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SISTEMAS-AGRÁRIOS

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMAS AGRÁRIOS 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 
2 SISTEMAS ..................................................................................................................................... 4 
3 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS .......................................................... 5 
3.1 Sistema de cultivo ................................................................................................................ 5 
3.2 Sistema de produção ........................................................................................................... 6 
3.3 Sistema agrícola ................................................................................................................. 10 
3.4 Bioma ................................................................................................................................... 10 
4 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO ................................................................................. 11 
5 ABORDAGEM SISTÊMICA APLICADA AO ESTUDO DO RURAL ................................... 12 
6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS .............................................................. 14 
7 A TEORIA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ............................................................................... 16 
8 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA ........................................... 19 
9 ANÁLISE - DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) ...................................... 20 
10 PRINCIPAIS IMPACTOS PARA O MEIO AMBIENTE ..................................................... 24 
11 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA ...................................................................................... 26 
11.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS ................................................................... 29 
11.2 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS ................................... 36 
11.3 MUDANÇA NO CLIMA ...................................................................................................... 37 
12 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E DE CONHECIMENTOS NA AGRICULTURA . 44 
13 O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA ................................................................. 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
4 
 
2 SISTEMAS 
Para BERTALANFFY, “os sistemas estão em toda parte, e a aplicação de uma 
teoria geral de sistemas, fornece as bases para um entendimento interdependente de 
variáveis que, aparentemente, parecem estar desconectadas. No que concerne à 
sistemas sociais na agricultura”. (1973) 
Desta forma o sistema agrário contém elementos que refletem relações de 
dependência existentes entre as categorias sociais agrárias numa determinada 
sociedade rural, tais como: relações de concorrência e de complementaridade, sendo 
importante estabelecer a noção de sistema agrário permitindo a análise de suas 
atividades agrícolas na sociedade e de suas relações técnicas, econômicas e de 
diálogo dentro de um mesmo território. (Philereno, 2007) 
Os sistemas podem ser classificados como fechados ou abertos. 
Nos sistemas fechados, os elementos componentes mantêm relações entre si, 
mas não efetuam trocas com o meio exterior. Podemos citar como exemplo de sistema 
fechado uma pedra ou uma mesa que está em estado de equilíbrio onde não há troca 
de matéria nem de energia com o exterior, sendo esta nula. 
 Nos sistemas abertos, representados pelos organismos vivos e os 
socioculturais, as relações que se passam no seu interior mantêm trocas com o meio 
exterior em que se encontram inseridos, as quais, por sua vez, influenciam o 
comportamento dos elementos componentes dos sistemas, que por seu turno, 
repercutem no ambiente externo. (Porto, 2003) 
Sendo os sistemas abertos, eles importam do ambiente os recursos 
necessários para se manterem no ambiente que está em constante mudança. 
Bertalanffy aborda o assunto, esclarecendo que sistemas abertos são aqueles que 
possuem, continuamente, fluxos de entrada e de saída e que se conservam “mediante 
a construção e a decomposição de componentes”. O exemplo de sistema aberto 
citado pelo autor é o dos organismos vivos que, por sua própria natureza e definição, 
são essencialmente sistemas abertos, uma vez que estão em constante interação com 
o ambiente, mediante a troca de energia, de matéria e de informação. (CAMPOS, 
2011) 
Alguns autores também classificam um terceiro grupo de sistema como sistema 
isolado. Abaixo teremos uma tabela com opiniões de alguns autores sobre o conceito 
de sistemas abertos, fechados e isolados. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
5 
 
 
 
Fonte: intercom.org.br 
3 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS 
Em um esquema hierárquico de composição, o conjunto de sistemas 
representa o supersistema, enquanto os subsistemas dizem respeito às partes 
integradas que formam os sistemas. Os supersistemas estão inseridos dentro de um 
hipersistema. (HIRAKURI, et al. 2012) 
Com uma tipologia baseada em escala geográfica, padronizou-se as seguintes 
definições de sistemas no cenário agropecuário: 
 Sistema de cultivo, que indica o subsistema; 
 Sistema de produção, que representa o sistema propriamente 
dito; 
 Sistema agrícola, que diz respeito ao supersistema; 
 Bioma, referente ao hipersistema. 
3.1 Sistema de cultivo 
O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a 
uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação 
lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção 
animal, esse processo é chamado de sistema de criação. (HIRAKURI, et al. 2012) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
6 
 
A imagem abaixo exemplifica etapas que geralmente compõe um sistema 
de cultivo de soja, complementadas pelas atividades de planejamento e de pós-
colheita. 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
Observação: Na imagem os blocos em azul representam etapas de um sistema de 
cultivo de soja e os blocos em laranja representam atividades complementares. 
3.2 Sistema de produção 
O sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo e/ou 
de criação no âmbito de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de 
produção (terra, capital e mão-de-obra) e interligados por um processo de gestão. 
(HIRAKURI, et al. 2012) 
Os sistemas de produção foram classificados pela complexidade e pelo grau 
de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação, que formam tais sistemas 
de produção. Em relação a sua complexidade, os sistemasde produção podem ser 
classificados como: 
a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em uma 
determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma isolada em um 
período específico, que normalmente é categorizado por um ano agrícola. 
b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição sazonal 
de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço produtivo, por 
vários anos. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
7 
 
c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordenada, 
cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um espaço 
produtivo específico. 
d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo: 
e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação de 
diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta) são 
integrados entre si, em uma mesma gleba, com o intuito de maximizar o uso da 
área e dos meios de produção, e ainda diversificar a renda. Nesse contexto, 
destacam-se quatro possíveis tipos de sistemas integrados: 
• Lavoura-pecuária (Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária). Nesses 
exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para pastejo, e 
sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada no sistema plantio 
direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza como integração e sim 
como consórcio; 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• lavoura-floresta (Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto); 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
8 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• pecuária-floresta (Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de eucalipto) 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• lavoura-pecuária-floresta (Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com entrada 
de bovinos em área de eucalipto). 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
9 
 
 
Fonte: nisseymaquinas.com.br 
Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação 
(subsistemas) que formam um determinado sistema de produção, este pode 
didaticamente ser classificado em: (HIRAKURI, et al. 2012) 
 
Ausência de interação: ocorre quando os diferentes sistemas de cultivo e/ou 
de criação são conduzidos de forma isolada, não havendo nenhum tipo de interação 
espacial (sucessão, rotação, consorciação ou integração) entre os mesmos, ou de 
aporte de resíduos ou produtos gerados entre os sistemas de cultivo ou de criação. 
Por exemplo, na primavera/verão o produtor pode cultivar soja em determinada área 
e milho em outra, sem haver qualquer interação entre as culturas. Em outra situação, 
pode haver produção animal em uma área e de grãos em outra, sem que haja o 
fornecimento de grãos, partes vegetativas ou de restos da lavoura para a alimentação 
animal, ou de resíduos gerados na produção animal, como o esterco e água de 
lavagem, para a fertilização da lavoura. 
 
Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em diferentes 
áreas físicas: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de cultivo ou destes 
com os sistemas de criação, que estejam localizados em diferentes áreas do 
estabelecimento rural. Em relação aos resíduos da produção animal, o esterco 
produzido em uma área pode ser utilizado como fertilizante em outra gleba da 
propriedade, ocupada por lavoura ou por pastagem. Por sua vez, os produtos/resíduos 
da produção vegetal de uma gleba podem ser utilizados para a alimentação animal 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
10 
 
(Ex.: milho produzido para silagem; grãos fora das especificações e restos de 
processamentos da produção agrícola utilizados para a pecuária de corte e/ou 
leiteira). 
 
Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em um mesmo 
espaço físico: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de cultivo ou destes 
com os sistemas de criação, que estejam localizados na mesma gleba ou talhão da 
propriedade, ou seja, é proveniente de sistemas de sucessão, rotação, consorciação 
ou integração. Nesse tipo de interação, uma espécie é influenciada direta ou 
indiretamente por outra espécie. Exemplos: 
1) o nitrogênio oriundo da fixação biológica pelo cultivo anterior de uma espécie 
leguminosa, liberado no solo pela decomposição dos seus resíduos, e absorvido por 
outra cultura implantada na sequência; 
2) a redução da incidência de mofo-branco na cultura do feijão cultivado em 
sucessão ou rotação com a braquiária; 
3) a redução da população de nematoides no solo em sistema de rotação ou 
sucessão da soja com espécies do gênero Crotalaria. 
3.3 Sistema agrícola 
O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos sistemas de 
produção vegetal e/ou animal, que considera as peculiaridades e similaridades desses 
diferentes sistemas. Essa organização deve permitir a construção de modelos e 
arranjos produtivos que descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de 
produção predominantes na região. (HIRAKURI, et al. 2012) 
3.4 Bioma 
O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão inseridos. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
11 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
É importante salientar que o bioma não representa um conjunto de sistemas 
agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído 
pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, 
com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que 
resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). Ressalta- -se que as 
características geoclimáticas de cada bioma influenciam significativamente na 
conformação dos sistemas agrícolas, podendo limitar determinados sistemas de 
cultivo ou de criação. 
4 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO 
Um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio 
historicamente constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico 
adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às 
condições e às necessidades sociais do momento. Um modo de exploração do meio 
que é o produto específico do trabalho agrícola, utilizando uma combinação 
apropriada de meios de produção inertes e 20 meios vivos para explorar e reproduzir 
um meio cultivado, resultante das transformações sucessivas sofridas historicamente 
pelo meio natural. Poderíamos, então, definir um sistema agrário como uma 
combinação das seguintes variáveis essenciais: (MAZOYER, 1987) 
• o meio cultivado – o meio original e as suas transformações históricas -; 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
12 
 
• os instrumentos de produção – as ferramentas, as máquinas, os materiais 
biológicos (as plantas cultivadas, os animais domésticos, etc.) - e a força de trabalho 
social (física e intelectual) que os utiliza; 
• o modo de “artificialização” do meio que disso resulta (a reprodução e a 
exploração do ecossistema cultivado); 
• a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a indústria que 
permite a reprodução dos instrumentos de trabalho e, por conseguinte; 
 • os excedentes agrícolas, que, além das necessidades dos produtores, 
permitem satisfazer as necessidades dos outros grupos sociais; 
 • as relações de troca entre os ramos associados, as relações de propriedade 
e as relações de força que regulam a repartição dos produtos do trabalho, dos bens 
de produção e dos bens de consumo e as relações de troca entre os sistemas 
(concorrência); 
• o conjunto das ideias e das instituições que permite assumir a reprodução 
social: produção, relações de produção e de troca, repartição do produto, etc. 
 É graças a esse conceito que podemos apreender e caracterizar as mudanças 
de estado de uma agricultura e as mudanças qualitativas das variáveis e de suas 
relações e desenvolver uma teoria que permite distinguir, ordenar e compreender os 
grandes momentos da evolução histórica e a diferenciação geográfica dos sistemasagrários. 
5 ABORDAGEM SISTÊMICA APLICADA AO ESTUDO DO RURAL 
Com a abordagem sistêmica surge outras experiências, mais ou menos 
extensas, completas e seguras, que contrariam o modelo dominante e que dão 
prioridade à economia agrícola, às culturas para alimentação, à reprodução da 
fertilidade, ao emprego e ao aperfeiçoamento dos meios e do saber locais, à iniciativa 
e à produção agrícola. (FERREIRA, 2001) 
Esta abordagem não exclui forçosamente a produção comercial e o recurso às 
tecnologias externas, inverte, entretanto, prioridades e conduz a modelos de 
desenvolvi mento agrícola autocentrados, reprodutíveis, pouco dependentes, muito 
diversificados, extremamente adaptados e de grande valor biológico agregado. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
13 
 
O desenvolvimento agrícola deve buscar a reconquista da autonomia de uma 
agricultura de subsistência e a restauração das condições ecológicas e sociais de 
produção, ao contrário de priorizar os meios novos concebidos em outra realidade e 
que estão fora do alcance da economia agrícola. Além disso, deve promover os meios 
biológicos, materiais e os saberes locais. Isso exige um procedimento de pesquisa, 
voltado para o estudo contínuo dos sistemas agrícolas e sociais e para os seus 
próprios meios e recursos. Esta concepção de pesquisa a serviço de um 
desenvolvimento agrícola supõe uma nova organização da pesquisa científica e 
técnica que não despreze as práticas agrícolas, os implementos e as riquezas 
biológicas herdadas das tradições agrícolas de cada região. Esta nova pesquisa 
deverá inventariar essa herança das tradições agrícolas e contribuir para sua melhoria 
contínua, de acordo com as necessidades e as condições locais (FERREIRA, 2001). 
A nova abordagem sistêmica deverá reconhecer e estudar os diversos sistemas 
agrários colocados em prática pelos agricultores, por mais tradicionais ou degradados 
que possam parecer. Descobrir as razões de ser, dos sistemas agrários, as suas 
racionalidades, seus pontos de ruptura; as causas de sua degradação, as 
possibilidades, as condições e os meios particulares de restaurá-los e de desenvolvê-
los. Para explicar a riqueza da concepção sistêmica, ao mesmo tempo antiga e nova, 
para estabelecer comparações com sentido lógico e delas retirar ensinamentos, é 
necessário construir um conceito, elaborar uma teoria dos sistemas agrários capaz de 
explicitar a natureza e as razões de suas transformações e variação no tempo e no 
espaço. Uma teoria que considere esses sistemas como agroecossistemas cultivados, 
socialmente reproduzidos, e cujas condições de reprodução e exploração devam-se 
saber estudar e manter (FERREIRA, 2001). 
GODELIER, citado por FERREIRA (2001), afirma que, ao estudar um sistema 
agrário, o pesquisador enfrenta uma dupla tarefa, em primeiro plano, a tarefa de 
colocar em evidência o tempo de evolução desse sistema e, em segundo, como foram 
formados e como evoluíram os elementos que o constituem. Em resumo, essas duas 
dimensões em combinação tratam da analisa-los em sua dinâmica. O resgate da 
história de vida dos agentes envolvidos, pode se constituir numa variável importante 
do funcionamento do sistema, porque, através dela, podem aparecer as bases de 
suas mudanças. Essas transformações são graduais, e pode-se observar que os 
sistemas antigos continuam coexistindo com os novos; caracterizando as diferenças, 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
14 
 
descrevendo os processos, pesquisando as relações entre elementos e evidenciando 
a representatividade das continuidades, é possível estabelecer as diferenciações 
entre os sistemas e compreender as razões que permita compará-los. 
 A partir de uma concepção da abordagem sistêmica, a agricultura é entendida 
com um processo de artificialização do ecossistema realizado pelo trabalho do 13 
homem através das espécies domesticadas e selecionada, de ferramentas e de 
técnicas agrícola para obter uma produção agropecuária necessária principalmente à 
subsistência humana. Portanto, a agricultura como processo é uma combinação 
finalizada dos seguintes elementos: o material biológico, o contexto econômico e o 
meio ambiente, as técnicas e práticas, e as ferramentas de trabalho, todos esses 
elementos situados em relação às escalas de tempo e espaço. Assim, pode-se dizer 
que o processo de produção agrícola envolve três principais tipos de elementos: 
humano, edáfico e o biológico, os quais apresentam níveis de integração distintos, 
indo do mais simples, as operações técnicas, aos mais complexos, o sistema 
agroalimentar mundial (FERREIRA, 2001). 
6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS 
O diagnóstico deve dar conta da complexidade e da diversidade que, em geral, 
caracterizam a atividade agrícola e o meio rural. Um primeiro fator de complexidade 
advém dos ecossistemas, que representam potenciais ou impõem limites às 
atividades agrícolas. O modo de utilização do espaço que essas sociedades adotam 
representa um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor 
maneira possível o seu potencial ou minimizar os obstáculos. Essas formas de uso do 
espaço evoluem ao longo da história em virtude de fatos que se relacionam entre si, 
sejam eles ecológicos (mudanças climáticas, desmatamento, depauperação do solo, 
etc.), técnicos (surgimento de novas tecnologias ou variedades, introdução de novas 
culturas) ou econômicos (variação de preços, mudanças nas políticas agrícolas, 
desenvolvimento ou declínio de agroindústrias, surgimento de oportunidades 
comerciais, etc.). Nesse sentido, os ecossistemas cultivados são fruto da história, da 
ação - passada e presente - e das sociedades agrárias que os ocuparam. (FERREIRA, 
2001) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
15 
 
 A complexidade reside também no fato de que essas sociedades são 
diferenciadas, isto é, são compostas de categorias, de camadas e de classes sociais 
que mantêm relações entre si (agricultores familiares, fazendeiros, empresas 
capitalistas, assalariados e diaristas, arrendatários e parceiros, atravessadores, 
agroindústrias, bancos, fornecedores de insumos, comércio local, poder público, 
organizações da sociedade civil, etc.). A ação de cada um depende da ação ou da 
reação dos outros, bem como do seu entorno ambiental, social e econômico. 
 Na agricultura, isso resulta na existência de distintos tipos de produtores, que 
se diferenciam tanto pelas suas condições socioeconômicas e por seus critérios de 
decisão, quanto pelos seus sistemas de produção e pelas suas práticas agrícolas. 
Essa diversidade existe mesmo quando se considera apenas a agricultura familiar ou 
um grupo de assentados, pois nem todos apresentam o mesmo nível de capitalização, 
a mesma forma de acesso à terra, aos recursos naturais, aos financiamentos e aos 
serviços públicos e tampouco o mesmo modo de se organizar e de se relacionar com 
os outros agentes sociais, etc. (FERREIRA, 2001) 
Ainda que se considere cada cultura ou cada criação isoladamente, a atividade 
agrícola é complexa, pois combina os diferentes recursos disponíveis (terra e outros 
recursos naturais, insumos, equipamentos e instalações, recursos financeiros e mão-
de-obra) com um conjunto de atividades distintas (preparo do solo, plantio, fertilização, 
controle de pragas, colheita, comercialização, etc.). Nessa combinação, existe um 
grande número de fatores que determinam as práticas agrícolas: a qualidade dos 
solos, o clima, as épocas de liberação dos financiamentos, as flutuações de preços, 
etc. Nesse sentido, até mesmo os estabelecimentos especializados em monocultura 
constituem um sistema de produção complexo. 
A evolução de cada tipo de produtor e de cada sistema de produção é 
determinada por um conjunto complexo de fatores ecológicos, técnicos, sociais e 
econômicos que se relacionam entre si. As necessidades da sociedade podem impor 
mudanças a cada um desses fatores. (SILVA et al. 2011) 
Podeser necessário, por exemplo, aumentar a produção ou a produtividade de 
algumas atividades agropecuárias ou limitar os gastos governamentais ou, ainda, 
diminuir a emissão de poluentes. Essas mesmas necessidades podem induzir 
alterações nos preços dos produtos (tanto agrícolas quanto industriais), acarretando 
consequências diferentes para cada tipo de sistema de produção e de produtor. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
16 
 
A permanência ou o desaparecimento de um determinado tipo de produtor 
depende da sua capacidade de se adaptar às mudanças, ou seja, em última instância, 
de seus resultados econômicos. São essa complexidade, essa história e essa 
diferenciação que cabe entender. (SILVA et al. 2011) 
7 A TEORIA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS 
A teoria dos sistemas agrários foi desenvolvida na França, no Instituto Nacional 
de Agronomia Paris/Grignon, com o objetivo de criar um corpo de conhecimentos 
capaz de se constituir numa base conceitual teórica e metodológica a quem quer que 
tenha por objetivo intervir no desenvolvimento social, agrário e agrícola (Apud 
PRESTES, 2016). 
A utilização do enfoque sistêmico permite explicar os mecanismos internos que 
orientam e condicionam uma realidade agrária e que, muitas vezes, dependem não 
somente das propriedades de seus elementos constitutivos, mas, sobretudo, de suas 
inter-relações. (Apud PRESTES, 2016) 
A agricultura se apresenta como um conjunto de formas locais, variáveis no 
espaço e no tempo, tão diversas quanto as próprias observações. Definição 
complementada ainda por Mazoyer e Miguel (2009), a agricultura, em seu sentido 
amplo, é uma atividade social de produção de bens obtidos pela exploração da 
fertilidade útil de um meio que contém geralmente populações de espécies 
domesticadas ou não, sendo um objeto observável, entrevistável, complexo, variável, 
de um local a outro, de uma época a outra, composta de múltiplas formas no presente 
e no passado e um objeto relativamente impossível de empreender e descrever em 
sua totalidade. (Apud PRESTES, 2016) 
As formas de agricultura observáveis aparecem assim, como objetos muito 
complexos, que podemos, todavia, analisar e conceber em termos de sistema, sendo 
que os processos de diferenciação técnica e econômica entre as unidades de 
produção agropecuária constituem-se em uma das principais características da 
agricultura, o que lhe confere uma alta complexidade. (Apud PRESTES, 2016) 
Garcia Filho (1999) também expõe que um primeiro fator de complexidade dos 
sistemas agrários advém dos ecossistemas, que representam potenciais ou impõem 
limites às atividades agrícolas (solo, clima, tecnologias, preços agrícolas). Conforme 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
17 
 
o mesmo autor, a complexidade reside também no fato de que essas sociedades são 
diferenciadas, isto é, são compostas de categorias, de camadas e de classes sociais 
que mantêm relações entre si, sendo que a evolução de cada tipo de produtor e de 
cada sistema de produção é determinada por um conjunto complexo de fatores 
ecológicos, técnicos, sociais e econômicos que se relacionam entre si. (Apud 
PRESTES, 2016) 
É indispensável, portanto, estudar as realidades agrárias de um modo sistêmico 
e dinâmico, dando especial atenção às interações locais, procurando elucidar suas 
origens e efeitos, para alcançar um acúmulo suficientemente aprofundado de 
conhecimentos sobre as trajetórias de desenvolvimento rural. 
 A teoria dos sistemas agrários disponibiliza os elementos teóricos capazes de 
apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes 
linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica das diferentes 
formas de agricultura implementadas pela humanidade (Apud PRESTES, 2016) 
A compreensão de um sistema agrário oriundo das ciências geográficas é 
descrita por Deffontaines et. al. (2000 apud MIGUEL, 2009) como sendo um objeto de 
análise e observação que é o produto das relações, em um momento e em um 
território, de uma sociedade rural com seu meio. (Apud PRESTES, 2016) 
 Para Maigrot e Poux (1991, apud MIGUEL, 2009), o conceito de sistema 
agrário é o mais apto a restituir a região no seu conjunto e a sua dinâmica, além de 
ser um conceito onde se encontram as ciências necessárias para a concepção de 
projetos de desenvolvimento: econômico, socioeconômico, geografia, história e 
agronomia. (Apud PRESTES, 2016) 
 Já para Mazoyer (1986, apud Miguel, 2009) um sistema agrário é um modo de 
exploração do meio historicamente constituído e durável, um conjunto de forças de 
produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço definido e que responde 
às condições e às necessidades sociais do momento. (Apud PRESTES, 2016) 
Silva Neto e Basso (2005) também contribuem argumentando que o sistema 
agrário corresponde a um conjunto de conhecimentos metodicamente elaborados 
como resultado da observação, delimitação e análise de uma agricultura particular, 
portanto, um sistema agrário não é um objeto real diretamente observável, mas um 
objeto cientificamente elaborado. (Apud PRESTES, 2016) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
18 
 
O estudo dos sistemas agrários encontra-se baseado, principalmente, em 
observações diretas (da região e da agricultura), apoia-se também em observações 
relatadas por outros, através de questionários abertos, sem, contudo, prescindir dos 
conhecimentos históricos, geográficos, agronômicos, econômicos e antropológicos. 
Analisar e conceber um objeto complexo em termos de sistema, é, num 
primeiro momento, delimitá-lo, ou seja, traçar uma fronteira, virtual, entre esse objeto 
e o resto do mundo, e é considerá-lo como um todo, composto de subsistemas 
hierarquizados e interdependentes. (Apud PRESTES, 2016) 
Neste sentido, considera-se que os elementos estariam agrupados em dois 
subsistemas definidos como sendo o agroecossistema e o sistema social produtivo. 
Segundo Silva Neto e Basso (2005) o agroecossistema ou ecossistema 
cultivado corresponde à forma como se organizam os constituintes físicos, químicos 
e biológicos de um sistema agrário. Na mesma linha, Mazoyer e Roudart (2001) 
explicam que o ecossistema cultivado possui uma organização, composta por vários 
subsistemas complementares e proporcionais, como, por exemplo, as terras 
cultiváveis, os campos de colheita, as pastagens e as florestas, sendo que cada um 
desses subsistemas é organizado, cuidado e explorado de uma maneira particular 
contribuindo para a satisfação das necessidades dos animais domésticos e dos 
homens. (Apud PRESTES, 2016) 
Sobre o sistema social produtivo, Silva Neto e Basso (2005) argumentam que 
o mesmo corresponde aos aspectos técnicos, econômicos e sociais de um sistema 
agrário, constituindo-se de um conjunto de unidades de produção, caracterizadas pela 
categoria social dos agricultores e pelos sistemas de produção por eles praticados. 
Mazoyer e Roudart (1997) ainda complementam expondo que a categoria social de 
uma exploração se define pelo estatuto social de sua mão-de-obra (familiar, 
assalariada, cooperativa, escrava, serviçal), pelo estatuto do agricultor e por seu modo 
de acesso à terra (livre acesso às terras comunais, reserva senhorial, posses servis, 
exploração direta, parceria, arrendamento...) e pela dimensão da propriedade. (Apud 
PRESTES, 2016) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
19 
 
8 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA 
Originado como uma transformação das primeiras formas de agricultura 
desenvolvidas pelo homem durante a Revolução Neolítica, os sistemas agrários de 
derrubada e queimada são tipicamente florestais. (SANTOS, 2007) 
Assim, por meio da derrubada e, após um período de secagem natural, a 
queima dos restos vegetais, os nutrientes acumulados na grande quantidade de 
biomassa, característica desses ecossistemas, são disponibilizados às culturas. 
Dessa forma a agricultura pode se estabelecer mesmo sobre solos 
relativamentepobres, desde que as culturas sejam precedidas por um período 
suficientemente longo para que a biomassa acumule os nutrientes necessários à 
sustentação de um próximo ciclo cultural. (SANTOS, 2007) 
Como as florestas se constituem de plantas com baixa capacidade de 
colonização, a ocorrência de plantas invasoras nos primeiros 8 anos de cultura é muito 
baixa. Tal característica, aliada à grande eficiência da queimada na eliminação da 
vegetação espontânea, torna os sistemas agrários de derrubada e queimada pouco 
exigentes em trabalho. (SANTOS, 2007) 
 Além disso, estes sistemas agrários podem ser praticados com um mínimo de 
meios de produção, cuja fabricação pode ser realizada até sem o conhecimento da 
metalurgia. 
Em suma, os sistemas agrários de derrubada e queimada constituem-se em 
formas de agricultura com produtividades do trabalho relativamente elevadas, pouco 
exigentes em técnicas para a confecção de ferramentas, que podem ser realizadas 
com um mínimo de meios de produção e bastante eficientes na mobilização da 
fertilidade natural dos ecossistemas florestais, o que os torna altamente sustentáveis, 
sob condições sociais adequadas (como livre acesso à terra e densidades 
demográficas relativamente baixas). (SANTOS, 2007) 
Portanto, não é de se admirar que os sistemas agrários de derrubada e 
queimada estão entre as formas de agricultura que mais se disseminaram no mundo, 
sendo ainda hoje encontrados. 
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20 
 
9 ANÁLISE - DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) 
A “Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários” (ADSA) é um método de estudo 
da agricultura concebido para o estabelecimento de linhas estratégicas de 
desenvolvimento local relacionadas ao setor agropecuário. Tal método foi elaborado 
especificamente para ser aplicado em países do terceiro mundo, cujos complexos 
problemas agrícolas, normalmente associados a técnicas pouco usuais em relação 
aos padrões ocidentais e a grandes dificuldades de intervenção do poder público, 
tornam a elaboração de projetos de desenvolvimento uma tarefa extremamente difícil. 
(SILVA NETO, 2007) 
A propósito, embora a ADSA esteja fundamentada em uma sólida interpretação 
da evolução da agricultura, proposta por Mazoyer e Roudart (1997), sendo neste 
sentido também discutida por Dufumier (1996; 2004), sua aplicação, de um ponto de 
vista estritamente científico, é ainda sujeita a controvérsia, uma vez que seus 
procedimentos diferem substancialmente dos propostos pelos métodos usuais de 
pesquisa. 
 
Os princípios metodológicos da ADSA 
Uma das motivações para a elaboração dos procedimentos da ADSA foi a 
constatação das dificuldades provocadas por uma estratégia comum adotada em 
estudos que visam a apoiar ações de desenvolvimento. É que muitas vezes, a partir 
de uma definição por demais vaga e abrangente das variáveis pertinentes ao estudo 
procura-se, logo de início, obter o máximo de informações possíveis sobre a situação, 
o que em geral ocasiona grandes dificuldades no tratamento de dados e, quase 
sempre, leva à conclusão de que os dados mais pertinentes à pesquisa não foram 
obtidos .Segue-se assim uma nova rodada de coleta de dados, muitas vezes com 
recursos adicionais e com atrasos no cronograma da pesquisa, e com novas 
dificuldades de tratamento, a qual leva a novas coletas, etc. Dessa forma muitas 
pesquisas sobre situações concretas de desenvolvimento da agricultura, bastante 
promissoras, terminam sem apresentar resultados consistentes (SILVA NETO, 2007) 
Os procedimentos da ADSA procuram evitar este tipo de problemas por meio 
da aplicação de alguns princípios metodológicos, os quais, sinteticamente, são: 
 
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21 
 
– Efetuar as análises a partir dos fenômenos mais gerais para os particulares, 
por meio de uma abordagem sistêmica em vários níveis; 
– Analisar cada nível da realidade especificamente, efetuando uma síntese dos 
níveis de análise mais abrangentes, antes de passar a analisar os níveis mais 
específicos; 
– Priorizar a explicação em detrimento da descrição, privilegiando o enfoque 
histórico; 
– Estar atento à heterogeneidade da realidade, evitando interpretações por 
demais generalizantes que dificultam a elucidação de processos de diferenciação. 
Assim, os estudos baseados na ADSA são realizados a partir de uma rigorosa 
hierarquização das análises em função da sua abrangência, iniciando pelos seus 
níveis mais amplos. Segundo a ADSA, o estudo deve inicialmente se concentrar nos 
aspectos mais gerais da realidade a ser estudada e só passar a aspectos mais 
específicos após uma síntese que permita formular quais são as variáveis mais 
pertinentes a serem analisadas (ou questões mais importantes a serem respondidas), 
no nível imediatamente inferior. Tal síntese é efetuada pela organização e análise da 
coerência das informações obtidas, sendo retidas apenas aquelas consideradas 
imprescindíveis para explicar a realidade observada, e não para descrevê-la, no nível 
de abrangência em questão. 
O contraste entre, por um lado, um procedimento desenvolvido segundo o 
princípio de efetuar as análises “do geral para o particular”, como na ADSA e, por outro 
lado, os procedimentos normalmente adotados em outras pesquisas, pode ser 
ilustrado pela representação das configurações possíveis do desenvolvimento de uma 
região por meio de uma árvore de possibilidades. (SILVA NETO, 2007) 
Na Figura abaixo representa-se um exemplo hipotético de possibilidades de 
configuração do desenvolvimento de uma região. Apenas três níveis de análise estão 
representados, em que as características de um nível anterior são somadas às 
características descritas no nível posterior, de forma que a confirmação de uma 
característica da região (ou mais, pois nem sempre é possível elaborar opções 
excludentes) descreve uma “configuração” composta por esta característica e todas 
as demais descritas pelos níveis anteriores. 
 
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22 
 
 
Fonte: Silva Neto et al (2003) 
Já um procedimento baseado na ADSA consistiria em analisar cada nível, 
separada e progressivamente, procurando responder apenas àquelas questões que 
parecem ser as mais pertinentes (que são frequentemente as mais óbvias). No 
momento em que as principais questões relativas àquele nível foram respondidas de 
forma satisfatória realiza-se uma síntese que permita que a análise a ser efetuada no 
nível posterior se concentre em apenas alguns ramos da árvore de possibilidades. 
Assim, concentrando-se nas informações claramente mais pertinentes, mais no 
objetivo de descartar possibilidades do que de responder definitivamente às questões, 
pode-se progressivamente definir a configuração do desenvolvimento de uma região 
no nível de detalhe desejado de forma eficiente e rigorosa. (SILVA NETO, 2007) 
 
Os procedimentos da ADSA, AS PRINCIPAIS ETAPAS: 
 
Etapa 1 – Caracterização do Processo de Desenvolvimento da Agricultura da Região 
Esta etapa compreende o estudo das condições agroecológicas e 
socioeconômicas da região delimitada, consistindo: 
– Na análise geral da região, como localização, população total e rural, principais 
setores econômicos, principais atividades agropecuárias, Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH) ou Índice de Desenvolvimento Social Municipal (IDSM), nível médio de 
renda e grau de desigualdade social e econômica (por meio da estrutura fundiária e 
do índice de Gini da renda, se disponíveis); 
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23 
 
 
– Na definição de zonas homogêneas do ponto de vista das condições para as 
atividades agropecuárias (clima, solo, infraestrutura, etc.); 
– Na análise da trajetória de evolução e diferenciação interna do setor agropecuário 
da região; 
Etapa 2 – Tipologia dos Sistemas de Produção Agropecuária 
Nesta etapa as unidades de produção agropecuária da região são agrupadas 
em tipos, decorrentes da análise dosprocessos de diferenciação identificados na 
etapa anterior. Assim, vale lembrar que uma tipologia é uma resposta a um 
questionamento que se coloca ao nível do conjunto das unidades de produção de uma 
região, a partir da análise da sua história. No caso da ADSA, a tipologia visa a agrupar 
as unidades de produção em função das diferentes formas de organização da 
produção (sistemas de produção) adotadas pelos agricultores para assegurar a sua 
reprodução social ao longo do tempo. 
Nesta etapa também são realizadas a caracterização técnica e a avaliação 
econômica dos sistemas de produção, visando a esclarecer a capacidade de 
reprodução social de cada tipo. 
Etapa 3 – Definição de Linhas Estratégicas de Desenvolvimento 
Inicialmente procura-se avaliar as possibilidades de melhorar as condições 
para a reprodução econômica das explorações em função do tipo de sistema de 
produção adotado. Após, a partir da caracterização técnica e das avaliações 
econômicas da etapa anterior, é possível identificar atividades ou técnicas que 
possam contribuir para um aumento da produtividade e da renda dos agricultores, 
respeitando-se os estrangulamentos anteriormente detectados em cada tipo de 
sistema de produção analisado. Com base nestes resultados são definidas 
alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para o 
desenvolvimento dos diferentes tipos de unidades de produção, bem como estratégias 
de intervenção no processo de desenvolvimento local. É interessante salientar que 
tais alternativas devem ser avaliadas tanto do ponto de vista financeiro no âmbito das 
unidades de produção (por meio de fluxos financeiros baseados no potencial de renda 
gerada pelas atividades) quanto do ponto de vista do interesse econômico geral da 
sociedade (por meio da análise do potencial de agregação de valor das atividades). 
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24 
 
10 PRINCIPAIS IMPACTOS PARA O MEIO AMBIENTE 
O CONAMA (BRASIL, 1986), Resolução 001/86, define impacto ambiental 
como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio 
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades 
que, direta ou indiretamente, afetam: 
 I – A saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
II – As atividades sociais e econômicas 
III – A biota 
IV – As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente 
V – A qualidade dos recursos ambientais” 
A atividade agropecuária aparece como grande responsável pela degradação 
intensa das águas. As águas de muitos cursos hídricos, antes consideradas 
inalteráveis, chegaram ao limite, em que não se recomporão de forma natural. Muitas 
fontes naturais de água acabaram devido ao mau uso e manejo incorreto dos mesmos. 
(DE DEUS & BAKONYI, 2012) 
O uso intensivo do solo, também é um problema ambiental de suma 
importância. Este aliado a um manejo inadequado da água potencializa um processo 
natural de erosão e assoreamento dos cursos de água. 
 
 
Fonte: periodicos.ufsm.br 
Na figura acima podemos exemplificar e observar o assoreamento de um 
córrego devido à retirada da mata ciliar para, então, o usar o solo para o plantio de 
cana-de-açúcar. 
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25 
 
As práticas inadequadas de manejo agrícola têm interferido na degradação dos 
solos. A degradação do solo, devido à erosão hídrica, diminui sua capacidade 
produtiva. Isto pode ocorrer naturalmente no ambiente, todavia com a ação contínua 
do homem, há uma aceleração neste processo de erosão. (DE DEUS & BAKONYI, 
2012) 
Algumas práticas de manejo do solo promovem modificações em suas 
propriedades físicas, em grande parte na estrutura, podendo tais alterações ser 
permanentes ou temporárias e, ainda, influenciarem o processo erosivo. Assim, solo 
submetido a cultivo intensivo tem a sua estrutura original alterada, tanto em níveis de 
poros quanto na densidade do solo. 
As práticas de monocultura, ou seja, plantar apenas uma espécie de planta 
numa grande região tem contribuído com a degradação ambiental. Podemos citar 
como exemplo o eucalipto que exerce um grande custo ambiental para sua 
implantação em extensas áreas, pois devido à sua alta transpiração há enormes 
perdas de recursos hídricos e do solo. 
 
 
Fonte: DE DEUS & BAKONYI, 2012. 
Outro exemplo que contribui para degradação ambiental é a monocultura de 
cana de açúcar, que altera as propriedades físicas do solo, devido à produção 
intensiva e prolongadas. 
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26 
 
 
Fonte: DE DEUS & BAKONYI, 2012. 
Outro grave problema ambiental causado pela utilização descontrolada das 
terras é o desaparecimento de biomas e da biodiversidade de determinadas regiões 
devido ao avanço da produção agrícola e pecuária. 
Outra questão polêmica sobre o impacto ambiental advindo da agricultura 
envolve o uso dos transgênicos pela “moderna” agricultura brasileira, pois além de 
não haver estudos precisos sobre quais são os seus efeitos para a saúde humana, 
esses OGM (Organismos Geneticamente Modificados) reduzem a diversidade das 
plantas cultivadas devido ao fato que há a manipulação do seu material genético de 
forma a favorecer algumas características desejadas para torná-las adaptáveis aos 
mais diferentes ecossistemas, e do produtor se tornar refém das multinacionais que 
controlam as tecnologias e patentes dos OGM, pois as sementes vendidas são 
estéreis e a cada safra eles necessitam de comprar novas sementes. (OLIVEIRA, 
2012) 
11 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA 
Sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a 
produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e 
pressões socioeconômicas. (LOPES, et al. 2010) 
A sustentabilidade contempla três dimensões: ecológica, econômica e social. 
A ecológica se refere à estabilidade dos recursos naturais e do ambiente em geral, 
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27 
 
implicando na manutenção das características fundamentais do ecossistema, quanto 
aos seus componentes e suas interações; a econômica sugere a viabilidade 
financeira, traduzida por uma rentabilidade estável no tempo; e a dimensão social diz 
respeito à equidade e valorização social, associada à ideia de que o manejo e a 
organização do sistema são compatíveis com os valores culturais e éticos dos grupos 
envolvidos e das sociedades, promovendo a continuidade ao longo do tempo, sendo 
isso tudo, atingido pela adequação de tecnologias às diferentes situações e com uso 
racional dos recursos locais. (LOPES, et al 2010). 
A análise da evolução do sistema agrário permite que o desenvolvimento rural 
seja analisado sob a ótica da sustentabilidade, aqui entendida como o atendimento 
adequado das condições socioeconômicas e ambientais dos espaços físicos. Assim, 
o meio ambiente é mais que um fornecedor de recursos ou assimilador de resíduos, 
pois a forma de sua preservação e conservação permite que as atividades produtivas 
evoluam e se diversifiquem. Nesse sentido, o desenvolvimento sob essa perspectiva 
possibilita encadear transformações técnicas, ecológicas, econômicas e sociais dos 
ambientes. Portanto, compreender o processo histórico de sua formação, sua 
dinâmica e contradições, cria mecanismos para realizar previsões e tendências de 
comportamento desse desenvolvimento. (LOPES, et al 2010). 
A evolução do sistema agrário impõe mudanças socioeconômicas decorrentes 
da ocupação do homem no espaço rural. As transformações dos espaços originais 
podem ser evidenciadas pela modificação da estrutura populacional e introdução de 
sistemas de produção mais heterogêneos. A compreensão dessas relações e 
evolução do sistema agrário é complexa, pois é necessário conhecer a dinâmica local 
e o processo de tomada de decisão dos agricultores. Tal entendimento deve preceder 
qualquer diretriz ou intervenção, que leve ao processo de desenvolvimento rural 
sustentável.Para se avaliar a sustentabilidade de um agroecossistema, que é a unidade 
básica para análise, devem-se considerar suas características hierárquicas e a 
complementaridade com o ambiente externo, tornando possível a identificação dos 
processos chaves e dos organismos envolvidos que governam as quatro propriedades 
ou comportamentos dos agroecossistemas sustentáveis, ou seja, a produtividade, a 
estabilidade, a elasticidade ou resiliência e a equidade (LOPES, et al 2010). 
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28 
 
Um ponto-chave no desenho de agroecossistemas sustentáveis é a 
compreensão de que existem duas funções no ecossistema que devem estar 
presentes na agricultura: a biodiversidade dos micro-organismos, plantas e animais e 
a ciclagem biológica de nutrientes da matéria-orgânica. 
O uso da água no meio rural representa 80,7% da demanda de captação de 
água total brasileira, dos quais 67,2% são destinados à irrigação, 11,1% ao consumo 
animal e 2,4% ao consumo humano (Agência Nacional de Águas, 2017). Além disso, 
o desperdício é preocupante, estimado em cerca de 40%, devido às perdas em 
sistemas inadequados de irrigação ou vazamentos nas tubulações. A irrigação está 
em franca expansão no Brasil, passou de 462 mil hectares em 1960 para 6,1 milhões 
de hectares em 2014, em especial por meio de pivôs centrais, perfazendo um total de 
1,275 milhão de hectares distribuídos em 19.892 pivôs (79% no Cerrado e 11% na 
Mata Atlântica) (Levantamento..., 2016; Zoneamento..., 2017). Desta forma, o uso 
adequado de recursos hídricos no meio rural envolve decisões sobre a irrigação, uso 
de métodos recomendados para cada tipo de solo e cultura, além do seu manejo a 
partir do monitoramento preciso da evapotranspiração, utilização de sistemas mais 
eficientes e adaptados às condições locais, evitando o desperdício de água e energia. 
Em regiões onde a disponibilidade hídrica é muito variável, reservatórios de pequeno 
porte, barragens subterrâneas, reuso e captação de chuvas em propriedades 
agrícolas podem melhorar a disponibilidade hídrica, reduzindo a vulnerabilidade em 
relação à variabilidade hidrológica. (LOPES, et al 2010). 
O uso eficiente da água nos sistemas de produção agrícola é um dos desafios 
principais no que diz respeito ao uso racional dos recursos hídricos, e vem a cada ano 
tendo importância maior nas discussões de comitês de bacias hidrográficas e nas 
agências reguladoras do direito do uso da água. Muitas tecnologias já foram 
desenvolvidas principalmente na área de irrigação, porém ainda existem muitos 
desafios a serem superados, como os programas de manejo da água, que integram 
todo o setor agropecuário e urbano dentro de uma mesma bacia hidrográfica, o 
manejo de irrigação parcelar, etc. Outra demanda crescente, principalmente pela 
escassez hídrica que vem assolando diversos locais do mundo e influencia no 
abastecimento hídrico de centros urbanos, é o “reuso de águas residuais (efluentes) 
e captação de águas pluviais”. (LOPES, et al 2010). 
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29 
 
O Brasil participa de diversos acordos internacionais e está comprometido com 
agendas de sustentabilidade. Em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre a 
Mudança do Clima (COP 21), o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões 
de GEE até 2030. Foi estabelecida como meta a redução em 80% as taxas de 
desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. As ações propostas abrangem o 
reflorestamento de 12 milhões de hectares e o alcance de participação estimada de 
45% de energias renováveis na composição da matriz energética brasileira. 
(EMBRAPA, 2018) 
Outro compromisso importante é com os Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável, uma ampla agenda global com 17 objetivos integrados que mesclam as 
três dimensões da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental. No Brasil, é 
grande a importância da agricultura para o alcance desses objetivos, considerando a 
extensão da área agrícola, a quantidade de produtores e trabalhadores envolvidos e 
a relevância do setor para o desenvolvimento econômico e a melhoria do bem-estar 
social da população. 
 
 
Fonte: ONU (2017) 
 
11.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS 
O desenvolvimento agrícola sustentável pode ser entendido como o manejo e 
a conservação da base de recursos naturais e a orientação das mudanças 
tecnológicas de forma a assegurar o alcance e a satisfação contínua das 
necessidades humanas do presente e das futuras gerações (EMBRAPA, 2018). 
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30 
 
A agricultura sustentável compreende principalmente sistemas integrados de 
práticas utilizadas na produção de plantas e de animais aplicáveis a determinados 
ambientes de produção e que, ao longo do tempo, satisfarão as necessidades 
humanas de fibras e alimentos; melhorarão a qualidade ambiental e a base de 
recursos naturais da qual a economia agrícola depende; farão o uso mais eficiente 
dos recursos não renováveis e de recursos nas propriedades, integrando, onde for 
apropriado, os ciclos e os controles biológicos naturais; sustentarão a viabilidade 
econômica dos processos agrícolas; e melhorarão a qualidade de vida dos produtores 
e da sociedade como um todo . 
O Brasil já conta com uma série de sistemas e tecnologias sustentáveis 
amplamente adotados: 
 
o Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): 
 
Fonte:embrapa.br 
Os sistemas de ILPF, em suas diferentes modalidades (lavoura-pecuária, 
lavoura- -pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e silvipastoris, entre outros), já são 
uma realidade em 11,5 milhões de hectares no Brasil. É uma estratégia de produção 
que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de 
uma mesma área. (EMBRAPA, 2018) 
Os estados com maior área de adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões de 
hectares); Mato Grosso (1,5 milhão de hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de 
hectares); Minas Gerais (1 milhão de hectares) e Santa Catarina (680 mil hectares). 
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31 
 
Os principais fatores motivadores apontados para a adoção de sistemas de 
ILPF pelos pecuaristas relacionam-se com a preocupação na adequação ambiental 
da atividade diante das pressões, a cada dia maiores, da sociedade e dos mercados. 
Já entre os produtores de grãos, as principais motivações para a adoção se 
relacionam ao aumento da rentabilidade e à diminuição dos riscos financeiros. 
(EMBRAPA, 2018) 
 
o Sistemas Agroflorestais: 
 
Fonte: embrapa.br 
Os sistemas agroflorestais, em suas diferentes estruturas (sequenciais, 
simultâneos ou complementares), incorporam maior diversidade vegetal com espécies 
agrícolas, frutíferas e florestais (nativas e exóticas) e ocupam milhares de hectares 
em todos os biomas brasileiros. (EMBRAPA, 2018). 
Novos nichos de mercados estão sendo organizados envolvendo produtores e 
o setor agroindustrial, valorizando ainda mais a biodiversidade das espécies nativas, 
como frutas, castanhas, palmito, peixes e recursos florestais não madeireiros. Esses 
sistemas deverão ter relevância crescente no processo de intensificação sustentável 
da agricultura brasileira nas próximas décadas. 
 
o Agricultura orgânica: 
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32 
 
 
Fonte: embrapa.br 
A agricultura orgânica vegetal (grãos, hortaliças e frutas) e animal (carne, ovos 
e leite) tem se destacado como uma das alternativas de renda para os pequenos, 
médios e grandes produtores, principalmente devido à crescente demanda mundial e 
brasileira por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. (EMBRAPA, 2018). 
A produção orgânica tem se destacado pelo seu potencial no desenvolvimento 
social e local, pelo estímulo à formação de circuitos de comercialização de curta 
distância entre produtor e consumidor (cadeias curtas) e pela venda para os mercados 
institucionais como escolas e hospitais. Além disso, em decorrência das mudanças de 
hábitos,maior informação e poder aquisitivo de segmentos de consumidores, a 
tendência é de crescimento desse mercado. 
A agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, adubos químicos, antibióticos ou 
transgênicos. 
 
 
o Sistema Plantio Direto (SPD): 
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33 
 
 
Fonte: sistemafaep.org.br 
O SPD já está presente em torno de 86% da área agrícola brasileira de soja, 
milho (1a safra) e feijão (1a safra), aumentando o acúmulo de carbono no solo, 
promovendo melhorias biológicas no solo e diminuindo o processo de erosão e 
assoreamento dos recursos hídricos. (EMBRAPA, 2018). 
Além de ser uma prática conservacionista, o plantio direto foi fundamental para 
que o País ampliasse sua área de segunda safra, ao reduzir o tempo utilizado no 
preparo do solo. 
 
o Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): 
 
Fonte: embrapa.br 
A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agricultura brasileira e contribui para 
diminuir a importação de fertilizantes, hoje responsável pelo atendimento de 76% da 
demanda doméstica, e com projeções de atingir 83% em 2025 (Associação Nacional 
para Difusão de Adubos, 2017). 
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34 
 
A FBN tem melhorado as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, 
resultando em maior produtividade, menor impacto ambiental e maior economia para 
o produtor. (EMBRAPA, 2018). 
Há tendência de intensificação do uso de FBN para recuperação de áreas 
degradadas, redução da emissão de GEE, e diminuição de riscos de contaminação 
 
o Manejo integrado e controle biológico de pragas e doenças: 
 
Fonte: embrapa.br 
O manejo integrado e o controle biológico de pragas e doenças na agricultura 
têm sido fortalecidos, visando minimizar os atuais níveis de utilização de agrotóxicos. 
(EMBRAPA, 2018). 
Métodos de controle racional são desenvolvidos com objetivo de reduzir 
impactos ambientais e minimizar os resíduos nos alimentos, melhorando com isso a 
qualidade de vida do produtor rural e do consumidor. Esse conjunto de práticas e 
processos inovadores terá relevância crescente na transição dos sistemas de 
produção atuais para uma agricultura mais sustentável no Brasil. 
 
o Plantios florestais: 
http://www.embrapa.br/
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Fonte: embrapa.br 
Plantios florestais com espécies nativas e exóticas (homogêneos ou 
integrados) têm fortalecido o processo de intensificação sustentável da produção 
florestal brasileira. A produtividade das florestas plantadas no Brasil é superior à do 
restante do mundo, contribui anualmente com 17% de toda a madeira colhida 
mundialmente, com uma área equivalente a 3% da área mundial de florestas 
plantadas. (EMBRAPA, 2018). 
Esses altos níveis de produtividade estão associados ao melhoramento 
genético e aos tratamentos silviculturais que foram desenvolvidos para determinadas 
finalidades e regiões brasileiras. 
Nas próximas décadas, a inovação tecnológica da silvicultura de espécies 
nativas e exóticas terá papel de grande relevância para apoiar a solução dos passivos 
ambientais de Reservas Legais decorrentes dos Programas de Regularização 
Ambiental (PRA) dos estados e dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e 
Alteradas (Prada) dos mais de 5 milhões de propriedades rurais do Brasil. Também 
haverá tendência de ocupação de áreas de pastagens degradadas liberadas pela 
intensificação da produção pecuária para crescimento da silvicultura visando à 
produção de fibras e à agroenergia. (EMBRAPA, 2018). 
 
o Extrativismo: 
 
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Fonte: embrapa.br 
Tem tido destaque o uso da biodiversidade brasileira. Apenas em 2016 foram 
registrados mais de 30 produtos extrativos não madeireiros sendo explorados 
comercialmente. Essas atividades geraram praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de 
mais de 1,110 milhão de toneladas de produto não madeireiro, como açaí e castanha-
do-brasil. (EMBRAPA, 2018) 
A grande variedade de espécies nativas no Brasil favorece este tipo de 
atividade. 
11.2 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS 
O aumento da demanda por produção agrícola sustentável tem levado à 
necessidade da recuperação dos passivos ambientais das propriedades rurais. O 
passivo ambiental estimado para o cumprimento do Código Florestal é de cerca de 16 
milhões de hectares de RL e quase 5 milhões de hectares de Área de Preservação 
Permanente (APP), principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. 
A restauração da paisagem florestal e a adequação ambiental das propriedades 
rurais são forças motrizes para a ampliação da adoção de técnicas e sistemas de uso 
do solo que elevem a produtividade vegetal e animal, reduzam a perda de solos e 
nutrientes por erosão (evitando a degradação) e restabeleçam serviços ambientais 
relacionados à proteção da biodiversidade e ao aumento da segurança hídrica. Esses 
fatores tendem a reduzir riscos de perdas e a aumentar a resiliência das paisagens 
diante dos impactos da mudança do clima. 
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11.3 MUDANÇA NO CLIMA 
Com base em dados e simulações realizadas em diversas regiões do Globo, o 
quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) 
destacou que o aquecimento global é inequívoco. Desde 1950, são observadas 
mudanças sem precedentes no período de décadas ou milênios: a atmosfera e o 
oceano aqueceram, as camadas de gelo e neve diminuíram e o nível dos oceanos 
subiu. Caso as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sigam em elevação nas 
atuais taxas, a temperatura do planeta poderá aumentar 5,4 °C até 2100. (EMPRAPA, 
2018) 
Em decorrência desse aumento, o nível do mar poderá ter elevação de até 82 
cm e impactar grande parte das regiões costeiras do globo. Para o Brasil e a América 
do Sul, os principais impactos previstos consistem na extinção de habitat e de 
espécies, principalmente na região tropical; substituição de florestas tropicais por 
savanas e de vegetação semiárida por árida; aumento de regiões em situação de 
estresse hídrico, ou seja, sem água suficiente para suprir as demandas da população; 
e aumento de pragas em culturas agrícolas e de doenças, como, por exemplo, a 
dengue e a malária, além do deslocamento e da migração de populações. 
A relação entre agricultura e mudança do clima, assim como ocorre com outros 
setores da economia, envolve um componente ativo – a contribuição do setor agrícola, 
como uma atividade econômica, relacionada às emissões de gases de efeito estufa – 
e um componente passivo – representado pelo conjunto de efeitos que a mudança do 
clima impõe sobre essa atividade econômica. (EMPRAPA, 2018) 
Os cientistas do IPCC desenvolveram modelos climáticos para responder 
como o clima se comportará em diversos cenários de emissões. São quatro os 
cenários elaborados: (EMPRAPA, 2018) 
 
Cenário 1 - Muito otimista 
Supõe que o sistema terrestre armazenará 2,6 watts por metro quadrado 
(W/m2) adicionais de energia e representa uma redução gradativa das emissões de 
gases de efeito estufa, atingindo emissão zero por volta de 2070. Os processos de 
absorção de gases podem superar as emissões em algum momento e, nesse caso, 
os aumentos esperados da temperatura média terrestre seriam entre 0,3°C e 1,7°C, 
de 2010 até 2100, enquanto aumento do nível do mar seria entre 26 cm e 55 cm. 
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Esse cenário é considerado “muito otimista” e tem sido preterido nas análises de 
projeção climáticas. 
 
Cenário 2 - Muito utilizado 
Supõe um armazenamento de 4,5 W/m2 e representa uma estabilização das 
emissões de gases de efeito estufa antes de 2100. Nesse caso, a temperatura 
terrestre aumentaria entre 1,1°C e 2,6°C, e o nível do mar subiria entre 32 cm e 63 
cm. Esse cenário tem sido um dos mais utilizados. 
Cenário 3 - Moderado 
Supõe o armazenamento de 6,0 W/m2 com estabilização das emissões de 
gases de efeito estufalogo após 2100. O aumento da temperatura terrestre estaria 
entre 1,4°C e 3,1°C, e a elevação do nível do mar ficaria entre 33 cm e 63 cm. É um 
cenário ligeiramente mais pessimista que o anterior. 
Cenário 4 - Pessimista 
Considerado o mais “pessimista”, é caracterizado pelo aumento nas emissões 
sem sua estabilização, ou seja, as emissões continuam a crescer, bem como a 
concentração de gases de efeito estufa ao longo do tempo. O aumento da temperatura 
terrestre estaria entre 3,2°C e 5,4°C, e a elevação do nível do mar ficaria maior do que 
a do Cenário 3. 
Esses cenários indicam a crescente vulnerabilidade dos sistemas agrícolas, 
que, associada ao aumento da demanda mundial por alimentos, água e energia, 
representa enorme desafio para a sustentabilidade da produção, dos ecossistemas 
terrestres e aquáticos e dos serviços à sociedade. (EMPRAPA, 2018) 
Estudo utilizando um cenário de aumento de 3 °C até 2050 (Plano Nacional de 
Adaptação à Mudança do Clima, 2016) identificou que, nessa situação, o Brasil teria 
como impacto o decréscimo de até 50% na produção agrícola até 2050, como 
podemos observar na imagem abaixo: 
 
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Fonte: EMBRAPA, 2018. 
 
11. RISCOS NA AGRICULTURA 
A atividade agrícola é fortemente marcada por uma especificidade que a 
diferencia da produção da indústria e do setor de serviços: a forte dependência dos 
recursos naturais (como terra, clima e solo) e dos processos biológicos. (EMPRAPA, 
2018) 
Plantas, animais e microrganismos não se comportam com a precisão de 
máquinas. O clima não se repete da mesma forma de um ano para o outro e um solo 
fértil pode, com manejo equivocado, perder suas propriedades em alguns ciclos de 
produção. É uma atividade de risco. (EMPRAPA, 2018) 
Em particular, essa característica requer as seguintes condições: 
a) maior rigidez do processo produtivo, tendo como consequência menor 
flexibilidade para ajustar-se aos ciclos da economia e às mudanças nas conjunturas 
dos mercados relevantes; 
b) sazonalidade da produção; 
c) dependência de processos biológicos que são responsáveis diretos pelas 
operações mais importantes do processo produtivo. Essas condições refletem os 
riscos que cercam a atividade agrícola, os quais tendem a ser maiores do que aqueles 
relacionados ao conjunto das demais atividades. 
Na atualidade, esses riscos são ainda mais intensos devido aos maiores 
requerimentos de investimento. A agricultura contemporânea se caracteriza pelo uso 
intensivo do capital. 
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Por exemplo pode ser gigantesco o prejuízo financeiro com uma seca 
inesperada, uma geada forte, uma quebra de safra ou uma baixa repentina nos 
preços. 
É necessário considerar ainda que atualmente a agricultura está inserida em 
uma nova ordem global, que condiciona sua dinâmica, seu desempenho e interfere 
nos riscos em geral. Destacam-se, em particular, alguns fatores: (EMPRAPA, 2018) 
a) o ambiente criado pelo multilateralismo e pelo peso crescente das regras 
fixadas em acordos internacionais e na legislação nacional; 
b) controles e regras que regulam os principais aspectos que envolvem toda a 
cadeia do agronegócio – ambiente, segurança alimentar, saúde, relações de trabalho, 
comércio, propriedade intelectual; 
c) mudança do clima no âmbito global, que se reflete na elevação da 
temperatura e principalmente na instabilidade do clima; 
d) pressões sociais com suficiente força para impor regras, atitudes, legitimar 
ou refutar opções tecnológicas, etc.; 
e) valorização do consumidor como stakeholder central da cadeia de valor do 
agronegócio. 
Esse novo ambiente interfere diretamente nos riscos agropecuários, em 
particular nos riscos institucionais, tecnológicos e de produção, riscos de mercado, do 
ambiente de negócios, bem como na percepção de integração e na consequente 
gestão desses riscos. 
Os resultados da atividade agrícola estão relacionados à qualidade das 
diversas decisões dos agricultores, antes, durante e após o processo produtivo. São 
três as perguntas básicas: o que produzir, como produzir e para quem produzir. Os 
agricultores precisam decidir qual cultivo ou criação adotar, qual tecnologia empregar, 
qual a forma de financiamento e até mesmo que estratégia de comercialização adotar. 
Ao tomar essas decisões, os agricultores levam em conta, consciente ou 
inconscientemente, os riscos. (EMPRAPA, 2018) 
É possível afirmar que a gestão do risco é inseparável da gestão da produção 
agrícola, especialmente no Brasil, pela sua dimensão continental, pela grande 
diversidade socioeconômica dos produtores rurais e pela diversidade agronômica dos 
sistemas de produção vegetais e animais. 
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Estudo realizado em 48 países em desenvolvimento indica que 25% dos danos 
advindos de desastres naturais ocorridos entre 2003 e 2013 recaíram sobre a 
agropecuária, causando prejuízos de US$ 70 bilhões. Estima-se que 44% dessas 
perdas foram causadas por secas e 39% por enchentes. (EMPRAPA, 2018) 
Atualmente, 75% dos alimentos do mundo são gerados a partir de 12 espécies 
de plantas e cinco espécies de animais. Isto torna o sistema alimentar global altamente 
suscetível aos riscos inerentes à atividade agrícola, como pragas e doenças em 
animais e plantas, problema agravado pelos efeitos da mudança do clima. Eventos 
climáticos podem determinar: (EMPRAPA, 2018) 
o Perdas relevantes na produção. 
o Queda das exportações. 
o Redução da ocupação direta e indireta. 
o Maior volatilidade na produção e renda dos produtores. 
o Elevação de preços para os consumidores. 
o Insegurança alimentar. 
O fato de a maior parte da produção agropecuária nacional situar-se na faixa 
tropical demanda sofisticação nas práticas de gestão de risco. Considerando que a 
mudança do clima em âmbito global já é perceptível pela intensificação de estresses 
térmicos, hídricos e nutricionais nos sistemas produtivos. 
Riscos associados: 
Os riscos relativos à agricultura podem ser classificados em duas categorias. A 
primeira leva em conta as origens dos fatores de risco, enquanto a segunda considera 
a natureza do risco (IBGC, 2007). 
Especialistas propõem a seguinte classificação de riscos: 
o Riscos de produção. 
o Riscos sanitários. 
o Riscos de gestão dos recursos (em especial dos recursos naturais). 
o Riscos de crédito e comercialização. 
o Riscos relacionados ao mercado externo. 
o Riscos decorrentes da infraestrutura. 
o Riscos do ambiente institucional relacionados a direitos de propriedade mal 
definidos, mudanças nas regras de comércio e mudanças nas regras 
relacionadas à própria produção. 
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Outro fator relevante para a agricultura mundial e nacional, e que se apresenta 
no topo das diferentes formas de risco, é a disponibilidade energética para todos os 
processos produtivos em todos os elos das cadeias agrícolas. Esse fator ganha 
importância ainda maior em um cenário global de incertezas, que incluem mudança 
do clima, mudanças geopolíticas e demográficas, com economias emergentes 
intensificando a demanda por alimentos e bens de consumo. O grande desafio relativo 
a esse fator está na capacidade de suprimento de forma eficiente e sustentável e a 
custo competitivo. (EMPRAPA, 2018) 
Atualmente, os combustíveis fósseis, como o petróleo, têm papel importante no 
setor, mas o cenário de mudanças do clima exige soluções sustentáveis. 
Outro importante fator de risco é a dependência de importação de insumos, 
especialmente de fertilizantes. Desde a década de 1990, a privatização das indústrias 
estatais de fertilizantes e a facilitação da entrada de produtos importados, por meio de 
isenção de impostos, fez com que a produção nacional se tornasse muito inferior à 
demanda interna. Como consequência, a dependência em relação às importações 
vem aumentando ano após ano. Atualmente,mais de 70% do consumo total de 
fertilizantes na agricultura brasileira é suprido por importações. (EMPRAPA, 2018) 
Os fertilizantes respondem por mais de 40% do custo total de produção das 
principais culturas no Brasil. Há grande influência dos preços da matéria-prima 
internacional, das commodities agrícolas e do petróleo na formação de preços desses 
insumos. É estratégico para o Brasil reduzir a dependência externa de fertilizantes e 
diminuir o impacto dos insumos no custo da produção agrícola. Isto exige planos 
estratégicos liderados pelo Estado brasileiro, com participação intensa do setor 
privado. (EMPRAPA, 2018) 
Outro risco associado à intensificação produtiva brasileira é a chamada “ponte 
verde”. A sequência ininterrupta de cultivos tem favorecido doenças e pragas como a 
ferrugem da soja, a lagarta-do-cartucho do milho, a mosca-branca e a lagarta 
Helicoverpa armigera, com severas consequências econômicas e ambientais. 
 
Gestão integrada de risco: 
 
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As soluções para gestão do risco envolvem uma combinação de medidas e de 
atores, com atuação dos setores privado e público, em que a disponibilidade de 
recursos frequentemente determina as ações. (EMPRAPA, 2018) 
A definição da estratégia e a escolha das políticas envolvem o conhecimento 
de duas dimensões-chaves dos riscos em geral: a probabilidade de ocorrência dos 
eventos e a severidade dos impactos sociais e econômicos. Com base nessas 
dimensões, é possível segmentar os riscos da seguinte forma: (EMPRAPA, 2018) 
o Riscos frequentes, os quais ocasionam perdas pequenas. São os riscos 
normais do negócio, em geral assumidos pelos próprios produtores, que fazem 
a gestão usando instrumentos disponíveis no estabelecimento ou acessando 
políticas públicas gerais. 
o Riscos cuja frequência e impacto não podem ser negligenciados e nem 
assumidos pelos próprios produtores, que buscam proteção em instrumentos 
específicos desenhados para transferi-los, via operações de mercado, para 
terceiros. 
o Riscos que, mesmo tendo uma frequência pequena, geram grandes perdas, 
por isso são classificados como catastróficos, os quais não podem ser 
assumidos pelos produtores e, portanto, justificam-se ações governamentais. 
O Brasil já conta com um conjunto de políticas, programas e instrumentos que 
contribuem para reduzir os efeitos negativos que os riscos causam aos produtores 
rurais e à sociedade consumidora. 
Entre os atuais programas e políticas públicas mais importantes relacionados 
aos três grupos de riscos agropecuários (produção, mercado e ambiente de negócios) 
citam-se os seguintes: o Zarc, a Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), o 
Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), o Programa de Garantia 
de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) e o Programa de Incentivo à Irrigação 
e à Armazenagem (Moderinfra). (EMPRAPA, 2018) 
São as três as principais ferramentas de gestão: 
Prevenção ou mitigação: visa reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos 
adversos ou reduzir o impacto dos eventos. O zoneamento de áreas próprias para 
cultivo de determinadas culturas é um exemplo. Agricultores e agentes financeiros 
sabem que financiar algo não recomendado para determinada região é mais 
arriscado. 
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Transferência: visa diluir os efeitos econômicos negativos entre um grupo de atores. 
O seguro rural é um exemplo. Por meio dele, o produtor transfere uma despesa futura 
e incerta (dano), de valor elevado, por uma despesa antecipada e certa de valor 
relativamente menor. É como o seguro de um automóvel. 
Enfrentamento ou resposta: objetiva aliviar os efeitos negativos provocados pela 
ocorrência dos eventos. Um bom exemplo é o Programa Garantia Safra, que 
disponibiliza um benefício em dinheiro para pequenos agricultores de municípios que 
sofrem com a perda de pelo menos 50% do conjunto das produções. 
12 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E DE CONHECIMENTOS NA 
AGRICULTURA 
O setor agrícola vivencia transformações relevantes em razão da migração da 
sociedade da informação e do conhecimento para a sociedade da era digital. Em torno 
de 90% dos produtores rurais já utilizam o celular em suas atividades diárias (pessoais 
e profissionais). Observa-se ainda a crescente utilização de meios digitais e redes 
sociais (Facebook, Instagram, Twitter) nos negócios rurais, atualmente em 18% das 
propriedades rurais (Sebrae, 2017). Convergências técnico-científicas são crescentes 
nas organizações as pesquisa, empresas e propriedades rurais. (EMPRAPA, 2018) 
Essas convergências podem ser entendidas como um processo de integração 
sinérgica de conhecimentos e tecnologias já disponíveis em várias áreas e setores, 
possibilitando a geração de novos conhecimentos e a produção de bens e serviços 
que não seriam possíveis em cada área ou setor isoladamente. 
O mundo já presenciou algumas transformações como a Revolução Industrial 
e a era da informação e do conhecimento no pós-guerra. Essas eras provocaram 
muitas adaptações nos modelos de trabalho e, ao mesmo tempo, eliminaram negócios 
e criaram novas oportunidades de empreendimentos. A mudança no panorama 
industrial, cultural e, consequentemente, econômico foi mais bem internalizada por 
aqueles que perceberam essas oportunidades e se engajaram em novas práticas e 
formas de trabalho e relacionamento. A diferença agora é que a era digital impõe uma 
velocidade de mudança e reposicionamento por parte de empresas e das pessoas 
muito mais rápida. Se antes essas mudanças levaram 60 anos, agora acontecem 
anualmente. (EMPRAPA, 2018) 
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Nesse novo modelo, novas oportunidades e caminhos são apresentados para 
que indivíduo e as empresas possam romper com os velhos paradigmas e pensar de 
maneira inovadora e disruptiva. A atuação com novos parceiros, em especial os 
pequenos, exigirá um comportamento ágil e não tão formal. Esse é um dos principais 
desafios para as empresas. A cadeia produtiva agrícola é composta pela soma das 
operações de produção e distribuição de suprimentos, das operações de produção 
nas unidades rurais, do armazenamento, processamento e comercialização dos 
produtos agrícolas e dos itens produzidos a partir deles. (EMPRAPA, 2018) 
As plataformas digitais amplificam benefícios para vários setores agrícolas, 
como exemplos apresentados na imagem abaixo: 
 
Fonte: EMBRAPA, 2018. 
No Brasil, novas empresas já estão oferecendo produtos e serviços com base 
em tecnologias de agricultura digital. O 1º Censo Agtech Startups Brasil identificou 75 
startups, ou seja, novas empresas que atuam com agricultura digital. A maior parte 
delas (56%) atua com soluções de suporte à decisão, e as demais atuam em 
agricultura de precisão e software para gestão. (EMPRAPA, 2018) 
O World Economic Forum destaca que cinco tecnologias com propósitos bem 
segmentados irão globalmente mudar a vida dos pequenos produtores rurais: 
• O maior acesso à eletricidade ocasionará aumento da eficiência e redução no 
desperdício de alimentos. 
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• O aumento da conectividade de internet permitirá maior acesso ao 
conhecimento para melhoria da produtividade nos empreendimentos rurais. 
• Dispositivos móveis e plataformas irão conectar produtores familiares ou de 
pequeno porte aos diversos mercados. 
• Identificadores digitais únicos melhorarão o acesso e a troca de dados entre 
os produtores. 
• Análises geoespaciais ajudarão os pequenos produtores a tomar decisões. 
13 O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA 
As projeções mundiais de aumento do consumo de água (+50%), energia 
(+40%) e alimentos (+35%) até 2030 são reflexos principalmente das tendências de 
expansão populacional, maior longevidade e aumento do poder aquisitivo de grande 
parte da população mundial, particularmente na Ásia, África e América Latina. Esses

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