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Os poderes processuais do Juiz em perspectiva comparada - Guilherme Botelho

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2017	-	03	-	03
Revista	de	Processo
2015
RePro	vol.	243	(Maio	2015)
Direito	Estrangeiro	e	Comparado	–	Generalidades
Direito	Estrangeiro	e	Comparado	–– 	Generalidades
1.	Os	poderes	processuais	do	juiz	em	perspectiva	comparada
A	comparative	study	of	the	procedural	powers	of	a	judge
GUILHERME	BOTELHO
Mestre	e	Doutorando	em	Direito	pela	PUC-RS.	Especialista	em	Direito	Processual	Civil.	Professor	dos	Cursos	de
Graduação	e	Pós-graduação	da	Universidade	Feevale.	Pesquisador	Capes.	Advogado.
Sumário:
1.	Processo	e	cultura:	os	modelos	de	organização	estrutural	do	processo	civil	na	cultura	ocidental
2.	Origem	histórica	da	formação	dos	dois	grandes	modelos	processuais
3.	Os	sistemas	inquisitorial	e	adversarial	como	consequências	de	estruturas	jurídicas	distintas
4.	Os	poderes	do	juiz	entre	os	modelos	de	estrutura	organizacional	de	processo
5.	Conclusão
6.	Bibliografia
Área	do	Direito:	Processual
Resumo:
O	ensaio	tem	por	escopo	a	comparação	entre	os	principais	modelos	de	organização	estrutural	do	processo
civil	e	as	consequências	da	aplicação	de	suas	técnicas	sobre	os	poderes	processuais	do	julgador.	Aborda	as
principais	 críticas	 contemporâneas	 doutrinarias	 a	 cada	um	deles,	 bem	 como,	 o	 atual	 fenômeno	de	 inter-
relacionamento	e	tendência	de	universalização	destes	modelos	em	busca	de	um	processo	eficiente.
Abstract:
The	scope	test	is	the	comparison	between	the	main	models	of	structural	organization	of	civil	procedure	and
the	 consequences	 of	 applying	 their	 techniques	 on	 the	 procedural	 powers	 of	 the	 judge.	 Addresses	 key
contemporary	critical	doctrinal	each	of	them,	as	well	as,	the	current	phenomenon	of	inter-relationship	and
the	universal	tendency	of	these	models	in	search	of	an	efficient	process.
Palavra	Chave:	Modelos	de	processo	-	Processo	inquisitório	-	Processo	adversarial.
Keywords:	Models	of	procedure	-	Inquisitorial	process	-	Adversarial	process.
Recebido	em:	30.01.2015
Aprovado	em:	15.04.2015
1.	Processo	e	cultura:	os	modelos	de	organização	estrutural	do	processo	civil	na	cultura
ocidental
A	vida	em	sociedade	não	é	possível	sem	uma	regra	que	discipline	as	relações	que	se	estabelecem	entre	os
homens.	Esta	regra	é	o	direito.	Ele,	assim	como	outros	produtos	da	cultura,	tais	como	a	política,	a	religião	e	a
economia,	é	um	fenômeno	social 1	e,	portanto,	mutante,	que	busca	se	amoldar	à	sociedade	para	qual	serve.
Não	se	trata	de	produto	imposto	pelo	Estado;	pelo	contrário,	os	valores	morais	que	merecem	eleição	e,	por
consequência,	 proteção,	 bem	 como	 suas	 sequentes	 sanções,	 devem	 ser	 aqueles	 que	melhor	 espelham	 as
respectivas	 características	 sociais. 2	 Aos	 imperativos	 e	 às	 sanções,	 somam-se	 as	 normas	 de	 natureza
processual,	que	tem	por	objeto	a	regulação	do	debate	entre	os	jurisdicionados	e	o	Estado. 3
Sendo	 o	 direito	 processual	 o	 “(...)	 ramo	 do	 conhecimento	 jurídico	 mais	 próximo	 do	 mundo	 da	 vida”, 4- 5
legítimo	que	 se	 destaque	 seu	 aspecto	 cultural,	 em	observação	 que	 já	 se	 torna	 lugar	 comum. 6	 As	 normas
processuais	também	devem,	portanto,	amoldar-se	à	cultura	de	um	povo.	Faz	isso	de	forma	bivalente	porque,
de	um	lado,	deve	refletir	um	modo	de	debate	mais	adequado	à	cultura	da	sociedade	a	quem	serve	e	assim
gere	uma	decisão	que	se	legitime	socialmente	e,	por	outro	lado,	adequando-se	aos	nortes	do	direito	material
tutelado,	sendo,	portanto,	instrumento	fiel	de	sua	realização.
A	 partir	 dessa	 premissa,	 dois	 grandes	 modelos	 de	 processo	 se	 desenvolveram	 ao	 longo	 dos	 séculos	 no
panorama	jurídico	ocidental. 7	Modelos	que	podem	ser	visualizados	de	forma	abstrata,	mediante	exame	de
suas	 mais	 marcantes	 características,	 todavia,	 que	 vêm	 convivendo	 e	 se	 inter-relacionando	 em	 variadas
culturas,	não	se	demonstrando	puros	em	nenhuma	delas.	Está-se	a	fazer	referência	ao	modelo	dispositivo, 8
ou	 adversarial,	 e	 ao	 modelo	 publicista,	 de	 investigação	 judicial,	 não	 adversarial,	 ou	 inquisitório	 de
processo. 9
O	 modelo	 processual	 adversarial,	 em	 seu	 âmbito	 civil,	 é	 praticado	 nos	 países	 de	 origem	 anglo-saxã.	 O
modelo	 inquisitivo,	 ou	 não	 adversarial,	 é	 praticado	 nos	 ordenamentos	 romano-canônicos;	 a	 estes	 se
aplicam,	respectivamente,	em	língua	inglesa,	as	conhecidas	denominações	civil	law	e	common	law.
O	 sistema	 adversarial	 tem	 sua	 marca	 na	 predominância	 das	 partes	 na	 determinação	 da	 condução	 do
processo	 e	 na	 iniciativa	 probatória. 10	 O	 juiz	 torna-se	 agente	 passivo	 da	 relação	 processual,	 sendo
incumbência	do	autor,	não	apenas	a	propositura	da	demanda,	mas	a	tarefa	de	conduzir	o	processo	a	suas
fases	 sequenciais.	 A	 iniciativa	 probatória	 é	 ônus	 das	 partes,	 sendo	 ilícito	 ao	 magistrado,	 de	 regra,	 a
determinação	ex	officio	de	provas	ou	mesmo	a	investigação	de	fatos	jurídicos	relevantes	ao	julgamento	da
causa,	sob	pena	de	comprometimento	de	sua	imparcialidade.
Seu	 procedimento	 é	 dividido	 em	 duas	 fases	 nitidamente	 distintas.	 A	 primeira	 fase	 preparatória,	 apenas
preparatória	da	segunda,	opera-se	sem	participação	do	juiz.	Inicia-se	com	o	service	of	process,	isto	é,	com	a
notificação	 ao	 demandado	 de	 um	 ato	 judicial	 chamado	 summons,	 que,	 por	 sua	 vez,	 dá	 notícia	 do
ajuizamento	da	ação	contra	o	 réu,	análogo	ao	ato	de	citação	da	cultura	romano-canônica.	A	parte	autora
apresentará	o	complaint,	do	qual	será	intimado	o	demandado,	que,	por	sua	vez,	poderá	apresentar	a	answer.
Caso	nesta	o	réu	apresente	uma	ou	varias	demandas	reconvencionais	(counterclaims),	o	que	é	permitido	na
maioria	dos	Estados,	de	regra,	se	oportunizará	ao	autor	a	apresentação	de	uma	peça	chamada	reply.	Estas
manifestações	são	denominadas	pleadings	e	constituem,	a	grosso	modo,	a	fase	postulatória	do	processo	na
common	law. 11
Essa	 primeira	 fase	 ainda	 contará	 com	 outro	 importante	 estágio	 preparatório,	 destinado	 a	 colheitas	 de
provas	(pre-trial)	ainda	sem	a	presença	do	julgador.	Neste	estágio	as	partes	podem	produzir	provas	orais	e
postular	a	apresentação	de	documentos	que	se	encontram	em	poder	da	parte	adversa	ou	de	terceiros,	sendo
que	apenas	ocorrerá	 intervenção	 judicial	nas	hipóteses	 em	 “que	 el	 adversario	 se	 oponga.	 La	decisión	del
juez	si	pide,	de	ordinario	mediante	una	motion,	y	se	pronuncia	en	la	forma	de	una	order”. 12
A	segunda	e	mais	relevante	fase	destinada	é	ao	julgamento	(trial),	em	que	pese	sejam	rotineiros	os	relatos
de	que	ela	raramente	aconteça	devido	aos	altíssimos	índices	de	acordos	entre	as	partes.
A	colheita	das	provas	ficam	a	cargo	exclusivo	das	partes,	que	contam	com	os	poderes	do	 discovery	norte-
americano	ou	disclosure	inglês 13	para	proceder	à	tomada	de	depoimentos	e	acesso	a	documentos	em	poder
de	 terceiros,	 ou	mesmo	da	parte	 contrária. 14	 A	 preocupação,	 portanto,	 entre	 os	 fatos	 apresentados	 pelas
partes	e	aqueles	efetivamente	ocorridos,	portanto,	é	quase	que	inexistente.	O	magistrado	não	deve	sequer
ter	 contato	 com	 as	 peças	 processuais,	 a	 fim	 de	 não	 deter	 qualquer	 contato	 com	 a	 causa	 até	 o	 dia	 do
julgamento;	movimento	em	contrário	poderia	lhe	prejudicar	não	mantendo	sua	mente	aberta	às	impressões
colhidas	no	trial.	Na	expressão	de	Barbosa	Moreira, 15	a	ignorância	é	tida	como	garantia	de	imparcialidade	e
barreira	contra	o	prejulgamento.
De	outro	lado,	o	modelo	inquisitório	tem	sua	marca	no	impulso	processual	a	cargo	do	julgador.	A	busca	pela
solução	“justa”	é	um	fim	a	ser	alcançado,	o	que	justifica	um	poder	de	investigação,	mediante	determinação
de	 produção	 de	 provas	 ou	 oitivas	 de	 pessoas	 ainda	 que	 não	 requeridas	 pelas	 partes 16	 (art.	 130	 do	 CPC).
Justifica-se	 uma	mitigação	 do	 princípio	 dispositivo	 em	 seu	 sentido	 processual,	 mantendo-se,	 no	 entanto,
intacto,	 em	 seu	 sentido	 material	 e,	 com	 isso,	 mantendo	 a	 cargo	 da	 parte	 a	 iniciativa	 de	 proposição	 da
demanda	e	o	objeto	litigioso	a	ser	solvido.
Cabe	o	registro	que	um	terceiro	modelo	ainda	é	encontrado	na	cultura	ocidental,	com	menor	destaque	que
os	dois	que	serão	ofoco	de	análise	nesse	ensaio.	Está-se	a	referir	ao	modelo	socialista	de	processo	civil,	que
amplia	 os	 poderes	 do	 juiz	 não	 apenas	 na	 condução	 processual	 como	 também	 em	uma	 direção	material,
permitindo	 que	 excepcionalmente	 possa	 o	 Estado	 promover	 a	 ação	 de	 interesse	 individual	 em	 nome	 do
autor	ou	mesmo,	possa	o	julgador	ampliar	ou	alterar	o	objeto	posto	em	juízo	pelo	autor.
A	 esse	 respeito,	 Cappelletti 17	 destaca	 que	 o	 Código	 de	 Procedimento	 da	 Republica	 Socialista	 Federativa
Soviética	de	1964,	em	seu	art.	4.º,	assim	como	fizera	seu	Codex	antecessor	de	1923,	em	seu	art.	2.º,	que	a	ação
civil	 executiva	 poderia	 ser	 proposta	 tanto	 pelo	 credor,	 como	 também	 pela	 Procuradoria	 do	 Estado
(Ministério	Público)	 sem	requerimento,	nem	participação	do	credor,	ou,	excepcionalmente,	até	mesmo	 ex
officio	 pelo	 Tribunal	 competente. 18	 Aliás,	 ao	 se	 referir	 ao	 Código	 soviético	 de	 1923,	 Calamandrei 19
classificou-o	como	“il	tipo	piú	perfetto	di	processo	civile	‘pubblicizzato’	e	inquisitorio”,	a	partir	da	atribuição
dada	ao	 julgador	do	poder	de	 iniciativa	para	acertamento	da	verdade,	como	também	de	 julgamento	ultra
petita,	 como	 também	 de	 exclusão	 de	 autor	 que	 lhe	 parecesse	 ilegítimo,	 com	 possibilidade	 de,	 ex	 officio,
“chiamare	al	suo	posto	il	vero	legitimato	(art.	166)”.
Ao	 comentar	 o	 vigente	 Código	 de	 Processo	 Civil	 da	 Federação	 Russa,	 vigente	 desde	 01.02.2003,	 Ernesto
Fabiani, 20	em	obra	de	fôlego	sobre	os	poderes	processuais	do	 juiz,	nos	variados	modelos	organizacionais,
salienta	que	o	atual	Código	não	diminui	em	muito	os	poderes	antes	mencionados,	permitindo	atualmente
não	 apenas	uma	 ampla	 condução	processual	 por	 parte	 do	 julgador,	 que	 pode	 determinar	 a	 produção	de
provas	sem	requerimento	das	partes,	inclusive,	mediante	nomeação	de	expert,	de	sua	confiança,	bem	como
para	“explicar	às	partes	seus	direitos	e	deveres”	e	“assistir-lhes	no	exercício	de	seus	direitos”	(art.	12.º),	bem
como	“determinar	os	 fatos	que	entende	de	relevante	 importância	para	a	decisão	da	causa,	 sem	nenhuma
limitação	aos	fatos	alegados	pelas	partes”	(art.	56).
Nas	últimas	décadas,	acenderam-se	os	fenômenos	de	inter-relacionamento	entre	as	famílias	do	civil	law	e	do
common	 law.	No	direito	processual	 também	se	 intensificou,	nas	duas	vias,	 o	debate	em	 torno	das	opções
políticas	 dos	 sistemas	 inquisitorial	 e	 dispositivo.	 Se	 por	 um	 lado,	 parecia	 definitiva	 a	 visão	 publicista	 do
processo	civil,	com	plena	legitimação	do	juiz	para	investigação	dos	fatos,	mediante	impulso	oficial,	o	que	se
vê	contemporaneamente	é	a	insurgência	de	forte	movimento	reformador	que	aponta	um	caráter	ideológico
autoritário	próprio	dos	regimes	totalitários	na	atuação	ativa	do	juiz	na	condução	do	processo.	Impõe,	assim,
ao	debate,	um	forte	elemento	político. 21
Essa	 corrente	ganhou	adeptos	de	 relevo.	Na	 Itália,	 Franco	Cipriani	aponta	o	 regulamento	de	Klein	 (1895)
vigente	desde	01.01.1898,	como	apogeu	do	modelo	 inquisitório.	Não	é,	no	entanto,	o	primeiro	Código	com
tais	características.	É	precedido	pelo	Regulamento	Josefino	(1781),	verdadeiro	“monumento	del	despotismo
ilustrado	del	siglo	XVIII”. 22	No	Peru,	Eugenia	Ariano	Deho	destaca	o	quanto	se	demonstra	autoritário,	em
sua	 ótica,	 o	 atual	 Código	 de	 Processo	 Civil	 peruano	 (de	 inspiração	 brasileira), 23	 que	 amplia	 os	 poderes
processuais	do	juiz,	em	especial,	ao	adotar	o	impulso	oficial:	“(...)	siempre	limitativo	de	los	derechos	de	las
partes,	pero	 siempre	 libre	para	el	 juez,	que	con	 todos	 sus	poderes	hace	y	deshace	el	proceso	a	 su	propio
placer”. 24	 Seguindo	 a	 linha	de	 ilustres	 juristas	 da	 tradição	 romano-canônica,	 que	 vêm	 se	 opondo	 a	 visão
publicista	 do	 processo	 e	 as	 principais	 linhas	 do	 modelo	 inquisitório,	 em	 especial,	 a	 possibilidade	 de
investigação	judicial	quanto	a	matéria	probatória,	estão	Girolamo	Monteoleone 25	e	Juan	Montero	Aroca. 26
Por	 outro	 lado,	 o	 adversarial	 system	 também	 sofre	 seus	 ataques	 doutrinários	 baseados	 em	 aspectos
históricos	 contemporâneos,	 por	desconsiderar	 as	 relações	de	hipossuficiência	das	 relações	de	massa	 e	 os
reflexos	dessas	desigualdades	no	âmbito	processual. 27
No	âmbito	legislativo,	as	correntes	e	contracorrentes	também	podem	ser	facilmente	notadas.	Apenas	para
exemplificar,	basta	recordar	os	 inúmeros	 instrumentos	de	aplicação	vinculante	de	precedentes	no	direito
brasileiro	 ou	 ainda	 a	 recente	 inserção	 da	 denominada	 class	 action	 pública	 no	 direito	 italiano,	 para
preservação	de	interesses	juridicamente	relevantes	e	homogêneos	a	uma	eficiente	Administração	Pública. 28
Enquanto	 isso,	 a	 Inglaterra,	 após	 uma	 onda	 de	 reformas	 legislativas	 nas	 décadas	 de	 1980	 e	 1990,	 que
tiveram	a	tônica	de	aumentar	os	poderes	do	juiz	na	condução	do	feito,	optou	por	render-se	a	criação	do	Civil
Procedure	Rules	que	por	lá	vigora	desde	1999.	A	adoção	de	constantes	alterações	processuais	na	tendência
de	 conceder	 maiores	 poderes	 probatórios	 ao	 magistrado	 já	 faz	 com	 que	 Jolowicz 29	 ponha	 em	 xeque	 a
própria	inserção	da	Inglaterra	no	sistema	adversarial	nos	dias	de	hoje.
O	que	se	vê,	assim,	é	que	diferentemente	de	afirmações	em	contrário,	as	culturas	ocidentais	vêm	andando
em	marchas	e	contramarchas	sem	uma	lógica	aparente	em	busca	de	um	modelo	processual	que	atenda	os
anseios	transnacionais	das	sociedades	por	um	processo	célere,	com	correta	aplicação	do	direito	objetivo	ao
caso	concreto,	mas	com	respeito	à	autonomia	privada.
2.	Origem	histórica	da	formação	dos	dois	grandes	modelos	processuais
Uma	 investigação	 histórica	 a	 respeito	 destes	 dois	 grandes	modelos	 processuais	 do	 ordenamento	 jurídico
ocidental	parece	imprescindível	para	o	debate	que	se	travar	mais	além.	A	primeira	premissa	que	se	busca
estabelecer	é	de	que	ambos	os	modelos	encontram	idêntica	semente	no	direito	romano.
A	cultura	romana	é,	como	sabido,	revolucionária	e	marcante	na	formação	dos	povos	ocidentais.	O	processo
romano 30	pode	ser	dividido	em	três	grandes	estágios:	o	período	das	 legis	actiones	 (ações	das	 leis),	que	 se
estabelece	com	a	fundação	de	Roma	(754	a.C.)	até	os	fins	da	República;	o	período	per	formulas,	introduzido
pela	Lex	Aebutia	(149-126	a.C.)	e	definitivamente	constituído	com	a	Lex	Julia	Privatorum	no	ano	17	a.C.,	que
juntos	 formam	o	 ordo	 iudiciorum	privatorum	e	 o	 período	da	 cognitio	 extra	 ordinem,	 instituído,	 de	 forma
paulatina	(dado	que	continua	a	viger	o	procedimento	per	formulas),	com	o	principado	em	27	a.C.,	vigente	até
a	definitiva	queda	do	Império	romano	do	Ocidente.	Os	dois	primeiros,	de	marca	mais	privativa,	formam	o
direito	romano	clássico.
O	processo	 do	 período	 romano	 clássico	 é	marcado	pela	 bipartição	 do	 procedimento,	 iniciando-se	 in	 iure,
diante	do	pretor,	 a	quem	 incumbia	a	 organização	 e	 a	 fixação	dos	pontos	 controvertidos.	A	 segunda	 fase,
apud	iudicem,	era	procedida	perante	o	iudex	unus,	que,	auxiliado	por	“um	consilium	integrado	por	membros
de	 sua	 confiança	 (a	 exemplo	 daquele	 que	 auxiliava	 o	magistrado),	 tomava	 conhecimento	 do	 litígio	 a	 ele
submetido	e	julgava	soberanamente,	em	nome	do	povo	romano”. 31
Durante	esse	período,	o	direito	em	Roma	vinha	de	hábitos,	costumes,	e	o	conhecimento	das	regras	jurídicas
era	 monopólio	 dos	 sacerdotes,	 que	 detinham	 o	 conhecimento	 do	 calendário	 e	 das	 normas	 jurídicas.	 O
período	das	 legis	 actiones	é	marcado	por	 alto	misticismo	 religioso.	Gaio	 chega	 a	 comentar	 que	 “(...)	 estas
ações	da	lei	tornaram-se	a	pouco	e	pouco	odiosas.	Pois,	dada	a	extrema	sutileza	dos	antigos	fundadores	do
direito,	 chegou-se	 à	 situação	 de,	 quem	 cometesse	 o	menor	 erro,	 perder	 a	 causa”	 (i.	 30). 32	 O	 período	 per
formulas,	nesse	sentido,	representou	pequeno	avanço	em	relação	ao	seu	antecessor.
De	outro	lado,	o	período	da	cognitio	extra	ordinem	representa	drástica	alteração	em	relação	aos	anteriores.
Desenvolve-se	 a	 partir	 de	 Augusto	 como	 um	 processo	 imperial(hierárquico).	 Max	 Kaser	 explica	 que:
“essencial	neste	processo	é	que	a	fase	da	prova	e	a	sentença	não	se	confiam	a	um	juiz	privado,	mas	todo	o
processo	até	à	sentença	é	conduzido	por	juízes	funcionários.	A	bipartição	nas	fases	in	iure	e	apud	iudicem	é,
em	princípio,	alheia	à	cognição”. 33	A	litis	contestatio	deixa	de	ter	a	função	especial	de	submissão	das	partes,
dado	que	estas	estão	“de	antemão	sujeitas	ao	poder	judicial	do	juiz	funcionário”. 34
No	século	V,	com	os	ataques	dos	povos	germânicos,	constituídos	pelos	visigodos,	lombardos,	francos,	anglos
e	saxões	tem	início	a	queda	do	Império	Romano.	O	primeiro	território	a	ser	invadido	pelos	“bárbaros”	é	a
Inglaterra,	que	pouco	chega	a	conviver	com	o	período	publicista	do	direito	romano.	É	sabido	que	entre	os
anos	de	43	a	410,	a	Inglaterra	deteve	ocupação	romana,	sendo	dela	uma	província.	Nesse	período,	vivia-se	já
o	 período	 da	 cognitio	 extra	 ordinem	 que,	 no	 entanto,	 apenas	 havia	 se	 universalizado	 com	 a	 extinção
definitiva	 do	 processo	 formulário	 em	 342	 d.C.	 Saliente-se,	 todavia,	 que	 é	 apenas	 com	 Justiniano	 que	 o
processo	cognitório	 se	 transforma	em	um	processo	de	domínio	do	 juiz	 funcionário,	 com	reforço	dos	 seus
poderes	 frente	 às	 partes. 35	 Os	 bárbaros	 que	 invadem	 a	 Inglaterra	 e	 a	 tomam	 do	 Império	 Romano	 são
formados,	em	especial,	por	três	povos	germânicos:	os	jutos,	os	anglos	e	os	saxões.
A	ocupação	dos	povos	germânicos	(bárbaros)	no	mundo	ocidental	dá	início	à	Idade	Média.	O	direito	destes
povos	 regulava	 uma	 civilização	 muito	 mais	 primitiva	 do	 que	 a	 romana. 36	 A	 reparação	 pelas	 ofensas
operava-se	pela	força.	Em	suma:	“É	a	autojustiça	que	impera	em	tal	sistema,	no	qual	se	mostra	soberana	o
arbítrio	e	decisivo	o	ato	de	força	do	indivíduo”. 37	Nesse	ambiente	cultural,	era	natural	que	o	procedimento
romano	 suplantasse	 “(...)	 em	 quase	 todos	 os	 setores	 do	 direito	 processual,	 o	 rude	 e	 pouco	 desenvolvido
processo	 germânico	 (...)”. 38	 Por	 conta	 dessa	 menor	 evolução	 jurídica,	 não	 surpreende	 que	 os	 bárbaros
recebessem	 influência	 do	 procedimento	 romano.	 Todavia,	 o	 procedimento	 que	 melhor	 se	 afeiçoou	 as
características	de	absoluta	autonomia	individual	era	o	procedimento	do	ordo	iudiciorum	privatorum.	Passa-
se,	assim,	a	desenvolver-se	um	direito	romano	“vulgar”. 39
Na	 Inglaterra,	 no	 entanto,	 essa	 ocupação	 tem	 vida	 curta.	 Em	 1066,	 os	 normandos,	 “povo	 formado	 de
descendentes	 dos	 viquingues	 que	 haviam	 ocupado	 uma	 região	 no	 norte	 da	 França	 e	 se	 convertido	 ao
cristianismo”, 40	 a	 tomam	dos	 povos	 germânicos.	O	 direito	 que	 os	 normandos	 levam	para	 a	 Inglaterra	 se
forma,	 assim,	 a	 partir	 de	 uma	 “combinação	 dos	 antigos	 costumes	 germânicos,	 ainda	 presentes	 entre	 os
viquingues,	com	uma	forte	autoridade	judicial	real,	aprendida	com	os	francos”. 41
No	 apagar	 do	 século	 XI	 tem	 início	 o	 renascimento	 do	 direito	 romano	 com	 a	 redescoberta	 dos	 textos	 de
Justiniano. 42	 A	 segunda	 metade	 do	 século	 XI	 marca	 o	 florescimento	 de	 nova	 civilização. 43	 Esse
renascimento	se	dá,	em	especial,	pelo	surgimento	de	escolas	jurídicas.	Destaca-se,	de	chofre,	a	Universidade
de	Bolonha.	Em	rápidas	linhas,	nasce	ali	o	direito	comum,	que	se	marca	pela	unificação	das	fontes	do	direito
e	encerra	um	objeto	único,	pertencente	a	toda	ciência	jurídica	europeia,	em	literatura	escrita	ou	traduzida
para	uma	língua	comum:	o	latim. 44
A	partir	de	então,	em	decorrência	do	“perfil	já	cristianizado	do	direito	justianianeu	e	a	ampla	romanização
da	Igreja	e,	por	via	de	consequência,	do	direito	canônico,	ambos	os	ordenamentos	jurídicos	passaram	a	ser
investigados	simultaneamente”. 45	Estava	aberta	a	porta	para	um	sistema	jurídico-canônico.
As	 influências	 dos	 cânones	 da	 Igreja	 ao	 direito	 praticado	 no	 civil	 law	 e,	 em	 especial,	 ao	 seu	 sistema
processual,	 são	 evidentes.	 Por	 conta	 de	 seu	 compromisso	 com	 valores	 ligados	 a	 justiça,	 v.g.,	 extrai-se
consequências	no	impulso	oficial	na	produção	de	provas	e	mesmo	na	revisão	de	sentenças	a	fim	de	se	ter
certeza	do	alcance	da	melhor	decisão.
De	outro	lado,	as	distinções	se	agravaram	quando	a	Inglaterra,	por	decisão	de	Henrique	VIII,	no	século	XV
rompe	 com	 a	 Igreja	 Católica	 e	 funda	 a	 Igreja	 Anglicana,	 afastando-se	 definitivamente	 das	 influências	 do
direito	 canônico.	 Daí,	 porque,	 correto	 Ovídio	 Baptista	 ao	 falar	 em	 tradição	 romano-canônica	 a	 fim	 de
contrapor	a	família	do	common	law, 46	tendo	em	vista	que	a	herança	germânica	não	pode	ser	nota	distintiva
na	formação	destas	culturas.
O	adversarial	system	parece	ser	 inegavelmente	uma	evolução	não	muito	grande	do	processo	civil	romano
clássico, 47	seja	pelo	desinteresse	do	Estado	na	busca	pela	verdade,	tendo	o	processo	alta	marca	privastística,
seja	pelo	sistema	bipartido,	antes	destacado,	entre	o	pre-trial	destinado	às	postulações,	 fixação	dos	pontos
controvertidos	e	produção	de	provas,	e	o	trial,	diante	do	magistrado,	democraticamente	eleito	para	aplicar
os	costumes	ao	conflito	em	concreto.	Muito	similar	ao	sistema	romano	clássico	mencionado	(in	iure	e	apud
iudicem).	As	semelhanças	são	irrefutáveis.
Também	chama	a	atenção	a	 coincidência	posta	no	direito	 romano	do	 ordo	 iudiciorum	privatorum	de	um
sistema	processual	baseado	na	oralidade,	assim	como	ocorrente	no	sistema	adversarial.	Neste,	a	prova	oral
é	a	prova	por	excelência,	possuindo	a	prova	escrita	uma	função	subordinada,	denotando	uma	verdadeira
hierarquia	probatória.	Daí,	 porque,	 correta	 a	 conclusão	de	Angelo	 Sereni 48	 ao	afirmar	que,	 enquanto	no
sistema	inquisitório	a	parte	pode	apresentar	em	juízo	qualquer	documento	que	entenda	relevante	para	a
solução	da	 lide,	 no	 sistema	adversarial	 a	 regra	 será	 contrária,	 isto	 é,	 a	 parte	não	poderá	produzir	 prova
documental,	 a	menos	que	demonstre	 (introduced	 in	evidence)	 preliminarmente	 sua	 admissibilidade	 e	 sua
relevância.
De	outro	lado,	o	inquisitorial	system	demonstra	clara	identificação	com	a	cognitio	extra	ordinem.	De	marca
publicista 49	e	com	procedimento	unificado	perante	magistrado	público	investido	de	iurisdictio.	A	aplicação
do	direito	(actio)	é	preocupação	do	Estado	que	passa	a	controlar	a	integralidade	do	procedimento.
Os	dois	sistemas	processuais,	portanto,	parecem	serem	frutos	da	mesma	árvore.	Estabelecida	essa	premissa
é	 possível	 entender	 melhor	 o	 constante	 debate	 entre	 idas	 e	 vindas	 de	 correntes	 doutrinárias	 e	 opções
legislativas	 que	 acabam	 por	 vezes	 sendo	 questões	 de	 mera	 escolha	 política.	 Como	 bem	 observado	 por
Eduardo	Couture,	em	seu	precioso	Projeto	de	Código	de	Procedimento	Civil, 50	as	soluções	processuais	que
se	põem	para	os	males	que	se	apresentam	se	formam	a	partir	de	decepções	históricas.
Assim,	 apenas	 exemplificando,	 o	 processo	pode	 ser	 oral	 ou	 escrito,	 pode	 ser	 dominado	pelo	princípio	da
mediação	 (com	 a	 presença	 de	 colaboradores	 e	 assessores	 do	 juiz),	 ou	 da	 imediação;	 pelo	 princípio	 das
provas	 racionais,	 ou	 das	 provas	 legais,	 pode	 ser	 dominado	 pelo	 princípio	 da	 unilateralidade,	 ou	 da
bilateralidade,	pelo	impulso	a	cargo	da	parte	ou	a	cargo	do	juiz,	pela	publicidade	dos	atos	processuais,	ou
por	sua	realização	em	sigilo. 51
Na	 expressão	 de	 José	 Carlos	 Barbosa	 Moreira	 se	 segurarmos	 um	 pêndulo	 ao	 seu	 extremo	 com	 energia,
quando	este	for	liberado,	irremediavelmente	ele	se	moverá	com	força	equivalente	ao	sentido	oposto.	Porém,
“(...)	a	melhor	forma	de	coibir	um	excesso	e	de	impedir	que	se	repita	não	consiste	em	santificar	o	excesso
oposto”. 52	 Esses	modelos	processuais,	portanto,	nascem	de	um	mesmo	embrião,	 todavia,	 sofrem	ao	 longo
dos	 séculos	 influências	 culturais	 distintas.	 Suas	 feições	 atuais	 são	 frutos	de	 estruturas	de	 organização	do
Estado	distintas.	Modelos	processuais	adequados	a	esta	forma	de	estruturação	do	poder.	É	o	que	se	passa	a
examinar.
3.	Os	sistemas	inquisitorial	e	adversarial	como	consequências	de	estruturas	jurídicasdistintas
Não	por	acaso	estes	modelos	processuais	se	apresentam	em	famílias	ocidentais	diversas.	Visualizando	bem
tal	fator,	Mirjan	R.	Damaska 53	argumenta	que	as	características	das	sociedades	inglesas	e	norte-americanas
implicaram	na	construção	de	um	modelo	de	organização	estatal	paritário,	em	que	o	cidadão,	o	Estado	e	a
sociedade	 se	 relacionam	em	situação	de	equivalência,	 em	um	modelo	que	marca	diretamente	o	modo	de
organização	do	Poder	Judiciário.
O	modelo	estatal	paritário	se	funda	em	pessoas	chamadas	a	desenvolver	funções	de	autoridade	ad	hoc,	 ou
por	período	 limitado,	que	distribui	o	poder	de	 forma	horizontal	 (um	único	nível	de	poder)	e	que	busca	a
aplicação	 da	 decisão,	 distanciando-se	 de	 critérios	 técnicos	 pré-determinados,	 isso	 porque	 “(...)	 i	 laici	 non
vogliono	essere	vicolati	a	critério	tecnici,	non	solo	perché	non	sempre	li	comprendono,	ma	anche	perché	tali
critério	possono	condurre	a	 risultati	 in	contrasto	con	 le	 loro	 idee	circa	 la	 soluzione	appropriata	del	 caso,
idee	 che	 facilmente	 traggono	 origine	 da	 senso	 giustizia	 sostanziale”. 54	 Nesse	 sentido,	 possível	 acrescer	 a
lição	de	Radbruch 55	para	quem	a	tradição	inglesa	ficou	mais	próxima	do	direito	romano	clássico	ao	revés
da	tradição	romano-canônica	que	pautou-se	no	corpus	iuris.	O	método	de	decisão	inglês,	assim,	é	o	indutivo,
que	 vai	 do	 caso	 à	 norma	 e	 não	 o	 contrário	 como	 sói	 transcorrer	 na	 civil	 law,	 ou	 seja,	 nos	 países	 que	 se
formaram	a	partir	do	método	do	Código	justianeu.
Por	 sua	 vez,	 o	 modelo	 hierárquico 56	 implica	 na	 utilização	 de	 funcionários	 permanentes	 (públicos),	 na
estruturação	de	níveis	internos	hierarquizados	de	forma	rígida,	mediante	a	utilização	de	critérios	técnicos
para	a	formulação	da	decisão.
O	modelo	de	poder	 traz	 consequências	diretas	ao	correspondente	modelo	de	processo.	No	hierárquico	 se
verifica	que	o	processo	se	forma	por	fascículos,	com	documentação	de	todos	os	atos	por	cada	um	daqueles
que	 dele	 participam,	 o	 funcionário	 hierárquico	 prefere	 decidir	 com	 base	 em	 documentos	 escritos,	 o
processo	é	 fragmentado	em	 fases,	 conta	 com	 impulso	oficial	 e	baseado	em	regras	processuais	 inflexíveis.
Enquanto	isso,	o	modelo	paritário	implica	em	concentração	das	fases,	se	articula	em	único	nível	de	decisão,
valoriza	a	oralidade	e,	portanto,	o	testemunho	prestado	em	julgamento,	legitimando	a	atividade	judiciária
privada.
O	modelo	paritário	se	desenvolve	no	processo	através	de	posição	de	igualdade	das	partes	para	com	o	juiz.
Isonômica,	 na	 expressão	 de	 Daniel	 Mitidiero. 57	 É	 modelo	 que	 tem	 por	 mote	 a	 resolução	 de	 conflitos. 58
Parafraseando	 Dinamarco	 tem	 no	 escopo	 social	 a	 maior	 das	 finalidades. 59	 Enquanto	 isso,	 o	 modelo
hierárquico	se	desenvolve	mediante	relações	assimétricas,	as	partes	se	sujeitam	ao	Estado-Juiz	em	situação
de	desigualdade.
O	 sistema	 adversarial	 se	 demonstra	 essencialmente	 paritário	 na	 relação	 entre	 os	 sujeitos	 deles
participantes.	Tem	por	função	basicamente	a	pacificação	social	e	o	respeito	à	autonomia	privada	das	partes.
É	 compromissado,	 por	 isso,	 apenas	 com	 uma	 justiça	 “formal”	 e	 acaba,	 muitas	 vezes,	 por	 trazer	 grave
injustiça,	 dado	 que	 nada	 mais	 injusto	 do	 que	 tratar	 de	 forma	 igual	 os	 desiguais.	 É	 que,	 ao	 não	 se
comprometer	com	a	busca	pela	“verdade”	acaba	desconsiderando	as	inúmeras	variantes	que	atuam	em	um
processo,	 tais	 como	 as	 distinções	 financeiras	 e	mesmo	 técnicas	 no	 conflito	 entre	 o	 litigante	 habitual	 e	 o
litigante	casual.
Recentemente,	Daniel	Mitidiero	propôs	um	 terceiro	modelo	de	processo:	 o	modelo	 colaborativo,	 que	 tem
por	 característica	 a	 mistura	 das	 características	 acima	 mencionadas,	 sendo	 isonômico	 no	 diálogo	 e
assimétrico	no	momento	da	concessão	da	decisão. 60- 61	Todavia,	não	nos	parece	correta	a	observação.	Em
que	 pese	 de	 alta	 relevância	 os	 deveres	 de	 colaboração	 no	 processo,	 estes	 decorrem	 da	 nova	 ideia	 de
contraditório	 incorporada	 na	 doutrina	 contemporânea	 (contraditório	 forte). 62	 No	 momento	 em	 que	 o
contraditório,	muito	mais	do	que	um	direito	à	bilateralidade	ou	contramanifestação	(entre	as	partes)	é	um
direito	 à	 participação	 efetiva	 no	 convencimento	 do	 julgador,	 traz-se,	 em	 consequência,	 o	 julgador	 como
sujeito	 (do	 direito)	 do	 contraditório,	 sendo	 natural	 que	 a	 tal	 “nova”	 situação	 lhe	 traga	 também	 deveres,
apontados	originariamente	por	Miguel	Teixeira	de	Souza 63	na	doutrina	portuguesa.
No	mais,	o	modelo	paritário	em	momento	algum	descrê	submissão	das	partes	no	momento	da	decisão.	Isso
seria	contrário	a	sua	própria	estruturação	como	poder.	Aliás,	mesmo	o	mais	arcaico	dos	modelos	paritários
presumia	submissão	no	momento	da	decisão;	essa	justamente	era	a	função	da	litis	contestatio.	Em	suma,	o
modelo	colaborativo	cai	por	terra	em	um	exame	mais	cuidadoso.
4.	Os	poderes	do	juiz	entre	os	modelos	de	estrutura	organizacional	de	processo
A	 escolha	 entre	 técnicas	 processuais	 mais	 aderentes	 ao	 modelo	 inquisitório	 ou	 ao	 modelo	 adversarial
podem	e	devem	variar,	conforme	a	cultura.	É	natural,	portanto,	a	escolha	por	um	modelo	processual	menos
“preocupado”	 com	 justiça	 material	 da	 decisão	 em	 uma	 sociedade	 que	 valoriza,	 com	 veemência	 o	 livre
arbítrio	e	a	baixa	intervenção	estatal	nas	relações	privadas.
Natural	também	que	uma	sociedade	organizada,	sob	relações	de	paridade	entre	a	sociedade	e	o	Estado,	com
maior	 prestígio	 ao	 arbítrio	 individual,	 reflita	 tal	 confiança	 nos	 poderes	 dos	 jurisdicionados	 nas	 relações
processuais,	 com	 a	 consequente	menor	 intervenção	 do	 Estado	 (Juiz).	 Para	 comprovar-se	 o	 esposado,	 um
exemplo	 pode	 ser	 a	 forma	 como	 se	 construiu	 em	 ambas	 as	 culturas	 a	 possibilidade	 de	 controle	 da
razoabilidade	das	 leis.	 Enquanto	o	princípio	da	proporcionalidade	 forma-se	na	 cultura	 romano-canônica,
mais	precisamente	no	direito	alemão,	como	forma	de	combate	aos	abusos	da	intervenção	estatal,	o	princípio
do	 balanceamento	 (seu	 coirmão)	 no	 direito	 estadunidense,	 nasce	 jurisprudencialmente	 como	 meio	 de
coibição	ao	excesso	de	zelo	na	proteção	dos	direitos	dos	particulares. 64	É	que	na	cultura	estadunidense,	é	a
sociedade,	por	conta	de	seu	alto	poder	de	autodeterminação,	que,	por	vezes,	merece	freio.
A	escolha	por	um	ou	outro	modelo	influencia	diretamente	a	gama	de	poderes	processuais	que	o	magistrado
terá	na	condução	do	instrumento.	A	principal	distinção,	como	já	se	abordou,	é	a	possibilidade	de	determinar
a	 produção	 de	 provas	 ou	 inquirição	 de	 pessoas	 ex	 officio,	 em	 nome	 do	 interesse	 público	 no	 alcance	 da
melhor	decisão.	Todavia,	outras	consequências	também	decorrem	desta	escolha,	tais	como,	a	possibilidade
de	pronúncia	sobre	questões	não	levantadas	pelas	partes	em	nome	do	mesmo	interesse	público,	mitigação
da	preclusão,	 ampliação	do	 efeito	devolutivo	dos	 recursos	ou	mesmo	a	possibilidade	de	 cumprimento	de
decisão,	sem	pleito	da	parte	vencedora.
Sendo	 a	 jurisdição,	 antes	 de	 tudo,	 uma	 afirmação	 de	 poder,	 a	 ampliação	 dos	 poderes	 processuais
consequentemente	resultará	na	menor	atuação	das	partes	e,	por	consequência,	de	seus	procuradores. 65	A
common	 law,	 não	 por	 acaso,	 conta	 com	um	 sistema	 de	 alto	 reconhecimento	 a	 classe	 dos	 advogados	 que,
quando	remunerados	 quota	 litis	 chegam	 a	 contar	 verbas	 de	 até	 50%	da	 indenização	 e	 que	 não	 possuem
questionamento	quanto	a	eventual	abusividade. 66	Isto	porque,	o	discovery,	em	que	pese	instrumento	de	alta
relevância	para	busca	da	verdade	posto	a	disposição	das	partes,	é	complexo	e	angaria	por	vezes	alto	grau	de
zelo	e	tempo	deste	profissional,	sendo,	no	mais	comum	das	vezes,	decisiva	sua	participação	para	o	resultado
da	demanda,	sem	a	chance	de	que	uma	eventual	desídia	possa	ser	compensada	por	um	“assistencialismo”
processual	do	julgador.
Para	alguns,	 esses	poderes	deixados	à	mão	das	partes	 (leia-se	advogados)	geram,	por	 sua	vez,	um	espaço
fértila	chicana.	Todavia,	essa	liberdade	é	também	controlada	por	um	sistema	que	conta	com	forte	repressão
ao	mal	 litigante	(contempt	of	 court). 67	Daí,	porque,	não	parece	correto	concluir	que	o	 sistema	adversarial
seja	um	campo	para	 litígios	maliciosos	ou	mesmo	que	o	 juiz	deste	 sistema	 tenha	necessariamente	menor
poder	 de	 condução.	 A	 esse	 respeito,	 Chiarloni 68	 relata	 caso	 recente	 em	 que	 um	 empresário	 ficou	 vários
anos	preso	por	não	atendimento	de	uma	ordem	de	exibição	de	documentos	(discovery),	algo	pouco	provável
na	cultura	romano-germânica,	onde	supostamente	têm-se	poderes	processuais	de	maior	lastro.
O	 fio	 condutor	para	a	escolha	das	 técnicas	decorrentes	deste	 sistema	parece	 ser	efetivamente	o	 interesse
público	por	trás	do	litígio,	sendo	possível	pensar,	dado	o	aproximar	de	um	novo	Código	de	Processo	Civil	na
escolha	 destas	 opções	 a	 partir	 dessa	 premissa,	 amoldando	 tais	 poderes	 a	 natureza	 do	 litígio	 posto	 em
análise.
5.	Conclusão
Examinou-se	de	forma	sucinta	no	presente	estudo	os	principais	modelos	processuais	conhecidos	no	mundo
ocidental,	 mediante	 uma	 comparação,	 em	 especial	 dos	 modelos	 adversarial	 e	 inquisitório	 utilizados,
respectivamente,	na	cultura	anglo-saxã	e	romano	germânica.
Tentou	 se	 demonstrar	 que	 nenhum	 sistema	 processual	 é	 puro,	 sendo	 classificado	 por	 suas	 técnicas
preponderantes.	Mais	 do	que	 isso,	 buscou-se	 a	 demonstração	 a	 escolha	por	 tais	 técnicas	 processuais	 que
influenciam	diretamente	 os	 poderes	 de	 condução	do	 julgador	 dependem	diretamente	 da	 cultura	 de	 cada
sociedade.	 Assim,	 uma	 maior	 intervenção	 do	 Estado-Juiz	 na	 condução	 processual	 é,	 de	 regra,	 uma
consequência,	de	uma	organização	estatal	alicerçada	em	um	Estado	com	relações	mais	intervencionistas.
A	convivência	entre	estes	sistemas	que	vêm	se	aproximando	por	conta	de	uma	globalização	que	 também
atinge	 o	 processo	 pode	 ser	 mediante	 a	 concessão	 de	 maior	 ou	 menor	 grau	 de	 intervenção	 a	 partir	 do
interesse	público	que	envolva	o	litigo	posto	em	debate.
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Pesquisas	do	Editorial
OBSERVAÇÕES	SOBRE	OS	MODELOS	PROCESSUAIS	DE	CIVIL	LAW	E	DE	COMMON	LAW,	de
Michele	Taruffo	-	RePro	110/2003/141
OS	TRÊS	MODELOS	DE	DIREITO	PROCESSUAL:	INQUISITIVO,	DISPOSITIVO	E	COOPERATIVO,
de	Fredie	Didier	Jr.	-	RePro	198/2011/213
PODERES	DO	JUIZ	NO	NOVO	CPC,	de	Trícia	Navarro	Xavier	Cabral	-	RePro	208/2012/275
FOOTNOTESFOOTNOTES
1
É	uma	ênfase	da	obra	de	Pontes	de	Miranda	que	o	direito	não	é	um	produto	estatal;	é,	antes	de	mais	nada,	um	processo	de	adaptação	social	ao
lado	 da	 religião,	 moral,	 arte,	 política,	 economia	 e	 conhecimento	 (ciência).	 Aos	 que	 desejarem	 se	 aprofundar	 na	 obra	 do	 autor:	 PONTES	 DE
MIRANDA,	 Francisco	 Cavalcanti.	 Comentários	 à	 Constituição	 de	 1946.	 3.	 ed.	 Rio	 de	 Janeiro:	 Borsói,	 1960.	 t.	 1,	 p.	 25-38	 e	 42-43;	 PONTES	 DE
MIRANDA,	Francisco	Cavalcanti.	Fontes	e	evolução	do	direito	civil	brasileiro.	2.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Forense,	1981.	p.	1-26,	em	especial,	1-5.
2
Com	razão	Juarez	Freitas	recorda	que	todas	as	normas	jurídicas	possuem	conteúdo	moral,	podendo,	por	vezes,	apresentarem-se	como	imorais:
“(...)	ou	são	morais,	ou	são	imorais,	mas	sempre	estarão	inundadas	de	moralidade,	como	de	ideologia	sócio-político-cultural,	não	necessariamente
dominante”.	O	que	jamais	existirá	são	normas	amorais	(FREITAS,	Juarez.	A	substancial	inconstitucionalidade	da	lei	injusta.	Petrópolis/Porto	Alegre:
Vozes/EdiPUCRS,	 1989.	p.	 25).	O	primeiro	momento	do	direito	 é	 justamente	a	positivação	dos	valores	que	a	 sociedade	entende	que	devem	ser
protegidos.	Essas	escolhas	acabam	sendo	inegavelmente	guiadas	pela	moral	e	pelos	costumes.
3
As	 normas	 jurídicas	 podem	 ser	 examinadas,	 sob	 três	 momentos	 diversos.	 Em	 um	 primeiro,	 o	 legislador	 escolhe	 os	 valores	 sociais	 a	 serem
protegidos;	em	um	segundo	momento,	elabora	as	sanções	em	abstrato	às	violações	destas	proteções;	em	um	último	momento,	passa	a	traçar	a
forma	de	atuação	destes	direitos	de	forma	concreta,	função	esta	justamente	das	normas	de	natureza	processual.	Nesse	sentido,	a	título	ilustrativo:
LIEBMAN,	Enrico	Tullio.	Processo	de	execução.	3.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	1968.	p.	1-5.
4
BAPTISTA	DA	SILVA,	Ovídio	Araújo.	Processo	e	ideologia:	o	paradigma	racionalista.	2.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2006.	p.	1.
5
Nas	eloquentes	palavras	de	Pontes	de	Miranda:	“O	direito	é,	mas	a	medida	do	seu	ser	é	dada	pela	sua	realização.	Tal	realização,	ou	ocorre	pela
observância	 espontânea,	 ou	pelos	 aparelhos	do	Estado,	 tendentes	 a	 isso,	 às	 vezes	 criados	para	 isso,	 como	é	o	da	 Justiça.	 Existe,	 ainda,	 direito
especial,	que	se	destina	à	realização	do	direito	–	o	direito	processual”	(PONTES	DE	MIRANDA,	Francisco	Cavalcanti.	Comentários	à	Constituição	de
1946.	3.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Borsói,	1960.	t.	1,	p.	26).
6
Sobre	as	relações	entre	a	experiência,	a	cultura	e	o	processo,	ver	na	doutrina	italiana:	Denti,	Vittorio.	Valori	costituzionali	e	cultura	processuale.
Rivista	di	Diritto	Processuale,	vol.	39,	 série	2,	p.	443-464,	em	especial,	p.	461-464;	Baur,	Fritz.	 Il	processo	e	 le	correnti	culturali	contemporanee.
Rivista	di	Diritto	Processuale,	vol.	27,	série	2,	p.	253-271;	Fazzalari,	Elio.	L’esperienza	del	processo	nella	cultura	contemporanea.	Rivista	di	Diritto
Processuale,	vol.	20,	série	2,	p.	10-30.	Na	doutrina	nacional:	Lacerda,	Galeno.	Processo	e	cultura.	Revista	de	Direito	Processual	Civil	3/74-86;	Alvaro
de	 Oliveira,	 Carlos	 Alberto.	 Do	 formalismo	 no	 processo	 civil.	 3.	 ed.	 São	 Paulo:	 Saraiva,	 2009.	 p.	 71-76.	 Mitidiero,	 Daniel.	 Processo	 e	 cultura:
praxismo,	processualismo	e	formalismo	em	direito	processual	civil.	Genesis:	Revista	de	Direito	Processual	Civil	33/484-510,	em	especial,	p.	484-488;
Mitidiero,	Daniel.	Colaboração	no	processo	civil:	pressupostos	sociais,	lógicos	e	éticos.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2009.	p.	23-47;	Botelho,	Guilherme.	Direito
ao	processo	qualificado:	o	processo	civil	na	perspectiva	do	Estado	Constitucional.	Porto	Alegre:	Livraria	do	Advogado,	2010.	p.	17-55;	e	Jobim,	Marco
Félix.	Cultura,	escolas	e	fases	metodológicas	do	processo.	Porto	Alegre:	Livraria	do	Advogado,	2011.
7
É	vasta	a	doutrina	a	 tratar	de	forma	separada	as	principais	características	destes	modelos,	bem	como,	de	forma	comparativa.	 Indica-se,	a	esse
respeito,	duas	obras	centrais	que	servem	como	marcos	teóricos	do	presente	projeto:	TARUFFO,	Michele.	Il	processo	civile	adversary	nell’esperienza
americana.	 Padova:	 Cedam,	 1979,	 e	 DAMASKA,	Mirjan	 R.	 I	 volti	 della	 giustizia	 e	 del	 potere:	 analisi	 comparatistica	 del	 processo.	 Trad.	 Andrea
Giussani	 e	 Fabio	 Rota.	 Bologna:	 Mulino,	 1991.	 Além	 destas,	 de	 modo	 mais	 conciso:	 VELLOSO,	 Adolfo	 Alvarado.	 Los	 sistemas	 procesales.	 In:
ZARZOLI,	Oscar	A.;	VELLOSO,	Adolfo	Alvarado	(coords.).	El	debido	processo.	Buenos	Aires:	Ediar,	2006.	p.	1-90.
8
O	debate	entre	estes	modelos	processuais	encontra	dissensos	já	nas	terminologias.	Apenas	a	título	ilustrativo,	José	Carlos	Barbosa	Moreira	destaca
a	impropriedade	da	expressão	“dispositivo”	no	sentido	dado	pela	doutrina.	Argumenta	o	ilustre	o	autor:	“A	palavra	‘dispositivo’,	por	sua	origem,
sugere	relação	imediata	com	o	âmbito	das	relações	jurídicas	disponíveis,	dos	direitos	de	que	os	respectivos	titulares	podem	dispor	com	liberdade,
a	seu	próprio	alvedrio.	A	quem	ouça	ou	leia	a	expressão	e	atente	na	estrutura	do	adjetivo,	é,	pois,	natural	que	ocorra	a	suposição	da	coincidência
entre	o	 conjunto	desses	direitos	e	o	das	hipóteses	 submetidas	às	diversas	manifestações	do	princípio	que	assim	se	nomeia.	Este	 se	 justificaria
como	 projeção	 lógica	 e	 necessária,	 no	 campo	 processual,	 daquela	 disponibilidade;	 os	 seus	 múltiplos	 desdobramentos	 nada	mais	 seriam,	 em
substância,	 que	 corolários	 de	 uma	 proposição	 fundamental:	 o	 que	 é	 disponível	 fora	 do	 processo	 continua	 a	 sê-lo	 no	 processo”	 (BARBOSA
MOREIRA,	José	Carlos.	O	problema	da	“divisão	do	trabalho”	entre	o	juiz	e	as	partes:	aspectos	terminológicos.	In:	______.	Temas	de	direito	processual:
quarta	série.	São	Paulo:	Saraiva.	p.	36).
9
As	terminologias	são	bem	variadas	para	a	referência	a	este	modelo	de	processo.	A	terminologia	mais	difundida	e,	por	conta	disso,	utilizada	no
presente	 projeto,	 é	 de	modelo	 inquisitório	 de	 processo.	 Porém,	 deve	 se	 advertir	 que	 esta	 é	 também	 a	mais	 perigosa	 das	 opções,	 dado	 o	 uso
ideológico	que	alguns	autores	contrários	a	este	sistema	dão	para	a	expressão,	seja	ligando	a	expressão	a	regimes	totalitários,	seja	mesmo	à	santa
inquisição	do	século	XII.	Apenas	para	exemplificar,	Adolfo	Alvarado	Velloso,	ao	comentar	dispositivo	do	Código	de	Processo	Civil	peruano	que
permite	ao	juiz	a	determinação	de	produção	de	prova	de	ofício	na	insuficiência	das	provas	apresentadas	pelas	partes	para	tomada	de	sua	decisão,
denominou-o	de	“Código	inquisitivo	nazi-facista-soviético”,	mas	que	também	poderia	ser	chamadona	visão	do	referido	autor	como	um	“Código
hitlerista-mussolinista-stalinista”	 (VELLOSO,	 Adolfo	 Alvarado.	 Los	 sistemas	 procesales.	 In:	 ZARZOLI,	 Oscar	 A.;	 VELLOSO,	 Adolfo	 Alvarado
(coords.).	El	debido	processo.	Buenos	Aires:	Ediar,	2006.	p.	48).
10
Para	 compreensão	 do	 sistema	 adversarial	 de	 tradição	 anglo-saxã	 foram	 utilizadas	 como	 obras-base:	 TARUFFO,	 Michele.	 Il	 processo	 civile
adversary	nell’esperienza	americana.	 Padova:	 Cedam,	 1979;	 SERENI,	 Angelo	 Piero.	 El	 proceso	 civil	 en	 los	 Estados	 Unidos.	 Trad.	 Santiago	 Santis
Melendo.	Buenos	Aires:	Ejea,	1958.	Além	desta,	também,	de	forma	auxiliar:	JOLOWICZ,	J.	A.	A	reforma	do	processo	civil	inglês:	uma	derrogação	ao
adversary	system.	RePro	19/64-75;	BARBOSA	MOREIRA,	José	Carlos.	A	revolução	processual	inglesa.	In:	______.	Temas	de	direito	processual:	nona
série.	São	Paulo:	Saraiva.	p.	69-85.
11
O	procedimento	é	relatado	por	Angelo	Piero	Sereni:	SERENI,	Angelo	Piero.	El	proceso	civil	en	los	Estados	Unidos.	Trad.	Santiago	Santis	Melendo.
Buenos	Aires:	Ejea,	1958.	p.	25-86.
12
SERENI,	Angelo	Piero.	El	proceso	civil	en	los	Estados	Unidos.	Trad.	Santiago	Santis	Melendo.	Buenos	Aires:	Ejea,	1958.	p.	73.
13
O	disclosure	inglês	se	apresenta	menos	amplo	do	que	a	discovery,	por	conta	da	previsão	de	maior	intervenção	do	juiz,	que	pode,	dentre	outras
atividades:	indicar	às	partes	as	questões	que	entende	ser	necessária	produção	probatória	(rule	32.1	(1)	(a));	determinar	o	modo	pelo	qual	a	prova
deve	ser	produzida	(rule	32.1	(1)	(b));	limitar	a	reinquirição	da	testemunha	pela	parte	contrária	(cross-examination)	(rule	32.1	(3).	A	disclosure	é
novidade	da	Civil	Procedure	Rules,	vigente	desde	1999	na	Inglaterra	(BARBOSA	MOREIRA,	José	Carlos.	A	revolução	processual	inglesa.	In:	______.
Temas	de	direito	processual:	nona	série.	São	Paulo:	Saraiva.	p.	77-79.
14
O	discovery	é	de	extrema	relevância	ao	bom	funcionamento	do	pre-trial.	Através	dele	se	abre	a	possibilidade	dos	advogados	explorarem	fontes	de
prova	 fora	 do	 âmbito	 processual,	mediante	 acesso	 a	 documentos	 das	 partes	 contrárias,	 realização	 de	 inspeção	 e	 perícia	 em	 locais	 privativos,
sujeição	do	adversário	e	testemunhas	para	fins	de	 interrogatório	sob	 juramento,	o	que,	de	regra,	ocorre	nos	próprios	escritórios	de	advocacia,
com	acompanhado	do	advogado	da	parte	contrária.	A	respeito	do	discovery,	ver:	TARUFFO,	Michele.	 Il	processo	civile	adversary	nell’esperienza
americana.	Padova:	Cedam,	1979.	p.	10-19.
15
BARBOSA	MOREIRA,	José	Carlos.	O	processo	civil	contemporâneo:	um	enfoque	comparativo.	In:	______.	Temas	de	direito	processual:	nona	série.	São
Paulo:	Saraiva.	p.	44.
16
“Art.	 130.	 Caberá	 ao	 juiz,	 de	 ofício	 ou	 a	 requerimento	 da	 parte,	 determinar	 as	 provas	 necessárias	 à	 instrução	 do	 processo,	 indeferindo	 as
diligências	inúteis	ou	meramente	protelatórias.”
17
CAPPELLETTI,	Mauro.	O	processo	civil	no	direito	comparado.	Trad.	Hiltomar	Martins	Oliveira.	Belo	Horizonte:	Líder,	2001.	p.	25.
18
O	caráter	publicístico	do	Código	de	Procedimento	soviético	de	1964	é	amplamente	confirmado	também	em	obra	de	fôlego:	VISHINSKI,	Andrei.	A
prova	judicial	no	direito	soviético.	Rio	de	Janeiro:	Nacional,	1957.
19
CALAMANDREI,	Piero.	Rassegna	di	letteratura	e	legislazioni	straniere.	II.	Russia.	Rivista	di	Diritto	Procesuale	Civil,	p.	287.
20
FABIANI,	Ernesto.	I	poteri	istruttori	del	giudice	civile:	Contributo	al	chiarimento	del	dibattito.	Napoli:	Scientifiche	Italiane,	2008.	p.	476-478.
21
Um	panorama	do	debate	pode	ser	encontrado	em:	BARBOSA	MOREIRA,	José	Carlos.	O	neoprivatismo	no	processo	civil.	In:	______.	Temas	de	direito
processual:	nona	série.	São	Paulo:	Saraiva.	p.	87-117.
22
CIPRIANI,	 Franco.	 El	 proceso	 civil	 entre	 libertad	 y	 autoridade	 (el	 reglamento	 de	Klein).	 In:	 ZORZOLI,	Oscar	A.;	 VELLOSO,	Adolfo	Alvarado.	 El
debido	processo.	Buenos	Aires:	Ediar,	2006.	p.	160.
23
A	respeito	da	influência	do	Código	de	Processo	Civil	brasileiro	na	formação	do	atual	Código	de	Processo	Civil	peruano	ver,	por	todos:	BARBOSA
MOREIRA,	José	Carlos.	A	influência	do	Código	de	Processo	Civil	brasileiro	no	novo	Código	peruano.	In:	______.	Temas	de	direito	processual:	nona
série.	São	Paulo:	Saraiva.	p.	217-222.
24
DEHO,	 Eugenia	 Ariano.	 Em	 los	 abismos	 de	 la	 “cultura”	 del	 proceso	 autoritário.	 In:	 ZORZOLI,	 Oscar	 A.;	 VELLOSO,	 Adolfo	 Alvarado.	 El	 debido
processo.	Buenos	Aires:	Ediar,	2006.	p.	118-119.
25
El	actual	debate	sobre	 las	 “orientaciones	publicísticas”	del	proceso	civil.	 In:	ZORZOLI,	Oscar	A.;	VELLOSO,	Adolfo	Alvarado.	 El	 debido	processo.
Buenos	Aires:	Ediar,	2006.	p.	223-249.
26
Ideología	y	proceso	civil.	Su	reflejo	en	la	“buena	fe	procesal”.	In:	ZORZOLI,	Oscar	A.;	VELLOSO,	Adolfo	Alvarado.	El	debido	processo.	Buenos	Aires:
Ediar,	2006.	p.	251-312.
27
TARUFFO,	Michele.	Il	processo	civile	adversary	nell’esperienza	americana.	Padova:	Cedam,	1979.	p.	106-115.
28
Trata-se	do	Decreto	legislativo	198/2009.	A	esse	respeito,	ver:	D’ADAMO,	Daniela.	La	class	action	pubblica.	Rivista	di	Diritto	Processuale,	n.	2,	série
2,	ano	LXVI,	p.	359-376.
29
JOLOWICZ,	J.	A.	A	reforma	do	processo	civil	inglês:	uma	derrogação	ao	adversary	system.	RePro	19/64-75.
30
É	vasta	a	doutrina	dedicada	ao	estudo	do	processo	civil	romano.	Para	fins	de	elaboração	do	presente	projeto	foram	utilizadas	algumas	obras-base:
CRUZ	E	TUCCI,	José	Rogério;	AZEVEDO,	Luiz	Carlos	de.	Lições	de	história	do	processo	civil	romano.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2001;	KASER,	Max.	Direito
privado	romano.	Trad.	Samuel	Rodrigues	e	Ferdinand	Hämmerle.	Lisboa:	Fundação	Calouste	Gulbenkian,	1999.	p.	427-473.
31
CRUZ	E	TUCCI,	José	Rogério;	AZEVEDO,	Luiz	Carlos	de.	Lições	de	história	do	processo	civil	romano.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2001.	p.	55.
32
GAIO,	 Institutas,	Livro	 IV,	30,	em	apêndice	na	obra:	CRUZ	E	TUCCI,	 José	Rogério;	AZEVEDO,	Luiz	Carlos	de.	Lições	de	história	do	processo	civil
romano.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2001.
33
KASER,	Max.	Direito	privado	romano.	Trad.	Samuel	Rodrigues	e	Ferdinand	Hämmerle.	Lisboa:	Fundação	Calouste	Gulbenkian,	1999.	p.	465.
34
Idem,	p.	466.
35
Idem,	p.	434.
36
LIEBMAN,	Enrico	Tullio.	Embargos	do	executado.	2.	ed.	Trad.	J.	Guimarães	Menegale.	São	Paulo:	Saraiva,	1968.	p.	27.
37
Idem,	p.	28.
38
BATISTA	DA	SILVA,	Ovídio	Baptista.	Jurisdição	e	execução	na	tradição	romano-canônica.	3.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2007.	p.	85.
39
A	vulgaridade	do	direito	refere-se,	em	especial,	a	extraestatalidade	do	direito,	com	recurso	à	força	alternativa	frente	ao	desfalecimento	do	Estado.
Os	 institutos	 romanos	 acabam	 se	 deformando	 e	 novos	 institutos	 sendo	 inseridos	 pelos	 povos	 germânicos,	 formando	 um	 retrocesso	 jurídico
notório	(GROSSI,	Paolo.	L’ordine	giuridico	medievale.	9.	ed.	Roma:	Larteza,	2002.	p.	53).
40
KEMMERICH,	Clóvis	Juarez.	O	direito	processual	da	idade	média.	Porto	Alegre:	Sergio	Antonio	Fabris	Ed.,	2006.	p.	40.
41
Idem,	ibidem.
42
Nas	palavras	de	Cappelletti,	a	importância	destes	textos	decorre	do	fato	de	que	(...)	el	redescubrimiento	de	los	institutos	de	una	civilización	más
avanzada,	y	adaptación	de	esos	institutos	a	las	nuevas	exigencias	de	una	sociedad	nueva	y	en	evolución	que	había	tomado	ya	buena	consciencia
de	lo	inadecuado	de	los	institutos	rudimentarios	a	que	se	había	llegado	a	través	de	las	oscuras	vicitudes	del	alto	medioevo”	(CAPPELLETTI,	Mauro.
Proceso,	ideologias,	sociedad.	Trad.	Santiago	Sentís	Melendo	y	Tomás	A.	Banzhaf.	Buenos	Aires:	Ediciones	Jurídicas	Europa-America,	1974.	p.	332.
43
CRUZ	E	TUCCI,	José	Rogério;	AZEVEDO,	Luiz	Carlos	de.	Lições	de	processo	civil	canônico.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2001.	p.	44.
44
Idem,	p.	43.
45
Idem,	p.	45.
46
Está-se	a	fazer	referência	as	obras:	BATISTA	DA	SILVA,	Ovídio	Baptista.	Jurisdição	e	execução	na	tradição	romano-canônica.	3.	ed.	Rio	de	Janeiro:
Forense,	2007.
47
CAPPELLETTI,	Mauro.	Proceso,	ideologias,	sociedad.	Trad.	Santiago	Sentís	Melendo	y	Tomás	Banzhaf.	Buenos	Aires:	Ediciones	Jurídicas	Europa-
America,	1974.	p.	317.	Nomesmo	sentido:	BATISTA	DA	SILVA,	Ovídio	Baptista.	 Jurisdição	e	execução	na	tradição	romano-canônica.	3.	ed.	Rio	de
Janeiro:	Forense,	2007.	p.	87.
48
SERENI,	Angelo	Piero.	El	proceso	civil	en	los	Estados	Unidos.	Trad.	Santiago	Santis	Melendo.	Buenos	Aires:	Ejea,	1958.	p.	17-18.
49
Aliás,	chama	a	atenção	que,	segundo	notícias	de	Mauro	Cappelletti,	Franz	Klein,	autor	do	Projeto	de	Código	de	Procedimento	austríaco	em	1895,
com	vigência	a	partir	de	1898,	que	é	tido	como	texto	legislativo	que	difundiu	o	processo	inquisitório	e	influenciou	de	forma	ímpar	as	legislações
processuais	que	se	seguiram	na	Europa	Continental	tenha	classificado	o	processo	tardio	romano	e	justinianeu	como	um	processo,	dominado	pelo
“ponto	 de	 vista”	 da	 autoridade	 dominante,	 com	 o	 que,	 o	 seu	 modelo,	 inspirado	 no	 “ponto	 de	 vista	 coletivo”	 seria	 visão	 intermediária	 em
comparação	ao	processo	de	ideologia	individualista,	que	via	no	processo	tardio	comum	(processo	‘comum’	alemão	e	austríaco,	até	as	codificações
do	século	passado)	(CAPPELLETTI,	Mauro.	O	processo	civil	no	direito	comparado.	Trad.	Hiltomar	Martins	Oliveira.	Belo	Horizonte:	Líder,	2001.	p.
58).
50
COUTURE,	Eduardo	 J.	 Proyecto	 de	 Código	 de	 Procedimento	Civil:	 con	 exposición	 de	motivos	 (edición	 fuera	 de	 comercio).	Montevideo:	 Impresora
Uruguaia,	1945.	p.	60.
51
Para	estudos	destas	opções	políticas,	além	da	exposição	de	motivos	do	Anteprojeto	de	Eduardo	Couture,	citado	na	nota	anterior	e	que,	para	pesar
da	sociedade	latina	jamais	chegou	a	viger,	ver,	por	todos:	MILLAR,	Robert	Wyness.	Los	princípios	formativos	del	procedimento	civil.	Trad.	Catalina
Grossmann.	Buenos	Aires:	Ediar,	1945.
52
BARBOSA	MOREIRA,	 José	Carlos.	A	Constituição	e	as	provas	 ilicitamente	obtidas.	 In:	 ______.	Temas	de	direito	processual:	nona	série.	 São	 Paulo:
Saraiva.	p.	122.
53
I	volti	della	giustizia	e	del	potere:	analisi	comparatistica	del	proceso.	Bolonha:	Mulino,	2002.	p.	60-68.
54
DAMASKA,	Mirjan	R.	I	volti	della	giustizia	e	del	potere:	analisi	comparatistica	del	processo.	Bolonha:	Mulino,	2002.	p.	67-68.
55
RADBRUCH,	Gustav.	Lo	spirito	del	diritto	inglese.	Trad.	italiana	de	Alessandro	Baratta.	Milano:	Giufrrè,	1962.	p.	6-7.
56
A	respeito	dos	modelos	de	organização	do	poder,	em	especial:	DAMASKA,	Mirjan	R.	 I	volti	della	giustizia	e	del	potere:	analisi	comparatistica	del
processo.	Bolonha:	Mulino,	2002.	p.	49-96.
57
>©	edição	e	distribuição	da	EDITORA	REVISTA	DOS	TRIBUNAIS	LTDA.
Colaboração	no	processo	civil:	pressupostos	sociais,	lógicos	e	éticos.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2009.	p.	101-103,	especialmente.
58
DAMASKA,	Mirjan	R.	I	volti	della	giustizia	e	del	potere:	analisi	comparatistica	del	processo.	Bolonha:	Mulino,	2002.	p.	352-358,	especialmente.
59
DINAMARCO,	Candido	Rangel.	A	instrumentalidade	do	processo.	19.	ed.	São	Paulo:	Malheiros.	p.	187-191.
60
Colaboração	no	processo	civil:	pressupostos	sociais,	lógicos	e	éticos.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2009.	p.	63-103,	especialmente.
61
Demonstrando	 adesão	 a	 ideia	 do	 modelo	 colaborativo:	 DIDIER	 JR.,	 Fredie.	 Os	 três	 modelos	 de	 direito	 processual:	 inquisitivo,	 dispositivo	 e
cooperativo.	RePro	198/213-225.
62
Sobre	 a	 evolução	 do	 direito	 ao	 contraditório,	 indica-se	 o	 estudo	 da	 obra	 de	 Robert	Wyness	Millar	 a	 partir	 do	 princípio	 da	 bilateralidade	 da
audiência	 (MILLAR,	 Robert	 Wyness.	 Los	 principios	 formativos	 del	 procedimiento	 civil.	 Buenos	 Aires:	 Ediar,	 1945.	 p.	 47-55),	 e	 em	 sua	 visão
contemporânea	 o	 texto	 de	 Carlos	 Alberto	 Alvaro	 de	 Oliveira	 (ALVARO	 DE	 OLIVEIRA,	 Carlos	 Alberto.	 A	 garantia	 do	 contraditório.	 Revista	 da
Faculdade	de	Direito	da	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Sul	15/7-20),	além	de	Luiz	Guilherme	Marinoni	(MARINONI,	Luiz	Guilherme.	Curso
de	processo	civil:	teoria	geral	do	processo.	São	Paulo:	Ed.	RT,	2006.	vol.	1,	p.	409-414).
63
Estudos	sobre	o	novo	processo	civil.	2.	ed.	Lisboa:	Lex,	1997.	p.	65-69.
64
A	esse	respeito	 interessante	 texto:	COHEN-ELIYA,	Moshe;	PORAT,	 Iddo.	American	Balancing	and	german	proportionality:	 the	historical	origins.
Disponível	em:	[http://icon.oxfordjounals.org/atStaats-undUniversitaetsbibliothckHamburg].	Acesso	em:	17.01.2013.
65
SERENI,	Angelo	Piero.	El	proceso	civil	en	los	Estados	Unidos.	Trad.	Santiago	Santis	Melendo.	Buenos	Aires:	Ejea,	1958.	p.	119.
66
Idem,	p.	120.
67
O	contempt	of	court	não	foi	objeto	de	exame	no	presente	ensaio,	dado	a	extensão	e	riqueza	do	tema	que	comportaria	estudo	próprio,	porém	trata-
se	de	técnica	de	alta	relevância	do	sistema	adversarial	de	repressão	contra	medidas	de	“desacato	ao	tribunal”.	Pode	ser	classificado	em	contempt
direto	ou	indireto,	caso	a	medida	atentatória	seja	na	presença	ou	não	do	“tribunal”.	Também	pode	ser	classificado	em	criminal	ou	civil,	conforme
suas	características	e	propósitos,	sendo	independente,	portanto,	do	ato	de	desrespeito	ter	ocorrido	na	esfera	cível	ou	penal.	A	respeito	do	contempt
of	court	ver,	por	todos:	GOLDFARB,	Ronald	L.	The	contempt	power.	New	York,	Columbia	University	Press,	1963;	GUERRA,	Marcelo	Lima.	Execução
indireta.	São	Paulo:	Ed.	RT,	1999;	ASSIS,	Araken	de.	O	contempt	of	court	no	direito	brasileiro.	RePro	111/18.
68
CHIARLONI,	Sergio.	Riflessioni	microcomparative	su	ideologie	processual	e	accertamento	della	verità.	RePro	176/105-120.

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