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Projeto Editorial II – Amanda Sartori Souza 
O texto científico vem sofrendo diversas mudanças com a possibilidade dos 
novos formatos disponibilizados pelos avanços tecnológicos, outrora longos e 
maçantes em livros especializados, a ciência hoje passa por um processo de 
filtragem e renovação do conteúdo, simplificando-o e o tornando mais acessível para 
públicos mais jovens, com uma linguagem adaptada e maior informalidade, tornando 
os assuntos mais leves e práticos de se acompanhar. O podcast é um dos formatos 
que surgiram como ferramenta para auxiliar na disseminação de conteúdos 
científicos complexos ou abstratos e suas aplicações em temas atuais e cotidianos. 
O termo “podcasting” foi citado pela primeira vez em 12 de 
fevereiro de 2004, pelo jornalista Ben Hammersley, no jornal 
britânico The Guardian. No artigo, a palavra foi usada como 
sinônimo para audioblog . Segundo Foschini e Taddei (2006), o 
vocábulo surgiu da junção do prefixo “pod” (do termo iPod10), 
com o sufixo “casting”, vindo da expressão inglesa 
broadcasting (transmissão pública e massiva de informações). 
(FLORES, 2014, p. 16) 
A linguagem dos podcasts é voltada à ideia de simplificar temas complexos 
para gerar um melhor entendimento, sem perder a essência do conteúdo original. O 
debate de ideias é um recurso inovador no estudo científico e seu impacto, já que 
em materiais de estudo tradicionais como os livros, não há a possibilidade de 
realizarmos a discussão de teorias e o questionamento de sua amplitude e solidez 
quando colocadas à prova por opiniões contrárias, de forma a validar a teoria 
enquanto a colocamos em prática em situações mais atuais que as experimentadas 
anteriormente. A construção do podcast normalmente segue uma pauta 
predeterminada de tópicos e subtemas, organizados entre os participantes sobre o 
tema geral, para evitar que a conversa se disperse do tema original e consiga 
abordar todas as suas facetas, tentando ao máximo evitar deixar pontas soltas sobre 
o assunto, mas, ao mesmo tempo, dá uma liberdade maior aos produtores de 
conteúdo, de forma que cada podcast segue seu padrão, identidade e forma de 
emitir ao ouvinte. 
A liberdade de ouvir sobre o assunto que quiser, na hora em que puder, na 
plataforma que preferir, é também um dos grandes atrativos para o público que opta 
pelos podcasts atualmente. 
o fluxo de comunicação deixa de ser de um emissor para 
vários, como nas mídias de massa tradicionais, e passa a tratar 
do inverso, sendo a produção realizada por muitos, mas 
recebida individualmente, respeitando a vontade de cada um, 
que procura o que deseja ouvir, no momento que escolher. 
(FLORES, 2014, p. 20) 
Criado em Agosto de 2016, o “Alô, Ciência?” é um projeto voltado para a 
divulgação científica. Tendo como plataforma principal o website 
https://alociencia.com.br/ e como complementares as homônimas páginas no 
facebook, instagram e twitter. O website apresenta interface simples, destacando os 
últimos lançamentos. No topo, em um menu linear, temos as seguintes opções: 
inicio, colabore, episódios, como ouvir?, contato, inscreva-se, sobre. 
Na primeira aba, “colabore”, o website ilustra a foto dos fundadores do projeto 
e apresenta justificativas sobre o porquê de se colaborar de forma financeira com o 
“Alô, Ciência?”, as formas de fazê-lo e quais as recompensas recebidas por quem 
adere à essa colaboração. Há também a explicação sobre a opção de se tornar um 
colaborador para as transcrições dos episódios e uma lista de agradecimento aos 
participantes. Na aba “episódios” primeiro o site apresenta a opção “transcrição”, 
que nos direciona ao conteúdo do site de forma acessível, seguido de “convidados” 
que o site explica como “informações e contatos das pessoas que contribuíram para 
nosso projeto”, e por fim, a lista de episódios, que está organizada de forma 
decrescente, do mais recente ao mais antigo, em títulos clicáveis que nos 
direcionam ao conteúdo. Em “como ouvir?” uma breve explicação sobre podcasts e 
seu crescimento na mídia atual introduz a página, em seguida é dada uma simples e 
clara explicação sobre como ouvir os podcasts do projeto. Em “contato” 
encontramos informações como email, telefone e um formulário de “fale conosco”. 
Em “inscreva-se” várias opções de diferentes plataformas são apresentadas, como a 
de receber email a cada novo lançamento, de receber notificações nos aplicativos de 
áudios em diversos sistemas operacionais de aparelhos de celular e tablets, além da 
forma de favoritar o site no próprio navegador web. Para finalizar o menu, em 
“sobre” há um pequeno resumo sobre o objetivo do projeto e uma pequena biografia 
com foto de cada um dos participantes e sua função no “alô, ciência?”. 
A interface do site é simples e seu visual ajuda na fácil navegação, nele o 
usuário tem a possibilidade de acessar rapidamente os links para chegar a um tema 
de interesse. A linguagem simples e antenada comunica diretamente com um 
público-alvo jovem, informado, heavy user de internet e mídias sociais. Pensando 
nos hábitos de navegação desse público, o site busca facilitar o caminho do usuário 
pelo site, evitando, por exemplo, a necessidade de login para acesso aos podcasts 
ou páginas iniciais de introdução ao site, tais opções existem, mas o usuário não 
precisa passar por elas para alcançar o conteúdo disponível. Dessa forma os 
podcasts do “Alô, Ciência?” são, grosso modo, uma conversa informal entre 
especialistas do tema determinado, com fortes referências de estudo, que são 
informadas em links na página do podcast para futuras leituras do ouvinte que 
deseja se aprofundar no tema. A variedade de tópicos também é uma marca do site, 
que tenta abraçar a maior gama de assuntos possíveis, sendo de temas palpáveis 
como política até assuntos abstratos como o conceito de consciência e sua 
abordagem na sociedade. 
Podemos notar em alguns podcasts do site que a forma como certos 
conteúdos são introduzidos passam por diversas óticas, onde seu significado fora 
adaptado para uma diferente nação, cultura, idade. Isso é visível no podcast “#052 - 
Por que falar sobre a morte?”, nele, as partes discutem o conceito de morte e o 
papel que ela exerce na vida em sociedade. Para destrinchar o assunto, são 
utilizados pontos de vista com embasamento em conhecimentos da área da 
psicologia, sociologia e filosofia. A discussão também passa por grandes 
pensadores como René Descartes, Carl Jung, Freud e Dalai Lama, para 
contextualizar o papel da morte em diferentes épocas, além de citar diversas 
vertentes religiosas e traçar paralelos de seu uso na sociedade. É mencionado, por 
exemplo, o conceito da reencarnação encontrado no hinduísmo, onde a morte é 
parte de um processo cíclico de morte e reencarnação para que a alma possa 
adquirir sabedoria e concluir seu ciclo de vivência no plano físico e transcender 
além, para o estágio conhecido como Nirvana, um paralelo então é traçado com a 
experiência oriental, alicerçada pela cultura judaico-cristã predominante, onde o 
conceito de morte é encarado com muito menos naturalidade e muita vezes chega a 
ser um tabu, um assunto diversas vezes eufemizado ou fatalmente evitado, mesmo 
ao tratar-se de pacientes terminais e seus parentes próximos, na perda de entes 
queridos ou quando o próprio indivíduo corre risco de morte. Discute-se também o 
ideal cristão de vida após a morte, o conceito do paraíso e do inferno e como tais 
almas devem ser julgadas durante a segunda vinda de Jesus Cristo no evento do 
Apocalipse, outra visão abordada é a dos Vikings, povos bárbaros da península 
Escandinávia que viveram durante quase três séculos, entre os anos 800 e 1050 na 
denominada Era Viking. Tais povos eram amantes do combate e devido à 
infertilidade de maior parte de sua terra, tiravam seu sustento de saques e pilhagens 
e por isso lidavam com o risco de morte constantemente. Para esses povos, só 
havia uma mortecerta: a morte em combate, cada Viking aspirava morrer durante os 
conflitos para que fosse aceito nos corredores do Valhalla, o palácio místico em que 
os que morriam com honra em batalha eram levados pelo deus Odin para 
descansar, festejar e se preparar para batalhar ao lado dos deuses na guerra que 
sinalizava o fim do mundo nórdico, o Ragnarök. Em todos esses casos é traçado um 
paralelo filosófico entre as religiões de determinada região com as necessidades e 
deveres da sociedade, os Vikings, por exemplo, precisavam de aceitação para os 
atos violentos que praticavam e por isso criaram deuses que espelhassem sua 
necessidade de combater e os premiassem por isso, enquanto os Hindus possuem 
deuses que refletem suas ideias de ciclicidade, como o deus Agni, deus do fogo que 
consome a vida e também do fogo que dá a vida. 
Tais debates só são possíveis após anos de estudo de diversos temas 
diferentes, mas o formato do podcast é capaz de unir pessoas experientes em 
diferentes áreas para trazer opiniões diferentes sobre um tema similar para gerar um 
brainstorm de ideias que não seria possível experimentar de forma tão didática lendo 
um livro sobre o assunto, por exemplo. Dessa forma, os podcasts dispostos no site, 
mais do que uma simples forma de passar o tempo, são uma possibilidade de 
apresentar assuntos científicos de forma precisa, ágil e de fácil compreensão, com 
uma linguagem dinâmica, trabalhada para tornar acessível aos mais diversos 
públicos, mas, no caso do “Alô, Ciência?” com um enfoque maior no público jovem. 
Outra vantagem que podemos mencionar sobre o formato em si é o fato de 
que o podcast não demanda que seu ouvinte tire tempo exclusivo de sua agenda 
para dedicar-se inteiramente ao conteúdo, o podcast pode ser baixado em um 
reprodutor de áudio (celular, mp3, Ipod, etc.) e reproduzido durante a rotina do 
cotidiano. Segundo pesquisa realizada pela Proteste, o brasileiro passa em média 
1h e 20 minutos do dia no transporte público, em São Paulo alguns usuários chegam 
a depender de oito conduções por dia na ida e volta do trabalho, o podcast pode 
surgir nessas viagens como uma forma atraente de consumir o tempo livre servindo 
como distração enquanto o ouvinte adquire conhecimento, uma grande ajuda na 
vida de universitários que trabalham e dispõem de pouco tempo livre para estudar 
pelos métodos convencionais. 
Um ouvinte pode estocar diversos programas em seu 
computador, MP3 player, celular ou handheld para escutar no 
momento que mais lhe convier. Em contraste com o rádio, em 
uma viagem de ônibus, por exemplo, não existe problema de 
sintonia e se pode escutar apenas o que interessa, já que o 
ouvinte carrega consigo todos os programas que escolheu por 
antecedência. (PRIMO, 2005, p. 14). 
Em suma, o “Alô, Ciência?” é uma plataforma forte, bem estabelecida e com 
um formato bem definido: levar conteúdo de qualidade, informativo, preciso e amplo 
para o ouvinte, apresentar teorias, contra teorias, réplicas e tréplicas. Seus temas 
diversos, sempre bem embasados por profissionais da área, geram discussões 
atualizadas, que dizem respeito tanto a acontecimentos que nos rodeiam 
atualmente, como visto no episódio “#054 Lutas negras por educação”, que aborda o 
racismo institucionalizado nos sistemas de ensino e as dificuldades que muitas 
vezes pessoas negras encontram na busca de seus estudos, como também 
assuntos interpretativos como o episódio “#043 Como funciona nossa memória?”, 
onde o ouvinte pode não somente absorver conteúdos, mas também se permitir 
imaginar e teorizar sobre as teorias já expostas. 
Seja como forma de diversão, estudo, como um passatempo ocasional ou 
parte importante da rotina, fato é que os podcasts ou plataformas que os reúnam, 
como o “Alô, ciência?” faz, geram uma acessibilidade ainda maior a conteúdos que 
outrora possam ter parecido complexos, de difícil obtenção e de ainda mais difícil 
compreensão, reduzindo-os, simplificando-os e tornando-os acessíveis a um novo 
público que dispõe de menos tempo para dedicar-se a leituras científicas e não está 
acostumada à linguagem utilizada em materiais antigos, por tudo isso, tanto o 
material exposto quanto o site em si são plataformas muito bem-vindas no estudo 
científico. 
 
ALOCIENCIA. 2019. Disponível em: <https://alociencia.com.br/sobre/>. Acesso em: 
09 abr. 2019. 
Bom dia Brasil: Brasileiros gastam, em média, 1h20 por dia em transportes 
públicos. Disponível em: <http://g1.globo.com/bom-dia-
brasil/noticia/2015/02/brasileiros-gastam-em-media-1h20-por-dia-em-transportes-
publicos.html>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
FLORES, Tábata Cristina Pires. A NOVA MÍDIA PODCAST: UM ESTUDO DE 
CASO DO PROGRAMA MATANDO ROBÔS GIGANTES. 2014. 45 f. TCC 
(Graduação) - Curso de Jornalismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de 
Janeiro, 2014. Disponível em: 
<https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/4379/1/TFlores.pdf>. Acesso em: 08 abr. 
2019. 
PRIMO, A. F. T. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. Porto 
Alegre, 2005. Disponível em: Acesso em 15 março 2014.

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