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BNCC_01

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Campos de experiência 
e a implantação do currículo de Educação Física na Educação Infantil 
OBJETIVOS DO MÓDULO
Módulo 1
 
Vamos discutir como as aulas de Educação Física se integram à proposta de campos de experiência na Educação Infantil.
 
Neste módulo vamos compreender a concepção de trabalho, os fundamentos pedagógicos e a proposta de organização curricular da Educação Física na Educação Infantil.
 
Vamos também orientar como utilizar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como documento orientador do currículo e do planejamento escolar das aulas de Educação Física na Educação Infantil.
A BNCC organiza as aprendizagens das crianças da Educação Infantil em cinco campos de experiência: 
 
1. O eu, o outro e o nós – envolve a interação, as relações sociais; 
 
2. Corpo, gestos e movimentos – abarca o uso do corpo, dos gestos e movimentos em situações significativas e lúdicas. 
 
3. Traços, sons, cores e formas – envolve a apreciação e produção de diferentes manifestações artísticas: artes visuais, música, teatro, dança e audiovisual. 
 
4. Escuta, fala, pensamento e imaginação – envolve o uso da linguagem em situações comunicativas variadas e como recurso de pensamento e apropriação da língua materna. 
 
5. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – envolve experiências com fenômenos naturais, socioculturais e conhecimentos físicos. 
 
Portanto, nesse módulo, vamos compreender como estruturar as aulas de Educação Física, de modo a garantir aprendizagens específicas do campo de experiência corpo, gestos e movimentos, sem perder de vista suas conexões com os demais campos de experiência.
 
Vamos discutir o que muda no planejamento das aulas de Educação Física e de outros tempos e espaços do currículo, como as situações de brincar, quando compreendemos a criança pequena como ser observador, questionador, capaz de criar hipóteses, julgamentos, assimilar valores e construir conhecimentos de forma ativa e protagonista.
 Aula 1 
 Pontos de partida da BNCC para boas práticas no campo de experiências corpo, gestos e movimentos
Desde a Constituição de 1988, a educação das crianças pequenas em creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 5 anos) é um direito das crianças. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da Educação incorporou a Educação Infantil à Educação Básica. A partir daí, documentos como o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (BRASIL, 1998) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) buscaram orientar a elaboração de currículos, projetos pedagógicos e planejamentos dos professores e professoras. 
 
A formulação da Base Nacional Comum Curricular (2017) segue esse caminho e define 6 direitos de aprendizagem, trazendo uma concepção de criança como ser observador, questionador, capaz de criar hipóteses, julgamentos, assimilar valores e construir conhecimentos de forma ativa e protagonista na interação cultural.
 
Vamos ver quais são direitos de aprendizagem das crianças na Educação Infantil e como se relacionam com o trabalho no campo de experiências corpo, gestos e movimentos?
Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
Nas crianças pequenas o conhecimento de si nasce da percepção do próprio corpo, dos espaços que ele ocupa. Suas interações sociais primeiro se estabelecem pela linguagem corporal e as crianças vão construindo, ao longo da primeira infância sua identidade e diferenciação com o outro por meio das experiências corporais. 
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. 
A cultura corporal da infância é repleta de brincadeiras que compõem a identidade cultural das crianças e favorecem aprendizagens nas diferentes dimensões do desenvolvimento infantil. 
Participar ativamente,  com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
Contemplar esse direito envolve criar oportunidades para que as crianças sejam ativas nos modos de realizar ações e pensar o corpo. Trata-se de prover estratégias de trabalho participativas, que envolvam as crianças de corpo inteiro.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
Para o campo de experiências com corpo, gestos e movimentos vale pensar na diversidade de possibilidades de explorar movimentos, gestos. Não se trata de executar movimentos dirigidos pelo(a) professor(a) mas de abrir novas possibilidades gestuais sempre contextualizadas na experiência cultural e nos processos de auto conhecimento das crianças.
Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. 
Na primeira infância, a linguagem corporal é a primeira forma de expressão que vai se constituindo e se aperfeiçoando conforme outras linguagens se desenvolvem.
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.
As primeiras formas de auto  conhecimento das crianças pequenas envolvem as experiências com corpo, gestos e movimentos. 
Como a BNCC define o campo de experiências corpo, gestos e movimentos?
“Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam- -se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se  etc.). ”   
Esse modo de compreender a importância do corpo, dos gestos e movimentos no currículo da Educação Infantil vai muito além de fazer “ginástica” ou treinar “movimentos”, como foram, antigamente, as aulas de Educação Física Infantil.Envolve o amplo significado que a corporeidade e a motricidade têm durante os primeiros anos do desenvolvimento humano.
A BNCC define mais 4 campos de experiência que devem ser trabalhados de forma integrada, superando a perspectiva transmissiva e  disciplinar do currículo. 
 eu, o outro e o nós
01.  Campo que envolve a interação, as relações sociais com adultos e crianças .
Traços, sons, cores e formas
02.  Campo que envolve o contato com diferentes manifestações artísticas como as artes visuais ( pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras e que envolve experiências estéticas de apreciação e produção.
Escuta, fala, pensamento e imaginação
03.  Campo que envolve  o uso da linguagem em situações comunicativas variadas e como recurso de pesamento e apropriação da língua materna. Envolve o trabalho com histórias, contos, poemas, cordéis, livros, com diferentes gêneros literários.
Espaços, tempos, quantidades, relações e tranformaçoes
04. Campo que envolve experiências com fenômenos naturais, socioculturais e conhecimentos fisícos.
 
Na primeira etapa da Educação Básica, e de acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil (interações e brincadeiras), devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para que as crianças tenham condições de aprender e se desenvolver.
Conviver
Brincar
Participar
Explorar
Expressar
Conhecer-se
O trabalho no campo de experiências corpo, gestos e movimentos deve garantir os direitos de aprendizagem definidos na BNCC.
 
 
 
 
 
 
Considerando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC estabele cinco campos de experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver.
· O eu, o outro e o nós
· Corpo, gestos e movimentos
· Traços, sons, cores e formas
· Escuta, fala, pensamento e imaginação
· Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
O trabalho no campo de experiências de corpo, gestos e movimentos deve ser desenvolvido pelo professor de Educação Física e pela professora pedagoga, garantindo o alcance dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de cada faixa etária, mas de forma integrada ao trabalho com os demais campos. 
(Além de atividades estruturadas em tempos específicos do currículo (aulas de Educação Física, ministradas pelo professor especialista ou pela professora pedagoga) é preciso garantir experiências de corpo, gestos e movimentos em situações de brincadeiras, cuidados e projetos integrados).
Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
  
 
Em cada campo de experiências, são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa etária.
CRECHE
PRÉ-ESCOLA
Bebês 
(zero a 1 ano e 6 meses)
Nessa faixa etária, o campo corpo, gestos e movimentos está ainda mais integrado às demais experiências de desenvolvimento das crianças, pois elas pensam e se expressam com o corpo e os movimentos. O conhecimento de si, do mundo dos objetos, as interações sociais acontecem pelo movimento.
Crianças bem pequenas
(1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
Nessa faixa etária, o crescente desenvolvimento da linguagem verbal e do pensamento simbólico permite que as experiências de corpo, gestos e movimentos se conectem com a ampliação do repertório de brincadeiras e das possibilidades de interação social das crianças. 
Crianças pequenas 
 (4 anos a 5 anos e 11 meses)
Na última etapa da educação infantil, o trabalho com corpo, gestos e movimentos favorece o desenvolvimento das interações sociais, do trabalho em grupo, da construção de regras e brincadeiras coletivas. 
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Como vimos, na BNCC, o currículo da Educação Infantil deve promover, de forma integrada, experiências de aprendizagem nas diferentes dimensões do desenvolvimento infantil. Desta forma, não é possível pensar as experiências de corpo, gestos e movimentos desconectadas do projeto pedagógico das creches e pré-escolas e do trabalho nos demais campos de experiência, por isso é preciso incluir diferentes  tempos e espaços do currículo para essas aprendizagens. 
Aula 2 
Atividades orientadas e o trabalho com corpo, gestos e movimentos
Atividades 1, 2 ou 3 vezes por semana, com duração de 30 a 45 minutos, desenvolvidas pelo professor(a) de Educação Física ou pelo(a) professor(a) pedagogo(a), dependendo da rede de ensino são uma das estratégias de organização do currículo de Educação Infantil para o trabalho com corpo, gestos e movimentos. 
 
A primeira etapa do planejamento dessas atividades é selecionar o objetivo de aprendizagem da BNCC que será trabalhado. Em seguida, contextualizar e detalhar o foco do trabalho e escolher as estratégias adequadas. Vejamos um exemplo.
exemplificando
 Bebês (zero a 1 ano e 6 meses)
(EI01CG05)
Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento, ampliando suas possibilidades de manuseio de diferentes materiais e objetos.
Com um grupo de crianças com idades entre  1 ano a 1 ano e 6 meses, o professor(a) pode estabelecer como foco a exploração de movimentos com bolinhas macias de pano, bolas coloridas de plástico ou de papel e agregar caixas de papelão com orifícios nos quais as crianças podem encaixar e desencaixar as bolinhas, tecidos pendurados como redes onde as crianças podem balançar e observar os movimentos das bolas, garrafas pet de 2 litros unidas como um túnel onde as bolas podem ser roladas, planos inclinados com colchões para as crianças lançarem as bolas. O importante nessa idade é que a atividade orientada permita a exploração sensório-motora mais livre, com o professor observando, sugerindo formas de brincar, mas sem forçar as crianças a realizarem os mesmos movimentos. 
 
 
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 Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
(EI02CG05)
Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros.
Mantendo o foco no desenvolvimento de habilidades manuais com bola,  com um grupo de crianças com idades entre 3 anos e 3 anos e 11 meses, o professor (a) pode programar uma atividade de descoberta guiada. Nessa idade, as crianças já podem acompanhar melhor as orientações verbais do professor por isso essa estratégia funciona. Nessa forma de brincar, o professor inicia o trabalho sugerindo movimentos: quem consegue lançar a bola bem alto, lá no céu? Quem consegue rolar a bola, bem longe? Quem consegue passar a bola de uma mão para a outra sem deixar cair? Quem consegue equilibrar a bola na mão, no cotovelo, no nariz? Em seguida  pede que as próprias crianças criem seus truques e compartilhem com os colegas. Vale também pensar essa atividade agregando alvos como suspender uma corda em diferentes alturas e desafiar as crianças e lançar por cima, por baixo, como uma mão com a outra. Aqui,  a liberdade e o protagonismo das crianças se mantém, mas já é possível pensar em atividades mais coletivas. 
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 Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
(EI03CG05)
Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas.
Nessa faixa etária, o trabalho com o desenvolvimento de habilidades manuais com bola já pode envolver brincadeiras com regras simples. Arremessar a bola em alvos como nas brincadeiras de boliche e derruba latas, lançar a bola em aros pendurados em diferentes alturas. O importante é que as atividades sejam dinâmicas e não exijam tempo de espera das crianças. Não basta, por exemplo, trazer  apenas um jogo de boliche para 20 crianças, pois cada criança poderá ter apenas uma ou duas chances. Embora possa parecer mais caótico, vale a pena investir na autonomia das crianças sem se preocupar com a distância padrão ou regras rígidas. O objetivo é diversificar a exploração. São materiais fáceis de confeccionar. O professor pode realizar uma roda inicial, combinar a dinâmica, os cuidados com o material, os movimentos que serão explorados e durante a atividade circular pelos cantos do espaço onde as brincadeiras estão acontecendo. Se necessário, fazer paradas pera recombinar a dinâmica eao final conversar com as crianças sobre as aprendizagens.
O que é importante garantir no planejamento das atividades orientadas?
No exemplo acima mostramos  que o trabalho com habilidades manuais, previsto na BNCC, pode se desenvolver progressivamente com um determinado foco e trouxemos algumas estratégias possíveis para cada faixa etária. 
 
As possibilidades são imensas. É possível focar as habilidades manuais com outros objetos da cultura lúdica, explorando movimentos variados como rolar, arremessar, balançar, chutar, rebater, equilibrar, quicar. A mesma lógica vale para a exploração de outras formas gestuais e de movimento presentes nos objetivos de aprendizagem da BNCC. 
 
Trabalhando com os demais objetivos de aprendizagem descritos na BNCC, teremos outras tantas possibilidades de planejamento das atividades orientadas. Então, vamos trabalhar alguns princípios e conhecimentos que podem favorecer o protagonismo docente nesse planejamento.
 
Para ampliar ainda mais as experiências de aprendizagem das crianças no campo do corpo, gestos e movimentos, durante as atividades orientadas, Você pode lançar mão de conhecimentos sistematizados por pesquisadores da área de Educação Física Escolar. Como David Gallahue e João Batista Freire, entre outros.
Vamos conhecer um pouco sobre eles...
David Gallahue foi professor da Escola de Saúde, Educação Física e Recreação da Universidade de Indiana nos Estados Unidos suas pesquisas e livros sobre o papel da escola em prover experiências de movimento significativas e de alta qualidade para crianças e jovens lhe concedeu reconhecimento internacional nesse campo. 
 
Foi professor da escola básica e durantes seus mais de 40 anos de trabalho na área de Educação Física formou e influenciou grande número de profissionais e pesquisadores. 
 
Duas obras do autor foram traduzidas para a língua portuguesa:
 
GALLAHUE, David. L.; OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. David L. Gallahue, John C. Ozmun; [Tradução Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo] São Paulo: Phorte editora, 2001.
 
GALLAHUE, David. L.; DONNELLY, Francês, C. Educação Física Desenvolvimentista para todas as crianças/David Gallahue, Francês Cleland Donnelly; [tradução Samantha Prado Stamatiu, Adriana Elisa Inácio]. 4 ed. – São Paulo: Phorte, 2008.
 
Para Gallahue, boas práticas de movimento na Educação Infantil devem contemplar experiências em três categorias de movimentos: movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos.
ESTABILIZADORES
manter o equilíbrio em relação à força de gravidade
Inclinar, Alongar, Girar
Virar, Balançar
Apoios invertidos (parada de mãos e cabeça, estrela)
Rolamento, esquivar-se
Equilíbrio estático e dinâmico
LOCOMOTORES
alterar a localização do corpo em relação a pontos fixos 
Andar, Correr
Saltar (em distância, em profundidade, em altura)
Saltar com os 2 pés
Saltar com 1 pé, Saltitar
Deslizar, Escalar
MANIPULATIVOS
fornecer ou absorver força de objetos com as mãos ou pés
Arremessar, Interceptar
Chutar, Capturar
Golpear, Volear
Quicar, Rolar um objeto
Rebater
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Objetivos de aprendizagem da BNCC relacionados a cada categoria
(EI01CG01)
Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente emoções, necessidades e desejos.
 
(EI03CG02)
Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades.
(EI02CG02)
Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas 
 
(EI02CG03)
Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações.
(EI01CG05)
Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento, ampliando suas possibilidades de manuseio de diferentes materiais e objetos.
 
(EI03CG05)
Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas.
 
 
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Gallahue também explora a aprendizagem de conceitos de movimento que as crianças a perceber como o corpo se move, diversificando suas  experiências. Os conceitos de movimento são divididos em três categorias: esforço (como o corpo se move variando força, tempo e fluência); espaço (onde o corpo se move) e relacionamentos (como o corpo se move com objetos e pessoas).
ESFORÇO
ESPAÇO
RELACIONAMENTOS
Como o corpo se move com variadas quantidades de...
Onde o corpo se move em diferentes...
Movendo-se com...
Força
Níveis
Objetos (ou pessoas)
Forte
Leve
Moderado
 
Alto
Médio
Baixo
Em cima/ embaixo
Dentro/fora
Entre dois/entre vários
Em frente/atrás
Acima/abaixo
Através/ao redor
Tempo
Direções
Pessoas
Rápido
Lento
Médio
Estável
Acelerando
Desacelerando
Para frente/para trás
Diagonalmente/lateralmente
Para cima/para baixo
Vários caminhos (curva, reta, ziguezague...)
Espelhando
Copiando como sombra
Em uníssono
Junto/separado
Alternando
.
Fluência
Alcances
 
Livre
Limitado
Formas de corpo (largo, estreito, curvo, reto).
Espaços de corpo (espaço próprio e espaço geral).
Extensões do corpo
Utilizando esse referencial, Você pode planejar atividades e mediações diversificadas como: atividades que favoreçam as crianças andar e correr explorando direções, ritmos, relacionamentos e intensidades variadas. 
 
Correr para frente, para trás, para o lado, rápido, lento, acelerando, carregando objetos, de mãos dadas, no mesmo ritmo do grupo. 
 
Tudo isso contextualizado na cultura corporal lúdica, a exemplo das brincadeiras de pega-pega, atividades com música, cantigas dança criativa.  
 
Não se trata de “treinar” habilidades motoras em atividades dirigidas pelo professor, nas quais as crianças apenas obedecem a comandos. 
 
Trata-se de afinar o olhar para as múltiplas possibilidades de explorar como o corpo se move nas brincadeiras e atividades exploratórias das crianças. 
João Batista Freire  –  Foi professor do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas. É considerado como  autor pioneiro no estudo das relações entre a Educação Física Escolar e as perspectivas construtivistas de desenvolvimento e aprendizagem de Piaget, Vygotsky e Wallon. 
 
Ele discute o trabalho na Educação Infantil e dois livros publicados no Brasil.
 
FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro, Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989. 
 
FREIRE, João Batista e SCAGLIA, Alcides José. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2000.
João Batista Freire, em seu clássico livro Educação de Corpo Inteiro defende que o desenvolvimento da motricidade não deve significar somente uma maior proficiência em determinadas habilidades motoras, mas a aquisição de maiores recursos para se relacionar com o mundo dos objetos e das pessoas. 
 
Na perspectiva da educação de “corpo inteiro” a importância da atividade motora não se restringe ao aspecto da aprendizagem do movimento, mas à motricidade enquanto primeira forma de conhecimento sobre o qual se edificam todos os aspectos da pessoa, como defendido na BNCC.
Não há porque desenvolver habilidades ( correr, saltar, girar etc.) que não sejam significativas, isto é, que não seja uma promoção de relações aperfeiçoadas do sujeito com o mundo, de modo a produzir as ações que o tornem cada vez mais humano, isto é, mais presente, mais consciente, testemunha do mundo em que vive” Freire, João Batista da Silva - Educação de Corpo Inteiro, Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989, p. 139.  
Nessa concepção não existem formas gestuais ideais, únicas, “certas” que a criança deve aprender. Uma característica singular do movimento humano é a necessidade de construir, ao mesmo tempo, consistência e variabilidade. 
 
A consistência garante encontrar coordenações motoras mais eficientes, construídas para que o sujeito apresente soluções eficientes frente aos desafios motores. Para aprender a andar, por exemplo, é preciso que a criança ganhe consistência em sua capacidade de controlar as relaçõesde equilíbrio postural e as contrações musculares adequadas para realizar o movimento. 
 
A consistência garante encontrar um caminho seguro e confiável para realizar o movimento. No entanto, estamos constantemente sendo desafiados pelas variações do ambiente. Os pisos que enfrentamos para caminhar são diferentes, podemos andar na subida e na descida, podemos andar sobre um caminho estreito, somos desafiados a caminhar em espaços lotados, com pessoas locomovendo-se em diferentes direções e velocidades, e é a variabilidade de nosso sistema motor que garante esta adaptabilidade e o desenvolvimento de esquemas de ação flexíveis. Por isso, nas atividades orientadas os professores devem promover experiências a partir da observação sobre como as crianças solucionam problemas corporais.
 
Na educação de “corpo inteiro”, a atividade lúdica é o contexto cultural no qual a criança se apropria e recria seus gestos e movimentos. O(a) professor(a) deve partir dos conhecimentos prévios das crianças e desenvolver atividades significativas para o auto conhecimento, a expressão, a convivência, o brincar, a participação ativa e a exploração do mundo, garantindo que as experiências de corpo, gestos e movimentos vivenciadas na escola estejam a serviço da garantia dos 6 direitos de aprendizagem definidos na BNCC . 
 
É um processo no qual o professor interage com as crianças e, partindo do que elas já sabem, procura gerar desafios que levam à construção possibilidades com o corpo, os gestos e os movimentos. 
 
Essa interação, entretanto, não precisa obedecer somente o modelo de “aula”, mesmo pensando em aulas lúdicas e significativas, que utilizam o brincar como instrumento pedagógico,  mas também por meio do planejamento de espaços , oferta de tempo e material para a brincadeira auto organizada nos grupos infantis, nas situações de cuidado e projetos integrados. 
Aula 3 
Brincadeiras e o trabalho com corpo, gestos e movimentos
Segundo a BNCC, as brincadeiras e interações são eixos estruturantes do currículo de Educação Infantil, por isso, a Escola tem o papel de garantir espaço para a vivência lúdica em seu interior, fomentando a produção cultural das crianças.  
 
Garantir espaços e tempos para o brincar significa oferecer às crianças momentos de liberdade para criar,  escolher  parceiros, materiais, espaços, decidindo o tempo de envolvimento na atividade, a mudança para outra atividade e a maneira de utilizar os objetos e espaços disponíveis na Escola (respeitando questões de segurança).  
 
O papel mais importante do professor, nesses momentos, é observar, interagindo conforme as solicitações das crianças, ou para propor novos desafios, apoiar as crianças a solucioná-los. 
 
As experiências de aprendizagem com corpo, gestos e movimentos têm íntima  relação com o brincar, por isso boas práticas a partir da BNCC precisam incorporar o planejamento intencional de situações de aprendizagem dos espaços e tempos do brincar. 
Na concepção da BNCC, o Brincar é um modo de expressão, desenvolvimento da inteligência e apropriação cultural. 
 
Os jogos e brincadeiras possibilitam que as crianças aprendam de uma maneira estimulante e prazerosa e desenvolvam diferentes aspectos de seu desenvolvimento de forma integrada. 
 
Quando uma criança aprende a explorar sua criatividade dentro da prática de jogos e brincadeiras, tende a aplicar tais habilidades a outras situações da vida.
 
Essa dimensão do currículo da Educação Infantil convida o olhar de toda a equipe escolar para as aprendizagens no campo de experiências  corpo, gestos e movimentos nos momentos de brincadeiras, sempre com intencionalidade e mediação dos professores na organização do espaço, na oferta de materiais e na interação com as crianças. 
 
Faz toda a diferença para as experiências de aprendizagem no campo de corpo, gestos e movimentos oferecer, nas atividades do parque e demais espaços amplos da escola, materiais diversificados da cultura corporal como bolas, petecas, brinquedos construídos com material reciclável, cordas, bambolês, caixas de papelão, carrinhos para puxar e empurrar, brinquedos da cultura tradicional, além da oferta de equipamentos estruturados que favoreçam a exploração de movimentos como balançar, escalar, equilibrar, saltar, saltitar etc... 
 
Todo esse trabalho pode e deve estar integrado às propostas de atividades orientadas desenvolvidas pelo(a) professor(a).
Para promover boas práticas no campo de experiências corpo, gestos e movimentos a equipe escolar precisa olhar para os espaços de brincadeiras e pensar em intervenções que permitam:
Proporcionar variedade de movimentos, individualmente ou em cooperação, por exemplo,  se a escola dispõe de um escorregador, que tal em alguns momentos amarrar uma corda e criar a possibilidade das crianças escalarem o equipamento pela rampa; se há um espaço vazio com um muro, é possível pintar alvos, pendurar objetos que instiguem as crianças a lançarem;
Propor estímulos perceptivos e não visar apenas ao desenvolvimento motor, um exemplo seria oferecer brinquedos com apelo visual e estético como cata-vento, bolinha de sabão,  brinquedos sonoros com sinos e chocalhos, materiais com texturas e cores diferentes, atividades de pintura corporal.
Incorporar elementos para estimular a imaginação. Muitas das brincadeiras corporais nos espaços lúdicos integram o faz de conta. Os pequenos utilizam, por exemplo, uma mureta para se equilibrar imaginando que são super-heróis ou heroínas em perigo, correm para alcançar o vilão ou representam os príncipes e princesas se aventurando pelo espaço. Estudando o imenso valor que a atividade simbólica tem para o desenvolvimento da linguagem e do pensamento das crianças fica fácil perceber que a expressão corporal fornece fontes para a imaginação e a ela podem ser agregados adereços como tecidos, fantasias e objetos não estruturados que ampliem o estímulo ao faz de conta. 
Segundo pesquisadores que estudam espaços lúdicos, a combinação de materiais com baixo realismo e  estruturação (areia, madeira, cordas, pneus, tecidos, papel...) com materiais com alto realismo e  estruturação (casa de brinquedo, modelo de carro, outros brinquedos fixos do parque...) possibilita envolvimento mais criativo e imaginativo para o brincar. 
 
Todas as intervenções nos momentos e espaços destinados ao brincar precisam de planejamento docente a partir da BNCC: selecionar objetivos de aprendizagem a serem contemplados, contextualizá-los, detalhando o foco, escolha de estratégias (materiais, formas de mediação do(a) professor(a), organização das crianças).
Saiba Mais
 
Para conhecer mais, leia este interessante artigo, em que as autoras apresentam diferentes possibilidades de intervenção nos espaços lúdicos da Educação Infantil.
 
Brincadeiras e Jogos no Parque. Isabel Porto Filgueiras e Adriana Freyberger
 
Revista Avisa lá edição de janeiro de 2001.
Link: https://avisala.org.br/index.php/conteudo-por-edicoes/revista-avisala-05/brincadeiras-e-jogos-n
Aula 4
Situações de cuidado e o trabalho com corpo, gestos e movimentos.
A integração entre educar e cuidar é uma das premissas do currículo da Educação Infantil segundo a BNCC.
 
No campo de experiências corpo, gestos e movimentos aparecem diversos objetivos de aprendizagem que visam apoiar as crianças a cuidarem do próprio corpo. Aos (as) professores(as) cabe planejar intencionalmente ações nesse sentido. 
 Bebês 
 
(zero a 1 ano e 6 meses)
 
(EI01CG04)
 
Participar do cuidado do seu corpo e da promoção do seu bem-estar.
 
Segundo a BNCC, os bebês aprendem a cuidar de si na interação com os adultos, isso significa que as ações de cuidar como trocar fraldas e roupas, alimentar as crianças, pegar no colo, acalentar precisam  acontecer em contextos lúdicos, de diálogo ativo do adulto com as crianças. Cantar uma música, brincar de fazer caretas, bater palmas, emitir sons enquanto troca a crianças são ações do adulto que enriquecem as experiências gestuais e perceptivas das crianças. Orientá-las e ajuda-las a utilizar os objetos do cotidiano comosegurar a mamadeira, usar os talheres, segurar os copos também são ações pedagógicas no campo do corpo, gestos e movimentos.
Crianças bem pequenas
 
(1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
 
(EI02CG04)
 
Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo. 
No artigo Do meu nariz cuido eu – Como educar para os cuidados pessoais num ambiente coletivo de autora de Elza Corsi, você encontra um exemplo de como envolver as crianças nos cuidados com o corpo. Olhar-se no espelho e perceber a necessidade de limpar o nariz, aprender a fazer isso sozinha são pequenas ações que significam muito para o desenvolvimento da autonomia das crianças. Elas passam a assumir o próprio cuidado com apoio dos(as) professores(as). Lavar as mãos, beber água, cuidar da segurança do próprio corpo e dos colegas nas brincadeiras corporais podem ser objetos de aprendizagem muito ricos no âmbito do cuidar. 
 
Publicado na Revista Avisa lá Abril de 2002. Disponível em:
https://avisala.org.br/index.php/assunto/jeitos-de-cuidar/do-meu-nariz-cuido-eu-como-educar-para-os-cuidados-pessoais-num-ambiente-coletivo/
Crianças pequenas 
 
(4 anos a 5 anos e 11 meses)
 
(EI02CG04)
 
Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência.
 O domínio de gestos como pentear os cabelos, calçar e amarrar os sapatos, vestir-se, servir-se nos momentos de alimentação fornecem às crianças progressiva independência e autoconfiança.  Ao(a) professor (a) cabe transformar essas ações em momentos de aprendizagem intencional. Pode parecer mais fácil fazer os movimentos pelas crianças, especialmente quando a rotina de cuidados é apressada, mas estimular as crianças a se interessarem em descobrir e aperfeiçoar esses gestos é muito mais significativo para seus processos de desenvolvimento. 
Aula 5
Projetos integrados e o trabalho com corpo, gestos e movimentos.
A BNCC , ao trazer para a Educação Infantil os campos de experiência, procura superar a visão disciplinar e fragmentada do currículo, se encaixando perfeitamente com a globalidade das aprendizagens e do desenvolvimento humano na primeira infância. 
 
Ao interagir com objetos, construindo habilidades manuais, as crianças também constroem conhecimentos sobre as propriedades físicas dos objetos e quais relações podem estabelecer com e entre eles. Aprendem quando e como puxar, empurrar, chegar perto, se afastar, colocam os objetos em relação, comparam, classificam. 
 
Segundo Piaget, essa exploração sensório-motora permite a construção de categorias da inteligência prática que serão fundamentais para o desenvolvimento do pensamento lógico. Vejamos alguns deles na faixa etária de 5 anos a 5 anos e 11 meses).
Campo de experiências espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. 
Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades.
Observar e descrever mudanças em diferentes materiais, resultantes de ações sobre eles, em experimentos envolvendo fenômenos naturais e artificiais.
Classificar objetos e figuras de acordo com suas semelhanças e diferenças.
Um projeto integrado envolvendo o campo de experiências corpo, gestos e movimentos e o campo espaços, tempos quantidades, relações e transformações pode envolver a exploração de bolas de diferentes tamanhos e pesos, a construção de uma coleção de bolas. 
 
Durante o processo as crianças serão convidadas a comparar tamanhos, pesos, formas, tipo de material. Poderão pesquisar bolas criadas em diferentes culturas, construir esses materiais. Fazer medidas de peso, distância. Levantar hipóteses sobre porque uma bola quica mais que a outra, ou porque esportes diferentes exigem bolas diferentes. 
 
Tudo isso explorando os movimentos que cada tipo de bola convida a fazer, criando jogos e brincadeiras com a mediação dos professores. No final podem organizar uma exposição dos trabalhos para as famílias, convidá-las a explorar jogos e brincadeiras com bola. Esse é apenas um exemplo dentro de tantas outras possibilidades que a BNCC convida os professores a desenvolver.
 
Olhar atentamente para os campos de experiências e procurar conexões entre seus objetivos de aprendizagem para pensar projetos e atividades integradas é uma tarefa fundamental dos professores durante o planejamento escolar na Educação Infantil. 
Vejamos outro exemplo agora pensando na integração com o campo de experiências traços, sons, cores e formas. Alguns objetivos de aprendizagem que se conectam com objetivos do campo de corpo, gestos e movimentos são: 
Campo de experiências traços, sons, cores e formas. 
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses)
.
(EI01TS01)  Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente
Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
(EI02TS01) Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
(EI03TS01) Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas.
Campos de experiências corpo, gestos e movimentos. 
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses)
(EI03CG01) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música.
Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
(EI03CG02) Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades.
Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
(EI03CG03) Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música.
Esses objetivos de aprendizagem referem-se muito mais à dimensão expressiva e rítmica do currículo do campo de experiências corpo, gestos e movimentos, por isso essa conexão com o campo mais ligado às atividades artísticas. 
 
A dimensão expressiva do movimento foi bastante explorada nas produções de Henri Wallon, um psicólogo francês contemporâneo de Piaget. Wallon não dissocia a motricidade do funcionamento da pessoa como um todo. A psicogênese da motricidade se confunde com a psicogênese da pessoa.  
 
O autor argumenta que o movimento tem uma função cinética e uma função expressiva, ligada às emoções e percepções do próprio corpo. Na Educação Infantil, as brincadeiras com sons, dança, expressão corporal e encenação trabalham essa dimensão e favorecem o desenvolvimento corporal, do pensamento e da afetividade. 
 
Planejar atividades integrando os objetivos de aprendizagens explicitados nos dois campos descritos acima favorece ainda mais a riqueza de experiências das crianças. Nossa cultura popular está repleta de brinquedos sonoros, cantigas, brincadeiras de roda, músicas populares, eruditas que podem inspirar esse trabalho. 
Psicogênese: Origem e desenvolvimento dos processos cognitivos e psicológicos; psicogenia. Michaelis - Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (2019)
Relembrando
Neste módulo você viu:
 
Pelo movimento a criança conhece mais sobre si mesma e sobre o outro, aprende a se relacionar, conhece o mundo dos objetos.  O movimento é parte integrante da construção da autonomia e identidade, pois para a criança, o autoconhecimento envolve, num primeiro momento, a gestualidade. 
 
Essa vivência de ações motoras possibilita que criança também interaja com a cultura, seja para dominar o uso dos diferentes objetos que a espécie humana desenvolveu, seja para usufruir de atividades lúdicas e de lazer, como jogos e brincadeiras. 
 
As variações de postura e posições do corpo, a possibilidade de movimentar-se pela sala, fazer experiências, expressar-se, por isso é tão importante que os(as) professores(as) da educação infantil planejem atividades orientadas, brincadeiras, situações de cuidado e projetos integrados que considerem os objetivos de desenvolvimento e aprendizagem definidos na BNCC para o campo de experiências corpo, gestos e movimentos.
OBJETIVOS DO MÓDULOMódulo 2
 
Vamos compreender as competências e habilidades específicas da Educação Física nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e como podem ser desenvolvidas nas unidades temáticas de jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, lutas 
e práticas corporais de aventura.
 
Aqui vamos compreender a Educação Física no Ensino Fundamental como componente curricular que tematiza as práticas corporais na perspectiva cultural.
 
Também vamos descrever as unidades temáticas sugeridas na BNCC e sua distribuição ao longo do Ensino Fundamental.
 
Além disso vamos refletir sobre como incorporar as dimensões de conhecimento  das práticas corporais.
Na BNCC do Ensino Fundamental a Educação Física é compreendida como componente curricular que tematiza as práticas corporais nas unidades temáticas de jogos e brincadeiras, danças, lutas, esportes e práticas corporais de aventura. 
 
Nesse módulo, vamos discutir o que muda na prática pedagógica quando planejamos as aulas para desenvolver as competências do componente e como a BNCC propõe o desenvolvimento de habilidades em cada unidade temática, bem como as sugestões para a progressão das aprendizagens nos anos iniciais e finais. 
 
Também discutiremos exemplos de tematização das práticas corporais a partir das 8 dimensões de conhecimento: experimentação, uso e apropriação, fruição, reflexão sobre a ação, construção de valores, análise, compreensão e protagonismo comunitário.
 Aula 1 
 A BNCC no Ensino Fundamental
 
QUAIS SÃO OS PONTOS DE PARTIDA DA BNCC PARA BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL?
A presença da Educação Física no currículo escolar precisa ser pensada a partir das premissas gerais da BNCC. 
 
Os professores de Educação Física precisam pensar suas aulas a partir do compromisso da BNCC com o desenvolvimento integral dos alunos, ou seja, os alunos precisam ter oportunidades de desenvolver as dimensões físicas, corporais, cognitivas, afetivas, sociais e culturais associadas às práticas corporais. 
 
A BNCC inova, com uma perspectiva de Educação Integral, mostrando que componentes como a Educação Física devem ter o mesmo status no currículo escolar. Nessa concepção, as aulas de Educação Física devem mobilizar aprendizagens que integram fazer, sentir e pensar as práticas corporais. 
 
O currículo e as aulas de Educação Física precisam ser pensados a partir de suas contribuições para o desenvolvimento das competências gerais da BNCC.
Competência é a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do exercício da cidadania e do mundo do trabalho. 
Um currículo de Educação Física comprometido com o desenvolvimento de competências propõe momentos de reflexão e construção de conceitos, valores e atitudes integrados nas atividades práticas. 
 
A seguir apresentamos alguns comentários que podem ajudar a entender o currículo de Educação Física comprometido com o desenvolvimento das competências gerais da BNCC. Esses comentários são ilustrativos e só orientam diversas possibilidades de trabalho. O importante é compreendermos como o compromisso com o desenvolvimento de competências gerais modifica o que tradicionalmente tem sido trabalhado nas aulas do componente.
Competências gerais da BNCC
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Reflexões sobre o papel da Educação Física
Na perspectiva da BNCC, professor de Educação Física passa a trabalhar com os conhecimentos historicamente construídos sobre   as práticas corporais, seus sentidos e seu enquadramento nos valores democráticos. Os estudantes devem ter a oportunidade de relacionar processos históricos e de grupos culturais diversos ao desenvolvimento de práticas corporais. Por exemplo, compreender a origem do racismo tendo em vista a origem histórica da Capoeira e do Futebol no Brasil.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
Para atender ao desenvolvimento dessa competência o tratamento das práticas corporais deve incorporar processos de investigação, reflexão e solução de problemas e não mais a mera reprodução de técnicas e táticas de algumas modalidades esportivas coletivas. 
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
As aulas de Educação Física passam a contemplar maior diversidade de práticas corporais locais e mundiais, ampliando o repertório cultural dos estudantes.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e cientifica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
As aulas de Educação Física enfocam as diferentes possibilidades de utilização da linguagem corporal, valorizando a dimensão intrínseca do fazer corporal na formação dos estudantes. 
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Cada vez mais as crianças e adolescentes acessam e produzem conhecimentos sobre as práticas corporais por meio de tecnologias digitais, aplicativos, jogos, vídeos tutoriais, textos e imagens. As aulas de Educação Física podem contribuir com o desenvolvimento de competências para usar as tecnologias digitais a favor de modos de vida mais ativos, questionar o crescimento do sedentarismo e da obesidade pelo excesso de tempo dedicado ao uso de tecnologias digitais, bem como o uso da linguagem digital para a ampliação de conhecimentos sobre as práticas corporais. 
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
O contato com diferentes práticas corporais nas aulas de Educação Física permite que os e as estudantes possam escolher formas de participar dessas práticas ao longo da vida, adotando valores da sociedade democrática e de vida ativa.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
O tratamento das práticas corporais nas aulas de Educação Física deve envolver olhares de diferentes pontos de vista, culturas, grupos, questões éticas, ambientais e o respeito a diferentes culturas e seus modos próprios de criar e vivenciar práticas corporais.  
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
Olhar para si mesmo, compreendendo o próprio corpo e seu envolvimento em práticas corporais, bem como os sentimentos decorrentes das práticas deve ser objeto das aulasde Educação Física.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Promover valores, exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação em práticas corporais pode favorecer o desenvolvimento dessa competência, bem como discutir e analisar criticamente com os e as alunas a presença de preconceitos nas práticas corporais, desde que, durante as atividades o professor de educação física promova diálogos construtivos sobre os sentidos atribuídos às práticas.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Todo o trabalho com valores  nas práticas corporais deve contribuir para o desenvolvimento dessa competência, o que é facilitado quando o professor promove atividades de colaboração e reflexão crítica.
Na BNCC estão previstas 10 competências específicas para o componente Educação Física:
Competências específicas da Educação Física
Questões de problematização
1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual.
Que grupos culturais criaram essa prática? Em que sentido ela se diferencia de práticas do contexto comunitário e regional?
Onde ela é realizada? Há diferentes possibilidades de acesso a essa prática em função de marcadores sociais como gênero, etnia e condição econômica.
Quais eram os objetivos dos grupos culturais que criaram a prática? 
Com a prática se transformou e quais fatores influenciaram tais mudanças?
2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.
Como aprendo os movimentos, regras, materiais e estratégias dessa prática? Praticamos essa prática a partir de valores democráticos?
Como conseguimos realizar essa prática adaptando materiais, espaços, regras aos nossos interesses e aos valores de respeito, diversidade e inclusão de todos e todas?
Como vivenciamos essa prática incluindo pessoas com deficiência? Colegas com alguma dificuldade?
Como aprendemos uns com os outros novas práticas? Como podemos propagar esses conhecimentos para a comunidade?
3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
Como posso cuidar da saúde em práticas corporais que eu goste? Quais as possibilidades reais de praticar atividades corporais em função das condições de vida na cidade? Que fatores sociais, culturais e econômicos regulam o envolvimento de diferentes grupos culturais em práticas corporais para a saúde?
Como posso cuidar do meu corpo nas atividades cotidianas, analisando criticamente as condições de trabalho e lazer da cidade?
Que cuidados tenho que tomar com a prática de atividades corporais? Que críticas faço aos padrões de beleza e saúde associados às práticas corporais?
4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas.
Como observo e questiono padrões de beleza presentes na mídia?
Como conheço meu corpo e me posiciono criticamente para cuidar dele sem aderir a padrões de beleza socialmente construídos?
Como percebo meu corpo e reconheço sua beleza?
Posso acreditar em tudo que a mídia divulga sobre as práticas corporais? Como posso divulgar novos modos de compreender o corpo e a beleza?
5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes.
Como identifico preconceitos em práticas corporais? Como modifico atitudes preconceituosas nas práticas corporais da minha comunidade?
Tenho consciências sobre como os preconceitos aparecem de formas sutis em modos de falar e agir em práticas corporais?
Sem perceber eu discrimino colegas nas práticas corporais? Como posso mudar isso?
6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
Respeito meus colegas quando participo de práticas corporais? Como me posiciono frente a colegas que adotam atitudes discriminatórias e ou preconceituosas em práticas corporais?
Sou colaborativo nas práticas corporais?
Respeito os diferentes sentidos que pessoas e grupos culturais dão às práticas da cultura corporal?
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos.
Respeito práticas corporais de outras culturas?
Me interesso por conhecer práticas corporais de outras culturas?
O que práticas corporais de outras culturas agregam à minha experiência corporal?
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.
Como posso realizar práticas corporais no meu lazer?
De que práticas corporais eu gosto e como posso conhecer pessoas, ampliar laços em práticas corporais? Como posso estimular a comunidade a se envolver em práticas corporais?
9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
Reconheço as práticas corporais de lazer como direito de todos? Conheço e defendo o direito de acesso ao esporte e ao lazer garantidos nos marcos legais brasileiros?
Incentivo outras pessoas da comunidade a participar de práticas corporais?
Posso agir em instâncias de representação social e participação democrática para reivindicar o direito de acesso às práticas corporais? Como faço isso?
10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo.
Como posso criar novas práticas corporais a partir das que eu conheço?
Que aspectos interessantes eu identifico nas práticas corporais que aprecio?
Como trabalho em grupo para colaborar com os colegas em práticas corporais?
Cada uma dessas competências se materializa no desenvolvimento de habilidades previstas para o Ensino Fundamental. 
Observando o conjunto de Competências específicas da Educação Física percebemos que os professores devem criar condições para que os alunos tenham oportunidade de aproveitar brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura com o objetivo de apoia-los a compreender suas origens culturais, os modos de aprender e ensinar essas práticas, a presença de valores, condutas sociais, emoções, modos de viver e perceber o mundo, padrões de beleza,   relações entre cultura corporal, mídia e consumo, a presença e questionamento de preconceitos e estereótipos nas práticas, bem como as marcas de identidade presentes em cada prática. A ideia é que os alunos construam autonomia para usufruir, criar e recriar essas práticas com posturas éticas e responsáveis para eles e para os demais. 
 
Segundo a BNCC, “A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre 
inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo”
A concepção da linguagem corporal no âmbito da cultura significa dar umanova visão às práticas corporais, acrescentando ao percurso formativo das aulas de Educação Física a experimentação junto com a reflexão e produção de novos sentidos para as práticas.  
 
Essa visão é diferente das que visam exclusivamente o desenvolvimento motor ou psicomotor ou que entendem a Educação Física apenas como forma de descanso e ou gasto de energia dos alunos. A visão cultural permite unir as práticas corporais e o trabalho com valores, atitudes, autoconhecimento, reflexão crítica e não o fazer por fazer. 
No caso das aulas de Educação Física, não significa que irão perder a especificidade do componente e torna-lo somente um caminho para outras aprendizagens, mas de compreender as práticas corporais como objetos, que por sua própria natureza, integram-se com os processos de conhecimento dos alunos nas demais linguagens e áreas do conhecimento.
Aula 2
O Planejamento Curricular no Ensino Fundamental – anos iniciais
 
A BNCC DEFINE AS HABILIDADES POR BLOCOS. QUE DECISÕES DEVEM SER TOMADAS PELOS CURRÍCULOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS E PELO PROFESSOR NO PLANEJAMENTO DAS APRENDIZAGENS ANO A ANO?
Para a Educação Física a BNCC define habilidades em blocos (primeiro e segundo anos, terceiro ao quinto anos, sexto e sétimo anos e oitavo e nono anos). A escolha desse formato de apresentação é justificada por oferecer maior flexibilidade à elaboração dos currículos.
Cumpre destacar que os critérios de organização das habilidades na BNCC (com a explicitação dos objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currículos 
No trecho acima observamos que o documento dá bastante abertura para a elaboração dos currículos, desde que se atenda o desenvolvimento do conjunto de habilidades previstas e os critérios de progressão do conhecimento.
Em princípio, todas as práticas corporais podem ser objeto do trabalho pedagógico em qualquer etapa e modalidade de ensino. Ainda assim, alguns critérios de progressão do conhecimento devem ser atendidos, tais como os elementos específicos das diferentes práticas corporais, as características dos sujeitos e os contextos de atuação, sinalizando tendências de organização dos conhecimentos.
Assim, os currículos estaduais e municipais e os professores devem definir os focos de trabalho de cada ano e selecionar objetos de conhecimento que serão tematizados nas práticas pedagógicas.  (aprofundaremos mais essa conversa e traremos exemplos de escolhas que podem ser realizadas)
COMO O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESTÁ ORGANIZADO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL?
As habilidades definidas na BNCC no componente Educação Física para os anos iniciais do ensino fundamental estão organizadas em blocos/ciclos. Habilidades que devem ser desenvolvidas no primeiro e segundo anos, e habilidades para o terceiro, quarto e quinto anos, nas unidades temáticas de brincadeiras e jogos, danças, lutas e esportes.
 
Nas unidades temáticas de brincadeiras e jogos, danças e lutas a progressão se dá em objetos de conhecimento conforme essas práticas corporais ocorrem socialmente (das esferas sociais mais familiares - localidade e região - às menos familiares - esferas nacional e mundial). 
Na unidade temática das ginásticas trabalha-se a ginástica geral e na unidade de esportes a progressão acontece conforme a classificação dos esportes adotada na BNCC; esportes de marca e precisão no primeiro e segundo anos e esportes de rede/parede, campo/taco e de invasão no terceiro, quarto e quinto anos. 
Os esportes de marca envolvem o “conjunto de modalidades que se caracterizam por comparar os resultados registrados em segundos, metros ou quilos (patinação de velocidade, todas as provas do atletismo, remo, ciclismo, levantamento de peso etc.)” 
Os esportes de precisão reúnem o  “conjunto de modalidades que se caracterizam por arremessar/lançar um objeto, procurando acertar um alvo específico, estático ou em movimento, comparando-se o número de tentativas empreendidas, a pontuação estabelecida em cada tentativa (maior ou menor do que a do adversário) ou a proximidade do objeto arremessado ao alvo (mais perto ou mais longe do que o adversário conseguiu deixar), como nos seguintes casos: bocha, curling, golfe, tiro com arco, tiro esportivo etc.”  
Os esportes de rede/quadra envolvem o conjunto de  “modalidades que se caracterizam por arremessar, lançar ou rebater a bola em direção a setores da quadra adversária nos quais o rival seja incapaz de devolvê-la da mesma forma ou que leve o adversário a cometer um erro dentro do período de tempo em que o objeto do jogo está em movimento. Alguns exemplos de esportes de rede são voleibol, vôlei de praia, tênis de campo, tênis de mesa, badminton e peteca. Já os esportes de parede incluem pelota basca, raquetebol, squash etc.” 
 
Os esportes de campo e taco agregam “modalidades que se caracterizam por rebater a bola lançada pelo adversário o mais longe possível, para tentar percorrer o maior número de vezes as bases ou a maior distância possível entre as bases, enquanto os defensores não recuperam o controle da bola, e, assim, somar pontos (beisebol, críquete, softbol etc.).” 
Os esportes de invasão ou territoriais agregam o  “conjunto de modalidades que se caracterizam por comparar a capacidade de uma equipe introduzir ou levar uma bola (ou outro objeto) a uma meta ou setor da quadra/ campo defendida pelos adversários (gol, cesta, touchdown etc.), protegendo, simultaneamente, o próprio alvo, meta ou setor do campo (basquetebol, frisbee, futebol, futsal, futebol americano, handebol, hóquei sobre grama, polo aquático, rúgbi etc.).”
É importante ressaltar que nos anos iniciais todas essas práticas são ajustadas ao contexto escolar e vivenciadas de forma lúdica. 
 Se observarmos as habilidades, por exemplo para a unidade de jogos e brincadeiras, percebemos que, do primeiro e segundo anos, para o terceiro, quarto e quinto anos, além de novas práticas da cultura lúdica do Brasil e do mundo e das matrizes indígena e africanas os alunos deverão refletir sobre a importância desse patrimônio cultural para os povos que os criam e cultivam. Os alunos avançam para além de reconhecerem e respeitarem as diferenças, para criar formas de brincar incluindo todos. 
OBJETOS DE CONHECIMENTO
 UNIDADES TEMÁTICAS
1º E 2º ANOS
3º  AO 5º ANO
   Brincadeiras e jogos
Brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional
Brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo
Brincadeiras e jogos de matriz indígena e africana
Esportes
Esportes de marca
Esportes de precisão
Esportes e campo e taco
Esportes de rede/parede
Esportes de invasão
    Ginásticas
Ginástica geral
Ginástica geral
   Danças
Danças do contexto comunitário e regional
Danças do Brasil e do mundo
Danças de matriz indígena e africana
    Lutas
Lutas do contexto comunitário e regional
Lutas de matriz indígena e africana
Práticas corporais de aventura
Cabe ao currículo e ao professor decidir que habilidades do ciclo trabalhar em cada ano e que objetos de conhecimento serão foco, por exemplo, uma rede ou professor pode decidir pelos seguintes objetos de conhecimento no primeiro e segundo anos. 
Primeiro ano
Segundo ano
Brincadeiras tradicionais das crianças, dos pais e avós.
Brincadeiras da cultura popular regional.
Atletismo (esporte de marca) – corridas e saltos
 Boliche (esporte de precisão)
Atletismo (esporte de marca) – lançamentos e provas combinadas
 
Golfe (esporte de precisão)
Ginástica geral (habilidades básicas de solo)
Ginástica geral (habilidades com implementos)
Danças do contexto comunitário
Danças tradicionais brasileiras
Para exemplificar as aprendizagens em jogo nas aulas de Educação Física nos anos iniciais do ensino fundamental vamos ver as habilidades previstas do terceiro ao quinto anos na unidade temática de lutas.
(EF35EF13) Experimentar,fruir e recriar diferentes lutas presentes no contexto comunitário e regional e lutas de matriz indígena e africana.
Experimentar e fruir jogos de lutas do contexto comunitário
Pesquisar lutas que são praticadas na comunidade.
Experimentar e fruir lutas de matriz indígena.
Experimentar e fruir a Capoeira.
(EF35EF14) Planejar e utilizar estratégias básicas das lutas do contexto comunitário e regional e lutas de matriz indígena e africana experimentadas, respeitando o colega como oponente e as normas de segurança.
Aprender movimentos básicos de ataque e defesa dos jogos de lutas comunitários.
Reconhecer a diversidade de gestos que caracterizam a lutas presentes nas práticas da comunidade.
Aprender as modalidades de lutas indígenas, suas regras e gestuais, e praticá-las com respeito aos colegas.
Aprender gestos e formas de expressão rítmica da capoeira.
Conhecer e respeitar a origem histórica da Capoeira.
Praticar os movimentos da Capoeira respeitando os colegas. 
(EF35EF15) Identificar as características das lutas do contexto comunitário e regional e lutas de matriz indígena e africana, reconhecendo as diferenças entre lutas e brigas e entre lutas e as demais práticas corporais.
Descrever as regras dos jogos de lutas, diferenciando-os das situações de briga.
Compreender o sentido das lutas indígenas para os povos que as criaram.
Praticar lutas indígenas respeitando os colegas.
Compreender as relações entre Capoeira e as questões raciais.
Aula 3
O planejamento curricular no Ensino Fundamental – anos finais
COMO O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESTÁ ORGANIZADO NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL?
Nos anos finais do Ensino Fundamental, as modificações no corpo, decorrentes da puberdade, os novos espaços de socialização dos adolescentes e seu envolvimento com as culturas juvenis torna as questões do corpo e da cultura corporal relevantes para a formação dos alunos.
 O compromisso da BNCC em promover processos educativos sintonizados com as necessidades e interesses dos alunos, em uma visão de educação integral, abre espaço para  que as práticas corporais sejam objetos de conhecimento privilegiados para mobilizar e integrar novos conhecimentos sobre si e sobre o mundo, aproveitando que nessa fase os alunos estão ampliando suas possibilidades de interpretação e análise da realidade.
Nessa fase, os alunos passam a interagir com docentes especialistas nas diferentes disciplinas, e essa nova configuração da escola traz novos desafios para a rotina de estudos e riscos de fragmentação e descontextualização dos conhecimentos, tornando mais complexa a tarefa de dar sentido ao trabalho escolar. Nessa fase de escolarização os alunos vão desenvolver maior capacidade de abstração e de acessar diferentes fontes de informação. Essas características também permitem maior aprofundamento no estudo das práticas corporais na escola.
Os diferentes ritmos de ingresso na puberdade afetam a construção das subjetividades durante o ensino fundamental. Nas aulas de Educação Física esse corpo em transformação, carregado de significados culturais estará mais exposto. Entrarão em jogo questões de gênero e sexualidade, a construção da autoimagem e da autoestima, e por isso o professor deve estar atento aos modos particulares de cada turma, e de como cada menino e menina estão vivendo esse processo. Abordar abertamente essas questões, escutar ativamente as suas necessidades e curiosidades sobre o próprio corpo é tarefa importante do professor de Educação Física.
 A compreensão da dimensão cultural do objeto de estudo da Educação Física e as especificidades da linguagem corporal e seu papel na formação dos estudantes de forma integrada ao trabalho com as demais linguagens amplia o papel das aulas de Educação  Física na formação dos alunos do Ensino Fundamental, pois ela deixa de tratar apenas a dimensão física das práticas corporais para integrar o desenvolvimento das competências gerais da BNCC e da área de linguagens.
 
As habilidades da BNCC no componente Educação Física para os anos finais do ensino fundamental estão organizadas em dois blocos: habilidades a serem desenvolvidas no sexto e sétimo anos e habilidades para o oitavo e nono anos. 
As temáticas dessa fase são:
OBJETOS DE CONHECIMENTO
 UNIDADES TEMÁTICAS
6º E 7º ANOS
8º  E 9º ANOS
   Brincadeiras e jogos
Jogos eletrônicos
Esportes
Esportes de marca
Esportes de precisão
Esportes de invasão
Esportes técnico-combinatórios
Esportes de rede/parede
Esportes de campo e taco
Esportes de invasão
Esportes de combate
    Ginásticas
Ginástica de condicionamento físico
Ginástica de condicionamento físico
Ginástica de conscientização corporal
   Danças
Danças urbanas
Danças de salão
    Lutas
Lutas do Brasil
Lutas do mundo
Práticas corporais de aventura
Práticas corporais de aventura urbanas
Práticas corporais de aventura na natureza
Os currículos dos Estados e Municípios podem definir quais modalidades devem ser abordadas em cada unidade temática, dependendo da realidade local e da flexibilidade de escolha dos professores nas suas escolas. Vamos ver um exemplo:
Sexto ano
Sétimo ano
Jogos eletrônicos
Atletismo (esporte de marca)
Golfe (esporte de precisão)
Basquetebol (esporte de invasão)
Ginástica artística (esporte técnico-combinatório)
Ciclismo (esporte de marca)
Bocha (esporte de precisão)
Futebol (esporte de invasão)
Ginástica rítmica (esporte técnico combinatório)
Treinamento funcional
Treinamento resistido
Break
Funk
Capoeira
Lutas indígenas
Skate
Parkour
Ao tematizar as práticas, elas podem e devem ser ajustadas ao contexto escolar. Não há necessidade e nem indicação que sejam vivenciadas com equipamentos, materiais, regras e espaços “oficiais”. O importante é garantir que, por meio da experimentação, apropriação, uso e análise os alunos possam compreender as práticas corporais no contexto cultural.
 
Em relação aos anos iniciais, o trabalho com as práticas corporais, nas diferentes unidades temáticas ganha novos conteúdos conectados às culturas juvenis, às práticas de outras culturas e a abordagem de temáticas sociais como preconceitos, estereótipos, questões de gênero, etnia e as relações entre saúde e práticas corporais, analisadas de modos mais críticos e reflexivos. 
 Para exemplificar as aprendizagens em jogo nas aulas de Educação Física nos anos finais do ensino fundamental vamos ver as habilidades previstas para o oitavo e nonos anos na unidade temática de ginásticas.
 
(EF89EF07) Experimentar e fruir um ou mais programas de exercícios físicos, identificando as exigências corporais desses diferentes programas e reconhecendo a importância de uma prática individualizada, adequada às características e necessidades de cada sujeito.
Experimentar e fruir diferentes possibilidade de desenvolvimento do treinamento de corrida com objetivos de lazer, saúde e qualidade de vida.
Conhecer instrumentos de avaliação das capacidades físicas que orientam a prescrição do treinamento de corrida. 
Experimentar e fruir de programa de treinamento resistido visando desenvolvimento de resistência muscular e força.
Conhecer os princípios de treinamento que devem ser considerados para individualizar o trabalho com treinamento resistido. 
(EF89EF08) Discutir as transformações históricas dos padrões de desempenho, saúde e beleza, considerando a forma como são apresentados nos diferentes meios (científico, midiático etc.).
Pesquisar e discutir os objetivos do envolvimento de pessoas da comunidade em treinamento de corrida e o papel da mídia da divulgação dessa modalidade de treinamento físico. 
Discutir os padrões de beleza associados ao volume muscular em homens e mulheres e suas consequências para a autoimagem de seus praticantes.
(EF89EF09) Problematizar a prática excessiva de exercícios físicos e o uso de medicamentos para a ampliação do rendimento ou potencialização das transformações corporais.
Conhecer os riscos e cuidados para minimizar lesões na prática de corrida.
Discutir o uso de suplementos alimentares por praticantes de corrida de rua.Problematizar o uso de anabolizantes e suplementos alimentares na prática de treinamento resistido.
(EF89EF10) Experimentar e fruir um ou mais tipos de ginástica de conscientização corporal, identificando as exigências corporais dos mesmos.
Experimentar e fruir de práticas de liberação miofascial adotadas por praticantes de corrida. 
Experimentar e fruir a prática do pilates.
(EF89EF11) Identificar as diferenças e semelhanças entre a ginástica de conscientização corporal e as de condicionamento físico e discutir como a prática de cada uma dessas manifestações pode contribuir para a melhoria das condições de vida, saúde, bem-estar e cuidado consigo mesmo.
Compreender o papel do desenvolvimento da consciência corporal na preparação adequada para o treinamento de corrida. 
Identificar o desenvolvimento de força e resistência muscular no pilates. 
Aula 4
DIMENSÕES DE CONHECIMENTO E O TRABALHO COM AS PRÁTICAS CORPORAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
A BNCC define oito dimensões de conhecimento que devem ser trabalhadas em todas as unidades temáticas. 
Dimensões de conhecimentos definas na BNCC para a Educação Física
Implicações para o professor
Experimentação: dimensão que valoriza os conhecimentos só ser acessados pela vivência da linguagem corporal. A experimentação “de carne e osso” é que precisa fazer sentido para o sujeito, trazendo sensações positivas.
Ao tratar essa dimensão o(a) professor(a) se preocupa em proporcionar experiências adequadas às possibilidades e interesses dos e das estudantes, cuidando para que todos sejam incluídos e aprendam por meio da experimentação ativa, construindo movimentos de forma autoral e não apenas reproduzindo técnicas. Isso implica criar estratégias mais abertas de solução de problemas corporais, valorizando os processos subjetivos dos meninos e meninas. Por exemplo, se o(a) professor(a) está tematizando as danças de salão deverá criar vivências nas quais os e as estudantes possam vivenciar o ritmo, os passos de diferentes formas, buscando, em diálogo com as técnicas da dança, um modo próprio de se expressarem.
Uso e apropriação: envolve conhecimentos advindos do saber fazer que permitem a construção da autonomia na utilização práticas corporais agrega a capacidade de ajustar a experiência corporal a contextos nas atividades de lazer.
Essa dimensão chama atenção para o trabalho com as múltiplas formas de ajustar as vivências corporais a espaços, tempos e materiais. Por exemplo, se o(a) professor(a) está tematizando o futebol, deverá abordar saberes que permitem saber jogar de diferentes formas e não apenas com as regras oficiais do esporte. 
Fruição: essa dimensão envolve conhecimentos que contribuam para que os estudantes possam realizar a apreciação estética e sensível das experiências corporais que são tematizadas no currículo escolar. 
Trabalhar com essa dimensão implica chamar a atenção dos meninos e das meninas acerca dos sentimentos gerados nas práticas corporais, observar a estética dos próprios movimentos apreciando e fruindo, por exemplo, a estética de jogadas do basquetebol como a badeja, as fintas, as enterradas...
Reflexão sobre a ação: envolve o acesso dos alunos a observação e análise das vivências corporais. Envolve resolver desafios peculiares à prática realizada por meio de reflexões sobre como fazer. 
Um exemplo de trabalho com essa dimensão é criar situações nas quais os e as estudantes analisam os próprios gestos e dos colegas. Por que, por exemplo, um time está obtendo mais sucesso em um jogo de queimada? Que sistema de organização está utilizando? Como está organizando o ataque e a defesa e porque essa forma de jogar está sendo mais eficiente?
Construção de valores: conhecimentos que permitem aos e as estudantes refletir sobre os valores veiculados e experimentados nas práticas corporais e seu enquadramento nos valores da sociedade democrática: respeito às diferenças e combate aos preconceitos e estereótipos presentes nas práticas corporais. 
Ao tratar essa dimensão, o professor deve se preocupar em apoiar os e as estudantes a refletir e agir de forma ética durante as vivências corporais. Em uma brincadeira de pega-pega, por exemplo: o grupo está respeitando as regras? Elas podem ser modificadas para que todos se sintam incluídos? Conseguimos tocar o colega para pegá-lo de forma cuidadosa, sem machucar? Quando ganhamos um jogo, respeitamos a equipe contrária? 
Análise: envolve o acesso a conceitos sobre as práticas corporais, conhecimentos que contribuem para a análise dos sentidos associados às práticas, acesso aos conhecimentos científicos que as embasam.
Essa dimensão envolve trabalhar, por exemplo, os esquemas táticos utilizados nas práticas esportivas, os conceitos de espaço e tempo de práticas da dança, os conhecimentos fisiológicos e biomecânicos que explicam porque determinadas técnicas corporais acabam sendo mais eficientes do que outras. É uma dimensão mais conceitual, do saber sobre as práticas. 
Compreensão: conhecimentos da dimensão sociocultural das práticas corporais: aspectos históricos, culturais como o estudo das condições que permitem o surgimento de uma determinada prática corporal em uma dada região e época.
Um exemplo de tratamento dessa dimensão é abordar a forma como as práticas corporais são disseminadas na mídia. Porque algumas têm mais destaque do que outras? Porque, geralmente os esportes femininos têm menos espaços nos noticiários? Que relações isso tem com os papéis historicamente construídos das mulheres na sociedade? Que movimentos têm acontecido para mudar essa realizada? Como nos posicionamos frente a essa questão?
Protagonismo comunitário: aborda conhecimentos que permitem aos e às estudantes assumir o compromisso com a democratização do acesso às práticas corporais. 
O trabalho com essa dimensão envolve conhecimentos sobre os direitos de acesso às práticas corporais, os mecanismos e instâncias de decisão sobre políticas de esporte e lazer, a organização de melhorias nos espaços da comunidade, os movimentos de reivindicação de melhores condições de esporte e lazer para a comunidade. 
O documento da BNCC destaca que “não há nenhuma hierarquia entre essas dimensões, tampouco uma ordem necessária para o desenvolvimento do trabalho no âmbito didático. Cada uma delas exige diferentes abordagens e graus de complexidade para que se tornem relevantes e significativas. Considerando as características dos conhecimentos e das experiências próprias da Educação Física, é importante que cada dimensão seja sempre abordada de modo integrado com as outras, levando-se em conta sua natureza vivencial, experiencial e subjetiva. Assim, não é possível operar como se as dimensões pudessem ser tratadas de forma isolada ou sobreposta”.
Relembrando
Neste módulo você viu:
 o currículo e as aulas de Educação Física precisam ser pensados a partir de suas contribuições para o desenvolvimento das competências gerais da BNCC.
 Que os professores devem criar condições para que os alunos tenham oportunidade de aproveitar brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura com o objetivo de apoiá-los a compreender suas origens culturais, os modos de aprender e ensinar essas práticas, condutas sociais, emoções, entre outros.
 E que o importante é que os alunos possam compreender as práticas corporais no contexto cultural, por meio da experimentação, apropriação, uso e análise.
Relembrando
Neste módulo você viu:
  o currículo e as aulas de Educação Física precisam ser pensados a partir de suas contribuições para o desenvolvimento das competências gerais da BNCC.
 Que os professores devem criar condições para que os alunos tenham oportunidade de aproveitar brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura com o objetivo de apoiá-los a compreender suas origens culturais, os modos de aprender e ensinar essas práticas, condutas sociais, emoções, entre outros.
 E que o importante é que os alunos possam compreender as práticas corporais no contexto cultural, por

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