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2017 - 03 - 03 Revista de Processo 2015 RePro vol. 243 (Maio 2015) Direito Estrangeiro e Comparado – Generalidades Direito Estrangeiro e Comparado –– Generalidades 1. Os poderes processuais do juiz em perspectiva comparada A comparative study of the procedural powers of a judge GUILHERME BOTELHO Mestre e Doutorando em Direito pela PUC-RS. Especialista em Direito Processual Civil. Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação da Universidade Feevale. Pesquisador Capes. Advogado. Sumário: 1. Processo e cultura: os modelos de organização estrutural do processo civil na cultura ocidental 2. Origem histórica da formação dos dois grandes modelos processuais 3. Os sistemas inquisitorial e adversarial como consequências de estruturas jurídicas distintas 4. Os poderes do juiz entre os modelos de estrutura organizacional de processo 5. Conclusão 6. Bibliografia Área do Direito: Processual Resumo: O ensaio tem por escopo a comparação entre os principais modelos de organização estrutural do processo civil e as consequências da aplicação de suas técnicas sobre os poderes processuais do julgador. Aborda as principais críticas contemporâneas doutrinarias a cada um deles, bem como, o atual fenômeno de inter- relacionamento e tendência de universalização destes modelos em busca de um processo eficiente. Abstract: The scope test is the comparison between the main models of structural organization of civil procedure and the consequences of applying their techniques on the procedural powers of the judge. Addresses key contemporary critical doctrinal each of them, as well as, the current phenomenon of inter-relationship and the universal tendency of these models in search of an efficient process. Palavra Chave: Modelos de processo - Processo inquisitório - Processo adversarial. Keywords: Models of procedure - Inquisitorial process - Adversarial process. Recebido em: 30.01.2015 Aprovado em: 15.04.2015 1. Processo e cultura: os modelos de organização estrutural do processo civil na cultura ocidental A vida em sociedade não é possível sem uma regra que discipline as relações que se estabelecem entre os homens. Esta regra é o direito. Ele, assim como outros produtos da cultura, tais como a política, a religião e a economia, é um fenômeno social 1 e, portanto, mutante, que busca se amoldar à sociedade para qual serve. Não se trata de produto imposto pelo Estado; pelo contrário, os valores morais que merecem eleição e, por consequência, proteção, bem como suas sequentes sanções, devem ser aqueles que melhor espelham as respectivas características sociais. 2 Aos imperativos e às sanções, somam-se as normas de natureza processual, que tem por objeto a regulação do debate entre os jurisdicionados e o Estado. 3 Sendo o direito processual o “(...) ramo do conhecimento jurídico mais próximo do mundo da vida”, 4- 5 legítimo que se destaque seu aspecto cultural, em observação que já se torna lugar comum. 6 As normas processuais também devem, portanto, amoldar-se à cultura de um povo. Faz isso de forma bivalente porque, de um lado, deve refletir um modo de debate mais adequado à cultura da sociedade a quem serve e assim gere uma decisão que se legitime socialmente e, por outro lado, adequando-se aos nortes do direito material tutelado, sendo, portanto, instrumento fiel de sua realização. A partir dessa premissa, dois grandes modelos de processo se desenvolveram ao longo dos séculos no panorama jurídico ocidental. 7 Modelos que podem ser visualizados de forma abstrata, mediante exame de suas mais marcantes características, todavia, que vêm convivendo e se inter-relacionando em variadas culturas, não se demonstrando puros em nenhuma delas. Está-se a fazer referência ao modelo dispositivo, 8 ou adversarial, e ao modelo publicista, de investigação judicial, não adversarial, ou inquisitório de processo. 9 O modelo processual adversarial, em seu âmbito civil, é praticado nos países de origem anglo-saxã. O modelo inquisitivo, ou não adversarial, é praticado nos ordenamentos romano-canônicos; a estes se aplicam, respectivamente, em língua inglesa, as conhecidas denominações civil law e common law. O sistema adversarial tem sua marca na predominância das partes na determinação da condução do processo e na iniciativa probatória. 10 O juiz torna-se agente passivo da relação processual, sendo incumbência do autor, não apenas a propositura da demanda, mas a tarefa de conduzir o processo a suas fases sequenciais. A iniciativa probatória é ônus das partes, sendo ilícito ao magistrado, de regra, a determinação ex officio de provas ou mesmo a investigação de fatos jurídicos relevantes ao julgamento da causa, sob pena de comprometimento de sua imparcialidade. Seu procedimento é dividido em duas fases nitidamente distintas. A primeira fase preparatória, apenas preparatória da segunda, opera-se sem participação do juiz. Inicia-se com o service of process, isto é, com a notificação ao demandado de um ato judicial chamado summons, que, por sua vez, dá notícia do ajuizamento da ação contra o réu, análogo ao ato de citação da cultura romano-canônica. A parte autora apresentará o complaint, do qual será intimado o demandado, que, por sua vez, poderá apresentar a answer. Caso nesta o réu apresente uma ou varias demandas reconvencionais (counterclaims), o que é permitido na maioria dos Estados, de regra, se oportunizará ao autor a apresentação de uma peça chamada reply. Estas manifestações são denominadas pleadings e constituem, a grosso modo, a fase postulatória do processo na common law. 11 Essa primeira fase ainda contará com outro importante estágio preparatório, destinado a colheitas de provas (pre-trial) ainda sem a presença do julgador. Neste estágio as partes podem produzir provas orais e postular a apresentação de documentos que se encontram em poder da parte adversa ou de terceiros, sendo que apenas ocorrerá intervenção judicial nas hipóteses em “que el adversario se oponga. La decisión del juez si pide, de ordinario mediante una motion, y se pronuncia en la forma de una order”. 12 A segunda e mais relevante fase destinada é ao julgamento (trial), em que pese sejam rotineiros os relatos de que ela raramente aconteça devido aos altíssimos índices de acordos entre as partes. A colheita das provas ficam a cargo exclusivo das partes, que contam com os poderes do discovery norte- americano ou disclosure inglês 13 para proceder à tomada de depoimentos e acesso a documentos em poder de terceiros, ou mesmo da parte contrária. 14 A preocupação, portanto, entre os fatos apresentados pelas partes e aqueles efetivamente ocorridos, portanto, é quase que inexistente. O magistrado não deve sequer ter contato com as peças processuais, a fim de não deter qualquer contato com a causa até o dia do julgamento; movimento em contrário poderia lhe prejudicar não mantendo sua mente aberta às impressões colhidas no trial. Na expressão de Barbosa Moreira, 15 a ignorância é tida como garantia de imparcialidade e barreira contra o prejulgamento. De outro lado, o modelo inquisitório tem sua marca no impulso processual a cargo do julgador. A busca pela solução “justa” é um fim a ser alcançado, o que justifica um poder de investigação, mediante determinação de produção de provas ou oitivas de pessoas ainda que não requeridas pelas partes 16 (art. 130 do CPC). Justifica-se uma mitigação do princípio dispositivo em seu sentido processual, mantendo-se, no entanto, intacto, em seu sentido material e, com isso, mantendo a cargo da parte a iniciativa de proposição da demanda e o objeto litigioso a ser solvido. Cabe o registro que um terceiro modelo ainda é encontrado na cultura ocidental, com menor destaque que os dois que serão ofoco de análise nesse ensaio. Está-se a referir ao modelo socialista de processo civil, que amplia os poderes do juiz não apenas na condução processual como também em uma direção material, permitindo que excepcionalmente possa o Estado promover a ação de interesse individual em nome do autor ou mesmo, possa o julgador ampliar ou alterar o objeto posto em juízo pelo autor. A esse respeito, Cappelletti 17 destaca que o Código de Procedimento da Republica Socialista Federativa Soviética de 1964, em seu art. 4.º, assim como fizera seu Codex antecessor de 1923, em seu art. 2.º, que a ação civil executiva poderia ser proposta tanto pelo credor, como também pela Procuradoria do Estado (Ministério Público) sem requerimento, nem participação do credor, ou, excepcionalmente, até mesmo ex officio pelo Tribunal competente. 18 Aliás, ao se referir ao Código soviético de 1923, Calamandrei 19 classificou-o como “il tipo piú perfetto di processo civile ‘pubblicizzato’ e inquisitorio”, a partir da atribuição dada ao julgador do poder de iniciativa para acertamento da verdade, como também de julgamento ultra petita, como também de exclusão de autor que lhe parecesse ilegítimo, com possibilidade de, ex officio, “chiamare al suo posto il vero legitimato (art. 166)”. Ao comentar o vigente Código de Processo Civil da Federação Russa, vigente desde 01.02.2003, Ernesto Fabiani, 20 em obra de fôlego sobre os poderes processuais do juiz, nos variados modelos organizacionais, salienta que o atual Código não diminui em muito os poderes antes mencionados, permitindo atualmente não apenas uma ampla condução processual por parte do julgador, que pode determinar a produção de provas sem requerimento das partes, inclusive, mediante nomeação de expert, de sua confiança, bem como para “explicar às partes seus direitos e deveres” e “assistir-lhes no exercício de seus direitos” (art. 12.º), bem como “determinar os fatos que entende de relevante importância para a decisão da causa, sem nenhuma limitação aos fatos alegados pelas partes” (art. 56). Nas últimas décadas, acenderam-se os fenômenos de inter-relacionamento entre as famílias do civil law e do common law. No direito processual também se intensificou, nas duas vias, o debate em torno das opções políticas dos sistemas inquisitorial e dispositivo. Se por um lado, parecia definitiva a visão publicista do processo civil, com plena legitimação do juiz para investigação dos fatos, mediante impulso oficial, o que se vê contemporaneamente é a insurgência de forte movimento reformador que aponta um caráter ideológico autoritário próprio dos regimes totalitários na atuação ativa do juiz na condução do processo. Impõe, assim, ao debate, um forte elemento político. 21 Essa corrente ganhou adeptos de relevo. Na Itália, Franco Cipriani aponta o regulamento de Klein (1895) vigente desde 01.01.1898, como apogeu do modelo inquisitório. Não é, no entanto, o primeiro Código com tais características. É precedido pelo Regulamento Josefino (1781), verdadeiro “monumento del despotismo ilustrado del siglo XVIII”. 22 No Peru, Eugenia Ariano Deho destaca o quanto se demonstra autoritário, em sua ótica, o atual Código de Processo Civil peruano (de inspiração brasileira), 23 que amplia os poderes processuais do juiz, em especial, ao adotar o impulso oficial: “(...) siempre limitativo de los derechos de las partes, pero siempre libre para el juez, que con todos sus poderes hace y deshace el proceso a su propio placer”. 24 Seguindo a linha de ilustres juristas da tradição romano-canônica, que vêm se opondo a visão publicista do processo e as principais linhas do modelo inquisitório, em especial, a possibilidade de investigação judicial quanto a matéria probatória, estão Girolamo Monteoleone 25 e Juan Montero Aroca. 26 Por outro lado, o adversarial system também sofre seus ataques doutrinários baseados em aspectos históricos contemporâneos, por desconsiderar as relações de hipossuficiência das relações de massa e os reflexos dessas desigualdades no âmbito processual. 27 No âmbito legislativo, as correntes e contracorrentes também podem ser facilmente notadas. Apenas para exemplificar, basta recordar os inúmeros instrumentos de aplicação vinculante de precedentes no direito brasileiro ou ainda a recente inserção da denominada class action pública no direito italiano, para preservação de interesses juridicamente relevantes e homogêneos a uma eficiente Administração Pública. 28 Enquanto isso, a Inglaterra, após uma onda de reformas legislativas nas décadas de 1980 e 1990, que tiveram a tônica de aumentar os poderes do juiz na condução do feito, optou por render-se a criação do Civil Procedure Rules que por lá vigora desde 1999. A adoção de constantes alterações processuais na tendência de conceder maiores poderes probatórios ao magistrado já faz com que Jolowicz 29 ponha em xeque a própria inserção da Inglaterra no sistema adversarial nos dias de hoje. O que se vê, assim, é que diferentemente de afirmações em contrário, as culturas ocidentais vêm andando em marchas e contramarchas sem uma lógica aparente em busca de um modelo processual que atenda os anseios transnacionais das sociedades por um processo célere, com correta aplicação do direito objetivo ao caso concreto, mas com respeito à autonomia privada. 2. Origem histórica da formação dos dois grandes modelos processuais Uma investigação histórica a respeito destes dois grandes modelos processuais do ordenamento jurídico ocidental parece imprescindível para o debate que se travar mais além. A primeira premissa que se busca estabelecer é de que ambos os modelos encontram idêntica semente no direito romano. A cultura romana é, como sabido, revolucionária e marcante na formação dos povos ocidentais. O processo romano 30 pode ser dividido em três grandes estágios: o período das legis actiones (ações das leis), que se estabelece com a fundação de Roma (754 a.C.) até os fins da República; o período per formulas, introduzido pela Lex Aebutia (149-126 a.C.) e definitivamente constituído com a Lex Julia Privatorum no ano 17 a.C., que juntos formam o ordo iudiciorum privatorum e o período da cognitio extra ordinem, instituído, de forma paulatina (dado que continua a viger o procedimento per formulas), com o principado em 27 a.C., vigente até a definitiva queda do Império romano do Ocidente. Os dois primeiros, de marca mais privativa, formam o direito romano clássico. O processo do período romano clássico é marcado pela bipartição do procedimento, iniciando-se in iure, diante do pretor, a quem incumbia a organização e a fixação dos pontos controvertidos. A segunda fase, apud iudicem, era procedida perante o iudex unus, que, auxiliado por “um consilium integrado por membros de sua confiança (a exemplo daquele que auxiliava o magistrado), tomava conhecimento do litígio a ele submetido e julgava soberanamente, em nome do povo romano”. 31 Durante esse período, o direito em Roma vinha de hábitos, costumes, e o conhecimento das regras jurídicas era monopólio dos sacerdotes, que detinham o conhecimento do calendário e das normas jurídicas. O período das legis actiones é marcado por alto misticismo religioso. Gaio chega a comentar que “(...) estas ações da lei tornaram-se a pouco e pouco odiosas. Pois, dada a extrema sutileza dos antigos fundadores do direito, chegou-se à situação de, quem cometesse o menor erro, perder a causa” (i. 30). 32 O período per formulas, nesse sentido, representou pequeno avanço em relação ao seu antecessor. De outro lado, o período da cognitio extra ordinem representa drástica alteração em relação aos anteriores. Desenvolve-se a partir de Augusto como um processo imperial(hierárquico). Max Kaser explica que: “essencial neste processo é que a fase da prova e a sentença não se confiam a um juiz privado, mas todo o processo até à sentença é conduzido por juízes funcionários. A bipartição nas fases in iure e apud iudicem é, em princípio, alheia à cognição”. 33 A litis contestatio deixa de ter a função especial de submissão das partes, dado que estas estão “de antemão sujeitas ao poder judicial do juiz funcionário”. 34 No século V, com os ataques dos povos germânicos, constituídos pelos visigodos, lombardos, francos, anglos e saxões tem início a queda do Império Romano. O primeiro território a ser invadido pelos “bárbaros” é a Inglaterra, que pouco chega a conviver com o período publicista do direito romano. É sabido que entre os anos de 43 a 410, a Inglaterra deteve ocupação romana, sendo dela uma província. Nesse período, vivia-se já o período da cognitio extra ordinem que, no entanto, apenas havia se universalizado com a extinção definitiva do processo formulário em 342 d.C. Saliente-se, todavia, que é apenas com Justiniano que o processo cognitório se transforma em um processo de domínio do juiz funcionário, com reforço dos seus poderes frente às partes. 35 Os bárbaros que invadem a Inglaterra e a tomam do Império Romano são formados, em especial, por três povos germânicos: os jutos, os anglos e os saxões. A ocupação dos povos germânicos (bárbaros) no mundo ocidental dá início à Idade Média. O direito destes povos regulava uma civilização muito mais primitiva do que a romana. 36 A reparação pelas ofensas operava-se pela força. Em suma: “É a autojustiça que impera em tal sistema, no qual se mostra soberana o arbítrio e decisivo o ato de força do indivíduo”. 37 Nesse ambiente cultural, era natural que o procedimento romano suplantasse “(...) em quase todos os setores do direito processual, o rude e pouco desenvolvido processo germânico (...)”. 38 Por conta dessa menor evolução jurídica, não surpreende que os bárbaros recebessem influência do procedimento romano. Todavia, o procedimento que melhor se afeiçoou as características de absoluta autonomia individual era o procedimento do ordo iudiciorum privatorum. Passa- se, assim, a desenvolver-se um direito romano “vulgar”. 39 Na Inglaterra, no entanto, essa ocupação tem vida curta. Em 1066, os normandos, “povo formado de descendentes dos viquingues que haviam ocupado uma região no norte da França e se convertido ao cristianismo”, 40 a tomam dos povos germânicos. O direito que os normandos levam para a Inglaterra se forma, assim, a partir de uma “combinação dos antigos costumes germânicos, ainda presentes entre os viquingues, com uma forte autoridade judicial real, aprendida com os francos”. 41 No apagar do século XI tem início o renascimento do direito romano com a redescoberta dos textos de Justiniano. 42 A segunda metade do século XI marca o florescimento de nova civilização. 43 Esse renascimento se dá, em especial, pelo surgimento de escolas jurídicas. Destaca-se, de chofre, a Universidade de Bolonha. Em rápidas linhas, nasce ali o direito comum, que se marca pela unificação das fontes do direito e encerra um objeto único, pertencente a toda ciência jurídica europeia, em literatura escrita ou traduzida para uma língua comum: o latim. 44 A partir de então, em decorrência do “perfil já cristianizado do direito justianianeu e a ampla romanização da Igreja e, por via de consequência, do direito canônico, ambos os ordenamentos jurídicos passaram a ser investigados simultaneamente”. 45 Estava aberta a porta para um sistema jurídico-canônico. As influências dos cânones da Igreja ao direito praticado no civil law e, em especial, ao seu sistema processual, são evidentes. Por conta de seu compromisso com valores ligados a justiça, v.g., extrai-se consequências no impulso oficial na produção de provas e mesmo na revisão de sentenças a fim de se ter certeza do alcance da melhor decisão. De outro lado, as distinções se agravaram quando a Inglaterra, por decisão de Henrique VIII, no século XV rompe com a Igreja Católica e funda a Igreja Anglicana, afastando-se definitivamente das influências do direito canônico. Daí, porque, correto Ovídio Baptista ao falar em tradição romano-canônica a fim de contrapor a família do common law, 46 tendo em vista que a herança germânica não pode ser nota distintiva na formação destas culturas. O adversarial system parece ser inegavelmente uma evolução não muito grande do processo civil romano clássico, 47 seja pelo desinteresse do Estado na busca pela verdade, tendo o processo alta marca privastística, seja pelo sistema bipartido, antes destacado, entre o pre-trial destinado às postulações, fixação dos pontos controvertidos e produção de provas, e o trial, diante do magistrado, democraticamente eleito para aplicar os costumes ao conflito em concreto. Muito similar ao sistema romano clássico mencionado (in iure e apud iudicem). As semelhanças são irrefutáveis. Também chama a atenção a coincidência posta no direito romano do ordo iudiciorum privatorum de um sistema processual baseado na oralidade, assim como ocorrente no sistema adversarial. Neste, a prova oral é a prova por excelência, possuindo a prova escrita uma função subordinada, denotando uma verdadeira hierarquia probatória. Daí, porque, correta a conclusão de Angelo Sereni 48 ao afirmar que, enquanto no sistema inquisitório a parte pode apresentar em juízo qualquer documento que entenda relevante para a solução da lide, no sistema adversarial a regra será contrária, isto é, a parte não poderá produzir prova documental, a menos que demonstre (introduced in evidence) preliminarmente sua admissibilidade e sua relevância. De outro lado, o inquisitorial system demonstra clara identificação com a cognitio extra ordinem. De marca publicista 49 e com procedimento unificado perante magistrado público investido de iurisdictio. A aplicação do direito (actio) é preocupação do Estado que passa a controlar a integralidade do procedimento. Os dois sistemas processuais, portanto, parecem serem frutos da mesma árvore. Estabelecida essa premissa é possível entender melhor o constante debate entre idas e vindas de correntes doutrinárias e opções legislativas que acabam por vezes sendo questões de mera escolha política. Como bem observado por Eduardo Couture, em seu precioso Projeto de Código de Procedimento Civil, 50 as soluções processuais que se põem para os males que se apresentam se formam a partir de decepções históricas. Assim, apenas exemplificando, o processo pode ser oral ou escrito, pode ser dominado pelo princípio da mediação (com a presença de colaboradores e assessores do juiz), ou da imediação; pelo princípio das provas racionais, ou das provas legais, pode ser dominado pelo princípio da unilateralidade, ou da bilateralidade, pelo impulso a cargo da parte ou a cargo do juiz, pela publicidade dos atos processuais, ou por sua realização em sigilo. 51 Na expressão de José Carlos Barbosa Moreira se segurarmos um pêndulo ao seu extremo com energia, quando este for liberado, irremediavelmente ele se moverá com força equivalente ao sentido oposto. Porém, “(...) a melhor forma de coibir um excesso e de impedir que se repita não consiste em santificar o excesso oposto”. 52 Esses modelos processuais, portanto, nascem de um mesmo embrião, todavia, sofrem ao longo dos séculos influências culturais distintas. Suas feições atuais são frutos de estruturas de organização do Estado distintas. Modelos processuais adequados a esta forma de estruturação do poder. É o que se passa a examinar. 3. Os sistemas inquisitorial e adversarial como consequências de estruturas jurídicasdistintas Não por acaso estes modelos processuais se apresentam em famílias ocidentais diversas. Visualizando bem tal fator, Mirjan R. Damaska 53 argumenta que as características das sociedades inglesas e norte-americanas implicaram na construção de um modelo de organização estatal paritário, em que o cidadão, o Estado e a sociedade se relacionam em situação de equivalência, em um modelo que marca diretamente o modo de organização do Poder Judiciário. O modelo estatal paritário se funda em pessoas chamadas a desenvolver funções de autoridade ad hoc, ou por período limitado, que distribui o poder de forma horizontal (um único nível de poder) e que busca a aplicação da decisão, distanciando-se de critérios técnicos pré-determinados, isso porque “(...) i laici non vogliono essere vicolati a critério tecnici, non solo perché non sempre li comprendono, ma anche perché tali critério possono condurre a risultati in contrasto con le loro idee circa la soluzione appropriata del caso, idee che facilmente traggono origine da senso giustizia sostanziale”. 54 Nesse sentido, possível acrescer a lição de Radbruch 55 para quem a tradição inglesa ficou mais próxima do direito romano clássico ao revés da tradição romano-canônica que pautou-se no corpus iuris. O método de decisão inglês, assim, é o indutivo, que vai do caso à norma e não o contrário como sói transcorrer na civil law, ou seja, nos países que se formaram a partir do método do Código justianeu. Por sua vez, o modelo hierárquico 56 implica na utilização de funcionários permanentes (públicos), na estruturação de níveis internos hierarquizados de forma rígida, mediante a utilização de critérios técnicos para a formulação da decisão. O modelo de poder traz consequências diretas ao correspondente modelo de processo. No hierárquico se verifica que o processo se forma por fascículos, com documentação de todos os atos por cada um daqueles que dele participam, o funcionário hierárquico prefere decidir com base em documentos escritos, o processo é fragmentado em fases, conta com impulso oficial e baseado em regras processuais inflexíveis. Enquanto isso, o modelo paritário implica em concentração das fases, se articula em único nível de decisão, valoriza a oralidade e, portanto, o testemunho prestado em julgamento, legitimando a atividade judiciária privada. O modelo paritário se desenvolve no processo através de posição de igualdade das partes para com o juiz. Isonômica, na expressão de Daniel Mitidiero. 57 É modelo que tem por mote a resolução de conflitos. 58 Parafraseando Dinamarco tem no escopo social a maior das finalidades. 59 Enquanto isso, o modelo hierárquico se desenvolve mediante relações assimétricas, as partes se sujeitam ao Estado-Juiz em situação de desigualdade. O sistema adversarial se demonstra essencialmente paritário na relação entre os sujeitos deles participantes. Tem por função basicamente a pacificação social e o respeito à autonomia privada das partes. É compromissado, por isso, apenas com uma justiça “formal” e acaba, muitas vezes, por trazer grave injustiça, dado que nada mais injusto do que tratar de forma igual os desiguais. É que, ao não se comprometer com a busca pela “verdade” acaba desconsiderando as inúmeras variantes que atuam em um processo, tais como as distinções financeiras e mesmo técnicas no conflito entre o litigante habitual e o litigante casual. Recentemente, Daniel Mitidiero propôs um terceiro modelo de processo: o modelo colaborativo, que tem por característica a mistura das características acima mencionadas, sendo isonômico no diálogo e assimétrico no momento da concessão da decisão. 60- 61 Todavia, não nos parece correta a observação. Em que pese de alta relevância os deveres de colaboração no processo, estes decorrem da nova ideia de contraditório incorporada na doutrina contemporânea (contraditório forte). 62 No momento em que o contraditório, muito mais do que um direito à bilateralidade ou contramanifestação (entre as partes) é um direito à participação efetiva no convencimento do julgador, traz-se, em consequência, o julgador como sujeito (do direito) do contraditório, sendo natural que a tal “nova” situação lhe traga também deveres, apontados originariamente por Miguel Teixeira de Souza 63 na doutrina portuguesa. No mais, o modelo paritário em momento algum descrê submissão das partes no momento da decisão. Isso seria contrário a sua própria estruturação como poder. Aliás, mesmo o mais arcaico dos modelos paritários presumia submissão no momento da decisão; essa justamente era a função da litis contestatio. Em suma, o modelo colaborativo cai por terra em um exame mais cuidadoso. 4. Os poderes do juiz entre os modelos de estrutura organizacional de processo A escolha entre técnicas processuais mais aderentes ao modelo inquisitório ou ao modelo adversarial podem e devem variar, conforme a cultura. É natural, portanto, a escolha por um modelo processual menos “preocupado” com justiça material da decisão em uma sociedade que valoriza, com veemência o livre arbítrio e a baixa intervenção estatal nas relações privadas. Natural também que uma sociedade organizada, sob relações de paridade entre a sociedade e o Estado, com maior prestígio ao arbítrio individual, reflita tal confiança nos poderes dos jurisdicionados nas relações processuais, com a consequente menor intervenção do Estado (Juiz). Para comprovar-se o esposado, um exemplo pode ser a forma como se construiu em ambas as culturas a possibilidade de controle da razoabilidade das leis. Enquanto o princípio da proporcionalidade forma-se na cultura romano-canônica, mais precisamente no direito alemão, como forma de combate aos abusos da intervenção estatal, o princípio do balanceamento (seu coirmão) no direito estadunidense, nasce jurisprudencialmente como meio de coibição ao excesso de zelo na proteção dos direitos dos particulares. 64 É que na cultura estadunidense, é a sociedade, por conta de seu alto poder de autodeterminação, que, por vezes, merece freio. A escolha por um ou outro modelo influencia diretamente a gama de poderes processuais que o magistrado terá na condução do instrumento. A principal distinção, como já se abordou, é a possibilidade de determinar a produção de provas ou inquirição de pessoas ex officio, em nome do interesse público no alcance da melhor decisão. Todavia, outras consequências também decorrem desta escolha, tais como, a possibilidade de pronúncia sobre questões não levantadas pelas partes em nome do mesmo interesse público, mitigação da preclusão, ampliação do efeito devolutivo dos recursos ou mesmo a possibilidade de cumprimento de decisão, sem pleito da parte vencedora. Sendo a jurisdição, antes de tudo, uma afirmação de poder, a ampliação dos poderes processuais consequentemente resultará na menor atuação das partes e, por consequência, de seus procuradores. 65 A common law, não por acaso, conta com um sistema de alto reconhecimento a classe dos advogados que, quando remunerados quota litis chegam a contar verbas de até 50% da indenização e que não possuem questionamento quanto a eventual abusividade. 66 Isto porque, o discovery, em que pese instrumento de alta relevância para busca da verdade posto a disposição das partes, é complexo e angaria por vezes alto grau de zelo e tempo deste profissional, sendo, no mais comum das vezes, decisiva sua participação para o resultado da demanda, sem a chance de que uma eventual desídia possa ser compensada por um “assistencialismo” processual do julgador. Para alguns, esses poderes deixados à mão das partes (leia-se advogados) geram, por sua vez, um espaço fértila chicana. Todavia, essa liberdade é também controlada por um sistema que conta com forte repressão ao mal litigante (contempt of court). 67 Daí, porque, não parece correto concluir que o sistema adversarial seja um campo para litígios maliciosos ou mesmo que o juiz deste sistema tenha necessariamente menor poder de condução. A esse respeito, Chiarloni 68 relata caso recente em que um empresário ficou vários anos preso por não atendimento de uma ordem de exibição de documentos (discovery), algo pouco provável na cultura romano-germânica, onde supostamente têm-se poderes processuais de maior lastro. O fio condutor para a escolha das técnicas decorrentes deste sistema parece ser efetivamente o interesse público por trás do litígio, sendo possível pensar, dado o aproximar de um novo Código de Processo Civil na escolha destas opções a partir dessa premissa, amoldando tais poderes a natureza do litígio posto em análise. 5. Conclusão Examinou-se de forma sucinta no presente estudo os principais modelos processuais conhecidos no mundo ocidental, mediante uma comparação, em especial dos modelos adversarial e inquisitório utilizados, respectivamente, na cultura anglo-saxã e romano germânica. Tentou se demonstrar que nenhum sistema processual é puro, sendo classificado por suas técnicas preponderantes. Mais do que isso, buscou-se a demonstração a escolha por tais técnicas processuais que influenciam diretamente os poderes de condução do julgador dependem diretamente da cultura de cada sociedade. Assim, uma maior intervenção do Estado-Juiz na condução processual é, de regra, uma consequência, de uma organização estatal alicerçada em um Estado com relações mais intervencionistas. A convivência entre estes sistemas que vêm se aproximando por conta de uma globalização que também atinge o processo pode ser mediante a concessão de maior ou menor grau de intervenção a partir do interesse público que envolva o litigo posto em debate. 6. Bibliografia ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. A garantia do contraditório. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. vol. 15. p. 7-20. Porto Alegre: UFRGS, 1998. ______. Do formalismo no processo civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. AROCA, Juan Montero. Ideología y proceso civil. Su reflejo en la “buena fe procesal”. In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. ASSIS, Araken de. O contempt of court no direito brasileiro. Revista de Processo. vol. 111. p. 18. São Paulo: Ed. RT, jul. 2003. BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. ______. 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Rivista di Diritto Processuale. vol. 27. série 2. p. 253-271. Padova, 1972. BOTELHO, Guilherme. Direito ao processo qualificado: o processo civil na perspectiva do Estado Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. CALAMANDREI, Piero. Rassegna di letteratura e legislazioni straniere. II. Russia. Rivista di Diritto Procesuale Civil. p. 284-295. Padova, 1942. CAPPELLETTI, Mauro. O processo civil no direito comparado. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Líder, 2001. ______. Proceso, ideologias, sociedad. Trad. Santiago Sentís Melendo y Tomás A. Banzhaf. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa-America, 1974. CHIARLONI, Sergio. Riflessioni microcomparative su ideologie processual e accertamento della verità. Revista de Processo. vol. 176. p. 105-120. São Paulo: Ed. RT, out. 2009. CIPRIANI, Franco. El proceso civil entre libertad y autoridade (el reglamento de Klein). In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. 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Os três modelos de direito processual: inquisitivo, dispositivo e cooperativo. Revista de Processo. vol. 198. p. 213-225. São Paulo: Ed. RT, ago. 2011. DINAMARCO, Candido Rangel. A instrumentalidade do processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. FAZZALARI, Elio. L’esperienza del processo nella cultura contemporanea. Rivista di Diritto Processuale. vol. 20. série 2. p. 10-30. Padova, 1965. FREITAS, Juarez. A substancial inconstitucionalidade da lei injusta. Petrópolis/Porto Alegre: Vozes/EdiPUCRS, 1989. GOLDFARB, Ronald L. The contempt power. New York, Columbia University Press, 1963. GROSSI, Paolo. L’ordine giuridico medievale. 9. ed. Roma: Larteza, 2002. GUERRA, Marcelo Lima. Execução indireta. São Paulo: Ed. RT, 1999. JOBIM, Marco Félix. Cultura, escolas e fases metodológicas do processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. JOLOWICZ, J. A. A reforma do processo civil inglês: uma derrogação ao adversary system. Revista de Processo. vol. 19. p. 64-75. São Paulo: Ed. 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Processo e cultura: praxismo, processualismo e formalismo em direito processual civil. Genesis: Revista de Direito Processual Civil. n. 33. p. 484-510. Curitiba,jul.-set. 2004. MONTELEONE, Girolamo. El actual debate sobre las “orientaciones publicísticas” del proceso civil. In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1946. 3. ed. Rio de Janeiro: Borsói, 1960. t. 1. ______. Fontes e evolução do direito civil brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Foren-se, 1981. RADBRUCH, Gustav. Lo spirito del diritto inglese. Trad. italiana de Alessandro Baratta. Milano: Giufrrè, 1962. SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. SOUZA, Miguel Teixeira de. Estudos sobre o novo processo civil. 2. ed. Lisboa: Lex, 1997. TARUFFO, Michele. Il processo civile adversary nell’esperienza americana. Padova: Cedam, 1979. VELLOSO, Adolfo Alvarado. Los sistemas procesales. In: ZARZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado (coords.). El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. VISHINSKI, Andrei. A prova judicial no direito soviético. Rio de Janeiro: Nacional, 1957. Pesquisas do Editorial OBSERVAÇÕES SOBRE OS MODELOS PROCESSUAIS DE CIVIL LAW E DE COMMON LAW, de Michele Taruffo - RePro 110/2003/141 OS TRÊS MODELOS DE DIREITO PROCESSUAL: INQUISITIVO, DISPOSITIVO E COOPERATIVO, de Fredie Didier Jr. - RePro 198/2011/213 PODERES DO JUIZ NO NOVO CPC, de Trícia Navarro Xavier Cabral - RePro 208/2012/275 FOOTNOTESFOOTNOTES 1 É uma ênfase da obra de Pontes de Miranda que o direito não é um produto estatal; é, antes de mais nada, um processo de adaptação social ao lado da religião, moral, arte, política, economia e conhecimento (ciência). Aos que desejarem se aprofundar na obra do autor: PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1946. 3. ed. Rio de Janeiro: Borsói, 1960. t. 1, p. 25-38 e 42-43; PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Fontes e evolução do direito civil brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 1-26, em especial, 1-5. 2 Com razão Juarez Freitas recorda que todas as normas jurídicas possuem conteúdo moral, podendo, por vezes, apresentarem-se como imorais: “(...) ou são morais, ou são imorais, mas sempre estarão inundadas de moralidade, como de ideologia sócio-político-cultural, não necessariamente dominante”. O que jamais existirá são normas amorais (FREITAS, Juarez. A substancial inconstitucionalidade da lei injusta. Petrópolis/Porto Alegre: Vozes/EdiPUCRS, 1989. p. 25). O primeiro momento do direito é justamente a positivação dos valores que a sociedade entende que devem ser protegidos. Essas escolhas acabam sendo inegavelmente guiadas pela moral e pelos costumes. 3 As normas jurídicas podem ser examinadas, sob três momentos diversos. Em um primeiro, o legislador escolhe os valores sociais a serem protegidos; em um segundo momento, elabora as sanções em abstrato às violações destas proteções; em um último momento, passa a traçar a forma de atuação destes direitos de forma concreta, função esta justamente das normas de natureza processual. Nesse sentido, a título ilustrativo: LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1968. p. 1-5. 4 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 1. 5 Nas eloquentes palavras de Pontes de Miranda: “O direito é, mas a medida do seu ser é dada pela sua realização. Tal realização, ou ocorre pela observância espontânea, ou pelos aparelhos do Estado, tendentes a isso, às vezes criados para isso, como é o da Justiça. Existe, ainda, direito especial, que se destina à realização do direito – o direito processual” (PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1946. 3. ed. Rio de Janeiro: Borsói, 1960. t. 1, p. 26). 6 Sobre as relações entre a experiência, a cultura e o processo, ver na doutrina italiana: Denti, Vittorio. Valori costituzionali e cultura processuale. Rivista di Diritto Processuale, vol. 39, série 2, p. 443-464, em especial, p. 461-464; Baur, Fritz. Il processo e le correnti culturali contemporanee. Rivista di Diritto Processuale, vol. 27, série 2, p. 253-271; Fazzalari, Elio. L’esperienza del processo nella cultura contemporanea. Rivista di Diritto Processuale, vol. 20, série 2, p. 10-30. Na doutrina nacional: Lacerda, Galeno. Processo e cultura. Revista de Direito Processual Civil 3/74-86; Alvaro de Oliveira, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 71-76. Mitidiero, Daniel. Processo e cultura: praxismo, processualismo e formalismo em direito processual civil. Genesis: Revista de Direito Processual Civil 33/484-510, em especial, p. 484-488; Mitidiero, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 23-47; Botelho, Guilherme. Direito ao processo qualificado: o processo civil na perspectiva do Estado Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 17-55; e Jobim, Marco Félix. Cultura, escolas e fases metodológicas do processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 7 É vasta a doutrina a tratar de forma separada as principais características destes modelos, bem como, de forma comparativa. Indica-se, a esse respeito, duas obras centrais que servem como marcos teóricos do presente projeto: TARUFFO, Michele. Il processo civile adversary nell’esperienza americana. Padova: Cedam, 1979, e DAMASKA, Mirjan R. I volti della giustizia e del potere: analisi comparatistica del processo. Trad. Andrea Giussani e Fabio Rota. Bologna: Mulino, 1991. Além destas, de modo mais conciso: VELLOSO, Adolfo Alvarado. Los sistemas procesales. In: ZARZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado (coords.). El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 1-90. 8 O debate entre estes modelos processuais encontra dissensos já nas terminologias. Apenas a título ilustrativo, José Carlos Barbosa Moreira destaca a impropriedade da expressão “dispositivo” no sentido dado pela doutrina. Argumenta o ilustre o autor: “A palavra ‘dispositivo’, por sua origem, sugere relação imediata com o âmbito das relações jurídicas disponíveis, dos direitos de que os respectivos titulares podem dispor com liberdade, a seu próprio alvedrio. A quem ouça ou leia a expressão e atente na estrutura do adjetivo, é, pois, natural que ocorra a suposição da coincidência entre o conjunto desses direitos e o das hipóteses submetidas às diversas manifestações do princípio que assim se nomeia. Este se justificaria como projeção lógica e necessária, no campo processual, daquela disponibilidade; os seus múltiplos desdobramentos nada mais seriam, em substância, que corolários de uma proposição fundamental: o que é disponível fora do processo continua a sê-lo no processo” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O problema da “divisão do trabalho” entre o juiz e as partes: aspectos terminológicos. In: ______. Temas de direito processual: quarta série. São Paulo: Saraiva. p. 36). 9 As terminologias são bem variadas para a referência a este modelo de processo. A terminologia mais difundida e, por conta disso, utilizada no presente projeto, é de modelo inquisitório de processo. Porém, deve se advertir que esta é também a mais perigosa das opções, dado o uso ideológico que alguns autores contrários a este sistema dão para a expressão, seja ligando a expressão a regimes totalitários, seja mesmo à santa inquisição do século XII. Apenas para exemplificar, Adolfo Alvarado Velloso, ao comentar dispositivo do Código de Processo Civil peruano que permite ao juiz a determinação de produção de prova de ofício na insuficiência das provas apresentadas pelas partes para tomada de sua decisão, denominou-o de “Código inquisitivo nazi-facista-soviético”, mas que também poderia ser chamadona visão do referido autor como um “Código hitlerista-mussolinista-stalinista” (VELLOSO, Adolfo Alvarado. Los sistemas procesales. In: ZARZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado (coords.). El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 48). 10 Para compreensão do sistema adversarial de tradição anglo-saxã foram utilizadas como obras-base: TARUFFO, Michele. Il processo civile adversary nell’esperienza americana. Padova: Cedam, 1979; SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. Além desta, também, de forma auxiliar: JOLOWICZ, J. A. A reforma do processo civil inglês: uma derrogação ao adversary system. RePro 19/64-75; BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A revolução processual inglesa. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 69-85. 11 O procedimento é relatado por Angelo Piero Sereni: SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. p. 25-86. 12 SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. p. 73. 13 O disclosure inglês se apresenta menos amplo do que a discovery, por conta da previsão de maior intervenção do juiz, que pode, dentre outras atividades: indicar às partes as questões que entende ser necessária produção probatória (rule 32.1 (1) (a)); determinar o modo pelo qual a prova deve ser produzida (rule 32.1 (1) (b)); limitar a reinquirição da testemunha pela parte contrária (cross-examination) (rule 32.1 (3). A disclosure é novidade da Civil Procedure Rules, vigente desde 1999 na Inglaterra (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A revolução processual inglesa. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 77-79. 14 O discovery é de extrema relevância ao bom funcionamento do pre-trial. Através dele se abre a possibilidade dos advogados explorarem fontes de prova fora do âmbito processual, mediante acesso a documentos das partes contrárias, realização de inspeção e perícia em locais privativos, sujeição do adversário e testemunhas para fins de interrogatório sob juramento, o que, de regra, ocorre nos próprios escritórios de advocacia, com acompanhado do advogado da parte contrária. A respeito do discovery, ver: TARUFFO, Michele. Il processo civile adversary nell’esperienza americana. Padova: Cedam, 1979. p. 10-19. 15 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O processo civil contemporâneo: um enfoque comparativo. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 44. 16 “Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.” 17 CAPPELLETTI, Mauro. O processo civil no direito comparado. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Líder, 2001. p. 25. 18 O caráter publicístico do Código de Procedimento soviético de 1964 é amplamente confirmado também em obra de fôlego: VISHINSKI, Andrei. A prova judicial no direito soviético. Rio de Janeiro: Nacional, 1957. 19 CALAMANDREI, Piero. Rassegna di letteratura e legislazioni straniere. II. Russia. Rivista di Diritto Procesuale Civil, p. 287. 20 FABIANI, Ernesto. I poteri istruttori del giudice civile: Contributo al chiarimento del dibattito. Napoli: Scientifiche Italiane, 2008. p. 476-478. 21 Um panorama do debate pode ser encontrado em: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O neoprivatismo no processo civil. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 87-117. 22 CIPRIANI, Franco. El proceso civil entre libertad y autoridade (el reglamento de Klein). In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 160. 23 A respeito da influência do Código de Processo Civil brasileiro na formação do atual Código de Processo Civil peruano ver, por todos: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A influência do Código de Processo Civil brasileiro no novo Código peruano. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 217-222. 24 DEHO, Eugenia Ariano. Em los abismos de la “cultura” del proceso autoritário. In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 118-119. 25 El actual debate sobre las “orientaciones publicísticas” del proceso civil. In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 223-249. 26 Ideología y proceso civil. Su reflejo en la “buena fe procesal”. In: ZORZOLI, Oscar A.; VELLOSO, Adolfo Alvarado. El debido processo. Buenos Aires: Ediar, 2006. p. 251-312. 27 TARUFFO, Michele. Il processo civile adversary nell’esperienza americana. Padova: Cedam, 1979. p. 106-115. 28 Trata-se do Decreto legislativo 198/2009. A esse respeito, ver: D’ADAMO, Daniela. La class action pubblica. Rivista di Diritto Processuale, n. 2, série 2, ano LXVI, p. 359-376. 29 JOLOWICZ, J. A. A reforma do processo civil inglês: uma derrogação ao adversary system. RePro 19/64-75. 30 É vasta a doutrina dedicada ao estudo do processo civil romano. Para fins de elaboração do presente projeto foram utilizadas algumas obras-base: CRUZ E TUCCI, José Rogério; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo: Ed. RT, 2001; KASER, Max. Direito privado romano. Trad. Samuel Rodrigues e Ferdinand Hämmerle. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. p. 427-473. 31 CRUZ E TUCCI, José Rogério; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo: Ed. RT, 2001. p. 55. 32 GAIO, Institutas, Livro IV, 30, em apêndice na obra: CRUZ E TUCCI, José Rogério; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo: Ed. RT, 2001. 33 KASER, Max. Direito privado romano. Trad. Samuel Rodrigues e Ferdinand Hämmerle. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. p. 465. 34 Idem, p. 466. 35 Idem, p. 434. 36 LIEBMAN, Enrico Tullio. Embargos do executado. 2. ed. Trad. J. Guimarães Menegale. São Paulo: Saraiva, 1968. p. 27. 37 Idem, p. 28. 38 BATISTA DA SILVA, Ovídio Baptista. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 85. 39 A vulgaridade do direito refere-se, em especial, a extraestatalidade do direito, com recurso à força alternativa frente ao desfalecimento do Estado. Os institutos romanos acabam se deformando e novos institutos sendo inseridos pelos povos germânicos, formando um retrocesso jurídico notório (GROSSI, Paolo. L’ordine giuridico medievale. 9. ed. Roma: Larteza, 2002. p. 53). 40 KEMMERICH, Clóvis Juarez. O direito processual da idade média. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 2006. p. 40. 41 Idem, ibidem. 42 Nas palavras de Cappelletti, a importância destes textos decorre do fato de que (...) el redescubrimiento de los institutos de una civilización más avanzada, y adaptación de esos institutos a las nuevas exigencias de una sociedad nueva y en evolución que había tomado ya buena consciencia de lo inadecuado de los institutos rudimentarios a que se había llegado a través de las oscuras vicitudes del alto medioevo” (CAPPELLETTI, Mauro. Proceso, ideologias, sociedad. Trad. Santiago Sentís Melendo y Tomás A. Banzhaf. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa-America, 1974. p. 332. 43 CRUZ E TUCCI, José Rogério; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de processo civil canônico. São Paulo: Ed. RT, 2001. p. 44. 44 Idem, p. 43. 45 Idem, p. 45. 46 Está-se a fazer referência as obras: BATISTA DA SILVA, Ovídio Baptista. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. 47 CAPPELLETTI, Mauro. Proceso, ideologias, sociedad. Trad. Santiago Sentís Melendo y Tomás Banzhaf. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa- America, 1974. p. 317. Nomesmo sentido: BATISTA DA SILVA, Ovídio Baptista. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 87. 48 SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. p. 17-18. 49 Aliás, chama a atenção que, segundo notícias de Mauro Cappelletti, Franz Klein, autor do Projeto de Código de Procedimento austríaco em 1895, com vigência a partir de 1898, que é tido como texto legislativo que difundiu o processo inquisitório e influenciou de forma ímpar as legislações processuais que se seguiram na Europa Continental tenha classificado o processo tardio romano e justinianeu como um processo, dominado pelo “ponto de vista” da autoridade dominante, com o que, o seu modelo, inspirado no “ponto de vista coletivo” seria visão intermediária em comparação ao processo de ideologia individualista, que via no processo tardio comum (processo ‘comum’ alemão e austríaco, até as codificações do século passado) (CAPPELLETTI, Mauro. O processo civil no direito comparado. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Líder, 2001. p. 58). 50 COUTURE, Eduardo J. Proyecto de Código de Procedimento Civil: con exposición de motivos (edición fuera de comercio). Montevideo: Impresora Uruguaia, 1945. p. 60. 51 Para estudos destas opções políticas, além da exposição de motivos do Anteprojeto de Eduardo Couture, citado na nota anterior e que, para pesar da sociedade latina jamais chegou a viger, ver, por todos: MILLAR, Robert Wyness. Los princípios formativos del procedimento civil. Trad. Catalina Grossmann. Buenos Aires: Ediar, 1945. 52 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Constituição e as provas ilicitamente obtidas. In: ______. Temas de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva. p. 122. 53 I volti della giustizia e del potere: analisi comparatistica del proceso. Bolonha: Mulino, 2002. p. 60-68. 54 DAMASKA, Mirjan R. I volti della giustizia e del potere: analisi comparatistica del processo. Bolonha: Mulino, 2002. p. 67-68. 55 RADBRUCH, Gustav. Lo spirito del diritto inglese. Trad. italiana de Alessandro Baratta. Milano: Giufrrè, 1962. p. 6-7. 56 A respeito dos modelos de organização do poder, em especial: DAMASKA, Mirjan R. I volti della giustizia e del potere: analisi comparatistica del processo. Bolonha: Mulino, 2002. p. 49-96. 57 >© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 101-103, especialmente. 58 DAMASKA, Mirjan R. I volti della giustizia e del potere: analisi comparatistica del processo. Bolonha: Mulino, 2002. p. 352-358, especialmente. 59 DINAMARCO, Candido Rangel. A instrumentalidade do processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros. p. 187-191. 60 Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 63-103, especialmente. 61 Demonstrando adesão a ideia do modelo colaborativo: DIDIER JR., Fredie. Os três modelos de direito processual: inquisitivo, dispositivo e cooperativo. RePro 198/213-225. 62 Sobre a evolução do direito ao contraditório, indica-se o estudo da obra de Robert Wyness Millar a partir do princípio da bilateralidade da audiência (MILLAR, Robert Wyness. Los principios formativos del procedimiento civil. Buenos Aires: Ediar, 1945. p. 47-55), e em sua visão contemporânea o texto de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira (ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. A garantia do contraditório. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 15/7-20), além de Luiz Guilherme Marinoni (MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: teoria geral do processo. São Paulo: Ed. RT, 2006. vol. 1, p. 409-414). 63 Estudos sobre o novo processo civil. 2. ed. Lisboa: Lex, 1997. p. 65-69. 64 A esse respeito interessante texto: COHEN-ELIYA, Moshe; PORAT, Iddo. American Balancing and german proportionality: the historical origins. Disponível em: [http://icon.oxfordjounals.org/atStaats-undUniversitaetsbibliothckHamburg]. Acesso em: 17.01.2013. 65 SERENI, Angelo Piero. El proceso civil en los Estados Unidos. Trad. Santiago Santis Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1958. p. 119. 66 Idem, p. 120. 67 O contempt of court não foi objeto de exame no presente ensaio, dado a extensão e riqueza do tema que comportaria estudo próprio, porém trata- se de técnica de alta relevância do sistema adversarial de repressão contra medidas de “desacato ao tribunal”. Pode ser classificado em contempt direto ou indireto, caso a medida atentatória seja na presença ou não do “tribunal”. Também pode ser classificado em criminal ou civil, conforme suas características e propósitos, sendo independente, portanto, do ato de desrespeito ter ocorrido na esfera cível ou penal. A respeito do contempt of court ver, por todos: GOLDFARB, Ronald L. The contempt power. New York, Columbia University Press, 1963; GUERRA, Marcelo Lima. Execução indireta. São Paulo: Ed. RT, 1999; ASSIS, Araken de. O contempt of court no direito brasileiro. RePro 111/18. 68 CHIARLONI, Sergio. Riflessioni microcomparative su ideologie processual e accertamento della verità. RePro 176/105-120.
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