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Artigo de Conclusão de Curso - Iago Pinna Leite

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1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Artigo de Conclusão de Curso
Os Centros Integrados de Educação Pública – CIEP’s 
O projeto que se sucumbiu ao longo dos tempos 
Iago Pinna Leite
Mat. 15212080405
Artigo acadêmico apresentado, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em EAD, CEDERJ.
Maio, 2019.
Resumo
O presente artigo pretende analisar o processo de funcionamento dos Centros Integrados de Educação Pública- Ciep’s. Essas escolas foram construídas com intuito inicial de “retirar” as crianças das ruas enquanto seus pais trabalhavam. Nesse sentido, as crianças passavam cerca de oito horas diárias estudando, tendo momentos de recreação e diferentes atividades que eram desenvolvidas ao longo do dia. O estudo se justifica pelo grande abandono que essas escolas possuem nos dias de hoje, pois seu projeto de ensino foi se sucumbindo ao longo dos anos devido ao grande descaso dos governos que sucederam o de Leonel Brizola. Atualmente, os Ciep’s estão imperceptíveis perante a sociedade, sendo que muitas dessas instituições de ensino estão em completo abandono. Temos por proposta apresentar como era o funcionamento dessas escolas logo que foram inaugurados no governo de Leonel Brizola; retratar como eram realizadas as atividades durante as horas que as crianças passavam dentro da escola. Objetivos específicos: discutir o porquê do projeto dessas instituições não foram à frente e por que os governos posteriores ao do ex-governador Leonel Brizola não deram a importância necessária que essas escolas precisavam. Conclui-se que será feito uma análise de como estão funcionando as poucas unidades que eram modelo de qualidade de ensino no estado do Rio de Janeiro nos anos 80 e 90. 
Palavras chaves: CIEP’s, Proposta Pedagógica, Ensino Integral. 
Abstract
The present article intends to analyze the process of functioning of the Integrated Centers of Public Education - Ciep's. These schools were built with the initial intention of "taking" the children out of the streets while their parents worked. In this sense, the children spent about eight hours a day studying, having moments of recreation and different activities that were developed throughout the day. The study is justified by the great abandon that these schools have today, because their teaching project has been succumbing over the years due to the great neglect of the succeeding governments of Leonel Brizola. Currently, Ciep's are imperceptible to society, and many of these institutions are in complete abandonment. We propose to present how the schools were functioning as soon as they were inaugurated under the government of Leonel Brizola; to portray how activities were carried out during the hours children spent in school. Specific objectives: to discuss why the project of these institutions did not go ahead and why governments after the former governor Leonel Brizola did not give the necessary importance that these schools needed. It is concluded that an analysis will be made of how the few units that were model of teaching quality in the state of Rio de Janeiro in the 1980s and 1990s are functioning.
Key-words: CIEP's, Pedagogical Proposal, Integral Education.
INTRODUÇÃO
A escolha por esse tema surgiu a partir do desejo em discutir este assunto que pouco se encontra abordado no ambiente acadêmico. Buscamos analisar a construção desse modelo educacional que propunha uma educação integral às classes mais carentes, onde o tráfico de drogas e a violência se faziam extremamente presentes. 
 O artigo tem por objetivo geral uma abordagem reflexiva que busca entender o projeto de construção e funcionamento dos CIEP’s. 
Os objetivos específicos que atendem a essa pesquisa, são: pontuar, discutir e analisar como foi planejado o sistema educacional dos CIEP’s. Além disso, busca-se refletir por que, ao longo do tempo de seu projeto educacional, essas escolas foram sendo esquecidas pelos governos sucessores ao de Leonel Brizola. Buscamos ainda investigar como funcionam os poucos CIEP’s existentes em nosso estado, refletindo sobre os aspectos políticos e educacionais que contribuíram para o sucateamento e para a extinção de inúmeros CIEP’s dentro do Estado do Rio de Janeiro. 
Segundo Ribeiro o discurso que amparava a base política do governo de Leonel Brizola era: 
“Que o governo deveria criar uma escola que oferecesse oportunidades de aquisição de capital cultural para crianças pobres, tal como era oferecido de forma privada para as crianças de classe média alta da sociedade. Nesse sentido, a escola deveria ser um centro de irradiação de sinergia cultural, e deveria, também, prestar atendimento básico de assistência médica aos alunos” (p. 19-20).
O programa tentava colocar em prática uma proposta de reformulação mais profunda da escola, propiciando uma reflexão sobre sua organização, objetivos, métodos e inserção social. A concepção básica, apresentada nos documentos oficiais, especialmente no “Livro dos CIEP’s” (Ribeiro/1986) articulava, pelo regime de turno único, linhas de ação nas áreas de instrução, saúde e cultura, que pretendiam resultar numa escola democrática, com funções sociais e pedagógicas ampliadas.
A ideia dos CIEP’s considerava que todas as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico único e com uma organização escolar padronizada, para evitar a diferença de qualidade entre as escolas (RIBEIRO, 1986, p.41)
Conforme ideia de Anísio Teixeira, a equipe de Darcy Ribeiro idealizou os CIEP’s de maneira, que seriam escolas em tempo integral, com aulas de reforço escolar, biblioteca, esportes e atividades de cultura. As crianças fariam quatro refeições diárias e tomariam banho antes da volta para casa. Os CIEP’s tinham ainda residência para vinte crianças carentes ou pais que trabalhavam fora e dormiam no serviço durante a semana, com isso as crianças ficariam com os pais substitutos que foram treinados para cuidarem dessas crianças durante a semana.
Conclui-se que, por meio da pesquisa a ser realizada neste artigo, faz-se necessário oportunizar reflexões que permitam entender a dinâmica dessas unidades escolares projetadas por Darcy Ribeiro, onde os alunos permaneciam em período integral e com diferentes atividades educacionais. 
Nesta perspectiva será utilizada a metodologia de uma pesquisa bibliográfica, onde será realizado um levantamento teórico e uma análise dos estudos dos autores Brizola, L. (1994), Ribeiro, D. (1986), Teixeira, A. (1985), (1991) e (1997).
Capítulo 1- A idealização do Projeto Educacional dos Centros Integrados de Educação Pública e as propostas pedagógicas para a Educação brasileira.
Na década de 1980, o sonho do educador Darcy Ribeiro de construir uma escola inovadora, crítica, prazerosa e diferente, materializou-se com a vitória de Leonel Brizola nas eleições para o governo do Rio de Janeiro. Educadores cariocas, reunidos pela coordenação de Darcy, elaboraram para o governo de Brizola um projeto educacional que tinha como eixo central a implantação de escolas de tempo integral em todo o estado. Assim, surgiram os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’s), escolas de turno único voltadas principalmente para crianças oriundas das camadas mais pobres e carentes da população. Ao final da década de 1980, deu-se inauguração dos primeiros CIEP’s da cidade do Rio de Janeiro. (RIBEIRO, 1986, p.19)
Segundo Darcy Ribeiro (1986), o projeto dos CIEP’s tinha como objetivo principal proporcionar educação, esportes, assistência médica e alimentar, atividades culturais variadas em instituições colocadas fora da rede educacional regular.
A ideia dos CIEP’s considerava que todas as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico único e com uma organização escolar padronizada, para evitar a diferença de qualidade entre as escolas.
Os CIEP’s, tal como projetados por Ribeiro, eram unidades escolares onde os alunos permaneciam dasoito da manhã às cinco da tarde. No entanto, o projeto dos CIEP’s recebeu muitas críticas, entre elas algumas são referentes ao custo dos prédios, à qualidade de sua arquitetura, sua localização, e até sobre o sentido de um período letivo de oito horas, o que faria com que as crianças ficassem em horário integral na escola.
Essa nova concepção de educação pensada para os CIEP’s exigiu também a construção de uma cultura escolar distinta da escola tradicional. Essa afirmação indica que novas formas de comportamento deveriam fazer parte do processo educativo, novas condutas e hábitos seriam transmitidas e um novo conjunto de normas deveria ser estabelecido para definir os conhecimentos a serem ensinados. Ribeiro sugeriu que a educação de hábitos deveria ser realizada por meio de contratos e projetos construídos com a participação ativa dos alunos. 
Darcy Ribeiro, seu principal idealizador, ambicionava construir tempos e espaços para a oferta de experiências de vida, produção de cultura e formação integral dos alunos.
De acordo com Ribeiro (1986), a tarefa principal do CIEP era:
“Introduzir a criança no domínio do código culto, mas valorizando a vivência e bagagem de cada uma delas. A escola deve servir de ponte entre os conhecimentos já adquiridos pelo aluno e o conhecimento formal exigido pela sociedade letrada” (p. 48).
 Nesse sentido, sua função não se restringia apenas a alfabetizar, mas dar condições aos alunos de se iniciarem nos códigos de sociabilidade e na valorização da sua cultura.
Cada CIEP comportava 1.000 alunos em tempo integral. Se os governos passados tivessem dado continuidade a ideia de funcionamento dos CIEP’s teríamos cerca de 500 mil crianças beneficiadas por ano até os dias de hoje. A situação dessas crianças, pelo menos no Rio de Janeiro, seria bem melhor do que a que presenciamos atualmente nas escolas. 
Darcy Ribeiro, no Livro dos CIEP’s (1986), faz uma análise da situação educacional do Brasil expressa em estatísticas do Censo Nacional. Em sua análise relata que a magnitude e a precariedade da rede escolar pública brasileira impressionam. São cerca 30 milhões de pessoas na condição de alunos, isto na década de 80. No entanto, o número de analfabetos continua crescendo. 
(...) a máquina educacional brasileira produzia, anualmente, 500 mil analfabetos adultos, citando aqui os jovens que chegam aos 18 anos analfabetos e se forem acrescentados os analfabetos funcionais esse número mais que dobra no Brasil e no Rio de Janeiro. Só no Rio de Janeiro, na década de 80 a produção de analfabetos é de, pelo menos, 50 mil anualmente; a maioria com 3 ou 4 anos de escolaridade. (RIBEIRO, 1986, P.11) 
O autor analisa ainda que a escola pública, apesar do salto que deu de 6 milhões de pessoas atendidas em 1950 para 10 milhões em 1960, 19 milhões em 1970 e 30 milhões na década de 80, não cresceu onde nem como devia, ou seja, esse crescimento foi além de mal distribuído, ineficaz. A escola não cumpria nem mesmo a função mais simples de alfabetizar a população. (RIBEIRO,1986, p. 11) 
De acordo com o Censo Nacional, em 1980 o número de analfabetos com 15 anos ou mais era de 26,0% da população (19 milhões). O baixo desempenho educacional do Brasil é ainda mais significativo quando comparado com o de outros países da América Latina como a Argentina, Cuba, Uruguai, Costa Rica. (RIBEIRO, 1986, p. 12) 
Outro dado importante revelado através da análise do fluxo de alunos da “1ª a 4ª série, 1975 - 1ª série - 1000/ 1976 - 2ª série - 486/ 1977 - 3ª série - 464/ 1978 - 4ª série – 417 - onde de 1000 alunos matriculados na 1ª série em 1975, apenas 417 chegam à 4ª em 1978”, é o fato de que as primeiras séries funcionam como peneiras selecionando ou rejeitando quem vai ser escolarizado ou não. (RIBEIRO, 1986, p. 12) 
Além disso, dada a carência socioeconômica de nossas crianças pobres, era necessário ter uma visão integrada em relação à educação no sentido de que, além da instrução pública, a escola pública teria que fornecer alimentação, assistência médica, odontológica e até moradia, como era o caso dos meninos e meninas pobres órfãos que moravam com a família de policial militar ou bombeiro no último pavimento do CIEP, onde havia um apartamento e um dormitório. 
Em maio de 1985 inaugurou-se, na capital do estado do Rio de Janeiro, o primeiro Ciep. Durante os anos 80 e 90, em dois períodos governamentais (1983- 1986 e 1991-1994) foram construídos e postos em funcionamento 506 CIEP’s, escolas públicas de tempo integral, com concepção administrativa e pedagógica próprias. A intenção declarada era de promover um salto de qualidade na educação fundamental do estado. Hoje, passados mais de 30 anos, a situação real dessas escolas é muito variada.
No período das duas gestões citadas, criaram-se estruturas extraordinárias, sob a forma de 1º e 2º Programa Especial de Educação – 1º PEE e 2º PEE –, visando a implantar e gerir as novas escolas. Ao iniciar-se a gestão estadual do período 1999-2002, a Secretaria Estadual de Educação computava em sua rede 359 CIEP’s. As demais unidades foram municipalizadas, ao longo dos anos, sendo que 101 delas no município do Rio de Janeiro, ainda em 1986, ao final da primeira gestão (RIBEIRO,1986, p. 35-36).
 No século 20 Anísio Teixeira foi considerado como grande idealizador de mudanças que marcaram a educação brasileira, pois foi responsável por implantar nas escolas públicas de todos os níveis a educação gratuita para todos sem distinção de classes, cor ou religião entre os que começaram a ser atendidos pela escola pública. 
As contribuições de Anísio Teixeira para a formação pedagógica brasileira são inúmeras, dentre elas pode-se citar seus estudos sobre a escola pública com um ensino de qualidade, a importância da gratuidade do ensino e de uma educação para todos, indo assim ao encontro dos ideais da Escola Nova e a idealização da educação integral. 
Anísio Teixeira foi precursor da Escola Nova no Brasil e foi um dos participantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Suas teorias educacionais eram idealizadas em pelo menos cinco aspectos: 
O primeiro aspecto fundamental que Anísio Teixeira considerava fundamental era a educação como um bem que não poderia ser negado a ninguém, fazendo parte da formação do ser humano, de fato, um direito. 
O segundo aspecto destacava a educação não como um privilégio, mas como um dever de consciência fundante. 
O terceiro aspecto, a educação de base deve ser geral e humanista. Nesse caso a educação envolvia a participação da sociedade e dos movimentos que nela ocorrem, daí a necessidade de ser geral. 
O quarto aspecto é a escola pública, máquina que prepara a democracia. Referindo-se a escola pública, Anísio aponta-a como mecanismo necessário, porém reconhece os problemas existentes na máquina ideal em vista do real. 
Já o quinto e último aspecto exemplifica o professor que deve ser capacitado democraticamente. Anísio encarava a formação do docente e sua constante (re) capacitação como algo de muita importância. 
Nas palavras de Teixeira (1985, p.388) fica claro seu pensamento sobre a educação, que é um processo de cultivo ou de cultura, há de ser sempre algo em permanente mudança, em permanente reconstrução, a exigir, por conseguinte, sempre, novas descrições, análises novas e novos tratamentos. 
Em relação à educação escolar, Anísio Teixeira assim pensava: 
É uma necessidade, em nosso tipo de civilização, porque não há nível de vida em que dela não precisemos para fazer bem o que, de qualquer modo, teremos sempre de fazer. Deste modo, a sua função é primeiro a de nos permitir viver eficientemente em nosso nível de vida e somente em segundo lugar, a de nos permitir atingir um novo nível, se a nossa capacidade assim o permitir (TEIXEIRA, 1985, p.397). 
Em sua trajetória de vida e pelos caminhos marcantes de mudanças na educação brasileira, Anísio Teixeira, no ano de 1932, tornou-se um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que divulgava diretrizes de um programa de reconstrução educacional para o País. 
Anísioera um grande sonhador, pois pensava em educação como um processo capaz de restaurar e quebrar as diferenças vistas na sociedade de seu tempo e sonhava com uma escola que pudesse ser instrumento de quebra das desigualdades sociais. 
Anísio Teixeira idealizava a educação e a escola em pelo menos cinco aspectos, sendo para ele a educação como um direito. Anísio considerava a educação como um bem que não poderia ser negado, fazendo parte da formação do ser humano, de fato, um direito. Formula uma teoria democrática de educação comum, que seria pública e, em seu livro Educação é um direito, apresenta um plano para a estruturação e o financiamento dos sistemas estaduais de ensino, fundamentando-os em sua experiência quando Secretário de Educação e Saúde da Bahia. 
Anísio Teixeira pontua que as diferenças entre as pessoas não deveriam ser usada como referência à capacidade intelectual das pessoas, mas sim o direito que todas as pessoas têm de viver em uma sociedade cuja democracia esteja ligada a igualdade política das pessoas. É verdade que a democracia, em seus documentos legais, sublinhava a liberdade de expressão, de reunião e de organização. Ao lado da liberdade de ir e vir, estas novas liberdades sempre se ergueram como as grandes liberdades da época. Mas não se estendiam elas senão àqueles poucos que formavam a classe ascendente (TEIXEIRA, 1996, p.27). 
Todas essas liberdades estavam, com efeito, subordinadas a uma condição fundamental: a de educação. O homem precisa educar-se, formar a inteligência para poder usar eficazmente as novas liberdades. A inteligência não é algo de nativo, mas de cultivado, de educado, de formado, de novos hábitos que a custo se adquirem e aprendem (TEIXEIRA, 1996, p.28). 
De acordo com Ribeiro (1991, p.33) Anísio foi essencialmente um educador. Um pensador e gestor das formas institucionais de transmissão da cultura, com plena capacidade de avaliar a extraordinária importância da educação escolar para integrar o Brasil na civilização letrada. 
Para ele a escola pública de ensino comum é a maior das criações humanas e também a máquina com que se conta para produzir a democracia. É, ainda, o mais significativo instrumento de justiça social para corrigir as desigualdades provenientes da posição e da riqueza. Para funcionar eficazmente, porém, deve ser uma escola de tempo integral para os professores e para os alunos. 
Anísio Teixeira (1996, p.24) enfatizava que para que essa experiência se faça em condições apropriadas, a sociedade terá de oferecer a todos os indivíduos acesso aos meios de desenvolver suas capacidades, a fim de habilitá-los à maior participação possível nos atos e instituições em que transcorra sua vida, participação que é essencial à sua dignidade de ser humano. Anísio Teixeira sempre se refere às diferenças sociais existentes no Brasil com a falta de democracia. 
Outro aspecto fundamental para Anísio Teixeira refere-se que a educação não é um privilégio, mas sim a educação era dever e baseada numa consciência fundante: 
A consciência da necessidade da escola, tão difícil de criar em outras épocas, chegou-nos, assim, de imprevisto, total e sôfrega, a exigir, a impor a ampliação das facilidades escolares. Não podemos ludibriar essa consciência. O dever do governo - dever democrático, dever constitucional, dever imprescritível - é o de oferecer ao brasileiro uma escola primária capaz de lhe dar a formação fundamental indispensável ao seu trabalho comum, uma escola média capaz de atender à variedade de suas aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e, ao mesmo tempo, a mais delicada especialização. Todos sabemos quanto estamos longe dessas metas, mas o desafio do desenvolvimento brasileiro é o de atingi-las, no mais curto prazo possível, sob pena de perecermos ao peso do nosso próprio progresso (TEIXEIRA, 1994, p.33). 
Anísio Teixeira escreveu uma obra intitulada Educação não é Privilégio. Nessa obra Anísio Teixeira escreveu sobre a sua indignação com o campo educacional do seu período, pois assim como outras áreas da sociedade a educação era prioridade para a elite e não para a classe média e baixa, por isso em sua obra Educação não é Privilégio o educador aponta e critica a desigualdade existente no campo educacional do seu período. 
A educação foi publicamente defendida por Darcy Ribeiro como chave para o desenvolvimento do Brasil. Do seu ponto de vista, seria a estratégia de médio prazo mais eficaz para a redenção brasileira, o que, segundo ele, se traduzia na incorporação do povo aos benefícios restritos à elite. A escola pública, aberta para todos, em tempo integral, era a receita para o pleno desenvolvimento cognitivo das crianças, preparo esse para a vida em sociedade. 
A escola em tempo integral abriria espaço ao processo civilizador de ação contínua, deliberada, lenta, duradoura e sempre inconclusa, na direção da formação de hábitos e valorização de atitudes socialmente aceitáveis para a convivência coletiva. 
O Programa Especial de Educação (PEE) no Estado do Rio de Janeiro, de amplitude incomum para a época e de alcance bem maior do que os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), acabou completamente identificado com estes. 
Darcy Ribeiro defendia os Cieps como uma escola pública comum em nada distinta daquelas milhares em funcionamento em qualquer bairro dos países que, de alguma maneira, sinalizaram para a importância democrática de promover educação para a maioria da população. 
A aprendizagem escolar tinha como objetivo favorecer a compreensão da vida em sociedade e ajustar o homem às condições do seu meio. Diversos programas educativos foram prenunciados por Darcy, como bibliotecas infantis, conjuntos residenciais, atividades artísticas e culturais, iniciação ao trabalho e educação física e saúde.
Darcy Ribeiro reconhece e abomina o caráter seletivo da escola primária (RIBEIRO, 1986:14) e propõe a ideia de uma sociedade democrática a partir do investimento na escola pública básica de qualidade. Idealiza uma escola voltada para camadas populares, e acredita que seriam o modelo ideal para socialização da infância pobre e marginalizada. Sua intenção era renovar o papel político e social da escola pública, através da integração com a cultura da comunidade local. 
Para Darcy Ribeiro, o sistema de turnos era um erro cruel do sistema de ensino brasileiro, por isso a posposta pedagógica e social dos CIEPS defendia o horário integral como prerrogativa de um ensino democrático e de qualidade. Dentro da conjuntura do país, aplicar o horário integral significava inserir completamente as crianças no mundo letrado. O horário integral seria um instrumento para assegurar uma educação completa, modalidade existente em diversos lugares do mundo. Darcy Ribeiro acreditava que era necessário dispensar ajudas compensatórias à infância brasileira, assim como em outros lugares do mundo, para que fosse possível mantê-las durante todo o dia na escola, assegurando uma educação sólida. As atividades complementares serviriam como elementos para enriquecer o dia escolar e a aprendizagem dos alunos. (RIBEIRO,1986,p.15)
Capítulo 2 – O funcionamento dos CIEP’s, a merenda escolar e o direito ao transporte gratuito. 
Com a idealização da construção dos Centros Integrados de Educação Pública CIEP’s inúmeras crianças da classe mais pobre puderam frequentar uma escola e realizar suas refeições diárias, visto que muitas dessas não tinham nem o que comer em casa e a merenda escolar era sua única refeição nos dias de semana. Com isso podemos perceber que todo o esforço para que os CIEP’s pudessem atender a essas crianças mais carentes, foi dando certo e esse modelo de escola pública passou a ser visto como escola padrão capaz de oferecer um ensino de qualidade para as crianças das camadas mais populares. Nesse caso, os CIEP’s exerceram adicionalmente a função de autênticos centros culturais e recreativos numa perspectiva de integração efetiva com a comunidade.
Muitos CIEP’s tornaram-se pontode convergência das comunidades em que estavam localizados e nos finais de semana havia atividades de entretenimento para os alunos e seus familiares. Em muitas unidades, festas de casamento, quinze anos, batizados, posse de associações de moradores e outros eventos aconteciam em suas dependências. 
Os professores tinham programas de atualização, formação continuada e os materiais pedagógicos e didáticos eram da melhor qualidade. As merendeiras eram concursadas e passavam por treinamento antes de assumir. As turmas tinham 20 crianças nas séries iniciais e até, no máximo, 30 nas turmas de 5ª a 8ª séries. (CIEPs,1986, p.35)
O projeto arquitetônico idealizado no governo de Brizola era tão avançado que imediatamente gerou questionamentos entre os setores da grande imprensa e em segmentos da sociedade que, inconformados com todo aquele investimento em educação pública, começaram uma campanha mesquinha, contínua, incansável para desacreditar os CIEP’s junto à população.
Também podemos destacar o Projeto Alunos - Residentes, que possibilitava que crianças temporariamente desassistidas ou que tinham pais que dormiam no emprego durante a semana, pudessem dormir nos apartamentos projetados pelo Arquiteto Oscar Niemeyer. Essas crianças frequentavam as aulas durante o dia e a noite permaneciam nos CIEP’s em grupos de até 12 meninos e 12 meninas, que eram cuidados por casais selecionados e treinados para a tarefa de orientá-los durante a semana. Aqueles que tinham seus pais iam para casa nos finais de semana retornando à escola no domingo à noite ou pela segunda de manhã antes de começar a aula. 
O governo (da época) empenhou- se também em dar uma merenda de qualidade aos alunos e criou um programa de distribuição diária de leite para melhorar o padrão nutricional das crianças. Foram beneficiadas com a distribuição de leite as áreas mais carentes do Estado do Rio de Janeiro, tais como Baixada Fluminense, Zona Oeste, Niterói e São Gonçalo, dando preferência às escolas maiores para agilizar a distribuição do produto e melhor conservação do mesmo. 
Para este programa, o governo do Estado tinha escolhido o leite tipo B, porque era integral e mais nutritivo, com mais gordura e mais matéria seca que o leite comum. A preocupação na época era ampliar a distribuição e, aos poucos fazer chegar ao interior, onde a carência era tão acentuada quanto a região metropolitana.
 Na época muitas crianças não tinham condições financeiras de pagar a passagem de ônibus para ir e voltar da escola e acabavam evadindo ao longo do ano letivo nas primeiras séries do Ensino Fundamental, chamado na época de 1º grau. O obstáculo do preço da passagem das linhas de ônibus e as limitações impostas pela grande distância entre a casa e a escola, impediam os alunos de frequentar regularmente as aulas. Com isso, a questão do transporte gratuito para os alunos também se tornou algo fundamental dentro das prioridades do governo de Leonel Brizola. No entendimento do programa educacional, os esforços de recuperação do ensino da rede pública e da construção de maior número de escolas não se justificariam se os estudantes, principalmente os com poucos recursos, não chegassem de fato às salas de aulas cotidianamente.
No então governo de Leonel Brizola foi elaborado os Decretos 4.462 de 24 de fevereiro de 1984 e 4.472 de 02 de março de 1984, que garantia atendimento gratuito aos estudantes uniformizados, em todas as linhas regulares de coletivos. Ambos os decretos foram bloqueados pela liminar de 02 de março de 1984, concedida aos empresários de ônibus, desobrigando o cumprimento da lei. Portanto, foi estabelecido na época um acordo de cavalheiros entre o governo estadual e os proprietários das linhas de ônibus, que facilitariam o ingresso de alunos uniformizados pelas portas dianteiras dos coletivos.
No âmbito estadual, além das dificuldades encontradas para assegurar o cumprimento da Lei de gratuidade (Decreto 7.199, de 29 de fevereiro de 1984) em inúmeros municípios, houve também necessidade de se reativar o sistema de concessão de passes escolares aos estudantes carentes, sobretudo na zona rural, onde eram maiores as distâncias entre as escolas e as residências. 
Uma outra preocupação no governo de Brizola era com a saúde das crianças, com isso idealizou e colocou em funcionamento unidades denominadas de Centro Médico, lá se desenvolvia um trabalho de medicina preventiva, mas sem se descuidar da medicina curativa. Além dos serviços clínicos de rotina oferecidos na escola, tinha também atendimento odontológico, oftalmológico, assistência profissional em nutrição e atividades de educação para saúde, pois pretendia-se fazer de cada aluno ou morador da comunidade um agente que pudesse orientar sobre as normas sanitárias em sua casa e pela sua vizinhança. 
Capítulo 3 – A proposta pedagógica dos CIEP’s 
A proposta pedagógica dos CIEP’s tinha como objetivo romper o isolamento da escola pública, para fazer dela uma promotora efetiva de maior participação social das classes mais pobres, pois o Ciep era uma verdadeira casa – escola, que proporcionava a seus alunos múltiplas atividades, complementando o trabalho nas salas de aulas com recreações, esportes e atividades culturais. Ao invés de esconder a dura realidade em que viviam a maioria de seus alunos, provenientes dos segmentos sociais de baixa renda, o CIEP compromete-se com ela, para poder transformá-la.
As ações pedagógicas desenvolvidas no CIEP emanaram de uma visão interdisciplinar, de modo que o trabalho de cada professor pudesse integrar, completamente e reforçasse o trabalho dos demais. Nessa perspectiva todos os membros do CIEP, incluindo os funcionários eram convocados a participarem do processo educativo. 
Um elemento fundamental da proposta pedagógica do CIEP era o respeito ao universo cultural dos alunos, e seu principal objetivo era introduzir a criança ao domínio do código culto, mas valorizando a vivência e a bagagem de cada uma delas. A ideia do CIEP era de servir de ponte de conhecimentos práticos já adquiridos pelos alunos e o conhecimento formal exigido pela sociedade letrada. 
O material de apoio que foi destinado as classes de alfabetização foi elaborado em três versões, aos alunos novos, os repetentes e os renitentes. No primeiro ano escolar foi utilizado a proposta do mesmo material que já estava nas escolas, já nos anos seguintes o novo material passou a ser usado em todas as classes e também como recurso didático para o professor alfabetizador durante o período de treinamento em serviço e como material de apoio para os alunos.
O fundamental era resgatar a autoestima dos alunos, os encorajando e dando estímulos para que eles pudessem se recuperar e ter vontade de aprender, pois o que se via antes era um grande número de alunos que, por sua vez, seguiam seus estudos sem saber ler e até mesmo escrever e permaneciam analfabetos nas séries seguintes. 
O professor tinha instruções no seu material e poderia adequar o trabalho sugerido observando o desempenho de sua turma, atribuindo jogos, exercícios de comunicação entre os alunos, brincadeiras ou desafios que os motivassem para despertarem o conhecimento. 
Uma coisa muito importante da proposta pedagógica do CIEP era a hora do recreio e as brincadeiras que eram consideradas essenciais ao processo de ensino aprendizagem. 
“ (…) existe sempre uma hora em que cada aluno se torna dono absoluto de seu tempo, para fazer o que achar melhor dentro do espaço escolar. ” (RIBEIRO,1986, p.48).
Partindo de uma concepção mais abrangente da função escolar, cada CIEP trabalhava no sentido de recuperar o papel político e social da escola, no contexto de uma relação mais ampla com a comunidade, contribuindo para a educação coletiva.
Os pais dos alunos eram chamados para discutir com os professores a educação de seus filhos. E cada professor, por sua vez, era permanentemente estimulado a visitar a comunidade para, com os pais e vizinhos conhecer a realidade de seus alunos.
Nesse processo de estreitamento de laços entre a escola e a comunidade,as atividades de animação cultural passavam a terrem especial importância, além de contribuírem para a aprendizagem global dos alunos, pela valorização do trabalho criativo no espaço escolar, as atividades culturais possibilitavam um reencontro com o próprio prazer de aprender. 
Cotidianamente a educação nos CIEP’s não podia ser mais dissociada de manifestações culturais e artísticas, sobretudo daquelas que já se desenvolviam no interior da própria comunidade, pois afinal elas eram a ponte viva que levava a comunidade para dentro das escolas. 
O trabalho com os alunos repetentes e renitentes incluía o estímulo constante de aprender a ler e escrever, durante esse processo de alfabetizar era muito importante que os alunos tivessem contato com um material atraente de leitura e escrita, mesmo que não soubessem ler e escrever, pois através do gosto de ouvir as histórias pode-se conduzir o aluno ao desejo de ler e escrever, conduzindo o aluno ao processo de alfabetização de maneira motivadora. 
Numa visão mais ampla pode-se observar que nenhuma proposta pedagógica anterior a dos CIEP’s ofereceu tanto carinho e atenção específica ao problema dos alunos repetentes e renitentes e que, muito mais do que alfabetizá-los, visava o desenvolvimento integral e aprendizagem individual e social de cada aluno. 
Capítulo 4 – A Educação Juvenil nos CIEP’s. 
Também foi implantado nos CIEP’s anos mais tarde O Programa de Educação Juvenil para que pudesse recuperar a parcela da juventude que já havia ultrapassado a idade de escolarização obrigatória, mas que por permanecer analfabeta, estava marginalizada num meio social em que o domínio do código letrado era indispensável. O que se pretendia não era apenas deflagrar um processo de alfabetização que levasse a uma utilização consciente do código gráfico, mas formar, entre os jovens, uma consciência crítica do mundo e da sociedade. (CIEPs,1994, p.77)
O objetivo geral do CIEP para o turno noturno era de procurar criar uma relação entre a escola e os professores, de um lado, e os jovens em processo de alfabetização de outro, nesse caso uma relação de troca de ideias, entre o saber universal e científico da escola e o saber das camadas populares, produzido na luta pela sobrevivência.
O currículo do programa juvenil tinha como principal objetivo se basear nas seguintes áreas do conhecimento, sendo elas: Linguagem, Matemática, Realidade Social e Cidadania, Saúde, Educação Física e Cultura- todas essas disciplinas estariam integradas na dinâmica de alfabetização, que coloca como eixo metodológico a principal realidade de vida dos alunos atendidos no turno noturno.
Essa proposta de ensino era fundamentada no Programa Nacional de Alfabetização, programa esse idealizado e colocado em prática pelo educador Paulo Freire nos anos 60 na região Nordeste, que tinha como medida por em constante diálogo o educador e o educando para trazer para dentro de sala situações do cotidiano de cada aluno.
 A linguagem tinha como objetivo estabelecer a prática de leitura e escrita. O processo de alfabetizar se desenvolvia tendo como meta o universo do aluno, nesse caso o professor deveria estar atento ao real interesse de sua turma, capitando com sensibilidade as palavras geradoras de discussão para trazer meios de aprendizagem da estrutura básica da Língua Portuguesa. (CIEPs,1994, p.78)
A etapa de aprendizagem de cada aluno era respeitada de acordo com sua particularidade individual, mas nunca ao ponto de inibir a ausência da correção do professor, ou descaso com a escrita incorreta das palavras. A relação do aluno-professor se dava através da interação e do respeito que um demonstrava ao outro, com isso o trabalho de alfabetizar tinha grande relevância e resgatar a autoestima dos jovens era a principal meta a ser alcançada pelo professor.
A proposta do ensino de Matemática tinha como ponto de partida a cultura e a vivência do aluno para conduzi-lo ao domínio de um acervo de informações muito mais amplo, que se relacionava de forma orgânica ao campo de realidade social e cidadania aos problemas de orientação no tempo e espaço, podendo introduzir o conhecimento do mundo físico que ocupam ou conhecimento do corpo, nesse caso altura e peso. (CIEPs,1994, p.79)
Como conclusão o ensino da matemática tinha como objetivo mostrar aos jovens as experiências vividas por eles e junto com outras áreas de conhecimento facilitar a formação das identidades individuais dos seus próprios conceitos mediante a construção crítica de cada um, que ao mesmo tempo ensinava a fazerem cálculos necessários para sua sobrevivência cotidiana.
O ensino de Cidadania tinha como objetivo constituir uma temática implícita na proposta socializadora dos CIEP’s, ou seja, é instrumento de total importância para levar os alunos a terem consciência de si mesmos como indivíduos. O ensino de Cidadania estimulava cada indivíduo a tomar consciência de si no lugar em que ocupa espaço, dentro do mundo concreto. Com isso o aluno podia tomar consciência do espaço que ocupava e aí podia questionar esse espaço. Também procurava aprofundar-se a discussão sobre essa localização na medida em que convivia com outras pessoas. 
O ensino da Realidade Social e Cidadania tinha como meta instigar o aluno a se localizar no espaço e no tempo, isto é, tentando estabelecer relações entre a história de sua vida com a história de seu povo.
O ensino de Cidadania, em particular, pretendia colocar o aluno como um ser humano capaz de expressasse de maneira a descobrir a realidade que o cerca, modificando e organizando formas fazer valer seus direitos civis, exercendo-os de todas as maneiras possíveis. 
O ensino sobre saúde era abordado em sala de aula de maneira distinta, pois o professor trazia discussões sobre os temas relevantes do momento para que pudesse esclarecer melhor as dúvidas que fossem surgindo sobre as doenças que se proliferavam em diferentes lugares ao redor ou até próximo da residência dos alunos. Muitas das situações abordadas eram dolorosas, pois a discussão era sobre desnutrição que poderia levar a mortalidade infantil, comprometendo o envolvimento afetivo dos alunos no processo de ensino aprendizagem. Com isso muitos alunos passaram a tomar consciência dos inúmeros tipos de doenças que poderiam evitar para melhorar sua qualidade de vida e de sua família.
A Educação Física para os jovens no horário noturno era orientada para práticas de natureza desportiva, que tinham como intuito conduzir ao desenvolvimento corporal e psíquico, consolidando o sentimento comunitário e facilitando o processo de alfabetização para que as dificuldades corporais fossem sanadas para que o aluno tivesse um melhor aproveitamento na leitura e escrita.
Através das atividades que fossem sendo realizadas, promovia-se uma melhor formação de autoestima entre os alunos de maneira mais integrada ao trabalho desenvolvido em outras áreas de conhecimento. 
Dentro do Programa de Educação Juvenil o ensino de Artes e Cultura tinha um grande valor, pois era apresentado aos alunos diversas manifestações culturais locais, expressões artísticas significativas da comunidade, com isso poderiam resgatar os valores sociais e trazer para dentro da escola toda a riqueza da cultura popular. 
A pedagogia do Programa de Educação Juvenil tinha como exemplo o próprio trabalho e vida dos alunos, pois se procurava não deixar nada de fora que pertencesse efetivamente seu cotidiano. O que se propunha era uma ruptura, pois normalmente o aluno das camadas populares era impedindo de explicitar suas vivências diárias, no CIEP, ele encontrava amplo espaço para poder se expressar.
O fato é de que os resultados práticos das propostas pedagógicas dos CIEP’s representavam um ponto de partida importante na definição de um projeto educacional eficaz, que infelizmente não foram a frente pelo grande descaso dos governantes por não darem continuidade ao projeto desenvolvido na criação e idealização do funcionamento dos CIEP’s e que, por sua vez, acabamos a essa atual realidade de milhões de jovens e adultosanalfabetos.
Capitulo 5 – O abandono dos CIEP’s nos dias atuais
Segundo a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, de cerca de 500 Ciep’s foram construídos e postos em funcionamento no Estado, 307 continuam sob a gestão da rede estadual. O restante foi repassado para os municípios ou destinado para outras atividades. Os municípios muitas das vezes não possuem condições de manter a estrutura do CIEP em funcionamento visto que é uma escola que necessita de muitos recursos. 
Segundo o Censo de 2017 foi divulgado que entre 2010 e 2017 cerca de 231 escolas foram fechadas, esse número é bastante preocupante, pois o desmonte da educação reflete diretamente nas famílias mais carentes de nosso estado. 
A decadência dos CIEP’s estarem assim nos dias de hoje é o total descaso do poder público que é omisso de não ter dado continuidade ao estilo de ensino que foi planejado para essas unidades que hoje funcionam como escolas comuns, pois os projetos que foram implantados nas unidades foram se desfazendo aos poucos até não existir mais nada como vemos em nossa atual realidade. Outro fato também que podemos perceber é o curto e pouco investimento que os governos municipal, estadual e federal colocam para a educação e, quando investem alguma coisa, não se baseiam num planejamento que possa garantir que o investimento feito gerará resultados positivos à educação. Precisamos ver muito mais compromisso dos nossos governantes que colocam a educação de lado para investir o dinheiro público em setores que não precisam, ou até mesmo enriquecimento ilícito do próprio. 
Hoje podemos ver como o programa de funcionamento dessas escolas apresenta diversas dificuldades. O primeiro ponto é a precariedade dos dados e estatísticas oficiais. O segundo é o ainda forte conteúdo político partidário que envolve o conjunto dessas instituições, devido suas próprias origens, o que acaba por dificultar aproximações e análises do ensino que fazem parte do cotidiano atualmente. O terceiro ponto é a dificuldade é a diversidade de caminhos entre os Ciep’s da rede estadual e os que foram municipalizados, e as diferenças internas, dentro de cada uma dessas redes: apesar de criadas em um programa altamente centralizado e uniformizador e de ainda mostrarem traços evidentes dessa origem, tais escolas apresentam quadros que englobam toda a realidade escolar presente na rede pública do estado e do município do Rio de Janeiro. 
Outro fato para que ocorre se a decadência dessas instituições foi quando começaram a introduzir também no mesmo espaço físico de uma única escola, turmas das séries iniciais e finais do ensino fundamental, além do ensino médio. Essa realidade trouxe enormes dificuldades para a continuidade do tempo integral nos CIEP’s. Os diferentes níveis, mesmo funcionando em turnos diferentes, o que nem sempre acontece, foram começando a interferir na organização escolar, dificultando o rodízio de atividades, a utilização dos espaços, os deslocamentos, enfim, a manutenção de uma rotina enriquecedora e agradável em tempo integral para todos. 
No término do primeiro mandato de Brizola como governador do estado do Rio de Janeiro, Moreira Franco assumiu e reduziu significativamente o quantitativo de professores e a verba destinada à alimentação dos alunos. Em seguida Marcelo Alencar, quando assume, após o segundo mandato de Leonel Brizola, também reduz o quantitativo de profissionais para o trabalho nos CIEP’s, dentre eles, professores, enfermeiros, animadores culturais e etc.
Os estudos sociológicos dessas escolas nos dias de hoje, pode-se observar que pelos crescentes políticos descentralizadores da gestão escolar, podiam receber importante contribuição com a análise dessas instituições e seus caminhos particulares de formação de identidades institucionais que eram de enorme importância para adquirir um bom aprendizado na ideia da proposta pedagógica que era utilizada na estrutura de ensino dos CIEP’s. 
 Atualmente lamentamos a perda de identidade que os CIEP’s da rede estadual sofreram ao longo desses anos. Nela, a instabilidade vivida gerou um clima geral de muito descrédito no momento em que foi apresentado o projeto de criação. Entretanto, foram essas mesmas escolas que viveram, ainda que por pouco tempo, no período final do 2º PEE (1993/94) a situação mais próxima da concepção pedagógica original do programa dos CIEP’s. Hoje, porém, a concepção de educação em tempo integral foi completamente extinta da realidade dessas escolas, sendo mais fortemente associada ao ensino fundamental, que perdeu sua ideia e intensidade, na medida em que o papel dos estados em relação ao sistema de ensino não se deteve, prioritariamente, neste nível de ensino. O fato é que a tendência à municipalização das escolas com ensino fundamental tornou cada vez mais difícil e sua recuperação ou manutenção de concepção pedagógica do programa dos CIEP’s foi desaparecendo – inclusive o horário integral – mesmo que a LDB venha reafirmar essa possibilidade com os artigos. 34 e 87o o ensino integral perdeu completamente suas forças e foi posto de lado pelos governos que sucederam a Leonel Brizola. 
Como podemos observar o processo de municipalização gradual já aconteceu em inúmeras escolas espalhadas por nosso estado, com a participação efetiva dos municípios interessados, conforme preconiza o já citado art. 10 da LDB, associado à recuperação ou, quando for o caso, à reformulação da concepção político-pedagógica dessas escolas, seria o caminho para que talvez retornasse ao funcionamento do ensino integral, concepção essa que seria quase impossível de ser realizada já que os órgãos responsáveis não oferecem suporte nenhum para que esse modelo retorne ao funcionamento com todos os meios pedagógicos que necessitam. Para isso, seria necessários entendimento por parte dos políticos, colaboração, visão de longo prazo, enfim, um trabalho de pesquisa e planejamento que não tem sido comum na vida pública brasileira nos dias de hoje, mas que, se não bastarem todos os argumentos de ordem político-pedagógica, a quantidade de recursos públicos ali já empregados impõe que seja feito alguma mudança na estrutura de ensino das escolas de nossa atualidade, que temos visto o sucateamento em grande escala do modelo de ensino que nos é apresentado nesses últimos anos no estado do Rio de Janeiro principalmente. 
Considerações Finais 
O entendimento do modelo de educação integral proposto por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, então governador da época e a análise de Anísio Teixeira (1997) das experiências concretas leva à conclusão de que a escola de tempo integral não era apenas para manter as populações mais pobres dentro das salas de aulas o dia inteiro, mas sim ter a preocupação em garantir igualdade e oportunidades de uma melhor qualidade de ensino para os que não podiam ingressar numa rede particular de ensino. Na escola os estudantes das classes de menor poder econômico teriam garantias de condições ao acesso à cultura, ao esporte, as artes e ao aprendizado de um ofício, o que em suas realidades diárias possivelmente lhes era negado. 
A pesquisa deste artigo se focalizou em trazer a idealização e criação do projeto de construção dos CIEP’s, sua estrutura de funcionamento que incluía a parte pedagógica para o ensino integral e o ensino noturno destinado aos jovens entre 14 e 20 anos, em seguida temos conquistas que os alunos adquiriram com a permissão de ir e vir nos coletivos pelos Decretos 4.462 de 24 de fevereiro de 1984 e 4.472 de 02 de março de 1984, que garantia atendimento gratuito aos estudantes uniformizados, em todas as linhas regulares de coletivos. E depois foi apresentado e questionado o descaso dos governos perante o funcionamento das escolas da rede pública inclusive os CIEP’s que tiveram o ensino integral extinto ao longo do tempo e que hoje não passam de meras escolas de tempo parcial e sem atender o Ensino Fundamental (antigo primário) nas suas dependências. 
Conclui-se neste artigo que este modelo de escola organizado poderia trazer efetivamente inúmeras contribuiçõespara a melhoria das condições educacionais dos brasileiros e para a redução das desigualdades educacionais e sociais históricas em nosso país.
A escola de tempo integral deve ser vista como lugar de formação integral do estudante e não apenas como lugar de refúgio para sua pobreza. 
Referências Bibliográficas: 
BRIZOLA. Leonel. Prefácio. In: RIBEIRO, D. O Novo Livro dos CIEP’s, 1994. 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei n. 9.394/96. Brasília, 1996. 
INEP. Censo Escolar 2017. Brasília, 2018.
RIBEIRO, D. (1986) O Livro dos CIEP’s. Rio de Janeiro: Bloch Ed. 
RIBEIRO, Darcy. A Invenção da Universidade de Brasília. Carta: Fala Reflexões, memórias/informe de distribuição restrita do Senador Darcy Ribeiro. Brasília: Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, 1991. 
TEIXEIRA, Anísio Spínola. A educação escolar no Brasil. In: FORACCHI, Marialice M.; PEREIRA, Luiz. Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Editora Nacional, p. 388-413, 1985.
TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994. 
TEIXEIRA, Anísio. (1997) Educação Para a Democracia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ.
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