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A nova Hist¢ria

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Prévia do material em texto

Marco Aurélio Monteiro Pereira
Maura Regina Petruski
Melissa Pedroso da Silva Pereira
pONTA gROSSA - pARANÁ
2010
História
LiceNciATuRA em
eDucAÇÃO A DiSTÂNciA
TEORIA DA HISTÓRIA III
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220-3163
www.nutead.org
2010
Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.
Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos
Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor
Pró-Reitoria de Graduação
Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor
Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais
Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância
Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta
Myriam Janet Sacchelli - Coordenadora de Curso
Roberto Edgar Lamb - Coordenador de Tutoria
Colaborador Financeiro
Luiz Antonio Martins Wosiak
Colaboradora de Planejamento
Silviane Buss Tupich
Projeto Gráfico
Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior
Colaboradores em EAD
Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
Colaboradores de Informática
Carlos Alberto Volpi
Carmen Silvia Simão Carneiro
Adilson de Oliveira Pimenta Júnior
Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior
Osvaldo Reis Júnior
Kin Henrique Kurek
Thiago Luiz Dimbarre
Thiago Nobuaki Sugahara
Colaboradores de Publicação
Maria Beatriz Ferreira - Revisão
Sozângela Schemin da Matta - Revisão
Edson Gil Santos Júnior - Diagramação 
Colaboradores Operacionais
Edson Luis Marchinski
Joanice Kuster de Azevedo
João Márcio Duran Inglêz
Kelly Regina Camargo
Mariná Holzmann Ribas
cRÉDiTOS
João Carlos Gomes
Reitor
Carlos Luciano Sant’ana Vargas
Vice-Reitor
P436t Pereira, Marco Aurélio Monteiro
 Teoria da história III. / Marco Aurélio Monteiro Pereira, Maura
 Regina Petruski e Melissa Pedroso da Silva Pereira. Ponta 
 Grossa : UEPG/NUTEAD, 2010.
 120p. 
 Licenciatura em História - Educação a Distância. 
 1. Marxismo e História. 2. Engels. 3. Escola dos Annales. 4. 
Nova História. I. Petruski, Maura Regina. II. Pereira, Melissa 
Pedroso da Silva. III. T.
 
 CDD : 907
ApReSeNTAÇÃO iNSTiTuciONAL
Olá, estudante
Hoje você integra um amplo conjunto de estudantes brasileiros 
que optou por estudar a distância. Saiba que o número de alunos dessa 
modalidade cresce cada vez mais, e coloca a educação a distância (EaD) 
como uma importante modalidade no contexto da política permanente de 
expansão da educação superior em nosso país. 
O respaldo legal para a expansão da educação a distância no 
Brasil decorre do que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, Lei nº 9394/96 que, em seu artigo 80, faculta o emprego da 
educação a distância em todos os níveis e modalidades de ensino. Todavia, 
isso não significa perda da qualidade ou afrouxamento dos critérios para a 
concessão de diplomas. Ao contrário do que muitos pensam, as exigência 
do Ministério da Educação (MEC) para o credenciamento institucional 
em EaD são muito rigorosas e envolvem elevados padrões de qualidade 
científica, acadêmica e técnica.
A UEPG é credenciada, desde 2004, para ministrar cursos superiores 
a distancia e isso só foi possível porque nossos projetos, programas e 
cursos de EaD apresentam todos os referenciais de qualidade exigidos 
pelo MEC. 
No atual contexto de oferta e expansão da educação a distância na 
UEPG, o objetivo maior da nossa instituição não é apenas manter, mas 
elevar os padrões de qualidade que sempre caracterizaram nossos cursos, 
sejam eles presenciais ou a distância. 
Saiba que você, enquanto nosso aluno, tem um importante papel no 
alcance desse objetivo, pois a qualidade dos cursos de EaD depende de 
muitos fatores, tais como infra-estrutura, recursos técnicos e tecnológicos, 
linguagens, mídias e outros, mas depende sobretudo do esforço e 
dedicação dos estudantes, que devem aproveitar todos os recursos que a 
instituição oferece para facilitar o seu processo de aprendizagem. 
Por isso, contamos com a sua dedicação, com o seu empenho, com 
o seu comprometimento enquanto acadêmico para fazer deste curso mais 
um referencial de qualidade em nossa instituição. 
Lembre-se que a distância geográfica não significa estar isolado, 
pois você é parte de uma rede colaborativa e pode interagir conosco 
sempre que desejar, acessando nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem 
ou servindo-se dos demais recursos e mídias disponíveis para nossos 
alunos e professores.
Seja um estudante consciente, participativo e responsável e colabore 
para elevar o nome da UEPG e o valor de seu diploma. 
Sucesso e bom trabalho em mais essa etapa do curso!
EQUIPE DA UEPG/UAB
SumÁRiO
PALAVRAS DOS PROFESSO ■ RES 7
OBJETIVOS E EMENT ■ A 9
mARx, mARxiSmO e HiSTóRiA 11
SEÇÃO ■ 1- A FOrMAçãO DE MArx 13
SEÇÃO 2- ■ A rUPTUrA COM O PENSAMENTO HEGELIANO 16 
SEÇÃO ■ 3- MArx E ENGELS 19
SEÇÃO 4- ■ OS ÚLTIMOS ESCrITOS 24
 
mARx, eNgeLS e A HiSTóRiA 29
SEÇÃO ■ 1- O MATErIALISMO HISTórICO 32
SEÇÃO 2- ■ O CONCEITO DE MODO DE PrODUçãO 34
A eScOLA DOS ANNALeS 39
SEÇÃO ■ 1- A rEAçãO CONTrA A HISTórIA METóDICA 41
SEÇÃO 2- ■ SUrGIMENTO E TrAjETórIA DOS AnnAles 44
SEÇÃO 3- ■ AS QUESTõES TEórICO-HISTOrIOGráFICAS 46
SEÇÃO 4- ■ PrINCIPAIS ExPOENTES DA ESCOLA DOS AnnAles 50
A NOvA HiSTóRiA 65
SEÇÃO ■ 1- CONTINUIDADE OU INíCIO? 67
SEÇÃO 2- ■ A rEDESCOBErTA DAS MENTALIDADES 68
SEÇÃO 3- ■ A HISTórIA SErIAL E A CULTUrA 70
SEÇÃO ■ 4- DO SErIAL AO QUALITATIVO 71
SEÇÃO 5- ■ AS CríTICAS à novA HistóriA 73
PALAVRAS FINAI ■ S 77
REFERÊNCIAS ■ 78
NOTAS SOBRE O AUTO ■ R 83 
ANEXO ■ 1- TESES CONTrA FEUErBACH 84
ANEXO ■ 2- MANIFESTO DO PArTIDO COMUNISTA 88
ANEXO ■ 3- PrEFáCIO DA CONTrIBUIçãO PArA A CríTICA DA ECONOMIA POLíTICA 118
pALAvRAS DOS pROFeSSOReS
A disciplina que você iniciará agora, teoria da História iii, faz parte dos 
componentes teórico-historiográficos do curso de Licenciatura em História. 
Ela compõe um núcleo formado pelas disciplinas de Teoria da História I e 
II, que você já estudou, Teoria da História III, que você começará a estudar 
agora, e Teoria da História IV, que você estudará no próximo semestre. Nessas 
disciplinas são tratados temas pertinentes às concepções históricas e à escrita 
da história desde os primórdios da Humanidade até os dias de hoje. 
Esse conjunto de disciplinas se propõe a um olhar sobre a história da 
história, ou, melhor dizendo, a história da produção histórica nas diversas 
culturas humanas, com ênfase para as componentes da tradição judaico-
cristã ocidental.
Em teoria da História i, você analisou o percurso das concepções 
históricas e da escrita da História da Antiguidade até os séculos xVII e 
xVIII de nossa era. Em teoria da História ii, você trabalhou os percursos 
da historiografia europeia desde o final do século xVIII até praticamente 
todo o século xIx, uma conjuntura importante para a historiografia ocidental 
contemporânea, pois trata das origens das concepções cientificistas de escrita 
da história na contemporaneidade.
Agora, em Teoria da História III, você analisará as duas maiores 
correntes historiográficas de contraposição ao cientificismo historicista e 
metódico do século xIx na Europa: o Materialismo Histórico de Karl Marx e 
Friedrich Engels, surgido em meados do século xIx, e a Escola dos Annales, 
de Marc Bloch e Lucien Febvre, surgida no início do século xx, com seus 
desdobramentos, a partir de meados do século xx, na nova História.
Assim, na Unidade I será construído um panorama biográfico-teórico 
de Karl Marx, que articulará atrajetória de vida e militância com a produção 
teórica, em seus diferentes aspectos.
A Unidade II tratará especificamente dos fundamentos do 
Materialismo Histórico, que compreende o conjunto de proposições de 
Marx sobre a História.
Na Unidade III serão abordados o surgimento e a consolidação 
da chamada Escola dos Annales, movimento historiográfico surgido na 
França no início do século xx, com os historiadores Marc Bloch e Lucien 
Febvre, e seu desenvolvimento com Fernand Braudel.
Finalmente, a Unidade IV tratará da nova História, também 
conhecida como “terceira geração dos Annales”, que causou um grande 
impacto na historiografia francesa e mundial a partir do final da década 
de 1960, numa abordagem introdutória que será desenvolvida mais a 
fundo em Teoria da História IV.
A proposta de abordagem do conteúdo do curso não é factualizante, 
mas centrada nas possibilidades de compreensão crítica das concepções 
históricas e da escrita da história nas diferentes manifestações 
historiográficas estudadas.
É um curso que se funda em concepções de história e de historiografia 
centradas em sua dimensão cultural e social, expressão de projetos identitários, 
tanto externa quanto internamente a cada núcleo analisado.
Os autores.
OBJeTivOS e emeNTA
ObjetivO Geral
•	 Compreender	as	manifestações	da	historiografia	do	Materialismo	 ■
Histórico, do movimento historiográfico da Escola dos Annales e da Nova 
História a partir do estudo de seus principais expoentes e de sua produção 
historiográfica. 
 
ObjetivOs específicOs
Compreender	as	dimensões	conceituais,	as	diferentes	formas	e	as	posturas	 ■
político-ideológicas do Materialismo Histórico de Karl Marx e Friedrich Engels.
Dialogar	com	as	concepções	de	Karl	Marx	e	Friedrich	Engels	sobre	a	História. ■
Estudar a principal reação à Escola Metódica ocorrida na França, com a ■
Escola dos Annales, de Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernand Braudel.
Tomar contato com a ampliação do campo da escrita da história e com a ■
produção histórica da terceira geração dos Annales, conhecida também por 
Nova História. 
 
ementa
O materialismo histórico. A Escola de Annales. Estudo de autores ■
representativos na historiografia. 
 
rOteirO de estudO 
SeÇÃO 1
FORmAÇÃO DOceNTe e DeSempeNHO eScOLAR
marx, marxismo e História
ObjetivOs de aprendiZaGem
Compreender os fundamentos das ideias de Karl Marx e Friedrich Engels. ■
Tomar contato com a história de vida e com a produção de Marx e Engels. ■
rOteirO de estudOs
SEÇÃO 1 - A Formação de Marx ■
SEÇÃO 2 - A Ruptura com o Idealismo Hegeliano ■
SEÇÃO 3 - Marx e Engels ■
SEÇÃO 4 - Os Últimos Escritos ■
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pARA iNÍciO De cONveRSA
Tentar trabalhar, mesmo que de forma introdutória, a escrita da história 
em Marx é um empreendimento bastante difícil num país como o Brasil, 
onde o alinhamento aos Estados Unidos durante a guerra fria transformou o 
anticomunismo, e por extensão o anti-marxismo, quase que numa instituição 
nacional, mesmo nestes tempos após a derrocada do “socialismo real”. Há um 
preconceito difuso, dentro da sociedade brasileira, contra as idéias de Marx, e 
esse preconceito também se dissemina nas universidades e, principalmente, 
nas escolas de ensino fundamental e médio.
Mas as ideias de Marx constituem hoje um patrimônio intelectual da 
humanidade como um todo e se revelam um instrumento bastante privilegiado 
para a análise da estrutura das relações sociais e da natureza intrínseca das 
sociedades.
A definição de marxismo, como tudo, aliás, que se refere à interpretação 
da obra de Marx, é feita de forma plural, definida pelo enquadramento político 
de quem a elabora. Uma boa análise sintética desse processo seria a de Eric. 
j. Hobsbawm, um dos maiores historiadores marxistas contemporâneos:
Marx já dizia, “a propósito dos ‘marxistas’ franceses da década de 1870: 
‘tudo o que sei é que não sou um marxista’” (FErNANDES, 1986, p. 10), em 
uma carta escrita a Engels. Essa construção diferenciada entre o pensamento 
de Marx e os pensamentos dos “marxistas” leva a priorizar a construção 
teórica do próprio Marx e de Engels nessa análise1.
Assim, para uma recuperação do pensamento de Marx e Engels sobre 
a história, é fundamental, preliminarmente, uma breve visão sobre suas vidas 
e obras, como você verá nas próximas seções.
O marxismo, que é ao mesmo tempo um método, um corpo de pensamento teórico 
e um conjunto de textos considerados por seus seguidores como uma fonte de 
autoridade, sempre sofreu com a tendência dos marxistas de começar por decidir o 
que pensam que Marx deveria ter dito e depois procurar a confirmação nos textos, dos 
pontos de vista escolhidos. (HOBSBAWM, 1982, p. 155.)
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1 reproduzo aqui a distinção feita por alguns autores entre marxiano, que é o que diz respeito ao 
pensamento do próprio Marx, e marxista, que se refere ao pensamento de seus seguidores.
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SeÇÃO 1
A FORmAÇÃO De mARx
Embora seja desejável não personalizar as matrizes de pensamento 
historiográfico, no caso de Marx e Engels isso é impossível. A própria 
concepção de unidade entre a teoria e a prática, que é o alicerce de 
seu pensamento, torna impraticável dissociar a vida da obra de Marx e 
Engels.
Karl Marx nasceu na cidade alemã de Trier (Trèves ou Tréveres), 
na renânia, em 5 de maio de 1818. Foi o terceiro dos nove filhos de um 
advogado liberal judeu, Hirschel Marx, mais tarde (1824) convertido ao 
protestantismo com o nome de Heinrich, casado com Enriqueta Pressburg, 
descendente de uma família de rabinos.
Marx estudou em Trier até o fim do liceu secundário, em 1835. No 
fim desse ano, mudou-se para Bonn, onde, em 1836, matriculou-se na 
Universidade, para estudar Direito. Na Universidade, passou a frequentar 
os círculos liberais de estudantes.
Em 1836, ficou noivo, secretamente, de jenny Von Westphalen, 
jovem nobre e de alta posição social em Triers. Essa relação teve a 
obstinada oposição de ambas as famílias, e Marx e jenny só puderam 
casar-se oito anos mais tarde, em 1843.
Ainda em julho de 1836, Marx matriculou-se na Universidade de 
Berlim, onde sua trajetória de acadêmico foi se afastando cada vez mais 
do Direito e se aproximando da História e da Filosofia. Foi em Berlim 
que Marx teve contato com o pensamento de Hegel, falecido pouco 
antes (1831), e que era uma espécie de ideologia oficial na Alemanha, 
considerado como um apoio direto ao Estado prussiano, por concluir 
que o Estado moderno encarnava os ideais da Moral mais objetivos e 
manifestava a razão no domínio da vida social.
Mas, nessa época, os alvos prioritários da crítica dos liberais não 
estavam no Estado, e sim na Igreja e na religião. A “esquerda hegeliana” 
reinterpretou o pensamento de Hegel, descobrindo um Hegel secreto em 
oposição ao Hegel explicitado, separando o método revolucionário do 
sistema conservador.
O pioneiro da “esquerda hegeliana”, David Strauss (1808-1874), 
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construiu, em sua tentativa de separação da figura histórica de Cristo de 
sua interpretação teológica, um espaço para a retomada da tradicional 
lutada intelectualidade racionalista pelo direito de submeter os escritos 
sagrados à crítica história. Tentou, também, criar um espaço para a crítica 
e a transformação do pensamento de Hegel, introduzindo as sementes da 
crítica política.
Outro expoente da “esquerda hegeliana” foi Bruno Bauer (1809-
1872), que retomou as ideias de Fichte (1762-1814) e procurou separar 
o desenvolvimento do Espírito humano do desenvolvimento do mundo, 
transferindo para a consciência de si a tarefa de determinar a história.
Arnold ruge, Moses Hess e Max Stirner compunham, também, 
a “esquerda hegeliana”. Mas, sem dúvida, seu principal expoente foi 
Ludwig Feuerbach, responsável pela aglutinação de “todo o pensamento 
da esquerda hegeliana, formulando, de um novo ponto de vista, a mais 
consistente crítica da filosofia da religião e da dialética hegelianas”. 
(GIANOTTI, 1978, p. VII-Ix)
Marx se integrou e participou ativamente das atividades da 
“esquerda hegeliana”. Em 1840, o Doktorclub mudou sua denominação 
para Clube dos Amigos do Povo e mudou também sua postura: de uma 
crítica idealista para uma posição de ação política de extrema esquerda. 
Marx continuou em posição preeminente nesse círculo. O texto de uma 
carta de Moses Hess a Feuerbach, em 1841, dá a medida do conceito de 
Marx entre os integrantes da “esquerda hegeliana”:
Os «jovens hegelianos» reuniram-se num círculo, o Doktorclub [...] Marx foi 
imediatamente admitido no Doktorclub. Partilhava então da maior parte das idéias de 
Bauer. Os hegelianos de esquerda continuavam idealistas: acreditavam numa espécie 
de renovação do homem e da sociedade, mais do que numa revolução. Propunham-
se, quando muito, fazer uma «revolução nas consciências» - e não uma revolução 
política. (LEFEBVRE, 1981, p. 100)
O maior, o único e verdadeiro filósofo contemporâneo, o Doutor Marx, é ainda um 
homem muito novo. Dará o golpe de misericórdia à religião e à política medievais. 
Alia à mais profunda gravidade filosófica o espírito mais agudo. Imagina Rousseau, 
Voltaire, d’Holdbach, Lessing, Heine e Hegel unidos num só ser – digo «unidos» e não 
lançados em desordem – e compreenderás o que é Marx. (HESS apud LEFEBVRE, 
1981, p. 101)
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Marx concluiu seus estudos de graduação em 30 de março de 1841, 
na Universidade de Berlim. Em 15 de abril, apresentou à Universidade 
de Iena a sua tese de doutorado, Diferença entre a Filosofia da natureza 
de Demócrito e a de epicuro.
Embora de formato e vocabulário hegeliano, a tese de Marx já 
apontava para novos caminhos. Esses novos caminhos começaram 
a se delinear já pela opção de Marx de estudar os materialistas da 
Antiguidade, repudiados por Hegel como, aliás, todos os materialistas. 
Marx, porém, viu em Epicuro um filósofo de primeira linha, que tirou a 
filosofia do espaço da religião e libertou o homem do medo dos deuses. 
Constatou, também, o modo como Epicuro enriqueceu a teoria atomística 
de Demócrito, que era uma concepção apenas mecanicista da natureza 
e do homem. Epicuro fez do átomo uma espécie de centro de energia, de 
força e de ação dinâmica.
Era uma posição radicalmente diferente daquela assumida por 
Hegel, que considerava os epicuristas como preparadores, junto com os 
estóicos, do ceticismo, o qual, para ele (Hegel), foi o principal momento 
negativo da filosofia antiga.
A tese de Marx rompeu com a ideia de um mecanicismo simplista 
na filosofia materialista. Para ele, na filosofia materialista o determinismo 
perdeu a sua rigidez; deu lugar ao acaso e à intervenção da vontade 
humana. Foi esse momento que anunciou a sua ruptura com o sistema 
idealista hegeliano. Dessa forma,
Estavam lançadas aí as bases de superação do idealismo hegeliano, 
no pensamento de Marx, e o que seria o embrião do materialismo histórico 
e dialético, como você poderá acompanhar na Seção 2 a seguir.
A dialética idealista de Hegel aplicada à história da filosofia exige uma reconsideração 
que a transforme. Não devemos portanto aceitá-la tal como se apresenta, nem 
limitarmo-nos, como os jovens hegelianos, a considerar o seu lado idealista como 
sendo o mais profundo, mais secreto, mais inovador. Para Marx, e segundo ele 
próprio, é chegado o momento de se libertar do hegelianismo e de lhe aplicar o seu 
próprio método. Assim como Hegel se libertou da anterior filosofia, assim a filosofia 
se deve libertar dele, o que não significa destruí-lo, mas sim continuá-lo: «É uma lei 
psicológica, que o espírito teórico emancipado em si mesmo se transforme em energia 
prática e, saindo do reino das sombras como vontade, se volte contra a realidade do 
mundo que existe sem ele». (LEFEBVRE, 1981, p. 101-102)
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SeÇÃO 2
A RupTuRA cOm O peNSAmeNTO HegeLiANO
Com a exoneração de seu amigo e “patrono” Bruno Bauer da 
Universidade de Bonn, acabaram-se os sonhos de Marx de seguir carreira 
acadêmica. Voltou-se, então, para uma militância social mais ativa. Foi 
desse período (1842) seu primeiro artigo, sobre a censura prussiana.
Numa conjuntura em que a oposição liberal ao governo prussiano 
se articulava de forma mais consistente, alguns integrantes da “esquerda 
hegeliana” (Hess, rutenberg, etc.), com o apoio de industriais e 
comerciantes de Colônia, decidiram criar um jornal que unificasse 
a oposição: A Gazeta renana. Marx, Hess e rutenberg se tornaram 
os primeiros diretores do jornal. O primeiro artigo de Marx na Gazeta 
renana foi sobre a liberdade de imprensa.
Nessa altura de sua trajetória,
No nível da conjuntura europeia como um todo, pairava o “fantasma 
do comunismo”. Marx, que pretendia nesse momento a transformação 
da sociedade mantendo-se dentro da ordem dos limites constitucionais, 
negou, em artigo de outubro de 1842, publicado na Gazeta renana, 
ser comunista; “anunciou até uma crítica do comunismo – e foi para 
preparar esta crítica que começou a ler as obras dos teóricos franceses!”. 
(LEFEBVrE, 1981, p. 104)
Porém, o momento de sua passagem do idealismo liberal para o 
materialismo revolucionário se deu concretamente nos casos dos “roubos 
de lenha” e dos “vinhateiros do Mosel”, muito famosos em sua época. 
São dois casos em que se confrontavam o direito burguês institucional e 
as permanências do direito consuetudinário medieval.
O exercício da chefia da redação da Gazeta renana punha Marx 
em contato com questões concretas da realidade alemã, colocando a 
necessidade de articulação entre a especulação filosófica e a resposta a 
problemáticas concretas da vivência social. Assim, quando as questões 
Marx era ainda, e sobretudo, um democrata liberal e idealista; através da imprensa, 
dirigia-se mais ao «público» do que ao povo, para o «esclarecer» - persuadido de que 
fazia a história avançar apenas pelas idéias. (LEFEBVRE, 1981, p. 104)
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dos “roubos de lenha” e dos “vinhateiros do Mosel” foram levadas à 
Assembleia Política renana, passaram a ser objeto de reflexão de Marx.
O hábito de apanhar madeira seca nos bosques era ancestral nas 
comunidades camponesas alemãs, remontando ao início do feudalismo. 
Com a privatização da terra, esse hábito passou a ser considerado como 
um roubo, embora fosse fundamental para a própria sobrevivência dos 
camponesesno inverno. Ao apanhar a lenha seca, ou mesmo cortar lenha 
verde, os camponeses não conseguiam se imaginar como estando a 
roubar, pois faziam apenas o que era do costume. A lei, entretanto, punia 
severamente esses casos como se fosse roubo.
O caso dos “vinhateiros do Mosel”, comunidade de pequenos 
produtores levados à ruína por problemas no cultivo das vinhas, era 
muito semelhante. Feita uma proposta de proibição da divisão das terras 
comunais desse grupo, para impedir sua venda, a Assembleia Política 
renana rejeitou-a, com o intuito de fracionar a terra e facilitar a sua 
venda, o que, em médio prazo, significaria a miséria absoluta daquela 
comunidade. Para Marx esse problema extrapolava o campo jurídico, 
sendo, por definição, muito mais uma questão econômica e social.
Esses dois episódios balizaram um momento de ruptura de Marx 
com os resquícios do idealismo hegeliano ainda presentes em sua 
prática. Mas Marx não efetuou sua ruptura com a filosofia idealista 
apenas em nome da filosofia. Essa ruptura se deu como consequência 
de sua vivência com a realidade humana e social “concreta”, com a 
luta política na ação prática, passando, assim, da filosofia crítica à 
crítica da filosofia e à sua crítica social.
Por conta da radicalização da linha política da Gazeta renana, 
Marx começou a ganhar notoriedade pública. Mas, em janeiro de 1843, 
um artigo denunciando o apoio dos políticos conservadores europeus 
à rússia czarista provocou o fechamento do jornal, cuja última edição 
Marx advogou eloquentemente a favor deles, acentuando o conflito, a contradição 
entre as duas formas do direito: os direitos consuetudinários das comunidades sobre 
as florestas e a lenha - e o direito em vigor, fundamentado no direito de propriedade 
absoluta. «Existe nesses costumes da classe pobre um sentido construtivo do direito; 
a sua raiz é positiva e legítima». A lei que pune severamente os roubos de madeira 
não pode passar por ser a expressão de um direito eterno e imutável, nem mesmo 
a expressão dos interesses do Estado. Marx via nela a expressão de interesses 
particulares e de abjecto materialismo. (LEFEBVRE, 1981, p. 104-105)
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foi em 31 de março de 1843. O fechamento da Gazeta renana pode ser 
considerado o final da fase idealista de Marx.
Esse momento significou também o início do afastamento de 
Marx da “esquerda hegeliana”. Com alguns outros dissidentes, ele se 
propôs a criar uma revista mensal, a ser editada em Paris, chamada 
Anais Franco-Alemães, que pretendia concretizar a articulação de 
uma “aliança intelectual” do pensamento alemão de esquerda com o 
movimento revolucionário francês. Assim, em outubro de 1843, Marx, 
recém-casado, mudou-se para Paris, para a instalação da revista.
O primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães foi publicado 
em fevereiro de 1944 e trazia dois artigos de Marx. O primeiro, intitulado 
A questão judaica, formulava a crítica ao judaísmo e ao cristianismo, e 
o outro, a Contribuição a uma Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 
analisava criticamente os fundamentos idealistas da filosofia do Direito 
de Hegel. Também foi publicado, nesse único número dos Anais Franco-
Alemães, o artigo esboço de uma Crítica da economia Política, de Friedrich 
Engels, que marcou o pensamento de Marx e consolidou a amizade e o 
início do trabalho conjunto de ambos.
A conjuntura dos Anais Franco-Alemães marcou a consolidação 
do processo de mudança de Marx do idealismo para o materialismo. 
No artigo sobre a filosofia do Direito de Hegel, Marx mostra de 
maneira cabal o deslocamento do seu eixo de análise filosófica e 
prática política.
Acabava para Marx a luta que empreendera apenas com as armas do espírito. 
Compreendeu que a arma da crítica se tornava, mais cedo ou mais tarde, uma crítica 
pelas armas: «A força material tem de ser derrubada pela força material, mas a teoria 
torna-se uma força material quando anima as massas». (LEFEBVRE, 1981, p. 105)
A análise da Filosofia do Direito de Hegel, considerada como a mais pura expressão 
da Filosofia do Estado moderno, deveria ser feita, no entender de Marx, a partir da 
crítica do Estado real que lhe serve de base. Uma crítica, portanto, que deixaria de 
mover-se exclusivamente ao nível do discurso, para visar ao concreto, transformando-
se numa política, procurando penetrar nas massas e converter-se na força social 
capaz de mudar a sociedade. Para Marx, o Estado alemão de sua época representava 
o passado dos povos modernos e a luta contra a sua opressão assinalaria, pois, o 
esforço geral de emancipar a humanidade de todos os laços que a alienam. O homem, 
ser genérico e comunitário, não poderia realizar-se cabalmente sem ultrapassar a 
fragmentação das classes, das nações, enfim, de todos os particularismos que criam 
obstáculos para o desenvolvimento de seu ser. Toda a crítica, porém, permanece 
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inócua, diz Marx, se não atinge a raiz do próprio homem, a ele mesmo enquanto ser 
concreto e a sociedade no interior da qual vive e se manifesta. Em virtude do próprio 
desenvolvimento do Estado moderno, surge uma classe, desprovida de todos os 
direitos e de todos os bens, por isso, de tal modo alienada que sua liberação só pode 
ser feita por meio da supressão dos laços opressores da sociedade como um todo, 
superando assim qualquer tipo de alienação. Pela primeira vez, Marx proclamava, 
pois, a luta de classes como o motor da História, e o proletariado como o germe que 
deveria subverter a estrutura da sociedade moderna.
[...]
Para que não se confundisse a lógica das coisas com as coisas da lógica, Marx 
insistia no caráter efetivo e revolucionário do movimento operário. Contudo, ainda 
pensava sobre o movimento de desalienação num nível eminentemente lógico: visto 
que a alienação atingia agora o seu ponto máximo, haveria de transformar-se em seu 
contrário. A categoria de trabalho, já considerada por Hegel, não desempenha um 
papel verdadeiramente ativo nessa conversão. (GIANOTTI, 1978, p. XII-XIII)
Mas, sem dúvida, o grande resultado concreto da atuação de Marx 
nos Anais Franco-Alemães foi o seu contato com Friedrich Engels, que 
resultaria numa profunda amizade e numa vasta produção política e 
teórica conjunta, como você verá na próxima Seção.
SeÇÃO 3
mARx e eNgeLS
A concretização da mudança no pensamento de Marx se consolidou, 
no entanto, após seu contato com Friedrich Engels e a parceria que ambos 
estabeleceram, tanto teórica quanto pessoalmente.
Engels nasceu em Barmen, na renânia, no ano de 1820. Quando era 
estudante de filosofia em Berlim, participou de reuniões do “hegelianos de 
esquerda”. Em 1842, foi para a Inglaterra, para trabalhar em uma fiação 
de seu pai. Na Inglaterra, tomou contato com os teóricos da Economia 
Política inglesa e também com as condições efetivas da classe trabalhadora 
inglesa, a qual seria objeto de um de seus mais célebres trabalhos 
individuais. Em 1844, ele conheceu Marx em Paris, onde começaram uma 
colaboração extremamente profícua no campo intelectual, aliada a uma 
militância intensa nas organizações operárias da época, e que culminou 
numa amizade muito forte entre ambos.
A participação de Engels nos Anais Franco-Alemães introduziu uma 
nova vertente na formação do pensamento de Marx.
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A crítica desenvolvida no artigo de Engels situava-se no exterior do campo da 
Economia Política, assentando-se numa antropologia de corte feuerbachiano. Depois 
de Adam Smith (1723-1790), segundo Engels, o primeiro economista a reconhecer o 
trabalho como fonte da riqueza, os economistas entraram numa escalada de cinismo, 
o último mais cínico que o primeiro. Progressivamente foram despojando o homem 
de suas qualidades propriamente humanas, até o ponto de Ricardo (1772-1823), 
chegar a privilegiar o produto em prejuízo do produtor. A Economia Política, continua 
Engels, é a ciência da sociedade civil, terreno em que os homens se defrontam como 
particulares e proprietários, mas como tal não é mais do que o lugar da alienação, 
onde o homem perde seu caráter essencial e genérico. Por não ter posto em causa o 
postulado da propriedade privada, e por não ter anteposto ao privatismo da sociedade 
civil a universalidade do homem, a Economia Política, segundo Engels, não consegue 
fazer uma crítica radical da sociedade moderna. (GIANOTTI, 1978, p. XIII-XIV)
Marx também partiu, sob a influência de Feuerbach, do conceito de 
homem como um ser genérico, porém chegando à sociedade civil como o 
espaço de sua alienação. Para Marx, entretanto, a alienação
Sob esse ponto de vista, Marx escreveu uma série de textos 
conhecidos como Manuscritos econômico-Filosóficos, publicados 
tardiamente, apenas em 1932. O último destaque a ser feito sobre a 
conjuntura dos Anais Franco-Alemães é a crítica de Marx ao “comunismo 
vulgar” e ao socialismo utópico.
Durante 1844, Marx contatou os círculos socialistas e comunistas 
parisienses. Alguns intelectuais emigrados de outras partes da Europa 
tinham criado em Paris a liga dos Banidos, inspirados num humanismo 
moral e social difuso e vago. Logo uma dissidência, chefiada pelo 
comunista Weitling, separou-se da liga dos Banidos e se aglutinou em 
uma sociedade de princípios comunistas, a liga dos Justos. Weitling 
publicou vários artigos de tendência comunista na imprensa francesa, 
recebendo, inclusive, elogios de Marx.
O comunismo da liga dos Justos tinha por base o comunismo 
ascético de algumas seitas cristãs, misturado, de maneira confusa, com 
as idéias socialistas utópicas de Saint-Simon, de Fourier, de Owen, de 
Nasce da forma de trabalho a que o sistema de produção, orientado para a posse e 
o mercado, submete o trabalhador. O homem produz apenas para ter o produto de 
seu trabalho a fim de trocá-lo por um outro. Graças à roubalheira do comércio, todos 
acabam se alienando. No entanto, por mais que se veja fechado no circuito de ferro 
da propriedade privada, o homem não deixa de carecer humanamente de produtos 
que estão na mão de outrem. Estabelece-se, assim, uma tensão que o projeta além 
da propriedade privada e o leva à desalienação. (GIANOTTI, 1978, p. XIV)
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Proudhon. Era um comunismo passadista, voltado à ideia de uma “idade 
do ouro” pré-capitalista.
Marx, após seu entusiasmo inicial, repudiou a Liga dos justos, vendo 
nela uma “prostituição universal”, uma bestialidade, um “comunismo 
grosseiro”. Para ele, a necessidade de nivelamento social e a oposição 
à propriedade privada propostos pela Liga teriam como consequência 
apenas o reforço à desigualdade social e a manutenção do sistema privado 
de propriedade. Mas suas divergências eram mais fundas:
Marx definiu, assim, sua concepção de socialismo científico como 
a passagem do idealismo ao materialismo, completada pela passagem da 
utopia grosseira à sociologia científica. Ele completou, nesse momento, 
o ciclo de crítica às concepções que o influenciaram, com a crítica da 
religião, a crítica da filosofia especulativa e a crítica da política idealista 
(liberal), além da crítica do comunismo e do socialismo utópicos.
Os Anais Franco-Alemães foram perseguidos pelas polícias da 
França e da Prússia. Além disso, divergências internas impediram a 
continuação da revista, que ficou apenas em seu primeiro número.
Durante sua estada em Paris, Marx, além de contatar os movimentos, 
comunistas e socialistas franceses, dedicou-se ao estudo da economia 
política inglesa, à qual fora apresentado por Engels. A partir daí Marx e 
Engels produzem um fecundo trabalho conjunto.
A primeira obra conjunta foi A sagrada Família; crítica de uma crítica 
A idéia de que a sociedade moderna traz em si as condenações de uma transformação 
social (realizada pela classe operária, de que é a missão histórica) quase não lhes 
passava pela cabeça; viam claramente o seu sentido prático e político. Chamavam-se 
entre si de «irmãos» e reuniam para ágapes, refeições de comunhão à maneira dos 
primeiros cristãos. Alguns deles eram partidários da poligamia ou da comunidade das 
mulheres. (LEFEBVRE, 1981, p. 112)
O comunismo grosseiro não é mais que a conclusão da vontade de nivelamento, 
partindo de um mínimo que se imagina... É a prova da negação abstracta de todo o 
mundo, da cultura, da civilização; tal como a apologia do «retorno à simplicidade», 
ao homem «pobre», e sem necessidades, que não só não ultrapassou a propriedade 
privada como nem sequer a atingiu (Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844). 
Assim, a negação «vazia» da propriedade privada não tem nenhuma ação pratica, e 
até se transforma no seu oposto: a apologia, o sustentáculo da propriedade privada. 
(LEFEBVRE, 1981, p. 113)
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crítica. Foi um trabalho crítico sobre a postura políticas dos neo-hegelianos 
e uma polêmica bastante dura com Bruno Bauer e seus irmãos Edgard e 
Egbert, defensores de uma política liberal elitista. Em A sagrada Família 
(MArx & ENGELS, [s.d.]) “preconizavam um amplo entrosamento da 
teoria com os operários, pois, diziam, nada é mais ridículo que uma idéia 
isolada de interesses concretos”. (GIANOTTI, 1978, p. xIV)
Quando A sagrada Família ainda estava na gráfica, Marx foi expulso 
da França, em fevereiro de 1845. refugiou-se, então, em Bruxelas. Sua 
primeira produção na Bélgica, já em março de 1845, foram as famosas 
teses sobre Feuerbach (GIANNOTTI, 1978, p. 55-60), espécie de conclusão 
dos Manuscritos econômico-Filosóficos, de 1944: “Elas condensam-nos, 
expõem-nos em fórmulas breves e mais precisas, embora só definam todo 
o seu sentido juntamente com eles” (LEFEBVrE, 1981, p. 135). As teses 
configuram-se como signo definitivo da ruptura de Marx com o idealismo 
e a esquerda hegeliana. Seu texto completo está no ANExO I, ao final 
deste livro.
A mudança para a Bélgica proporcionou também a Marx e Engels o 
momento para a realização de um balanço de suas próprias consciências 
filosóficas, e também um balanço das consequências da ruptura com 
Feuerbach.
Como fruto dessa reflexão foi escrita, de setembro de 1845 a agosto 
de 1846, a obra A ideologia Alemã (MArx, Engels, 1987).
Marx e Engels não encontraram editor para A Ideologia Alemã, e o 
manuscrito foi deixado de lado. Foi publicado apenas em 1932. É a obra 
em que há a primeira exposição do materialismo histórico
Os autores da Ideologia Alemã levantam uma série de questões com relação a 
Feuerbach: tomar a essência genérica do homem como ponto de partida da História 
não é aceitar muito particular do homem isolado, tal como o vê o pensamento burguês?; 
essa essência genérica não se no conjunto das relações sociais em que cada pessoa 
se insere?; se, além do mais, essas relações são mediadas pelas relaçõesque o 
homem mantém com a natureza, posta assim basicamente como o lugar da prática 
humana, que sentido pode ter uma essência genérica do homem que não esteja 
vinculada ao produto do seu próprio trabalho? Para Marx e Engels, por desconhecer o 
caráter ativo dos objetos naturais, mediados pela prática do homem, Feuerbach caiu 
numa concepção especulativa sobre a naturalidade do homem, desligada da política 
e da história, do desenvolvimento de si próprio a partir de suas condições reais de 
existência. (GIANOTTI, 1978, p. XIV)
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Metade da obra é consagrada à refutação de Stirner, teórico do individualismo 
anarquizante. Marx encarniçou-se contra ele, arrasou-o, mostrando que sob o 
«pensamento audacioso» havia um filisteu, um freqüentador assíduo dos cafés 
berlinenses, embrutecido pela cerveja e profundamente satisfeito com o seu egoísmo. 
Muito pior que Hegel, Stirner dissolve o mundo real, não em idéias, nem mesmo na 
«consciência», mas no seu «eu».
[...]
A parte dedicada a Feuerbach, verossimilmente redigida por Marx e Engels, faz uma 
notável exposição do materialismo histórico.
«São os homens que produzem as suas representações, as suas idéias - os 
homens reais, activos, condicionados pelo desenvolvimento determinado das forças 
produtivas... A consciência é o ser consciente; o ser dos homens é o seu processo 
vital. Se os homens e as suas condições aparecem invertidos nas ideologias, como 
numa câmara escura, esse fenómeno resulta do processo histórico vital, exactamente 
como a inversão dos objectos na retina decorre de um processo físico». (LEFEBVRE, 
1981, 139-140)
O desenvolvimento das questões relativas à história em A ideologia 
Alemã será retomado adiante, na Unidade II.
Em Bruxelas, Marx passou a fazer parte da recém-criada liga dos 
Comunistas, espaço que “para ele representava o primeiro ensaio de superar 
a contradição entre uma organização internacional e os agrupamentos 
nacionais em que se aglutinavam os operários”. (GIANOTTI, 1978, p. xVI)
É para o segundo congresso da liga dos Comunistas que Marx e 
Engels escrevem o famoso Manifesto do Partido Comunista (MArx & 
ENGELS, 1985).
As posturas do Manifesto apontavam para uma mudança radical de 
Marx diante da Economia Política. Essa mudança iria se explicitar mais 
tarde, na polêmica de Marx com Proudhon.
Proudhon publicara um programa político de luta contra o 
O texto abre-se com uma análise da luta de classes e termina convocando os operários 
do mundo inteiro à união. Marx estava visando a fins precisos. O movimento comunista 
apresentava, antes de tudo, um caráter utópico. Reduzidos a uma pobreza crescente, 
conforme aumentava a riqueza da sociedade, os operários passavam a sonhar com 
uma sociedade sem classes, em que a abolição da propriedade privada garantiria a 
todos a satisfação de suas necessidades. Como imprimir a essa força utópica um 
cunho científico, capaz de uma crítica teórica efetiva da sociedade capitalista, que 
redunde num programa político? É nesse sentido que o Manifesto Comunista insiste 
na necessidade de substituir o programa contra a propriedade privada em geral pelo 
projeto da apropriação coletiva dos meios de produção, atingindo, pois, pela raiz, 
tanto o funcionamento do modo de produção capitalista, quanto a força de alienação 
do homem que vive numa sociedade desse tipo. (GIANOTTI, 1978, p. XVI-XVII)
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capitalismo centrado no controle sobre o lucro e os juros, em seu livro A 
Filosofia da Miséria (PrOUDHON, 2007). Marx rebate com a publicação 
de A Miséria da Filosofia (MArx, 2006).
Os anos na Bélgica foram de intensa atividade política para Marx. 
No início de 1848, porém, veio a reação. O rei Leopoldo dissolve todas as 
associações operárias e persegue os exilados que haviam fixado residência 
no país. Marx e sua esposa, depois de uma série de maus tratos por parte 
das autoridades, foram expulsos da Bélgica. Marx havia acertado, dentro do 
projeto da liga dos Comunistas, sua ida a Paris, mas no próprio processo de 
crescimento da luta revolucionária européia em 1848, a liga dissolveu-se. 
Marx volta, então, à Alemanha, passando a residir em Colônia, onde funda 
uma revista, A nova Gazeta renana. Mas você verá, na próxima seção, que 
Marx não ficaria muito tempo na Alemanha, tendo que transferir-se para 
Londres por causa da repressão policial.
A repressão governamental não deixou que Marx permanecesse 
na Alemanha por muito tempo. Em péssima situação financeira, pois 
investira todo o seu (pouco) capital e até uma herança recentemente 
recebida no projeto da revista, Marx deixou Colônia e, depois de uma 
fugaz passagem por Paris, domiciliou-se em Londres.
A fixação de Marx em Londres foi de capital importância para a sua 
produção intelectual. Com o movimento operário em refluxo, Marx teve 
espaço e tempo para produzir. Seu primeiro trabalho em Londres foi o 
18 Brumário de luís Bonaparte, de 1852 (MArx, 1997), “onde analisa o 
Para Marx, esses são apenas fenômenos meramente superficiais da produção 
burguesa, que não podem ser postos em causa se não forem atingidos os próprios 
mecanismos de exploração postos em ação pelo capital. A análise de tais mecanismos 
só pode ser feita, segundo Marx, levando em consideração os resultados da Economia 
Política, passando em revista, de uma forma crítica, os processos de produção da 
mercadoria. (GIANOTTI, 1978, p. XVII)
SeÇÃO 4
OS ÚLTimOS eScRiTOS
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golpe de Estado de Napoleão III, e o bonapartismo como uma forma de 
governo m que a burguesia se deixa levar quando se vê na emergência 
de uma crise”. (GIANOTTI, 1978, p. xVIII)
O 18 Brumário foi escrito por motivos essencialmente “materialistas”. 
Marx estava em uma situação de absoluta penúria e escreveu o livro 
sobre um assunto que era destaque no momento na esperança de ganhar 
algum dinheiro. Porém o 18 Brumário só foi editado em Nova Iorque, 
com recursos obtidos graças à doação de um militante emigrado alemão 
anônimo a Weydemayer, amigo e colaborador de Marx na América.
A situação econômica de Marx na Inglaterra era péssima. Sua família 
(mulher e duas filhas) e uma fiel empregada passavam por uma situação 
crítica. A única fonte de renda de Marx eram os dois artigos semanais 
que escrevia para o jornal americano new York tribune, e isso não bastava 
para manter uma renda regular. Sua sobrevivência foi custeada, quase 
que integralmente, com o auxílio financeiro constante de Engels.
Em uma fase de árduo trabalho intelectual, Marx começou a realizar 
seu projeto de uma crítica da economia política, que só terminou em 1859, 
com a publicação de Para a Crítica da economia Política (MArx, apud 
GIANOTTI, 1978, p. 107-139). A edição do livro atrasou pela falta de dinheiro 
para os selos necessários ao envio do manuscrito ao editor na Alemanha.
O livro, difícil, passou despercebido e incompreendido na época.
Marx retomou sua militância política em 1864, quando apresentou 
o projeto da Associação Internacional dos Trabalhadores. Sobre a 
Internacional, Marx, em uma carta de 1871 a Boltas, já na crise da 
organização, comentava:
Numa carta a Engels, Marx comenta: ‘Seguramente é a primeira vez que alguém 
escreve sobre o dinheiro com tantafalta dele. A maioria dos autores que escreveram 
sobre esse tema estava numa magnífica harmonia com o objeto de suas investigações. 
(GIANOTTI, J., 1978, p. XIX)
Esse foi o período mais produtivo da vida de Marx; o público porém deveria esperar 
até 1867, quando da publicação de O Capital, para ler um texto seu. À medida que 
aprofundava suas investigações, Marx escreveu para si próprio uma enorme quantidade 
de textos, hoje reunidos em grande parte nos Esboços da Crítica da Economia Política 
e Teorias sobre a Mais-Valia, sendo que esse último deveria constituir o quarto volume 
de O Capital. (GIANOTTI, J., 1978, p. XIX)
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A Internacional foi fundada para substituir as seitas socialistas ou semi-socialistas 
por uma organização efetiva da classe operária que levasse à luta. Os estatutos 
primitivos, assim como a alocução inaugural, mostram-no desde o primeiro instante. 
Além disso a Internacional não poderia afirmar-se se a marcha da História já não 
tivesse despedaçado o regime de seitas. O desenvolvimento das seitas socialistas e o 
movimento operário real mantêm uma relação inversa constante. Enquanto tais seitas 
se justificam, a classe operária não está madura para um movimento autônomo. Tão 
logo atinja a maturidade, todas as seitas se tornam reacionárias por essência. No 
entanto, na história da Internacional, repete-se o que a história mostra em toda parte. 
O que envelheceu procura reconstruir-se e manter-se no próprio interior da forma 
recém-adquirida. E a história da Internacional foi uma luta contínua do Conselho 
geral contra essas seitas e tentativas amadorísticas que, no quadro da Internacional, 
procuravam se afirmar contra o movimento real da classe operária. (MARX, 1871, 
apud GIANOTTI, 1978, p. XIX-XX)
Aquilo que Marx denominava de “seitas” eram os grupos 
proudhonianos franceses, os lassalianos alemães e a Aliança Democrática 
Socialista, de Bakunin (1814-1876), de tendência anarquista. Esses 
grupos representavam posições teóricas e políticas divergentes da Marx 
e do Conselho Geral da Internacional, e a impossibilidade de unificação 
entre essas tendências levou ao fim da Internacional, que ficou conhecida 
como Primeira Internacional.
Apenas em 1867, Marx produziu o primeiro volume de o Capital 
(MArx, 1956, vol. 1), no qual analisou a natureza da mercadoria e a 
natureza do capital. É uma obra de leitura difícil, que teve bastante 
dificuldade de divulgação e aceitação no mundo acadêmico, embora se 
constituísse quase que imediatamente em referência para os movimentos 
políticos de esquerda.
O segundo volume de o Capital, sobre a circulação dos capitais, foi 
publicado apenas após a morte de Marx, em 1885. O mesmo aconteceu 
com o terceiro volume, que discute o processo capitalista em sua totalidade, 
publicado em 1895 (MArx, 1956, vol. 2 e 3). Esses dois volumes foram 
editados por Engels, a partir dos manuscritos de Marx.
Marx permaneceu em seu trabalho em o Capital até o final de sua 
vida. Faleceu em Londres, em 14 de março de 1883.
Engels ainda continuou seu trabalho, editando o segundo e o terceiro 
volumes de o Capital. Em 1877, publicou o senhor e. Dühring subverte 
a ciência, mais tarde conhecido como o Anti-Dühring (ENGELS, 1976); 
em 1880 retomou alguns textos do Anti-Dühring para publicar na revue 
socialiste, de Paris, textos esses que mais tarde seriam editados em livro 
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com título de Do socialismo Utópico ao socialismo Científico (ENGELS, 
1981). Em 1884, publicou A origem da Família, da Propriedade Privada e 
do estado, que teve uma nova edição com sensíveis acréscimos em 1891 
(ENGELS, 1982).
Engels faleceu em 5 de agosto de 1895. Seu corpo foi cremado e as 
suas cinzas foram lançadas ao mar, em Eastbourne, na Inglaterra.
A contribuição de Marx e Engels para a historiografia é capital 
para a compreensão da história, dinâmica e estrutura das sociedades, 
principalmente a capitalista, como você verá a seguir, na Unidade II.
Parabéns! Você concluiu o estudo da Unidade I de seu curso de Teoria da História III. Nesta 
Unidade, você teve a oportunidade conhecer mais sobre Marx, Engels e as ideias dos dois autores 
sobre a sociedade e a história.
Nas primeiras seções, foi possível você acompanhar a formação e a ruptura de Marx com o idealismo 
hegeliano e com os “hegelianos de esquerda”. Depois você viu o gradativo deslocamento das ideias de 
Marx para uma postura mais socialmente engajada, fundada no materialismo dialético. Acompanhou o 
encontro de Marx com Engels e tomou contato com a importante produção teórica conjunta de ambos. 
Conheceu algumas das faces da militância política de Marx, as perseguições que ele sofreu por causa 
de suas ideias e pôde constatar que Marx vivenciou seu postulado teórico de que não há como separar 
a teoria e a prática da vida social e política.
Continue estudando com afinco e persevere no processo de conhecimento sobre as diferentes 
formas de conceber e escrever a história que temos trabalhado. Com certeza, você sentirá o resultado 
em sua prática acadêmica e, mesmo, em sua vida pessoal e social.
Bom estudo!
1. Escreva um texto curto, de no máximo 20 linhas, sobre a relação entre a postura teórica e a 
militância política na vida de Karl Marx.
2. Você concorda com a seguinte afirmação de Marx: “na produção social da própria existência, os 
homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade”? Explique sua 
concordância ou discordância.
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marx, engels e a História
ObjetivOs de aprendiZaGem
Compreender os fundamentos das idéias de Karl Marx e Friedrich Engels sobre ■
a História.
Tomar contato com os principais conceitos e ferramentas de análise hstórica ■
propostos por Marx e Engels.
rOteirO de estudOs
SEÇÃO 1 - O Materialismo Histórico ■
SEÇÃO 2 - O Conceito de Modo de Produção ■
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pARA iNÍciO De cONveRSA
Para se abordar Marx e Engels como historiadores, é preciso assumir 
que a confusão interpretativa existente quanto à obra de Marx e Engels se 
deve, no campo da história e da historiografia, provavelmente ao fato de que
Mesmo que eles não se reivindicassem historiadores, o pensamento de 
Marx e Engels é alicerçado em uma forte base histórica. 
Entretanto, esse campo da história no pensamento marxiano e de 
Engels não foi por eles sistematizado de forma metodológica.
Essa contribuição não particularizada e sem compartimentos 
estanques, epistemologicamente, construiu-se assim pela própria visão 
de Marx e Engels sobre a indissociabilidade entre teoria e prática 
social, esta última tomada em sua abrangência mais ampla e radical, a 
revolucionária.
Nenhum deles desfrutou (ou ostentou) a condição de historiador. Não obstante, a 
orientação que infundiram à crítica da especulação filosófica, da dialética hegeliana, da 
economia política e do socialismo utópico os converteu emfundadores das ciências sociais 
(ou, como eles preferiam dizer, da ciência da história). (FERNANDES, 1986, p. 11) 
Ambos pensavam que a história era a verdadeira ciência ou a ciência magna entre as 
ciências sociais. Se tivessem de contrapor alguma ciência à física newtoniana, ela não 
seria a economia política (uma emanação ideológica dos interesses da burguesia), mas a 
história. (FERNANDES, 1986, p. 12)
É possível separar, no estudo de suas contribuições empíricas e teóricas, a história da 
economia, da sociologia, da psicologia ou da política. Contudo, tal separação ocorre por 
conta dos analistas, empenhados na avaliação de sua importância para ulterior desta ou 
daquela disciplina. (FERNANDES, 1986, p. 12)
O mesmo sucede com a relação entre teoria e prática. O critério de verificação da verdade, 
na pesquisa histórica, estaria na ação. Um conhecimento teórico infundado ou incompleto 
não permitiria introduzir mudanças revolucionárias na sociedade. Sem a dimensão 
histórica do papel político do proletariado na luta de classes, a ciência da história nem 
seria possível – não teria razão de ser ou de existir – e tampouco teria como provar a 
verdade e a validade de sua teoria (em sentido figurado, careceria de seu laboratório e 
dos meios para as experiências cruciais). Ao contrário dos modelos liberal-naturalistas 
de explicação nas ciências sociais, não estabeleciam um longo “intervalo técnico” entre 
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a descoberta da teoria e sua aplicação. Em sua relação ativa com a transformação da 
sociedade burguesa e a maturação de uma nova época histórica revolucionária, as classes 
operárias absorvem rapidamente, em sua prática social e política, a teoria que explica 
com objetividade e independência indomável a forma de constituição, desenvolvimento e 
dissolução dessa sociedade. (FERNANDES, 1986, p. 13)
Assim, é impossível obter dos escritos de Marx e Engels uma 
sistematização metódica de sua teoria da história. Isso se evidencia em 
uma primeira leitura das suas principais obras, mas,
Em concordância com o acima exposto, não se pretende aqui 
construir uma “teoria da história” de Marx e Engels, embora seja 
óbvio que seu pensamento constitui elementos de uma. Quer-se, sim, 
analisar o instrumental de compreensão e análise histórica que se 
encontra disperso e fragmentado nos seus diversos escritos.
A formação de Marx se deu, como já vimos, sob influência 
da filosofia de Hegel, de caráter idealista, que era hegemônica na 
Alemanha da primeira metade do século xIx. A ruptura com o idealismo 
de Hegel e a trajetória de Marx rumo ao materialismo histórico tiveram 
seu marco inicial em seu contato, enquanto secretário da redação da 
Gazeta renana, com o caso dos “roubos de lenha”. Nesse momento, 
Marx compreendeu a real função do direito: a proteção da propriedade 
privada, como decorrência das “condições de existência material”.
já em 1843, com a redação da Crítica da Filosofia do Direito de 
Hegel, Marx demonstrou que não é o Estado que elabora a sociedade 
civil, mas, inversamente, é a sociedade civil que constrói o Estado.
Após o estudo dos economistas políticos ingleses Adam Smith, 
David ricardo e Thomas Malthus, em seus Manuscritos econômico-
filosóficos de 1844,
Infelizmente, os intelectuais – mais precisamente os acadêmicos – marxistas, perderam 
muito tempo em repetições de uma sistematização do marxismo que é estéril para o 
enriquecimento daquela obra científica. Misturando os papéis acadêmicos com as 
tarefas de intelectuais de partido, deixaram à margem o que era essencial para a 
ciência: encetar e multiplicar as investigações originais, que usassem menos palavras 
como ”marxismo”, “materialismo dialético”, “contradição”, etc. (ou certas palavras 
rebarbativas, que não se encontram em Marx), e revelassem mais o verdadeiro 
espírito da análise e explicação causal subjacentes a O Capital. K. Marx e F. Engels 
produziram fora do mundo acadêmico e contra a corrente. [...] Eles não eram apenas 
escritores “engajados” e “divergentes”. Inauguraram um tipo de pesquisa histórica 
revolucionária, em sua forma e em seu conteúdo. (FERNANDES, 1986, p. 14)
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Marx descobre o mecanismo da alienação: «O operário está a respeito do seu trabalho 
na mesma relação que a respeito de um objecto estranho»; e sublinha o papel da 
história «que é criação do homem pelo homem através do trabalho e o confronto com 
o mundo». (BOURDÉ & MARTIN, 1990, p. 154)
SeÇÃO 1
O mATeRiALiSmO HiSTóRicO
Mas é após a publicação de A sagrada família e de A ideologia 
alemã que Marx constituiu os fundamentos do materialismo histórico. 
Foi necessária, porém, a experiência da militância política e de mais 
de dez anos de estudo para que ele condensasse as ideias básicas do 
materialismo histórico no breve Prefácio à Contribuição para a Crítica 
da economia Política (MArx apud FErNANDES, 1983, p. 233-234), de 
1859, cujo excerto central está no ANExO II, que será abordado agora 
com um pouco mais de atenção.
No Prefácio, Marx enunciou os conceitos fundamentais do 
materialismo histórico. O primeiro é o de forças produtivas, que 
compreende os meios de produção e a força de trabalho.
Convém ressaltar que, para Marx, a importância das forças produtivas 
é menos pelo seu estado, do que por seu estágio de desenvolvimento, ou 
seja, pelo nível de seu aproveitamento na produção vida material.
Diretamente ligado à questão das forças produtivas está o conceito 
de relações de produção, as quais são construídas no campo do social 
para articular a produção da vida material dentro de um determinado 
modo de produção. Esse conceito “remete para as relações sociais que os 
homens estabelecem entre si a fim de produzirem e de dividirem entre si 
As forças produtivas compreendem as fontes de energia (madeira, carvão, petróleo, 
etc.), as matérias primas (algodão, borracha, minério de ferro, etc.), as máquinas 
(moinho de vento, máquina a vapor, cadeia de montagem, ferramentas de todos os 
gêneros); ao examiná-la mais de perto, comportam também conhecimentos científicos 
e técnicos (por exemplo, as invenções de Lavoisier que conduzem aos fabricos da 
indústria química) e os trabalhadores (segundo seu peso demográfico, a sua repartição 
no espaço, a sua qualificação profissional). As forças produtivas não são simplesmente 
materiais, são também humanas. ( BOURDÉ & MARTIN, 1990, p. 154)
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os bens e serviços”. (BOUrDÉ & MArTIN, 1990, p. 154)
As relações de produção abrangem os espaços do econômico, do 
político, do religioso e da estrutura social, e se definem pela propriedade 
econômica das forças produtivas. Porém, “o binômio forças produtivas /
relações de produção subjaz, em qualquer modo de produção, ao conjunto 
dos processos da sociedade, e não apenas ao processo econômico”. 
(HArrIS apud BOTTOMOrE, 1988, p. 157)
As forças produtivas e as relações de produção se articulam naquilo 
Marx chamou de “estrutura econômica da sociedade, a base real sobre 
a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política”. (MArx apud 
FErNANDES, 1983, p. 233)
Assim, a estrutura − ou infraestrutura − econômica
As relações de produção e classe alicerçam a superestrutura 
jurídica e política, à qual correspondem formas sociais determinadas 
de consciência. A superestrutura é mais facilmente compreensível. Ela 
abrange o complexo institucional das diferentes sociedades em seus 
diversos aspectos, principalmente naqueles relativos à organização e 
formas do Estado e às instituições jurídicas e políticas.
Outra noção de relevo – que é de determinação mais difícil, pois 
Marx se refere a ela de forma bastante vaga − é a de consciência social.
Diante disso, é possível interpretar a visão de Marx sobre a 
constituição das sociedades de duas maneiras distintas:
não é, portanto, concebida como um conjunto dadode instituições, unidades produtivas 
ou condições materiais, mas antes como a soma total das relações de produção 
estabelecidas pelos homens ou, em outras palavras, das relações de classe que, entre 
eles, se estabelecem. (LARRAIN apud BOTTOMORE, 1988, p. 27)
Entre as suas formas, é possível alinhar as expressões literárias e filosóficas, desde 
os tratados de Platão, Aristóteles ou Cícero, passando pelos ensaios de Kant, Voltaire 
ou Rousseau até os romances de Balzac, Stendhal ou Flaubert; é lícito colocar as 
doutrinas religiosas, quer se trate dos mitos respeitantes aos deuses gregos, do 
dogma da trindade na Igreja Cristã ou do sistema simbólico da franco-maçonaria; e 
devem classificar-se as criações artísticas, das pirâmides de Gizé e dos templos de 
Karnak aos quadros de Miguel Ângelo, Rafael ou Ticiano, até as esculturas de Rodin 
ou Zadkine. Todas estas formas de consciência social são qualificadas de «formas 
ideológicas. (BOURDÉ & MARTIN, 1990, p. 155)
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Em duas, ou em diversas instâncias de constituição da sociedade, o 
que realmente importava para Marx eram as articulações entre elas e as 
formas através das quais essas articulações se revelavam.
A formulação do todo dessas articulações - aplicado ao estudo de 
uma, ou várias sociedades afins - construiria um conceito fundamental 
para o materialismo histórico: o modo de produção. Para Marx, “o modo de 
produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e 
intelectual”. (MArx apud FErNANDES, 1983, p. 233)
No seio do marxismo, há várias interpretações sobre a natureza, 
a forma e até a quantidade dos modos de produção. A tendência 
economicista tende a reduzir diretamente todos os fenômenos que se 
situam ao nível da superestrutura aos mecanismos que dependem do 
nível da infraestrutura, ou seja, propõe uma determinação concreta da 
infra sobre a superestrutura. (HArNECKEr, [s.d.], p. 133 ss)
Louis Althusser, em Para ler o Capital (ALTHUSSEr; rANCIÈrE; 
MACHErEY, 1979), apresenta uma visão diferenciada e mais fundada 
nas mediações entre infra e superestrutura, porém com determinação, em 
última instância, do econômico (BOUrDÉ & MArTIN, 1990, p. 156).
já Pierre Vilar vê uma tríplice dimensão de originalidade no conceito 
de modo de produção:
Uma primeira interpretação consiste em encarar uma espécie de bipolarização: por um 
lado, a infra-estrutura econômica; por outro a superestrutura ideológica; entre esses 
dois pólos, ligações desenham a arquitetura da sociedade. Uma segunda interpretação 
conduz a imaginar um escalonamento: na base, se assentam as actividades econômicas, 
que suportam as relações sociais, que subentendem as instituições políticas, que dão 
forma ao discurso ideológico; numa construção destas, nada proíbe distinguir andares 
intermédios. (BOURDÉ & MARTIN, 1990, p. 155-156)
SeÇÃO 2
O cONceiTO De mODO De pRODuÇÃO
O conceito central, o todo coerente, o objeto teórico de Marx é o modo de produção, 
como estrutura determinada e determinante. Mas sua originalidade não é a de ser um 
objeto teórico. É a de ter sido, e continuar sendo, o primeiro objeto teórico a exprimir 
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um todo especial, enquanto os primeiros esboços de teoria, nas ciências humanas, 
se limitavam ao econômico e tinham visto nas relações sociais dados imutáveis (a 
propriedade da terra para os fisiocratas) ou condições ideais a serem preenchidas 
(liberdade e igualdade jurídicas para os liberais).
A segunda originalidade, como objeto teórico, do modo de produção é ser uma 
estrutura de funcionamento e de desenvolvimento, nem formal nem estática. A 
terceira é que essa estrutura implica o princípio (econômico) da contradição (social), 
contudo a necessidade de sua destruição como estrutura, de sua “desestruturação”. 
(VILAR apud LE GOFF & NORA, 1979, p. 154-155)
E Fernand Braudel, um dos principais historiadores da Escola dos 
Annales, vê em Marx o construtor de um modelo de análise, embora 
critique o mau uso de suas ideias
Braudel certamente se referia à apropriação determinista e 
mecanicista feita da teoria dos modos de produção por STáLIN (1979) e 
BUKHArIN ([s.d.]), dentre outros.
Todavia, para definir modo de produção, a melhor fonte ainda é o 
pensamento do próprio Marx, num texto no qual, curiosamente, o termo 
modo de produção não aparece:
Marx apresentou, inicialmente, de forma difusa, a dinâmica de 
sucessão dos modos de produção em A ideologia Alemã e no Manifesto 
do Partido Comunista (ver Anexo 2), em que ele enunciava os modos de 
O marxismo é uma multidão de modelos. Sartre protesta contra a rigidez, o 
esquematismo, a insuficiência do modelo, em nome do particular e do individual. 
Protestarei como ele (em estes ou aqueles matizes a menos), não contra o modelo, 
mas contra a utilização que dele se faz, que muitos se julgaram autorizados a fazer. 
O gênio de Marx, o segredo de seu poder prolongado, deve-se ao fato de que foi o 
primeiro a fabricar verdadeiros modelos sociais, e a partir da longa duração histórica. 
Esses modelos foram congelados em sua simplicidade ao lhes ser dado o valor de lei, 
de explicação prévia, automática, aplicável a todos os lugares, a todas as sociedades. 
(BRAUDEL, 1978, p. 75-76.)
A forma econômica específica pela qual o trabalho excedente não pago se extorque 
dos produtores diretos determina a relação dominadores-dominados, tal como esta 
nasce diretamente da própria produção e, por sua vez, age sobre ela como elemento 
dominante. Aí se fundamenta toda a formação da comunidade econômica, que surge 
das próprias relações de produção, e, por conseguinte, a estrutura política que lhe é 
própria. É sempre na relação direta entre os proprietários dos meios de produção e os 
produtores diretos – uma relação que corresponde, sempre, naturalmente, a um dado 
nível de desenvolvimento dos métodos de trabalho e, portanto, da sua produtividade 
social – que encontramos o recôndito segredo, a base oculta de toda estrutura social. 
(MARX apud HIMMELWEIT, apud BOTTOMORE, 1988, p. 268).
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produção tribal, antigo, feudal e capitalista. Mais tarde, em 1858, nos 
Princípios de uma Crítica da economia Política,
Contudo, a sua enunciação mais completa, embora sintética, se dá 
no texto do Prefácio (ver Anexo 3):
Marx definiu aí uma questão sobremaneira importante e 
fundamental, que permitiu o avanço teórico em relação ao dogmatismo 
ortodoxo stalinista. Ele deixou aberta tanto a quantidade de modos 
de produção possíveis quanto a sua sequência, o que relativizava, 
para não dizer desautorizava, a posterior interpretação ortodoxa da 
limitação e da sequencialidade dos modos de produção (KIErNAN 
apud BOTTOMOrE, 1988, p. 137-138).
As influências da produção teórica e conceitual construídas 
por Marx e Engels são ainda hoje apropriadas por historiadores das 
mais diversas correntes e matizes ideológicos, fazendo, já, parte do 
patrimônio teórico da historiografia contemporânea em suas diferentes 
acepções.
A resistência ao historicismo metódico burguês alemão e francês 
não se dá, porém, apenas pelo materialismo histórico. Nas primeiras 
décadas do século xx começa paulatinamente a surgir na França 
uma efervescência teórica no campo das ciências sociais e da história, 
fundada na recusa do historicismo metódico e apontando para um 
fazer histórico inter e pluridisciplinar. Essa tendência, no campo da 
história, vai se expressar, de forma concreta e definida, pela escola 
dos Annales, como você verá na Unidade III a seguir.
Marx fala de uma «comunidade tribal» aparecendo como a «a condição da utilização 
comum do solo»; e faz alusão a uma «propriedade germânica», a uma «propriedade 
eslava», distintas da «propriedade romana». (BOURDÉ & MARTIN, 1990, p. 157)
Em grandes traços, podem ser designados, como outras tantas épocas progressivasda formação econômica da sociedade, os modos de produção asiático, antigo, feudal e 
burguês moderno. As relações de produção burguesas são a última forma antagônica 
do processo de produção social, antagônica, não no sentido de um antagonismo 
individual, mas de um antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos 
indivíduos; as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa 
criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolver este antagonismo. 
(MARX apud FERNANDES, 1983, p. 234)
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UNIDADE 2
Nesta Unidade você tomou contato com as idéias de Marx e Engels sobre a história e o 
processo histórico. Conheceu a visão de sociedade em infra e superestrutura proposta por Marx. 
Viu que para Marx a dinâmica social se dá na relação dialética entre o desenvolvimento das 
forças produtivas e as relações de produção dentro de uma sociedade, o que gera os modos de 
produção. Pôde constatar que para Marx o processo histórico é um processo dinâmico, dialético, 
no qual o desenvolvimento das forças produtivas interage de forma não harmônica com as relações de 
produção estabelecidas e que isso gera um embate social que ele chama de luta de classes, que seria, para 
Marx, o motor da história.
Você soube, também, que não há uma unidade no pensamento dos seguidores de Marx a respeito 
da interpretação e aplicação de suas teorias, mas que o pensamento de Marx e Engels foi muito além do 
espaço teórico marxista, sendo hoje um capital teórico de toda ciência social, filosofia e historiografia da 
Humanidade.
Na próxima Unidade você conhecerá a construção de outra visão historiográfica de contraposição 
ao historicismo metódico: a Escola dos Annales. Ali você acompanhará o processo de ruptura com o 
historicismo metódico cientificista, que ocorreu na França no início do século XX, e o surgimento de uma 
proposta historiográfica fundada no fazer do historiador e na inter e transcidisciplinaridade da produção do 
conhecimento. Analisará também as ideias e a produção de alguns dos principais expoentes das chamadas 
primeira e segunda geração dos Annales.
1. Depois de ler o conteúdo da Unidade II, escreva um texto com a síntese dos principais fundamentos 
da teoria dos modos de produção que são ali tratados.
2. Depois de ler toda a Unidade II, escreva um texto em que expresse sua opinião pessoal sobre 
Marx e sua visão de história. E conclua o texto explicando se essa opinião é a mesma que você possuía 
antes da leitura. 
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A eScOLA DOS ANNALeS
ObjetivOs de aprendiZaGem
Tomar contato com o processo de ruptura em relação ao historicismo metódico ■
cientificista na França.
Conhecer	o	processo	de	criação	e	as	diferentes	formatações	dos	 ■ Annales.
Compreender	 as	 principais	 questões	 teóricas	 e	 historiográficas	 postas	 na	 ■
dinâmica da Escola dos Annales.
Tomar contato com a trajetória teórica e a produção histórica de alguns dos ■
principais historiadores da primeira e da segunda geração dos Annales.
rOteirO de estudOs
SEÇÃO 1 - A Reação Contra a Escola Metódica ■
SEÇÃO 2 - ■ Os Annales
SEÇÃO	3	-	As	Questões	Teórico-Historiográficas	 ■
SEÇÃO 4 - Alguns Historiadores da Escola dos ■ Annales
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UNIDADE 3
pARA iNÍciO De cONveRSA
Olá! Seja bem-vindo à Unidade III da disciplina Teoria da 
História III. Aqui você terá contato com uma das mais importantes e 
revolucionárias correntes da historiografia contemporânea. Conhecerá 
a escola historiográfica que deslocou o eixo da produção histórica do 
campo do cientificismo da Escola Metódica e do campo ideológico do 
Materialismo Histórico para o espaço do fazer histórico como campo 
privilegiado de produção do conhecimento histórico. Essa escola, 
que é a chamada Escola dos Annales, surgiu na França nas primeiras 
décadas do século xx. Ela rompeu com as barreiras que continham a 
produção histórica nos estreitos limites do método histórico cientificista 
e afirmou a essencial natureza multidisciplinar e transdisciplinar da 
escrita da história. 
Ao longo desta Unidade, você tomará contato, na Seção 1, 
com o movimento intelectual de recusa e superação do historicismo 
cientificista da Escola Metódica, surgido na passagem do século xIx 
para o século xx entre pensadores de diversas ciências humanas e 
sociais e também entre alguns historiadores.
Na Seção 2, você conhecerá a conjuntura que resultou na criação 
dos Annales, em 1929, por Marc Bloch e Lucien Febvre. Acompanhará, 
também, a trajetória da revista, suas mudanças de nome e dificuldades 
de manutenção até a sua consolidação no pós-II Guerra Mundial.
A Seção 3 apresentará a você as principais questões teóricas e 
historiográficas postas pelo grupo das duas primeiras gerações dos 
Annales, em suas dimensões apologéticas e propositivas.
E, finalmente, a Seção 4 permitirá que você tenha contato com 
a trajetória pessoal e com a produção daqueles que são considerados 
os principais expoentes das duas primeiras gerações de historiadores 
alinhados às propostas expressas nos Annales: Marc Bloch, Lucien 
Febvre e Fernand Braudel.
Será um percurso com certeza fascinante, não apenas pelo 
interesse historiográfico nas ideias e nas produções do grupo dos 
Annales, mas também pela profunda marca que esses historiadores 
tiveram em suas vidas pessoais por causa de suas ideias políticas e 
históricas.
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UNIDADE 3
Estude com afinco, e você verá que, a partir desta Unidade, sua 
visão sobre a História e sobre a escrita da história será sensivelmente 
confrontada e influenciada pela visão dos historiadores dos Annales.
Tenha um bom estudo!
A conjuntura da passagem do século xIx para o século xx foi 
marcada, na Europa, e em especial na França, por um processo de 
renovação nas perspectivas e concepções nas ciências humanas e 
sociais.
Em relação à história, esse processo se afirmava por uma série de 
questionamentos à hegemonia da escola metódica e de sua concepção 
linear, factual e política do conhecimento histórico. Surgiram várias 
vozes, de diversas formações, questionando o caráter e os limites da 
produção metódica da história.
Esses questionamentos não eram de todo novos. já nos meados do 
século xIx, a produção de Michelet (que você já conheceu na Unidade 
I da Disciplina Teoria da História II) e Burckhardt (1991) sobre o 
renascimento apontava para uma ruptura historiográfica com a visão 
rankeana de História. Marx, como já foi visto na Unidade I, também 
propunha uma visão diferenciada de ranke e seus discípulos.
Porém foi a história econômica, num primeiro momento, que 
encabeçou a luta contra a história política e factual. já nas duas últimas 
décadas do século xIx, Gustav Schmoller na Alemanha, William 
Cunnigham e j. E. Theodor roger na Inglaterra, Henri Hauser, Henri 
Sée e Paul Mantoux na França, dentre outros, estavam trabalhando com 
uma história econômica e num processo de contestação do “domínio, 
ou como dizia Schmoller, do ‘imperialismo’ da história política”. 
(BUrKE, 1991, p. 19)
Mas essas restrições não aconteciam apenas no campo da 
produção histórica.
SeÇÃO 1
A ReAÇÃO cONTRA A HiSTóRiA meTóDicA
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Os fundadores da nova disciplina, a sociologia, expressavam pontos de vista 
semelhantes. Augusto Comte ridicularizava o que chamava de “insignificantes 
detalhes estudados infantilmente pela curiosidade irracional de compiladores cegos 
de anedotas inúteis”, e defendia o que chamou, numa frase famosa, “uma história sem 
nomes”. Herbert Spencer queixava-se de que “As biografias dos monarcas (e nossas 
crianças aprendem pouco mais do que isso) pouco esclarecem a respeito da ciência 
da sociedade”. Da mesma forma Durkheim

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