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Polícia Civil do Estado de Santa Catarina PC-SC Escrivão de Polícia Civil Concurso Público - Edital nº 002/SSP/DGPC/2017 OT112-2017 DADOS DA OBRA Título da obra: Polícia Civil do Estado de Santa Catarina - PC-SC Cargo: Escrivão de Polícia Civil (Baseado no Concurso Público - Edital nº 002/SSP/DGPC/2017) • Noções de Direito Constitucional • Noções de Direito Administrativo • Noções de Direito Penal • Noções de Direito Penal Processual • Noções de Direitos Humanos • Legislação Institucional • Língua Portuguesa • Informática • Raciocínio Lógico • Noções de Arquivologia Produção Editorial/Revisão Elaine Cristina Igor de Oliveira Camila Lopes Suelen Domenica Pereira Capa Joel Ferreira dos Santos Editoração Eletrônica Marlene Moreno Gerente de Projetos Bruno Fernandes APRESENTAÇÃO CURSO ONLINE PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO. A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas. Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público. 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PASSO 1 Acesse: www.novaconcursos.com.br/passaporte PASSO 2 Digite o código do produto no campo indicado no site. O código encontra-se no verso da capa da apostila. *Utilize sempre os 8 primeiros dígitos. Ex: FV054-17 PASSO 3 Pronto! Você já pode acessar os conteúdos online. SUMÁRIO Noções de Direito Constitucional Conceito de Direito Constitucional. Natureza. ............................................................................................................................................. 01 Objeto. .........................................................................................................................................................................................................................03 Direitos e garantias fundamentais. ................................................................................................................................................................... 04 Garantias processuais Constitucionais: Habeas corpus; Habeas data; e Mandado de Segurança. ......................................... 35 Da Segurança Pública. ...........................................................................................................................................................................................37 Princípios do Direito Constitucional. ................................................................................................................................................................38 Princípios Constitucionais do Estado Brasileiro. ..........................................................................................................................................38 Da Administração Pública. ...................................................................................................................................................................................43 Noções de Direito Administrativo Conceitos, Fontes e Princípios do Direito Administrativo. ....................................................................................................................... 01 Administração Pública: órgãos e agentes públicos. ................................................................................................................................... 03 Responsabilidade civil, criminal e administrativa. ....................................................................................................................................... 05 Princípios Básicos da Administração Pública. ............................................................................................................................................... 06 Poderes Administrativos: poder hierárquico; poder disciplinar; poder regulamentar; poder de polícia; uso e abuso do poder.............................................................................................................................................................................................................................09 Ato Administrativo: conceito, classificação e invalidação. ....................................................................................................................... 14 Contrato Administrativo: princípios gerais, espécies e rescisão. ........................................................................................................... 19 Licitação. ......................................................................................................................................................................................................................21 Serviços Públicos: princípios gerais. ................................................................................................................................................................. 57 Administração Direta e indireta. ........................................................................................................................................................................58 Responsabilidade civil do Estado. ..................................................................................................................................................................... 65 Noções de Direito Penal Princípios constitucionais e infraconstitucionais do Direito Penal. ...................................................................................................... 01 Infração penal: elementos, espécies. Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal. Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade. ..............................................................................................................................................................................................................04 Erro de tipo e erro de proibição. ....................................................................................................................................................................... 09 Imputabilidade penal. ............................................................................................................................................................................................10 Concurso de pessoas. ............................................................................................................................................................................................12 Crimes contra a pessoa. ........................................................................................................................................................................................13 Crimes contra o patrimônio.................................................................................................................................................................................20 Crimes contra a administração pública. ..........................................................................................................................................................31 Crimes contra a Dignidade Sexual. ................................................................................................................................................................... 39 Noções de Direito Penal Processual Princípios constitucionais e infraconstitucionais do Direito Processual Penal. .............................................................................. 01 Inquérito policial; notitia criminis. .................................................................................................................................................................... 05 Ação penal: espécies. ............................................................................................................................................................................................09 Jurisdição. Competência. .....................................................................................................................................................................................13 Da prova (artigos 155 a 239 do CPP). ............................................................................................................................................................. 13 Da busca e apreensão (artigos 240 a 250 do CPP). .................................................................................................................................. 25 Prisão em flagrante. ...............................................................................................................................................................................................27 Prisão preventiva. ...................................................................................................................................................................................................31 Prisão temporária (Lei n. 7.960/1989). ............................................................................................................................................................. 36 Investigação Criminal Conduzida pelo Delegado de Polícia (Lei n. 12.830/13). ............................................................................. 39 SUMÁRIO Noções de Direitos Humanos O conceito de direitos humanos. ..................................................................................................................................................................... 01 Noções gerais sobre Direitos Humanos. ....................................................................................................................................................... 10 Os direitos humanos na Organização das Nações Unidas. .................................................................................................................... 15 Os direitos humanos na Organização dos Estados Americanos. ......................................................................................................... 15 A Declaração Universal dos Direitos Humanos. ........................................................................................................................................... 15 A Corte Interamericana de Direitos Humanos. ............................................................................................................................................ 15 A natureza jurídica da incorporação de normas internacionais sobre direitos humanos ao direito interno brasileiro. ....15 Legislação Institucional Estatuto da Polícia Civil e Plano de Carreira - Princípios institucionais, organização e atribuições do Escrivão de Polícia. Carreira, deveres, direitos, prerrogativas e garantias dos Escrivães de Polícia. Regime disciplinar. ....................................... 01 Constituição Federal (Título V, Capítulo III: Da Segurança Pública). ................................................................................................... 41 Constituição do Estado de Santa Catarina (Título V: Da Segurança Pública). ................................................................................ 42 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Santa Catarina (Lei n. 6.745/85). ......................................................... 43 Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina (Lei n. 6.843/86). ........................................................................................... 59 Plano de Carreira dos Policiais Civis de Santa Catarina (LC n. 453/09). ............................................................................................ 59 Sistema Remuneratório dos Integrantes do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, Subgrupo Agente da Autoridade Policial do Estado de Santa Catarina (LC n. 611/13). ................................................................................................................................. 59 Língua Portuguesa Leitura, interpretação e análise de textos de diferentes gêneros textuais, verbais e não verbais. .......................................... 01 Efeitos de sentido produzidos nos textos ..................................................................................................................................................... 01 Coesão e coerência textual. ................................................................................................................................................................................11 Ortografia: acentuação gráfica, grafia dos vocábulos e hifenização. ................................................................................................. 14 Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................22 Uso dos “porquês”. ................................................................................................................................................................................................25 Morfologia: flexão verbal e nominal, classes de palavras (substantivo, artigo, numeral, adjetivo, pronome, verbo, advér- bio, conjunção, preposição).................................................................................................................................................................................26 Sintaxe: análise sintática. .....................................................................................................................................................................................61 Colocação pronominal. ........................................................................................................................................................................................72 Regência verbal e nominal. .................................................................................................................................................................................72 Concordância verbal e nominal. ........................................................................................................................................................................ 79 Informática Sistema Operacional Windows: fundamentos do Windows: operações com janelas, menus, barra de tarefas, área de trabalho. Trabalho com pastas e arquivos: localização de arquivos e pastas; movimentação e cópia de arquivos e pastas; criação e exclusão de arquivos e pastas. Configurações Básicas do Windows: resolução da tela, cores, fontes, impresso- ras, aparência, segundo plano, protetor de tela. Windows Explorer. ................................................................................................. 01 Processador de Textos Word: área de trabalho, barras de ferramentas, botões e menus do Word. Formatação de do- cumentos: recursos de margens, tabulação, recuo e espaçamento horizontal, espaçamento vertical,fontes, destaque (negrito, sublinhado, itálico, subscrito, sobrescrito, etc.). Organização do texto em listas e colunas. Tabelas. Estilos e modelos. Cabeçalhos e Rodapés. Configuração de Página .................................................................................................................... 22 Planilha Eletrônica Excel: área de trabalho, barras de ferramentas, botões e menus do Excel; deslocamento do cursor na planilha, seleção de células, linhas e colunas. Introdução de números, textos, fórmulas e datas na planilha, referência absoluta e relativa. Principais funções do Excel: matemáticas, estatísticas, data-hora, financeiras e de texto. Formata- ção de planilhas: número, alinhamento, borda, fonte, padrões. Edição da planilha: operações de copiar, colar, recortar, limpar, marcar, etc. Classificação de dados nas planilhas. Gráficos. ..................................................................................................... 46 SUMÁRIO Software de apresentação do Power Point: área de trabalho, barras de ferramentas, botões e menus do Power Point; criação de apresentações e inserção de slides; os elementos da tela e modos de visualização; objetos de texto: formatar, mover, copiar e excluir objetos; listas numeradas, listas com marcadores e objetos de desenho; uso de tabelas, gráficos, planilhas e organogramas; layout, esquema de cores, segundo plano e slide mestre; montagem de slides animados; integração com Word e Excel; salvar, apresentações para acesso via browser. ............................................................................. 70 Redes de Computadores (Conceitos básicos, ferramentas, aplicativos e procedimentos de internet e intranet, VPN, VoIP, Grupos de Discussão, Redes Sociais, Computação na Nuvem, Programas de Navegação, Deep Web, Dark Web. Proto- colos e Serviços de Internet: E-mail, HTTP e FTP. ........................................................................................................................................86 Correio Eletrônico: endereços, utilização de recursos típicos. World Wide Web: navegadores (browsers). ...................... 86 Sítios de busca e pesquisa na Internet. .........................................................................................................................................................86 Conceitos de Segurança: procedimentos e segurança de acessos, programas maliciosos, ferramentas antivírus e cripto- grafia. ........................................................................................................................................................................................................................150 Procedimentos de Backup, Armazenamento de Dados na Nuvem); .................................................................................................150 Celulares, Tablets e suas Tecnologias, Biometria, Moedas Virtuais. ..................................................................................................162 Raciocínio Lógico Compreensão de estruturas lógicas. ............................................................................................................................................................... 01 Lógica de argumentação: analogias, inferências, deduções e conclusões. ..................................................................................... 10 Operações com conjuntos. .................................................................................................................................................................................15 Progressões aritméticas e geométricas. ........................................................................................................................................................ 21 Funções. .....................................................................................................................................................................................................................29 Razões e proporções. ............................................................................................................................................................................................35 Porcentagem e regra de três. .............................................................................................................................................................................41 Princípios de contagem e probabilidade. ..................................................................................................................................................... 49 Arranjos e permutações. ......................................................................................................................................................................................49 Combinações .............................................................................................................................................................................................................49 Noções de Arquivologia Noções básicas de teoria arquivistica: O documento de arquivo; O princípio de proveniência; O princípio de ordem original; O ciclo de vida dos documentos. Terminologia arquivistica. O Arquivo intermediário: A avaliação de docu- mentos; O Plano de Classificação; A Tabela de Temporalidade e Destinação de Documentos; O Sistema Informatizado de Gestão Arquivistica de Documentos - SIGAD. O arquivo permanente: A identificação de documentos: diplomática e tipologia documental. Arranjo: organização, codificação e ordenação de documentos. A descrição: a Norma Brasileira de Descrição Arquivistica - NOBRADE. Noções de conservação preventiva. Processos reprográficos, microfilmagem, digitalização. .........................................................................................................................................................................................................01 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Conceito de Direito Constitucional. Natureza. ............................................................................................................................................. 01 Objeto. .........................................................................................................................................................................................................................03 Direitos e garantias fundamentais. ................................................................................................................................................................... 04 Garantias processuais Constitucionais: Habeas corpus; Habeas data; e Mandado de Segurança. ......................................... 35 Da Segurança Pública. ...........................................................................................................................................................................................37 Princípios do Direito Constitucional. ................................................................................................................................................................ 38 Princípios Constitucionais do Estado Brasileiro. .......................................................................................................................................... 38 Da Administração Pública. ...................................................................................................................................................................................43 1 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL. NATUREZA. O Direito Constitucional é ramo complexo e essencial ao jurista no exercício de suas funções, afinal, a partir dele que se delineia toda a estrutura do ordenamento jurídico nacional. Embora, para o operador do Direito brasileiro, a Cons- tituiçãoFederal de 1988 seja o aspecto fundamental do estudo do Direito Constitucional, impossível compreendê- -la sem antes situar a referida Carta Magna na teoria do constitucionalismo. Essencial para compreender o conceito de direito cons- titucional é abordar o conceito de constituição. Conceito de Constituição É delicado definir o que é uma Constituição, pois de forma pacífica a doutrina compreende que este conceito pode ser visto sob diversas perspectivas. Sendo assim, Constituição é muito mais do que um documento escrito que fica no ápice do ordenamento jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e organização do Estado, mas tem um significado intrínseco sociológico, político, cultural e econômico. Constituição no sentido sociológico O sentido sociológico de Constituição foi definido por Ferdinand Lassale, segundo o qual toda Constituição que é elaborada tem como perspectiva os fatores reais de poder na sociedade. Neste sentido, aponta Lassale1: “Colhem-se estes fatores reais de poder, registram-se em uma folha de papel, [...] e, a partir desse momento, incorporados a um papel, já não são simples fatores reais do poder, mas que se erigiram em direito, em instituições jurídicas, e quem atentar contra eles atentará contra a lei e será castigado”. Logo, a Constituição, antes de ser norma positivada, tem seu conteúdo delimitado por aqueles que possuem uma parcela real de poder na sociedade. Claro que o texto cons- titucional não explicitamente trará estes fatores reais de poder, mas eles podem ser depreendidos ao se observar favorecimentos implícitos no texto constitucional. Constituição no sentido político Carl Schmitt2 propõe que o conceito de Constituição não está na Constituição em si, mas nas decisões políticas tomadas antes de sua elaboração. Sendo assim, o conceito de Constituição será estruturado por fatores como o regi- me de governo e a forma de Estado vigentes no momento de elaboração da lei maior. A Constituição é o produto de uma decisão política e variará conforme o modelo político à época de sua elaboração. 1 LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. 2 SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitución. Presentación de Francisco Ayala. 1. ed. Madrid: Alianza Universidad Textos, 2003. Constituição no sentido material Pelo conceito material de Constituição, o que define se uma norma será ou não constitucional é o seu conteú- do e não a sua mera presença no texto da Carta Magna. Em outras palavras, determinadas normas, por sua nature- za, possuem caráter constitucional. Afinal, classicamente a Constituição serve para limitar e definir questões estrutu- rais relativas ao Estado e aos seus governantes. Pelo conceito material de Constituição, não importa a maneira como a norma foi inserida no ordenamento jurí- dico, mas sim o seu conteúdo. Por exemplo, a lei da ficha limpa – Lei Complementar nº 135/2010 – foi inserida no or- denamento na forma de lei complementar, não de emenda constitucional, mas tem por finalidade regular questões de inelegibilidade, decorrendo do §9º do artigo 14 da Consti- tuição Federal. A inelegibilidade de uma pessoa influencia no fator sufrágio universal, que é um direito político, logo, um direito fundamental. A Lei da Ficha Limpa, embora pre- vista como lei complementar, na verdade regula o que na Constituição seria chamado de elemento limitativo. Para o conceito material de Constituição, trata-se de norma cons- titucional. Pelo conceito material de Constituição, não importa a maneira como a norma foi inserida no ordenamento jurí- dico, mas sim o seu conteúdo. Por exemplo, a lei da ficha limpa – Lei Complementar nº 135/2010 – foi inserida no or- denamento na forma de lei complementar, não de emenda constitucional, mas tem por finalidade regular questões de inelegibilidade, decorrendo do §9º do artigo 14 da Consti- tuição Federal. A inelegibilidade de uma pessoa influencia no fator sufrágio universal, que é um direito político, logo, um direito fundamental. A Lei da Ficha Limpa, embora pre- vista como lei complementar, na verdade regula o que na Constituição seria chamado de elemento limitativo. Para o conceito material de Constituição, trata-se de norma cons- titucional. Constituição no sentido formal Como visto, o conceito de Constituição material pode abranger normas que estejam fora do texto constitucional devido ao conteúdo delas. Por outro lado, Constituição no sentido formal é definida exclusivamente pelo modo como a norma é inserida no ordenamento jurídico, isto é, tudo o que constar na Constituição Federal em sua redação ori- ginária ou for inserido posteriormente por emenda cons- titucional é norma constitucional, independentemente do conteúdo. Neste sentido, é possível que uma norma sem cará- ter materialmente constitucional, seja formalmente cons- titucional, apenas por estar inserida no texto da Constitui- ção Federal. Por exemplo, o artigo 242, §2º da CF prevê que “o Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”. Ora, evidente que uma norma que trata de um colégio não se insere nem em elementos organizacionais, nem limitativos e nem socio- ideológicos. Trata-se de norma constitucional no sentido formal, mas não no sentido material. 2 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Considerados os exemplos da Lei da Ficha Limpa e do Colégio Pedro II, pode-se afirmar que na Constituição Federal de 1988 e no sistema jurídico brasileiro como um todo não há perfeita correspondência entre regras mate- rialmente constitucionais e formalmente constitucionais. Constituição no sentido jurídico Hans Kelsen representa o sentido conceitual jurídico de Constituição alocando-a no mundo do dever ser. Ao tratar do dever ser, Kelsen3 argumentou que so- mente existe quando uma conduta é considerada objeti- vamente obrigatória e, caso este agir do dever ser se torne subjetivamente obrigatório, surge o costume, que pode gerar a produção de normas morais ou jurídicas; contudo, somente é possível impor objetivamente uma conduta por meio do Direito, isto é, a lei que estabelece o dever ser. Sobre a validade objetiva desta norma de dever ser, Kel- sen4 entendeu que é preciso uma correspondência mínima entre a conduta humana e a norma jurídica imposta, logo, para ser vigente é preciso ser eficaz numa certa medida, considerando eficaz a norma que é aceita pelos indivíduos de tal forma que seja pouco violada. Trata-se de noção re- lacionada à de norma fundamental hipotética, presente no plano lógico-jurídico, fundamento lógico-transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva. No entanto, o que realmente confere validade é o po- sicionamento desta norma de dever ser na ordem jurídica e a qualidade desta de, por sua posição hierarquicamente superior, estruturar todo o sistema jurídico, no qual não se aceitam lacunas. Kelsen5 definiu o Direito como ordem, ou seja, como um sistema de normas com o mesmo fundamento de validade – a existência de uma norma fundamental. Não importa qual seja o conteúdo desta norma fundamental, ainda assim ela conferirá validade à norma inferior com ela compatível.Esta norma fundamental que confere funda- mento de validade a uma ordem jurídica é a Constituição. Pelo conceito jurídico de Constituição, denota-se a presença de um escalonamento de normas no ordenamen- to jurídico, sendo que a Constituição fica no ápice desta pirâmide. Classificação das Constituições Por fim, ressaltam-se as denominadas classificações das Constituições: Quanto à forma a) Escrita – É a Constituição estabelecida em um único texto escrito, formalmente aprovado pelo Legislativo com esta qualidade. Se o texto for resumido e apenas contiver normas básicas, a Constituição escrita é sintética; se o textofor extenso, delimitando em detalhes questões que muitas vezes excedem mesmo o conceito material de Constitui- ção, a Constituição escrita é analítica. Firma-se a adoção de um sistema conhecido como Civil Law. O Brasil adota uma Constituição escrita analítica. 3 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 08-10. 4 Ibid., p. 12. 5 Ibid., p. 33. b) Não escrita – Não significa que não existam nor- mas escritas que regulem questões constitucionais, mas que estas normas não estão concentradas num único texto e que nem ao menos dependem desta previsão expressa devido à possível origem em outros fatores sociais, como costumes. Por isso, a Constituição não escrita é conhecida como costumeira. É adotada por países como Reino Uni- do, Israel e Nova Zelândia. Adotada esta Constituição, o sistema jurídico se estruturará no chamado Common Law (Direito costumeiro), exteriorizado no Case Law (sistema de precedentes). Quanto ao modo de elaboração a) Dogmática –sempre escritas, estas Constituições são elaboradas num só ato a partir de concepções pré-estabe- lecidas e ideologias já declaradas. A Constituição brasilei- ra de 1988 é dogmática. b) Histórica – aproxima-se da Constituição dogmática, eis que o seu processo de formação é lento e contínuo com o passar dos tempos. Quanto à estabilidade a) Rígida – exige, para sua alteração, um processo le- gislativo mais árduo. Obs.: A Constituição super-rígida, classificação defen- dida por parte da doutrina, além de ter um processo le- gislativo diferenciado para emendas constitucionais, tem certas normas que não podem nem ao menos ser alteradas – denominadas cláusula pétreas. A Constituição brasileira de 1988 pode ser conside- rada rígida. Pode ser também vista como super-rígida aos que defendem esta subclassificação. b) Flexível – Não é necessário um processo legislativo mais árduo para a alteração das normas constitucionais, utilizando-se o mesmo processo das normas infraconsti- tucionais. c) Semiflexível ou semirrígida – Ela é tanto rígida quan- to flexível, pois parte de suas normas precisam de processo legislativo especial para serem alteradas e outra parte se- gue o processo legislativo comum. Quanto à função a) Garantia – busca garantir a liberdade e serve notada- mente para limitar o poder do Estado. b) Dirigente – vai além da garantia da liberdade e da limitação do poder do Estado, definindo um projeto de Es- tado a ser alcançado. A Constituição brasileira de 1988 é dirigente. Quanto à origem a) Outorgada – é aquela imposta unilateralmente pelo agente revolucionário. A Constituição outorgada é deno- minada como Carta. b) Promulgada – é aquela que é votada, sendo tam- bém conhecida como democrática ou popular. Decorre do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita pelo povo para em nome dele atuar (legitimação popular). A Constituição promulgada é denominada Constituição, enquadrando-se nesta categoria a Constituição brasileira de 1988. 3 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Obs.: Constituição cesarista é aquela que não é outor- gada, mas também não é promulgada. Se dá quando um projeto do agente revolucionário é posto para votação do povo, que meramente ratifica a vontade do detentor do poder. Quanto à dogmática a) Ortodoxa – formada por uma só ideologia. b) Eclética – atenta a fatores multiculturais, trazendo ideologias conciliatórias. A Constituição de 1988 é eclé- tica. OBJETO. O objeto do direito constitucional é a Constituição, no- tadamente, a estruturação do Estado, o estabelecimento dos limites de sua atuação, como os direitos fundamentais, e a previsão de normas relacionadas à ideologia da ordem econômica e social. Este objeto se relaciona ao conceito material de Constituição. No entanto, há uma tendência pela ampliação do objeto de estudo do Direito Constitucio- nal, notadamente em países que adotam uma Constituição analítica como o Brasil. Classificação das Constituições Por fim, ressaltam-se as denominadas classificações das Constituições: Quanto à forma a) Escrita – É a Constituição estabelecida em um único texto escrito, formalmente aprovado pelo Legislativo com esta qualidade. Se o texto for resumido e apenas contiver normas básicas, a Constituição escrita é sintética; se o texto for extenso, delimitando em detalhes questões que muitas vezes excedem mesmo o conceito material de Constitui- ção, a Constituição escrita é analítica. Firma-se a adoção de um sistema conhecido como Civil Law. O Brasil adota uma Constituição escrita analítica. b) Não escrita – Não significa que não existam nor- mas escritas que regulem questões constitucionais, mas que estas normas não estão concentradas num único texto e que nem ao menos dependem desta previsão expressa devido à possível origem em outros fatores sociais, como costumes. Por isso, a Constituição não escrita é conhecida como costumeira. É adotada por países como Reino Uni- do, Israel e Nova Zelândia. Adotada esta Constituição, o sistema jurídico se estruturará no chamado Common Law (Direito costumeiro), exteriorizado no Case Law (sistema de precedentes). Quanto ao modo de elaboração a) Dogmática –sempre escritas, estas Constituições são elaboradas num só ato a partir de concepções pré-estabe- lecidas e ideologias já declaradas. A Constituição brasilei- ra de 1988 é dogmática. b) Histórica – aproxima-se da Constituição dogmática, eis que o seu processo de formação é lento e contínuo com o passar dos tempos. Quanto à estabilidade a) Rígida – exige, para sua alteração, um processo le- gislativo mais árduo. Obs.: A Constituição super-rígida, classificação defen- dida por parte da doutrina, além de ter um processo le- gislativo diferenciado para emendas constitucionais, tem certas normas que não podem nem ao menos ser alteradas – denominadas cláusula pétreas. A Constituição brasileira de 1988 pode ser conside- rada rígida. Pode ser também vista como super-rígida aos que defendem esta subclassificação. b) Flexível – Não é necessário um processo legislativo mais árduo para a alteração das normas constitucionais, utilizando-se o mesmo processo das normas infraconsti- tucionais. c) Semiflexível ou semirrígida – Ela é tanto rígida quan- to flexível, pois parte de suas normas precisam de processo legislativo especial para serem alteradas e outra parte se- gue o processo legislativo comum. Quanto à função a) Garantia – busca garantir a liberdade e serve notada- mente para limitar o poder do Estado. b) Dirigente – vai além da garantia da liberdade e da limitação do poder do Estado, definindo um projeto de Es- tado a ser alcançado. A Constituição brasileira de 1988 é dirigente. Quanto à origem a) Outorgada – é aquela imposta unilateralmente pelo agente revolucionário. A Constituição outorgada é deno- minada como Carta. b) Promulgada – é aquela que é votada, sendo tam- bém conhecida como democrática ou popular. Decorre do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita pelo povo para em nome dele atuar (legitimação popular). A Constituição promulgada é denominada Constituição, enquadrando-se nesta categoria a Constituição brasileira de 1988. Obs.: Constituição cesarista é aquela que não é outor- gada, mas também não é promulgada. Se dá quando um projeto do agente revolucionário é posto para votação do povo, que meramente ratifica a vontade do detentor do poder. Quanto à dogmática a) Ortodoxa – formada por uma só ideologia. b) Eclética – atenta a fatores multiculturais, trazendo ideologias conciliatórias. A Constituição de 1988 é eclé- tica. 4 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. Direitos e garantias fundamentais O título II da Constituição Federalé intitulado “Direitos e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente pre- vistos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). Em termos comparativos à clássica divisão tridimen- sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi- tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se- gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu- meração de direitos humanos na Constituição vai além dos direitos que expressamente constam no título II do texto constitucional. Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac- terísticas principais: a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en- quadra a noção de dimensões de direitos. b) Universalidade: os direitos fundamentais perten- cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na perspectiva de prevalência dos direitos humanos. c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in- transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da autonomia privada. d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po- dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta- lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa humana. e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem deixar de ser observados por disposições infraconstitucio- nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu- lidades. f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem um único conjunto de direitos porque não podem ser ana- lisados de maneira isolada, separada. g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição). h) Relatividade: os direitos fundamentais não po- dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados como humanos. Direitos e deveres individuais e coletivos O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capí- tulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucionais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.: manda- do de segurança coletivo). 1) Brasileiros e estrangeiros O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen- te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in- terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi- dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera- nia do país. Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in- gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país). Somente alguns direitos não são estendidos a todas as pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi- ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais titulares de direitos políticos. 2) Relação direitos-deveres O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan- tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen- tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a premissa reconhecida nos direitos fundamentais de que não há di- reito que seja absoluto, correspondendo-se para cada di- reito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamentais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos. Explica Canotilho6 quanto aos direitos fundamentais: “a ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendi- da como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de um direito fundamental corresponde um de- ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um dever correspondente”. Com efeito, a um direito funda- mental conferido à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas. 3) Direitos e garantias A Constituição vai além da proteção dos direitos e esta- belece garantias em prol da preservação destes, bem como remédios constitucionais a serem utilizados caso estes di- reitos e garantias não sejam preservados. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições declaratórias e as garan- tias são as disposições assecuratórias. 6 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479. 5 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca- sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º, LXV7. Em caso de ineficácia da garantia, implicando em vio- lação de direito, cabe a utilização dos remédios constitu- cionais. Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé- dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas de direitos e garantias propriamente ditas apenas de di- reitos. 4) Direitos e garantias em espécie Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu caput: Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos principais (senão o principal) artigos da Constituição Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas de direitos individuais e coletivos que mere- cem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Os incisos deste artigos delimitam vários direitos e garantias que se enquadram em alguma destas esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas es- pecíficas que ganham também destaque no texto consti- tucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. - Direito à igualdade Abrangência Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que oconstituinte afirmou por duas vezes o princípio da igual- dade: Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro inciso: 7 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon- ferência. Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direi- tos e obrigações, nos termos desta Constituição. Este inciso é especificamente voltado à necessidade de igualdade de gênero, afirmando que não deve haver ne- nhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e obrigações. Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers- pectiva mais ampla. O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil, enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que a todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direi- tos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igual- dade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se falando na igualdade perante a lei. No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas é preciso buscar progressivamente a igualdade material. No sentido de igualdade material que aparece o direito à igualdade num segundo momento, pretendendo-se do Es- tado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção de políticas go- vernamentais voltadas a grupos vulneráveis. Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá- veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em socieda- de; e o de igualdade material, correspondendo à necessi- dade de discriminações positivas com relação a grupos vul- neráveis da sociedade, em contraponto à igualdade formal. Ações afirmativas Neste sentido, desponta a temática das ações afirmativas,que são políticas públicas ou programas priva- dos criados temporariamente e desenvolvidos com a fina- lidade de reduzir as desigualdades decorrentes de discri- minações ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da concessão de algum tipo de vantagem com- pensatória de tais condições. Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, em uma sociedade pluralista, a condição de membro de um grupo específico não pode ser usada como critério de inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se- gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma discriminação reversa. Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas defende que elas representam o ideal de justiça compensatória (o objetivo é compensar injustiças passadas, 6 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL dívidas históricas, como uma compensação aos negros por tê-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça distributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- -se uma concretização do princípio da igualdade material); bem como promovem a diversidade. Neste sentido, as discriminações legais asseguram a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afir- mativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas diferenças8. Tem predominado em doutrina e jurispru- dência, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as ações afirmativas são válidas. - Direito à vida Abrangência O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio- nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi- cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con- ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma- nos9. No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral, incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig- nidade. Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi- cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com células tronco, pena de morte, eutanásia, etc. Vedação à tortura De forma expressa no texto constitucional destaca-se a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme previsão no inciso III do artigo 5º: Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. A tortura é um dos piores meios de tratamento de- sumano, expressamente vedada em âmbito internacional, como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina 8 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08. 9 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen- tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For- tium, 2008, p. 15. constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define os crimes de tortura e dá outras providências, destacando- -se o artigo 1º: Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confis- são da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi- nosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori- dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. - Direito à liberdade O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro- teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos que o seguem. Liberdade e legalidade Prevê o artigo 5º, II, CF: Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou dei- xar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. O princípio da legalidade se encontra delimitado nes- te inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa tem liberdade para agir como considerar conve- niente. 7 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela- ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expres- samente estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer maneira que a lei não proíba. Liberdade de pensamento e de expressão O artigo 5º, IV, CF prevê: Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamen- to, sendo vedado o anonimato. Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de pensamento e da liberdade de expressão. Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao consagrar a livre manifestação do pensa- mento, imprime a existência jurídica ao chamado direito de opinião”10. Em outras palavras, primeiro existe o direito de ter uma opinião, depois o de expressá-la. No mais, surge como corolário do direito à liberdade de pensamento e de expressão o direito à escusa por con- vicção filosófica ou política: Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al- ternativa, fixada em lei. Trata-se de instrumento para a consecução do direito assegurado na Constituição Federal – não basta permitir que se pense diferente, é preciso respeitar tal posiciona- mento. Com efeito, este direito de liberdade de expressão é limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer- ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações por manifestações que contrariem a lei. Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF: Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte- lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- dentemente de censura ou licença. Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres- são, referente de forma específica a atividades intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com relação a estas, a exigência de licença para a manifestação do pensamento, bem como veda-se a censura prévia. A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe- dir a divulgação e o acesso a informações como modo de controle do poder. A censura somente é cabível quando 10 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. necessária ao interesse público numa ordem democrática, por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de exploração sexual infanto-juvenil é adequado. O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à in- denização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapar- tida para aquele que teve algum direito seu violado (no- tadamente inerentes à privacidade ou à personalidade) em decorrência dos excessos no exercício da liberdade de expressão. Liberdade de crença/religiosa Dispõe o artigo 5º, VI, CF: Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên- cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a profissão desta fé possa se realizar em locais próprios. Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda- des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liberda- de de organização religiosa. Consoante o magistério de José Afonso da Silva11, entra na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos- ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber- dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou em público, bem como a de recebimento de contribuições para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização de igrejas e suas relações com o Estado. Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as- segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF: Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres- tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili- tares de internação coletiva. O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos prisionais civis e militares, mas também a hospitais. Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- giosa o direito à escusa por convicção religiosa: Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po- lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- tiva, fixada em lei. 11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 8 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis- tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó- fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não contrarie tais preceitos. Liberdade de informação O direito de acesso à informação também se liga a uma dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o ar- tigo 5º, XIV, CF: Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in- formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces- sário ao exercício profissional. Trata-se da liberdade de informação, consistente na liberdade de procurar e receber informações e ideias por quaisquer meios, independente de fronteiras, sem interfe- rência. A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís- tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento: não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade de se garantiro acesso ao pensamento manifestado para a sociedade. Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente pelos meios de comunicação imparciais e não monopoli- zados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível que a imprensa divulgue com quem obteve a informação divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre- judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao público. Especificadamente quanto à liberdade de informação no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas previsões. Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra- zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor- mação. Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF: Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen- dentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de in- teresse pessoal. Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum- pre observar que o direito de petição deve resultar em uma manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol- vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí- cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta a apreciação de um pedido que um cidadão quer apresen- tar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora para responder aos pedidos formulados” (admi- nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res- trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar as desigualdades e as injustiças. Dentro do espectro do direito de petição se insere, por exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi- cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que gera confusões conceituais no sentido do direito de obter certidões ser dissociado do direito de petição. Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF: Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida- de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro- cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou quando o interesse social exigir (ex: investigações que pos- sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é instrumento para a efetivação da liberdade de informação. Liberdade de locomoção Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar- tigo 5º, XV, CF: Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di- reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o território do país em tempos de paz (em tempos de guerra é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A liberdade de sair do país não significa que existe um direito de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no exercício de sua soberania, controlar tal entrada. 9 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber- dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- sa nos casos autorizados pela própria Constituição Fede- ral. A despeito da normativa específica de natureza penal, reforça-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de locomoção pela prisão civil por dívida. Prevê o artigo 5º, LXVII, CF: Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi- da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento é a que se refere à obrigação alimentícia. Liberdade de trabalho O direito à liberdade também é mencionado no artigo 5º, XIII, CF: Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra- balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. O livre exercício profissional é garantido, respeitados os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de advogado aquele que não se formou em Direito e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o cadastro no Conselho Regional de Medicina. Liberdade de reunião Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- te, sem armas, em locais abertos ao público, independen- temente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sen- do apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do poder público para que ele organize o policiamento e a as- sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido auto- rizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela tal substância ilícita fosse utilizada). Liberdade de associação No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, XVII, CF: Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. A liberdade de associação difere-se da de reunião por sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso- ciação implica na formação de um grupo organizado que se mantém por um período de tempo considerável, dotado de estrutura e organização próprias. Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso- ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente à es- tatal. O texto constitucional se estende na regulamentação da liberdade de associação. O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na for- ma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. Neste sentido, associações são organizações resultan- tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, para a realização de um obje- tivo comum; já cooperativas sãouma forma específica de associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns em suas atividades econômicas. Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser com- pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado. O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as- sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade de reverter a decisão e permitir que a associação continue em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus- pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou seja, no curso de um processo judicial. Em destaque, a legitimidade representativa da associa- ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF: Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex- pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen- tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza. A liberdade de associação envolve não somente o di- reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam- bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con- forme artigo 5º, XX, CF: 10 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado. - Direitos à privacidade e à personalidade Abrangência Prevê o artigo 5º, X, CF: Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorren- te de sua violação. O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalida- de. Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida- de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu- mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de amigos –, Silva12 entende que “o segredo da vida privada é condição de expansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. A união da intimidade e da vida privada forma a pri- vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão, quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser conferida à esfera (as esferas são representadas pela intimi- dade, pela vida privada, e pela publicidade). “O direito à honra distancia-se levemente dos dois an- teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa- zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi- lidade no meio social. O direito à imagem também pos- sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”13. Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon- dência Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio- labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e comunicações. Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo- rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 13 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito cons- titucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por determinação judicial. Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica- ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. O sigilo de correspondência e das comunicações está melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. Personalidade jurídica e gratuidade de registro Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe- rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos direitos de personalidade, consistente na personalidade ju- rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei. Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se necessário o registro. Por ser instrumento que serve como pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse- gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de com ele arcar. Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconheci- damente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nas- cimento; b) a certidão de óbito. O reconhecimento do marco inicial e do marco final da personalidade jurídica pelo registro é direito individual, não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora- ção de documentos para que ela seja reconhecida como viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos menos favorecidos. Direito à indenização e direito de resposta Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di- reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de resposta, conforme as necessidades do caso concreto. Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF: Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano ma- terial, moral ou à imagem. “A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa- 11 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju- diciário com a consequente responsabilidade civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju- riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle da matéria que divulga”14. O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio em que foram publicadas garantida exatamente a mesma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito de resposta não é possível reverter plenamente os danos causados pela manifestação ilícita de pensamento, razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização. A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau- sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô- mico e não econômico. Dano material é aquele que atinge o patrimônio (material ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e indenizado.
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