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Gravidez e adolescência a vivencia no ambito familiar e social

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 41-47, out/dez 2011 Adolescência & Saúde
41
RESUMO
Objetivo: A gravidez na adolescência tem causado sérias implicações por ser um período de transformações que acaba 
atingindo a adolescente e seus projetos sociais como um todo, e se apresenta como um fenômeno que vem sendo discutido 
a cada ano no Brasil. Por ser motivo de preocupação, este estudo buscou compreender o signifi cado da gravidez na 
adolescência e os fatores nela envolvidos, tendo como objetivo analisar as mudanças ocorridas no cotidiano familiar e social 
de adolescentes grávidas, bem como descrever a reação da família e do parceiro na descoberta da gravidez, investigando 
os motivos que levaram a adolescente a engravidar precocemente e as principais consequências na sua vida. Métodos: 
Utilizou-se um estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado em uma maternidade no interior de Goiás; a amostra 
foi composta por 12 adolescentes grávidas entre 14 e 19 anos. Resultados: Foram identifi cadas três categorias a partir dos 
dados coletados: a falta de prevenção, o envolvimento familiar e do parceiro e a interrupção escolar. Conclusão: Pode-se 
concluir que atualmente a gravidez na adolescência tem causado várias mudanças na vida desses adolescentes, levando-nos 
a reconhecer que este problema necessita de atenção, pois gera sérias intercorrências, biológicas, familiares e sociais que se 
refl etem na vida do adolescente e da sociedade como um todo.
PALAVRAS-CHAVE
Gravidez na adolescência, família, contracepção, abandono escolar.
ABSTRACT
Objective: Pregnancy during adolescence has serious implications, ushering in changes that affect adolescents and their 
life projects as a whole, with this phenomenon discussed year after year in Brazil. As this is a matter of much concern, this 
study strives to understand the meaning of teen pregnancy, and the factors involved, analyzing changes in family routines 
and the social lives of pregnant girls, describing the reactions of their families and partners on discovering the pregnancy, 
investigating the reasons why these teenagers became pregnant and exploring the main consequences on their lives. 
Methods: Using a qualitative approach, this descriptive study was conducted at a maternity clinic in upstate Goiás, with 
a sample of twelve pregnant adolescents between 14 and 19 years old. Results: Three major aspects were identifi ed from 
the data collected: lack of prevention, family and partner involvement, and dropping out of school. Conclusion: This leads 
to the conclusion that teenage pregnancy today causes many changes in the lives of these adolescents, prompting us to 
acknowledge that this problem demands attention, giving rise to serious biological, social and family inter-occurrences that 
are refl ected in the lives of adolescents and society a whole.
KEY WORDS
Teen pregnancy, family, contraception, dropping out of school.
Adolescentes grávidas: a vivência no 
âmbito familiar e social
Pregnant teens: experiences at the family and social levels
Mirlene Garcia 
Nascimento1
Patricia Ferreira 
Xavier2 
Rafaella Domingos 
Passos de Sá2
1Mestranda Ciências Ambientais e Saúde – Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Especialista em Saúde Pública com ênfase em 
Saúde da Família – PUC-GO; Professora Assistente do Departamento de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica.
2Graduanda do Curso de Enfermagem Centro Universitário UniEvangélica.
Mirlene Garcia Nascimento (mirlenegarcia@yahoo.com.br) Av. Senador Ramos Caiado SN q. b Lt 28 Residencial Dominic
Apto 103-A, Maracanã, Anápolis-GO, CEP: 75040-320
Recebido em 14/12/2010 - Aprovado em 15/04/2011
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ARTIGO ORIGINAL
Adolescência & Saúde
42
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 41-47, out/dez 2011 
MÉTODOS
Para desenvolver esta pesquisa optou-se 
pelo estudo descritivo com abordagem quali-
tativa, realizada em uma cidade no interior de 
Goiás, em uma maternidade, onde é desenvol-
vido o programa de assistência ao pré-natal no 
qual são atendidas mensalmente cerca de 100 
adolescentes grávidas. 
Após ter aceitado fazer parte do estudo, os 
acompanhantes responsáveis pelas participantes 
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Es-
clarecido, autorizando a participação na pesquisa. 
A amostra foi composta por 12 adolescen-
tes grávidas, em qualquer idade gestacional, 
que tinham idade entre 14 e 19 anos e que 
foram autorizadas por seus responsáveis a par-
ticipar da pesquisa atendendo aos critérios de 
inclusão do estudo. Os dados foram coletados 
durante o período de junho a agosto de 2010.
Para a coleta de dados utilizou-se a entre-
vista semiestruturada, por meio de um roteiro 
onde as respostas eram gravadas, utilizando a 
técnica de saturação de dados para encerrar a 
coleta de dados, que é o critério de fi nalização 
quando os objetivos são atendidos.
Este estudo foi aprovado pelo comitê de 
ética em pesquisa do Centro Universitário de 
Anápolis – UniEvangélica – e recebeu o pare-
cer favorável conforme o protocolo 0125/2009, 
atendendo aos princípios éticos da Resolução Nº 
196/96, do Conselho Nacional de Saúde.
A partir da análise dos dados coletados, 
que utilizou como ferramenta a análise proposta 
por Bardin feita através de um quadro a partir da 
fala das participantes, observando as caracterís-
ticas comuns e agrupando o que há de comum 
nos elementos, foram evidenciadas três catego-
rias relacionadas aos objetivos do estudo, sendo 
abordadas a seguir. 
FALTA DE PREVENÇÃO
A gravidez durante a adolescência e re-
conhecida como precoce eleva os riscos de 
INTRODUÇÃO
A adolescência é o período em que ocor-
re a transição da passagem da infância para a 
vida adulta. A Organização Mundial de Saúde 
(OMS) delimita a adolescência como a segunda 
década de vida, ou seja, dos 10 aos 19 anos. 
Neste período ocorrem transformações bio-
lógicas, psicológicas e sociais relacionadas ao 
crescimento físico, maturação sexual, aquisição 
da capacidade de reprodução que permitem 
o desenvolvimento de uma identidade adulta 
inserida no meio social1.
Na atualidade vê-se o exercício da sexuali-
dade começando cada vez mais cedo, impulsio-
nado pela imposição social que leva crianças a 
adolescerem precocemente. A iniciação da ati-
vidade sexual pode gerar grandes consequên-
cias, uma delas é a gravidez indesejada que leva 
adolescentes a ingressarem na vida adulta rapi-
damente mesmo não estando preparadas psico-
logicamente, levando a jovem a mudar comple-
tamente seu modo de vida.
A gravidez na adolescência é um fenôme-
no que vem sendo discutido a cada ano no Bra-
sil, por ser motivo de preocupação devido às 
consequências. Atualmente é concebida como 
um problema de saúde pública, que pode ser 
evidenciado pela falta de educação sexual, pla-
nejamento familiar e pelo uso errôneo de mé-
todos contraceptivos. 
Este estudo buscou compreender o signi-
fi cado da gravidez na adolescência e os fatores 
nela envolvidos, por se tratar de um evento no 
qual, cada vez mais, ações são implementa-
das para evitar o aumento e o crescimento de-
sordenado na taxa de natalidade. A pesquisa 
aqui apresentada teve como objetivo principal 
analisar as mudanças ocorridas no cotidiano 
familiar e social de adolescentes grávidas, bem 
como descrever a reação da família e do par-
ceiro na descoberta da gravidez, investigando 
os motivos que levaram a adolescente a en-
gravidar precocemente e as principais conse-
quências na sua vida.
> >
ADOLESCENTES GRÁVIDAS: A VIVÊNCIA 
NO ÂMBITO FAMILIAR E SOCIAL
Nascimento et al.
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 41-47, out/dez 2011 Adolescência & Saúde
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mortalidade materna, de prematuridade e de 
baixo peso ao nascer. Além dessas consequên-
cias físicas para a adolescente e para o bebê, 
existem as consequências psicossociais, entre 
elas evasão escolar e redução das oportuni-
dades de inserção no mercado de trabalho, 
ocasionando, às vezes, insatisfação pessoal e 
manutençãodo ciclo de pobreza2.
Podemos observar nas entrevistas deste 
estudo que a falta de prevenção, entre adoles-
centes, foi o principal motivo relatado, levando 
à gravidez. Este comportamento pode ter sido 
causado pela desinformação do risco de expo-
sição tão precoce à gravidez e/ou pela falta de 
planejamento familiar.
Podemos observar nas seguintes falas:
“[...] na primeira acabei que engravidei neh 
[...]”(S.8)
“Haa foi falta de prevenção mesmo, eu não sabia 
que ia engravidando assim tão fácil”. (S.11)
Após experienciarem o risco de engravidar, 
estas adolescentes sentem-se mais refl exivas e 
reconhecem o risco real a partir da gravidez, 
não mais no imaginário, e, assim, defi nem um 
limite ao risco no cotidiano3.
Na gravidez na adolescência, na maioria 
das vezes, não ocorre um planejamento ou até 
mesmo qualquer forma de prevenção4.
”[...] bom foi, foi como se diz, foi sem querer neh, 
não foi planejado [...]”(S.8)
“[...] foi falta de prevenção mesmo, não tomava 
remédio, despreveni” (S.5)
Não planejar a gravidez é algo que está 
presente na vida da maioria dessas adolescen-
tes, e parece que o planejamento familiar é algo 
que não faz parte da vida e nem das histórias 
destas jovens mães5.
Apesar do aumento de conhecimentos e 
maior acesso aos métodos anticoncepcionais 
nas últimas décadas, grande proporção da po-
pulação de adolescentes sexualmente ativas ain-
da não previne a gravidez. Esse fato não é de 
fácil compreensão e, das várias possibilidades de 
justifi cativa desse fenômeno, esse conhecimen-
to seria muito útil na tomada de decisões acer-
ca da sexualidade e da contracepção. Assim, a 
maioria dos jovens sabe que é possível evitar a 
concepção, todavia, não possui conhecimentos 
sufi cientes para preveni-la.
“[...] na hora eu não pensei em prevenir e aconte-
ceu [...]”.(S.12)
A gravidez é considerada como um proble-
ma e reforça a ideia de que a adolescente possa 
apresentar vários comprometimentos como no 
crescimento, podendo também ter problemas 
emocionais, educacionais e outros. É comum 
considerar a gravidez precoce como indesejada, 
assim como a união que dela possa vir a surgir6.
É importante reiterar que a gravidez na 
adolescência pode acontecer pela falta de pre-
venção, descuido, pode ser indesejada ou até 
mesmo planejada, mas é necessário considerar 
as circunstâncias pessoais e sociais dessa ocor-
rência, para não correr o risco de reforçar, cada 
vez mais, comportamentos preconceituosos e 
discriminatórios, que desconsideram as capaci-
dades e os recursos das adolescentes para en-
frentar os desafi os da vida cotidiana6. 
O Ministério da Saúde enfoca que as ado-
lescentes engravidam sem planejamento, por 
falta de informação, difícil acesso a serviços 
especializados, desconhecimento de métodos 
anticoncepcionais e, muitas vezes, à procura de 
uma relação afetiva, de um objeto de amor ou, 
tão somente, devido à experimentação sexual7.
Em 2008, foi realizado um estudo, em São 
Paulo, com adolescentes grávidas, o qual mos-
trou que as adolescentes não estavam preocu-
padas com possíveis riscos associados à iniciação 
da atividade sexual precoce. As adolescentes 
que engravidaram sem ter planejado avaliaram 
que esta ocorrência foi fruto de ausência ou in-
sufi ciência de conhecimento e da difi culdade de 
acesso aos recursos anticoncepcionais; elas mes-
mas afi rmaram que a falta de controle sobre esta 
esfera da vida era inerente à condição feminina8. 
Outras, que tinham o conhecimento neces-
sário a respeito dos recursos de anticoncepção, 
disseram que não tinham destinado atenção 
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NO ÂMBITO FAMILIAR E SOCIAL
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adequada a esta questão e que, durante as fases 
iniciais do relacionamento entre adolescentes, a 
intimidade e a maturidade não são sufi cientes 
para um processo decisório e adoção de medi-
das de anticoncepção, de maneira segura8.
Outro estudo realizado no ano 2010, em 
Porto Alegre, mostrou que o anticoncepcional 
não é frequentemente usado, demonstrando 
que 8,8% das adolescentes disseram nunca 
usar esse método. Isso reforça a necessidade 
de um sistema ativo, capaz de propor políti-
cas públicas preventivas e efi cazes sobre a se-
xualidade e a reprodução humana. A falta de 
recursos fi nanceiros, acrescida da escassez de 
redes de atendimento, expõe os adolescentes 
aos comportamentos sexuais de risco e à in-
terrupção da gravidez9. Outros estudos mos-
tram que a ausência de um comportamento 
contraceptivo em jovens se encontra associada 
à ambiguidade de valores sociais em relação ao 
corpo, à sexualidade e ao gênero transmitido 
aos adolescentes10.
A escola tem um papel fundamental na 
educação sexual desses jovens, fazendo com 
que eles aprendam a fi siologia do seu corpo e as 
formas de prevenção de uma gravidez tão pre-
coce e até mesmo indesejada. Há no Brasil, em 
vigor, a Lei de nº 60 de 06 de agosto de 2009, 
estabelecendo o regime de aplicação da educa-
ção sexual no meio escolar, que visa a impor-
tância desta educação em estabelecimentos de 
ensino básico e do secundário em rede privada e 
cooperativa em todo território nacional.
Não basta promover ações preventivas de 
caráter prescritivo e baseadas exclusivamente 
em fatores biológicos da sexualidade. A sexuali-
dade caracteriza um tema que exige tratamento 
interdisciplinar e transversal ao ser abordado nos 
contextos educativos11.
Logo, como observamos neste estudo, 
a falta de prevenção foi um fator comum na 
causa da gravidez na adolescência, e esse fator 
pode estar relacionado ao défi cit de conheci-
mento sobre o uso de métodos contraceptivos, 
evidenciado pela imaturidade por pensar que 
não se engravida.
REAÇÃO DAS PESSOAS NO CONVÍVIO FAMILIAR NA 
DESCOBERTA DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Impacto familiar
A gravidez na adolescência tem causado 
grande impacto familiar, a partir do momento 
de sua descoberta, sendo observada cada vez 
mais como uma questão que afeta, na maioria 
das vezes, a mãe da adolescente no primeiro 
momento, por ser um acontecimento inespera-
do, mas que, com o passar do tempo, apresenta 
efeitos progressivamente positivos, fazendo com 
que passe a ter uma boa repercussão e aceitação 
por parte de todos os membros da família.
Ao analisar as respostas quando se trata da 
reação dos pais da adolescente grávida no mo-
mento da descoberta, pode-se destacar:
“Minha mãe fi cou com muita raiva de mim nossa…, 
ela fi cou um monte de dia sem falar comigo, mas 
agora ela ta de boa.” (S 11)
“Tirano minha mãe, minha mãe foi a que mais 
sentiu só que depois ela se conformou, aí ela já tá 
de boa comigo.” (S.10)
“Haa no primeiro momento foi um choque, aí de-
pois foi normal até apoiaram.” (S.1)
Quando citado o processo família na ocor-
rência da gravidez na adolescência passa a ser 
um tema ainda pouco descrito. Conhecer as 
experiências das famílias quando se deparam 
com esta situação é fundamental para os pro-
fi ssionais da área da saúde, a fi m de possibilitar 
assistência adequada a estas adolescentes no 
âmbito familiar12.
Em uma pesquisa sobre informações da 
sexualidade na adolescência no meio familiar, 
identifi cou-se que a sexualidade é vista pelos 
pais como sinônimo de ato sexual, tornando 
essa abordagem com suas fi lhas um entendi-
mento de proibição do sexo, levando a uma co-
municação e diálogo sobre sexualidade na famí-
lia cada vez mais difícil e distante da realidade13.
Com o passar do tempo, a notícia da gra-
videz no meio familiar passa a ser recebida com 
sentimentos mais positivos, ocasionando uma 
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NO ÂMBITO FAMILIAR E SOCIAL
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aceitação mais tranquila, com boas expectativas 
com relação ao nascimento da criança14. 
Assim, os acontecimentos identifi cados a 
partir da descoberta da gravidez na adolescên-
cia pelos familiares,sendo ela esperada ou não, 
devem ser um fato agora enfrentado pela ado-
lescente, contando com o apoio familiar, mas 
assumindo a responsabilidade de ser mãe, consi-
derando que essa experiência contribui também 
para seu desenvolvimento.
REAÇÃO DO PARCEIRO FRENTE À GRAVIDEZ
Compreende-se que a paternidade é um 
período de transformações para a vida adulta, 
passando a assumir um papel signifi cativo ad-
vindo de mudanças e readaptações para esta-
belecer novos papéis de responsabilidade. Não 
é apenas uma questão de transformações, mas 
também um problema social, que deve ser ana-
lisado e compreendido, pois implica em novos 
projetos no cotidiano de vida.
Estudos realizados abordam que o papel 
paterno nem sempre é retratado, pois focaliza-
se sempre o papel da mãe, e quando citam o 
papel do pai referem, na maioria das vezes, os 
que já moram com seus fi lhos, deixando vago o 
campo de pesquisas relacionadas a pais jovens e 
adolescentes15.
A paternidade na adolescência tem de-
monstrado a responsabilidade de assumir o fato 
da gravidez nas adolescentes, por se tratar de 
uma mudança que expressa frequentemente 
o desejo de se tornar homem e passar da vida 
jovem para a adulta, na qual, na maioria das 
vezes, quando frente à notícia, os adolescentes 
fi cam surpresos e até chocados.
Ao questionar sobre a reação no momen-
to da descoberta da gravidez, observou-se que 
a maioria dos parceiros teve uma boa aceitação, 
mas relatam enfrentar certa difi culdade no come-
ço por se tratar de um fator do qual decorreram 
várias mudanças na sua vida, o que pode ser ob-
servado a partir da fala de gestantes adolescentes.
“Da primeira vez que falei para ele, ele assustou […] 
depois fi cou contente reagiu normal, aí logo já con-
formou mais, mais assustou a primeira vez.” (S.5)
“Uai no começo ele fi cou assustado não queria 
nem acredita, mas depois ele foi aceitando e agora 
ele tá gostando.” (S.11)
Em estudo realizado na Universidade Esta-
dual de Londrina, com abordagem da paterni-
dade na adolescência, ao analisar a reação do 
pai no momento da descoberta da gravidez, ob-
servou-se que alguns pais no primeiro momento 
fi caram confusos e até assustados, porém depois 
tudo fi cou normalizado e a adolescente recebeu 
todo o apoio e aceitação de seu parceiro16; essas 
reações também foram relatadas pelas adoles-
centes entrevistadas.
Já para outros, a descoberta da gravidez 
não teve grande impacto; por sinal fi caram feli-
zes com a notícia e não apresentaram reação di-
ferente da esperada pelas próprias adolescentes 
grávidas que relatam sobre a reação de seus par-
ceiros no momento da descoberta da gravidez.
“Foi […] Ele não rejeitou em nenhum momento 
minha gravidez, aceitou muito bem, me apoiou 
em todos os sentidos e nenhuma reação ao con-
trário que eu esperava.” (S.8)
“Ele fi co muito feliz, na verdade foi ele que man-
dou eu fazer o exame de gravidez que ele tinha 
certeza que eu tava […]”(S.4)
Fica evidente que o fator da descoberta da 
gravidez na adolescência no âmbito familiar e 
pelo parceiro, no começo, é geralmente perturba-
dor por se tratar de um fato inesperado, mas que 
pode ser mais bem compreendido com o passar 
do tempo. Mas, sobretudo deve ser encarado pe-
las famílias como um tema a ser discutido no meio 
familiar para que se evitem novos confl itos.
INTERRUPÇÃO DA VIDA ESCOLAR
A gravidez na adolescência tem causado sé-
rias implicações por ser um período de transfor-
mações que acaba atingindo a adolescente e seus 
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projetos sociais como um todo, adiando possibi-
lidades de desenvolvimento, exigindo um maior 
comprometimento de suas ações, colocando fi m 
à liberdade e ao tempo que deveria ser dedicado 
a uma melhor preparação para o futuro.
Ao serem questionadas sobre as mudanças 
que ocorrem na sua vida social, após a confi rma-
ção da gravidez, foi evidenciado que a interrup-
ção dos estudos foi o que mais se repetiu. Logo 
se percebe que de acordo com as falas das ado-
lescentes, voltar à escola tem sido uma realidade 
cada vez mais distante de seus objetivos.
“[…] como eu já disse parei de estudar, parei de 
trabalhar, não trabalho mais, não estudo mais 
neh, pretendia fazer cursos, agora não faço mais, 
não vou fazer mais, e mudo neh, não tenho escola-
ridade fi z até o 1º ano não fi z mais, não completei 
meu curso, não trabalho, não arrumo emprego 
rsrsrrs só o 1º grau não dá, é isso aí.” (S.8)
Esta fala acima demonstra o que provoca o 
abandono da vida escolar para as adolescentes 
ao passar do tempo, podendo gerar um arre-
pendimento pelo tempo que foi perdido e que 
devia ser usado para uma qualifi cação da vida 
profi ssional para obter uma boa vida pessoal.
Essas mudanças, na maioria das vezes, se 
tornam um empecilho considerado como priori-
dade de um problema social, pois quase sempre 
se trata de mudanças com difíceis adaptações 
que envolvem um comprometimento da vida 
dessas adolescentes, levando ao abandono es-
colar e a não continuidade dos estudos resultan-
do em menor qualifi cação que passa a ser um 
obstáculo nos seus projetos de vida.
Um estudo realizado em 2006 mostra que 
a porcentagem de adolescentes que não fre-
quenta mais a escola após ter engravidado é de 
68,3%, com um aumento, no terceiro trimestre 
de gravidez, para 85,7%17.
A maternidade faz também com que as ado-
lescentes amadureçam mais rapidamente e pre-
cocemente e isto provoca refl exos imediatos em 
seus comportamentos: as adolescentes se tornam 
mais responsáveis em todos os sentidos13.
Podemos observar, nas seguintes falas, o 
grau de responsabilidade que as adolescentes 
grávidas adquiriram.
“Ah... eu assumi mais responsabilidade, fi quei mais 
adulta, no pensamento mudo muita coisa” (S.6).
“[...] criei mais responsabilidade porque não tinha 
nenhuma (risos)...”. (S.9)
A gravidez na adolescência não é um fenôme-
no homogêneo, pois tudo depende do contexto 
social no qual a adolescente está inserida. Na ca-
mada social média e alta, a gravidez tende a não 
prejudicar tanto o percurso de escolarização e pro-
fi ssionalização; já em classe social baixa, a adoles-
cente tem maior difi culdade em continuar e fi na-
lizar os estudos, encontrando mais obstáculos na 
sua profi ssionalização, porque, na maioria das ve-
zes, não pode contar com o apoio familiar e social. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gravidez precoce e indesejada, com o iní-
cio precoce da puberdade, muitas vezes se torna 
um período de grandes transformações, levando 
a várias implicações na família, favorecendo a 
possibilidade do desajuste familiar, impulsionan-
do, assim, a família e a adolescente a refazerem 
seus projetos de vida, o que, geralmente, desen-
cadeia a interrupção escolar e o abandono do 
trabalho pelo evento da gravidez agora existente.
Com esse estudo, percebemos que as esco-
las e os programas de saúde têm um papel fun-
damental na transmissão de conhecimentos na 
vida desses adolescentes, a partir de uma parce-
ria entre os Ministérios da Saúde e da Educação 
na realização de ações de prevenção abordan-
do temas como educação sexual e reprodutiva, 
buscando conscientizar esses estudantes sobre 
os meios para prevenir DST e evitar gravidez 
indesejada. São informações sobre esses temas 
que precisam ser transmitidas de forma correta 
e uniforme a toda população jovem, buscando 
maior compreensão dos mesmos para melhor 
prevenção desses acontecimentos.
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ADOLESCENTES GRÁVIDAS: A VIVÊNCIA 
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Logo, a sociedade vem passando por vá-
rias mudanças com relação à sexualidade dos 
adolescentes. A educação sexual tem sido vista 
como um meio de acesso ao início da atividade 
sexual e pouco discutida no ambiente familiar. 
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Hoje a gravidez na adolescência é um acon-
tecimento bastante comum, mas que precisa 
estar na pauta de toda a sociedade, pois gera 
sérias intercorrências biológicas, familiares e so-
ciais que refl etem na vida do adolescente e da 
sociedade como um todo.
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Nascimento et al. ADOLESCENTES GRÁVIDAS: A VIVÊNCIA 
NO ÂMBITO FAMILIAR E SOCIAL

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