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Constitucional II Divisão orgânica do Poder

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Direito Constitucional II - Divisão orgânica do PODER
TEORIA DO PODER E DIVISÃO DE FUNÇÕES ESTATAIS
A “separação dos poderes estatais” é, na realidade, distribuição de determinadas funções a diferentes órgãos do Estado. 
A utilização de “poderes”, embora profundamente enraizada, deve ser entendida de maneira meramente figurativa.
O poder é uno e indivisível. “O homem é não só o sujeito mas também o objeto do Poder social”.
É nessa perspectiva que devem ser entendidas a unidade e a indivisibilidade do poder, isto é, a capacidade de determinar o comportamento de outras pessoas não pode ser fracionada, portanto, a edição de uma lei(Poder Legislativo), de um ato administrativo(Poder Executivo) ou de uma sentença(Poder Judiciário), embora produto de distintas funções, emana de um único pólo irradiador do poder: o ESTADO.
Essa medida é fundamental para que assentemos a idéia de que, sendo una e indivisível, o poder, no âmbito do Estado, exterioriza-se por meio de funções. Assim, a vontade estatal é única, manifestando-se, porém, por suas funções, a executiva, a legislativa e a judiciária.
Por conta dessas funções, é quase que automática a conexão da teoria da separação dos poderes ao nome de CHARLES DE MONTESQUIEU. A vinculação do constitucionalismo à separação tripartite de poderes encontrou sua formulação clássica na Declaração Francesa dos Direitos do Homem, de 1789. Desde então, o princípio da separação dos poderes passou a ser adotado pelo Estado Constitucional. Transformou-se esse princípio no cerne da estrutura organizatória do Estado.
É curiosa a constatação de que o constitucionalismo da Antiguidade funcionou sem a separação de funções e, frequentemente, em conflito mesmo com esse princípio. Isso reforça a ideia de que a preferência por determinado tipo de divisão funcional do poder estatal está relacionada com as tradições e experiências de uma nação.
A Independência e a harmonia entre os Poderes:
A grande inovação da obra de Monquestieu consistiu exatamente em demarcar que tais funções deveriam ser exercidas por órgãos distintos, estabelecendo uma divisão orgânica do Estado, portanto, a idéia subjacente a essa repartição era criar um sistema de compensações, evitando que uma só pessoa, ou um único órgão (absolutismo), viesse a concentrar em suas mãos todo o poder do Estado.
Com isso, estaria criado um sistema de “freios e contrapesos”, conhecido também pela teoria checks and balances, onde os Poderes (órgãos do Estado) deveriam inter-relacionar-se de forma harmônica, mas cada qual mantendo o respectivo âmbito de independência e autonomia em relação aos demais: como conseqüência dessa premissa, o ocupante de cargo em um desses órgãos do Estado não poderia simultaneamente exercer ofício em outro, porém, essa regra não é absoluta, mas as exceções devem ser expressamente ditadas por normas constitucionais, como expresso nos artigos 56 e 68, CF:
 Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.
Podemos concluir que a idéia da independência entre os Poderes, atribuindo, somente através da Constituição Federal, funções do Poder para mãos diferentes, é justamente para uma controlar a outra, evitando-se o arbítrio e, por conseguinte, fornecendo condições objetivas para o respeito aos direitos individuais.
E mais, a independência entre os Poderes traz subjacente a regra da indelegabilidade de funções, pois seria impossível manter essa separação e harmonia se um Poder pudesse ordinariamente delegar suas funções para que outro as exercesse. 
FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS
A manutenção da independência entre os Poderes gera, porém, uma peculiaridade constitucional, qual seja, a existência de funções típicas e atípicas dentro de um mesmo Poder do Estado.
Não é viável a manutenção de Poderes harmônicos, independentes e autônomos dentro de uma estruturação rígida de funções. Com efeito, caso não fosse possível certa flexibilização nessa divisão de funções, o Poder Legislativo, para, por exemplo, contratar servidores, deveria reportar-se ao Poder Executivo, dado que sua função seria exclusivamente a edição de atos normativos de caráter geral e abstrato.
Logo, sabemos que o texto constitucional prioritariamente designou ao Poder Executivo, ao Poder Legislativo e ao Poder Judiciário, respectivamente, as funções administrativa, legislativa e judicante, porém, de forma subsidiária ou atípica, cada Poder exerce função que originariamente pertenceria aos demais. É dessa relação que nasce a conceituação de funções típicas e atípicas.
Funções típicas são as que guardam uma relação de identidade com o Poder respectivo;
 Funções atípicas, contrariamente, são aquelas que não guardam nota de identidade e, por isso mesmo, são originariamente desincumbidas pelos outros órgãos de Poder.
REGIMES DE GOVERNO
Inicialmente, é oportuno lembrar que os regimes de governo não devem ser confundidos com as formas de governo.
As formas de governo (Monarquia, ocorre por vocação hereditária, atribuindo-se ao monarca, ao menos, a chefia de Estado. República, tem como parâmetro a eletividade, a alternância de pessoas no poder, a responsabilidade dos governantes e a igualdade formal) dizem respeito à estruturação do Estado e sua organização, o que não é o objeto do nosso estudo agora.
Estudamos aqui os regimes de governo (parlamentarista e presidencialista), que se referem ao processo de gestão, ou seja, como gerir a máquina pública dentro de uma estrutura estatal de Monarquia ou República.
No parlamentarismo há divisão orgânica de Poderes, com a repartição de funções de chefia de Estado e de governo; há uma interdependência entre os Poderes Executivo e Legislativo; o gabinete é dirigido pelo Primeiro-Ministro, a quem, de regra, são atribuídas as funções inerentes à chefia de governo.
No presidencialismo a chefia de governo e a de Estado ficam concentradas nas mãos de uma só pessoa: o Presidente da República; o Presidente da República é eleito para mandato determinado, não respondendo, ordinariamente, perante o Poder Legislativo; o Presidente possui ampla liberdade para a formação de seu ministério.
Próximo módulo: O PODER EXECUTIVO.

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