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Caso Geraldo - vinheta clínica

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Caso Geraldo - Vinheta clínica. 
 
Paciente: Geraldo, sexo masculino, 22 anos, caixa de supermercado, ensino médio incompleto. 
Terapeuta: T. 
 
Entrevista inicial no. 1 
 
[Entram na sala e sentam-se] 
[ficam os dois em silencio por quase um minuto. T sorri e ela Geraldo. Geraldo desvia o olhar] 
 
T - Então, Geraldo, como você nos achou? 
G - Achou? Não entendi. 
T – É, isso, como você descobriu a clínica aqui. 
G – Ah, a minha prima veio aqui ano passado, gostou, e eu falei que estava pensando em achar 
um psicólogo, para pedir uns conselhos, mas é caro mesmo, caro, e aí ela falou da Unip e ela me 
deu o telefone. E aí eu liguei e a moça falou para vir hoje. 
T – conselhos sobre o quê? 
G – Ah, sei lá, tanta coisa.. eu fico muito confuso de vez em quando, não sei bem dizer, como 
está minha vida confuso , aí fico mals, na pior, mas depois passa, sabe como é. 
T – então passa? 
G – ah, sempre passa. Demora, mas passa. Sabe como é. 
T – Mais ou menos, não sei se entendi. 
G – aaaahhh... num sei explicar direito [ri e se cala]. 
T – Não se preocupe com explicar direito, a gente vai aos poucos esclarecendo isso. Vamos 
começar com outra coisa: me fale um pouco de você, me conte de si, para eu te conhecer 
melhor. 
G – uai, aí complica, eu sou eu... quer dizer... o que você quer saber? Me pergunta aí, é melhor. 
T – Prefiro que você me conte sua história do seu jeito. Me fale o que você quiser, é melhor 
assim. 
G- [faz cara que não entendeu e ri] aahhh, sei não, é meio estranho esse negócio de psicologia, 
não sei se eu vou conseguir não... [parece ansioso]. Acho que na próxima vez eu consigo, hoje 
estou meio mals... ][olha para a porta, parece querer se levantar]. 
T – Ok, deixa eu te perguntar uma coisa: você é casado? 
G- não, sou não, mas tenho namorada. 
T – Você namora a quanto tempo? 
G – ah, faz uns dois meses, mas já parece muito tempo. 
T – Parece muito tempo é? 
G – Parece! A gente se dá super bem, ela é perfeita para mim, eu estava doido por ela há um 
tempão, mas não tinha coragem de chegar junto, sabe como é? Mas eu já gostava dela há um 
tempão. 
T – Onde você conheceu ela? Aliás, como é o nome dela? 
G – Renata. Eu conheci ela no meu trabalho, lá no supermercado. Eu sou caixa lá e ela já é 
supervisora. Muito legal! 
T – Então o namoro vai bem. 
G – Vai, não, eh, não vai não. Agora a gente tá dando um tempo. Mulher é coisa muito difícil, 
né você sabe? 
T – ela é difícil? De que modo? 
G – Ah, ela implica muito comigo por bobagem, bobagem. 
T – Tipo o quê? 
G – Ah, ela não gosta que eu fume uma ervinha. Mas é coisa boba, eu fumo pouco, mas ela 
implica muito comigo, aí eu fiquei puto e falei que não ia parar, e aí ela me dispensou, quer 
dizer, deu um tempo. É isso aí. Só isso. 
T – Ela não fuma nada? Nem cigarro? 
G – Ela fuma! Ela fuma! Um cigarro atrás do outro! E vem falar de mim! Eu não fumo cigarro, 
só outras coisinhas, aí, nada sério, nada sério, mas qual o problema? 
T – Hum... continua 
G – [irritado] Porra, ela é demais, uma princesinha, a menina mais bonita e legal que já tive, 
mas porra, implica pra caralho com meu cachimbinho, nada a ver... 
T – Você fuma maconha tem muito tempo? 
G – A, maconha tem, desde quinze anos, mas já estou acostumado, não sou viciado nem nada, 
fumo só para relaxar, só no sabadão, ou no baile, só aí , nada a ver... Mas ela encasqueta com 
tudo, é fod* 
T – Ah, entendi, Maconha só mais no fim de semana, é isso? E mesmo assim ela implica? 
G – é, ela implica. 
T – Você tem ideia por que o baseado incomoda ela tanto? 
G – Sei lá! Ela é muito quadradinha, muito tradicional, não é evangélica nem nada, a gente 
transa, ela tem cabeça boa, aberta, mas implica com meus bagulhos... 
T – o que ela te fala, sobre isso? 
G – ah, sei lá, acha que fumo demais, que sou viciadão... mas é tudo figura da cabeça dela, tudo 
ideia errada, não é nada disso não. 
T – ok. Deixa eu entender uma coisa, então você fuma mais cachimbo, né, e não baseado? 
G- é, no cachimbinho, sabe como é. 
T – É. No cachimbo dá para fumar umas coisas mais fortes, também. Você fuma? 
G – [olha surpreso e ri] é, dá mesmo, [ri], é, você me pegou, tá certo, tá certo, eu fumo umas 
pedrinhas de vez em quando, mas muito de vez em quando, só para animar. Por que, tem algum 
problema? 
T – Algum problema? 
G – é, eu fumo crack de vez em quando, tem algum problema? Me fala aí! 
T – Olha, sinceramente Geraldo, eu não sei se tem problema ou não, para você. Certamente para 
mim não tem problema. Eu não estou aqui para te julgar, para dizer o que é certo ou errado para 
você. Eu, como psicólogo, não faço isso. Eu estou aqui para te ajudar, do jeito que eu puder. 
Percebe? 
G – Ah, sim, mas, sei lá, tem médico que acha que é errado, já me falaram, sei lá. 
T- Não é meu papel. É algo que você faz, eu não posso saber se é certo ou errado para você. 
Mas eu fico pensando no seguinte: você me disse que esse hábito de fumar uns bagulhos de vez 
em quando está perturbando seu namoro, que entendi que é uma coisa mito boa para você. E 
você procurou a gente aqui, falou de estar confuso, aí eu fiquei pensando se não tem a ver com 
isso, como namoro e com esse hábito de fumar estas coisas. O que você acha? 
G- Ah, pode ser, sei lá. 
T- é isto que você anda pensando muito, isso anda te preocupando? 
G- é, é, sim, me preocupa um pouco. 
T- foi por isso que você resolveu procurar um psicólogo? 
G- foi, isso e outras coisas... mas principalmente isso. 
[...]

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