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Os métodos de irrigação.pdf CAPÍTULO 1 OS MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO J. A. FRIZZONE Dep. Eng. Rural - ESALQ/USP, CEP: 13418-900, Piracicaba - SP 1 INTRODUÇÃO Existem, basicamente, quatro métodos de irrigação: (a) irrigação por aspersão – a aplicação da água ao solo resulta da subdivisão de um jato d’água lançado sob pressão no ar atmosférico, através de simples orifícios ou de bocais de aspersores; (b) irrigação localizada – a aplicação da água é feita por emissores que operam sob pressão e localizam o volume de água necessário nas áreas de interesse; (c) irrigação por superfície – utilizam a superfície do solo para conduzir a água que deve ser aplicada à área a ser irrigada; e (d) irrigação subterrânea – consiste na aplicação de água ao subsolo pela formação de um lençol freático de água artificial ou pelo controle de um natural, mantendo-o a uma profundidade conveniente, capaz de proporcionar um fluxo satisfatório de água à zona radicular da cultura, satisfazendo as suas necessidades no processo de evapotranspiração. A agricultura irrigada se desenvolve nas mais diferentes condições de meio físico, atendendo uma grande variedade de culturas e de interesses sociais e econômicos, de forma que é possível existir um sistema de irrigação ideal, capaz de atender da melhor maneira a todas as condições e objetivos envolvidos. Em conseqüência, deve-se selecionar o sistema de irrigação mais adequado a cada condição em particular, considerando-se os interesses envolvidos. O processo de seleção deve ser baseado em uma criteriosa análise das condições presentes, em função das exigências de cada sistema de irrigação. Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os principais métodos de irrigação, suas características, variações e aplicações visando os critérios básicos para seleção dos sistemas. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 2 2 IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO A irrigação por aspersão se desenvolveu, principalmente, após a segunda guerra mundial, com a produção de tubos de alumínio, leves, e sistemas de acoplamentos rápidos, facilitando o transporte manual, a operação e o manejo dos equipamentos no campo. Foram, também, desenvolvidos aspersores de diferentes tipos e tamanhos. Os primeiros sistemas de aspersão introduzidos no mercado foram os portáteis, cujas tubulações eram deslocadas manualmente na área irrigada. Os aspersores eram do tipo rotativos de impacto. Posteriormente, surgiram os sistemas com linhas laterais rolantes. Com o objetivo de economizar mão-de- obra e aumentar a eficiência de irrigação surgiram os sistemas fixos. Estes eram utilizados em culturas de alto valor econômico. Quando instalados em pomares de citrus, geralmente consistiam de laterais de plástico, instaladas entre fileiras de árvores, usando-se aspersores pequenos e de baixa vazão. Mais tarde foram desenvolvidos aspersores gigantes, montados sobre bases móveis, utilizados para facilitar a cobertura de grandes áreas, em particular aquelas que deveriam receber irrigação complementar. Outros equipamentos móveis, requerendo pouca de mão-de-obra, foram desenvolvidos nas décadas de 60 e 70 e, ao mesmo tempo, vários níveis de automação foram introduzidos nos sistemas. A forma mais simples de automação consistiu no uso de válvulas volumétricas, projetadas para permitir a passagem de um determinado volume de água, após o que se fechavam automaticamente. Nos níveis mais avançados, as válvulas operavam em uma determinada seqüência. Mais sofisticado foi o uso de unidades de controle eletrônico no campo para abrir e fechar válvulas, de acordo com um esquema pré- estabelecido. Ainda, em sistemas mais avançados, vários campos podem ser irrigados ao se conectarem as unidades operacionais de irrigação a uma unidade de comando central, controlada por computador. Muitos sistemas de aspersão utilizados no Brasil ainda são do tipo convencional portátil. Entretanto, em áreas maiores e com o objetivo de minimizar o emprego de mão-de-obra na irrigação, tem crescido a utilização de sistemas mecanizados, particularmente o pivô central, com níveis variados de automação. Os sistemas de aspersão podem ser classificados em dois grupos principais: sistemas convencionais e sistemas mecanizados. Cada um pode ser subdividido em diferentes tipos, conforme apresentado a seguir. 2.1 Classificação dos sistemas Os sistemas de aspersão em geral são classificados em dois grupos principais: sistemas convencionais e sistemas mecanizados. Cada um pode ser subdividido em diferentes tipos, conforme apresenta-se a seguir. SISTEMAS CONVENCIONAIS Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 3 Os sistemas de irrigação por aspersão convencionais podem ser apresentados em diferentes tipos. De forma geral, são constituídos por linhas principal, secundárias e laterais e, sobre estas, são acoplados os aspersores. As linhas secundárias muitas vezes são dispensáveis. Dependendo da mobilidade das tubulações na área irrigada, esses sistemas podem ser subdivididos em: Fixos permanentes - apresentam as tubulações enterradas e apenas as hastes dos aspersores e dos registros permanecem à superfície do terreno. São sistemas de alto custo inicial, justificando-se apenas para irrigação de pequenas áreas, culturas de alto valor econômico, como flores e produção de sementes, e em locais onde a mão-de-obra é escassa e/ou cara. São sistemas bem adaptados a condições de solo arenoso, com baixa capacidade de retenção de água e climas com alta demanda evaporativa. São também usados para irrigação de jardins e gramados, utilizando-se aspersores escamoteáveis. Fixos temporários - as linhas laterais, secundárias e principal permanecem fixas em suas respectivas posições durante a realização das irrigações, cobrindo toda a área. Diferem dos sistemas permanentes no aspecto de que apresentam as tubulações dispostas sobre a superfície do terreno, podendo ser removidas quando desejado. Semifixos - as linhas principal e secundárias permanecem fixas, enterradas ou não. Apenas as laterais, cobrindo parte do campo, deslocam-se nas diferentes posições da área irrigada. Para isso, as tubulações são leves, dotadas de juntas ou conexões de acoplamento rápido. Os aspersores são conectados diretamente sobre os tubos que compõem a linha lateral ou sobre acessórios especiais acoplados nas extremidades dos tubos. O deslocamento das laterais pode ser efetuado manualmente ou, para economizar tempo e mão-de-obra, principalmente em culturas de porte alto, as laterais podem ser montadas sobre pequenas rodas e o deslocamento é efetuado por um trator. Portáteis - todas as linhas que compõem o sistema são móveis, deslocando-se progressivamente na área irrigada. Até mesmo a unidade de bombeamento pode ser deslocada. São casos típicos em que se procura substituir o custo inicial de aquisição do equipamento por custo operacional, em função da maior quantidade de mão-de-obra requerida no deslocamento das tubulações. São normalmente projetados com até quatro linhas laterais e com tempo diário de operação variando de 8 a 18 horas. SISTEMAS MECANIZADOS Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 4 A princípio, foram desenvolvidos com o objetivo de reduzir o emprego da mão-de-obra na movimentação das canalizações, sendo o alto custo desta e a carência de pessoal habilitado os principais motivos do surgimento desses sistemas. Os mecanismos utilizados para a movimentação dos equipamentos podem ser hidráulicos, como as turbinas e pistões hidráulicos, que utilizam como fonte de energia a própria pressão da água fornecida pela motobomba, ou então mecanismos elétricos. Até mesmo o trator agrícola é utilizado para mudanças de posição de operação. São fabricados diversos tipos de sistemas mecanizados de irrigação por aspersão, a saber: Linhas laterais autopropelidas - constituem os sistemas mecanizados em que a linha lateral, contendo os aspersores, é dotada de mecanismos propulsores que asseguram sua movimentação contínua ou intermitente na área irrigada. Os sistemas dotados de movimentação contínua podem ser classificados de acordo com a direção do deslocamento da seguinte forma: (a) sistema com deslocamento linear - as linhas laterais encontram-se suspensas, suportadas por estruturas metálicas denominadas torres de sustentação, apresentando rodas pneumáticas em cada torre, responsáveis pelo deslocamento do sistema. A velocidade de deslocamento é variável em função da lâmina de água necessária à irrigação. Todas as torres devem se deslocar à mesma velocidade e o suprimento de água à linha de aspersores é realizada através de mangueiras flexíveis conectadas a hidrantes ou canais dispostos à margem da área irrigada ou, de preferência, na linha central desta; (b) sistema com deslocamento radial - conhecido como pivô central, apresenta movimento radial, resultante de tempos diferenciais de operação das sucessivas torres que compõem o sistema. A velocidade de deslocamento da última torre é que determina a grandeza da lâmina de água a ser aplicada. O suprimento de água à linha lateral, contendo os aspersores, é realizada através do ponto central da área circular irrigada, tornando o sistema muito apropriado à presença de um poço artesiano nesse local. Caso contrário, a água deve ser conduzida sob pressão através de uma tubulação adutora, até o ponto do pivô. O sistema com movimentação intermitente, denominado lateral rolante, ou rolão, é constituído basicamente por uma linha lateral contendo os aspersores, operando como um eixo com rodas metálicas regularmente espaçadas. Na parte central dessa linha suportada por rodas, encontra-se a unidade propulsora, geralmente constituída por um motor a gasolina com potência entre 5 e 7 CV, um sistema redutor composto de engrenagens e um sistema de transmissão por correntes. Esta unidade transmite um movimento de rotação uniforme à tubulação, operando como um eixo fixo às rodas de sustentação, o que proporciona o deslocamento do sistema. Os aspersores estão conectados a um sistema de haste especial, de forma a mantê- los sempre em posição horizontal. Uma mangueira flexível faz a conexão da extremidade da linha lateral a um hidrante. O sistema permanece estacionado durante irrigação. Uma vez terminada a aplicação de água, o sistema é automaticamente drenado, podendo ser deslocado para a próxima posição. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 5 Aspersores autopropelidos - este sistema irriga faixas longas, de largura variável, deslocando-se de forma contínua e linear no sentido do eixo da faixa. O aspersor funciona setorialmente, de maneira que o seu deslocamento se faz em solo seco. Em geral, o aspersor utilizado é do tipo canhão, com alcance superior a 30 m e o setor angular de cobertura superior a 180o. Os equipamentos mais comuns no mercado são aparelhos tracionados à cabo e por mangueira. Nos primeiros o deslocamento faz-se por tração de um cabo de aço ancorado na extremidade da faixa irrigada (Figura 1.7). Na outra extremidade, montado sobre chacis provido de rodas, é posicionado o aspersor. A mangueira flexível, resistente à pressão, tração e atrito com a superfície do solo, faz a conexão entre o carrinho e os hidrantes. A água sob pressão aciona o sistema de propulsão (turbina hidráulica, pistão hidráulico ou torniquete hidráulico), promovendo o enrolamento do cabo de aço e o conseqüente deslocamento do carrinho. Os aparelhos tracionados por mangueira deslocam-se por tração do próprio tubo de alimentação, que é enrolado em um tambor de grande diâmetro (aproximadamente 20 vezes o diâmetro médio do tubo). O aspersor é montado em um carrinho na extremidade do tubo. Montagem direta - é um sistema muito utilizado em áreas canavieiras, sendo empregado para a distribuição de efluentes originários de destilarias de álcool (vinhaça) em áreas cultivadas com cana-de-açúcar. Caracteriza-se por apresentar uma unidade móvel de bombeamento, acionada por um motor de combustão interna e um canhão hidráulico, que pode estar instalado na mesma unidade móvel, ou então, na extremidade de uma tubulação, geralmente de alumínio, com 60 a 90 m de comprimento. O suprimento de efluente ao sistema é feito através de canais estrategicamente localizados nas áreas de aplicação. 2.2 Principais vantagens e limitações As principais vantagens apontadas ao método de irrigação por aspersão são as seguintes: Dispensa a preparação do terreno necessária aos sistemas de irrigação por superfície - Os custos de uma regularização da superfície do terreno, através da sistematização, aumentam proporcionalmente à variação da uniformidade topográfica. Deve-se considerar ainda a possibilidades de corte excessivos comprometerem a qualidade do solo para a agricultura bem sucedida. Os sistemas de aspersão e localizada são mais adaptados às condições de topografia irregular, podendo ser operados em terrenos com gradiente de declive de até 20% ou mais, com desempenho satisfatório. Por outro lado, gradientes de declive superiores a 5 % já são limitantes aos sistemas por superfície. A quantidade de água a aplicar pode ser facilmente adaptada às exigências do projeto - A irrigação por aspersão é, na prática, um dos métodos que possibilita, com relativa facilidade, aplicar água com as dotações mais convenientes para cada caso em particular. Permite irrigações com pequenas dotações, necessárias em muitos casos (irrigações de sementeiras, de plantas jovens ou de raízes pouco profundas, em solos arenosos Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 6 ou com pequena profundidade da camada arável). Com outros sistemas, exceto a irrigação localizada, é difícil aplicar tão pequenas quantidades de água, quanto por exemplo, inferiores a 200 m3/ha. Proporciona melhor uniformidade de distribuição de água - Nenhum sistema de irrigação é capaz de aplicar água com perfeita uniformidade e, em geral, o aumento da uniformidade de distribuição da água requer investimentos na melhoria do sistema, em manutenção e mão-de-obra. Entretanto, os sistemas de aspersão podem ser mais facilmente projetados e manejados, de forma reduzir a utilização de mão-de-obra e assegurar elevados níveis de uniformidade de distribuição de água e eficiência de aplicação, em diferentes condições topográficas do terreno e culturas. É incontestável esta vantagem em relação a alguns sistemas de irrigação por superfície, nos quais a quantidade de água que infiltra na parte inicial da parcela é normalmente muito superior a que infiltra no final da mesma. No entanto, a uniformidade de distribuição de água pela aspersão é muito prejudicada pelo vento. Tarjuelo et al. (1996) salientam que os benefícios econômicos da irrigação aumentam em função do aumento da uniformidade de distribuição da água, independente do custo da água. Mantovani et al. (1995) estudando lâminas ótimas de irrigação na cultura do milho verificaram que o aumento da lâmina de irrigação para compensar a redução da produção pela baixa uniformidade, é uma estratégia aceitável quando o custo da água é baixo em relação ao preço do produto e a importância do custo da água diminui com o aumento da uniformidade de distribuição. É consenso da literatura que, quando a água é abundante e de baixo custo, deve-se compensar a baixa uniformidade pela aplicação de uma lâmina de irrigação maior que a necessária à cultura para reduzir a área de déficit. Contudo, o aumento da lâmina de irrigação eleva os custos operacionais do sistema (Duke et al., 1992) e aumenta as perdas de nutrientes por lixiviação (Bem-Asher & Ayres, 1990). A lixiviação representa não só uma perda econômica direta como também reduz a produção e pode contaminar o lençol freático (Heermann et al., 1992). Como os custos dos recursos aumentam com a quantidade de água aplicada e a responsabilidade ambiental justifica um manejo racional da irrigação, pode não ser prudente aumentar a lâmina de irrigação para maximizar a produção. Permite economia de água - A grandeza do potencial hídrico (vazão e volume total de água disponível) pode determinar a eficiência de irrigação para possibilitar que toda área possa ser irrigada. Essa vantagem da aspersão resulta não só das duas últimas, mas também do fato de que, nesse método, a água é conduzida através de tubulações, o que favorece a minimização das perdas na rede de condução. A economia de água permitida pelos sistemas de aspersão, em relação aos sistemas por superfície, pode alcançar 50 %. Em conseqüência dessa vantagem, a eficiência de irrigação (definida como a fração do volume de água efetivamente utilizada pelas culturas em relação ao total captado na fonte de suprimento), no caso da aspersão, pode atingira 80 %, havendo situações em que chega a 90 %, enquanto nos métodos por superfície raramente ultrapassa 70 %, sendo freqüentemente inferior a 50%. Daí resulta que, com uma dada vazão, a Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 7 aspersão permite irrigar uma área superior àquela possível aos sistemas de irrigação por superfície. Ressalta- se que, mesmo para irrigações com alta uniformidade, a eficiência depende da quantidade de água aplicada. Reduz o risco de erosão - Sempre é possível projetar um sistema de aspersão com intensidade de aplicação de água compatível com a capacidade de infiltração do solo e com o declive do terreno. Consegue-se irrigar terrenos muito argilosos ou declivosos com pequeno risco de erosão, o que nem sempre é possível com sistemas de irrigação por superfície. Alguns sistemas de aspersão mecanizados, como o pivô central e o autopropelido, não apresentam a mesma flexibilidade operacional dos sistemas convencionais de aspersão e podem ser limitados por solos com baixa ou moderada capacidade de infiltração. Este parâmetro deve ser considerado com bastante critério na determinação do comprimento da lateral de um pivô central, devido ao aumento da intensidade de aplicação de água com o aumento do raio irrigado. O risco de erosão é atenuado se forem adotadas técnicas de conservação do solo que reduzam o escoamento superficial. Permite um melhor aproveitamento do terreno - A irrigação por aspersão dispensa a construção de redes de canais no terreno, possibilitando um melhor aproveitamento da área. O sistema de aspersão convencional, em relação ao sistema de irrigação por sulcos, possibilita normalmente um ganho de mais de 3 % de superfície útil de cultivo. Também, com aspersão, certas culturas não necessitam ser cultivadas em linhas, o que contribui para um melhor aproveitamento do terreno. Economia de mão-de-obra - Essa vantagem da aspersão evidencia-se apenas em instalações criteriosamente projetadas, com alto grau de automação, resultando em sistemas funcionais. A economia é maior em sistemas convencionais fixos permanentes e mecanizados. Em sistemas portáteis os gastos com mão-de-obra são elevados e, em sistemas semifixos, nos quais somente as laterais são deslocadas na área, a economia de mão- de-obra depende da funcionalidade da instalação. Segundo Zocoler et al. (1995) o custo anual total de um sistema de aspersão convencional cresce com a redução da distância entre linhas laterais devido ao aumento dos gastos com mão-de-obra para deslocamento das laterais: para 24m de espaçamento o custo anual total do sistema foi US$ 174,93/ha, dos quais US$ 20,58/ha foram gastos com mão-de-obra, e com 18m de espaçamento o custo anual total foi de US$ 251,30/ha, sendo US$ 15,43/ha com mão-de-obra. Facilidade de operação e manejo - Alguns fatores humanos influenciam a seleção de sistemas de irrigação: hábitos, preferências, tradições, experiências, preconceitos e nível educacional. Agricultores com melhor formação tecnológica podem contribuir para o aperfeiçoamento dos sistemas de irrigação e superar as dificuldades de operação e manejo da irrigação. O fato é que, irrigantes com pouca prática em irrigação, têm revelado preferências por sistemas de aspersão, provavelmente pela percepção das facilidades de manejo e operação dos mesmos e aversão aos gastos com mão-de-obra próprios dos sistemas de irrigação por superfície sem automação. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 8 Polivalência das instalações - Além das irrigações para evitar deficiência hídrica durante o ciclo das culturas, os sistemas de aspersão podem ser utilizados para outros fins: irrigações de pré-emergência em áreas distintas, defesa das plantas contra geadas, proteção contra altas temperaturas, tratamentos fitossanitários, fertirrigação mineral ou orgânica, etc. A polivalência funcional das instalações de aspersão tem despertado grande interesse, pois facilita a amortização dos custos de investimento. Os seguintes fatores constituem inconvenientes à aspersão: Altos custos de investimento, operação e manutenção - Atribui-se aos sistemas de aspersão elevados custos de investimento, operação e manutenção. Entretanto, a análise econômica envolvendo diferentes sistemas de irrigação é, em geral, muito complexa, pelo grande número de variáveis envolvidas. Por outro lado constitui o critério decisivo na seleção de sistemas de irrigação para uma determinada condição. Relativamente ao consumo de energia, os sistemas de aspersão são considerados os maiores consumidores, e os por superfície os menores. Os sistemas de irrigação localizada situam-se entre estes. Os custos de investimentos em sistemas de irrigação são muito variáveis, dependendo das condições existentes no local e das exigências de cada sistema. Os custos de manutenção estão relacionados aos reparos e limpeza das estruturas hidráulicas e à reposição de peças e componentes. A grandeza desses custos depende muito da qualidade dos materiais empregados, equipamentos e obras realizadas e das condições operacionais. Distribuição de água afetada por fatores ambientais - A velocidade e direção do vento, a umidade relativa e a temperatura do ar constituem os principais fatores ambientais que influenciam o uso da irrigação por aspersão. O vento prejudica a uniformidade de distribuição de água dos aspersores e, juntamente com a temperatura e a umidade relativa do ar, influi nas perdas por evaporação. O efeito do vento pode ser reduzido quando se diminuem os espaçamentos dos aspersores, tanto ao longo das linhas laterais como entre elas. Sob condições de vento, a área molhada sofre um desvio na forma, alongando-se na direção do vento e diminuindo no sentido oposto. A grandeza da distorção é função da velocidade e do tamanho das gotas de água aspergidas. Velocidades mais elevadas e gotas menores favorecem a distorção do perfil de distribuição de água, resultando menor uniformidade. Considera-se que velocidade de vento até 2m/s afeta pouco a uniformidade de distribuição de água. Entretanto, o efeito do vento na distribuição de água é maior nos sistemas cujos aspersores operam estacionados, como na aspersão convencional e rolamento lateral, ou então operam em faixas de dimensões relativamente grandes, como os aspersores autopropelidos. Os sistemas tipo pivô central e deslocamento linear, com aspersores instalados em pequenos espaçamentos, podem ser menos afetados pelo vento. Paz (1990), estudando estudou a influência dos elementos climáticos sobre a uniformidade de distribuição de água de um aspersor, com bocais de 4,5 x 5,5 mm de diâmetro; concluiu que a velocidade do Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 9 vento foi o fator que mais influenciou as perdas de água por evaporação e deriva, seguida da umidade relativa do ar. Para umidade relativa de 40 %, temperatura de 32oC e velocidade do vento de 4 m/s, constatou perdas de água por evaporação e deriva de até 40 % do volume aplicado. Favorece o desenvolvimento de algumas doenças de plantas - A necessidade de tratamentos fitossanitários sistemáticos em determinadas culturas pode desaconselhar o uso de sistemas de aspersão. Aplicação freqüente de água à parte aérea pode remover os defensivos aplicados e favorecer o desenvolvimento e disseminação de alguns agentes fitopatogênicos. Selamento da superfície de alguns solos - Nos solos que apresentam tendência à formação de crosta superficial, pela desagregação causada pelo impacto das gotas de água, a irrigação pode reduzir a capacidade de infiltração de água e agravar os problemas de escoamento superficial e germinação de sementes. Imprópria para água com alto teor salino - Os problemas causados pela qualidade da água podem ser resumidos nos seguintes efeitos principais: salinidade e permeabilidade do solo, toxidez às plantas cultivadas e corrosão de equipamentos. A aspersão com água salina, durante períodos de intenso potencial evaporativo do ar, pode causar a deposição de sais sobre os frutos e outras partes vegetativas das plantas que, eventualmente, são sensíveis ao excesso de sais. Ayers (1977) cita a possibilidade de queimadura foliar devido à absorção de sódio ou cloro, em condições de elevada evaporação, em conseqüência do aumento da concentração iônica nos filmes de água sobre as folhas, durante os intervalos de irrigação. 3 IRRIGAÇÃO LOCALIZADA A irrigação localizada compreende a aplicação de água em apenas uma fração da área cultivada, em alta freqüência e baixo volume, mantendo o solo, na zona radicular das plantas, sob alto regime de umidade. A área máxima molhada não deve ser superior a 55% da área correspondente à projeção da copa das plantas, enquanto que a área mínima molhada deve ser aproximadamente 20% nas regiões de clima úmido e 30% nas de clima árido e semi-árido. A área de solo molhado exposta à atmosfera fica, assim, bem reduzida, o que reduz a perda de água por evaporação direta do solo. A principal diferença entre os sistemas de irrigação localizada e os outros sistemas de irrigação, é que nos primeiros o balanço entre evapotranspiração e água aplicada é mantido num período compreendido entre 24 e 72 horas. A limitada capacidade dos sistemas de irrigação localizada, operando em alta freqüência, requer atenção particular na estimativa da necessidade de água das culturas ou na medida do potencial de água na zona radicular. A irrigação localizada, como os demais métodos de irrigação, não se ajusta a todos os objetivos e condições de solo, planta, clima, topografia e água. O seu maior potencial de uso ocorre quando (a) a água é Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 10 cara e sua disponibilidade é limitada; (b) o solo é arenoso, pedregoso e a topografia irregular; (c) a cultura é de alto valor econômico, muito sensível a pequenas variações de umidade do solo e exige doses freqüentes de fertilizantes, uma vez que o método facilita a fertirrigação. Algumas das principais frutíferas irrigadas por sistemas de irrigação localizada são: ameixa, manga, pêssego, nectarina, pêra, maçã, citros, uva, morango, melão, melancia e mamão. 3.1 Classificação dos sistemas Os sistemas de irrigação localizada podem ser classificados de acordo com um critério de vazão: sistemas de alta vazão (16 a 150 l/h) e de baixa vazão (inferior a 16 l/h). Como vazão limite aceita-se o valor de 16 l/h, conforme estabelecido pelas normas ISO. Trata-se de um valor arbitrário, mas que na prática serve para distinguir os sistemas de irrigação localizada. Os sistemas de alta vazão incluem os por microaspersão e por difusão, e os de baixa vazão, o gotejamento que pode ser do tipo superficial e subsuperficial. Às vezes emprega-se o termo miniaspersão para emissores com vazão superior a 150 l/h, porém sem atingir a vazão dos aspersores convencionais. As principais características desses sistemas são: Microaspersão - os emissores de água possuem algum tipo de elemento giratório que distribui a água, acionado pela própria pressão desta. Difusão - os emissores não possuem elemento giratório, mas pulverizam e distribuem a água pela ação de algum outro dispositivo, por exemplo uma placa difusora. A distinção entre microaspersão e difusão não é relevante para efeitos agronômicos ou hidráulicos. Os sistemas de irrigação localizada de alta vazão surgiram como uma alternativa aos de baixa vazão, com o objetivo de aumentar a área molhada por um emissor, o que é desejável para solos muito permeáveis. O termo emissor é utilizado num sentido amplo, referindo-se aos microaspersores, difusores e aos diferentes tipos de gotejadores. Gotejamento - com relação aos sistemas de baixa vazão, a terminologia atual é pouco clara e, por isso, muitos autores englobam as diferentes variações sob a denominação geral de irrigação por gotejamento, incluindo os sistemas que utilizam tubos gotejadores (com gotejadores integrados ao tubo), microtubos, cintas de exudação e os gotejadores conectados sobre o tubo. 3.2 Principais vantagens e limitações Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 11 As vantagens da irrigação localizada em relação aos outros métodos de irrigação são relatadas em muitos textos especializados. As potencialidades de cada método e suas limitações dependem de fatores técnicos, econômicos e agronômicos. Alguns benefícios da irrigação localizada são apresentados a seguir: Economia de água - Os sistemas de irrigação localizada devem cumprir os mesmos princípios básicos dos outros sistemas de irrigação: suprir de água o sistema solo-planta de modo a satisfazer a demanda de água por evapotranspiração da cultura ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Existe concordância geral de que uma das maiores vantagens da irrigação localizada é a economia de água. Sem dúvida a localização da aplicação de água possibilita a redução das perdas por evaporação direta do solo e por percolação. Entretanto, o fato de que as culturas utilizam menos água na transpiração não parece verdadeiro, por alguns motivos: (a) a irrigação com alta freqüência mantém o volume de solo próximo às raízes sempre com alto regime de umidade e, em conseqüência, a planta transpira numa taxa potencial; (b) a irrigação localizada só molha parte da superfície do solo, em conseqüência a fração de solo seco se aquece mais que um solo úmido, emitindo mais radiação de ondas longas, que é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta do corpo (solo). Parte dessa radiação é captada pela copa das plantas resultando em um aumento da energia disponível para a transpiração. Além disso, tem-se o efeito do aquecimento do ar que, pelo processo de micro-advecção, aporta mais energia às folhagens das plantas. Em resumo, o efeito da localização e da alta freqüência de irrigação é reduzir as perdas por evaporação e percolação e aumentar a transpiração. O balanço global resulta numa redução do conjunto evaporação-transpiração, cuja magnitude depende de muitas características do dossel vegetativo. Especialmente quando se trata de plantas arbóreas cultivadas em linha, a evaporação direta através da superfície do solo é reduzida, uma vez que apenas uma fração da área é irrigada. Principalmente em solos arenosos, as perdas de água por percolação profunda são mais facilmente controladas quando se utilizam sistemas de irrigação localizada. Favorece o desenvolvimento e produção das culturas - Embora se reconheçam as dificuldades em se comparar adequadamente os diferentes métodos de irrigação e práticas de manejo, existe na irrigação localizada uma grande potencialidade para aumentar a produtividade das culturas, uma vez que ela permite, com facilidade, a aplicação de água com alta freqüência e baixo volume, mantendo um nível adequado de aeração do solo e evitando a ocorrência de estresse hídrico na planta. Howell (1981), revendo cerca de 50 publicações sobre a resposta das culturas à irrigação localizada, comparando culturas irrigadas com outros métodos de irrigação, observaram que as produções obtidas com sistemas localizados foram maiores ou iguais em todos os casos, e em apenas dois casos a quantidade de água aplicada foi maior que pelos outros métodos de irrigação. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 12 Reduz o risco da salinidade para as plantas - O regime de sais no solo é afetado pela freqüência de irrigação e pela forma de aplicação de água. Depois da irrigação, os sais contidos na solução do solo mais os sais adicionados pela água de irrigação encontram-se dissolvidos na água do solo. A partir desse momento, tanto a evaporação quanto a transpiração reduzem a umidade do solo, mas não eliminam os sais dissolvidos. Em conseqüência, a concentração salina aumenta até a próxima irrigação. Quanto maior o intervalo de irrigação, maior será a salinidade da solução do solo. O efeito dos sais dissolvidos é reduzir o potencial osmótico da solução do solo e, em conseqüência, dificultar a absorção da água pelas raízes. A dificuldade de absorção é agravada quando a umidade do solo é menor. A alta freqüência de irrigação facilita a absorção por dois motivos: por manter alta a umidade do solo e por reduzir a concentração de sais. Existem consideráveis evidências de que água com alto teor salino pode ser usada em irrigação localizada sem reduzir significativamente a produção das culturas. A minimização do risco da salinidade para as plantas irrigadas por sistemas localizados pode ser atribuído a: (i) diluição da concentração de sais na solução do solo, como conseqüência da alta freqüência de irrigação usada para manter elevado o conteúdo de água na zona radicular; (ii) eliminação dos danos causados às folhas pela irrigação por aspersão com água salina; (iii) movimento dos sais além da região de atividade das raízes. Facilita a aplicação de fertilizantes e outros produtos químicos - A irrigação localizada oferece considerável flexibilidade na fertirrigação. Aplicações de fertilizantes junto com a água de irrigação, em alta freqüência são benéficas às culturas, além de aumentar a eficiência de uso. Tem-se proposto várias razões para o aumento dessa eficiência: (i) reduz a quantidade de fertilizante aplicado, porque os nutrientes são localizados diretamente na zona das raízes; (ii) possibilita aplicações mais oportunas, de acordo com as necessidades das plantas nas diferentes fases do ciclo de desenvolvimento; (iii) melhora a distribuição do fertilizante, minimizando a lixiviação além da zona radicular. Da mesma forma que os fertilizantes, outros produtos como herbicidas, inseticidas e fungicidas podem ser aplicados. Limita o desenvolvimento de ervas daninhas - A infestação de ervas daninhas pode ser reduzida uma vez que a irrigação localizada distribui água apenas em uma fração da área cultivada. Isto propicia grande economia de custos devido à redução da necessidade de controle de ervas daninhas. Também, como a água passa por um sistema de filtragem, é pequeno o risco de disseminação de novas espécies invasoras. Pode acontecer de alguns herbicidas não apresentarem boa eficiência em condições de alta umidade do solo, como ocorre próximo dos emissores. Neste caso deve-se selecionar o herbicida mais adequado. Pequena exigência de mão-de-obra - Os sistemas de irrigação localizada podem ser facilmente automatizados, facilitando a operação onde a mão-de-obra é escassa e de alto custo. A automação pode consistir desde um simples conjunto de válvulas volumétricas e hidráulicas até válvulas elétricas que ativam Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 13 válvulas solenóides em intervalos de tempo definidos. Estágios mais avançados da automação utilizam sensores de umidade, interfaces de computador e controle remoto. Além da economia de mão-de-obra resultante da automação, pode-se conseguir maior eficiência de irrigação e outras operações agrícolas podem ser realizadas enquanto se processa a irrigação. Os custos operacionais e de mão-de-obra relacionados com a aplicação de fertilizantes e outros produtos químicos podem ser minimizados quando a aplicação desses produtos é feita simultaneamente com a irrigação. Embora os custos operacionais possam ser reduzidos, em alguns casos os custos de inspeção e manutenção do sistema podem aumentar. Baixo consumo de energia - Esses sistemas apresentam grande potencial para redução dos custos de energia para bombeamento, uma vez que as pressões de operação são consideravelmente menores que em outros sistemas pressurizados. Contudo, a real conservação de energia é uma conseqüência do pequeno volume de água bombeado, o que se deve, em parte, à alta eficiência de irrigação. Evidentemente, a irrigação por superfície tem maior potencial para conservar energia do que os sistemas de irrigação localizada, quando a mesma quantidade de água é aplicada. Facilita as práticas culturais – As operações de pulverização, desbaste, controle de ervas daninhas e colheita são possíveis sem interrupção da irrigação. Em plantas com maiores espaçamentos, o solo nas entre- linhas permanece seco, facilitando a movimentação de máquinas e trabalhadores. Apesar das vantagens observadas, muitos problemas têm sido encontrados na utilização da irrigação localizada para alguns tipos de solo, qualidade de água e condições ambientais. A seguir são discutidas algumas das principais limitações destes sistemas. Permanente necessidade de manutenção - A obstrução dos emissores é considerada o mais sério problema em irrigação localizada, a não ser que sejam tomadas medidas preventivas. A obstrução afeta a taxa de aplicação e a uniformidade de distribuição de água, aumentando os custos de manutenção, reposição de peças e recuperação e com inspeção. Pode ocorrer diminuição da produção e danos às culturas se a obstrução não for detectada e eliminada em tempo hábil. Duas alternativas têm sido apresentadas para minimizar o problema. A primeira é o desenvolvimento de emissores menos sensíveis à obstrução e a segunda é melhorar a qualidade da água de irrigação. A manutenção preventiva (incluindo filtragem da água, tratamento químico, lavagem das linhas laterais e inspeções de campo) é provavelmente a solução mais efetiva para evitar os danos da obstrução dos emissores. Outros problemas que podem ocorrer são rompimento das tubulações e falhas em acessórios e equipamentos. Animais roedores podem perfurar e danificar as tubulações de polietileno. Formigas e alguns insetos podem aumentar os problemas de obstrução. As tubulações podem ser cortadas acidentalmente nas Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 14 práticas culturais. Filtros e injetores químicos, controladores de tempo, reguladores de pressão, válvulas volumétricas e conjunto motobomba também estão sujeitos à falhas de operação. Acumulação de sais próximo às plantas - Quando a água de irrigação tem alta concentração salina, o sal tende a se acumular na superfície do solo e na periferia do volume de solo molhado. A precipitação pode levar certa quantidade desses sais para dentro da zona radicular e causar estresse às plantas devido à diminuição do potencial osmótico. Elevadas concentrações de sais na superfície do solo podem se constituir em grande problema para a germinação das sementes em cultivos posteriores. Nesses casos, freqüentemente é necessário a aplicação de grande quantidade de água por aspersão antes da semeadura. Limitação do desenvolvimento do sistema radicular - O pequeno volume de solo molhado por sistemas de irrigação localizada, comparado com outros métodos de irrigação, pode resultar em vantagens e desvantagens. Restringindo a disponibilidade de água a um pequeno volume de solo pode-se aumentar a eficiência de uso de água, facilitar o desenvolvimento das plantas, reduzir o perigo da salinidade e melhorar o uso de produtos químicos. Por outro lado, um volume mínimo de solo molhado parece ser necessário a um adequado desenvolvimento e distribuição do sistema radicular e para ótima resposta da cultura à irrigação. Muitos fatores relativos ao solo (textura, velocidade de infiltração, heterogeneidade), à planta (capacidade de absorção, evapotranspiração), ao manejo da irrigação (quantidade e freqüência de aplicação) e ao projeto do sistema (número de emissores por planta, localização e vazão dos emissores) afetam a distribuição da água no solo e o desenvolvimento radicular. Limitações técnicas e econômicas - Os sistemas de irrigação localizada são fixos e requerem grandes quantidades de tubulações e acessórios. Conseqüentemente, o investimento de capital no sistema de irrigação é elevado, geralmente da mesma ordem dos investimentos em sistemas fixos permanentes de irrigação por aspersão convencional. O custo pode variar consideravelmente, dependendo da cultura, da quantidade de tubulações necessária, dos equipamentos de filtragem e de injeção de fertilizantes e do grau de automação. Geralmente os sistemas de irrigação localizada são mais econômicos quando utilizados em culturas de maiores espaçamentos. No Brasil, os custos iniciais desses sistemas podem variar de US$ 2000 a US$ 5000 por hectare, dependendo da cultura. Goldberg (1974) apresenta cálculos comparativos mostrando que um sistema de irrigação por gotejamento, para 1 ha de hortaliças, pode ter um preço até três vezes maior ao de um sistema para 1 ha de citros. Dentro do custo total de um sistema de irrigação localizada, as tubulações representam cerca de 60% a 70 % do preço total. Somente as linhas laterais podem corresponder a 40 %, os emissores 5 a 10 % e o cabeçal de controle entre 10 e 20 %. Em 1 ha de citros utilizam-se aproximadamente 1900 m de linhas laterais e 500 a 1500 gotejadores enquanto, em videiras, utilizam-se até 3000m dessas tubulações e cerca de 2000 gotejadores. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 15 Os custos anuais de manutenção podem atingir US$ 200 por hectare. Nakayama & Bucks (1986) relatam um estudo econômico no nordeste dos Estados Unidos, com a cultura do algodão irrigada por gotejamento e por sulcos, em que os custos operacionais diferiram em apenas 5 %, mas os custos fixos anuais, por unidade de área, foram 2,3 vezes superiores em irrigação por gotejamento (US$ 865/ha comparados com US$ 370/ha). Nessas condições, os autores afirmam que a irrigação do algodoeiro por gotejamento só é econômica se a produção aumentar em 108 % em relação à obtida com irrigação por sulcos. Têm sido necessários muitos aperfeiçoamentos técnicos no projeto de emissores, sistemas de filtragem e de controle. O desenvolvimento de técnicas para prevenir ou corrigir os problemas de obstrução dos emissores e falhas de equipamentos nem sempre tem alcançado sucesso. Outras dificuldades são encontradas no desenvolvimento de métodos para injeção de fertilizantes e outros produtos químicos. Além disso, são necessários melhores projetos, programas de manejo e manutenção. Como esses sistemas operam a baixa pressão, pequenas variações na pressão dos emissores podem causar grandes variações de vazão e, como conseqüência, a uniformidade de distribuição de água pode ser reduzida a níveis indesejáveis. A variação de vazão dos emissores é o resultado do efeito combinado de fatores como: perda de carga, ganho ou perda de energia por diferença de nível, qualidade da matéria prima, processos de fabricação, obstrução dos emissores e efeitos da temperatura da água sobre o regime de escoamento e sobre a geometria do emissor. 4 IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE Os sistemas de irrigação por superfície, também denominados irrigação por gravidade, têm como principal característica distribuir a água na área irrigada utilizando a superfície do solo para o escoamento gravitacional, de forma a permitir um escoamento contínuo, sem causar erosão. Essa condição pode ser conseguida por sistematização do terreno ou por simples uniformização da superfície. O termo “irrigação por superfície” se refere a um grande número de sistemas pelos quais a água é distribuída sobre o terreno por gravidade. A água é derivada à parcela na parte mais alta do terreno ou ao longo de um dos diques que a circunda, promovendo a irrigação ao escoar sobre a superfície. A taxa de escoamento depende, em grande parte, das diferenças quantitativas entre a vazão de entrada e a infiltração acumulada. Outros fatores que afetam o escoamento superficial estão associados à declividade da parcela e à rugosidade da superfície. Os principais elementos de um sistema de irrigação por superfície são os seguintes: (a) fonte de suprimento de água; (b) estruturas de condução; (c) parcelas de irrigação; e (d) estruturas de remoção do excesso de água. Cada elemento pode apresentar diferentes configurações, por exemplo, a fonte de suprimento de água pode incluir derivações diretas a partir de rios ou represas e derivações a partir de fontes subterrâneas. O funcionamento adequado do sistema requer que todos os elementos operem simultaneamente, no sentido de se obter a máxima produção econômica. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 16 4.1 Classificação dos sistemas A irrigação por superfície tem sido utilizada em diferentes configurações. Os critérios para classificação diferem substancialmente, mas em geral englobam os seguintes sistemas: Irrigação por sulcos – consiste da inundação parcial e temporária, por condução da água na superfície do solo. Existem diferentes tipos de sulcos, como por exemplo: retilíneos em nível, retilíneos com gradiente, em contorno, corrugações, em ziguezague, em dentes, etc. Os sulcos retilíneos apresentam melhor capacidade para o manejo da irrigação em relação aos demais sistemas de irrigação por superfície. A vazão aplicada por unidade de largura pode ser reduzida substancialmente e há maior tolerância às condições topográficas adversas. Uma menor área molhada possibilita a redução das perdas de água por evaporação em culturas com maior espaçamento. Por exemplo, em pomares, a irrigação por sulcos pode ser considerada como uma das formas de irrigação localizada, pois é possível molhar somente uma fração da superfície do terreno (20 a 40%). A maior flexibilidade operacional desse sistema permite elevar a eficiência de irrigação, por possibilitar o ajuste da vazão aplicada às variações da taxa de infiltração do solo durante um evento de irrigação e entre irrigações. Irrigação por tabuleiros de inundação – consiste da inundação total por contenção da água na superfície do solo. Aplicam-se a irrigação de áreas relativamente em nível, margeadas por pequenos diques para prevenir a perda de água. Exige sistematização mais rigorosa da área, construção de redes de canais para distribuição da água e um sistema de drenagem eficiente. A água é derivada do canal para o tabuleiro através de comportas no talude do canal. É importante que a água cubra rapidamente o tabuleiro e, exceto para a cultura do arroz, o fornecimento de água é interrompido quando o volume necessário tenha sido aplicado. Particularmente, para a cultura do arroz, em que o período de inundação é necessariamente prolongado, deve-se manter uma lâmina de água sobre a superfície do solo. Os tabuleiros podem ser retangulares ou em contorno. Geralmente, os tabuleiros em contorno são maiores que os retangulares e exigem menor movimentação de terra na sistematização do terreno, pois, neste caso, consiste apenas da uniformização da superfície do terreno. Para se obter alta uniformidade e eficiência de irrigação o principal requisito é ter um perfeita sistematização da superfície do terreno. Irrigação por faixas - Consiste da inundação total por condução da água na superfície do solo, por um tempo suficiente para aplicar a quantidade de água necessária à irrigação. As faixas podem ser construídas em nível ou com gradiente longitudinal. A declividade transversal deve ser nula. As faixas em nível não possuem drenagem livre e são semelhantes aos tabuleiros de inundação, quando há necessidade de manter uma lâmina de água sobre a superfície do solo. As faixas com gradiente, geralmente possuem um declive na direção do Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 17 escoamento entre 0,05 e 2%. O bom desempenho desse sistema depende, em grande parte, da qualidade da sistematização. 4.2 Principais vantagens e limitações São grandes as áreas irrigadas no mundo por sistemas de irrigação por superfície, o que pode ser justificado pelas relativas vantagens que estes sistemas oferecem, para determinadas condições locais. Por outro lado, também possuem algumas limitações que os tornam inaplicáveis a certas condições. As principais vantagens atribuídas aos sistemas de irrigação por superfície são apresentadas a seguir. Quando comparados a outros sistemas de irrigação, geralmente revelam os menores custos anuais. Além disso, apresentam simplicidade operacional, facilitando a assimilação das técnicas de manejo pelos irrigantes. São adaptáveis a um grande número de culturas e à maioria dos solos cultiváveis, não apresentando dependência do porte da cultura e da ocorrência de ventos. Água de baixa qualidade física, química ou biológica não impõe severas restrições à utilização desses sistemas, uma vez que, em geral, a água não entra em contato direto com as partes vegetais consumidas “in natura”. Também não possuem dispositivos muito sujeitos à obstrução física. Os sistemas de irrigação por superfície não interferem em esquemas de tratamentos fitossanitários sistemáticos, além de apresentarem suficiente capacidade para superar mais facilmente eventuais problemas operacionais, não dependendo da assistência técnica para equipamentos, exceto para o conjunto de bombeamento. Quando adequadamente dimensionados e operados, apresentam níveis satisfatórios de desempenho. A reutilização da água excedente no final das parcelas irrigadas, pode torná-los altamente eficientes. Na maioria dos sistemas, existe a possibilidade de automação total ou parcial das operações, o que facilita o bom desempenho destes sistemas. Além disso, a utilização da energia gravitacional no processo de distribuição de água reduz significativamente o consumo de energia. Entre as principais limitações desses sistemas desses sistemas destaca-se a acentuada dependência das condições topográficas, requerendo, via de regra, sistematização do terreno, sendo que esta operação é onerosa e exige cuidadosos levantamentos topográficos, equipamentos especiais e habilidade na execução. Esta dependência os torna, ainda, impróprios para solos rasos e pedregosos. Também são inadequados para solos muito permeáveis, que apresentam elevada taxa de infiltração. O dimensionamento desses sistemas requer dados obtidos em testes de campo e, uma vez dimensionados, constituirão parte integrante da área, sendo quase impossível promoverem mudanças relativamente pequenas no sistema sem afetar o seu desempenho. Os parâmetros de dimensionamento (características de infiltração, rugosidade hidráulica, forma da seção de escoamento) são muito variáveis no espaço e no tempo, havendo necessidade de constante reavaliação do sistema para assegurar um desempenho satisfatório. Outra particularidade é que a técnica de cultivo deve ser adaptada ao sistema de irrigação, ou seja, as linhas de plantio devem apresentar gradiente de declive, espaçamento, comprimento e disposição compatíveis com as exigências do sistema de irrigação. Frizzone, J. A. Capítulo 1: Os métodos de irrigação 18 Dessa forma, é difícil ajustar o sistema de irrigação por superfície a culturas já instaladas, onde as linhas de plantio estão dispostas, geralmente, em nível. Além dos inconvenientes citados, outros dois fatores têm limitado a utilização da irrigação por superfície no Brasil: são poucos os técnicos com experiência e conhecimentos técnicos suficientes para um adequado dimensionamento e limitada divulgação por não representar interesses comerciais. 3_Qualidade_Água_Irrigação.pdf Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 1 3 Irrigação – Qualidade da água para irrigação 1. INTRODUÇÃO A qualidade da água para irrigação depende não só apenas do seu conteúdo em sais, mais também do tipo de sal. A água não tem qualidade inerente, exceto no contexto para o qual é usada, pois sua adequabilidade depende do que pode ser feito com ela sob condições específicas de uso. Assim, além das características físico-químicas da água, outros fatores devem ser levados em consideração e analisados em conjunto quando de sua avaliação e recomendação de uso para irrigação. Entre esses fatores podem ser apontados: as características do solo; a tolerância das culturas a serem exploradas; as condições climáticas locais e o manejo da irrigação e drenagem. Os problemas mais comuns derivados da qualidade da água se relacionam com os seguintes efeitos: - Salinidade: à medida que aumenta a quantidade de sais na solução do solo, há também um aumento no potencial osmótico e, portanto, a planta tem que exercer um maior esforço de sucção para absorver água pelas raízes. Tudo isso se traduz, em última instância, na diminuição da quantidade de água disponível para as plantas. - Infiltração de água no solo: uma quantidade relativamente alta de sódio e baixa de cálcio significa que as partículas do solo tendem-se a desagregar, ocasionando uma redução na velocidade de infiltração de água no solo. Esta redução da infiltração pode ser de tal magnitude que implique numa menor disponibilidade de água para a planta. - Toxicidade: alguns íons, tais como sódio, cloro e boro, podem se acumular nas plantas em concentrações suficientemente altas a fim de comprometer a produtividade. - Outros efeitos: em algumas ocasiões devem-se considerar os nutrientes contidos na água por ocasião da prática de irrigação. Em outras, a presença de determinados sais na água pode desencadear a corrosão excessiva dos equipamentos de irrigação, aumentando o custo de manutenção. 2. SALINIDADE Quando existem sais na solução do solo, aumentam as forças de retenção devido a afinidade dos sais por água e, consequentemente, as plantas devem fazer um esforço suplementar para absorver água. A presença de sais na água de irrigação e as perdas de água por evapotranspiração podem provocar a salinização do solo. No primeiro caso, sempre haverá um aporte de sais no solo mediante a prática da irrigação. A quantidade de sais incorporada ao solo dependerá da qualidade da água e da freqüência da irrigação. No segundo caso, por ocasião da evapotranspiração, haverá a perda de água para atmosfera e conseqüente concentração dos sais no solo. Esse efeito acumulativo diminui a disponibilidade de água para o cultivo na medida em que se aumenta a salinidade da solução do solo. A salinidade da solução do solo é difícil de ser medida, sendo expressa normalmente pela salinidade de seu extrato de saturação. Esse extrato é obtido da seguinte forma: em uma amostra de solo adiciona-se água destilada até sua completa saturação. Em seguida, extrai-se a totalidade dessa água mediante sucção da amostra em bomba de vácuo e mede-se a condutividade elétrica dessa solução, corrigindo-a para uma temperatura de 25 oC. A concentração de sais na zona radicular varia com a profundidade. Imediatamente após uma irrigação, a maior quantidade de água facilmente disponível se encontra na camada superior da zona radicular, que é também a camada com maior densidade de raízes e com menor salinidade. A medida que ocorre a evapotranspiração, a umidade dessa camada diminui progressivamente, até que chega o momento em que a água mais facilmente disponível se desloca das camadas inferiores da zona radicular. Essas camadas inferiores são mais salinas, pois recebem os sais das camadas superiores que são arrastados pelas irrigações seguintes. Em condições de disponibilidade de água a diferentes profundidades, as plantas extraem mais facilmente a água das camadas superiores, que é menos salina. Por isso, as irrigações devem ser planejadas de forma a não esgotar a água facilmente disponível na camada superior da zona radicular. Uma vez que se mantém elevada a disponibilidade de água na zona radicular, é preciso lixiviar o excesso de sais acumulados nessa região antes que sua concentração traga limitações ao desenvolvimento Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 2 da planta. Nesse sentido, será necessária a aplicação de uma maior quantidade de água além da requerida pela evapotranspiração. Essa quantidade de água necessária para lixiviar os sais da zona radicular depende da qualidade da água aplicada e da tolerância dos diferentes cultivos à salinidade. Com águas muito salinas é preciso maiores quantidades de água para lixiviação, o que aumenta os riscos de aumentar o nível do lençol freático em áreas em que este tem pouca profundidade. Os sais acumulados no lençol freático ascendem por capilaridade até a zona radicular aumentando sua salinidade. Nestes casos é imprescindível a instalação de um adequado sistema de drenagem para controlar o nível do lençol freático e, consequentemente, a salinidade da zona radicular. 2.1 Avaliação da salinidade Os dados a considerar numa análise de água são a composição e a concentração de sais dissolvidos. Quanto a composição dos sais dissolvidos, os íons mais importantes contidos na água de irrigação são os seguintes: - cátions: cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), sódio (Na+), potássio (K+). - ânions: cloreto (Cl-), sulfato (SO4 2-), bicarbonato (HCO3 -), carbonato (CO3 2-) O conteúdo de cada íon é medido em miligramas (mg) ou em miliequivalentes por litro (meq L-1). O miliequivalente é igual ao peso atômico, molecular ou iônico dividido pela valência do íon. A tabela 1 expressa a equivalência entre miliequivalente e miligrama de diversos íons. Tabela 1. Equivalência entre miliequivalente (meq) e miligrama (mg) de diversos íons. Íons mg contido em um meq meq contido em um mg cálcio (Ca2+) 20 0,0500 magnésio (Mg2+) 12,2 0,0819 sódio (Na+) 23 0,0434 potássio (K+) 39,1 0,0256 cloreto (Cl-) 35,5 0,0282 sulfato (SO4 2-) 48 0,0208 bicarbonato (HCO3 -) 61 0,0164 carbonato (CO3 2-) 30 0,0333 Quanto a concentração de sais, o conjunto de sais dissolvidos recebe o nome de extrato seco. Para a medida desses sais se empregam dois procedimentos: - medição do conteúdo de sais: se evapora em estufa uma amostra de água e pesa o resíduo sólido. O resultado é expresso em g L-1 ou em mg L-1 (ppm). - medição da condutividade elétrica: a condutividade elétrica de uma solução é proporcional ao conteúdo de sais dissolvidos na solução. Os sais que interessam na água de irrigação são muito solúveis e ionizáveis. Portanto, pode-se conhecer indiretamente o conteúdo salino de uma solução medindo a quantidade de corrente elétrica que passa através dessa solução. A condutividade elétrica varia com a temperatura de modo que para normalizar as medidas convencionou-se expressá-las à temperatura de 25oC. Os fatores de correção são obtidos por meio de tabela. Nos condutivímetros comerciais, essa normalização é feita automaticamente. A condutividade elétrica é expressa em mho/cm à temperatura de 25oC. Como na água os valores de condutividade elétrica são muito pequenos, se utilizam os submúltiplos de mho: milimho = mmho = milésima parte do mho micromho = milionésima parte do mho Atualmente a condutividade elétrica tem sido expressa em deciSiemens/m (dS/m) e em microSiemens/cm (microS/cm). dS/m = mmho/cm; microS/cm = micromho/cm A condutividade elétrica da água de irrigação (CEa), conforme Rhoades et al. (1992), apresenta as seguintes relações com outros parâmetros de salinidade: TSD = 640.CEa (0,1 < CEa ≤ 5 dS m-1) (1) Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 3 sendo: TSD = totais de sólidos dissolvidos, mg L-1; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. TSD = 800.CEa (CEa > 5 dS m-1) (2) sendo: TSD = totais de sólidos dissolvidos, mg L-1; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. SC ou SA = 10.CEa (0,1 < CEa ≤ 5 dS m-1) (3) sendo: SC = soma de cátions, mmolc L-1; SA = soma de ânions, mmolc L-1; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. SSTlog = 0,990 + 1,055.logCEa (4) sendo: SSTlog = logaritmo de sólidos solúveis totais, mmolc L -1; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. FI = 0,0127.CEa (5) sendo: FI = força iônica, mol L-1; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. ψos = 0,004.CEa (3 < CEa < 30 dS m -1) (6) sendo: ψos = potencial osmótico, kPa; CEa = condutividade elétrica da água, dS m-1. A classificação da água de irrigação quanto ao risco de salinidade, proposta pela FAO e recomendada pelo Comitê de Consultores da Universidade da Califórnia (UCCC) é apresentada na Tabela 2. Tabela 2. Classificação da água de irrigação quanto ao risco de salinidade. Unidade Grau de restrição ao uso Nenhum Ligeiro a moderado Severo dS m-1 < 0,7 0,7 - 3 > 3 mg L-1 < 450 450 - 2000 > 2000 De acordo com a Tabela 2, não apresentam problemas as águas correspondentes a valores sem nenhuma restrição. No caso de restrição ligeira a moderada, é necessário um cuidado maior com relação ao manejo da água e dos cultivos, no intuito de não comprometer o rendimento. No caso de restrição severa, podem aparecer problemas graves se não é feito um manejo muito eficiente. 2.2 Tratamento dos problemas de salinidade Os tratamentos para solucionar os problemas de salinidade causados a longo prazo pela água de irrigação são: lixiviação, drenagem e mudança de cultivo por outra mais tolerante à salinidade. A lixiviação deveria ser feita sempre, salvo em caso de precipitações abundantes durante alguma época do ano. A drenagem se pratica quando existem problemas de ascensão do lençol freático. A mudança de cultivo por outro mais tolerante se faz quando as práticas anteriores não são suficientes. Para solucionar os problemas de salinidade a curto prazo se utilizam certas práticas, tais como: programação da irrigação para evitar a formação de crosta superficial, localização das sementes em zonas de menor concentração salina e fertilização adequada. Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 4 2.2.1 Lixiviação Para evitar o acúmulo de sais na zona radicular até limites que possam comprometer o rendimento dos cultivos, é necessário que a quantidade de sais deslocada pela lixiviação seja, ao menos, igual a fornecida com a água de irrigação. O requerimento de lixiviação ou fração de lixiviação é a fração da água de irrigação que deve atravessar a zona radicular para lixiviar os sais que se acumulam nesta zona. Assim, por exemplo, um requerimento de lixiviação de 0,15 significa que 85% da água de irrigação correspondem ao suprimento da evapotranspiração e 15% à lixiviação. O requerimento de lixiviação depende da salinidade da água de irrigação e da tolerância dos cultivos à condutividade elétrica do extrato saturado do solo. Este requerimento pode ser calculado pelas seguintes equações: - em irrigação por gravidade e aspersão de baixa freqüência: CEa RL 100 5CEe CEa = − (7) sendo: RL = requerimento de lixiviação, %; CEa = condutividade elétrica da água de irrigação, dS m-1; CEe = condutividade elétrica do extrato saturado do solo, definida em função da redução do rendimento do cultivo desejada, dS m-1. - em irrigação por gotejamento e aspersão de alta freqüência: CEa RL 100 2maxCEe = (8) sendo: maxCEe = condutividade elétrica do extrato saturado do solo, para a qual a redução do rendimento do cultivo é de 100%, dS m-1. Deve-se levar em consideração a eficiência do processo que pode variar desde 100% em solos arenosos, até 30% em solos argilosos expansivos. Sendo assim: real L RL RL E = (9) sendo: EL= eficiência de lixiviação, adimensional. Exemplo: Calcular o requerimento de lixiviação real de um cultivo de algodão para que não haja redução do rendimento. O solo é argiloso com uma eficiência de lixiviação de 35%. A condutividade elétrica da água de irrigação é de 1,5 dS/m e a condutividade elétrica do extrato saturado do solo para que não haja redução no rendimento é de 7,7 dS/m. Considere a irrigação por aspersão de baixa freqüência. Solução: CEa 1,5 RL 100 x 100 4% 5CEe CEa 5 x 7,7 1,5 = = = − − real L RL 4 RL 11,4% E 0,35 = = = A tolerância à salinidade varia de acordo com a espécie vegetal. As mais tolerantes têm maior capacidade de adaptação osmótica, o que lhes permitem absorver maior quantidade de água em condições de elevada salinidade. A Tabela 3 mostra o grau de tolerância dos cultivos (expresso em percentual de redução do rendimento) em função da condutividade elétrica do extrato saturado do solo. Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 5 Tabela 3. Tolerância à salinidade das culturas selecionadas e seu rendimento potencial em função da salinidade do solo ou da água1 Culturas Rendimento potencial2 100% 90% 75% 50% 0%3 CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa Extensivas Cevada (Hordeum vulgare)4 8,0 5,3 10,0 6,7 13,0 8,7 18,0 12,0 28,0 19,0 Algodoeiro (Gossypium hirsutum) 7,7 5,1 9,6 6,4 13,0 8,4 17,0 12,0 27,0 18,0 Beterraba açucareira (Beta vulgaris)5 7,0 4,7 8,7 5,8 11,0 7,5 15,0 10,0 24,0 16,0 Sorgo (Sorghum bicolor) 6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13,0 8,7 Trigo (Triticum aestivum)4,6 6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,3 13,0 8,7 20,0 13,0 Trigo duro (Triticum turgidum) 5,7 3,8 7,6 5,0 10,0 6,9 15,0 10,0 24,0 16,0 Soja (Glycine Max) 5,0 3,3 5,5 3,7 6,3 4,2 7,5 5,0 10,0 6,7 Caupi (Vigna unguiculata) 4,9 3,3 5,7 3,8 7,0 4,7 9,1 6,0 13,0 8,8 Arroz (Oryza sativa) 3,3 2,2 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11,0 7,4 Amendoim (Arachis hypogaea) 3,2 2,1 3,5 2,4 4,1 2,7 4,9 3,3 6,6 4,4 Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) 1,7 1,1 3,4 2,3 5,9 4,0 10,0 6,8 19,0 12,0 Milho (Zea mays) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,2 Linho (Linum usitatissimum) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7 Feijão-fava (Vicia faba) 1,5 1,1 2,6 1,8 4,2 2,0 6,8 4,5 12,0 8,0 Feijão (Phaseolus vulgaris) 1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2 Hortaliças Abobrinha Italiana (Curcubita pepo) 4,7 3,1 5,8 3,8 7,4 4,9 10,0 6,7 15,0 10,0 Beterraba (Beta vulgaris)5 4,0 2,7 5,1 3,4 6,8 4,5 9,6 6,4 15,0 10,0 Abobrinha (Curcubita pepo melopepo) 3,2 2,1 3,8 2,6 4,8 3,2 6,3 4,2 9,4 6,3 Brócolis (Brassica oleracea botrytis) 2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8,2 5,5 14,0 9,1 Tomateiro (Lycopersicum esculentum) 2,5 1,7 3,5 2,3 5,0 3,4 7,6 5,0 13,0 8,4 Pepino (Cucumis sativus) 2,5 1,7 3,3 2,2 4,4 2,9 6,3 4,2 10,0 6,8 Espinafre (Spinacia oleracea) 2,0 1,3 3,3 2,2 5,3 3,5 8,6 5,7 15,0 10,0 Aipo (Apium graveolens) 1,8 1,2 3,4 2,3 5,8 3,9 9,9 6,6 18,0 12,0 Repolho (Brassica oleracea botrytis) 1,8 1,2 2,8 1,9 4,4 2,9 7,0 4,6 12,0 8,1 Batata (Solanum tuberosum) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7 Milho doce (Zea mays) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7 Batata-doce (Ipomoea batatas) 1,5 1,0 2,4 1,6 3,8 2,5 6,0 4,0 11,0 7,1 Pimentão (capsicum annuum) 1,5 1,0 2,2 1,5 3,3 2,2 5,1 3,4 8,6 5,8 Alface (Lactuca sativa) 1,3 0,9 2,1 1,4 3,2 2,1 5,1 3,4 9,0 6,0 Rabanete (raphanus sativus) 1,2 0,8 2,0 1,3 3,1 2,1 5,0 3,4 8,9 5,9 Cebola (Allium cepa) 1,2 0,8 1,8 1,2 2,8 1,8 4,3 2,9 7,4 5,0 Cenoura (Daucus carota) 1,0 0,7 1,7 1,1 2,8 1,9 4,6 3,0 8,1 5,4 Feijão-de-vagem (Phaseolus vulgaris) 1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2 Nabo (Brassica rapa) 0,9 0,6 2,0 1,3 3,7 2,5 6,5 4,3 12,0 8,0 Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 6 Tabela 3. Continuação. Culturas Rendimento potencial2 100% 90% 75% 50% 0%3 CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa Forrageiras Agropiro alto (Agropyron elongatum) 7,5 5,0 9,9 6,6 13,0 9,0 19,0 13,0 31,0 21,0 Agropiro crestado (Agropyron cristatum) 7,5 5,0 9,0 6,0 11,0 7,4 15,0 9,8 22,0 15,0 Capim-bermuda (Cynodon dactylon)7 6,9 4,6 8,5 5,6 11,0 7,2 15,0 9,8 23,0 15,0 Cevada forrageira (Hordeum vulgare)7 6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,4 13,0 8,7 20,0 13,0 Azevém (Lolium perenne) 5,6 3,7 6,9 4,6 8,9 5,9 12,0 8,1 19,0 13,0 Cornichão da folha estreita (Lótus corniculatus tenuifolium)8 5,0 3,3 6,0 4,0 7,5 5,0 10,0 6,7 15,0 10,0 Capim-doce (Phalaris tuberosa) 4,6 3,1 5,9 3,9 7,9 5,3 11,0 7,4 18,0 12,0 Festuca alta (Festuca elatior) 3,9 2,6 5,5 3,6 7,8 5,2 12,0 7,8 20,0 13,0 Agropiro (Agropyron sibiricum) 3,5 2,9 6,0 4,0 9,8 6,5 16,0 11,0 28,0 19,0 Ervilhaca (Vicia angustifólia) 3,0 2,0 3,9 2,6 5,3 3,5 7,6 5,0 12,0 8,1 Capim-sudão (Sorghum sudanense) 2,8 1,9 5,1 3,4 8,6 5,7 14,0 9,6 26,0 17,0 Elimo (Elymus triticoides) 2,7 1,8 4,4 2,9 6,9 4,6 11,0 7,4 19,0 13,0 Caupi (Vigna unguiculata) 2,5 1,7 3,4 2,3 4,8 3,2 7,1 4,8 12,0 7,8 Cornichão dos pântanos (Lotus uliginosus) 2,3 1,5 2,8 1,9 3,6 2,4 4,9 3,3 7,6 5,0 Sesbânia (Sesbania exaltata) 2,3 1,5 3,7 2,5 5,9 3,9 9,4 6,3 17,0 11,0 Esfirofisa (Sphaerophysa salsula) 2,2 1,5 3,6 2,4 5,8 3,8 9,3 6,2 16,0 11,0 Alfafa (Medicago sativa) 2,0 1,3 3,4 2,2 5,4 3,6 8,8 5,9 16,0 10,0 Capim-mimoso (Eragrostis sp.)9 2,0 1,3 3,2 2,1 5,0 3,3 8,0 5,3 14,0 9,3 Milho forrageiro (Zea mays) 1,8 1,2 3,2 2,1 5,2 3,5 8,6 5,7 15,0 10,0 Trevo-de-alexandria (Trifolium alexandricum) 1,5 1,0 3,2 2,2 5,9 3,9 10,0 6,8 19,0 13,0 Capim-dos-pomares (Dactylis glomerata) 1,5 1,0 3,1 2,1 5,5 3,7 9,6 6,4 18,0 12,0 “Medium foxtail” (Alopecurus pratensis) 1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12,0 7,9 Trevo-vermelho (Trifolium pratense) 1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6 Trevo-híbrido (Trifolium hybridum) 1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6 Trevo-branco (Trifolium repens) 1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6 Trevo-moranguinho (Trifolium fragiferum) 1,5 1,0 2,3 1,6 3,6 2,4 5,7 3,8 9,8 6,6 Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 7 Tabela 3. Continuação. Culturas Rendimento potencial2 100% 90% 75% 50% 0%3 CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa Fruteiras 10 Tamareira (Phoenix dactylifera) 4,0 2,7 6,8 4,5 11,0 7,3 18,0 12,0 32,0 21,0 Pomelo, Grape-fruit (Citrus paradisi)11 1,8 1,2 2,4 1,6 3,4 2,2 4,9 3,3 8,0 5,4 Laranjeira (Citrus sinensis) 1,7 1,1 2,4 1,6 3,3 2,2 4,8 3,2 8,0 5,3 Pessegueiro (Prunus pérsica) 1,7 1,1 2,2 1,5 2,9 1,9 4,1 2,7 6,5 4,3 Damasqueiro (Prunus armeniaca)11 1,6 1,1 2,0 1,3 2,6 1,8 3,7 2,5 5,8 3,8 Videira (Vitis sp.)11 1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12,0 7,9 Amendoeira (Prunus dulcis)11 1,5 1,0 2,0 1,4 2,8 1,9 4,1 2,8 6,8 4,5 Ameixeira (Prunus domestica)11 1,5 1,0 2,1 1,4 2,9 1,9 4,3 2,9 7,1 4,7 Amoreira-preta (Rubus sp.) 1,5 1,0 2,0 1,3 2,6 1,8 3,8 2,5 6,0 4,0 Amoreira (Rubus ursinus) 1,5 1,0 2,0 1,3 2,6 1,8 3,8 2,5 6,0 4,0 Morangueiro (Fragaria sp.) 1,0 0,7 1,3 0,9 1,8 1,2 2,5 1,7 4,0 2,7 1 Fonte: Maas & Hoffman (1977) e Maas (1984). Os valores devem ser considerados apenas como de tolerância relativa entre os grupos de culturas. Os valores de tolerância absoluta variam com o clima, condições de solo e práticas culturais. Nos solos com alto teor de gesso, as plantas podem tolerar aproximadamente 2 dS/m de salinidade do solo (CEes) acima dos valores de tolerância indicados. No entanto, a salinidade da água permanece igual como mostrado nessa tabela. 2 CEes, significa salinidade da zona radicular medida em condutividade elétrica no extrato de saturação do solo, expressa em deciSiemens por metro (dS/m) a 25ºC. CEa significa condutividade elétrica da água de irrigação em dS/m. A relação entre salinidade do solo e da água (CEes = 1,5 CEa) supõe fração de lixiviação equivalente a 15 – 20% e um modelo de uso de água 40-30-20-10 (padrão de extração normal). Estas suposições foram usadas para desenvolver as diretrizes da Tabela 1. 3 O rendimento potencial zero implica a salinidade máxima teórica (CEes), com a qual cessa o crescimento e desenvolvimento da planta. 4 Cevada e trigo são menos tolerantes durante a germinação e o estágio de plântula; CEes não deve ultrapassar 4 – 5 dS/m na camada arável do solo durante esse período. 5 Beterraba é mais sensível durante a germinação. CEes não deve ultrapassar 3 dS/m nesta fase para as beterrabas ornamentais e açucareiras. 6 As cultivares desenvolvidas comercialmente e que são mais precoces, podem ser menos tolerantes. 7 Tolerância reportada é a média de várias variedades de capim-bermuda. As cultivares “Suwannee” e “Coastal” são cerca de 20% mais tolerantes enquanto que as cultivares “Comum” e “Greenfield” são 20% menos tolerantes. 8 O trevo de folha larga parece menos tolerante em comparação ao de folha estreita. 9 Tolerância reportada é uma média para “Bôer”, “Wilman”, “Sand” e “ Weeping”. A “Lehman” parece ser 50% mais tolerante. 10 Esses dados são aplicáveis quando os porta-enxertos usados não acumulam Na+ ou Cl- rapidamente ou quando esses íons não predominam no solo. 11 A avaliação da tolerância é baseada no crescimento da árvore e não sobre os seus rendimentos. Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 8 Em cultivos sensíveis irrigados com água salina é necessária uma grande quantidade de água para satisfazer o requerimento de lixiviação. Nessas condições, é possível que esse requerimento ultrapasse o valor de 30%, sendo mais conveniente selecionar outro cultivo mais tolerante. A água proveniente da precipitação é muito eficaz no processo de lixiviação de sais do solo, pois apresenta condutividade elétrica muito baixa, além de ser distribuída uniformemente sobre a área. Seu efeito depende da quantidade, intensidade e momento em que ocorre. È preferível programar a lixiviação durante os períodos de menor consumo de água dos cultivos, e se isso não for possível, realizá-la após o ciclo de produção. 2.2.2 Drenagem Quando o nível do lençol freático está a uma profundidade inferior a 2 metros, a água do lençol ascende por capilaridade a medida que a água do solo se perde por evapotranspiração. Se essa água contém sais, estes irão se acumular na zona radicular com maior ou menor rapidez, em função da concentração de sais na água, da profundidade do lençol freático e do manejo da irrigação. Neste caso, para controlar a salinidade é necessário, além da lixiviação, um sistema de drenagem eficiente que estabilize o nível freático a uma profundidade adequada. A salinidade da água de drenagem se calcula mediante a seguinte expressão: CEa CEad RL = (10) sendo: CEad = condutividade elétrica da água de drenagem, dS m-1. Exemplo: Determinar a salinidade da água de drenagem sabendo que a água de irrigação tem uma condutividade elétrica de 1,1 dS/m e que o requerimento de lixiviação é de 15%. Solução: CEa 1,1 CEad 7,3 dS/m RL 0,15 = = = 2.2.3 Tratamentos a curto prazo Para controlar os efeitos da salinidade a curto prazo existem certas práticas de manejo que permitem obter um efeito positivo na germinação e desenvolvimento inicial das plantas, o que repercute no rendimento do cultivo. A medida que a água do solo se evapora, os sais da zona radicular são arrastados por capilaridade até os primeiros centímetros mais superficiais do solo, onde se acumulam. Esse acúmulo afeta negativamente a germinação e o desenvolvimento inicial de plantas tenras. As chuvas arrastam esses sais para camadas abaixo da zona radicular, evitando os problemas de germinação. Em irrigação por sulcos, a água não ocupa toda a superfície do solo. Uma parte dessa água se desloca por capilaridade até o centro do camalhão, não molhado inicialmente, arrastando consigo os sais que se acumulam nessa região (Figura 1). Se a semeadura for feita em fileira única no centro do camalhão, as sementes estarão exatamente na região de maior salinidade, o que comprometerá a germinação, principalmente se a espécie vegetal for sensível à salinidade ou a irrigação for feita com água cuja condutividade elétrica excede 1 dS/m. Recomenda-se, nessas situações, a semeadura em fileiras duplas orientado-as conforme ilustração da Figura 1. (a) (b) Figura 1. Semeadura em fileira dupla quando há salinidade excessiva. Em camalhões largos (a); em camalhões estreitos (b). A área pontilhada representa a região de maior acúmulo de sais. Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio – Engenharia de Água na Agricultura - UNIVASF 9 Em irrigação por inundação ou por aspersão, a água se distribui uniformemente por toda a superfície do solo, arrastando os sais para as camadas inferiores à zona radicular. A quantidade de sais acumulada nessa zona depende da fração de lixiviação. Em cultivos hortícolas irrigados por sulcos é uma prática corrente a irrigação por aspersão no início do cultivo, com o intuito de reduzir a salinidade na camada superficial do solo, permitindo o bom desenvolvimento inicial da planta. Na irrigação por gotejamento, os sais se concentram na periferia do bulbo úmido formado pelos emissores, mais especificamente, na zona superficial dessa periferia (Figura 2). O controle da salinidade a curto prazo se faz mediante a alta freqüência de aplicação de água, que arrasta os sais até a periferia do bulbo. Sendo assim, no sistema de gotejamento é possível irrigar com águas mais salinas do que em outros sistemas de irrigação. Figura 2. Distribuição dos sais no bulbo úmido. A região pontilhada indica a magnitude da concentração salina. Nos cultivos anuais irrigados por gotejamento, a concentração dos sais em determinadas áreas do solo pode afetar a semeadura seguinte, se antes não houver a lixiviação dos sais. Quando o regime anual de chuvas não permite fazer uma lixiviação natural dos sais, deve-se realizar uma irrigação complementar, por aspersão ou inundação, fora da época de cultivo. Os sais vão se acumulando progressivamente na periferia
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