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CENTRO DE CIÊNCIA JURÍDICA CURSO DE DIREITO Disciplina: Direito Processual Civil II Professor Leonardo Beduschi – lbeduschi@furb.br Alunas(os): ___________________________________ e ___________________________________ ESTUDO DE CASO Fraude contra credores I - TJSC 1. Descreva, em poucas linhas, o caso concreto apreciado pelo Poder Judiciário no acórdão em anexo. 2. Descreva qual o tipo (nome, características, pedido) de ação da qual a parte requerente utilizou-se. 3. Qual o conceito doutrinário de Embargos de Terceiros adotado pelo acórdão? 4. No caso estudado, estavam presentes os requisitos legais necessários à caracterização da fraude contra credores? 5. Na sua opinião, o juiz/desembargador agiu corretamente ao rejeitar ou acolher o recurso? Justifique, à luz dos requisitos legais. mailto:lbeduschi@furb.br TJSC, Apelação Cível nº 0063693-60.2011.8.24.0023, da Capital, Relator: Desembargador Gilberto Gomes de Oliveira (adaptado ao NCPC) EMBARGOS DE TERCEIRO. AQUISIÇÃO DO BEM DO EXECUTADO ANTES MESMO DA PROPOSITURA DA EXECUÇÃO. BOA-FÉ. PROCEDÊNCIA. APELO DA EXEQUENTE-EMBARGADA. BOA-FÉ NÃO DERRUÍDA. ALEGAÇÃO DE FRAUDE À EXECUÇÃO, OUTROSSIM, QUE EXIGE DILAÇÃO PROBATÓRIA EM DEMANDA ESPECÍFICA. SUMULA 195 DO STJ. Os embargos de terceiro têm o âmbito limitado - por isso se diz sumário e especial -, razão pela qual é viável perquirir-se apenas se é cabível ou não o ato de apreensão judicial. Exposto de outra forma, discussão de simulação sobre o negócio jurídico, ou mesmo fraude contra credores, exigem ações específicas, na forma do enunciado nº 195 do Superior Tribunal de Justiça: "em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores". Não se cogita má-fé do terceiro adquirente se a aquisição se deu anos antes da própria propositura da execução. APELO NÃO PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0063693-60.2011.8.24.0023, da comarca da Capital 3ª Vara Cível em que é Apelante Leony Terezinha Lovatel Pongiluppi e Apelada Rita de Cássia Steinbach. A Terceira Câmara de Direito Civil decidiu, por unanimidade, negar provimento ao apelo, nos termos do voto do relator. Custas legais. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Fernando Carioni, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Marcus Tulio Sartorato. Florianópolis, 8 de novembro de 2016. Desembargador Gilberto Gomes de Oliveira Relator RELATÓRIO Trata-se de apelo interposto pela exequente-embargada, Leony Terezinha Lovatel Pongeluppi, da sentença que, nos embargos de terceiro opostos por Rita de Cássia Steinbach contra a ora apelante e Mauro Resende Filho, executado, homologou a desistência em relação a este e julgou procedente a pretensão inicial em relação àquela para anular o arresto e manter a embargante- apelada na posse do imóvel que havia adquirido do executado. Expõe que há má-fé por parte da embargante-apelada ao adquirir o imóvel no mês seguinte ao da concessão da fiança locatícia que gerou a dívida objeto da execução, uma vez que, ao passo que a Justiça do Trabalho havia avaliado o bem em R$ 800.000,00 em 2005, a embargante-apelada pagou pelo bem um valor quatro vezes inferior - R$ 190.000,00. Defende que, na Justiça do Trabalho, os embargos de terceiro opostos pela aqui apelada foram rejeitados porque já tramitava a ação de cobrança contra o devedor, Mauro Resende Filho, razão pela qual ela pagou a dívida reclamada perante aquele juízo. Entende que o devedor, Mauro Resende Filho, se desfez do bem para terceiro unicamente para não perdê-lo em hasta pública. Diz que a embargante-apelada, pelas suas declarações de Imposto de Renda dos anos de 2002 a 2004, não teria condições de adquirir tal imóvel. Defende que o imóvel em discussão está alugado para terceiros e que a apelada-embargante não reside nele, de modo que os rendimentos são destinados ao devedor, tudo para frustrar a execução. Pautou-se pelo provimento do apelo para reforma da sentença. Contrarrazões às fls. 151/157. Ascenderam os autos. VOTO Eminentes colegas, nego provimento ao apelo. Os embargos de terceiro têm respaldo no art. 674 do Código de Processo Civil, que estabelece: Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Ney explicam: Trata-se de ação de conhecimento, constitutiva negativa, de procedimento especial sumário, cuja finalidade é livrar o bem ou direito de posse ou propriedade de terceiro da constrição judicial que lhe foi injustamente imposta em processo de que não faz parte. O embargante pretende ou obter a liberação (manutenção ou reintegração de posse), ou evitar a alienação de bem ou direito indevidamente constrito ou ameaçado de o ser. (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. 11ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p. 1267). Portanto, são requisitos para a oposição de embargos de terceiro: (a) que o embargante seja proprietário ou possuidor da coisa; (b) que seja terceiro; e, (c) que esteja presente um ato de apreensão judicial. Com efeito, os embargos de terceiro têm o âmbito limitado - por isso se diz especial -, razão pela qual é viável perquirir-se apenas se é cabível ou não o ato de apreensão judicial. Exposto de outra forma, discussão de simulação sobre o negócio jurídico, ou mesmo fraude contra credores, exigem ações específicas, na forma do enunciado nº 195 do Superior Tribunal de Justiça: "em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores". Para colorir: EMBARGOS DE TERCEIRO. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. FRAUDE CONTRA CREDORES. DISCUSSÃO IMPRÓPRIA NA VIA DE EMBARGOS. SÚMULA 195 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. O julgamento antecipado da lide não acarreta cerceamento de defesa quando se pretende provar a fraude contra credores no bojo dos embargos de terceiro; isso porque em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por fraude contra credores, nos termos da Súmula 195 do STJ. (Apelação Cível nº 2012.039002-3, da Capital, rel. Des. Janice Goulart Garcia Ubialli, julgado em 06.06.2013). Este entendimento, com efeito, é suficiente para prostrar a pretensão declinada no apelo ora examinado, que visa demonstrar eventual simulação na compra e venda realizada entre a embargante-apelada e o devedor, que supostamente ainda estaria recebendo alugueres do bem, que estaria locado para terceiros estranhos à lide e, por conseguinte, não serviria de efetiva moradia para a embargante-apelada. Nem indícios disto se tem, aliás. É de se dizer, por outro lado, que nenhum argumento exposto no apelo tem o condão de infirmar a decisão singular, que demonstrou com clareza que, ao passo que a compra e venda, por escritura pública, se consumou em 25 de janeiro de 2002 (fl. 13), a execução contra o alienante, Mauro Rezende Filho, foi proposta pela ora apelante apenas em 23 de setembro de 2004. Ademais, ainda que o registro da compra e venda, na matrícula do bem, tenha se dado em 29 de dezembro de 2005, a averbação de penhora, resultante da execução proposta pela ora apelante, ocorreu só em janeirode 2010. Portanto, não se pode falar em má-fé da adquirente, aqui embargante-apelada, nem tampouco em fraude à execução [art. 790 do CPC/2015], ainda que o bem, no entendimento da apelante, tenha sido vendido por preço menor do que o de avaliações anteriores, já que isto, repita- se, não é objeto de embargos de terceiro. Ante o exposto, com a simplicidade que o caso requer, VOTO no sentido de negar provimento ao apelo. É, pois, como voto.
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