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Organizador: Florestan Fernandes HISTÕRIA Ili. O CURSO HISTÓRICO DAS CIVILIZAÇÕES 1. F. Engels: Barbárie e civilização (A origem da familia, da propriedade privada e do Estado).• 319 2. K. Marx: A evolução da propriedade (Fundamentos da critica da Economia Política). 337 3. K. Marx e F. Engels: Burgueses e proletários (Manifesto do Partido Comunista), 365 4. K. Marx: Reprodução simples e lei geral da acumulação capitalista [O capital), 376 5. K. Marx: Produção progressiva de um excesso relativo -de população ou exército industrial de reserva (O capita/), 394 IV. NATUREZA E SIGNIFICADO DO MATERIALISMO HISTÓRICO 1. F. Engels: O materiali,smo moderno (Do socialismo utópico ao socialismo cientifico), 406 2. K. Marx: O método da economia política (Contribuiçlío i1 cfítica da Economia Políticn), 409 3. K. Marx: Auto-avaliação: porte e significado de O capital (prefácio à 1." edição e posfácio ii 2." edição de O capital), 418 4. K. Marx e F. Engels: Reflexões sobre a explicação materialista da história, 431 K. Marx: Crítica a Proudhon (carta a P. V. Annenkowl. 431 K. Marx: O ·que é novo no materialismo histórico (Carta a J. Weydemeyer), 441 K. Marx: Sobre a lei do valor (carta a L. Kugelmann). 443 K. Marx. Tecnologia e revoluçüo industrial {carta a F. En1Jels), 445 K. Marx: A comparação na investigação histórica (carta il Redação da Otetschestwennyje Sapiski), 44 7 K. Marx: A questão irlandesa (carta a S. Meyer e A. Vogt). 450 F. Ençiels: · A concepção materialista da história (cartas a C. Schmidt), 455 F. Engels: Derivação, ação recíproca e causação em uma perspectiva dialética (carta a F. Mehring}, 464 F. Engels: Necessidade e acidente na história (carta a H. Starkenburg). 468 F. Engels: Um punhado de çiente pode fazer a revolução? (carta a V. 1. Zassulitch), 471 5. F. Engels: Ciência e ideologia na história: a situação do historiador marxista (L. F,euerbach e o fim da Filosofia clássica alemã). 475 INTRODUCAO ,. Florestan Fernandes Professor de Sociologia da: Universidade de São Paulo ( 1945-69) Columbia University ( 1965-66) Universidade de Toronto ( 1969-72) Yale University ( !977) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Introdução "Em toda a ciéncia o di/icii é o começo Karl Marx Uma antologia constitui um instrumento de trabalho do leitor. Ten tei, nos limites da minha experiência e do meu conhecimento, dcsincum bir-me da tarefa de organizador desta antologia tendo cm vista esse fim. Imprimi à seJeçáo dos textos e à elaboraçiío dos comentários pertinentes um caráter didútico, com o fito de colaborar com o leitor na aventura que ele est,i iniciando. O propósito que me anima, do começo ao fim, consiste em recapturar, tanto quanto isso é possível em uma obra desta natureza, as idéias centrais de K, Marx e F. Engels sobre a ciéncia da história. Só depois disso é que tentei ressaltar, quando me pareceu neces sário, o significado de suas posições e de suas contribuições para o ( ou no) desenvolvimento posterior das ciências sociais. Como escreve um dos mais notáveis historiadores marxistas: "O marxismo, que é ao mesmo tempo um método, um corpo de pensa mento teórico e um conjunto de textos considerados por seus seguidores como uma fonte de autoridade, sempre sofreu com a tendência dos marxistas de' começar por decidir o que pensam que Marx deveria ter dito e depois procurar a confirmação nos textos, dos pontos de vista escolhidos" 1. Evitei cuidadosamente esta tendência, que, aliás, seria contraditória e contraproducente na preparação de uma antologia. A universidade e a especialização criaram um processo profundo e persistente de fragmentaçi.io do trabalho de investigação em todas as 1 HODSBAWM, E. J. Revolucionários. P, 155. Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Marina Garcia Realce 1 0 ciéncias. Esse processo, porém, é mais intenso e devastador nas ciências sociais. O sociólogo, o h istoriador, o antropólogo, o c ientista político, o psicólogo, mesmo quando marxistas, sucumbem a essa tendência, r afir mando-se primeiramente em nome de sua especialidade. Marx e Engels trabalharam numa direção oposta , defendendo uma concepção unitária de ciência e representando a história como uma ciência de síntese. Se lidei com textos de K. Marx e F. Engels desde o início da minha carreira 2, nem por isso escapei à especiâlização dominante. É como sociólogo, portanto, que me lanço a esta tarefa . Provavelmente um historiador poderia dar conta do recado com maior elasticidade e pre cisão. Mesmo a um h istoriador escrupuloso, não é fácil ser comple tamente justo com dois autores como eles . Um dizia , a propósito de "marxistas" franceses da década de 1 870 : " tudo o que sei é que eu nüo sou um marxista" :i . � O outro atribuía ao companheiro toda a origina lidade e papel criativo. Não me posso pôr à sua altura, mas tenho consciência de que me esforcei para sair da pele do especialista e do adepto do m arxismo, para entender melhor a sua concepçào de ciência e da ciência da história . De qualquer modo, em nenhum momento senti-me em contradiçüo com as idéias que cheguei a defender no campo da sociologia ou com as esperanças de todos os socialistas, de que as relações entre ciência e sociedade serão profundamente al teradas no futuro. Além dessas duas considerações prévias, ju lgo que devo fazer uma pequena história desta antologia . O Dr. José Arthur Giannotti é quem deveria organizá-la. Infelizmente, as c i rcunst:lncias não lhe permitiram, depois de vários anos, que se encarregasse dessa obra e o substituto que ele escolheu niio se animou a realizá- la . I nicialmente, o projeto se refe ria somente a K. Marx. Ao ter de encarregar-me da antologia, ampliei o projeto e incorporei F. Engels ao mesmo . Daí resultou um volume duplo, contra as normas da coleção "Grandes Cientistas Sociais" . Há :! Em 1 946, saía a tradução que fiz da Contribuição à crítica da Economia Po lítica, editada com extensa introdução de minha autoria; em 1954, em um curso sobre ·'Os Problemas da Indução na Sociologia", dado nesse ano a professores de sociologia de escolas normais, dediquei especial atenção a K. Marx (publ icado nessa data, o ensaio foi incluído em Fundamentos empíricos da explicação socio lógica na Sociologia ) . Nos cursos ou nos livros que tratam de teoria sociológica, as contribuições de K. Marx sempre foram consideradas em termos de sua impor tância na história da matéria; por fim, em A natureza sociológica da Sociologia, o significado de K. Marx entre os clássicos é parte da temática do capítulo 1 ; o capítu lo 5 é devotado à "Sociologia e ma rxismo" e o capítulo 6 focaliza as questões da transição para o comunismo. Nos cursos, a presença de K. Marx dependia da natureza do assunto. Na pós-graduação da ):'UC-SP, em 1980 e 1 9 8 1 , dei quatro cursos semestrais sobre o movimento operário em São Paulo, e aí tive oportunidade de empreender um melhor aproveitamento da contribuição teórica de K. Marx. 3 MARX, K. e ENGELS, F. Sefecred corre.1po11de11ce, p. 4 1 5 ( ' ·marxistas" como no original ) . 1 1 a considerar, também, que a mesma coleção já contém duas obras sobre K. Marx e uma sobre F. Engels ·1 • Fiz o possível para evitar a repetição de textos. Mas falhei redond amente no que diz respeito .l coletànea organ izada pelo Dr. Octavio lanni . O mais grave é que as repetições atingem diversos textos, âos quais não podia prescindir sem preJuízo da informação e d·a formação do leitor. O professor Ianni concor�do� generosamente com o meu alvitre, que, felizmente, não afeta a substancia do seu livro (pois, aqui, os textos s iío encarados ü luz da formação, desenvol\i mentó e significação do materialismo histórico) . Além disso, eu própno decidi-me a adotar certa liberdade nos comentários, do que decorre algu mas superposições ou repetições, que um critério �ais estrito evitaria. No entanto, achei preferível introduzir nos comentárws as conclusoes r:neto dológicas que e les suger�m.O leitor con tará, assim, c?m a oporturnda9e de um amadurecimento gradativo. Ele poderá, a part1r dos textos e nao das minhas idéias ( ou das de outro autor ) , local izar-se d ian te do mate rial ismo histórico, como ele brotou da produçào científica de K. Marx e F. Engels . Ao chegar il ú l tima parte, propriamente m�tod�lógica, estará em condições de en tender melhor o significado e as 1mphcações da concepção materialista e dialética da história , bem c?mo de avali�; c�m maior rigor sua importância na formação e desenvolvimento das ctencias sociais. A presehte coletünea visa proporcionar aos le itores, cm particular aos estudantes, um painel das preocupações e das realizações de K . Marx e de F. Engels no campo da história . J\!e_nhum deles desfrut°.u ( ou ostentou ) a condição de historiador. Não obstante, a onentaçao que ·in'fündiram :\ crítica da e�peculação filosófica, da dialética hegel iana, ,da economia política e do socialismo utópico os converteu em fu,nda.-: dores das ciências sociais ( ou, como eles prefeririam dizer, da Ciência dá história) . Ambos comparti lham uma situação incontestável como Criadores do conhecimento científico nessa esfera do pensamento e �ou be-l_hes encarnar, na história das ciências . sociais, os in teress_es e asã._spirações revolucionárias das cl asses trabalhadoras . A conex,\O entre Ciência social e rcvol.uçi'ío_, no scculo XlX, não só encontra neles os répresentan tes mais completos, íntegros e corajosos. Eles a leva:aID: i�s últimas conseq üências, resolvendo a equação do que deve ser a 111vest1- gaÇão científica quando esta rompe com os controles conse:vadores externos ou internos ao pensamento científico ptópriamente dito. Por isso, eles legaram às ciências sociais um modelo de exp}icaçãq estrit a mente objetivo e in trinsecamente revol ucionário ( revolucionário no 4 JANNI, O., ·org. Mar.,· (Sociol ogia ) ; NErro; L Paulo, org .., Engels ( Política) : SrNGER, P . , org. Marx (Economia) . 1 ' Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce \,J , duplo sentido : das consequencrns da c iência Independente e da imersão na transformação proletária da sociedade burguesa ) . É espan toso que eles fossem tiio longe, excluídos do àmbito acadêmico e da "ciência ofi cial " ; e tendo pela frente a mais impiedosa perseguiçào polici al e política. Nüo é preci so q ue se recorde, K. M arx e F. Engels nunca se pro puseram a profissionalização institucionalizada ( o primeiro quase foi envolvido por uma quimera dessas, que logo se evaporou ) . Tendo de dedicar-se à h istó ria, à economia e à sociologia, faziam-no a partir dos vínculos com o movimento operário e como campeões da "ótica comu nista" da revol uçüo social . Viveram os seus papéis como fundadores de um modo muito difíc i l , al truísta e arriscado - contando natura lmente com pouco tempo e estímulo para se dedicarem ti ref lexiio sobre o mé todo e o objeto daque las ci ências socia is . O que escreveram, a respeito, fizeram-no movidos pel a necessidade teórica extrema ( sob forma pol ê mica ; com o intento de dar fund amento lógico a sua concepçiio da história ; ou, ainda, para satisfazer a curiosidade de certos companheiros) . Como o resto de su a obra, são _escritos que nascem do combate coti diano e nào sào "ocasionais" "'-·o ll "miuginais", como mu itos pretendem. Dê · ·qualquer modo, é su rpreendente o volume e a qual idade de tais escritos: im postos pe l a necess idade de auto- realizaçilo e de com unica c.;ão. Os que pensam u con trúr io n u nca se deram ao traba l ho de aval i a r quantos sociólogos, h is tori adores, econ omistas, etc. , protegi dos pelos muros da un iversidade e da carreira profiss ional , escreveram algo que valha a pena nesse terreno. Mesmo entre os "clássicos", mui tas figuras importantes nüo deixaram nada que ficasse à altura de seu prestígio ou d os papéís q ue desempenharam . Ambos pensavam que a história era a verdadeira ciéncia ou a ciência magna en tre as ciênciás sociais . Se tivessem de contrapor a lguma 'Ciência à física newtoniana, e la nüo seria a economia política ( uma emanação ideológica dos in teresses da burguesia ) , mas a história. De outro l ado, o cerne mesmo de sua concepção ele revolução e d a conexão da ciência com o processo revo l ucionário induziu-os a ver nas relaçõ-es ' soci ais de prod uçào ( ou seja , na economia ) o núcleo principal da inves . tigaçào empírica e da elaboraçüo teórica. A burguesia fizera da econo- , mia política a sua trincheira ideológica e os "economistas se tornaram 1 os porta-vozes da defesa " racional'' do status quo . As c l asses traba lhadoras deveriam começar por aí, pois sem uma teoria própria da acumulaçào capitalista n üo poderiam articu l a r uma visito independente de suas tarefas pol íticas na l uta de c lasses. Nesse vasto esquema inter pretativo, a sociologia era um ponto de vista inserido na concepção materialista e dialética da história ( o equivalente do que muitos consi deram uma ciência aux i l iar e outros um método ) , Contudo, esse ponto de vista possuía extrema importância, na medida em que as rel ações de produçiio er a_1�1 _v i_s t1,1 s como relaç{5es . . 1·oci_qis e histáricas. - ·Én9u'11liõ 1 3 a economia política dissociava a economia d e seu contexto social e político, Marx e Engels insisti am no caráter c?�creto do� �at�s bási�os da prodiição e reprodu_çüo das formas matenais de ex1stcnc1a social . ConCebia.Iri', portanto, o modo de produção capital ista como uma : categoria_ histórica. Oponham-se, assim, tant __ o à reduçào abstrata das 1 ·relações econômicas a um tipo ideal, quanto a pulverização dos eventos e processos históricos entre várias "ciências históricas especiais" . Mesmo depois de recusarem validade à incursão dos filósofos nas áreas da ciência ( da natureza e da h istória) e de terem restringido seu campo à lógica e à crítica dos princípios da explicação cie�tífica, nunca ab_a?donaram o recurso ú filosofia . Além disso, nunca Julgaram necessano que a "partilha do objeto" se transferisse da ciência da natureza para a ciência do homem : economia, sociedade, superestruturas políticas e ideológicas, ainda que -decompostas em fatores determinantes ou em efeitos essenciais, deviam ser comp_reendidas em sua rel ação recí proca. No plano ·da represen taçüo, da reconstrução emp írica e da ·expl icação causal, partiam d i r_etamente do conc,:eJq, i sto é, da "uni dade do diverso,) e defendiam com coerência lógica uma visão ma terialista e dialética do real , intrinsecamente totalizadora e histórica. É possível separar, no estudo de suas contribuições empíricas e teóricas, a história da economia, da sociologia, da psicologia ou da política. Contudo , tal separação corre por conta dos analistas, empenhados na avaliação de .. sua importância para o desenvolvimento ulterior desta ou daquela disciplina. O mesmo sucede com a relação entre teoria e prá tica. O critério de Verificaçüo da verdade, na pesquisa histórica, estari3 -na _ação. Um conhecimento teórico infundado ou incompleto não per mitiria in troduzir mudanças revolucionárias na sociedade. Sem a d imen- são h istórica do papel pol ítico do proletariado na luta de c l asses, a ciência da história nem seria possível - não teria razão de ser e de existir - e tampouco teria como provar a verdade e a validade de sua teoria ( em sentido figurado, careceria de seu laboratório e dos meios para as experiências cruciais ) . Ao contrário dos modelo_s liberal-naturalistas de explicação nas ciências sociais, �ão_estabeleciam um longo "intervalo técnico" entre a descÓberta da teoria e sua aplicação. Em sua relaç ão ativa com a transformação da sociedade burguesa e a ma tura.ção de uma nova época histórica re_volucionária, as c lasses operá- rias absorvem rapidamente, em sua prática social e política, a teoria que explica com objetividade e indepen dência indomúvel a fo rma de ,· ,1 ·, constituição , desenvolvimento e dissolução dessa sociedade. Por pouco que represente, esta coletànea obriga a refleti r sobre a natureza e a magnitude científicas da· obra de K. Marx e de F. Engels no campo da história. Infelizmente, os intelectuais - mais precisa mente os acadêm icos - marxistas perd eram muito tempo em repe tições de uma sistematização do marxismo que é estéril para o enri- Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce Marina Garcia Realce 1 4 quecimento daquela obra científica. Misturando os papéis acadêmicos com as tarefas de intelectuais de partido, deixaram à margem o que era essencial para a ciência: encetar e multiplicar as investigações originais, que usassem menos palavras como "marxismo", "materialis mo dialético", "contradição", etc. , (ou certas palavras rebarbativas, que não se encontram em Marx ) , e revelassem mais o verdadeiro espírito da análise e da explicação causal subjacentes a O capital. K. Marx e F. Engels produziram fora do mundo acadêmico e contra a corrente . É uma irrisão que eles se convertam - principalmente em nome do m'arxismo e da dialética materialista - em meio de ganhar prestígio intelectual e de entreter modas filosóficas. Eles não eram apenas escri tores "engaj ados" e "divergentes". Inauguraram um tipo de pesquisa histórica revolucionária, em sua fomia e em seu conteúdo. Saíram dos pequenos círculos intelectuais e 1'extreffiistas" para a atividade parti dária em sentido amplo, realizando-se intelectual e cientificamente como ativistas de vanguarda do movimento operário. É preciso que tudo isso seja levado em conta, para que se preste maior atenção à necessi dade, urgente e permanente, de dar continuidade ao seu padrão de trabalho científico e de aprofundar-se o significado de suas descobertas teóricas na ciência atual 5• A antologia, para coordenar adequadamente os vários tipos de textos, deveria ter uma divisiio abrangente. Em primeiro lugar, acredito que se deve é0nsiderar o que . é específico na pesquisa histórica de Màrx e Engels : história que se ligava a uma concepção científica revQ, .l1=1c_ionária e_ feita por homens que eralll reVôlucionários de primeira linha. Há, aí, uma questão central : não só por que mas como se consti. tuiu a consciéncia revolucionária da história, que os compeliu a enlaçar ciência e comunismo. A revoluçfío burguesa gerara uma nova geração de historiadores, capazes de descrever as classes e de entender o signi ficado histórico da luta de classes. Os trabalhos de K. Marx e de F. Engels não só se imbricam nessa orientação investigativa. Eles a suplantam, tanto no terreno empírico quanto no da teoria, porque pro jetaram a pesquisa histórica sobre a formação e o desenvolvimento da nova classe revolucionária e sobre o presente in flux, buscando na l_uta de classes uma chave para interpretar o futuro em perspectiva histórica. De um golpe, eles eliminam o arraigamento estático da história , que excluía o sujeito-investigador do circuito histórico e convertia o passado em um santuário de arquivos e documentos. Essa nova história, que é psicologia . em uma face, economia e sociologia em outra, era tão avançada para a sua época - e para a nossa - que ainda hoje não 5 Veja-se, por exemplo, o belo estudo de VILAR, P. Marxisme et hístoire dans le développement des sciences humaines. Pour un débat méthodologique. ln : Une Histoire en construction, p. 320-51. 1 5 fç,i inteiramente compreendida e aceita como o grande marco d a insti tuição da história como ciência. Nem todos os textos essellciais pude ram ser incorporados a essa primeira parte. Porém, fiz um esforço para que ela abarcasse pelo menos os mais reveladores entre os textos ess·enciais. Em segundo lugar, vêm as contribuições que têm sido usualmente encaradas como a expressão mais acabada do padrão de pesquisa histórica e de explicação de acontecimentos e processos históricos no materialismo histórico : os famosos ensaios históricos de K. Marx e F. Engels, que focalizam � .. _história _ em_ _ _p_ro�l?so __ ( e, especialmente, ._ o presente em proc�isso) . - EsséS ênsaiüs são eXtieirfainente ricos e inspira� ·dores, e ninguém -_:_ ninguém mesmo, em nome de qualquer concepção da "especificidade da história" - pode negar-lhes categoria de inves tigação histórica exemplar. Seria impossível incluir na antologia todas as leituras representativas. Isso é lamentável 1 porque marca a antologia pelo que falta ! Contudo, as leituras escolhidas devem ser apreciadas como um elenco de exemplos ou uma amostragem : os textos que não foram contemplados possuem as mesmas qualidades que aqueles que esUio aqui arrolados. Essa divisiio também é importante por outro motivo. Não há nos textos ensaísmo barato, mas história verdadeira e de tão alto nível que deve pôr em xeque os historiadores "profissio nais" resistentes à história recente e à história do presente. De outro lado, é notável como os fundadores do materialismo histórico, enten didos corno "fanáticos" determínistas econômicos (? ! ) , sabem s,eparar a descrição ·histórica límpida da algaravia economista vulgar, que nada explica. Eles se detêm sobriamente sobre os fatos e os fatores econô micos mais relevantes, no quadro geral, traçam a sua importància na complexa rede de causas e efeitos histó ricos in terdependentes, e cuidam concentradamente dos vários desdobramentos do tema focalizado. Em terceiro lugar, estão as contribuições que permitem pôr em equação p:roblema5-_ ... de i_Tlve_sti_g�çà_o_ C?f1:1P_arada o� da dinàmica dascivilizações. Em Sua· füâiôffa, -· OS híSfoúadores "Profissionais" perfilham, como os antropólogos e os sociólogos, o ponto de vista de que o teste científico da história está na contribuição que ela dá ao estudo das civilizações. K. Marx e F. Engels se devotaram di,etamente à investi gação dos modos de produçiío e aos efeitos da alteração ou dissolução dos grandes mod,os de produçiio. Por aí penetram no estudo das formas anta gônicas de sociedade e, também, das civil izações correspondentes. Eles nunca se identificaram com a "história da civilização ) ) da sua época, que se revelou incapaz de superar os reSíduos idealistas ( e até mesmo as deformações especulativas) , herdados da filosofia da história, e quando reagia contra isso não passava do empirismo abstrato 1 insuficiente para permitir que a investigação histórica interpretasse realisticamente as diversas manífestações da ideologia na história. No entanto, só para dar um exemplo, · uma obra como O capital contém a chave da inter- Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Crítica a aproṕriação indevida e inapropriada dos trabalhos de Marx e Engels na contemporaneidade.Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> Tema de análise em Marx e Engels Diana Magna <dianamagna69@gmail.com> 1 6 pretação histórica d a civil ização industrial moderna. É preciso , pois, avançar na direção do que sign ificam as suas contribuições científicas, o que e las revelam sobre as bases econômicas e, por conseguin te, sobre os dinamismos ( de reproduçüo e de transformação ou de dissoluçiío ) das grandes civilizações. Além disso, a própria substància de sua teoria da história nüo os conve rtia em observadores compl acentes , estudassem o passado ma is remoto ou os mais recentes confli tos operários. Ambos procedem à crítica da civilização e, com referência ao seu mundo histó rico, essa crítica torna-se implacável . Os textos selecionados retêm as diversas gamas dessa posição interpretativa e exprimem conveniente mente sua importüncia para as ciências sociais. Em quarto lugar, são consideradas as questões do método. A con cepção materia l i sta e dialética da história não foi, contínua a ser uma novidade. Embora nos comentúrios aos textos, por uma ori entação didática necessária, tenha sempre procurado salientar essas questões ( t irando-as, portanto, d iretamente do próprio texto ) , julguei indispen sável contar com uma divisào na qual o assunto fosse reconsiderado globalmente. Ai nda aqu i·, nem tudo o que deveria en trar na antologia foi contempl ado. A principal cxclus ilo refere-se a A nti-Diihring, pre sente só através de uma pequena passagem extraída de Socialismo utópico e cientifico . Mas existem outros escritos que mereciam ser submetidos ao leitor. Não obstante, p rocurei fazer com que as leituras escolhidas cobrissem a maior parte possível do v asto painel de uma concepção da história que n ão ignora os aspectos empíricos e lógicos da observação científica e lhe infunde, substantivamente, urna dimensão prática intrín seca. Portanto, também no plano do método aparece c laramente o que significa "aliar-se ativamente" ou " fazer parte perm anentemente" do movimento operário . A burguesia engendrou um esquema liberal de ciência aplicada, pela qual afastou, na aparência , a ciência da dominação de classe. O proletari ado não poderia fazer a mesma coisa, como víti ma que era dessa dominação e, mais ainda, como sujeito determinado que era de uma revolução para acabar com a dominação de classe e com as próprias classes sociais . Por aí se desvenda a natu reza e o significado da concepção material ista e di alética da história, instrumento claro, aberto, d i reto da consciência social e da atividade política revo lucionárias das classes trabalhadoras. Resta-me comunicar ao leitor o que penso de um dos autores. Está em voga a depreciaçiío de F. Engels . Nüo compart i l ho dessa voga. Com freqüência, falo em K. Marx: e·.F. Engels. Com isso, niio pretendo confundi-los, metáITlorfoseando-os 'em irmãos siameses espirituais. Um homem como Marx sabia muito bem o seu valor e não se confund ia · com ninguém, mesmo com o amigo mais íntimo e com o companheiro de quase 40 anos de l utas em comum. Por sua vez, Engels também tinha a sua grandeza e uma esfera de autonomia pessoal como pensa- 1 7 dor inventivo e como ati vista pol ítico O • Basta lembrar uma coisa : A situação da classe operária na Inglaterra em 1844 é um clássico nas ciências sociais e foi causa ( e não produto) da simpatia de Marx por ele e da descoberta de ambos por seus fo rtes interesses comuns . .. _As _comparações estreitas e falsas produzem conseqüências fan tasiosas . Ê óbvio que K. M arx é uma figura ímpar na história da filosofia, das ciências sociais e do comunismo. Engels foi o primeiro a proclamar isso e o fez com uma devoçiio ardente , consi derando-o como um gênio do qual e ! e teve a sorte de pa rti lhar o dest ino. Contudo, a modéstia de F. Engels n üo deve ser um fator de confusão . Ser o segundo, o com panheiro por decisüo mútua e o seguidor ma is acreditado não só na vida cotidiana ) mas na produção científica e na atividade polít ica de Marx, q uer d izer alguma coisa. A lém disso, F. Enge ls não era só um ''segundo" ou um "seguidor" : por vúrias vezes foi ele quem abriu os caminhos originais das investigações mais promissoras de K. M arx; a ele cabia, na divisão de trabalho comum, certos assuntos e tarefas ; e Marx confiava em seu cr i tério histórico , científico e político , a ponto de convertê-lo em uma esp'écie de spçirring inte lectual . ( como o de monstra a sua correSpondência de longos anos ) . Tudo isso quer dizer que ele nüo era um reflexo da sombra de Marx ; ele projetava a s_ua própda sombra . Niio se pode separá-los, principalmente se o assunto · for à' constituiçiio do material ismo dialéti co e seu desenvolvimento . Fo i o que fiz, dentro d e um senso de equanimidade que se impõe pelo respeito mútuo que um tinha pelo outro. Se na soma das le i turas cabe a K. Marx um maior número de entradas, isso se deve a sua irnpor tància ímpar seja na elaboração do material ismo dialético (o que F. Engels sempre confirmou expressamente ) , seja na história das ciências sociais. 1 . A consciência revolucionária da história A questiiô' ·que se deve colocar aqui , como a questão essencial, é clara : podia existir uma conscWncia revolucionária da história em uma sociedade capital ista que enfrentava os transes da revolução bur guesa ( Inglaterra e França ) ou se debat ia com a impotência da burguesia para soltar sua revolução (Alemanh a ) , sem surgir uma classe capaz de opor-se, como e enquanto cl asse, contra a ordem existente e ti Ver NElT0, J . Paulo. Engels, p. 27-50; o exceJente estudo de JoNES, G . Sted mun. Retrato de Engels. l n : HoaS13AWM , E. J . . org. Históri(I do marxismo., v. 1 , p. 377-42 l , e NEGT, O. O marxismo e a teoria da revolução no úl t imo En-?�ls. ln : HOBSBAWM, E. J . , org. História do marx1.1·mo,. v. 2, p. 1 25-200 (uma anal ise que procura resgatar o pensamento teórico de F. Engels dos dois enquadramentos subseqiientes, o que se realizou a1ravés da II In t ernacional e o que se deu graças ao "sta linismo" ) . 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