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REFLEXÕES COM TÖNNIES, LOCKE e ROUSSEAU - AULA 25 03

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CAMPUS SALVADOR 
ATIVIDADE DE LEITURA E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS 
 Curso: DIREITO Disciplina: CIÊNCIA POLÍTICA E TGE Turma: M1 
Professor: CHARLES BARBOSA 
Aluno: Matrícula: 
Data da aula: 25/03/2020 
 
REFLEXÕES COM TÖNNIES, LOCKE e ROUSSEAU 
1.0 Com fundamento na leitura dos três primeiros capítulos de “Ciência Política” (Paulo 
Bonavides) e em estudos complementares, destaque no texto abaixo os trechos que aludem 
à sociedade e aqueles relacionados à comunidade. Indique os elementos idôneos a 
justificar a dicotomia e emita juízo de valor sobre a posição de Tönnies, no particular. 
 
Tönnies estabelece uma dicotomia ao afirmar que, de um lado, figurava uma vida social 
de conjunto, íntima, interior e exclusiva, e, de outro, constituir-se-ia outra, de domínio público, do 
mundo exterior.1 Um determinado corpo existiria muito antes de uma outra forma de associação de 
indivíduos e seus fins, ainda que isso não implique em sua restrição a tais condições genéticas. 
Estas relações seriam primordialmente sustentadas por elementos de uma cultura holista, por 
“hombres que se sienten y saben como perteneciéndose unos a otros, fundados en la proximidad 
natural de sus espíritus” 2. 
A vida social de conjunto, íntima, interior e exclusiva prescindiria, pelo menos a priori, 
da necessidade de igualdade e liberdade das vontades. Em grande medida, constituir-se-iam, por 
razões de determinadas desigualdades “naturais”, como aquelas encontradas entre sexos, idades ou 
forças físicas e morais distintas, como se dão nas condições materiais de existência. Sua origem 
repousaria na consciência da dependência mútua determinada pelas condições de vida comum, pelo 
espaço compartilhado e o parentesco: por isso se realizariam com elementos de bens e males, 
esperanças e temores, amigos e inimigos 3, mobilizada pela energia liberada por sentimentos 
envolvidos como afeto, amor e devoção. 
Da passagem do modo de vida rural para o urbano teríamos o desencadeamento de uma 
ruptura na organização destes núcleos de sociabilidade. Quanto mais multiplicava a vida da cidade, 
ou seja, à medida que o mercado estimulava o desenvolvimento hipercefálico da urbe, mais perdiam 
forças os círculos de parentesco e vizinhança como motivos de sentimentos e atividades amistosas 4. 
Se em um modelo de associação os homens permanecem unidos apesar de todas as 
separações, no outro, permaneceriam separados não obstante todas as uniões5. Cada vontade seria 
reconhecida socialmente como unidade subjetiva moralmente autônoma, independente e auto-
suficiente, estando para si em um estado permanente de tensão com as demais, sendo as 
intromissões de outras vontades na maioria das vezes aludida como ato de hostilidade. 
No circuito das relações de um determinado modelo, Tönnies denominou por vontade 
arbitrária aquilo que é produto da sociabilidade mercantil, orientada em grande medida pelo cálculo 
e pelo contrato. Indivíduos auto-conscientes de seus interesses entrariam em relação uns com os 
outros instrumentalizando meios que lhe estivessem ao alcance, considerando pura, fria e 
simplesmente regras estabelecidas no plano contratual. É o domínio da racionalidade, como 
atestava que este modelo : “no es otra cosa que la razón abstracta” 6. 
 
1 Cf. TÖNNIES, Ferdinand.. Comunidad y Sociedad. Buenos Aires: Losada, 1947. p.20 
2 Cf. TÖNNIES, Ferdinand. Principios de Sociologia. México: Fondo de Cultura Economica, 1942. p.45 
3 Ibidem. p. 39. 
4 Cf. TÖNNIES, Ferdinand. Comunidad y Sociedad. Op. cit. p. 61. 
5 Ibidem p. 65 
6 Ibidem p. 72 
2.0 Com fundamento na leitura dos três primeiros capítulos de “Ciência Política” (Paulo 
Bonavides) e em estudos complementares, leia atentamente o texto abaixo e aparte as 
idéias que consubstanciam o pensamento de Locke daquelas que correspondem ao 
pensamento de Rousseau. Justifique as escolhas e indique qual o traço diferenciador mais 
significativo das duas correntes. Estabeleça, outrossim, uma relação entre os pensamentos 
destacados e os elementos que caracterizam a comunidade e a sociedade na perspectiva 
delineada por Ferdinand Tönnies. 
 
 
ESTADO DE NATUREZA – CONTRATO – ESTADO DE SOCIEDADE (CIVIL) 
 
O homem natural vive já num estado socializado, em que as leis naturais regulam o 
comportamento dos indivíduos e as suas relações. No estado de natureza figura uma razão que 
permite a percepção das ações humanas e seus limites, consubstanciando um portfólio de direitos 
naturais no seio de uma sociedade onde se encontrava uma paz relativa. 
 
Os motivos que levam ao desejo de abandono do estado de natureza relacionam-se com 
a ausência de segurança que incomoda o homem no âmbito da defesa dos seus direitos à vida, à 
liberdade e à propriedade, já presentes naquele estágio pré-social. Isto porque inexiste especificação 
e regulamentação da lei natural que possibilite sua concreta aplicação. Ao lado desta insuficiência, 
reside a ausência de uma instância de julgamento reconhecida que possa decidir os eventuais 
conflitos e que possua força coercitiva para impor o cumprimento da decisão. Assim, nasce o poder 
estatal circunscrito a conteúdos pré-sociais, representados pelos direitos naturais. 
 
Na verdade, o homem nasceu livre e encontra-se aprisionado. Assim, na evolução para 
o estado social efetivam-se relações morais que antes não existiam. Existia, em verdade, uma 
igualdade que não permite falar-se em ricos e pobres, mas sim em homens, sob uma perspectiva 
social e historicamente indefinida, que padecem sob as conseqüências negativas de um estado de 
natureza e decidem reunir-se coletivamente objetivando solucionar os seus problemas de maneira 
racional. 
 
O contrato social tem como centro a alienação total de cada associado à comunidade, a 
qual viabiliza a desvinculação dos indivíduos do estado de natureza para se submeterem 
incondicionalmente a uma instância de soberania absoluta. A comunidade que celebra este contrato 
é um agregado de indivíduos, mas o resultado do contrato é uma sociedade política com uma 
vontade geral una, onde não é tolerável qualquer desinteresse pela participação ativa no exercício 
do poder político. 
 
O contrato social encerra um momento do processo de humanização e não representa 
uma conversão. Não é tolerável qualquer desinteresse pela participação ativa no exercício do poder 
político. Onde antes havia indivíduos mais ou menos astutos e egoístas, passa a haver cidadãos e 
patriotas. A vontade geral tem como objeto o bem comum e caracteriza-se por ser inalienável, 
irrepresentável, indivisível e infalível. 
 
 O que define o bem comum é um procedimento democrático universalista. O contrato 
justifica a identidade entre soberano e súdito, que exclui liminarmente todas as formas de 
representação e regras processuais do tipo da regra da maioria, ao nível legislativo. Na vontade 
geral coincidem interesse e justiça. A República é um Estado de liberdade e de justiça, que garante 
a cada um os seus direitos em virtude da própria natureza do poder político e do seu exercício 
democraticamente participado.

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