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Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA1 Maria Elesiane Damasio Cardoso Crocetta2 Karin Martins Gomes3 Resumo A presente pesquisa apresenta como tema central anorexia nervosa na adolescência, tem como objetivo geral, identificar fatores predisponentes da anorexia nervosa em adolescentes. Como objetivos específicos: verificar idade e sexo de maior incidência; identificar as consequências orgânicas e emocionais; identificar pesquisas sobre prevenção de Anorexia Nervosa. Trata-se de uma pesquisa de revisão não sistemática, desenvolvida a partir de artigos científicos publicados entre 2003 a 2016, foram consultadas as bases de dados bibliográficas Scielo (Scientific Eletronic Libraly Online); Pepsic (Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e Google Acadêmico a fim de se identificar publicações recentes envolvendo a temática sobre o transtorno alimentar anorexia nervosa. Através deste estudo verificou-se que a anorexia nervosa (AN) é uma doença grave de etiologia multifatorial, que envolve predisposição genética, fatores socioculturais, vulnerabilidades biológicas e também psicológicas. Caracteriza-se por séria restrição alimentar auto-imposta, atinge frequentemente adolescentes do sexo feminino, na faixa etária dos 10 aos 20 anos de idade, com consequências orgânicas e psíquicas graves, e alta taxa de mortalidade. Destaca-se estabelecer estratégias para um trabalho preventivo, com a finalidade de auxiliar os indivíduos na prevenção de situações de riscos que esses comportamentos podem ocasionar, a fim de prestar a contribuição para o público feminino jovem como forma de conscientizar o perigo da doença e a necessidade de ajuda. Palavras-chave: Transtornos alimentares; Anorexia Nervosa; Adolescência. 1 INTRODUÇÃO Desiquilíbrio emocional e Transtorno Alimentar (TA) são uma combinação da reação de uma sociedade obsessiva, conduzindo ao sofrimento psíquico e a alteração do estado de saúde, sendo um dos diagnósticos à anorexia nervosa (AN). Essas disfunções são maneiras de expressar sofrimentos subjetivos de diferentes ordens especialmente na expressão da sexualidade feminina (BORN et al. 2013). 1 Artigo baseado na Monografia Pós-graduação especialização em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e Aplicabilidade nas Psicopatologias. 2 Psicóloga. Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina – UNESC - Criciúma - SC - Brasil. E-mail: elecrocetta@hotmail.com. 3 Psicóloga Dra. Orientadora - UNESC - Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina - Criciúma - SC - Brasil. E-mail: karin@unesc.net. CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 78 Os TA segundo Souza e Pessa (2016) são transtornos mentais que abrangem sintomas físicos e psíquicos cuja origem é multifatorial, compreendendo predisposição genética e sociocultural, desiquilíbrio biológico e psicológico, além de questões familiares de valores de relação afetiva disfuncionais. Os fatores predisponentes são aqueles que aumentam a probabilidade de manifestação do TA, mas não o tornam inevitável, como a comorbidade com outras doenças psiquiátricas, a história de transtornos psiquiátricos na família, abuso físico ou sexual e situações adversas na infância (BORN et al. 2013). Torres e Guerra (2003) esclarecem que os TA têm aparecido com frequência nas clínicas sendo considerados o grupo das psicopatologias mais comuns em adolescentes do sexo feminino. De acordo com Oliveira et al. (2013) a adolescência é uma etapa determinada por alterações que ocorrem concomitantemente. Desse modo, o corpo ganha nova forma e a percepção de si mesmo é transformada. Nessa etapa, dá início a formação da identidade e dos valores sociais, a obrigação de se enquadrar pode fazer com que sejam feitas limitações alimentares ocasionando em implicações gravíssimas. A fase de transformação expõe o adolescente a fatores de risco que podem ser compreendidos como variáveis individuais ou ambientais, acrescentando a probabilidade de consequências negativas sobre a saúde, o bem-estar e o comportamento (USINIAN E VITALLE, 2015). Os fatores classificados de risco para o desencadeamento de práticas alimentares inadequados em adolescentes, segundo Fortes et al. (2013) são: a) insatisfação corporal – considerada um desgosto profundo com o corpo; b) prática extenuante de atividade física; c) estado nutricional inadequado; d) adiposidade corporal elevada, etnia branca; e e) estrato econômico elevado. Oliveira e Santos (2006) apontam que os TA são condições psiquiátricas identificadas por uma grave alteração do comportamento alimentar, sendo a anorexia e a bulimia nervosa os principais. Conforme Abreu e Filho (2005) a AN destaca-se pela perda de peso acentuada à custa de dietas severas auto impostas, visando uma busca descontrolada para alcançar a condição de magreza, seguida por uma distorção expressiva da imagem corporal e com manifestação de amenorreia. CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 79 A patologia habitualmente inicia com um jejum progressivo, no qual inicialmente não são consumidos os alimentos calóricos, estendendo-se sucessivamente a outros tipos de alimentos (DUNKER E PHILIPPI, 2003). Oliveira e Santos (2006) esclarecem que a AN pode ser determinada como uma resistência sistemática em manter o peso no mínimo normal apropriado à idade e altura, seguida de uma confusão na maneira como o sujeito vivência seu peso e sua forma física. A AN abrange graves perturbações no comportamento alimentar da pessoa, sendo sua principal característica o medo mórbido de engordar, tal patologia define-se pela dieta severamente rigorosa, ocasionando em um peso corporal ao menos 85% abaixo do esperado para idade e altura (SANTOS E ALMEIDA, 2008). Cordás (2004) coloca que a AN se configura por perda de peso excessiva e proposital às custas de dietas exageradamente rígidas com uma procura desmedida pela magreza, uma distorção grosseira da imagem corporal e mudança do ciclo menstrual. De acordo com Castro e Brandão (2014) a AN é caracterizada pela resistência da pessoa em manter um peso apropriado para sua estatura, medo excessivo de ganhar peso, recusa alimentar associada a uma distorção da imagem corporal, além de negação da própria condição doentia. Existe ainda uma busca constante pela magreza. Neste caso o peso e o formato corporal exercem nítida influência na determinação da autoestima dos pacientes, que via de regra aparece rebaixada. Diante dos fatos demostrados acima, parte-se do argumento que é essencial abordar o tema AN em adolescentes, uma vez que estas se encontram numa fase do desenvolvimento humano marcado por um momento de intensas transformações físicas, psíquicas e sociais, onde muitas poderão estar suscetíveis ao desenvolvimento da AN, uma vez que estão no processo de formação da identidade, percorrendo por diferentes grupos e alterando sua percepção em relação aos valores sociais. Portanto este artigo tem como objetivo identificar os fatores predisponentes da AN em adolescentes, buscando verificar a idade e sexo de maior incidência, identificar as consequências orgânicas e emocionais bem como, verificar a ocorrência de pesquisas sobre a prevençãode anorexia nervosa. 2 MATERIAL E MÉTODOS Para identificação de artigos foram consultadas as bases de dados bibliográficas Scielo (Scientific Eletronic Libraly Online); Pepsic (Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e Google CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 80 Acadêmico a fim de se identificar publicações envolvendo a temática sobre o transtorno alimentar anorexia nervosa. Utilizou-se os descritores – palavras chaves: “anorexia nervosa”, “transtornos alimentares”, “adolescência”, “sofrimento psíquico”, “fatores predisponentes, “consequências orgânicas e emocionais”, prevenção na anorexia”. Foram excluídos artigos que não condiziam com o tema da pesquisa; artigos que não estavam disponíveis na íntegra; estudos em duplicidade nas bases de dados. Afim de detalhar e sistematizar os resultados encontrados, construiu-se um quadro contendo as informações dos autores e ano de publicação; os participantes do estudo; a idade dos participantes; o foco do estudo; o método do estudo e os resultados do estudo. A análise de seleção dos artigos encontrados ocorreu de acordo com a seguinte sistematização: a avaliação inicial do material bibliográfico mediante a leitura dos resumos, com a finalidade de selecionar aqueles que atendiam aos objetivos do estudo, através do tema proposto, onde foram totalizados 40 artigos. A seguir realizou-se a leitura dos artigos selecionados na íntegra, com a seleção final de 18 artigos para o estudo de revisão. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A apresentação da revisão e a discussão dos dados foram realizados de maneira descritiva, sendo analisados 18 artigos que atenderam os critérios de inclusão. Tabela 1. Características dos estudos publicados entre 2003 e 2013 sobre o Transtorno Alimentar Anorexia Nervosa. Autores Participantes Idade Foco do estudo Método Resultados BORN et al. (2013) Adolescentes e mulheres jovens 10 e 20 anos Compreender suas possíveis causas, incidências, consequências orgânicas e emocionais para o portador desta patologia, como também o conhecimento dos tratamentos existentes. Revisão de literatura Tal patologia se mostra muito complexa, pois além de envolver questões alimentares “enraizadas” desde a infância, com déficit orgânico ligado a restrição calórica, é também deflagrada por crises emocionais, com fragilidades psíquicas e sociais, ou seja, insere o indivíduo em uma vertente biopsicossocial, o que fará consequentemente com que apresente um sistema emocional desordenado. CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 81 Autores Participantes Idade Foco do estudo Método Resultados RIBEIRO e OLIVEIRA (2011) Adolescentes e adultos jovens 13 e 17 anos Detalhar todas as situações que têm acontecido na busca desse corpo perfeito é o objetivo do artigo alertando profissionais que trabalham com adolescentes e adultos jovens para os riscos a que estão sujeitos. Artigo de atualização Orientar os jovens que viver é muito mais que ter, consumir e adquirir bens. Viver é buscar, entender e dimensionar aquilo que nos caracteriza como seres humanos. É preciso pensar... questionar... ter consciência crítica... refletir MARTINS et al. (2009) Imagens de meninas portadoras do distúrbio da anorexia 13 a 18 anos Conscientizar as jovens de que a anorexia é uma doença e é necessário buscar ajuda Bricolagem de imagens e textos editado com o programa Windows Movie Maker A Peça com o apelo de prevenção, alerta e conscientização busca encontrar eco nas jovens que sofrem esta doença, assim a Propaganda cumpre sua função social que é o engajamento na luta e, ao mesmo tempo, divide com a Ong GATDA a responsabilidade de fazer diferente, de dizer que “estamos juntos”. CAVALCANTE (2009) Adolescentes sexo feminino 14 e 18 anos Compreender a dinâmica de famílias que possui um membro adolescente, portador de anorexia nervosa Pesquisa qualitativa Os dados do nosso estudo confirmaram que a visão de que a anorexia apresentada por um membro da família está relacionada com todos os outros, e a forma como se relacionam no contexto familiar SANTOS E ALMEIDA (2008) Adolescentes sexo feminino 15 a 18 anos Esclarecer a etiologia, diagnóstico e tratamento da Anorexia Nervosa. Revisão bibliográfica Foi possível observar que a fisiopatologia da doença permanece obscura e que, por consequência, sua terapêutica ainda é limitada, e deve ser centrada em uma abordagem holística para possibilitar seu sucesso. SCHMIDT e DA MATA (2008) Sexo feminino 14 e 17 anos Discute-se a anorexia como uma apresentação da estrutura histérica Uma revisão de alguns pontos de vista em relação à anorexia nervosa Para Freud, a anorexia nervosa seria um quadro pela qual a histérica exprime sua aversão a sexualidade CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 82 Autores Participantes Idade Foco do estudo Método Resultados CAÑETE et al. (2008) Adolescente sexo feminino Descrever um caso de A.N. tratado em grupo psicoterápico, heterogêneo, de adolescentes, sem focar no comportamento anoréxico Grupo heterogêneo O método terapêutico empregado, em grupo heterogêneo, sem focar no comportamento anoréxico, mostrou-se eficaz tanto na aderência ao tratamento quanto na evolução do caso ALVES et al. (2008) Adolescentes sexo feminino 10 a 19 anos Identificar a prevalência de sintomas de anorexia nervosa e de insatisfação com a imagem corporal em adolescentes (sexo feminino) de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Estudo realizado no município de Florianópolis, envolvendo adolescentes do sexo feminino Pode-se concluir que as adolescentes em Florianópolis apresentam índices de EAT+ semelhantes àqueles observados em outras regiões brasileiras. JORGE E VITALLE (2008) Adolescente e adulto jovem do sexo feminino 13 e 14 anos 17 e 18 anos Esse trabalho teve como objetivo fazer uma revisão para verificar o estado da arte da Anorexia nervosa Revisão bibliográfica Anorexia nervosa é doença complexa, que impõe grandes desafios a cada estágio do tratamento, sua avaliação deve abranger os aspectos Psicopatológicos específicos e gerais, além do distúrbio da imagem corporal DUNKER e PHILIPPI (2003) 279 adolescentes do sexo feminino 15 a 18 anos Identificar adolescentes do sexo feminino com sintomas de AN em uma instituição de ensino particular,descrevendo seus hábitos e comportamentos alimentares Pesquisa feita a partir de um questionário validado por Garner et al. (1982) em anoréxicas Das 279 alunas estudadas, 21,1% apresentaram sintomas de anorexia nervosa De todos os artigos analisados, 09 deles apontam que as maiores taxas de incidência da AN geralmente ocorreram na adolescência na faixa etária entre os 10 e 19 anos de idade. Podendo manifestar-se, prematuramente (em meninas menores de 10 anos de idade), como tardiamente (após os 23 anos). (Born et al.,2013; Martins et al., 2009; Ribeiro e Oliveira, 2011; Cavalcante, 2009; Santos e Almeida, 2008; Schmidt e Da Mata, 2008; Alves et al., 2008; Jorge e Vitalle, 2008; Dunker e Philippi, 2003). CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 83 A adolescência, é uma fase de várias transformações que ocorre entre os 10 e 20 anos de idade, segundo Born et al. (2013) a AN acontece com maior destaque nesta fase, por ocorrerem alterações marcantes na fisiologia e bioquímica, com um acúmulo acentuado de gordura, principalmente nas mulheres. Em razão a uma má aceitação das alterações corporais, especialmente do peso, e, relacionados a fatores psicológicos individuais e familiares e ao forte apelo sociocultural da devoção à magreza, acaba por propiciar à AN. Martins et al. (2009) afirmam que a AN é uma doença identificada por uma perda alternativa de peso e se apresenta em meninas ao longo dos primeiros anos de sua adolescência entre 13 e 18 anos de idade. Outros autores corroboram com o início da AN, como Ribeiro e Oliveira, (2011), Cavalcante (2009), Santos e Almeida (2008), Schmidt e Da Mata (2008), Alves et al. (2008), Jorge e Vitalle (2008), Dunker e Philippi (2003). Dentre os 18 artigos selecionados, 10 deles abordam que entre 80 e 90% dos indivíduos atingidos pela AN são do sexo feminino, a insatisfação corporal é a principal variável que representa riscos para o desenvolvimento do comportamento alimentar inadequado entre jovens do sexo feminino. (Born et al., 2013; Ribeiro e Oliveira, 2011; Martins et al., 2009; Cavalcante, 2009; Santos e Almeida, 2008; Cañete et al., 2008; Alves et al., 2008; Schmidt e Da Mata, 2008; Jorge e Vitalle, 2008; Durker e Philippi, 2003). A incidência da AN segundo Born et al., (2013) têm intensificado cerca de 300% nas últimas décadas, principalmente entre adolescentes do sexo feminino dos países ocidentais. Esse aumento da incidência condiz com o destaque na magreza feminina e com uma expressão de atração sexual. A incidência média anual do transtorno alimentar AN na população em geral é de 18,5 por 100.000 entre as mulheres e 2,25 por 100.000 entre os homens (BORN et al., 2013, p. 04). Atualmente, o culto ao corpo tornou-se, cada vez mais frequente na adolescência e na juventude, estabelecendo uma verdadeira obsessão especialmente em adolescentes e adultos jovens, sendo nove vezes mais comum em meninas (RIBEIRO E OLIVEIRA, 2011). Martins et al (2009) enfatiza que AN é uma patologia caracterizada por uma perda voluntária de peso e se apresenta em meninas durante os primeiros anos de sua adolescência, segundo a Diretora e Psicóloga do GATDA, Valéria Lemos Palazzo, esta patologia é movida por um desejo de emagrecer aliada a um medo intenso de engordar. A perda de peso acontece pela diminuição da alimentação, a prática de atividades físicas excessivas, uso de redutores de apetite, laxantes e/ou diuréticos e a auto-indução do vômito. Dentre os 18 artigos citados 04 deles descrevem sobre as consequências orgânicas e emocionais da AN. A patologia caracteriza-se por seria restrição alimentar auto-imposta com CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 84 consequências orgânicas e emocionais graves e altas taxas de mortalidade devidos principalmente a suicídios e ocorrências cardiovasculares. As consequências orgânicas compreendem variados sintomas, são atribuídos ao estado de extremo enfraquecimento, conhecido por inanição. Além da amenorreia (ausência de menstruação), pode haver queixas de constipação, dor abdominal, intolerância ao frio, hipotensão, hipotermia, sonolência, pele seca e amarelada, entre outros. As consequências emocionais mais frequentes na AN são: Mudanças bruscas de humor; baixa auto-estima; tristeza, insônia; sentimento de culpa após se alimentar; medo intenso de ganhar peso ou tornar-se gorda, isolamento social e/ou familiar; distorção da imagem corporal, entre outros. (Bonr et al., 2013; Martins et al., 2009; Cavalcante, 2009; Cañete et al., 2008). Os TA são constantemente considerados quadros clínicos vinculados à modernidade, segundo Bonr et al, (2013) suas complicações orgânicas compreendem variados órgãos e sistemas, que por sua vez respondem de maneira especifica ao grau de desnutrição alcançado, corpo esquelético, cabelos caindo, debilidade. A representação mental que a pessoa exerce sobre o seu corpo é contraditório à sua realidade carnal, a anoréxica descreve o seu corpo sempre gordo. Essa auto-imagem desarticulada da realidade da carne, em excesso é a sentença instigante dessa patologia. Como descrição das consequências emocionais mais frequentes na AN estão: Desenvolvimento insatisfatório da identidade, baixa autoestima, frustação, propensão a buscar aceitação externa, extrema sensibilidade a críticas, e, por fim, conflitos relacionados as questões autonomia versus dependência. Martins et al (2009), Cavalcante (2009) e Cañete et al. (2008) destacam que todos os exageros praticados pelas anoréxicas apresentam consequências orgânicas e emocionais graves e alto índice de mortalidade, relacionadas especificamente a suicídio e acidentes cardiovasculares. Entre todos os artigos pesquisados, 02 deles falam sobre a ocorrência de trabalhos sobre prevenção de anorexia nervosa. (Martins et al.,2009; Dunker e Philippi, 2003). A temática anorexia segundo Martins et al., (2009) ainda não é tão discutida como deveria, salvo quando ocorrem as chamadas sensacionalistas “modelo morre de anorexia”, o que torna o assunto mais notório, entretanto esquecido com o tempo. Diante disso, tornam-se fundamentais as campanhas de conscientização por meio de mídias impressas e eletrônicas presentes em lugares públicos com maior incidência de adolescentes, como escolas, shoppings, academias, ambientes virtuais, além de orientar os pais desses jovens adolescentes, os quais poderão perceber os primeiros indícios de transtornos alimentares e onde buscar ajuda de especialistas. CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 85 Segundo Dunker e Philippi (2003) conhecer o tipo da alimentação de adolescentes é fundamental para apontar comportamentos e práticas habituais indicativos de uma das principais manifestações da AN, que é a limitação alimentar. Pode-se também intervir com normas de prevenção em escolas, por meio de educação nutricional, causando alterações nos princípios e associações inadequados entre alimentos e peso. De acordo com o mesmo autor poderiam ser ainda apresentadas medidas como efetivar políticas na área de educação e saúde, objetivando prevenir o surgimento da patologia, por intermédio de trabalhos políticosveiculadas pela mídia, integrar no planejamento o conteúdo programático em nutrição, alimentação e critérios de peso e o exercício físico a partir da pré-escola, envolver e sensibilizar as empresas alimentícias para divulgarem comunicados de alimentação adequada nos rótulos dos alimentos, envolver os familiares dos adolescentes, incentivando-os com reuniões e debates nas escolas acerca da importância das práticas e comportamentos alimentares (DUNKER E PHILIPPI, 2003). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: As adolescentes do sexo feminino são as principais acometidas pelo transtorno alimentar anorexia nervosa, eventualmente pelo fato da adolescência ser uma fase em que o indivíduo está desenvolvendo a sua maturidade. Diante do exposto, pode-se justificar a alta prevalência da sintomatologia anoréxica e da distorção da imagem corporal em adolescentes do sexo feminino na faixa etária entre 10 e 19 anos, podendo manifestar-se, prematuramente (em meninas menores de 10 anos de idade), como tardiamente (após os 23 anos). A mortalidade de pacientes com AN gira em torno de 15%, visto que hoje os meios de comunicação e a mídia vinculam o magro como o ideal. Os exageros praticados pelas anoréxicas tem consequências orgânicas e emocionais graves, podendo ser irreversíveis e fatais. Este estudo apresenta a importância das campanhas de conscientização por meio de mídias impressas e eletrônicas presentes em lugares públicos com maior incidência de adolescentes, como escolas, shoppings, academias, ambientes virtuais, também na área da saúde, além de orientar os pais desses jovens adolescentes, objetivando prevenir o surgimento da patologia. CROCETTA, GOMES ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NÃO SISTEMÁTICA Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 15, n. 1, 2017 | ISSN 1678-7706 86 REFERÊNCIAS ABREU, C. N., FILHO, C. R. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: a abordagem cognitivo- construtivista de psicoterapia. Psicologia: teoria e prática, 7(1), 153-165, 2005. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832004000400010 CIELO ALVES, E; VASCONCELOS, F. A. G; CALVO, M.C. M.; NEVES, J. Prevalência de sintomas de anorexia nervosa e insatisfação com a imagem corporal em adolescentes do sexo feminino do Município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(3):503-512, mar, 2008. https://www.researchgate.net/profile/Francisco_Vasconcelos4/publication/5525687_Prevalen ce_of_symptoms_of_anorexia_nervosa_and_dissatisfaction_with_body_image_among_femal e_adolescents_in_Florianopolis_Santa_Catarina_State_Brazil/links/56f1463008aeb4e2ede8d0 ea.pdf. BORN, ARN; NOGAROLLI, A. L.; GAYER, R. S. 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