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CESMAC CENTRO UNIVERSITÁRIO Curso de Pós-Graduação em Direito Administrativo, Constitucional e Tributário Laísla Batista Soares Rios O DESEQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES Maceió - Al 2019 O DESEQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Direito Administrativo, Constitucional e Tributário, ministrado no Centro Universitário Cesmac, sob a orientação do Prof. Doutor Marcus Rômulo Maia de Mello. Maceió – Al 2019 O DESEQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Direito Administrativo, Constitucional e Tributário, ministrado no Centro Universitário Cesmac, sob a orientação do Prof. Doutor Marcus Rômulo Maia de Mello. Maceió, em ____/____/_____ Prof. Doutor Marcus Rômulo Maia de Mello Orientador Dedico este trabalho aos meus pais, irmã, namorado, família e amigos, que além de me ajudarem bastante tiveram uma enorme paciência comigo e entenderam os momentos de ausência, estresse e dedicação total ao cumprimento de mais um dever. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que é o criador de todas as coisas, onde é a Ele que me apego e peço ajuda todos os dias para o cumprimento dos meus deveres. Aos meus pais James e Aldinete, que sempre me apoiaram e sempre buscaram o melhor para minha vida, e que são meus exemplos na escola da vida. A minha irmã que mesmo sem nem ao menos entender muita coisa sempre procurou me ajudar. Ao meu namorado que entendeu meus momentos de muita raiva e estresse e que mesmo assim esteve ao meu lado me incentivando. Aos meus familiares que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu pudesse alcançar essa etapa da minha vida, que sempre me incentivaram e me motivaram a nunca desisti e que sempre procuraram me ajudar da forma que podem. Aos meus amigos que em vários momentos entenderam a minha ausência, e sempre estiveram por mim para enxugar minhas lagrimas nos momentos difíceis. “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. Sócrates http://pensador.uol.com.br/autor/jean_jacques_rousseau/ RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar um breve resumo da criação do Estado aa Teoria da Tripartição dos Poderes na Constituição Brasileira, desde a formação do Estado, até o surgimento da Tripartição de acordo com a teoria de Montesquieu através de seu livro O Espirito das Leis. Visando a abordagem de cada poder, Legislativo, Executivo e Judiciário, do Supremo Tribunal Federal e do Ministério público, para que exista realmente equilíbrio, harmonia entre os poderes. Analisando os meios para uma possível reorganização dos Estados da Federação, tendo por objetivo o reequilíbrio entre os poderes. Palavras-chave: Surgimento do Estado. Montesquieu. Tripartição dos Poderes. Equilíbrio entre os Poderes SUMMARY This paper aims to present a brief summary of the creation of the State and the Theory of the Tripartition of Powers in the Brazilian Constitution, from the formation of the State, to the emergence of the Tripartition according to the theory of Montesquieu through his book The Spirit of Laws. Aiming at the approach of each power, Legislative, Executive and Judiciary, of the Federal Supreme Court and the public prosecution, so that there is really balance, harmony between the powers. Analyzing the means for a possible reorganization of the States of the Federation, aiming at rebalancing the powers. Keywords: Emergence of the State. Montesquieu. Tripartition of Powers. Balance between the Powers SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 1 O ESTADO E A TEORIA DOS TRÊS PODERES..................................................11 1.1 Breve considerações sobre o surgimento do Estado....................................11 1.2 Teoria da separação dos poderes e suas diferentes concepções............ ....12 1.3 A divisão dos três poderes e o equilíbrio entre eles .................................... 17 2 A IMPERFEITA SEPARAÇÃO DOS PODERES ................................................... 19 2.1 Sistema de controle entre os poderes ...................................................................20 2.1.1 Executivo....................................................................................................... .......22 2.1.2 Legislativo ................................................................................................... .........23 2.1.3 Judiciário ..................................................................................................... .........24 2.1.3.1 O Supremo Tribunal Federal ..................................................................... .......25 2.3 O Ministério Público .......................................................................................... .....26 2.4 A problemática entre os poderes ...........................................................................27 3 A INSEGURANÇA JURÍDICA .................................................................................. 30 3.1 Surgimento do ativismo judicial ..............................................................................30 3.2 Ativismo judicial versus judicialização da política ............................................ .....32 3.3 Disputa entre os poderes e o equilíbrio afetado....................................................34 3.4 A busca pelo reequilíbrio................................................................................... 37 3.5 CONCLUSÃO ......................................................................................................40 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 41 9 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso tem a finalidade de analisar o surgimento dos três poderes, sendo eles: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A análise abrange a origem do estado sua evolução histórica e a forma como a Separação dos Poderes foi concebida pelas Constituições do Brasileiras. Desde Montesquieu, o Estado de Direito, convive com a tríplice repartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Tais poderes devem ser harmônicos e independentes entre si. Porém, de acordo com o consagrado preceito constitucional, compete a cada um, uma parcela de participação da sociedade na sua realização. Embora o tema ligado a tripartição de poderes já tenha sido objeto de consideração de vários estudiosos, seu enfoque é atual e polêmico, refletindo a atuação dos poderes políticos ao longo dos anos e nos dias atuais, onde vem repercutindo diariamente nos noticiários. Nesse contexto, destaca-se o desequilíbrio entre os poderes. Analisando a independência e a harmonia entre os poderes, numa comparação entre o conceito de lei e como ela se desenvolve na prática. A partir de algumas constatações fáticas, observa-se a necessidade de equacionalização dos poderes. Para a construção dessa pesquisa, foi seguido como base metodológica à dedução haja vista tal raciocínio ter como objetivo explicar o conteúdo das premissas, uma pesquisa aplicada em decorrência de objetivar gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemasespecíficos, e, anda, por envolver verdades e interesses locais. Quanto aos meios de investigação a pesquisa será bibliográfica em decorrência de ser um estudo sistematizado Dessa forma, na primeira seção podemos analisar a evolução do Estado, e principalmente o surgimento da teoria dos três poderes. Na segunda seção podemos conhecer melhor como é a Separação dos Poderes, analisando cada um dos poderes e entendendo um pouco sobre a problemática deles. 10 Por fim, na terceira seção estudamos a insegurança jurídica, analisando o que o ativismo fez para ajudar ou prejudicar os poderes e tentar achar uma solução para o equilíbrio dos poderes. 11 1 O ESTADO E A TEORIA DOS TRÊS PODERES 1.1 Breves considerações sobre o surgimento do Estado Antes mesmo de começar a falar sobre a separação dos poderes e suas diferentes concepções, se faz necessária fazer uma breve consideração do surgimento do Estado. O termo Estado possui sua origem no latim status e ficou conhecido na obra de Maquiavel. O Estado é formado pela retórica entre o poder político e Direito. Não existe um conceito formado ao certo do que é o Estado, sendo discutido entre vários autores, esse conceito geral não existe pelo fato de que o Estado encontra-se em continua transformação, segundo MORAES (1996, p.141): As pesquisas etnológicas e arqueológicas atuais permitem admitir-se que o Estado surgiu na época neolítica, no momento em que o homem se tornou sedentário. Configura-se, então, como um pequeno grupo populacional, estabelecido num território delimitado, em cujo centro se encontrava uma aldeia. A atividade principal já era a agricultura e a criação de animais, como aves, suínos, bovinos e caprinos, mantidas, certamente, as antigas práticas de caça ou de pesca. Será certo também, como acentua Mircéa Eliade, que nunca houve “sociedade pastoril completamente independente da economia e da religião dos cultivadores. Então foi a partir da colonização das tribos que surgiu o Estado, onde criou-se uma relação com outras tribos onde criaram seus territórios comuns. Porém podemos conceituar o Estado de uma forma genérica e simples, sendo a organização de um povo sobre um determinado território, sendo dotado de soberania. O surgimento de um Estado acontece de forma natural, onde existe um conjunto de qualidades básicas, sendo elas: a presença de território, população e governo. Também pode acontecer de forma histórica, sendo o modo originário, quando há uma nova formação, que nasce de seu país ou da população, o modo secundário que é quando vários Estados se unem, para formar um novo e só Estado ou quando um Estado se fraciona para formar um novo, e o modo derivado esse se da por meio de influências exteriores. Existe uma terceira forma, que é a jurídica, pela coletividade estatal se organizando e passando a ter um órgão que age por 12 eles, sendo formado um Estado e quando o Estado é reconhecido pelas demais potências. Existe uma teoria que é a de Marx e Engels, na obra “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”, e DALLARI (2011, p.63) cita em sua obra sobre essa teoria: Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado. São requisitos fundamentais para a aceitação de um Estado novo: a necessidade de existir um governo independente, tendo autoridade efetiva sobre sua população e território, cumprindo suas obrigações internacionais, e ter um território delimitado. Conforme conceituado acima, todo o Estado detém de uma Constituição, que seja ela em sentido amplo, essa constituição é a forma de organização do Estado. Essa constituição independe de ter um texto escrito ou normas, sendo elas escritas ou não. Para concluir essa breve consideração sobre o surgimento do Estado, sabemos que é uma ficção jurídica criada pelo homem, tendo como finalidade conduzir uma sociedade à consecução do interesse público. 1.2 Teoria da separação dos poderes e suas diferentes concepções Foi na primeira constituição da República em 1891, que o Poder moderador (era o poder que conferia ao Imperador ampla liberdade) foi extinto, e foi adotada a teoria de Montesquieu, da tripartição de Poderes. E foi nesse mesmo tempo que nasceu o Supremo Tribunal Federal. 13 Na Constituição de 1934 a evolução continuou, conferindo ao Senado Federal a prevalência para exercitar o sistemas de freios e contrapesos. Já na Constituição de 1937, qual foi outorgada por Getúlio Vargas, nada foi falado sobre a separação dos Poderes, muito pelo contrario, afirmava que o Presidente da República era a autoridade suprema do Estado. Ao fim do Estado Novo, quando estava acontecendo a redemocratização no país a Constituição de 1946 consagra novamente o princípio da separação de poderes. Mas na constituição de 1967, quando estava acontecendo a ditadura militar, não existia democracia e nem muito menos os direitos e garantias fundamentais do cidadão. Já em 1988, com a nossa atual Constituição, voltamos a democracia, porém não trouxe inovações em relação à Separação de Poderes. As normas de uma constituição dispõem sobre a forma do Estado, dos órgãos que integram a estrutura do estado, das competências, e de seu exercício, e ainda devem estabelecer as limitações ao poder do Estado, principalmente sobre a separação dos poderes, os chamados sistemas de freios e contrapesos. Não é o correto chamar de separação dos Poderes, como explica FLÁVIO MARTINS (2017, p.1309): “O que se convencionou chamar de separação dos Poderes é mais propriamente denominado de separação das funções estatais. Isso porque o Estado é uno, tendo um único poder, indivisível, portanto. As funções exercidas pelo Estado é que são distintas, exercidas por órgãos distintos.” Porem a própria Constituição Federal utilizou a nomenclatura “separação dos Poderes”, em seu artigo 60, § 4º, III, considerando assim a separação dos Poderes, cláusula pétrea. O estado criou esse modelo político, o qual tem suas funções divididas e delineadas em órgão diferentes e independentes, tendo cada um sua área de responsabilidade, que em regra são indelegáveis. Mesmo sendo independentes entre si, existe a possibilidade de se relacionarem entre elas, e a doutrina chama de checks and balances, mais conhecidos como freios e contrapesos. O primeiro a tratar desse assunto em toda a história foi Aristóteles, para ele era injusto e perigoso conferir a um só indivíduo o desempenho do poder. 14 Segundo LENZA (2015, p.842): “As primeiras bases teóricas para a “tripartição de Poderes” foram lançadas na antiguidade grega por Aristóteles, em sua obra Política, em que o pensador vislumbrava a existência de três funções distintas exercidas pelo poder soberano, quais sejam, a função de editar normas gerais e serem observadas por todos, a de aplicar as referidas normas ao acaso concreto (administrando) e a função de julgamento, dirimindo os conflitos oriundo da execução das normas gerais nos casos concretos”. Para ele as funções do Estado eram a deliberativa, executiva e a judiciária. Desta forma Aristóteles auxiliou no sentido de identificaro exercício das três funções estatais distintas, apesar de exercidas por um único órgão. Foi certo que o pensamento de Aristóteles influenciou gerações. No ano de 1324, Marsílio de Pádua em sua obra O defensor da paz, a qual foi censurada pelo Papa Bento XII e Papa Clemente VI, trouxe distinções entre o poder legislativo e o executivo, pois afirmava que o poder do papado seria a causa do problema que prevalece entre os homens. Já no século XVI, na obra de Maquiavel O príncipe, ele afirmava que existiam três poderes naquela época, o parlamento (legislativo), o rei (executivo) e um independente (judiciário). Maquiavel afirma que essa organização trazia mais liberdade e segurança ao rei, que agindo em nome próprio o judiciário poderia proteger os mais fracos e assim pouparia o rei de interferir nas disputas, e assim não desagradava nenhuma das partes. Mas foi no século XVII, que o filósofo John Locke sistematizou a doutrina da separação dos poderes. Locke afirmava à existência de quatro funções fundamentais, que seriam exercidas por dois órgãos do poder, a função de legislar ficaria com o parlamento, a executiva seria exercida pelo rei. Enfraquecendo assim a soberania absolutista do monarca, pois onde antes o poder que o rei tinha, de executar, legislar e jurisdicionar, ficou restrito ao de poder de executar, e o poder de elaborar as leis e de executá-las se encontrava agora em mãos distintas. Foi na obra O Espírito das Leis de Charles-Louis de Secondat, conhecido como Montesquieu, que se falou em Tripartição de Poderes, onde a teoria de Aristóteles foi aprimorada. Segundo Montesquieu tudo estaria perdido de um mesmo homem, ou um mesmo corpo de principais ou nobres, ou do Povo, exercesse esses três 15 poderes. Ele pode contribuir com desenvolvimento do sistema de freios e contrapesos, onde era caracterizado como um método de controle recíproco entre os poderes que seriam exercidos nos limites que estariam previstos na Constituição. E foi a teoria de Montesquieu que importância nas Constituições modernas, de todo o mundo. Em sua obra relatou MONTESQUIEU (1979, p.149): “Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o Poder Legislativo está reunido ao Poder Executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente. Não haverá também liberdade se o poder e julgar não estiver separado do Poder Legislativo e do Executivo. Se liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao Poder Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. Tudo seria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as revoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos.” Sendo assim Montesquieu passou a analisar formas de divisão dos poderes, ficando evidente que muito antes da obra de Montesquieu, já havia um esboço da teoria da separação dos Poderes. A finalidade da separação dos Poderes é preservar a liberdade individual, podendo assim combater a concentração de poder em uma única pessoa ou um mesmo grupo. Nas palavras de Pedro Lenza pág. 844: “O Estado que estabelece a separação dos poderes evita o despotismo e assume feições liberais.” Assim estabelecendo um equilíbrio politico, que tenta equilibrar os ricos de abuso de poder. Existem diferentes concepções acerca da teoria da separação dos Poderes, muitos dos críticos reiteravam que Montesquieu evidenciava somente a divisão de poderes, onde o Legislativo, o Executivo e o Judiciário estivessem separados, e não a harmonia e o controle de um Poder em relação a outro. Porem existe pensadores os quais contestam essa tese, como explica CANOTILHO, pág.: 260: “(...) foi demonstrado por Eisenmann que esta teoria nunca existiu em Montesquieu (...). Mais do que separação, do que verdadeiramente se tratava era de combinação de Poderes”. 16 É percebível que a maior parte do Estado Moderno adotou a teoria de Montesquieu admitindo uma combinação entre os Poderes. Nas palavras de LUCIANO DUTRA (2017, p.98): “Importante destacar que a visão moderna da separação dos Poderes não impede que cada um dos Poderes da República exerça atipicamente (de forma secundária), além de sua função típica (preponderante), funções atribuídas a outro Poder. O Poder Judiciário tem por função típica dirimir, em cada caso concreto, as divergências surgidas por ocasião da aplicação das leis, ou seja, julgar as lides. Isso não retira a possibilidade de exercer a função atípica de legislar (inovar na órbita jurídica), elaborando seu regimento interno (art. 96, I, a), bem assim administrar as pessoas e bens que integram os seus órgãos. Por sua vez, o Poder Legislativo tem por função típica legislar e fiscalizar, exercendo atipicamente a função estatal de julgar, decidindo sobre crimes de responsabilidades, conforme o art. 52, I e II, bem como administrar a coisa pública sob sua gerência. O Poder Executivo, a seu turno, tem por função preponderante a administração da coisa pública, o que não retira a possibilidade de julgar processos administrativos e legislar, elaborando medidas provisórias, leis delegadas e decretos autônomos.” Assim, além de suas funções típicas, cada órgão exerce outras funções, que são atípicas. Temos, portanto, a divisão entre órgãos que desempenham suas funções, mas não a divisão de poderes. Nos dizeres de Pedro Lenza: “o Poder é uni e indivisível. O Poder não se triparte. O Poder é um só, manifestando-se através de órgãos que exercem funções”. Para sermos convenientes e práticos fazemos o uso da expressão “tripartição de poderes”, sabendo que o titular do poder é o povo, e o povo o delega por contrato a um governo. Pois durante anos o homem foi submisso aos poderes de outros homens, e hoje com o nosso Estado Democrático de Direito, estamos sujeito aos poderes que nos mesmos ajudamos a criar democraticamente. Os pensadores modernos acham necessário existir o equilíbrio de forças entre os Poderes, um não podendo se sobrepor ao outro, o dominando ou o subordinando. Ficou claro então que a teoria da separação dos poderes surgiu para assegurar o controle do exercício do poder governamental, para limitá-lo onde não seria possível a existência de um governo tirânico e autoritário. 17 1.3 Divisão dos três poderes e o equilíbrio entre eles Percebemos que a intenção de Montesquieu seria a de organizar um Estado, qual não se omitisse dos conflitos sociais, impossibilitando que um grupo político se sobressaia sobre o outro, a divisão é importante, pois não existe democracia sem divisão dos Poderes. A teoria da tripartição traz segurança para o cidadão, tendo em vista que logo ao inicio da Constituição de 1988, diz que o poder emana do povo e é esse povo que exerce sua soberania, por isso para sermos considerados livres, devemos ser governados por nos mesmo. O poder que emana do povo é exercido por representantes que são eleitos pelo povo, sendo assim o titular originário e permanente do poder da República, é o povo. É através da constituição que o povo tem sua garantia de que todos os seus direitos serão respeitados. FONTELES (2013, p.9) explica: A Soberania popular é direito fundamental do povo e dela emana os outros direitos, então a Soberania é dignidade da pessoa humana, dignidade do povo. Com a garantia Constitucional de que o povo exerce a soberania, e como citado anteriormente que não pode ser alterado nem por emenda constitucional a Separação dos Poderes isso traz segurança para o cidadão, segurança que significa garantia, firmeza, estabilidade. Assim sendo, o cidadão estará protegido de um governo ditatorial. São o Executivo, Legislativo e o Judiciárioos três poderes, que são independentes e harmônicos entre si. E hoje esses poderes estão presentes em nossa Constituição Federal de 1988, como podemos observar nos artigos a seguir: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.” (grifo nosso) Então a separação dos Poderes é chamada cláusula pétrea, qual não se pode alterar nem por meio de emenda constitucional. 18 Deve existir equilíbrio entre os três poderes, pois assim nenhum saíra sobrecarregado, ou mesmo possa interferir no poder do outro, mantendo esse equilíbrio o Estado irá exercer sua função diante a sociedade. O poder Legislativo, Executivo e o Judiciário deve ser independente, e ter garantias constitucionais, essas garantias devem ser invioláveis, sob pena de existir um desequilíbrio entre esses poderes, onde acarretaria a desestabilização do Governo, havendo assim o despotismo. E é o Ministério Público, que mesmo com suas outras importantes funções, deve zelar pelo equilíbrio entre os três Poderes, fiscalizando-os, e pelo respeito aos direitos fundamentais. 19 2 A IMPERFEITA SEPARAÇÃO DOS PODERES Montesquieu não iria acumular em um só órgão o poder de legislar, executar e julgar, era nítido esse medo de deixar tudo por conta de um só órgão, pois se assim o fizesse não estaríamos em harmonia com um governo democrático. O que Montesquieu fez foi atribuir a três órgãos distintos as três funções. Tendo cada poder seu órgão, e sua função, atuando assim de forma independente e autônoma. Muito embora os três poderes forem independentes e harmônicos entre si e tendo sido considerado princípio constitucional, percebe-se então que existe certa fragilidade desse preceito. Embora pareça ser um sistema rígido, na pratica é muito diferente, pois se mostra um sistema mais flexível, onde existem diversos episódios de interferência ocorrendo, gerando assim instabilidade no processo democrático. JOSÉ AFONSO explica(2011, p.109): “Hoje o princípio não configura mais aquela rigidez de outrora. A ampliação das atividades do Estado contemporâneo impôs nova visão da teoria da separação de poderes e novas formas de relacionamento entre os órgãos legislativo e executivo e destes com o judiciário, tanto que atualmente se prefere falar em colaboração de poderes, que é característica do parlamentarismo, em que o governo depende da confiança do Parlamento (Câmara dos Deputados), enquanto no presidencialismo, desenvolveram-se as técnicas da independência orgânica e harmonia dos poderes.” O constitucionalista José Afonso ainda discorre sobre a harmonia entre os poderes (p.110): “A harmonia entre os poderes verifica-se primeiramente pelas normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm direito. De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão de funções entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas. Há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em detrimento do outro e especialmente dos governados.” 20 Cada dia vemos o judiciário decidir questões de grandes relevos, podendo incorrer no chamado ativismo judicial, esse fenômeno recebe inúmeras críticas, por colocar em risco a separação de poderes. Temos assim um problema continuo que impulsiona na formação dos poderes, gerando certa crise no exercício dos poderes. 2.1 Sistema de controle entre os poderes Como já analisado anteriormente, superamos a ideia de prevalência de um poder sobre o outro. Percebe-se que existe a necessidade de harmonia e equilíbrio, mesmo havendo interferências reciproca em suas funções. É a partir de então que se pode pensar em existir certo controle de vigilância de um poder sobre o outro, qual seja relativo aos deveres constitucionais de cada poder. É ai que pensamos no controle, sendo definido como o exercício e o resultado especifica das funções que estão destinados. E podemos dividir esse controle em modalidades, sendo elas: cooperação, consentimento, fiscalização e correção. Entende-se por controle de cooperação, quando existe uma obrigatória coparticipação de um poder no exercício de outro poder, onde um poder pode interferir de alguma maneira na execução de uma função típica do poder a qual foi interferido. Tendo como finalidade dessa interferência a garantia a legalidade quanto a legitimidade pertinente aos dois. Como podemos observar nos exemplos de MOREIRA NETO: “Controle de cooperação do Executivo sobre o Legislativo: as funções presidenciais de sanção e de veto de projetos de lei, as de iniciativa facultativa de legislação e a competência do Presidente da República de nomear um terço dos membros do Tribunal de Contas da União. Ao revés, são hipóteses de controle de cooperação do Poder Legislativo sobre o Executivo, as competências atribuídas ao Parlamento para colaborar obrigatoriamente no exercício de várias funções administrativas típicas, como a elaboração de orçamentos, e fixação de efetivo das Forças Armadas c a criação de cargos públicos, entre outras como as que são atribuídas ao Senado Federal em matéria financeira.” O controle de fiscalização é exercido pelo desempenho de suas funções de vigilância, exame e sindicância dos atos de um poder sobre o outro. MOREIRA NETO explica: “Pela fiscalização, o Poder interferente o que desenvolve essa função atípica, tem a atribuição constitucional de acompanhar e de formar 21 conhecimento da prática funcional do Poder interferido, com a finalidade de verificar a ocorrência de ilegalidade ou ilegitimidade em sua atuação. O controle de fiscalização, na Constituição de 1988 é atribuição maciçamente cometida ao Poder Legislativo: como é sabido, tornou-se característica dos regimes representativos a dupla missão parlamentar de legislar e de fiscalizar. De certa forma essas duas atribuições estão estreitamente vinculadas, pois é inegável que o Legislativo deve dispor de todas as informações necessárias para desempenhar-se de sua função típica. Por outro lado, o Poder Legislativo é a instância final da legitimidade, como o Poder Judiciário o é da legalidade. Como câmara de ressonância dos interesses, anseios e aspirações da Nação, cabe-lhe a permanente tarefa de não só transferir a legitimidade para o direito positivo como de aferir, sob esse critério, o desempenho dos demais Poderes. Ao Poder Legislativo sempre restará, diante das decisões finais de execução dos dois outros Poderes que lhe pareçam ilegítimas, não obstante legais, alterar a própria lei, de modo que o ilegítimo passe a ser, igualmente, ilegal”. O controle de consentimento é realizado diante do desempenho das funções atributivas de exequibilidade ou eficácia aos atos do outro poder. E entenderemos melhor com a explicação de MOREIRA NETO: “Pelo consentimento, o Poder interferente, o que executa essa função que lhe é atípica, satisfaz a uma condição constitucional de eficácia ou de exequibilidade de ato do Poder interferido, aquiescendo ou não, no todo ou em parte, conforme o caso, com aquele ato, submetendo-o a um crivo de legitimidade e de legalidade. São muitos os exemplos em que se comete ao Poder Legislativo funções de interferência em atos do Executivo exigindo consentimento para validálos ou aplicá-los.” Por fim, o controle de correção se concretiza no desempenho de funções atribuídas a um poder,sustando ou desfazendo atos praticados por um outro poder. Podemos perceber que esta é a mais rigorosa das modalidades com a explicação de MOREIRA NETO: “O Poder Judiciário exerce a função típica do controle corretivo de legalidade, mas a Constituição atribui ao Poder Legislativo, como função atípica, essa modalidade, não só, em geral, para o controle de legitimidade como, em certos casos, para o controle de legalidade. Quanto ao Poder Executivo, não tem expresso nenhum poder de correção sobre atos dos demais embora disponha de dois instrumentos jurídicos de grande expressão: a provocação do Supremo Tribunal Federal em ação de inconstitucionalidade e a competência, que lhe tem sido reconhecida, para desaplicar lei manifestamente inconstitucional. São exemplos de controle de correção atribuídos ao Legislativo, entre outros, os seguintes: o julgamento dos responsáveis em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, a rejeição, expressa ou tácita, de medida provisória editada pelo Presidente da República e a suspensão do estado de defesa, da intervenção federal e do estado de sítio”. 22 2.1.1 Executivo A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 76 corrobora “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República auxiliado pelos Ministros de Estado.” Então foi através desse artigo que a Constituição confiou a Chefia do Executivo ao Presidente da República, consagrando o presidencialismo, concentrando assim a uma única pessoa a chefia dos negócios do Estado e do Governo. A função típica do Executivo é a de administrar a coisa pública, e tem como função atípica a de legislar (art. 62) e julgar no contencioso administrativo. Montesquieu concebeu ao Poder Executivo como definidor e realizador constante da politica de ordem interna e das relações exteriores. Como no âmbito federal o executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado, no âmbito estadual e distrital esse poder é exercido pelo Governador de Estado, sendo auxiliado pelos Secretários de Estado, já no âmbito municipal fica conferido ao Prefeito. Existe um sistema de pressão o qual é exercido pelo Chefe do Poder Executivo, sobre os deputados e senadores para obter uma maioria no Congresso Nacional, obtendo êxito assim em votações de matérias de seu interesse. Com essa pressão, fica evidente um mecanismo de contrapartida e compensações, que são lícitas, mas também algumas ilícitas, pelo jogo de interesse e a influencia que um tem sobre o outro. Existem também os cargos de critérios políticos, que são aqueles por indicação, o cargo de Ministro de Estado é um exemplo, pois é uma indicação sem o menor critério de competência, satisfazendo assim os integrantes de alguns partidos, para que estes os obedeçam. Estão sendo editadas medidas provisórias de forma excessiva, onde a sua produção em grande demanda pode ser considerada abuso de poder, por afrontar a função típica do Congresso Nacional, que esta prevista no processo legislativo. E com isso o Executivo tenta refazer a ordem jurídica, fugindo assim dos parâmetros constitucionais. Caracterizando, deste modo, usurpação de competência do Legislativo, com violação dos princípios da independência e harmonia dos poderes do estado Democrático de Direito. 23 Assim, além de por vezes invadir área a qual fora reservada ao Legislativo, o Executivo, também o faz em relação à competência do Judiciário. 2.1.2 Legislativo No Brasil vigora o bicameralismo federativo em âmbito federal, ou seja, o Poder Legislativo é bicameral, composto por duas casas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. A Câmara dos Deputados é constituída por representantes do povo e o Senado por representantes das ordens jurídicas, ou seja dos Estados-Membros e do Distrito Federal. Evidenciado no art. 44 da Constituição Federal de 1988, que diz: “o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal”. Já no Legislativo em âmbito estadual, municipal, distrital e dos Territórios Federais, é do tipo unicameral, pois é composta de uma única casa, conforme os artigos 27, 29, 32 e 33 § 3º da CF/88. Como explica Marcelo Alexandrino (2017, p.426): “Sabemos que ao Poder Legislativo incumbe, como função precípua, a elaboração das leis. Entretanto, o Legislativo não é livre para elaborar leis; ele deve obedecer, formal e materialmente, às disposições constitucionais. Por isso, a própria Constituição prevê que um outro Poder Executivo, aprecie o projeto votado no Legislativo e, caso entenda que ele não se coaduna com a Constituição, vete o projeto, impedindo (como regra) que ele venha a tornar-se lei. Além disso, a mesma Constituição confere a outro Poder, o Judiciário, a atribuição de declarar uma lei inconstitucional, afastando sua aplicação em determinado caso, ou mesmo retirando-a do ordenamento jurídico.” As funções típicas do Poder Legislativo são de legislar e fiscalizar, cabendo a ele as regras constitucionais do processo legislativo, elaborando as normas jurídicas gerais e abstratas. Já as funções atípicas do Legislativo são as de administrar e julgar. Assim como os demais Poderes, o Legislativo é autônomo e independente, o que garante auto-organização, explicitada na Constituição Federal. 24 Fica claro que muitos dos integrantes do Legislativo não possuem conhecimentos técnicos para o exercício da função legislativa. E o que possuem tal conhecimento, nem sempre os usa em favor dos que o elegem. 2.1.3 Judiciário O Poder Judiciário é um dos três poderes, qual sua função não consiste somente em administrar a Justiça, pois seu mister é ser o guardião da Constituição, preservando os princípios. Como afirma Alexandre de Moraes (2017, p. 364): “Assim, é preciso um órgão independente e imparcial para valer pela observância da Constituição e garantidor da ordem na estrutura governamental, mantendo nos seus papéis tanto o Poder Federal como as autoridades dos Estados Federados, além de consagrar a regra de que a Constituição limita os poderes dos órgãos da soberania. A constituição Federal enumera, no art. 92, os órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça (EC nº 45/04), o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho (EC nº 92/16), os Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, disciplinando-os a seguir, com ampla independência.” A função típica do Judiciário é a jurisdicional, sendo assim, julgar, aplicando a lei a um caso concreto, resultante de um conflito de interesses. E suas funções atípicas são as de natureza administrativa (art. 96, I, “b” e “f”) e legislativa (art. 96, I “a”). Pedro Lenza (2015, p. 1180) conceitua jurisdição como “uma das funções do estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” sendo assim o Estado desempenha sua função por meio de processos. A autonomia financeira do Judiciário consiste na elaboração de suas propostas orçamentarias pelos tribunais, estas que são estipuladas dentro dos limites feitos com os demais poderes. Os orçamentos serão encaminhados ao Legislativo que poderá aprovar ou não, conforme o acerto com o Executivo. Sendo o Judiciário dependente dos repasses do governo. 25 Os integrantes dos tribunais superiores e do quinto constitucional dos tribunais dos Estados e do Distrito Federal são de dependência do Judiciário, escolhido pelo chefe do Executivo e para essas escolhas são movimentações políticas feitas por troca de favores e pedidos. Observa-se então que o Judiciário é desprovido de intenções politicas, onde o Executivo ou Legislativo não controla e nem influência o Judiciário.Porém, muitos dos membros do Judiciário, pelos interesses que representam detêm de uma vontade constante e insaciável de apropriar-se do controle total do poder. 2.1.3.1 O Supremo Tribunal Federal O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário e foi instituído em 1808 no período colonial quando era chamado de “Casa da Suplicação do Brasil”, já em 1828 ficou conhecido como Supremo Tribunal de Justiça, e só na Constituição de 1937 a ficou conhecido como Supremo Tribunal Federal. Além de ser o órgão mais antigo, ele se encontra no topo da organização judiciária, sendo caracterizado como um órgão superior de cúpula do Poder. O STF compõe-se de onze ministros, escolhidos dentre pessoas de notável saber jurídico e reputação ilibada, que são nomeados pelo Presidente da República, depois da escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Artigos 84, inciso XIV; e artigo 101 da Constituição Federal: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; (...) Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. 26 Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Estabelecendo assim um vínculo indesejado entre o ministro indicado e o Presidente da República que o indicou. Este vínculo acaba por ferir, fatalmente, a independência e imparcialidade que necessitaria ter, todo o juiz, na hora de julgar. A função básica do STF é a de tutelar a Constituição Federal, conforme diz o artigo 102 da CF/88 “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição”. As competências do STF estão enumeradas nos arts. 102 e 103 da Constituição Federal, podendo ser divididas em competências originárias e competência recursal. Além do controle de constitucionalidade, a atividade fundamental para o Estado Democrático de Direito e que deve ser exercido com cautela, o STF atua em diversas searas, entre elas a recursal. Os Poderes Executivo e Legislativo em sua função de produção normativa, de legislar, não ficam vinculados a decisões do STF, visando impedir a ocorrência do fenômeno de fossilização da Constituição. Portanto, mesmo que o STF declare uma determinada lei inconstitucional, o Poder Legislativo pode editar nova lei com idêntico teor daquela que outrora fora declarada inconstitucional pela Corte, ou ate mesmo o Presidente da República editando uma medida provisória com o mesmo teor da lei. 2.3 O Ministério Público Foi necessário um sistema que garantisse ao Estado o exercício de funções. Buscando o aperfeiçoamento do processo democrático, e o constituinte de 1988 ao perceber essa necessidade de criar um órgão para essa função de fiscalização, assim o fez. Sabe-se que o Poder Judiciário não age por iniciativa própria, independentemente de provocação, em razão do princípio da inércia. Apesar de o Ministério Público ser imprescindível para o perfeito funcionamento da justiça, ele não integra o Poder Judiciário, muito pelo contrário, o circundam externamente, tendo como objetivo tornar factível à prestação jurisdicional. 27 Muito embora o Ministério Público não seja um quarto poder, é um órgão autônomo essencial para a democracia. O conceito é dado pelo artigo 127, caput: “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Existe na doutrina quem entenda em sentido diverso, vinculando a instituição ao Poder Executivo, é assim que entende José Afonso da Silva (2011, p.598): “(...) não é aceitável a tese de alguns que querem ver na instituição um quarto poder do Estado, porque suas atribuições, mesmo ampliadas aos níveis acima apontadas, são ontologicamente de natureza executiva, sendo, pois uma instituição vinculada ao Poder Executivo, funcionalmente independente, cujos membros integram a categoria dos agentes políticos, e, como, tal, hão de atuar com plena liberdade funcional, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais.” Para exercer sua função, o Ministério Público necessita de autonomia em relação aos outros órgãos ou poderes, ocorrendo o mesmo com os Tribunais de Conta, mesmo sendo formalmente vinculados ao Legislativo. Segundo Alfredo Valladão (1973, p.25): O Ministério Público se apresenta como uma figura de um verdadeiro Poder do Estado. Se Montesquieu tivesse escrito hoje o “Espírito das Leis”, com segurança não havia sido tríplice se não quádrupla a divisão dos Poderes. Um órgão que legisla, um que executa, um que julga, devendo existir, também, um que defenda a sociedade e a lei ante a Justiça parta a ofensa de onde partir, é dizer, dos indivíduos ou dos próprios Poderes do Estado Além de garantir e fiscalizar a Separação dos Poderes, o legislador conferiu ao Ministério Público funções de resguardo ao status constitucional dos indivíduos, assim sem o Ministério Público não existiria prestação jurisdicional. 2.3 A problemática entre os poderes O império foi degradado e o Brasil passou a ser uma república presidencialista, e seu aparato políticos e procedimentais foram divididos em três poderes. De acordo ao que esta transcrita em nossa Constituição os três poderes, deveriam, em tese, 28 viver em uma harmonia, garantindo um bom funcionamento do Brasil e a aplicabilidade da legislação. A sintonia entre os poderes anda abalada, resultando desentendimento entre eles, sendo esses desentendimentos por polêmicas e confusões entre os limites de atuação de cada parte e isso vem causando constantes trocas de farpas entre seus representantes. Muito embora a harmonia entre os poderes se construa por meio de conflitos e embates, mas não de forma exacerbada. Não é de agora que começaram a existir conflitos entre poderes, na historia republicana já existia embates entre eles, desde a República Velha, a qual teve seu ápice durante os governos militares. Porém só agora as divergências estão envolvendo os três poderes simultaneamente. Foi após quatro anos da instauração da República, que o presidente na época Floriano Peixoto enfrentou um embate com o Judiciário. Contrariando a Corte, a qual na época era chamada de Supremo Tribunal de Justiça, Floriano inviabilizou o funcionamento do Tribunal, onde deixou de promover indicações das cadeiras que estavam vagas, um terço dos 15 postos ficaram vagos e a solução foi suspender as sessões por falta de quórum. Após esse episodio o Legislativo começou a rejeitar nomes que eram indicados pelo Chefe do Executivo. Houve inumes outras disputas entre Legislativo e Executivo, entre o Executivo e o Judiciário, mas foi agora que o embate entre os três Poderes ficou complicado, criando assim uma tensão não só entre eles, mas também o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal. Há algum tempo as brigas internas se tornaram cada vez mais frequentes, tendo tido cada vez mais repercussão nos noticiários e na agenda pública, causando assim insegurança jurídica, sendo assim um reflexo direto de como a crise política afetou os três Poderes, foi falado até em uma possível guerra entre os Poderes, onde todos querem sair por cima e o partidarismo e interesses nacionais se sobrepõe ao bem comum,e quem está perdendo com essa “guerra” é a nação. A crise pela qual passa o país, no que diz respeito aos casos de corrupção descobertos entre políticos e a consequente crise da democracia é devida a desarrumação do princípio da separação dos poderes. 29 Mesmo de forma lenta, o Brasil esta em recuperação de economia e os três Poderes precisam assumir seus postos, afinal sempre foi o objetivo daqueles que marcharam pela República Presidencialista, que hoje esta um caos. 30 3 A INSEGURANÇA JURÍDICA 3.1 Surgimentos do ativismo judicial Como podemos abordar diante da historia, muitos doutrinadores tem suas concepções de quando surgiu o chamado ativismo judicial. Para Luiz Roberto Barroso, o ativismo surgiu em uma época de profundas revoluções. “As origens do ativismo judicial remontam à jurisprudência norteamericana. Registre-se que o ativismo foi, em um primeiro momento, de natureza conservadora. Foi na atuação proativa da Suprema Corte que os setores mais reacionários encontraram amparo para a segregação racial (Dred Scott v. Sanford, 1857) e para a invalidação das leis sociais em geral (Era Lochner, 1905-1937), culminando no confronto entre o Presidente Roosevelt e a Corte, com a mudança da orientação jurisprudencial contrária ao intervencionismo estatal (West Coast v. Parrish, 1937). A situação se inverteu completamente a partir da década de 50, quando a Suprema Corte, sob a presidência de Warren (1953-1969) e nos primeiros anos da Corte Burger (até 1973), produziu jurisprudência progressista em matéria de direitos fundamentais, sobretudo envolvendo negros (Brown v. Board of Education, 1954), acusados em processo criminal (Miranda v. Arizona, 1966) e mulheres (Richardson v. Frontiero, 1973), assim como no tocante ao direito de privacidade (Griswold v. Connecticut, 1965) e de interrupção da gestação (Roe v. Wade, 1973).” Ainda complementa, Barroso: “Ativismo judicial é uma expressão cunhada nos Estados Unidos e que foi empregada, sobretudo, como rótulo para qualificara atuação da Suprema Corte durante os anos em que foi presidida por Earl Warren, entre 1954 e 1969. Ao longo desse período, ocorreu uma revolução profunda e silenciosa em relação a inúmeras práticas políticas nos Estados Unidos, conduzida por uma jurisprudência progressista em matéria de direitos fundamentais (...)Todavia, depurada dessa crítica ideológica – até porque pode ser progressista ou conservadora – a ideia de ativismo judicial está associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Podere” 31 O ativismo judicial seria uma afronta à Separação dos Poderes, usurpando as funções da legislatura ou da autoridade administrativa. Para Cláudia Toledo: Embora a expressão ativismo judicial não possua conceito unívoco, muitas vezes se confundindo com uma atividade positiva do poder judiciário, o mais adequado é a não confusão entre os termos “ativismo” e “atuação” judicial. Já por sua origem etimológica, o sufixo “ismo” é frequentemente associado a uma conotação negativa, motivo por que se entende pertinente tratar o ativismo judicial não como qualquer atuação do judiciário, mas como sua atuação excessiva, da qual resulta ingerência judicial indevida na competência dos demais poderes do Estado. Continuando Cláudia Toledo entende que: A relação entre ativismo judicial e o princípio da separação dos poderes, princípio formal basilar ao Estado de Direito, é notória. Por esse princípio, o poder do Estado é uno, sendo seu exercício tripartido para sua maior eficiência. Para que não haja nem abuso de poder, nem omissão no seu exercício, o princípio da separação dos poderes tem, como seu elemento integrante, o sistema de freios e contrapesos. Por esse sistema, os poderes estatais exercem controle recíproco entre si, ou seja, a cada poder é atribuída não somente uma competência própria e originária, mas também o dever controle sobre os outros poderes. O contrário de ativismo é a autocontenção judicial, essa se da quando o Judiciário tenta reduzir sua interferência nas ações dos outros Poderes. Por isso, juízes e tribunais tendem a evitar a aplicação direta da Constituição a situações que não estejam em âmbito de incidência expressa, aguardando assim o pronunciamento do legislador ordinário. O ativismo judicial tenta arrebatar o máximo das potencialidades do texto constitucional, sem invadir tanto o campo da criação livre do Direito. A autocontenção restringe o espaço de incidência da Constituição em favor das instâncias tipicamente políticas. É ai que evidencia que os juízes não são agentes políticos, eleitos pelo povo, que possam carregar legitimidade para decidir a vontade da população. Acontece que essa legitimidade esta servindo para assegurar as regras do jogo democrático, propiciando assim a participação ampla e o governo da maioria. 32 3.2 Ativismo judicial versus judicialização da política Para Luiz Roberto Barroso (2009, p.6): “A judicialização e o ativismo judicial são primos. Vêm, portanto, da mesma família, frequentam os mesmos lugares, mas não têm as mesmas origens. Não são gerados, a rigor, pelas mesmas causas imediatas. A judicialização, no contexto brasileiro, é um fato, uma circunstância que decorre do modelo constitucional que se adotou, e não um exercício deliberado de vontade política. Em todos os casos referidos acima, o Judiciário decidiu porque era o que lhe cabia fazer, sem alternativa. Se uma norma constitucional permite que dela se deduza uma pretensão, subjetiva ou objetiva, ao juiz cabe dela conhecer, decidindo a matéria. Já o ativismo judicial é uma atitude, a escolha de um modo específico e proativo de interpretar a Constituição, expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em situações de retração do Poder Legislativo, de um certo descolamento entre a classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais sejam atendidas de maneira efetiva.” Com a Constituição de 1988 o Brasil passou por uma revolução na ordem jurídica, inovando direitos que já estavam constituídos e trazendo mecanismos novos para garantia do seu cumprimento. Os poderes do Judiciário foram ampliados com o advento da Constituição de 1988, e assim puderam participar de forma mais presente na realização dos fundamentos constitucionais, onde pode envolver um relacionamento bem maior entre o direito e a política. Podemos entender que a Judicialização da politica é um fato o qual se vive no atual cenário jurídico, e o ativismo judicial seria uma atitude do Poder Judiciário, que tem enfoque no STF, onde passa a utilizar os fundamentos da Constituição em sua atuação, e muitas vezes vem a ser acusado de intervir na função de outros dois poderes. Em nosso ordenamento podemos concluir que política e Direito estão ligados diretamente, assim quando a política não oferece a concretização ou produção normativa em forma de direito consolidado, terá que recorrer ao Poder Judiciário, para assim fazer valer o que está previsto em nossas normas. Para Barroso: 33 “Direito é política no sentido de que (i) sua criação é produto da vontade da maioria, que se manifesta na Constituição e nas leis; (ii) sua aplicação não é dissociada da realidade política, dos efeitos que produz no meio social e dos sentimentos e expectativas dos cidadãos; (iii) juízes não são seres sem memória e sem desejos, libertos do próprio inconsciente e de qualquer ideologia e, conseqüentemente, sua subjetividade há de interferir com os juízos de valor que formula. A Constituição faz a interface entre o universo político e o jurídico, em um esforço para submeter o poder às categorias que mobilizam o Direito, como a justiça, a segurançae o bem- estar social. Sua interpretação, portanto, sempre terá uma dimensão política, ainda que balizada pelas possibilidades e limites oferecidos pelo ordenamento vigente.” Assim caracterizamos o ativismo judicial como sendo um modo especifico e proativo onde irá interpretar a constituição, com a expansão de seu sentido e alcance, sem interferir no campo da criação do livre direito. A tensão que existiu entre o Executivo para com o Judiciário, com a transferência do Estado Social para o Estado democrático de Direito, com a constituinte de 1988, após a segunda guerra mundial, a legitimação dos direitos humanos e a influência dos sistemas americanos e europeu contribuiu para a concretização da judicialização da política no Brasil. A judicialização da política trata de uma questão social, onde a legitimação de direitos e regulamentação constitucional que desaguarão no Judiciário, não depende deste para que isso ocorra. Como o Judiciário teve seu papel ampliado no pós-constituinte de 1988, ele pode revogar atos de outros poderes, possibilitando a interpretação de estender a sentença baseando nos princípios e fundamentos constitucionais. Assim o problema do ativismo judicial envolve o exercício do controle de constitucionalidade e a existência de omissão legislativa. Porem uma das causas que pode ter contribuído para o ativismo judicial, seriam a inercia dos outros três poderes, e assim o juiz conduzia o processo tendo total autonomia e eficácia para realizar a lide. O ativismo no Brasil é caracterizando pela adoção de um modelo que não é seu, o qual foi importado dos Estados Unidos, e assim o utilizando de forma 34 despojada do contexto de seu surgimento. Assim o instituto do ativismo não funciona no Brasil da forma que deveria. É comprometida a democracia com ativismo judicial, onde através dos valores, juízes e tribunais se desvinculam da legalidade, abrindo assim ao julgador a escolha da aplicação dos princípios que serão colocados em colisão. Atualmente, observamos o crescimento do ativismo no Judiciário, mas os poderes devem ser distribuídos na tripartição, pois para serem garantidos os direitos fundamentais se faz necessário existir o equilíbrio entre eles, assim respeitando a democracia e prevalecendo a vontade do povo. 3.3 Disputa entre os poderes e o equilíbrio afetado Temos como pilar da democracia a separação dos poderes, porém a crise política e econômica que está assolando o país criou alguns pontos de atrito entre os poderes. Conflitos entre os poderes durante a história do Brasil, revelaram que instabilidades que estabeleceram ditaduras e foram iniciadas por conta dessas disputas institucionais. Mesmo com inúmeros conflitos na historia, alguns consolidaram e fortaleceram a estabilidade do arranjo entre os poderes. O que ocorre na prática é um jogo de interesses políticos, onde marcam desacordos e disputas que ocorrem entre os Poderes e até mesmo dentro de cada um deles. Um país democrático, a partir desse conflito, percebemos que algumas decisões se tornam extremamente exacerbada de um poder sobre o outro, do ativismo que não cabem a certo Poder. Onde se deve ter limites, para assim por em prática a democracia, o primeiro passo é ter ciência sobre a fragilidade desta mesmo democracia. E nessas disputas de quem pode mais entre os poderes, o que fica claro é que cada um quer garantir sua impunidade e manter seus superpoderes intactos, e enquanto isso tenta acordos buscando seus benefícios e quem sofre é o povo, vivendo nessa instabilidade política. Existiram e existem diversos momentos complicados de conflitos e mudanças que estão acontecendo em instâncias diferentes. Temos como exemplo diversos 35 casos, ocorreu entre o Executivo e o Legislativo um embate que culminou no impeachmet da Dilma Rousseff, outras series de conflitos acontecendo no Judiciário e outro níveis, além das disputas de caráter político e institucional. No Judiciário temos como exemplo uma corte institucional, que tem como função tirar dúvidas de questões de natureza mais estruturante e constitucional, passando a influenciar no dia a dia. Foi dado ao Judiciário bastante poder, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Judiciário ficava mais contido, após certo tempo ele passou a exercer um poder político. O que de fato tem acontecido é que os Poderes que sempre de consideram políticos, começaram a judicializar as questões politicas. Quando uma minoria perde uma decisão deliberativa no Legislativo, ela judicializa, entrando com um mandado de segurança, ou uma ADI, e assim o vencido em votações políticas começaram a recorrer ao Supremo, dizendo que está havendo uma violação a Constituição. Acontece que o que deveria existir que é a democracia, onde o Congresso Nacional deveria intervir com diálogos, ele está fazendo de maneira incompleta, e acabam surgindo dúvidas e questões que envolvem o STF, onde será o Supremo que terá que mediar esta discursão e ai voltou à dinâmica dos “políticos de toga”. E depois de tantas questões serem levadas ao Supremo, por ser o guardião da Constituição, foi aberto um espaço para que eles reconfigurassem seu papel. É visto como desrespeito a nossa Corte Suprema, ter essa linha divisória entre as funções de dois poderes, pois o STF passou a atuar como legislador positivo e assim praticando o ativismo judicial, destruindo assim o equilíbrio entre os poderes. Quem deve criar o direito positivo é o Poder Legislativo, através de normas e qualquer outro poder sendo legislador positivo afronta ao princípio democrático. O Brasil passa por um período de degradação da democracia, onde o órgão superior juridicamente alarga demasiadamente o limite de sua própria jurisdição. E assim percebe-se que eles têm usurpado a competência legislativa do Congresso Nacional por meio de um ativismo judicial desenfreado. Exemplos de embates que trouxeram o desequilíbrio entre os poderes podem ser listados: 36 Entre o Executivo e o Judiciário podemos listar como exemplo quando o STF proibiu que membros do Ministério Público pudessem exercer cargos fora da instituição, decisão essa que impediu que Wellington César Lima e Silva, que foi nomeado duas semanas antes pela presidente na época Dilma Rousseff para o cargo de ministro da justiça ficasse na pasta. Outro exemplo foi quando o Ministro do STF Gilmar Mendes barrou a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil do governo Dilma, o ministro avaliou que a medida tinha como intuito de obstruir a justiça. No Legislativo e Executivo temos como exemplo quando o governo orientou parlamentares do PT a votar pela abertura do processo de cassação do presidente da Câmara que estava envolvido no esquema da Lava-Jato. O Eduardo Cunha retaliou a presidente Dilma no mesmo dia, aceitando assim um dos pedidos de abertura do processo de impeachment, além disso Eduardo Cunha determinou agilidade no processo de impeachmet da Dilma, abrindo sessões nas segundas e sextas no Congresso, o que não é comum no Parlamento brasileiro. Isso porque a época em que o Eduardo Cunha fez campanha para a presidência da Câmara, não contou com o apoio de Dilma, depois desse episodio os confrontos forram recorrentes. Já entre o Legislativo e o Judiciário, o STF decidiu suspender a comissão formada para analisar o impeachment da então presidente Dilma, e os ministros definiram um rito para o processo e deram poder ao Senado para decidir sobre o afastamento da presidente. Após esses fatos, muitos outros aconteceram, em 2015 a prisão de Delcídio do Amaral, em 2016 a saída de Eduardo Cunha, em 2016 quando a presidente do STF Carmén Lúcia se recusou a participar de uma reunião com os presidentes dos três poderes, e assim sucederam inúmeros outros casos. Vimos que ao Legislativo cabe a edição denormas gerais e impessoais, assim estabelecendo um processo para a elaboração destas normas, onde o executivo tem uma importante participação, seja pela iniciativa das leis ou pela sanção, e até mesmo pelo veto. Mas essa iniciativa do Executivo é compensada pela prerrogativa que o Congresso Nacional tem em poder alterar os projetos por meio de emendas e podendo ate rejeitá-los. Então o Chefe do executivo, por sua vez, que tem o poder 37 de veto, poderá aplicar aos projetos de iniciativa do Legislativo (Deputados e Senadores), com relação as emendas aprovadas e projetos de sua iniciativa. Por outro lado, o Congresso, com voto da maioria absoluta de seus membros, detém do direito de rejeitar o veto, sendo assim o Presidente do Senado poderá promulgar a lei nos casos em que o Chefe do executivo não o fizer no prazo previsto em lei. Nos casos dos tribunais, esses não podem interferir no Legislativo, mas são autorizados a declarar a inconstitucionalidade das leis, retirando assim a validade, a vigência e a eficácia desta lei, assim exercendo seu papel de guardião da Constituição, sendo portando o legislador negativo. Já o Judiciário, incluindo o STF, não pode ser o legislador positivo, suprindo o Poder Legislativo, sempre que este não produza a norma permitida ou exigida pela CF. Por sua vez o Presidente da República não pode intervir na atividade jurisdicional, em compensação os ministros dos tribunais nomeados por ele, dependem de um controle do Senado, que deve aprovar a indicação. Resta claro que com a evolução do Estado moderno, a tripartição dos poderes, se tornou insuficiente tendo em vista a necessidade de controle democrático. Embora a Constituição não tenha dito em seu texto que o Ministério Público seja um quarto poder, lhe concedeu autonomia funcional e qualquer poder que tente subordinar a função de fiscalização do Ministério Público, será uma medida de reduzir o controle democrático, até mesmo da própria constituinte, E assim percebemos algumas manifestações do chamado freios e contrapesos. Os três poderes, devem se subordinar ao princípio da harmonia, tendo em vista que a desarmonia de dá sempre que se aumenta atribuições, faculdades e prerrogativas de um em detrimento de outro. 3.4 A busca pelo reequilíbrio Sabe-se que de vez em quando o Executivo terá que legislar, ou o legislativo eventualmente terá que julgar, tais sobreposições dinâmicas irão acontecer, porém teremos o sistema de freios e contrapesos e uma divisão funcional entre eles. Para que possamos reestruturar a divisão dos Poderes, temos que utilizar como fundamentação dois elementos, um seria a especialização funcional e o outro a independência orgânica. 38 A especialização formal seria a independência manifestada pela inexistência de qualquer meio de subordinação de um poder sobre o outro, já a independência orgânica cada órgão seria especializado no exercício de uma função. Como vimos em nosso artigo 2º da Constituição Federal, não nos resta dúvidas de que as funções são indelegáveis, e cada um dos Poderes exercendo sua função com harmonia e independência em relação aos demais. Podemos perceber que no quarto titulo da Constituição dispõe sobre a organização dos poderes, expressando as funções típicas e atípicas de cada um deles. Temos que nossa Carta Magna expressa e admite delegação ou admitindo que um Poder possa exercer função alheia, sendo assim, atípica. Com essa separação das atividades estatais, é perceptível que não existe uma separação absoluta entre os três Poderes, e eles legislam, administram e julgam, onde a função típica de um órgão é a atípica de outros, sabendo que o aspecto da tipicidade se dá com preponderância. Onde o Executivo tem a atribuição de conduzir um país, e o Presidente é o natural poder deste governo, decidindo assim sobre conflitos do país, sempre que necessário. É necessário limite para o exercício deste poder, pois o homem que tem poder muitas das vezes abusa dele, e o Executivo não pode abusar do poder, pois abusando estaria violando o princípio da democracia. O estado tem que acompanhar as transformações, e se adequar a elas, não assistindo tudo de forma pacifica. Devendo ter como seu papel principal sua responsabilidade, tendo mais responsabilidade, assim encarando novos desafios, ao contrário irá perder muito mais a confiança da sociedade. É preciso reorganizar os Poderes. Para Montesquieu: O Direito Positivo é formulado pelo homem aplicando a razão. Mas o homem, nessa formulação, não age só pela razão, pelo raciocínio teórico, arbitrariamente. Tem de atender às condições de vida do seu povo. Tem de ater-se a todas as condições. Com lógica. A independência a harmonia que deve haver entre os poderes, para existir, cada Poder deverá seguir fielmente o seu papel, onde o Executivo irá governar observando as leis, o Legislativo fiscalize o executivo e cumpra seu papel que é 39 legislar de forma clara, e o Judiciário julgue as lides na forma da lei e em determinado tempo, não fazendo a sociedade esperar tanto. Sendo assim seria necessário que os Poderes fossem exercidos para a população, como o poder tendo ao abuso, ele deve ser repartido, havendo assim uma segurança jurídica para o povo. 40 CONCLUSÃO Concluímos que o Estado é um conjunto de indivíduos, o povo, que estão estabelecidos em um território onde obedecem a um governo soberano. E para ser considerado Estado deve ser reunido três elementos: povo, território e um governo. A formação e evolução do Estado trouxeram conquistas individuais e sociais da humanidade onde foram criados instrumentos e mecanismos que pudessem trazer direitos e garantias concretos do povo e do estado. A teoria da tripartição dos Poderes de Montesquieu influenciou em nosso sistema Constitucional, garantindo segurança a população brasileira. Essa teoria aplacou eventuais excessos do regime absoluto, no qual apenas o governante era detentor dos poderes do Estado. A teoria da tripartição dos poderes teve inicio em Montesquieu, mesmo que tenha antes sido comentada por Aristóteles, posteriormente por Locke, mas Montesquieu melhorou a especificação dela. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto a teoria da tripartição dos Poderes, na organização deles, dentro do sistema brasileiro. A Separação dos Poderes é um princípio previsto no artigo 2º de nossa Carta Magna. Em nosso sistema político, os poderes Executivo, Legislativo e o Judiciário, estão buscando seu poder político, porém um poder se torna refém do outro, por ao mesmo tempo serem autônomos entre si, dependem um do outro de certa forma. Vimos que o Ativismo Judicial vem crescendo ao tempo em que o Poder Judiciário efetiva através de ações. A todos os momentos tem sido observado decisões ativista, onde representa tamanha violação ao regime democrático de direito e também aos princípios constitucionais da soberania popular e da separação de poderes, os quais estão expressos na Constituição Federal. Certa anomalia precisa ser corrigida por mecanismos que fomentem o diálogo institucional entre os Poderes. Portando deve suprimir qualquer parcela, por menor que seja, da competência dos Poderes Públicos. Conclui-se que os poderes deveriam ser independentes, porém não podemos negar que existe a necessidade de controle mútuo, para que tenha um melhor 41 desempenho de prerrogativas constitucionais. A sociedade tem que se conscientizar que deve participar na realização das atividades estatais. 42 REFERÊNCIAS BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Revista Atualidades Jurídicas – Revista Eletrônica do Conselho Federal da OAB. Ed. 4. Janeiro/Fevereiro 2009 Disponível em: < https://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_para_Selec ao.pdf>. Acesso em: 21/03/2019. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 20/03/2019 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional; 5º ed. Coimbra, 1992. DALLARI, Dalmo de Abreu. 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