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www.cers.com.br 1 www.cers.com.br 2 Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º – Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua compe- tência. 1. Regulamentação em razão de determinação constitucional: a Lei 9.099/95 regulamenta os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Estadual, tendo sido elaborada em decorrência do que estabelece o art. 98, I, CF. 2. Criação dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal: em razão das dúvidas que surgiram à época, em relação a uma eventual interpretação extensiva para fins de aplicação à jurisdição federal, adveio a Emenda Constitucional nº 22/1999, acrescentando, ao referido art. 98, um parágrafo único (posteriormente modificado pela EC nº 45/2004, que inseriu os §§ 1º e 2º), disciplinando que lei federal disporia sobre a criação dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal. Editou-se, assim, a Lei 10.259/01. 3. Coincidência: as leis de regência dos Juizados Especiais Estaduais e Federais consignam, no art. 3º, as matérias que são de sua competência. 4. Atenção – Norma de natureza processual: a Lei 9.099/95 é norma de natureza processual (portanto, com aplicação subsidiária das normas processuais inseridas no CPC) com origem constitucional, jamais podendo ser tratada como uma mera norma procedimental. Art. 2º – O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeri- dade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. 1. Oralidade: princípio ligado a outros dois, quais sejam, o da concentração (pressupondo que os atos processuais nas audiências sejam os mais concentrados possíveis) e o da imediatidade (preconiza que o juiz deve proceder diretamente à colheita das provas), e que visa assegurar a solução das demandas de uma forma mais ágil e mais equitativa, sendo autorizado, inclusive, que a postulação das partes se dê de modo direto e oral (reduzido a termo, de modo sucinto, porém, pelo serventuário da justiça – art. 14, da lei de regência). Sua adoção decorre de determinação constitucional (art. 98, I), sendo que nas fases conciliatória, instrutória e decisória, a oralidade demonstra evidente repercussão, prin- cipalmente na sessão de conciliação, oportunidade em que há contato direto entre os litigantes e o conciliador, estabe- lecendo-se o debate sobre as questões controvertidas, através da palavra oral pronunciada, tudo, evidentemente, para fins de se chegar a um consenso. É da oralidade em seu aspecto maior que surge o procedimento verdadeiramente sumaríssimo. 2. Simplicidade: princípio diretamente relacionado aos demais e que preconiza a ideia de que o desenvolvimento do pro- cesso deve se dar de maneira facilitada, liberto do formalismo. 3. Informalidade: princípio que busca tornar o procedimento especial menos complicado, mais simples, decorrente do fato de a Lei Especializada ter instituído um sistema apartado dos elevados custos e da demora na solução dos conflitos, obstáculos presentes no processo tradicional e que constituem causa de agravamento da litigiosidade e da total falta de www.cers.com.br 3 credibilidade na atuação da Justiça. Exemplos: a simplificação do pedido inicial (art. 14), sem as exigências formais dita- das pelos arts. 319 e 320, CPC/15; a prática de atos processuais em outras comarcas (art. 13, § 2º); a facilitação dos modos de comunicação processual (conforme indicam os arts. 18 e 19), dentre outros. 4. Economia Processual: princípio que se caracteriza pela obtenção, em juízo, do máximo resultado com o mínimo de esforço. Exemplos: as regras que disciplinam a postulação do autor e a resposta do réu (arts. 14, 30 e 31); a previsão de utilização da liberdade das formas (art. 13); o oferecimento da peça de resposta na audiência de instrução e julgamento (arts. 27 e 30), dentre outros. 5. Celeridade: trata-se de princípio fundamental para que o objetivo de proporcionar, aos jurisdicionados, principalmente aos hipossuficientes, a pronta tutela jurisdicional, seja plenamente alcançado. CAPÍTULO II DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Seção I Da Competência Art. 3º – O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I – as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; III – a ação de despejo para uso próprio; IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. § 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução: I – dos seus julgados; II – dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei. § 2º – Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de inte- resse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. § 3º – A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação. 1. Pequeno valor e menor complexidade: a Lei 9.099/95 prescreveu profundas e significativas inovações, levando para o conhecimento, na esfera cível, não apenas as causas de “pequeno valor”, mas as demandas de “menor complexidade” que, segundo o art. 3º, são identificadas pelo valor (inciso I) e pela matéria (incisos II a IV). Convém consignar que o entendi- mento atual do STJ se dá no sentido de que a competência fixada pela matéria não se submete ao teto de 40 (quarenta) salários mínimos, ou seja, para algumas matérias, ainda que de valor superior, será o Juizado Especial Cível competente para seu recebimento e processamento. STF AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PULSOS ALÉM DA FRANQUIA. JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de que “em se tratando de demanda que se resolve pela análise de matéria exclusivamente de direito, a dispensar ins- trução complexa, cabível seu processamento no Juizado Especial. Reveste-se de natureza infraconstitucional a matéria relacionada à relação de consumo e ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão” [RE n. 571.572]. Agravo regimental a que se nega provimento (AI 668543 AgR/BA, rel. Min. Eros Grau, 2 T., j. 23.6.2009). www.cers.com.br 4 STJ PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. COMPLEXIDADE DA CAUSA. NECESSIDADE DE PERÍCIA. CONDENAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. CONTROLE DE COMPETÊNCIA. TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS. POSSIBILIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. CABIMENTO. 1. Na Lei 9.099/95 não há dispositivo que permita inferir que a complexidade da causa – e, por conseguinte, a competência do Jui- zado Especial Cível – esteja relacionada à necessidade ou não de realização de perícia. 2. A autonomia dos Juizados Especiais não prevalece em relação às decisões acerca de sua própria competência para conhecer das causas que lhe são submetidas, ficando esse controle submetido aos Tribunais de Justiça, via mandado de segurança. Inaplicabilidade da Súmula 376/STJ. 3. O art. 3º da Lei 9.099/95 adota dois critérios distintos – quantitativo (valor econômico da pretensão) e qualitativo(matéria envolvida) – para definir o que são “causas cíveis de menor complexidade”. Exige-se a presença de apenas um desses requisitos e não a sua cumulação, salvo na hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95. Assim, em regra, o limite de 40 salários mínimos não se aplica quando a competência dos Juizados Especiais Cíveis é fixada com base na matéria. 4. Admite-se a impetração de mandado de segurança frente aos Tribunais de Justiça dos Estados para o exercício do controle da competência dos Juizados Especiais, ainda que a decisão a ser anulada já tenha transitado em julgado. 5. Recurso ordi- nário não provido (RMS 30.170/SC, rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 5.10.2010). FONAJE Enunciado 54 – A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito material. Enunciado 69 – As ações envolvendo danos morais não constituem, por si só, matéria complexa. Enunciado 70 – As ações nas quais se discute a ilegalidade de juros não são complexas para o fim de fixação da competência dos Juizados Especiais, exceto quando exigirem prova pericial contábil. 2. Incompetência para as causas de menor complexidade e a utilização do mandado de segurança: de acordo com o STJ, “é cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal de Justiça, a fim de que seja reconhecida, em razão da complexidade da causa, a incompetência absoluta dos juizados especiais para o julgamento do feito, ainda que no processo já exista decisão definitiva de Turma Recursal da qual não caiba mais recurso. Inicialmente, observe-se que, em situações como essa, o controle por meio da ação mandamental interposta dentro do prazo decadencial de cento e vinte dias não interfere na autonomia dos Juizados, uma vez que o mérito da demanda não será decidido pelo Tribunal de Justiça. Ademais, é necessário estabelecer um mecanismo de controle da competência dos Juizados, sob pena de lhes conferir um poder desproporcional: o de decidir, em caráter definitivo, inclusive as causas para as quais são absoluta- mente incompetentes, nos termos da lei civil. Dessa forma, sendo o juízo absolutamente incompetente em razão da matéria, a decisão é, nesse caso, inexistente ou nula, não havendo, tecnicamente, que falar em trânsito em julgado”. (STJ, RMS 39.041-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/5/2013, Informativo 524). 3. Ampliação da competência cível: ampliou-se, ainda mais, a competência cível dos Juizados Especiais quando autorizada, nos incisos I e II, do § 1º, a promoção das execuções dos seus julgados e dos títulos executivos extrajudiciais no valor de até 40 (quarenta) vezes o salário mínimo (arts. 52 e 53). STJ PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. Nada importa que a causa esteja na alçada do Juizado Especial Estadual Cível; o autor pode propô-la no Juízo Comum porque a competência é concorrente. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Uberaba, MG (CC 90218/MG, rel. Min. Ari Pargendler, 2ª S. DJ 10.12.2007). TJRS COBRANÇA. FORNECIMENTO DE BEBIDA. AJUIZAMENTO DE DUAS AÇÕES, FUNDADAS NA MESMA CAUSA DE PEDIR. PEDIDO www.cers.com.br 5 DESMEMBRADO, COM BURLA DA REGRA CONTIDA NO ARTIGO 3º, I, DA LEI 9.099/95. INVIABILIDADE. EXTINÇÃO, COM FUNDAMENTO NO ARTIGO 51, II, DA LEI Nº 9.099/95. Autor que busca reaver valores de bebidas comercializadas à enti- dade ré, sendo que houve o desmembramento em duas demandas diversas, restando caracterizada a tentativa de burla ao disposto no artigo 3º, I, da Lei nº 9.099 /95, pois a soma total suplanta o teto máximo previsto para a competência dos Juizados Especiais. Pelas razões alinhadas, é mister a extinção da presente, com lastro no artigo 51 , II e III , da Lei nº 9.099/95. Sentença confirmada, por fundamento diverso. RECURSO IMPROVIDO (Recurso Cível Nº 71004207353, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fernanda Carravetta Vilande, j. 30.1.2013). FONAJE Enunciado 1 – O exercício de ação no Juizado Especial é facultativo para o autor. Enunciado 9 – O condomínio residencial poderá propor ação no Juizado Especial, nas hipóteses do art. 275, inciso II, item b, do Código de Processo Civil. Enunciado 30 – É taxativo o elenco das causas previstas no art. 3º da Lei 9.099/1995. Enunciado 87 – A Lei 10.259/2001 não altera o limite da alçada previsto no artigo 3°, inciso I, da Lei 9.099/1995. 4. Competência em razão da matéria do art. 275, II, CPC/73: diz respeito às causas de menor complexidade que envolvam o arrendamento rural e a parceria agrícola; a cobrança em face do condômino; o ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico e por danos causados em veículos; a cobrança de seguro, advindos de acidente de veículos; a cobrança de honorários de profissionais liberais; que versem sobre revogação da doação e nos demais casos expressos em lei. 5. O novo Código de Processo Civil e as ações previstas no art. 275, II, CPC/73 : a Lei nº. 13.105/2015 (CPC/2015) estabe- lece um procedimento único para as ações de conhecimento, excluindo o procedimento comum sumário. Apesar disso, as causas previstas no art. 275, II, CPC/73 continuarão a tramitar sob o rito dos juizados especiais, por expressa previsão no art. 1.063 do CPC/2015: “Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei nº. 9.099 , de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, II, da Lei nº. 5.869, de 11 de janeiro de 1973”. Trata-se de uma hipótese de ultratividade da lei processual revogada. STJ RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS DE ADVOGADO. COMPLEXIDADE (ART. 275, INCISO II, DO CPC) VERSUS CONDENAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁ- RIOS MÍNIMOS. 1. Negativa de prestação jurisdicional inocorrente, em face do pontual e exaustivo exame, pelo acórdão recorrido, das questões alegadamente omissas quando da oposição de dois embargos de declaração. 2. Possibilidade de controle da competência dos Juizados Especiais mediante o mandado de segurança impetrado na Corte local. Inaplicabili- dade do enunciado 376/STJ. 3. Resolvida a questão relativa à legitimidade ativa da parte autora da ação de cobrança de honorários de advogado nos Juizados Especiais com base em elementos fático-probatórios, faz-se incidente o enunciado sumular 7/STJ. 4. O critério definidor da competência dos Juizados Especiais Estaduais, previsto no art. 3º, inciso I, da Lei 9.099/95 (valor econômico da pretensão), não é cumulativo com o critério previsto no inciso II, do mesmo dispositivo legal (ações enumeradas no art. 275, II, do CPC). Precedente. 5. Afastamento da multa aplicada na origem com base no art. 538, parágrafo único, do CPC, em face do provimento do recurso especial. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO (REsp 1185841/MT, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. 25.6.2013). 6. Ação de despejo para uso próprio: compreende aquela ajuizada pelo proprietário (abrange o promissário comprador ou cessionário) do imóvel locado, para seu uso ou de seu cônjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascen- dente ou descente. STF Súmula 175 – Admite-se a retomada de imóvel alugado para uso de filho que vai contrair matrimônio. www.cers.com.br 6 FONAJE Enunciado 4 – Nos Juizados Especiais só se admite a ação de despejo prevista no art. 47, inciso III, da Lei 8.245/1991. Enunciado 58 – As causas cíveis enumeradas no art. 275, II, do CPC admitem condenação superior a 40 salários mínimos e sua respectiva execução, no próprio Juizado. 7. Sanção penal para o caso de imóvel reclamado e não utilizado dentro do prazo legal: a Lei 8.245/91 (locações de imóveis urbanos e os procedimentos e elas pertinentes) prevê, conforme reza o inciso II, do art. 44, pena de três meses a um ano de detenção, casoo imóvel reclamado nos fins do pedido de despejo não seja utilizado dentro de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da entrega do imóvel, ou utilizando-o, não o faça pelo tempo mínimo de 1 (um) ano, a contar da data da ocupação. 8. Aplicabilidade de multa para o caso de imóvel reclamado e não utilizado dentro do prazo legal: através de ação de cobrança, o ex-locatário poderá pleitear, a teor do que prevê o parágrafo único, do art. 44, “multa equivalente a um mínimo de doze e máximo de vinte e quatro meses do valor do último aluguel atualizado ou do que esteja sendo cobrado do novo locatário, se realugado o imóvel”. 9. Atenção – Retomada para uso próprio e valor da causa: o manejo da ação de retomada para uso próprio, em sede de Juizados Especiais, não se restringe ao valor da causa, vez que o pedido pode ser superior ao valor de alçada (quarenta salários mínimos), até porque a pretensão tem por objeto a retomada de imóvel e não a condenação em dinheiro (plei- teia-se coisa/objeto e não crédito). 10. Demandas regidas por procedimentos especiais: a rigor, não podem ser processadas nos Juizados Especiais, exceto as possessórias sobre imóveis, observando-se o valor de alçada. TJDFT PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. CAUTELAR. INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. PRE- LIMINAR ACOLHIDA. PROCESSO EXTINTO. ART. 51, INCISO II, DA LEI N.º 9.099/95. 1. O PEDIDO DE NATUREZA CAUTELAR – A DESPEITO DO NOME JURÍDICO DADO NA INICIAL – REVELA A INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS EM RAZÃO DA MATÉRIA. 2. A PRETENSÃO DEDUZIDA DE EXIBIÇÃO CAUTELAR DE DOCUMENTOS NÃO SE ENQUADRA NO ROL DE COMPETÊNCIAS DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.099/95 E, POR TER PROCEDIMENTO ESPECIAL DEFINIDO PELO ARTIGO 844 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, É INCOMPATÍVEL COM O RITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS. 3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (ACJ 20120110516326/DF, Rel. Edi Maria Coutinho Bizzi, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, j. 8.4.2014, p. 22.4.2014). FONAJE Enunciado 8 – As ações cíveis sujeitas aos procedimentos especiais não são admissíveis nos Juizados Especiais. 11. Valor da causa nas demandas possessórias: o entendimento mais razoável é o de que o valor da causa deve ser fixado levando em consideração o real conteúdo econômico perseguido pela parte autora, computando o preço da posse, bem como os eventuais prejuízos decorrentes do esbulho, da turbação ou da ameaça. 12. Causas excluídas da competência dos Juizados Especiais: conforme dispõe o § 2º, as justificativas para tanto se assen- tam: a) na necessidade de certas provas, logicamente além da oral e documental, nas causas alimentares; b) na comple- xidade do processo falimentar; c) nos interesses da Fazenda Pública, especialmente em matéria fiscal; d) na imprescin- dibilidade da prova pericial nas ações acidentárias; e) no julgamento consciente, quando versem sobre resíduos ou es- tado e capacidade das pessoas, notadamente diante da necessidade de real amadurecimento das causas. 13. Renúncia ao crédito excedente: em casos cujo valor auferido à causa seja superior a 40 (quarenta) salários mínimos, entende-se que estará o autor, tacitamente, renunciando ao crédito excedente. Todavia, se houver concordância da www.cers.com.br 7 parte adversa, através da conciliação, em pagar-lhe valor superior, este restará homologado e servirá de parâmetro em eventual cumprimento de sentença. Não se considera, entretanto, renunciado o valor excedente, nem o Juizado Especial Cível incompetente, quando este seja decorrente de encargos da própria condenação. STJ PROCESSO CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SEUS JULGADOS. VALOR SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. POSSIBILIDADE. 1. A jurisprudência do STJ admite a impetra- ção de mandado de segurança perante os Tribunais de Justiça desde que o objetivo seja unicamente o de exercer o controle da competência dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, vedada a análise do mérito do processo subjacente. 2. A compe- tência do Juizado Especial é verificada no momento da propositura da ação. Se, em sede de execução, o valor ultrapassar o teto de 40 salários mínimos, em razão do acréscimo de encargos decorrentes da própria condenação, isso não será motivo para afastar a competência dos Juizados e não implicará a renúncia do excedente. 3. A multa cominatória, que, na hipótese, decorre do descumprimento de tutela antecipada confirmada na sentença, inclui-se nessa categoria de encar- gos da condenação e, embora tenha atingido patamar elevado, superior ao teto de 40 salários mínimos, deve ser executada no próprio Juizado Especial. 4. Recurso ordinário em mandado de segurança desprovido (RMS 38884/AC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 7.5.2013). 14. Atenção – Conflito de competência entre Juízo de Direito Comum e Juizado Especial: o posicionamento do STF é no sentido de que compete ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal Regional Federal dirimir o referido conflito, pois ambos os Juízes (Comum e Juizado) estão vinculados ao respectivo tribunal. Assim, ao STJ, nos termos do art. 105, I, letra “d”, CF, fica reservada a competência para análise dos litígios que envolvam tribunais distintos ou juízes vinculados a tribu- nais diversos. Já na hipótese do conflito de competência entre Juízes do próprio Juizado Especial, a competência para dirimir o conflito será da Turma Recursal. FONAJE Enunciado 91 – O conflito de competência entre juízes de Juizados Especiais vinculados à mesma Turma Recursal será decidido por esta. Inexistindo tal vinculação, será decidido pela Turma Recursal para a qual for distribuído. 15. Atenção – STF e a “inadmissibilidade” do mandado de segurança contra decisões interlocutórias – STJ e a “admissibi- lidade” do mandado de segurança: O STF entendeu, no RE 576847/BA, cujo relator foi o Min. Eros Grau, pela inadmissibilidade da impetração do mandado de segurança das decisões interlocutórias, em virtude de atentar contra o princípio da celeridade. O fundamento é o de que, pelo fato de não haver preclusão, as decisões interlocutórias possam ser impugnadas quando da interposição do “recurso inominado” em face das sentenças então prolatadas. Decidiu, ainda, no HC 99010/SP, que a competência originária do STJ para julgar mandado de segurança está definida numerus clausus em sede constitucional. O STJ, por sua vez, entendeu de forma diversa e, através da Súmula 376, assentou o entendimento de que compete às Turmas Recursais processar e julgar o mandado de segurança impetrado contra ato do magistrado em exercício no Juizado Especial, assim como do Juiz da própria Turma Recursal. STF RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANÇA. CABI- MENTO. DECISÃO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. art. 5º, lv da constituição do Brasil. PRINCÍPIO CONS- TITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlocutórias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 está voltada à promoção de celeridade no processamento e julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter consagrado a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias podem ser impugnadas www.cers.com.br 8 quando da interposição de recurso inominado. Recurso extraordinário a que se nega provimento (RE 576847/BA, rel. Min. Eros Grau, j. 20.5.2009). A competência originária do STJ para julgar mandado de segurança está definida, numerus clausus, no art. 105, I,b, da Constituição do Brasil. O STJ não é competente para julgar mandado de segurança impetrado contra atos de outros tri- bunais ou dos seus respectivos órgãos (HC 99010/SP, rel. Min. Eros Grau, j. 15.9.2009). RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANÇA. CABI- MENTO. DECISÃO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5º, LV DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlo- cutórias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 está volta da à promoção de celeridade no processamento e julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter consagrado a regra da irrecor- ribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias podem ser im- pugnadas quando da interposição de recurso inominado. Recurso extraordinário a que se nega provimento.” Cumpre res- saltar, por necessário, que esse entendimento vem sendo observado em sucessivos julgamentos, monocráticos e colegia- dos, que, proferidos no âmbito desta Corte, versaram questões assemelhadas à que ora se examina nesta sede recursal (RE 531.531-AgR/RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – RE 542.847/RS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.). O exame da pre- sente causa evidencia que o acórdão impugnado em sede recursal extraordinária ajusta-se à diretriz jurisprudencial que esta Suprema Corte estabeleceu na matéria em referência. Sendo assim, e tendo em consideração as razões expostas, conheço do presente agravo, para negar seguimento ao recurso extraordinário, por manifestamente inadmissível (CPC, art. 544, § 4º, II, “b). (ARE 841957/MG, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, j. 3.12.2014, p. 18.12.2014). STJ Súmula 376 – Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de Juizado Especial. FONAJE Enunciado 62 – Cabe exclusivamente às Turmas Recursais conhecer e julgar o mandado de segurança e o habeas corpus impetrados em face de atos judiciais oriundos dos Juizados Especiais. Art. 4º – É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro: I – do domicílio do réu ou a critério do autor, do local onde aquele exercer atividades profissionais ou econômicas ou man- tenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório; II – do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita; III – do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza. Parágrafo único – Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo. 1. Regras gerais: estabeleceu-se um foro comum (domicílio do réu, tal qual prevê o caput do art. 46, CPC/2015) seguido de regras instituidoras de foros especiais, oferecendo mais opções ao autor. 2. Foro competente para as ações de reparação de dano de qualquer natureza : em relação ao inciso III, a competência dos Juizados Especiais para as ações indenizatórias de dano de qualquer natureza apresenta uma dualidade de foros concorrentes, uma vez que se faculta ao autor a opção de ajuizar a demanda no foro de seu domicílio, ou no local do ato ou do fato. Nada impede, porém, a propositura da demanda no foro do domicílio do réu, conforme inciso I. TJRS www.cers.com.br 9 MANDADO DE SEGURANÇA. Competência territorial em caso de danos decorrentes de acidente de trânsito. APLICABILI- DADE DA REGRA DO ART. 4º, INCISO III, DA LEI 9099/95, QUE ADMITE SEJA A AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS proposta tanto NO FORO DO DOMICÍLIO DO AUTOR, do local do fato ou do domicílio do réu, facultado ao autor a opção (Mandado de Segurança Cível nº 71002986644, Relator Ricardo Torres Hermann, Primeira Turma Recursal Cível, j. 30.6.2011). TJDFT PROCESSUAL CIVIL. REPARAÇÃO DE DANOS. COMPETÊNCIA. DOMICÍLIO DO AUTOR. Na forma do art. 4º, III, da Lei 9.099/95 é competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato para a propositura de ação de reparação de danos (TJDFT – 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais – ACJ nº 2007.01.1.154251-9 – j. 13.5.2008). FONAJE Enunciado 89 – A incompetência territorial pode ser reconhecida de ofício no sistema de juizados especiais cíveis. Seção II Do Juiz, dos Conciliadores e dos Juízes Leigos Art. 5º – O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica. 1. Atuação do Juiz na direção do processo: além das regras gerais insertas no direito processual comum, que determinam os poderes e deveres do Juiz (arts. 139 e seguintes, CPC/2015), a lei especial fixou outras que vão ao encontro dos objetivos primordiais do microssistema, capazes de emprestar efetividade às suas características de oralidade, simplici- dade, informalidade, economia processual e celeridade, bem como ao encontro da busca constante da conciliação e transação. 2. Poderes instrutórios: os poderes instrutórios concedidos ao juiz devem ser interpretados no sentido de não poder haver qualquer atitude solipsista de sua parte em relação aos litigantes, mas apenas de colaboração entre todos, a fim de que possa melhor formar seu convencimento e motivar o ato decisório. A propósito, verificar o art. 370, CPC/2015, que trata, justamente, da referida temática. Art. 6º – O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais e às exigências do bem comum. 1. Complementação da atuação do Juiz na direção do processo: este artigo se estende ao anterior, mormente quando se verifica a ampla liberdade dada ao Juiz para apreciar a prova, destacando-se o valor especial atribuído às máximas de experiência comum e técnica, bem como ao princípio do livre convencimento (art. 371, CPC/2015), além de possibilitar que se decida por equidade. Vale lembrar que a nova ordem processual civil, em seu art. 8º, consolidando o que já previsto nos arts. 4º e 5º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro , aponta: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.” Art. 7º – Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em direito, e os segundos, entre advogados com mais de 5 (cinco) anos de experiência. Parágrafo único – Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções. www.cers.com.br 10 1. Papel e atuação dos conciliadores: os conciliadores desempenham papel de relevância no funcionamento dos Juizados Especiais, mormente quando se verifica a busca permanente de soluções para os conflitos que lhes são submetidos. A formulação da proposta de conciliação e a presidência do respectivo ato processual não são tarefas tão simples quanto possam parecer à primeira vista. A atividade exige serenidade, experiência de vida e equilíbrio do conciliador. Se o le- gislador optou por bacharéis em Direito, o conciliador, sempre que possível, deverá demonstrar ser detentor de bons conhecimentos jurídicos e, preferencialmente, estar vocacionado para a busca da autocomposição. Na prática, é impor- tante que se registre, muitas das vezes aqueles que funcionam como conciliadores são servidores que compõem os quadros dos respectivos tribunais, até porque, nos dias de hoje, dificilmente encontram-se bacharéise/ou estagiários em Direito que queiram laborar sem qualquer compensação financeira. 2. Incompatibilidade entre ser “auxiliar da justiça” e advogado nos Juizados Especiais da comarca onde atue: já restou sedimentado que somente se verifica incompatibilidade entre as funções de auxiliar da justiça e de advogado caso o exercício desta última se dê perante qualquer dos Juizados Especiais da comarca onde atue. Fora isso, não há incompa- tibilidade. Em suma, nada impede que um conciliador da comarca “X” atue, por exemplo, como advogado na comarca “Y”. STJ Informativo 172 – CONCILIADOR. ADVOCACIA. O bacharel em Direito que atua como conciliador no Juizado Especial Cível e não ocupa cargo efetivo ou em comissão no Judiciário pode inscrever-se na OAB, por não estar sujeito à incompatibili- dade prevista no art. 28 do Estatuto dos Advogados e da OAB (Lei n. 8.906/1994). A vedação incide, tão somente, no patrocínio de ações propostas no próprio Juizado Especial, tendo, portanto, impedimento relativo (STJ – Resp 380.176- RS, rel. Min. Franciulli Netto, j. 13/5/2003). FONAJE Enunciado 40 – O conciliador ou o juiz leigo não está incompatibilizado nem impedido de exercer a advocacia, exceto perante o próprio Juizado Especial em que atue ou se pertencer aos quadros do Poder Judiciário. Seção III Das Partes Art. 8º – Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. § 1º – Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: I – as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas; II – as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte na forma da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006; III – as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999; IV – as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do artigo 1º da Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. § 2º – O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação. 1. Incapazes: os incapazes (absolutos e relativos) não têm capacidade para serem partes nos Juizados Especiais. Atenção: a Lei nº. 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) altera os arts. 3º e 4º do Código Civil, que tratam, respecti- vamente, das incapacidades absoluta e relativa. De acordo com a nova redação do art. 3º, são absolutamente incapazes apenas os menores de 16 (dezesseis) anos. São relativamente incapazes (art. 4º): (I) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; (II) os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (III) aqueles que, por causa transitória ou permanente, www.cers.com.br 11 não puderem exprimir sua vontade; (IV) os pródigos. FONAJE Enunciado 148 – Inexistindo interesse de incapazes, o Espólio pode ser parte nos Juizados Especiais Cíveis. 2. Presos: relativamente aos presos, a ideia do legislador tem lastro na dificuldade de comparecimento aos atos processu- ais. A presença em juízo (deslocamento à sede dos Juizados Especiais) dependeria de várias formalidades impostas pelas normas de execução da pena, dentre elas, autorização judicial para saída, escolta, viaturas à disposição, etc., fatos que complicariam e retardariam, de forma considerável, o trâmite processual. 3. Pessoas jurídicas de direito público e autarquias: de igual modo, não podem ser autoras nem rés as pessoas jurídicas de direito público de todos os níveis e suas respectivas autarquias (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Des- tacam-se, dentre outras razões, os entraves relativos à disponibilidade dos seus direitos e ainda o fato de gozar de vantagens e privilégios processuais sobre os litigantes, pessoas físicas, a quem, a rigor, os juizados devem servir. 4. Atenção – Empresas públicas da União: as empresas públicas da União só podem demandar e serem demandadas na Justiça Federal, a teor do que dispõe o art. 109, I, CF, tornando-se, por conseguinte, desnecessária a referência desta no âmbito da Justiça Especializada. 5. Massa falida: a massa falida encontra-se entre aqueles que não podem ser autores nem réus não só em razão da quali- dade que ostenta, mas também em virtude da complexidade dos procedimentos nos quais participa, fartos de forma- lismo, que retardam o desfecho do litígio. 6. Insolvente civil: de igual modo, não pode propor nem responder demandas o insolvente civil, pela complexidade do procedimento em que o juiz examina e define o estado patrimonial do devedor (arts. 748 e seguintes, CPC/731). 7. Legitimidade ativa e capacidade para estar em juízo: não há que se confundir legitimidade ativa ad causam com ca- pacidade para estar em juízo. A primeira é uma das condições da ação, enquanto a segunda se refere a um pressuposto processual de validade. Enquanto a legitimidade ad causam diz respeito a um vínculo entre o sujeito e a situação jurídica a ser discutida em futuro processo, que por aquele poderá ser gerido, liga-se ao direito de ação, enquanto uma condição para o seu exercício. Já a capacidade para estar em juízo diz respeito à própria capacidade da parte legítima em realizar os atos do processo, independentemente de assistência ou representação, motivo pelo qual se vincula não ao direito de ação (que já foi exercido), mas à própria validade do processo. Atenção: apesar de, no novo CPC (Lei nº. 13.105/2015), não constar mais a expressão “condições da ação”, o art. 17 dispõe que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. Mais ainda, o art. 485, VI, impõe a resolução do feito, sem apreciação do mérito, qua ndo se “verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual.” 8. Legitimidade para figurar no polo ativo ou no polo passivo das demandas cognitivas : qualquer uma das pessoas enu- meradas pelo art. 8º, § 1º, desta Lei a possui, posto que a legitimidade para agir diz respeito à pertinência subjetiva que deve vigorar entre o sujeito que formula pretensão na qualidade de autor e aquele outro, que deverá suportar o ônus da sucumbência da demanda. Logo, legítimos para agir ou reagir nas relações jurídicas processuais são quaisquer da- quelas pessoas então enumeradas. 9. Cessionário de direito de pessoa jurídica: é a pessoa para quem foi cedido um direito, nos termos permitidos pela lei. A legislação especial, quando não admite que o cessionário de direito de pessoa jurídica proponha uma determinada 1 “Os dispositivos que tratam da execução por quantia certa contra devedor insolvente (arts. 748 a 786-A, CPC/73) continuarão em vigor mesmo após o término da vacatio legis do novo CPC (Lei nº. 13.105/2015). É que o art. 1.052 da nova lei processual expressamente prevê que “até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei nº. 5.869, de 11 de janeiro de 1973”. www.cers.com.br 12 demanda nos Juizados Especiais, está se referindo àquele que recebeu, por transmissão convencional, legal ou judicial, um direito de crédito, passando a ser o titular desse direito. A norma de proibição se dá pela preocupação de evitar que a pessoa jurídica (cujas características não se enquadrem naquelas autorizadas por lei), por meio de interposta pessoa (física), sirva-se dos mecanismos do microssistema para a solução dos conflitos de seus interesses, invariavelmente, de natureza econômica. 10. Microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte: podem figurar no polo ativo das ações cíveis perante os Juizados Especiais, devendo instruir seus pedidos com documentode sua condição, isto é, que se encontram enquadradas no conceito legal antes mencionado. FONAJE Enunciado 135 – O acesso da microempresa ou empresa de pequeno porte no sistema dos juizados especiais depende da comprovação de sua qualificação tributária atualizada e documento fiscal referente ao negócio jurídico objeto da demanda. 11. Inaplicabilidade do § 2º: com a entrada em vigor do atual Código Civil, segundo disposição contida em seu art. 5º, a maioridade foi reduzida para 18 (dezoito) anos completos, momento em que a “pessoa fica habilitada para todos os atos da vida civil”, fazendo cair por terra, assim, o teor da redação do § 2º. 12. Jurisprudência: TJDFT CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS. EMPRESA DE PEQUENO PORTE. LEGITIMIDADE PARA FIGURAR NO POLO ATIVO. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA CASSADA (TJDFT – 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais – ACJ nº 2008.10.1.009087-6 – j. 4.8.2009). CPC. LEI 9.099/95. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL (CHEQUE). CESSIONÁRIO DE CRÉDITO DE PESSOA JURÍDICA. ILEGI- TIMIDADE ATIVA. VEDAÇÃO QUE SE ESTENDE AO ENDOSSATÁRIO. AUSÊNCIA DE DOCUMENTO HÁBIL A COMPROVAR A CONDIÇÃO DE MICROEMPRESA OU EMPRESA DE PEQUENO PORTE. RECURSO PROVIDO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO (CPC, ART. 267, VI2). SENTENÇA REFORMADA. SEM CUSTAS E HONORÁRIOS (LEI 9.099/95, ART. 55). UNÂNIME (TJDFT – 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais – ACJ nº 2009.01.1.048654-0 – j. 1.6.2010). FONAJE Enunciado 139 – A exclusão da competência do Sistema dos Juizados Especiais quanto às demandas sobre direitos ou inte- resses difusos ou coletivos, dentre eles os individuais homogêneos, aplica-se tanto para as demandas individuais de natu- reza multitudinária quanto para as ações coletivas. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem co nheci- mento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil coletiva, remeterão peças ao Ministério Público e/ou à Defensoria Pública para as providências cabíveis. Art. 9º – Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória. § 1º – Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. § 2º – O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar. § 3º – O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais. 2 Corresponde ao art. 485, VI, CPC/2015. www.cers.com.br 13 § 4º – O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado, munido de carta de preposição com poderes para transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício. 1. Possibilidade de demandar sem a assistência de advogado: nos Juizados Especiais Cíveis, as partes podem demandar sem a assistência de advogados, desde que, à causa, não seja conferido valor superior a 20 (vinte) salários mínimos. Tal disposição se revela agasalhada ao princípio da economia e barateamento dos custos do processo, bem como à ideia de facilitar o livre acesso das partes, principalmente dos menos favorecidos, ao Judiciário. Por outro lado, a assistência de advogado será obrigatória quando o valor da causa exceder a 20 (vinte) salários mínimos. Notar que, no segundo grau de jurisdição, a assistência é obrigatória, notadamente para interpor recursos. FONAJE Enunciado 36 – A assistência obrigatória prevista no art. 9º da Lei 9.099/1995 tem lugar a partir da fase instrutória, não se aplicando para a formulação do pedido e a sessão de conciliação. Enunciado 48 – O disposto no parágrafo 1º do art. 9º da Lei 9.099/1995 é aplicável às microempresas e às empresas d e pequeno porte. 2. Nomeação de advogado: à parte hipossuficiente, não tendo condições de contratar um advogado para assisti-la no prosseguimento do feito, poderá o Juiz nomear profissional inscrito nos quadros da OAB e que se disponha a prestar assistência jurídica, os quais receberão honorários arbitrados pelo magistrado, verba que será suportada pela Fazenda Pública. STF Ação direta de inconstitucionalidade. Juizados especiais federais. Lei 10.259/2001, art. 10. Dispensabilidade de advogado nas causas cíveis. Imprescindibilidade da presença de advogado nas causas criminais. Aplicação subsidiária da lei 9.099/95. Interpretação conforme a constituição. É constitucional o art. 10 da Lei 10.259/2001, que faculta às partes a designação de representantes para a causa, advogados ou não, no âmbito dos juizados especiais federais. No que se refere aos processos de natureza cível, o Supremo Tribunal Federal já firmou o entendimento de que a imprescindibilidade de advogado é relativa, podendo, portanto, ser afastada pela lei em relação aos juizados especiais (...) Precedentes (STF – ADI 3168/DF – rel. Min. Joaquim Barbosa – j. 8/6/2006 – Tribunal Pleno). 3. Mandato escrito: diferentemente do que se verifica na Justiça Comum (art. 104, CPC/2015), na Justiça Especializada, em atenção aos princípios da informalidade e simplicidade, faculta-se às partes a apresentação de instrumento de man- dato escrito, podendo ser conferido pelo outorgante de forma verbal, no próprio ato processual (sessão de conciliação ou audiência de conciliação, instrução e julgamento). Esse registro formaliza de maneira simples a representação do causídico, dispensando-o, futuramente, se for o caso, de juntar aos autos instrumento de mandato para a interposição de recurso. A ressalva deve ser feita somente em relação aos poderes especiais, pois estes deverão constar de mandato escrito. 4. Preposto das pessoas jurídicas: embora o presente dispositivo faça referência somente à pessoa do réu (§ 4º), fato é que o mesmo também se aplica à pessoa do autor. Assim, autor e réu, sendo pessoas jurídicas ou titulares de firmas individuais, poderão ser representados por prepostos credenciados. Por preposto, entende-se o representante da pes- soa jurídica devidamente credenciado e habilitado para o ato, por escrito e com poderes específicos para transigir, entre outros, conferidos pelo mandante, podendo ser empregado ou não (atenção para este detalhe da norma). FONAJE Enunciado 98 – É vedada a acumulação simultânea das condições de preposto e advogado na mesma pessoa (art. 35, I e 36, II da Lei 8906/1994 combinado com o art. 23 do Código de Ética e Disciplina da OAB). www.cers.com.br 14 Enunciado 99 – O preposto que comparece sem carta de preposição, obriga-se a apresentá-la no prazo que for assinado, para a validade de eventual acordo, sob as penas dos artigos 20 e 52, I, da Lei nº. 9.099/1995, conforme o caso. Art. 10 – Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. 1. Vedação de intervenção de terceiro: é vedada qualquer modalidade de intervenção de terceiros, pois sua admissão provocaria, sem dúvida, verdadeira conturbação no desenvolvimento do processo, retardando, de forma considerável, a solução da lide e acarretando manifesta infringência aos critérios inscritos no art. 2º desta legislação. Vale lembrar que o CPC/2015 passou a considerar a “oposição” como ação com procedimento especial (arts. 682/686), bem como inseriu a “nomeação à autoria”, embora não empregue tal expressão, como questão a ser suscitada preliminarmente na contestação (art. 337, XI), pois foi criado para o réu o dever jurídico de alegar sua ilegitimidade passiva sempre que souber indicar o nome do verdadeiro responsável, sob pena de responder por perdas e danos. Mais ainda, foram man-tidas a “assistência” (arts. 119/124), a “denunciação da lide” (arts. 125/129) e o “chamamento ao processo” (arts. 130/132), acrescentando-se o “incidente de desconsideração da personalidade jurídica” (arts. 133/137) e o “amicus curiae” (art. 138). 2. O novo CPC e a desconsideração da personalidade jurídica: O novo CPC (Lei nº. 13.105/2015) admite expressamente o “incidente de desconsideração da personalidade jurídica” no âmbito dos juizados especiais (art. 1.062, CPC/2015). Por se tratar de procedimento inserido no título relativo às intervenções de terceiros, deve-se interpretar o art. 10 da Lei nº. 9.099/1995 a partir da nova legislação. Em outras palavras, não se admite intervenção de terceiro nos juizados es- peciais, exceto o incidente previsto nos arts. 133 a 137 do CPC/2015. 3. O novo CPC e a assistência: no CPC/73, a assistência não era tratada como espécie de intervenção de terceiro, apesar das diversas vozes na doutrina e na jurisprudência que entendiam o contrário. No CPC/2015, a assistência faz parte do título relativo às modalidades de intervenções de terceiros (arts. 119 a 124, CPC/2015). Dessa forma, o art. 10 da Lei nº. 9.099/95, ao prever que não será admissível intervenção de terceiros, já estará abarcando a assistência. 4. Aplicação subsidiária do CPC: em relação ao litisconsórcio, aplicam-se as regras previstas na lei processual. Atenção: o CPC/2015 prevê prazo diferenciado para os litisconsortes com procuradores distintos e que não pertençam ao mesmo escritório de advocacia (art. 229, CPC/2015). Há enunciado do FONAJE aprovado no Encontro XXXVIII (Belo Hori- zonte/MG), sob número 164, que afasta a aplicação desse dispositivo ao sistema dos juizados especiais. Na vigência do CPC/73, o enunciado 123 já expressava esse entendimento: “O art. 191 do CPC [o de 1973] não se aplica aos processos cíveis que tramitam perante o Juizado Especial”. TJDFT “JUIZADOS ESPECIAIS. PEDIDO CONTRA CORRÉU. MODALIDADE DE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. INADMISSIBILIDADE NO PROCEDIMENTO. 1. Incabível nos juizados especiais formulação de pedido pelo réu que não se dirige ao autor, mas sim contra os interesses de correu eis que inadmissível no procedimento qualquer espécie de intervenção de terceiro [...]”(TJDFT, ACJ: 20130110993682, Relator: Flávio Augusto Martins Leite, Data de Julgamento: 28/01/2014, 2ª Turma Re- cursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, data de publicação: 30/01/2014). www.cers.com.br 15
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