na 27 27 administração pública e seus usuários. Assim, a transparência trouxe facilidade de informação melhorando a relação cidadão governo (LOPES, 2009). Neto (2007) destaca que: O primeiro elemento ou dimensão da transparência, assumido nessa incursão, é a publicidade. Por publicidade, entende-se a ampla divulgação de informações à população, propiciando-se o acesso em múltiplos meios de baixo custo e domínio dos usuários. Pressupõe- se, ainda, a oportunidade das informações fornecidas, com tempestividade e em tempo hábil ao apoio ás decisões. O segundo elemento da transparência é a compreensibilidade das informações. Essa dimensão relaciona-se à apresentação visual, incluindo a formatação das informações (demonstrativos, relatórios, etc.), e ao uso da linguagem. Busca-se idealmente a simplicidade, a linguagem acessível e orientada ao perfil dos usuários, no sentido de aumentar o entendimento das informações. Por fim, o terceiro elemento da transparência das contas publica é a utilidade para decisões. A utilidade esta fundamentada na relevância das informações. A relevância, por sua vez, pode ou não coincidir com os interesses dos usuários. Associada, à relevância, está a confiabilidade das informações a que os usuários têm acesso, ou seja, a garantia de veracidade do que é divulgado. A comparabilidade deve ser propiciada entre períodos e entre entidades. Segundo a Cartilha da LAI (2011), a transparência não é assunto novo, diversas leis e politicas contemplavam a questão. Na Constituição Federal de 1988, novas legislações entraram em vigor, tais como Lei da Responsabilidade Fiscal, a Lei do Processo Administrativo, A Lei do Habeas Data e a Lei de Arquivos, estas prevendo que os governos divulgassem dados orçamentários e financeiros, como também os atos administrativos. Um importante avanço do tema no Brasil foi o lançamento do Portal Transparência do Governo Federal no ano de 2004, sendo possível acompanhar informações atualizadas diariamente sobre a execução dos orçamentos e obter informações sobre recursos públicos transferidos e sua aplicação direta (origens, valores, favorecidos). Atendendo, assim, a disponibilização das informações por múltiplos meios e em tempo real, com facilidade de acessibilidade e de fácil compreensão de forma que traduza o que efetivamente ocorre na realidade da administração pública. A Cartilha da LAI (2011, p. 12) enumera algumas experiências bem sucedidas da comunicação do poder público e a sociedade, a saber: 28 28 A informação é apresentada de forma transparente e objetiva; Os dados técnicos são traduzidos em linguagem do dia a dia; O conteúdo é acessível para pessoas com deficiência. Dentre essas iniciativas HAGE (2011), destaca a Carta de Serviços ao Cidadão, que tem como objetivo o estabelecimento de compromissos e padrões de qualidade de atendimento público, pelos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal. Dessa forma, passaremos a tratar de outras normativas que também disciplinam a temática da transparência na gestão pública. 1.3 Principais Leis de Transparência no Brasil e seu detalhamento na construção das exigências dos Ministérios Públicos Federal e de Minas Gerais para uma informaçãopública transparente Tendo a Constituição Federal de 1988 garantido o direito à informação em nosso país, várias leis posteriores veem contribuindo para o avanço da transparência no país, sendo que muitas foram implementadas com objetivo de regulamentar a ideal publicidade da informação pública no Brasil, a exemplos dessas, algumas delas: Lei complementar 101/2000 de 04 de maio de 2000, chamada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), „dá suporte à criação de um sistema de planejamento, execução orçamentária e disciplina fiscal, até então inexistente no cenário brasileiro. Tem o objetivo de controlar o déficit público, para estabilizar a dívida em nível compatível com o status de economia emergente. Seu aspecto inovador reside no fato de responsabilizar o administrador público pela gestão financeira, criando mecanismos de acompanhamento sistemático (mensal, trimestral, anual e plurianual) do desempenho. (PELICIOLI, 2000, p. 109). O Decreto nº 5.482, de 30 de junho de 2005 “dispõe sobre a divulgação de dados e informações pelos órgãos e entidades da administração pública federal, por meio da Rede Mundial de Computadores – Internet”. O Portal da Transparência do Governo Federal é um site de acesso livre, no qual o cidadão pode encontrar informações sobre como o dinheiro público é utilizado, além de se informar sobre assuntos relacionados à gestão pública do Brasil. Desde a criação, a ferramenta ganhou novos recursos, aumentou a oferta de dados ano após ano e consolidou-se 29 29 como importante instrumento de controle social, com reconhecimento dentro e fora do país. A fim de atender de forma mais eficiente a crescente demanda e as obrigações de transparência, a CGU iniciou projeto para a restruturação do Portal. Como resultado do trabalho, o Governo Federal lança, em 2018, o novo Portal da Transparência. Entre as novidades, estão: formas diversas de apresentação dos dados, mecanismo de busca integrado e intuitivo, melhor usabilidade, mais recursos gráficos, integração com redes sociais, maior e melhor oferta de dados abertos, adequação a plataformas móveis, maior interatividade (PORTAL TRANSPARÊNCIA, 2018). A Lei complementar 131/2009 – Lei que alterou a Lei de Responsabilidade Fiscal exigindo a disponibilização em tempo real das informações sobre a execução orçamentaria dos entes estatais. A ementa da Lei Complementar 131 explica que a mesma acrescenta dispositivos à Lei Complementar 101, de 2000. Por sua vez, esta última contém preceitos de finanças públicas voltados para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. O objetivo da nova lei complementar teria sido o de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (MAFRA FILHO, 2018). Ficou determinado aos entes a divulgação: das despesas de todos atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução, na realização, disponibilizando o mínimo de dados com relação ao procedimento prestado, seja a pessoa física ou jurídica que se beneficiar do pagamento, e no caso quando houver o procedimento de licitação. No tocante as receitas, destacar o lançamento e o recebimento de todas unidades gestoras, recursos extraordinários. O Decreto nº 7.185, de 27 de maio de 2010, que define o padrão mínimo de qualidade do sistema integrado de administração financeira e controle, nos termos do inciso III, parágrafo único do art. 48 da LRF. A Secretaria do Tesouro Nacional também editou a Portaria nº 548, de 22 de novembro de 2010, que estabelece os requisitos mínimos de segurança e contábeis do sistema integrado de administração financeira e controle utilizado no âmbito de cada ente da Federação, adicionais aos previstos no Decreto nº 7.185, de 27 de maio de 2010 (CARTILHA DA LEI DA TRANSPARÊNCIA, 2018 p.3). 30 30 E por fim a Lei 12.527/2011, a Lei da Informação, regula o acesso a informações e dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Regulariza o direito do cidadão em solicitar os documentos que tiver interesse sem justificar o pedido. A transparência é um elemento importante para um país que se diz ou pretende ser democrático, pois permite às pessoas mudarem suas posturas, a fim de se adequarem e enquadrarem nos modelos legais exigidos, além de possibilitar a criação de grupos sociais politicamente organizados para a criação de um sistema democrático de qualidade com a devida participação dos cidadãos (Mafra Filho, 2018). O Brasil tem se esforçado para se adequar e instrumentalizar as políticas de transparência não apenas no seu regulamento como também no dia a dia da administração pública para sua melhoria, prova disso é a Lei Complementar 131/2009 conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal e decreto 7.185/2010. A Lei 131/2009 em seu art. 48 faz saber: Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Tal artigo define os seguintes itens como obrigatórios: o plano plurianual, lei de diretrizes orçamentária, lei orçamentária anual, prestação de contas e respectivo parecer prévio, relatório resumido da execução orçamentária e relatório de gestão fiscal. No tocante à despesa, o art.48- A, I, LC 131/2009, versa, para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, que os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações, sendo obrigatório: I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço 31 31 prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado. O artigo, acima citado, dispõe sobre a obrigatoriedade de transparência, ou seja, disponibilidade e clareza das informações concernentes às despesas públicas, sendo que o gestor e a gestão devem abandonar a omissão de qualquer que seja o ato, este, deve ser público, levando ao conhecimento da sociedade, para melhor oportunidade de conhecimento e participação da gestão pública, até mesmo para uma fiscalização mais prática e segura de informações corretas. Não cabe o oportunismo da dúvida, o dúbio. Em continuidade o Decreto nº 7.185/2010, o art. 7, traz: Art. 7º Sem prejuízo dos direitos e garantias individuais constitucionalmente estabelecidos, o SISTEMA deverá gerar, para disponibilização em meio eletrônico que possibilite amplo acesso público, pelo menos, as seguintes informações relativas aos atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução orçamentária e financeira: No tocante a despesa é obrigatória a informação, como versa inciso I, do referido art. 7º, do Decreto nº 7.185/2010: I – quanto à despesa: a) valor do empenho, liquidação e pagamento; b) número do correspondente processo da execução, quando for o caso; c) a classificação orçamentária, especificando a unidade orçamentária, função, subfunção, natureza da despesa e a fonte dos recursos que financiaram o gasto; d) operações independentes da execução orçamentária, exceto no caso da folha de pagamento de pessoal e de benefícios previdenciários; e) o procedimento licitatório realizado, bem como à sua dispensa ou inexigibilidade, quando for o caso, com o número do correspondente processo; e f)o bem fornecido ou serviço prestado, quando for o caso. No tocante as receitas , o art.48- A, II, LC 131/2009, prescreve: 32 32 Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a: […] II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. E o Decreto nº 7.185/2010, Art. 7º, II, prescreve: Art. 7º Sem prejuízo dos direitos e garantias individuais constitucionalmente estabelecidos, o SISTEMA deverá gerar, para disponibilização em meio eletrônico que possibilite amplo acesso público, pelo menos, as seguintes informações relativas aos atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução orçamentária e financeira: […] II – quanto à receita, os valores de todas as receitas da unidade gestora, compreendendo no mínimo sua natureza, relativas a: a) previsão; b) lançamento, quando for o caso; e c) arrecadação, inclusive referente a recursos extraordinários. A primeira exige como itens obrigatórios o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. A segunda exige como itens obrigatórios a previsão, o lançamento quando for o caso e a arrecadação, inclusive referente a recursos extraordinários. Em continuidade a análise das leis relacionadas a informação no Brasil, a Lei 12.527/2011, art. 8º, § 1º, dispõe sobre a necessidade de um conteúdo mínimo, abaixo segue disposto: Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas. § 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput, deverão constar, no mínimo: I - registro das competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao público; II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros; III - registros das despesas; IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados; V - dados gerais para o acompanhamento de programas, ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e 33 33 VI - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade. O mesmo art. 8º da Lei 12.527/2011, nos §§ 2º e 3º dispõe: Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas. §1º […] §2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e entidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet). §3º Os sítios de que trata o § 2o deverão, na forma de regulamento, atender, entre outros, aos seguintes requisitos: I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão; II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações; III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina; IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação; V - garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso; VI - manter atualizadas as informações disponíveis para acesso; VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do art. 17 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, e do art. 9o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo n° 186, de 9 de julho de 2008. Ambos parágrafos expressam claramente as exigências para a administração pública observar, sendo todos itens obrigatórios, não facultativos, sendo expresso em determinação legal, conforme vem se discorrendo no desenvolvimento do presente trabalho. A transparência, hoje associada a praticidade da internet, também atende àqueles municípios que são desobrigados de apresentar seus conteúdos via internet. O art. 4 da Lei de Acesso a Informação dispõe: § 4º Os Municípios com população de até 10.000 (dez mil) habitantes ficam dispensados da divulgação obrigatória na internet a que se refere o § 2o, mantida a obrigatoriedade de divulgação, em tempo 34 34 real, de informações relativas à execução orçamentária e financeira, nos critérios e prazos previstos no art. 73-B da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). O critério habitacional se apresenta como um requisito de obrigatoriedade, porem o artigo acima apenas desobriga expressamente, as informações relativas à execução orçamentária e financeira nos termos disciplinados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Cabe ressaltar que a transparência da gestão pública fiscal é obrigatória para todos os entes da federação, inclusive municípios com menos de 10.000 habitantes. O Decreto 7.185/2010 em seu art. 2º, § 2º, III, dispõe sobre a vedação ao cadastro para o acesso a informação, a saber: Art. 2º O sistema integrado de administração financeira e controle utilizado no âmbito de cada ente da Federação, doravante denominado SISTEMA, deverá permitir a liberação em tempo real das informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira das unidades gestoras, referentes à receita e à despesa, com a abertura mínima estabelecida neste Decreto, bem como o registro contábil tempestivo dos atos e fatos que afetam ou possam afetar o patrimônio da entidade. §1º […] §2º Para fins deste Decreto, entende-se por: […] III – meio eletrônico que possibilite amplo acesso público: à Internet, sem exigência de cadastramento de usuários ou utilização de senhas para acesso. O artigo acima citado demonstra que não é só disponibilizar de acordo com a legislação, exige que não haja alguma forma de restrição, seja ela através de cadastros ou senhas de acesso, inibindo qualquer tentativa de controle por parte da administração pública que dificulte o acesso aos seus atos. A Lei de responsabilidade Fiscal e a Lei de Acesso informação exige um conteúdo mínimo a ser disponibilizado nos portais de transparência. A exigência de informações adicionais e quaisquer outras informações que sejam de interesse público, devem ser disponibilizada ao cidadão, independente de solicitação em respeito ao princípio da transparência ativa, dessa forma a Controladoria Geral da União (2013) dispõe: A iniciativa do órgão público de dar divulgação a informações de interesse geral ou coletivo, ainda que não tenha sido expressamente solicitada, é denominada de princípio da “Transparência Ativa”. Diz- 35 35 se que, nesse caso, a transparência é “ativa”, pois parte do órgão público a iniciativa de avaliar e divulgar aquilo que seja de interesse da sociedade. E sobre o princípio da Transparência ativa a Lei de Acesso a Informação em seus arts. 3º e 8º reforça: Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com os princípios básicosda administração pública e com as seguintes diretrizes: I – observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção; II – divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações […] Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por elas produzidas. A exigência como disponibilização do detalhamento de dados com gastos pessoais da administração pública é uma decorrência lógica da transparência ativa (MPMG, 2017). Nesse viés a União se regula pelo Decreto nº 7724/2012 e o Estado de Minas Gerais pelo Decreto 45.969/2012, que regulam a disponibilização das informações referente folhas de pagamento de servidores, concessões de diárias e outras informações de despesas públicas. Segundo a CGU (2013, p.15) “o princípio da Transparência Ativa não se esgota no cumprimento do art. 8º da LAI, mas é um exercício permanente do órgão ou entidade pública de avaliação de informações de interesse coletivo, exigindo divulgação”. 1.4. As obrigações implícitas na lei e as boas práticas de transparência como itens de exigência do Ministério Público do Estado de Minas Gerais No caso da ocorrência de não exigência expressa pelos comandos da transparência pública da divulgação de informações referentes a folha de pessoal e gastos diários, a divulgação é intrínseca a exigência da lei supracitada, lato sensu, decorre do princípio da transparência pública (MPMG, 2017). Assim o MPMG (2017) dispõe como itens considerados como “Obrigações implícitas”, exigidas na gestão da administração pública. 36 36 Convênios: Registro dos convênios celebrados pela Prefeitura; Registro dos detalhes sobre os convênios (data da celebração, objeto e conveniados); e Registro dos termos aditivos aos convênios. Concursos Públicos: Registro dos concursos públicos realizados pela Prefeitura; Cópia digital do edital do concurso; Detalhes sobre o andamento do processo do concurso; Divulgação dos recursos e respectivas decisões; Divulgação do resultado; e Divulgação dos atos de nomeação. Servidores e Remuneração: Registro de remuneração ou subsídio dos agentes públicos, dos servidores efetivos e/ou empregados públicos; Registro realizado por lotação, matrícula, nome, cargo, remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo; Registro mediante planilha consolidada contendo remuneração de todos os agentes políticos, servidores efetivos e/ou empregados públicos; bem como a possibilidade de promover pesquisas nestes documentos; Registro detalhadas dos auxílios, verbas indenizatórias, ajudas de custo, jetons e quaisquer outras vantagens pecuniárias; Registro dos proventos de aposentadoria realizado por nome, cargo, remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo; e Registro dos proventos de pensão realizado por pensionista, nome do servidor, cargo remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo. Diárias de Viagem: Publicações das informações relativas à concessão de diárias de viagem a agentes políticos e servidores públicos da Prefeitura; Nome do beneficiário e respectivo cargo/função que ocupa; Destino da viagem; Atividades a ser desenvolvida durante a viagem; Período de afastamento; Número de diárias fornecidas; Valor total pago ao beneficiário; e Base legal para a concessão de diária de viagem e o respectivo valor fixado: lei municipal autorizativa (MPMG, 2017). Ainda nesse caminho de definir as exigências para análise e avaliação da transparência além das normativa, o Ministério Público de Minas Gerais em orientação de procedimentos administrativos para consulta, o MPMG- 0271.17.000281-7, dispõe o que considera as “Boas Práticas de Transparência”, a saber: A divulgação de remuneração individualizada por nome do agente público (MPF). 37 37 A divulgação do custeio de diárias para agentes públicos, com a divulgação dos valores, nomes, destinos, datas e motivo da viagem (MPF). A disposição da Aba denominada “Transparência” no menu principal do sítio eletrônico (MPMG). Texto padrão explicativo sobre a Lei de Acesso à Informação (MPMG). Link de acesso à legislação federal sobre a transparência (Lei n.º 12.527/2011 e eventual legislação superveniente – MPMG). Acesso ilimitado a todas as informações públicas disponibilizadas no sítio eletrônico: o acesso não pode estar condicionado à criação de um registro (MPMG). Link de acesso a toda legislação municipal: contendo o texto original, as eventuais alterações supervenientes e a redação atualizada (incluindo leis municipais, decretos, portarias, resoluções e demais instrumentos normativos – MPMG). (MPMG, 2017) Tendo esses norteadores, deve-se ter, por parte do gestor público o ânimo político de dar maior transparência possível a sua gestão. Entende-se que os atos públicos realizados devem ter nos executores a preocupação de não omitir, de transmitir a verdade, e o máximo de informações, na busca de firmar a credibilidade através da transparência, não forçados apenas pela legislação, mas como um ato probo, cercado de ânimo para ética a moral. O Ministério Público Federal, ao analisar os itens avaliados no Ranking Nacional da Transparência, pontuou como boas práticas de transparência: divulgação de remuneração individualizada por nome do agente público e a divulgação do custeio de diárias para agentes públicos, com a divulgação dos valores, nomes, destinos, datas e motivos de viagem, itens aproveitados pelo MPMG na elaboração do “check-list” estadual. Assim as análises dos sítios de transparência devem conter, atender e serem avaliados, conforme previsão legal, porém como já observado, a atenção e exigência deve ir para uma interpretação mais além, ou seja, deve cobrar e fiscalizar itens implícitos na lei e boas práticas de gestão, para uma melhor transparência da administração pública, assim o Ministério Público do estado de Minas Gerais, produziu um “check-list” para avaliar os entes federativos e outros órgãos dentro de sua competência. O “check-list” de avaliação da transparência do MPMG possui apontamentos diferenciando, em seu texto, os itens exigidos e a qualificação da exigência, como obrigações expressas em lei, obrigações implícitas na lei e boas práticas de transparência, como demonstrado a seguir: 38 38 1. Aba denominada “Transparência” no menu principal do sítio eletrônico -Item considerado boa prática de transparência** 2. Texto padrão explicativo sobre a Lei de Acesso à Informação- Item considerado boa prática de transparência** 3. Link de acesso à legislação federal sobre a transparência (Lei nº 12.527/2011 e eventual legislação superveniente)- Item considerado boa prática de transparência** 4. Link de acesso à legislação estadual sobre a transparência (Decreto Estadual nº 45.969/2012 e eventual legislação superveniente)- Item considerado boa prática de transparência** 5. Link de acesso ao site da Transparência (www.transparencia.mg.gov.br)-Item considerado boa prática de transparência** 6. Acesso ilimitado a todas as informações públicas disponibilizadas no sítio eletrônico: o acesso não pode estar condicionado à criação de um cadastro ou ao fornecimento de dados pessoais- O acesso às informações pertinentes à transparência pública ativa não admite a condicionante de identificação ou prévio cadastro do cidadão. 7. Registro da estrutura organizacional- Art.8º, §1º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes, o item é considerado como boa prática de transparência. 8. Link de acesso a toda a legislação municipal: contendo o texto original, as eventuais alterações supervenientes ea redação atualizada (incluindo leis municipais, decretos, portarias, resoluções e demais instrumentos normativos)- Item considerado boa prática de transparência** 9. Exigência direcionada à Prefeitura Municipal: Registro das competências de cada órgão municipal- Art.8º, §1º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 10. Exigência direcionada à Prefeitura Municipal: Endereço de cada órgão municipal- Art.8º, §1º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 11. Exigência direcionada à Prefeitura Municipal: Telefone de cada órgão municipal- Art.8º, §1º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 12. Exigência direcionada à Prefeitura Municipal: Horário de atendimento ao público de cada órgão municipal- Art.8º, §1º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até de 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 13. Registro detalhado das receitas da Prefeitura, Câmara Municipal ou Adm. Indireta- Obrigação Expressa – Art.48-A, II da LC 101/00RF; Art.7º, II, Decreto 7.185/10 e Art.8º, §1º,II, Lei. 12.527/11 14. Registro de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros: indicando a origem do recurso em questão (estadual ou 39 39 federal)- Obrigação Expressa – Art.48-A, II da LC 101/00; Art.7º, II, Decreto 7.185/10 e Art.8º,§1º, II, Lei. 12.527/11 15. Registro detalhado das despesas da Prefeitura, Câmara Municipal ou Adm Indireta- Obrigação Expressa – Art.48-A, I da LC 101/00; Art.7º, I, Decreto 7.185/10 e Art.8º,§1º, III da Lei 12.527/11. 16. Link de acesso ao Plano Plurianual do município- Obrigação Expressa – Art.48, Caput da LC 101/00. 17. Link de acesso à Lei de Diretrizes Orçamentaria do município- Obrigação Expressa – Art.48, Caput da LC 101/00. 18. Link de acesso à Lei Orçamentária Anual do município- Obrigação Expressa – Art.48, Caput da LC 101/00. 19. Apresentação do balanço anual, com as respectivas demonstrações contábeis- Obrigação Expressa – Art.48, Caput da LC 101/00. 20. Relatórios da execução orçamentária e gestão fiscal- Obrigação Expressa – Art.48, Caput da LC 101/00 21. Registro das licitações realizadas pela Prefeitura, Câmara Municipal Ou Adm Indireta: organizado, preferencialmente, conforme o momento da licitação (em andamento ou concluída); a ordem cronológica e numérica (número do procedimento) e o tipo de procedimento- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011, Art.7º, I, “e”, Decreto 7.185/2010 22. Registro dos procedimentos de inexigibilidade e de dispensa de licitação realizados pela Prefeitura ou pela Câmara Municipal: organizado conforme ordem cronológica e numérica (número do procedimento)- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011, Art.7º, I, “e”, Decreto 7.185/2010 23. Cópia digital dos editais de licitação- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 24. Detalhamento do objeto e da situação dos procedimentos- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 25. Cópia digital dos seguintes documentos relativos à licitação: edital; propostas apresentadas; atas de julgamento; homologação; adjudicação; contrato.- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 26. Divulgação do resultado da licitação- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 27. Registro dos contratos celebrados pela Prefeitura, Câmara Municipal ou Adm Indireta: organizado, preferencialmente, conforme ordem cronológica e numérica (número do procedimento)- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 28. Descrição do objeto do contrato- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 29. Indicação do procedimento licitatório que deu origem ao contrato (número e tipo de procedimento)- Obrigação Expressa – Art.8º, §1º, IV da Lei 12.527/2011 30. Registro dos convênios celebrados pela Prefeitura ou pela Câmara Municipal- Obrigação Implícita 31. Registro dos detalhes sobre o convênio (data de celebração, objeto e conveniados)- Obrigação Implícita 32. Registro dos termos aditivos aos convênios- Obrigação Implícita 33. Registro dos concursos públicos realizados pela Prefeitura ou pela Câmara Municipal- Obrigação Implícita 40 40 34. Cópia digital do edital de concurso- Obrigação Implícita 35. Detalhes sobre o andamento do processo do concurso- Obrigação Implícita 36. Divulgação dos recursos e respectivas decisões- Obrigação Implícita 37. Divulgação do resultado- Obrigação Implícita 38. Divulgação dos atos de nomeação- Obrigação Implícita 39. Registro da remuneração ou subsídio dos agentes políticos, dos servidores efetivos e/ou empregados públicos- Obrigação Implícita 40. Registro da remuneração dos contratados temporariamente- Obrigação Implícita 41. Registro realizado por lotação, matrícula, nome, cargo, remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo (detalhar se faltou alguma destas informações)- Obrigação Implícita 42. Registro mediante planilha consolidada contendo a remuneração de todos os agentes políticos, servidores efetivos e/ou empregados públicos; bem como a possibilidade de promover pesquisas neste documento- Obrigação Implícita 43. Registro detalhado dos auxílios, verbas indenizatórias, ajudas de custos, jetons e quaisquer vantagens pecuniárias- Obrigação Implícita 44. Exigência direcionada à Câmara Municipal: Registro detalhado dos dispêndios realizados com o recurso “verba de gabinete”- Obrigação Implícita 45. Relatório mensal da despesa com pessoal- Obrigação Implícita 46. Registro dos proventos de aposentadoria realizado por nome, cargo, remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo (detalhar se faltou alguma destas informações)- Obrigação Implícita 47. Registro dos proventos de pensão realizado por pensionista, nome do servidor, cargo, remuneração, abate teto, remuneração retirando o abate teto e o tipo de vínculo (detalhar se faltou alguma destas informações)- Obrigação Implícita 48. Publicação das informações relativas à concessão de diárias de viagem a agentes políticos e servidores públicos da Prefeitura ou da Câmara Municipal- Obrigação Implícita 49. Nome do beneficiário e respectivo cargo/função que ocupa- Obrigação Implícita 50. Destino da viagem- Obrigação Implícita 51. Atividade a ser desenvolvida durante a viagem- Obrigação Implícita 52. Período do afastamento- Obrigação Implícita 53. Número de diárias fornecidas- Obrigação Implícita 54. Valor total pago ao beneficiário- Obrigação Implícita 55. Base legal para a concessão de diária de viagem e o respectivo valor fixado: lei municipal autorizativa - Obrigação Implícita 56. Link de respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.- Art.8º, §3º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 57. Contém ferramenta de pesquisa de conteúdo que permite o acesso à informação (a ferramenta “lupa” para promover pesquisas 41 41 no próprio sítio eletrônico)- Art.8º, §3º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com mais de 10.000 habitantes, para municípios com até 10.000 habitantes o item é considerado como boa prática de transparência. 58. Possibilita a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários (possibilidade de acessar e gravar os relatórios disponibilizados no sítio eletrônico em vários formatos)- Art.8º, §3º, I, LAI – Item obrigatório para municípios com
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