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1Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 2 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 3Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 3 EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor O Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 telefone tocou e do outro lado da linha o homem se apresentou com uma voz firme, dizendo-se um leitor da Panorama da AQÜICULTURA. Falou que eu não o conhecia, mas que tinha um convite a me fazer, adiantando que ficaria muito honrado se eu o aceitasse. A seguir pôs-se a falar do seu passado, contando-me que sempre atuou na comercialização de pescados, e do seu desejo de fazer algo para impulsionar as vendas da tilápia processada. Pus-me a escutar, mas cá comigo, só lembrava que eu já tinha assistido a esse filme antes. A medida que a conversa evoluía, porém, foi dando pra perceber que o sonhador do outro lado da linha sabia vender o seu peixe e parecia estar seguro do que estava dizendo. Desliguei sem saber exatamente o que pensar, mas prometi a ele que faria tudo para aceitar o tal convite que era, nada mais nada menos, que estar presente em uma reunião em Londrina, na qual ele pretendia juntar todos os processadores de tilápia que hoje operam no País. O sujeito estava apostando alto, pensei, medindo o tamanho do desafio que era atrair, de uma hora para outra, pessoas de vários estados até Londrina. E por quê Londrina? Bem, até hoje não sei direito. Muitos e-mails e telefonemas depois, me peguei sentado na sala de reuniões de um confortável hotel londrinense, e junto comigo, pasmem, estavam presentes os representantes de 24 empresas processadoras de tilápia. Não é que o cara havia conseguido?! Os detalhes do que aconteceu lá, vocês terão oportunidade de ler nesta edição. Mas o que me encantou nessa história toda foi a determinação do Carlos Roberto Floriani, um filho de Brusque - SC, como gosta de ser reconhecido, pertinaz nos seus 45 anos, possivelmente da mesma forma como foi na sua adolescência. Para encurtar: o Floriani, acabou sendo eleito por unanimidade o primeiro presidente da AB- Tilápia, a recém criada Associação Brasileira dos Processadores de Tilápia. É claro que muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte, mas senti que um importante elo da cadeia produtiva da tilápia começou a se fortalecer, graças a iniciativa dele e de todos os que atenderam ao seu convite. Só me vinha na cabeça que foi esse mesmo setor que ficou por muitos anos, de mãos atadas, vendo passar na sua porta os caminhões levando sua matéria-prima para os pesque-pagues, esperando as sobras para processar. Dá dó lembrar das processadoras que quebraram no meio da década passada levando junto com elas o sonho de tantos. O tempo parece solucionar pacientemente as coisas, e é melhor que seja assim. Para terminar, quero desejar aos leitores um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, já que a próxima edição só será distribuída em janeiro do ano que vem. Assim, aproveito a oportunidade também para compartilhar a boa impressão que experimento, neste momento, ao olhar a aqüicultura brasileira, apesar dos desacertos, tropeços e frustrações de muita gente. Coisas de um país grande, onde existem muitos consertos a serem feitos nas leis, na forma de se trabalhar e no coração dos homens. A todos uma boa leitura e a determinação necessária para um 2004 de muita prosperidade. 4 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 5Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Direção Comercial: Solange Fonseca solange@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Assistentes: Fernanda Carvalho Araújo fernanda@panoramadaaquicultura.com.br e Daniela Dell’Armi Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradora: Virginia Totti Guimarães A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfica & Editora Ltda. Endereço para correspondência: Caixa Postal 62.555 22252-970 - Rio de Janeiro - RJ Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores. Os editores não respondem quanto a qualidade dos serviços e produtos anunciados, bem como pelos dados divulgados na seção “Informe Publicitário”, por serem espaços comercializados. Números atrasados custam R$ 8,50 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail: assinatura@panoramadaaquicultura.com.br ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parenteses na etiqueta que endereça a sua revista. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65. ISSN 1519-1141 Capa: camarão Farfantepenaeus subtilis Arte Panorama da Aqüicultura ...Pág 21 ...Pág 14 ...Pág 15 ...Pág 19 ...Pág 19 ...Pág 29 ...Pág 36 ...Pág 43 ...Pág 22 ...Pág 55 ...Pág 57 ...Pág 61 Í N D I C E ...Pág 62 ...Pág 51 ...Pág 66 ...Pág 65 A performance do Camarão subtilis Animais mantidos em viveiros por muitas gerações resultam, geralmente, em perda gradual da performance da espécie. Isso vem ocorrendo com o L. vannamei, que embora se mantenha com destaque no ranking das exportações brasileiras, já dá sinais de que seus bancos de reprodutores estão perdendo aptidões. Como possível substituto para esta espécie, recentes estudos apontam para o Farfantepenaeus subtilis, um camarão que ocorre na costa brasileira, e que já foi cultivado comercialmente na Região Nordeste, em meados da década de 80 até o início dos anos 90, ocasião em que sua engorda foi considerada inferior quando comparada ao vannamei. Agora os novos estudos, que avaliaram o crescimento do F. subtilis sob condições semi-intensivas de cultivo em viveiros de terra, concluíram que a espécie pode ser uma boa alternativa para a carcinicultura brasileira, se forem elaboradas rações que levem em conta as suas necessidades nutricionais. Editorial Notícias & Negócios Legislação Aqüícola: licenciamento ambiental Ranicultura Comercial: a importância da água Aqüimerco 2004: técnicos e acadêmicos estarão em Vitória-ES EPO 2003 - Encontro reuniu Produtores de Ornamentais em Recife Semana do Peixe Incentiva o Consumo de Pescado Reprodução de Peixes Ornamentais Peixes Transgênicos: uma tecnologia já à disposição A Performance do Subtilis O Cultivo do Bijupirá em Taiwan Processadores de tilápia se associam Coluna da SEAP Entrevista com João Donato Scorvo Filho Carcinicultura: questões político-ideológicas ou técnicas? Sygen International compra a Aquatec para investir em melhoramento genético Engenheiros de Pesca se reúnem no XIII Conbep em Porto Seguro Calendário Aqüícola ...Pág 03 ...Pág 07 Peixes Ornamentais BijupiráSemana do Peixe 6 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 7Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 CABOGE - Uma das grandes preocu- pações dos técnicos da área de meio ambiente do setor elétrico nacional, é a presença do mexilhão dourado Limnoperna fortunei, por sua alta dis- seminação e incrustação em tubos, bombas, sistema de refrigeração, tubu- lações de água, câmara de comportas de serviços de tomada d’água, filtros, etc. Trata-se de uma espécie de molusco de água doce originário do sudeste asiático (Coréia e China) e sua introduçãoteria ocorrido através da água de lastro de navios. Além dele, outra espé- cie, o Corbicula fluminea, tam- bém originário da Ásia, está presente nos reservatórios do submédio do rio São Francisco onde foi observada pela primeira vez em outubro de 2002, quando da paralisa- ção de uma das máquinas geradoras de energia do Complexo Hidro Elétrico de Paulo Afonso. Na busca de soluções para o problema gerado por essas espé- cies invasoras, os pesquisadores da Es- tação de Piscicultura de Paulo Afonso estão se dedicando ao cultivo do caboge (ou mandi armado), Franciscodoras marmoratus, uma espécie de peixe na- tiva do rio São Francisco. Acreditam que, por ser uma espécie malacófoga, possa ser usado com vantagens no com- bate a esses moluscos invasores, com a vantagem de ser também um peixe muito apreciado para consumo. SEBRAE – Aconteceu no final de outu- bro, em Cabo Frio – RJ, o II Seminário Estadual de Maricultura, promovido pelo SEBRAE/RJ, que vem desenvolvendo um grande esforço para incluir a maricultura, principalmente o cultivo de moluscos, como uma das boas opções para os pescadores artesanais, já que eles padecem com os problemas crôni- cos relacionados à atividade extrativista a que se dedicam. Ficou claro, porém, nos debates e nas intervenções dos re- presentantes dos pescadores durante o evento, que essa tarefa será ainda muito árdua. A ajuda que pleiteiam inclui, além do treinamento para o manejo de cultivo que já vem recebendo, todo o equipa- mento (espinheis, etc.) necessário ao trabalho. Ao contrário da região de An- gra dos Reis, em toda a Região dos Lagos o cultivo de moluscos encontra dificuldades para se desenvolver, apesar do grande potencial. Em recente período pré-eleitoral, recursos provenientes de emendas parlamentares a fundo perdido já foram parar por lá, com o propósito de desenvolver a atividade e, ao que parece, nenhum resultado positivo virá dessa experiência, a não ser a certeza de que “ensinar a cultivar funciona mais que dar o peixe”. Parece que deu a hora de mudar a estratégia de extensão em toda a região, sob pena da atividade cair no descrédito e a população começar a re- clamar das estruturas improdutivas boi- ando desnecessariamente. MERENDA ESCOLAR 1 – A Secreta- ria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, através do Programa Paraná 12 Meses, irá implantar junto a Prefeitu- ra Municipal de Mal. Candido Rondon e a indústria de processamento de pesca- dos Peixe Bom Vital, uma experiência inédita denominada “Alternativa de Aproveitamento de Subprodutos de Pes- cados”, que visa o aproveitamento da polpa de peixes na merenda escolar de 3.900 alunos da rede municipal. O pro- jeto estimulou a Peixe Bom Vital a in- vestir em uma despolpadeira, por ser o maquinário necessário para o aproveita- mento da carne da carcaça, resultante da filetagem da tilápia. A expectativa é de que o volume seja de uma tonelada de polpa por mês. Cartilhas educativas voltadas para a educação alimentar serão confeccionadas pelo governo do estado e um treinamento será feito jun- to às 100 merendeiras do município, para que possam melhor utilizar a pol- pa na alimentação das crianças. A idéia foi bem recebida pela Aquimar, a as- sociação de produtores do município e atraiu também outros parceiros como a Itaipu Binacional e o CEFET de Medianeira, interessados no pescado enlatado e na sopa congelada feita da cabeça do peixe, para atuar no Projeto Fome Zero. MERENDA ESCOLAR 2 - Segundo a Agência Nacional, Chapecó será uma das primeiras cidades catarinenses a ado- tar a carne de peixe na merenda escolar. Um convênio firmado entre a prefeitura e a Secretaria Nacional da Aqüicultura e Pesca, prevê a compra da produção pes- queira de agricultores familiares e de pequenos frigoríficos que produzem a polpa de peixe, principal ingrediente usado em sopas e outros pratos. A meta da Secretaria da Educação é incluir o peixe no cardápio da merenda de todas as escolas municipais até 2004. O convê- nio, assinado pelo prefeito Pedro Uczai (PT) e o ministro José Fritsch, objetiva, além da melhoria da qualidade da ali- mentação dos estudantes, um incentivo à produção de pescados no Oeste. Recur 8 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 sos federais, via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) serão canalizados para os pes- cadores artesanais que necessitam de assistência técnica para industrializar e comercializar a produção. RANICULTURA – Após ter sido can- celada, como informamos na última edi- ção, foi novamente confirmada para os dias 21, 22 e 23 de novembro a realiza- ção do I Simpósio Bra- sileiro de Ranicultura e o II Ciclo de Pales- tras sobre Ranicultura do Instituto de Pesca, no Auditório do Insti- tuto de Pesca de São Paulo. O mesmo evento, realizado no ano passado, foi de altíssimo nível o que faz com que sejam excelentes as expec- tativas para o evento deste ano, sendo, portanto, uma grande oportunidade para que os interessados atualizem suas infor- mações sobre a ranicultura. A taxa de inscrição é de R$ 80,00. O depósito pode ser feito no Banco Bradesco, em favor de: Fundepag, agência 3394-4, conta cor- rente 707-2. Após ter sido feita a inscri- ção, o comprovante de depósito junto ao nome completo, endereço e telefone de- verão ser enviados para o fax: (11) 3871- 7568, a/c do Simpósio Ranicultura. BOLSA – O IFS - International Foundation for Science, uma ONG sue- ca que apóia pesquisadores de países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, está oferecendo bolsas ao redor de US$12.000 anuais para cientistas que trabalhem com o manejo, uso e conservação de recursos biológicos, incluindo a aqüicultura. É preciso ser um cientista de um país em desenvolvimento; possuir mestrado ou graduação equivalente; ter menos que 40 anos; estar trabalhando em uma uni- versidade ou instituição de pesquisa do seu país (espera-se que esta instituição provenha salários e facilidades básicas para a pesquisa) e, atue numa das aéreas de pesquisa apoiada pelo IFS. Segundo Jack Littlepage do Programa BMLP, o IFS apóia tradicionalmente projetos de aqüicultura que tenha bons propósitos O prazo para solicitação de bolsa este ano encerra-se no dia 31 de dezembro e, para mais informa- ções, consultar http://www.ifs.se DISPUTA ACIRRADA - O aumento da produção de camarão de cultivo no Brasil tem preocupado os produtores tailandeses, já que podem perder a sua atual participação no mercado dos Esta- dos Unidos. No ano passado os EUA aumentaram suas importações do Bra- sil em 81%, fazendo com que a Tailândia sofresse uma queda de vendas de 15%. O diretor da Associação de Produtores e Exportadores de Camarão da Tailândia, Somsak Paneetatayasai, declarou que a indústria não poderia suportar o alto potencial dos novos competidores e que tanto o governo como os criadores de- veriam trabalhar muito para melhorar a qualidade do produto tailandês. FLUORESCENTES - Criadores taiwaneses do peixe Night Pearl (Pérola Noturna) se tornaram alvo de ambienta- listas europeus que alegam que o peixe verde fluorescente de cinco centímetros pode ser uma ameaça para o ecossistema. Os ambientalistas afirmam que o Night Pearl está sendo exportado para vários países, sem que se conheça o impacto que o peixe transgênico pode causar ao meio ambiente. O peixe recebeu um gene de medusa para que adquirisse um brilho verde quando colocado em ambi- entes sem luz. A empresa responsável afirma que seus peixes transgênicos são estéreis, portanto, seguros para o meio ambiente. Alegam também que o fato do gene introduzido proceder de um organismo marinho natural transforma o Night Pearl em mera proteína, inócuo tanto para os demais organismos mari- nhos quanto para as pessoas. Além do Pérola Noturna a empresa taiwanesa já lançou outro peixe transgênico, um ze- bra púrpura obtido a partir de um gene de corais e planeja produzir outros pei- xes fluorescentes de cores como verme- lho, roxo e azul. Cada peixe custa cerca de US$ 15, enquanto um peixe normal da mesma espécie custa US$ 0,51. FREQÜÊNCIA CARDÍACA - Umnovo estudo sobre o consumo de peixes foi desenvolvido por pesquisadores da França e da Irlanda com o objetivo de avaliar a relação entre a ingestão de peixes e a freqüência cardíaca. Entre 1991 e 1993 foram analisados 9.758 homens com idades entre 50 e 59 anos que não eram portadores de doença coronária. A freqüência cardíaca e os fatores de risco para doença coronária foram comparados entre o consumo de peixes em menos de 1 vez por semana; uma vez por semana; duas vezes por semana e, mais de duas vezes por sema- na. Nos resultados obtidos, os triglicerí- deos, a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica eram meno- res entre os que consumiam mais pei- xes, quando comparados aos homens 9Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 que consumiam menos peixes; os ní- veis do HDL colesterol (conhecido como “bom colesterol”) eram maio- res entre os consumidores de peixes. A freqüência cardíaca permaneceu mais lenta entre consumidores de peixes do que entre os não-consumi- dores. Como a freqüência cardíaca mais elevada está relacionada direta- mente com o risco de morte súbita, esta associação conclui que é menor o risco de morte súbita entre consu- midores de peixe. ESTÍMULO - Mais um estudo vem estimular o consumo de peixes. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade da Califórnia constatou que o ácido siálico, um carboidrato aminado que faz parte de muco e glicoproteínas das célu- las das carnes de carneiro, porco e gado, provoca efeitos perniciosos no organis- mo humano. Essa substância, porém, não ocorre na carne de peixe, frango, ovos ou em verduras.Segundo a pesqui- sa, a molécula do ácido siálico das car- nes vermelhas é diferente da existente no ser humano e pode ter efeito alergênico ou indutor de alergia. Uma grande parte das doenças degenerativas é desencadeada por mecanismo imunológico, portanto, uma maior exposição a substâncias alergênicas ao longo da vida pode nos predispor a tais enfermidades. ESTAGNADA – A imprensa pernam- bucana noticiou que as restrições da legislação ambiental e a falta de novas áreas propícias à carcinicultura, estão fazendo com que empresas pernambu- canas procurem outros estados como Ceará, Sergipe e Rio Grande do Norte, para expandir seus cultivos, freando a expansão da atividade no Estado. Produ- tores do Estado e especialistas em carci- nicultura são unânimes em afirmar que as restrições ambientais têm peso maior sobre a falta de espaço útil para a ativi- dade. Essa limitação legal começou em 1997, com a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que proíbe atividades comerciais que afetem mananciais d’água em 220 km da costa pernambucana. A APA possui 413,5 mil hectares entre o Rio Formoso, no Estado, e o Rio Meirim, em Alagoas. Este ano o volume anual de exporta- ção do camarão pernambucano deve permanecer o mesmo, enquanto ou- tros estados expandirão suas vendas. Até o ano passado, Pernambuco era responsável por 11,3% da produção nacional. NOTÍCIA TRISTE - Faleceu em aci- dente automobilístico, Édison José de Paula, professor da USP e maior autori- dade brasileira em cultivo de algas e no processamento de carragenanas. Na Pa- norama da AQÜICULTURA ele havia publicado um artigo sobre o cultivo ex- perimental da alga Kappaphycus alvarezii, originária das Filipinas, por ele introduzida no Brasil para que pu- desse ser pesquisada e possivelmente cultivada. Édison José de Paula voltava de seu sítio em Monte-Mor-SP (sua terra natal), quando foi atingido de frente por um carro conduzido por bandidos fugin- do da polícia. Faleceu preso nas ferra- gens, no apogeu da carreira e com nume 10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 rosos projetos em curso. Na opinião de seus amigos, além de excelente cientista acadêmico, a sua origem rural fazia com que tivesse um imenso interesse na apli- cação prática dos conhecimentos gera- dos. O Brasil acaba de perder quem esta- va alavancando o cultivo de algas de forma tecnificada e realista. Sua morte foi um choque para todos que o conheci- am, pois Édson tinha um astral sempre elevado, brincalhão, e era um amigo de todos que dele se aproximavam. FUTUROS PROCESSADORES - A Escola de Pesca Estadual Ascânio de Faria, em São Gonçalo - RJ pretende formar até o final de 2006, nada mais, nada menos que 8 mil alunos. A escola da FIPERJ - Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro, que funciona em parceria com a Fundação de Apoio à Escola Técnica oferece cursos gratuitos em dois turnos e conta com aulas de Mecânica Naval, Culinária e Processa- mento do Pescado. A aula de Processa- mento do Pescado tem como objetivo ensinar como agregar valor ao pescado, mostrando boas práticas de manipula- ção, além da conservação do pescado através da salga, defumação e baixas temperaturas. Os alunos produzem ham- búrgueres, salsichas, lingüiças de peixe, entre outros itens. PELE DE PEIXE - Sandálias femini- nas com pele de peixe estão sendo pro- duzidas por um pequeno empresário amazonense. Aidson Ponciano já fazia, há seis anos, sandálias de couro sintético e juta quando aprendeu com Jorge Rabelo, pesquisador do INPA-Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a técnica de usar a pele de pescado. Pas- sou, então, a desenvolver modelos ela- borados com pele de pescada e tambaqui que vieram agregar valor às sandálias, que são compradas principalmente por turistas, que pagam cerca de R$ 130,00 o par. O negócio cuja produção é de 150 pares por mês, envolve seis pessoas na confecção e venda dos produtos. Os retalhos das peles estão sendo estudados para que sejam aproveitados na confec- ção de carteiras e porta-cartões de visita. O Sebrae está auxiliando o empresário, que têm participado de capacitações para aperfeiçoar o acabamento dos produtos e investir na comercialização. DESPOLPADORA - A High Tech Equi- pamentos Industriais Ltda., empresa lo- calizada em Chapecó-SC, além de ser líder absoluta na fa- bricação de Máqui- nas Desossadoras para aves, com mais de 140 máquinas instaladas, está fa- bricando também, máquinas despol- padoras para pei- xes, com o objetivo de se fazer o apro- veitamento da carcaça do peixe (espinhaço), após a retirada do filé. Com este novo equipamento obtém-se uma polpa totalmente isenta de espinhas, e dependendo do tipo de peixe utilizado e peso da carcaça, chega-se a um rendi- mento de separação acima de 75%, o que viabiliza muito o seu aproveitamento. O resultado final é um produto da mais alta qualidade, e com poder nutritivo muito bom, ideal para produtos à base de peixe, como hambúrgueres, empanados, lingüi- ças, salsichas, surimis, etc.. A High Tech desenvolveu a despolpadora para peixes depois de dois anos de pesquisas e inves- timentos, e oferece no mercado dois mo- delos de máquinas; a HT 250, com capa- cidade de 250 kg/h de alimentação de matéria-prima, e a HT 500, com capaci- dade horária de 500 kg/h. Os interessa- dos em saber mais informações a respei- to destes equipamentos, podem entrar em contato com a High Tech, através do site: www.hightech.ind.br PISCICULTURA INFORMATIZADA – No dia 17 de outubro foi realizado na UNIOESTE – Campus de Toledo/PR, a solenidade de entrega de 200 cópias do software Beta – Programa para Gerenci- amento de Aqüiculturas, a serem distri- buídas ao setor aquícola. O Beta é resul- 11Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 tado de um convênio firmado entre o Curso de Engenharia de Pesca e o IAP/ CPAA – Instituto Ambiental do Paraná/ Centro de Pesquisa em Aqüicultura Ambiental. A idéia do sistema é ser uma ferramenta gerencial para os pequenos piscicultores paranaenses, como forma de otimizar e racionalizar seu processo produtivo. O software pode ser utiliza- do por técnicos, professores, pesquisa- dores, estudantes e instituições de cré- dito, de acordo com as particularidades técnicas e econômicas de cada região. O usuário cadastra investimentos, des- pesas e operações financeiras, além dos viveiros e cultivos. O Beta então, emite relatórios sobre os desempenhos técni- cos como sobrevivência, ganhode peso, densidade, produtividade e conversão alimentar. Além disso, o programa per- mite estabelecer análises econômicas e também o relatório fluxo de caixa (en- tradas e saídas financeiras). Com essas informações é possível verificar se o empreendimento está sendo viável de forma a possibilitar agilidade e segu- rança na tomada de decisões. Mais in- formações sobre o Beta podem ser obti- das com o GERPEL - Grupo de Pesquisas em Recursos Pesqueiros e Limnologia, pelo email: gerpel@unioeste.br ou fone (45) 252 3535 ramal 261. CEARÁ 1 - Foi realizada no dia 6 de outubro na sede do Sebrae-CE, uma reu- nião da ACEAq - Associação Cearense de Aqüicultores, junto a produtores de tilápia, com o objetivo de organizar o seguimento da aqüicultura e criar a COOPEIXE-Cooperativa dos Piscicul- tores do Ceará Ltda, com a perspectiva da exportação do filé de tilápia já a partir de 2004. A reunião contou com a presen- ça de representantes do Banco do Nor- deste, do Banco do Brasil, técnicos do Sebrae-CE, o Presidente do Sindicato dos Artesãos, o Presidente da CELPEX - Indústria do Pescado, o Presidente da OCEC - Sindicato e Organização das Cooperativas do Ceará, o Diretor da Vikouro e de José Nilton Kury, repre- sentante da empresa mineira Fruto do Rio, que já exporta filés de tilápia para o mercado americano. CEARÁ 2 – Eudes Medeiros Paulino, presidente da ACEAq – Associação Cearense de Aqüicultura, em correspon- dência para a redação da Panorama da AQÜICULTURA, informa que estão tra- balhando para dar um basta na entrada das tilápias “engordadas com caldo de esgoto do baixo Tietê”, no Estado do Ceará. A ACEAq já se reuniu com os órgãos dos governos municipal, estadu- al e federal (DFA) - conjuntamente - onde exigiu o cumprimento da legisla- ção existente, bem como outras medidas que haviam conseguido junto ao gover- no anterior (acondicionamento do pes- cado eviscerado como manda a legisla- ção e, barreiras fiscal e sanitária) que, no final do ano passado deram bastante resultado. Informou também que fize- ram chegar às mãos do governador do estado, Lúcio Alcântara, a edição da Panorama da AQÜICULTURA com a denúncia do problema, o que fez com que a reunião com o Governador fosse convocada num breve espaço de tempo. Eudes Paulino informa ainda que em Fortaleza não chega somente dois cami- nhões por semana carregados com tilápia (40 t), mas sim de 100 a 120 toneladas por semana, o que tem afetado muito o mercado local e levado muitos produto- res a desistirem da atividade. Como con- seqüência, diz, temos menos empregos e renda no campo, além dos problemas de saúde que estes peixes sem qualidade podem causar a população. Segundo a ACEAq verificou, em visita ao Mercado do Carlito Pamplona, local onde se comercializa 90% da tilápia no estado, a profissionalização dos transportadores de tilápias de origem duvidosa chegou a um nível tão elevado que estão chegando em Fortaleza com nota fiscal, guia de trânsito exigido pela DFA e SIF. Entre- tanto, na oportunidade, foi detectado que o produto não chega acondicionado como manda a legislação, ou seja, em caixa de isopor devidamente lacrada. Até o mo- mento, diz Paulino, não há iniciativas para apreender a mercadoria como man- da a lei. Desta forma, já solicitaram às secretarias encarregadas da fiscalização, 12 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 que apreendam o produto quando trans- portado irregularmente (transporte em caixas plásticas a granel). Na Secreta- ria da Fazenda, a ACEAq pediu a alte- ração da pauta fiscal de R$ 2,80 para R$ 4,00 onde é gerado o ICMS na entrada do produto. Eudes Paulino acredita que, desta forma, será possível inibir em grande parte a importação de tilápias sem qualidade no Estado. NOVA FÁBRICA - Apostando no crescimento do mercado da carcini- cultura brasileira, a Socil Guyo- marc’H está fazendo investimentos em sua nova unidade de produção de alimentos para camarões. Segundo Fá- bio Torretta, Diretor de Marketing da empresa, a nova unidade inicia suas operações já em novembro deste ano, após um investimento superior a um milhão de reais, na antiga unidade, que terá sua capacidade de produção ampliada em 40%. Além da amplia- ção da fábrica, a Socyl investirá em um novo processo de fabricação dife- renciado e exclusivo no Brasil, já uti- lizado pelo Grupo Evialis na Europa e Ásia, que traz como benefícios uma maior estabilidade, palatabilidade e conversão alimentar, significando mais peso com menos alimento, me- nor poluição e melhor qualidade de água. O grupo francês Evialis é espe- cializado em nutrição e saúde animal e um dos maiores produtores de ração em todo o mundo. É a líder do merca- do francês e atua em mais de 50 paí- ses. Sua produção está na casa das 6 milhões de toneladas anuais. PROJETO GENOMA - O CNPq vai liberar recursos no valor de R$ 400 mil, e, posteriormente, de mais R$ 300 mil para o desenvolvimento do Projeto Genoma do Camarão. A pes- quisa tem como objetivo aumentar a competitividade do setor produtivo do camarão brasileiro que, fundamen- tado em informações genéticas pode- rá produzir com mais eficiência um produto de melhor qualidade alimen- tar, e um animal com melhores gan- hos de crescimento e maior resistên- cia a doenças. O projeto coordenado pelo Prof. Pedro Manoel Galetti Junior, do departamento de Genética e Evolução, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) vai estudar o Litopenaeus vannamei, principal es- pécie cultivada no Brasil, mas poderá também servir como modelo para in- vestigações do genoma de espécies nativas de camarão. O estudo visa seqüenciar 300 mil ESTs, ou Expres- sed Sequence Tags. O tamanho do genoma do grupo ao qual pertence o L. vannamei é de 2 bilhões de pares de bases, o que equivale a dois terços do genoma humano. As pesquisas serão desenvolvidas em uma rede de labo- ratórios especializados em genética e bioinformática de várias instituições brasileiras das regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste. ESTÍMULO À PESQUISA – O inte- resse no melhoramento genético de camarão por parte de empresas priva- das, tem induzido à conclusão por par- te da Embrapa, que é preciso investir em pesquisa para que haja também o incremento do setor. Por conta disso, o chefe da Superintendência de Pes- quisa e Desenvolvimento da Embrapa, Geraldo Eugênio, ressaltou que já co- meçaram as iniciativas sobre esta ques- tão, já que na previsão da SEAP, os investimentos na carcinicultura deve- rão triplicar em dez anos. Segundo José Fritsch, a SEAP - Secretaria Es- pecial de Aqüicultura e Pesca espera que esta previsão seja considerada es- tratégica pela Embrapa, de maneira que a empresa venha a assumir na aqüicultura o papel que já desempe- nha na agricultura e pecuária, abrindo concursos para incrementar os estudos de espécies nativas do camarão. Atual- mente a Embrapa conta com apenas 13 pesquisadores atuando no setor. 13Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 você leu? o seu cliente também.... anuncie! solicite nossa tabela de preços seu cliente certamente é nosso leitor (21) 2552-2223 EPAGRI - Com o objetivo de pro- mover ações que gerem tecnologias sustentáveis em aqüicultura e pesca, foi criado pela Epagri de Santa Catarina, o Centro e Desenvolvimen- to em Aqüicultura e Pesca – CEDAP. O novo centro ins ta lado em Flor ianópol is é chef iado pelo oceanógrafo Sérgio Winckler da Cos- ta e tem como missão assessorar o governo na execução das ações de pertinentes a atividade e em conso- nância com a Epagri. Dentre as ações estão previstas a coordenação das atividades relacionadas com a assis- tência técnica e extensão junto aos produtores rurais e pescadores em todo o território catarinense e a as- sessoria nas ações das Secretarias Regionais de Governo. A criação do Centro de Desenvolvimento em Aqüicultura e Pesca é um passo im- portante para o fortalecimento, am- pliação e consolidação dos traba- lhos desenvolvidos pela Epagri. TILAPICULTURA BAIANA - Um projeto para o desenvolvimento da ca- deia produtiva da tilápia, receberá re- cursos no total de R$ 870 milvindos da Seagri- Secretaria da Agricultura, por meio da Bahia Pesca e do Sebrae, que serão voltados para estudos e análise de desempenho, qualificação e conscien- tização de integrantes em todos os seus segmentos. A formalização da parceria foi realizada na sede da Bahia Pesca, em Salvador. A tilapicultura baiana que já conta com mais de cem produtores comerciais e de pequenos portes, tem ciclo de apenas seis meses. Depois de processado, o filé da tilápia está sendo comercializado entre R$ 14,00 a R$ 22,00. Já o peixe inteiro é vendido entre R$ 4,50 a R$ 6,50. A tilápia baiana abastece o mercado interno e é exporta- da, principalmente para os Estados Uni- dos. A expectativa da parceria segundo declarou o presidente da Bahia Pesca, Max Stern, é que haja uma maior regu- laridade de oferta e melhoria da maté- ria-prima, já que com os estudos, pre- tende-se promover o aumento da pro- dutividade, melhoria da produção e ele- vação de renda para as regiões atendi- das. Os municípios que serão benefici- ados são Barra, Camacã, Ipiaú, Ibirataia, Itapetinga, Ilhéus, Jequié, Paulo Afon- so, Senhor do Bonfim, Sobradinho, San- to Antônio de Jesus, Teixeira de Freitas e Valença. INAUGURAÇÃO - Com a presença do ministro José Fritsch, a empresa Mar & Terra inaugurou em Itaporã, no Mato Grosso do Sul, em final de setembro, o mais avança- do frigorífico para o abate de peixes do País. Com ca- pacidade para processar oito toneladas de peixe por dia, o empreendimento vai gerar cerca de 70 novos empregos diretos e outros 250 indiretos para a pequena cidade de 15 mil habitantes. Segundo o diretor-téc- nico João Campos, o frigorífico vai trabalhar somente com espécies nativas, em especial com peixes do Pantanal, como o pintado, pacu, piauçu, matrinxã e piracanjuba, que serão engordados em 16 viveiros da fazenda Mar & Terra e depois comercializados principalmente para as grandes redes de supermercados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Todo o processo de abate dos peixes será con- trolado pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal) e a comercialização dos peixes virá acompanhada de uma campanha de responsabilidade ecológica e preserva- ção ambiental. A Mar & Terra é contro- lada pela Axial Participações, uma em- presa de São Paulo que investe em pro- jetos de desenvolvimento sustentável e que tem, por princípio, só utilizar peixes oriundos de pisciculturas. 14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Legislação Ambiental uito se tem discutido acerca das questões que envolvem o licenci- amento ambiental das atividades de aqüicultura. Já ressaltamos em outra oportunidade a importância da determinação de regras claras e de um procedimento mais célere para o setor produtivo pois, na prática, o que se verifica é a lentidão dos procedimentos de licenciamento de competência do órgão ambiental federal – IBAMA – e, para as atividades localizadas em águas públicas, a conseqüente demora da conclusão dos processos de cessão. Cabe mencionar que a presente análise se restringe ao IBAMA, dada a impossibilidade de serem trabalhadas as especificidades dos OEMAs - Órgãos Estaduais de Meio Ambiente. Por meio do licenciamento ambiental, o Poder Público atende ao seu dever de defesa do meio ambiente. Sua atuação é exigida pela Constituição Federal, não sendo facultado ao Poder Público um posicionamento omisso. O que determina a necessidade das atividades aqüícolas se submeterem ao licenciamento ambiental é o seu enquadramento como atividades poluidoras ou potencialmente poluidoras. A título exemplificativo, foi estabelecida na Resolução CONAMA nº 237/97, uma lista de atividades que devem se submeter ao licenciamento; são as atividades presumivelmente poluidoras, dentre as quais, encontra-se o “manejo de recursos aquáticos vivos”. Assim, enquanto vigente esta Resolução, não cabe excepcionar a exigência de licenciamento ambiental para a aqüicultura, pois trata-se de uma obrigatoriedade estabelecida pela norma geral. No entanto, mesmo dentre as atividades que devem submeter-se ao licenciamento, existem as que, por serem causadoras de significativa degradação ambiental, sujeitam-se a um procedimento mais complexo. O licenciamento dessas atividades inclui a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – exigência estabelecida pela Constituição Federal. Trata-se de uma avaliação do empreendimento cujo objetivo principal é munir os órgãos públicos de informações mais detalhadas e completas sobre os impactos ambientais que serão gerados. Não se constitui, portanto, de um procedimento simples, mas de uma série de atos e fases, dentre as quais podem estar incluídas as audiências públicas. A princípio, a atividade de aqüicultura não se encontra entre as consideradas de significativo impacto ambiental listadas no art. 2º da Resolução CONAMA nº 01/86, o que simplifica bastante o procedi- mento de licenciamento. No entanto, o entendimento é de que tal relação de atividades é meramente exemplificativa. Desta forma, mesmo a aqüicultura não estando entre as atividades mencionadas na Resolução, pode o órgão ambiental, mediante decisão motivada, exigir o EIA destes empreendimentos. Tal exigência, caso venha a ser feita, deve ser, porém, respaldada em conclusões técnicas e bem fundamentadas para não se constituir em um obstáculo infundado à livre iniciativa, consagrada na Constituição Federal. O EIA é um estudo de custo elevado e só deve ser exigido quando verificado o seu pressuposto, qual seja, a significativa degradação ambiental. Cabe observar, a existência de norma específica para carcini- cultura localizada na zona costeira (Resolução CONAMA nº 312, de 10.10.2002) que exige a elaboração de EIA/RIMA para empreendi- mentos: (i) com área maior que 50 hectares; (ii) com área menor que 50 hectares, quando potencialmente causadores de significativa de- gradação do meio ambiente; (iii) a serem localizados em áreas onde se verifique o efeito de adensamento pela existência de empreendimen- tos cujos impactos afetem áreas comuns. Partindo-se da premissa de que a quase totalidade dos cultivos ora em funcionamento está isento do EIA, pode-se afirmar que, a contar da data da protocolização do requerimento da licença ambiental, o órgão competente tem seis meses para deferir ou indeferir o pedido, nos termos da mesma Resolução CONAMA nº 237/97. Cabe ressaltar que, caso haja necessidade de elaboração de EIA/RIMA, o prazo será de até 12 meses e que o prazo será suspenso durante o período de elaboração dos estudos ambientais. O mesmo texto normativo também determina que, no caso do prazo máximo transcorrer sem resposta do órgão ambiental estadual ou municipal, o IBAMA passará a ser o responsável pelo licenciamento. Nada dispõe, no entanto, acerca dos casos em que o IBAMA já é o competente pelo licenciamento. No entanto, em ambas situações a resposta do Poder Público nos mencionados prazos constitui-se um direito dos aqüicultores que, se não observado, possibilita aos mesmos o acesso ao Judiciário para evitar a ocorrência de novas lesões, além das originadas pelo atraso do requerimento da licença ambiental. Cabe mencionar, por fim, que a autorização de uso de águas públicas federais e a licença ambiental são procedimentos distintos, sendo, portanto, diferentes os órgãos competentes para proceder suas análises. Nos termos da legislação em vigor, a licença ambiental é um dos documentos necessários para requerer a autorização de uso (art. 4°, da Instrução Normativa Interministerial nº 09, de 11.04.2001). Assim, não há que se falar em autorização de uso sem a obtenção prévia da licença ambiental. Neste sentido, ressaltamos a intenção de simplificação do proce- dimento de cessão, nos termos do texto da minuta do Decreto recentemente elaborada pela SEAP/PR, apresentada como substitutiva ao Decreto Federal nº 2869, ora na Casa Civil da Presidência da República para análise e posterior, ao qual a Revista Panorama da AQÜICULTURA teve acesso. Nesse novo texto, a análise de licenciamento ambiental passaria a ser parte dopróprio procedimento de cessão: o empreendedor, ao requerer a autorização de uso para exercer sua atividade em águas públicas federais, terá seu pedido de licença ambiental analisado pelo IBAMA. Observamos, no entanto, que diante da impossibilidade de ser alterado o procedimento de licenciamento ambiental por meio de Decre- to ou de Instrução Normativa, poderemos estar diante de uma mera alteração formal. O aqüicultor não precisaria mais solicitar a autorização de uso de águas públicas e a licença ambiental em órgãos diversos, devendo apenas, ao iniciar o processo de cessão de águas públicas, adotar todas as medidas necessárias para que o processo possa, também, passar pelo IBAMA que, verificando o cumprimento da legislação, expedirá a licença ambiental. Cumpre ressaltar que a alteração apenas terá relevân- cia prática se o real problema for enfrentado, qual seja, a inércia do IBAMA em responder aos pedidos de licença. Pretendemos deixar claro que, além da previsão legal de um procedimento mais simplificado, sem a exigência de EIA/RIMA, na medida em que a atividade de aqüicultura não se inclui, a princípio, como potencial causadora de significativa degradação ao meio ambiente, possi- bilita-se a adoção de medidas, ainda que judiciais, para a solução do impasse que vem sendo gerado ultimamente para muitos aqüicultores que pleiteiam o uso das águas públicas da União. A exigência de licenciamento ambiental impõe deveres e responsabilidades para ambos os lados: ao aqüicultor incumbe a adoção das condutas destinadas à obtenção de sua licença ambiental (tais como, requerimento de licença nos moldes deter- minados, apresentação dos documentos exigidos, realização dos estudos ambientais necessários) e ao Poder Público cabe analisar e responder ao pedido, dentro de um prazo razoável que foi estabelecido pela legislação. Licenciamento Ambiental das Atividades da Aqüicultura Por: Virgínia Totti Guimarães Advogada especializada em Direito Ambiental Correspondências para esta coluna podem ser enviadas para a autora através do e-mail vtotti@alternex.com.br, ou carta aos seus cuidados para Revista Panorama da Aqüicultura, Caixa Postal 62.555 Rio de Janeiro, RJ cep: 22252-970 M 15Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Por: Cláudia Maris Ferreira Pesquisadora Científica - Instituto de Pesca/SP gua é vida! E como muitos já sabem ou então já ouviram falar, o Planeta Terra deveria se chamar “Planeta Água”. Isto porque cerca de ¾ da crosta terrestre são recobertos por água. Entretanto, desses ¾, 97,25% caracterizam-se por serem água salgada e somente 2,75% constituem-se de água conti- nental. Do total da água continental 68,9% estão concentrados nas calotas polares restando ape- nas 31,1% para utilização imediata. A água é um recurso vital para nossa sobrevivência e representa um elo de ligação entre todos os ecossistemas do planeta. Caindo em forma de chuva é um excepcional solvente que carrega os nutrientes essenciais à vida. Mais de 70% do corpo humano é constituído de água. Além disso, é utilizada no uso doméstico; industrial; recreação; agricultura, pecuária; comércio; navegação; aqüicultura, geração de força motriz e energia; saúde e lazer. Dada a importância deste recurso e de sua crescente deterioração ao longo dos últimos anos, a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou que o ano de 2003 seria o “Ano Internacional da Água Doce”. A principal intenção deste órgão foi a de fomentar entre os mais distintos níveis da sociedade (governamental, empresa- rial e produtivo) uma ampla discussão sobre este tema. Segundo a ONU está previsto para o ano de 2025 a “Crise da Água”, onde aproxima- damente 5 bilhões de pessoas terão dificulda- des para satisfazer suas necessidades de água e a metade delas enfrentará uma extrema escas- sez, se não houver uma mudança nos padrões de consumo, uso e conservação dos mananci- ais. São por estas e por outras razões que se torna imprescindível para as diferentes ativida- des dentro da aqüicultura reconhecer a devida importância da principal fonte de recurso e sucesso dentro do empreendimento: a água. O Brasil possui um dos maiores poten- ciais de água continental, distribuídos em uma das mais extensas e densas redes hidrográficas do mundo. Este grande potencial de água conti- nental - superficial e subterrânea - deve ser visto como um capital ecológico de inestimada importância e fator competitivo fundamental do desenvolvimento sócio-eco- nômico sustentado. Em contra partida, a água é o meio pelo qual doenças podem se alastrar em grande velocidade e freqüência, e se faz necessário controlar ou atenuar a poluição aquática e suas implicações biológicas que representam sérias ameaças à saúde pública. Muitas vezes a criação de organismos aquáticos pode ser conflitante com outros segmentos agropecuários. A agricultura in- tensiva geralmente lança mão de produtos químicos e orgânicos para incrementar a sua produtividade e defender as culturas de possí- veis ataques de pragas. Estes xenobióticos entram no ambiente aquático através de apli- cações na lavoura, sendo disseminados pela ação de chuvas e ventos, contaminando rios, lagos e lençóis freáticos. No caso das águas subterrâneas, a contaminação compromete o seu uso, o que se torna mais grave considerando que tais águas tendem a ser mais utilizadas para o consumo humano, em função do esgotamento de mananciais de boa qualidade em águas de superfície (rios e lagos). Os organismos aquáti- cos são sensíveis à ação tóxica de pequenas quantidades de substâncias químicas. Eles po- dem morrer ou envenenar-se em conseqüência direta da presença de substâncias na água. É o caso, por exemplo, do cobre e do zinco. Milhares de organismos aquáticos são mortos, periodica- mente, em nossos rios, por causa da aplicação de substâncias como o sulfato de cobre e/ou compostos a base de cobre e zinco, no combate a fungos que constituem pragas da lavoura. Essas substâncias são, depois arrastadas pelas chuvas, para os rios, onde concen- trações da ordem de 0,5 mg/L já podem provocar grandes mortalidades de peixes. Nos ambientes aquáticos, a absor- ção das substâncias tóxicas por algas leva, através da cadeia alimentar, ao aumento das concentrações nos organismos a cada degrau dessa cadeia. Este processo é conhecido como biomagnificação. 16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Qualidade de água para ranicultura A qualidade e limpeza da água usada em criações de orga- nismos aquáticos são fatores essenciais para o sucesso desses em- preendimentos. Na ranicultura, não é diferente. As rãs deixam seus excretas na água, além de restos de pele, oriundos de trocas constantes. Por isso, é imperativo a constante renovação da água e limpeza dos tanques e baias. Esses cuidados são necessários, pois quando uma doença se instala, a mortalidade é certa, tornando-se imprescindível a prevenção e a profilaxia desses locais. Anfíbios, tais como a rã-touro têm necessidade de água com qualidade física e química específicas. Parâmetros como pH, condutividade elétrica, alcalinidade total, dureza total, amônia, nitrito, nitrato, fósforo, cloretos, ferro e principalmente oxigênio, devem ser medidos antes de iniciar uma criação. Esses parâmetros são os índices mais importantes que caracterizam a qualidade de uma água. Para o criador que está se iniciando na atividade é de suma importância familiarizar-se, mesmo que de maneira simplificada, com algumas destas definições (ver quadro ao lado). Todas as formas de vida animal ou vegetal respiram inalan- do oxigênio e exalando dióxido de carbono. Quando um ambiente aquático é poluído com matéria orgânica, o consumo de O2 (respi- ração) excede os níveis aceitáveis, resultando na depleção do mesmo. Se o desequilíbrio persistir em condições anaeróbicas (sem oxigênio), peixes e a maior parte de outros animais serão elimina- dos. O oxigênio permite que bactérias aeróbicas (que usam oxigê- nio), sejam decompositoras mais eficientes do que as bactérias anaeróbicas (que não usam oxigênio), reduzindo a matériaorgânica em decomposição na água sem deixar odores nocivos. Quando grandes quantidades de material orgânico são descarregadas em rios, por exemplo, ocorre uma explosão populacional de bactérias decompositoras. Ao “respirarem”, ocorre uma depressão do oxigê- nio e a água torna-se anaeróbica ou séptica. A população de bactérias aeróbicas precisa então dar lugar às bactérias anaérobicas, que produzem sulfeto de hidrogênio, um gás de cheiro extrema- mente desagradável que em quantidades suficientes é tóxico. Os ecossistemas aquáticos são dinâmicos. Mesmo em tan- ques com pequeno volume de água, os parâmetros físicos e químicos se inter-relacionam e são dependentes uns dos outros. O nível de oxigênio dissolvido na água, por exemplo, varia em função da temperatura e da pressão atmosférica. O teor de oxigênio dissolvido é no máximo 9,08 mg/L ao nível do mar, e temperatura de 20oC, ao passo que essa concentração se eleva para 10,07 mg/ L de oxigênio caso a temperatura desça para 15oC. Dois fatores que estão estreitamente correlacionados: oxigênio e temperatura da água. O comportamento de vários outros parâmetros se dá da mesma forma. Assim, não basta ter conhecimento de apenas um parâmetro (na maioria das vezes o pH) ou ainda, ater-se rigidamen- te aos valores tabela. O exame físico e químico da água deve ser analisado de uma forma conjunta, de maneira global, levando em consideração todos os fatores e nunca apenas um dos parâmetros isoladamente. Índices encontrados em ranários comerciais A excreção dos animais (fezes e urina) resulta em compos- tos a base de amônia. A amônia é extremamente tóxica quando em grandes quantidades e, se transforma em nitrito e em nitrato por ação de bactérias nitrificantes. O nitrito também é um composto tóxico. Ele pode oxidar a hemoglobina do sangue dos animais, 17Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 • pH (potencial hidrogeniônico) ® É a proporção entre as concentra- ções de íons de hidrogênio (H+) e íons de hidroxila (OH-), ou seja, acidez ou alcalinidade. Possui escala de 0 a 14, sendo o 7 o pH neutro, onde as concentrações de H+ e OH- encontram-se iguais. Abaixo de 7 o pH indica acidez e acima, alcalinidade. O maior responsável pela sua variação é o ácido carbônico, proveniente do gás carbônico produzido pelo fitoplâncton durante a fotossíntese, onde em excesso torna o pH ácido e vice-versa. • Condutividade Elétrica ® É determinada pela presença de substân- cias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions. É a capacidade da água de transmitir corrente elétrica. Na prática para os organismos aquáticos quanto maior a condutividade mais carregado estará o sistema. • Alcalinidade Total ® Indica a concentração de sais de carbonatos e bicarbonatos na água. Tem função de tamponamento da água, ou seja, mantém o pH estável, além de participar na formação da carapaça de algumas espécies de plâncton. Os carbonatos e outros sais reagem com o ácido carbônico, neutralizando a sua ação. • Dureza Total ® Indica a concentração de íons metálicos principal- mente os íons de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) presentes na água. É expressa em equivalentes de CaCO3. Os valores de dureza total praticamente encontram-se associados à alcalinidade. Também potencializa a toxicidade de vários produtos químicos. • Amônia, Nitrito e Nitrato ® Da excreção dos organismos aquáticos e da decomposição bacteriana do material orgânico existente na água o resultado é a amônia, que é dividida em amônia tóxica (NH3) e íon amônio (NH4). Através da oxidação bacteriana (nitrossomonas) a amônia é transformada em nitrito. Em seguida o nitrito é oxidado pelas bactérias do gênero Nitrobacter transformando-se em nitrato. As bactérias desnitrificantes transformam o nitrato em nitrogênio com- pletando-se o ciclo. Na prática a amônia e o nitrito são as formas tóxicas (dependendo do pH e temperatura). O nitrato não é tóxico. • Fósforo ® É um nutriente com baixa concentração na água, porém é o de maior fator de concentração no fitoplâncton, seguido do nitrogênio e carbono. Seus compostos constituem-se num importante componente da célula viva, especialmente de nucleoproteínas, essen- ciais à reprodução celular, associados também ao metabolismo respiratório e fotossintético. Ocorrem principalmente sob forma de fosfatos solúveis e fosfatação das rochas. Os despejos orgânicos especialmente os esgotos domésticos contribuem para o enriqueci- mento das águas com este elemento. • Ferro ® Dos parâmetros físicos e químicos da água aquele que com maior freqüência inviabiliza a implantação de uma ranicultura comer- cial é o ferro. Esse metal quando em altas concentrações causa a mortalidade dos girinos por toxicidade química. Algumas vezes consegue-se retirar o ferro da água através de sua oxidação (Fe3 - coloidal), em outras palavras, introduzindo oxigênio no meio: aeração. convertendo-a em metahemoglobina, molécula incapaz de trans- portar oxigênio. Esse processo de transformação: amônia (NH3 - tóxica) em nitrito (NO2 - tóxico) e em nitrato (NO3 - tóxico somente em altas quantidades) chama-se desnitrificação e, irá ocorrer de- pendendo da temperatura e do pH da água consumindo o oxigênio existente no meio. Essa reação é uma das causas mais comuns de mortalidade em tanques de girinos, mas também pode ser facilmen- te contornada tomando-se precauções básicas tais como o controle da quantidade de alimento ofertado, a oxigenação constante e eficiente, a renovação da água e limpezas periódicas. A percepção do homem nas alterações da qualidade da água, através de seus sentidos, dá-se pelas características físicas e quími- cas da mesma. É através destas alterações que se pode relacionar valores que permitem classificar a água por seu grau de contamina- ção, origem ou natureza dos principais poluentes, seus efeitos, tipificar casos de cargas ou picos de concentração de substâncias tóxicas, e avaliar o equilíbrio bioquímico necessário para manuten- ção da vida aquática. Em outras palavras, o próprio ranicultor ao observar diariamente a água de seus tanques, pode inferir e/ou perceber o seu estado. Entretanto, nem mesmo a experiência adquirida ao longo dos anos irá dispensar o criador de realizar exames periódicos das águas de seus tanques. Infortunamente, não existem muitos dados disponíveis so- bre a qualidade de água ideal para ranicultura. Muitos conceitos e valores provêm de outros tipos de criações (piscicultura e carcinicultura). Assim, ocorre uma lacuna quando da aplicação dessas informações em ranários comerciais, que muitas vezes é preenchida com dados pontuais colhidos no campo. Uma maneira de auxiliar na elucidação desse processo é a realização de pesquisas de toxicologia aquática desenvolvendo bioensaios e testes de laboratório. A seguir, alguns dados coletados no campo, oriundos de observações realizadas em ranários comerciais, principalmente no Estado de São Paulo (Tabela 1). *Uma vez que na região sudeste trabalha-se basicamente com água mole e baixa alcalinidade, quando em tanques de cultivo a condutividade atinge valores próximos a 150µS/cm, deduz-se que haverá mortalidade caso não se tome às providências cabíveis. Analisando estes dados verifica-se que realmente existe uma semelhança muito grande entre peixes e anfíbios no que diz respeito aos parâmetros físicos e químicos da água. Nota-se tam- bém que os girinos de rã-touro são um pouco menos exigentes quando comparados à maioria dos peixes. Esta é uma das razões que fazem com que muitos anfíbios sejam conhecidos como orga- nismos “homebodies”, ou seja, animais que não migram de seu local de origem quando as condições do meio se tornam adversas. Entretanto, quando se trabalha em condições de cativeiro e confinamento deve-se ressaltar que a qualidade da água precisa ser mantida em excelentes condições para evitar a proliferação de agentes patogênicos e mortalidades. Finalizando, fica a lembrança ao ranicultor e a todo aqüicultor profissional que antes de implantar uma criação comercial é im- prescindível à realização de um exame completodas características físicas, químicas e bacteriológicas (quantidade de coliformes totais e fecais no meio) da água de abastecimento, além dos exames de alguns parâmetros periodicamente. Baseado no conjunto dessas informações o ranicultor poderá prever, estimar e até mesmo evitar determinadas situações dentro do plantel. 18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 19Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 A segunda versão do EPO 2003 - Encontro de Produtores de Peixes Ornamentais, que ocorreu em Recife entre os dias 9 e 12 de outubro, contou com a presença de técnicos, aqüicultores e pesquisadores do Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, e até do Chile. No evento foram apresentadas palestras sobre os diversos temas ligados ao setor, entre eles o cultivo de ciclideos africanos e o de cavalos marinhos. Juntos discutiram as perspectivas de financiamento para o setor e a revisão da atual legislação. Apesar do extrativismo também ter sido debatido, a aqüicultura se destacou face as grandes possibilidades comerciais que esta modalidade de aqüicultura pode oferecer, considerando as excelentes condi- ções ambientais que o Brasil dispõe e o franco mercado internacional para o mercado de aquarismo. No EPO 2003 estiveram presentes representantes de cinco instituições de pesquisa que estão trabalhando com peixes ornamentais, com destaques para pesquisas em tecnologia de reprodução de novas espécies (exóticas e nativas) e em nutrição, esta última visando desenvolver rações que promovam uma melhor coloração dos peixes e uma maior resistência ao período de transporte e comercialização. Os aqüicultores e empresários da cadeia produtiva de peixes ornamen- A Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquáti- ca - Aquabio, constituída para representar pesquisadores, profis- sionais, estudantes e entidades que atuam na aqüicultura brasileira realizará durante os dias 24 a 28 de maio de 2004, no Centro de Convenções da cidade de Vitória, no Espírito Santo, o AQÜIMERCO 2004 - Simpósio Mercosul de Aqüicultura. O evento engloba o AquaCiência 2004: Sustentabilidade e Integração; o I Congresso da Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia da Aquabio; o Congresso do Capítulo Latino Americano da WAS; o II Simpósio Capixaba de Aqüicultura; a Feira Internacional de Produtos Aqüícolas; a Rodada de Negócios em Aqüicultura e, o Salão do Produtor. Segundo Elizabeth Urbinati, presidente da Aquabio, o even- to é um grande desafio para a recém-criada entidade e representa os anseios das classes técnica e científica e, principalmente, do empresariado brasileiro e do Mercosul. Urbinati acredita que, devido ao momento estratégico por que passa o Mercosul como importante bloco econômico de desenvolvimento econômico e social dos países integrados (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), associado aos interesses do Governo Brasileiro em fomentar a aqüicultura no país, a realização desse grande evento proporcionará uma maior integração entre os setores públicos e privados, criando condições favoráveis a futuras parcerias e negócios aqüícolas. O AQÜIMERCO 2004 abordará através de inúmeras confe- rências, palestras e mini-cursos os aspectos econômicos, sociais e ambientais da aqüicultura na região do Mercosul. Temas como políticas de desenvolvimento de intercâmbio técnico científico e comercial entre organizações públicas e privadas, segurança ali- mentar; legislação ambiental, inovações tecnológicas, biotecnolo- Encontro em Pernambuco possibilita coesão de Produtores de Ornamentais tais solicitaram ao Ministro José Fritsch, presente a abertura do evento (foto), a formação de um grupo gestor que viabilize as ações que permitam a expansão da produção de peixes ornamentais através da aqüicultura de modo a permitir uma maior competitividade internacional para o peixe ornamental produzido no Brasil. I Simpósio Mercosul de Aqüicultura reunirá técnicos e acadêmicos em Vitória-ES gia e genética estão entre os outros tantos que serão discutidos durante o simpósio. Paralela ao evento, a Feira Internacional de Produtos Aqüícolas apresentará aos participantes os últimos lança- mentos de máquinas e equipamentos para produção, beneficia- mento e transporte de pescados, bem como outros produtos relaci- onados às cadeias produtivas dos camarões marinhos e de água doce, e os aplicados às demais cadeias da aqüicultura como a da criação de rãs, cultivo de macroalgas e peixes ornamentais. O grupo gestor do evento é formado pelo CTA - Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente; FAES - Federação de Agricultura do Estado do Espírito Santo; Bioalevinus; BANDES - Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo; SEBRAE/ES; INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural; Unilinhares; Delegacia Federal de Agricultura e a AQÜES - Associação dos Aqüicultores do Espírito Santo. O AQÜIMERCO conta ainda com o apoio do CEAQ - Central de Apoio ao Aqüicultor; Conventions & Visitors Bureau do Espírito Santo; CRBio-2 - Conselho Regional de Biologia; Escola Agrotécnica Federal de Alegre; Escola Agrotécnica Federal de Colatina; GTCAD - Grupo de Trabalho em Camarões de Água Doce; Instituto ECOS - Pesquisa e Desenvolvimento Sócio Ambi- ental; Prefeitura Municipal de Vitória; SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural; UFES - Universidade Federal do Espírito Santo e UVV - Centro Universitário de Vila Velha. Mais informa- ções sobre o evento no site:www.cta-es.com.br Da esquerda para a direita: Manuel Vidal, Gilberto Falbo e Alberto Lima com o ministro José Fritsch na abertura do EPO 2003 20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 21Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Semana do Peixe: uma estratégia do governo para incentivar o consumo de pescado em todo o Brasil Uma parceria entre a SEAP - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca e a ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados, firmada em setembro durante a ExpoAbras, no Rio de Janeiro, deu início ao projeto Semana do Peixe, um evento promocional anual que aconteceu na sua primeira edição, entre os dias três e nove de novembro, em redes de supermercados de municípios brasileiros, especialmente nos litorâneos e de grande porte. Por ocasião do evento, os estabele- cimentos realizaram promoções direcionadas, exclusivamente, ao consumidor final, como descontos entre 10% e 30% no preço dos produtos e sub-produtos oriundos da pesca e da aqüicultura. Coube à Abras a articulação das comunidades agregadas pelas Associ- ações Estaduais de Supermercados filiadas a ela e, ao governo, a produção, coordenação e execução do evento, através da sua Diretoria de Logística, Infra-estrutura e Comercialização. Além de estimular a participação do pescado na mesa de todos os brasileiros, as ações desenvolvidas durante a Semana do Peixe pretendem, também, promover a educação alimentar da população, a ser desencadeada através da divulgação dos benefícios para a saúde humana proporcionados pelo hábito de se ingerir pescados. Para isso, foram distribuídos meio milhão de folderes e cartazes que explicam as inúmeras qualidades do peixe como alimento de origem animal mais saudável do mundo, se consumidos regularmente. O lançamento da Semana do Peixe se deu em Brasília, em um supermercado da rede Super Maia, mas a promoção atraiu a curiosidade dos consumidores nos quatro cantos do país. Em Natal, por exemplo, onde o secretário especial adjunto, Romeu Porto Daros, esteve presente para a abertura do evento na cidade, uma das perguntas mais freqüentes era “por que o peixe é vendido tão caro?” A Semana do Peixe em Porto Alegre, contou com a presença do Ministro José Fritsch e do Presidente da ABRAS, João Carlos de Oliveira, entre outras autoridades, no supermercado Big Cristal. Após um breve discurso, Fritsch distribuiu os folderes promocionais aos clientes da peixaria. No Ceará, alguns supermercados venderam algumas variedades com descontos de quase 40%.Em Fortaleza a tilápia com peso entre 600a 800 gramas foi oferecida a preços promocionais em torno de R$ 3,00 quando, normalmente, o preço gira em torno de R$ 5,00 e em dias de oferta R$ 4,00. O produtor vende e entrega no local a R$ 3,30. Nos três primeiros dias da promoção, as vendas cearenses aumentaram em 15%. Nas Sendas do Leblon, bairro da zona sul da cidade no Rio de Janeiro, Romeu Porto Daros enalteceu as qualidades nutricionais do peixe e falou sobre a importância da aqüicultura no fornecimento de peixes de qualidade para os clientes de supermercados. A Semana do Peixe foi uma das primeiras iniciativas do governo para incentivar o consumo de pescados junto à população, mas estão nos planos da SEAP, também, ações que aumentem a distribuição de peixes na rede escolar, para que sejam adotados nos cardápios das merendas das crianças. Segundo Darus, nós brasileiros consumimos menos de 7 quilos de pescado per capita/ano, enquanto a média mundial é estimada em 20 kg per capita/ano. O Distrito Federal é onde o consumo anual de pescado é um dos maiores do país, em média, 14 kg por habitante, o dobro da média nacional. Já Minas Gerais é um dos estados que menos consome peixes, apenas 2 kg por habitante/ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo per capita de, no mínimo 12 kg por ano, contudo, a expectativa do governo é a de que já no ano que vem, tanto a produção quanto o consumo cresçam em 25%. Semana do Peixe na rede Sendas - RJ, onde o camarão vannamei foi vendido a R$ 8,90 e o filé de tilápia a R$ 14,90, ao lado do filé de linguado oferecido a R$ 32,80. 22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Por: Manuel Vazquez Vidal Junior Universidade do Norte Fluminense e-mail: mvidal@uenf.br Dos quase quatro mil produtores de peixes ornamentais existentes no Brasil, a maioria faz dessa modalidade de cultivo a principal ati- vidade econômica da propriedade. Além da evolução no número de aqüicultores brasileiros percebe-se, atualmen- te também, que é cada vez mais raro encontrar produtores que cultivam de forma extensiva ou semi-intensiva os peixes ornamentais. Apesar disso, muitas espécies de alto valor agregado ainda são importadas para abastecer o mercado nacional, pois o aqüicultor brasileiro não dispõe de tecnologia para sua reprodução induzida, como é o caso dos labeos, botias, pangassius, bala shark, comedor de algas siamês e outros. Neste caso, a boa notícia é que alguns centros de pesquisa em parceria com os aqüicultores desenvolveram tecnologias eficientes que já estão em campo. Espera-se, com isso, que o aqüicultor de ornamentais no Brasil se torne mais compe- titivo, possibilitando a sua participação até, quem sabe, no mercado externo. Este artigo aborda os aspectos gerais da reprodução dos peixes ornamentais, uma das etapas do cultivo que mais desperta o interesse dos produtores por significar bons rendimentos, especialmente no caso dos peixes mais raros. té a década de 40 a aqüicultura brasileira de peixes ornamentais esteve restrita a poucas propriedades do Estado do Rio de Janeiro e mais tarde começou a ser praticada, também, no interior de São Paulo. No final da década de 70 a produção passou a ser praticada também em Muriaé-MG, onde ocorreu uma rápida expansão, fazendo com que na década de 80 esta microrregião mineira passasse a ser o maior e mais importante pólo de produção de peixes ornamentais por aqüicultura do país. As práticas, bem como as espécies adotadas para cultivo nesta época, entretanto, pouco diferiram das observadas anteriormente. Os cultivos praticados eram extensivos ou semi-intensivos, não havia preocupação com a qualidade genética dos espécimes (ex- pressa na coloração e conformação dos peixes) e, os peixes utilizados ainda eram os das famílias dos ciprinídeos e poecilídeos. Apenas alguns poucos produtores se dedicavam ao cultivo de ciclídeos como o ramirezi e o acara bandeira, ou de caracídeos como o mato grosso e o tetra. Merece destacar, no entanto, que dentre produtores de kinguyo e koi do interior de São Paulo e os produtores urbanos de guppy e de betta, já havia uma grande preocupação com o melhoramento genéti- co das linhagens produzidas. Práticas modernas de cultivo como o sistema super-intensivo já eram adotadas por esses produtores, que utilizavam recursos tecnológicos oriundos da aquariofilia. Foi somente na década de noventa que a aqüicultura brasileira de peixes ornamentais deu um salto. Até então, o país pouco participava do mercado externo, exceto pela expressiva e decadente exportação de peixes ornamentais frutos do extrativismo na Bacia Amazônica. Com a abertura do mercado aos peixes importados do sudoeste asiático, o aqüicultor brasileiro que já não possuía competitividade para atuar no mercado externo, percebeu que também o mercado A Laboratório de peixes ornamentais da UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense 23Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Como as fêmeas não desovam simultaneamente, deve-se repor o substrato. O período de desova no sudeste começa em agosto e se estende até dezembro. Como é importante a utilização de cruzamentos específicos para produção de boas linhagens, aconse- lha-se o uso de tanques pequenos. Desta forma, pode-se fazer cruzamentos dirigidos sem muito desperdício de espaço. Para a desova dos barbos e do paulistinha pode-se adotar a mesma técnica e no caso da carpa e do kinguyo, podemos ainda utilizar a indução hormonal visando ter uma desova mais controlada. Espécies com cuidado parental No caso das espécies com cuidado parental é preciso avaliar se realmente há a possibilidade de aumentar a viabilidade dos ovos e larvas. Em muitos casos, a resposta é não. Então, por que manejar estas desovas? O manejo da desova nestes casos permitirá que o reprodutor ou matriz possa reduzir o intervalo de desova, possibi- litando um maior número de crias por ano. Como exemplo tomare- mos um casal de acará bandeira. Caso deixemos o casal tomar conta da prole, o intervalo de desova será de mais de 25 dias, em geral de 30 a 40 dias, mas se a desova for retirada e incubada em separado, a fêmea fará nova desova dentro de 7 a 10 dias. No caso do acará disco, as pós-larvas se alimentam do muco dos pais, mas podem ser alimentadas com sucedâneos. Mesmo assim, a incubação artificial é controversa, pois a morta- lidade dos alevinos é elevada e a redução do intervalo de desova não é tão significativa. No caso dos peixes que incubam os ovos e larvas na boca, como o auratus, devemos retirar os ovos da boca da fêmea com auxílio de jatos de água de uma pisseta, e deixá-los em incubadoras semelhantes ao modelo MacDonald para ovos densos. interno estava ameaçado. Além das espécies não produzidas no Brasil, eram importadas também as mesmas espécies produzidas aqui, com um agravante: os peixes asiáticos que possuíam caracte- rísticas de cor e conformação superiores aos nacionais eram ofere- cidos a preços competitivos. Se por um lado a falta de tecnologia na época fez com que diversos aqüicultores desistissem do mercado, por outro, revelou- se a necessidade da evolução do processo produtivo de ornamen- tais, fazendo com que uma significativa fração das espécies impor- tadas passasse a ser produzida aqui no Brasil. Hoje, a aqüicultura ornamental outrora centralizada na região sudeste cresce com rapidez e fôlego na Região Nordeste, impulsionada por suas características climáticas favoráveis ao cultivo de peixes tropicais. Reprodução A reprodução dos peixes ornamentais desperta interesse mesmo em pessoas que não pretendem se dedicar à atividade produtiva. Isso se explica pela beleza e exotismo da reprodução natural de algumas espécies, e também pela mistura de uma complexa tecnologia com uma extrema simplicidade, característi- cas da reprodução induzida em laboratórios. Algumas espécies ornamentais possuem estratégias de re- produção tão complexas que despertam a curiosidade dos aquaristas, que, com suas observações, contribuem para o desenvolvimento das técnicas de manejo destas desovas. É preciso compreender que o desenvolvimentode novas linhagens é um dos principais objetivos da atividade, pois é a que representa a possibilidade de maiores lucros e, talvez por esta razão, é rara a figura do vendedor de alevinos de peixes ornamentais. Manejo da desova natural Diversas espécies de peixes ornamentais desovam natural- mente em tanques ou aquários, e apesar dos produtores obterem algum lucro com esta reprodução natural, isso não significa que a taxa de sobrevivência da prole não possa ser aumentada com técnicas simples de manejo. A adoção destas medidas visa prover uma alimentação adequada nas fases iniciais de vida, e um ambiente com o menor número de predadores possível, que em certos casos são representados pelos próprios pais, resultando em maior lucratividade e competitividade. A seguir, veremos alguns exem- plos práticos e viáveis. Espécies com ovos adesivos Como exemplo trataremos da reprodução do kinguyo. Esta espécie tem sua desova estimulada quando ocorre o fim da estação fria e existe disponibilidade de substratos. Para que aumente a viabilidade dos ovos, é importante estocar um número de machos superior ao de fêmeas. Sugere-se dois machos para cada fêmea. O substrato para desova pode ser o aguapé ou fibras que fiquem amarradas, simulando raízes. Coloca-se o substrato de forma concentrada, em dois ou três lugares, e verifica-se, diariamente, a presença de ovos. O substrato com ovos deve ser transferido para tanques adubados e ricos em plâncton, mas sem predadores, onde ocorrerá a eclosão e o desenvolvimento das larvas. Outra técnica interessante é a separação dos lotes por sexo e o cultivo em temperatura entre 23 e 26 ºC. Nesta condição os animais farão diversas desovas durante o ano. Basta ao criador pegar as fêmeas mais preparadas e extrair os óvulos e o sêmen dos machos, sem uso de hormônios (mais detalhes deste processo serão descritos na parte sobre desova induzida). A aquariofilia foi introduzida no Brasil em meados da década de 20 na cidade do Rio de Janeiro. Filho de um comerciante de peixes ornamentais no Japão, o imigrante Sigeiti Takase veio para o Brasil, trazendo consigo algumas espécies asiáticas de peixes ornamentais que, mediante reprodução em cativeiro, forneceram o material para o comércio de peixes ornamentais que ele viria fundar. Assim começa a produção de peixes ornamentais por aqüicultura no Brasil. Nesta fase inicial o cultivo se concentrava em ciprinídeos com ênfase no kinguyo, na koi e nos barbos, totalizando quase 50 espécies. A aqüicultura com peixes ornamentais no Brasil não é recente, se comparada a outras atividades aqüícolas desenvolvidas em nosso país, porém vale lembrar que em outros países essa atividade é bem mais antiga. Escritos chineses indicam que há mais de três milênios os kinguyos são utilizados para ornamentação, bem como existem pinturas que indicam que os maias, os romanos e os antigos egípcios utilizavam peixes para ornamentação. Estes fatos, entretanto, não confirmam a prática da aqüicultura com peixes ornamentais, segundo os conceitos de hoje e, apenas no século III começou a aqüicultura de uma espécie ornamental, o kinguyo, após o domínio de sua técnica de reprodução. Esta mesma espécie, na idade média, passou a ser selecionada em função da conformação do corpo e das nadadeiras, originando diversas raças. 24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 25Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 Tanto para os ovos aderidos a um substrato, quanto para os que estão soltos, podemos usar dois tipos de incubadoras, a de fluxo contínuo e a sem fluxo de água. Na segunda opção, o uso de aeração é imprescindível. Quando o fluxo é contínuo deve-se fazer duas ou três interrupções neste fluxo ao longo da incubação para aplicação de antifúngicos. Na incubadora sem renovação de água o uso do antifúngico deve ser contínuo. Propagação artificial As técnicas de propagação artificial foram desenvolvidas para propiciar a reprodução dos peixes migradores em ambientes lênticos, mas podem ser adotadas também para aumentar o contro- le sobre a desova de peixes não migradores, além do aumento da taxa de sobrevivência de ovos e larvas. Essas técnicas consistem em processos que induzem a maturação final dos óvulos e o aumento da produção de espermatozóides. Algumas delas se baseiam no manejo do ambiente e outras se utilizam de substâncias indutoras, geralmente hormônios naturais ou sintéticos. Neste caso, é importante ponderar se os processos artificiais resultaram em maior lucratividade que a apresentada pelo manejo da reprodu- ção natural, não apenas por aumentar o controle sobre o processo produtivo, mas principalmente por propiciar a reprodução de espécies mais valorizadas. Técnicas de indução As técnicas que se baseiam no manejo do ambiente podem estar relacionadas à manipulação da temperatura, do foto-período e também da condutividade elétrica da água. Existem técnicas que simulam, fisicamente, a piracema e outras que estão relacionadas ao uso de substratos para desova. O aumento da temperatura da água e do comprimento do dia estimula a liberação de hormônios que promovem a maturação. Esta técnica é utilizada com espécies ornamentais que apresen- tam desova parcelada e sua aplicação em peixes migratórios tem sido alvo de estudos. No caso da coridora, a manipulação da temperatura ocorre de forma inversa: os peixes são submetidos a um período em baixa temperatura para estimular a desova. Nesse caso específico esse período é curto e se assemelha a um choque térmico. A água do tanque de cultivo tem sua temperatura reduzida à 18 ºC por meia hora e depois é elevada até 28ºC. A desova, em geral, ocorre em 24 a 72 horas. A desova de peixes como o acará disco, que prefere águas com baixa condutividade elétrica, pode ser estimulada pela sim- ples redução nos valores deste parâmetro. Para tal, utiliza-se fontes de água natural com condutividade elétrica baixa ou mesmo água destilada misturada à água dos aquários de desova. Uso de hormônios O uso de hormônios para estimular a desova em peixes ornamentais vem sendo praticado desde o final da década de setenta, sendo que no Brasil, no início da década de oitenta, já havia aqüicultores que utilizavam esta técnica na desova do beijador e do kinguyo. Diversos hormônios passaram a ser utilizados na indução à reprodução em peixes ornamentais e apresentam vantagens e desvan- tagens em relação ao uso de hipófises. Uma vantagem é que com o uso de hormônios pode-se estabelecer a dose correta, enquanto as hipófises possuem concentração de hormônios variável. A técnica mais utilizada em peixes de corte reofílicos e que apresenta os melhores resultados é a do uso de duas doses. A primeira dose é chamada de preparatória. Após um período de 8 a 14 horas aplica-se outra dose, esta mais elevada e chamada de definitiva. Essa mesma técnica pode ser utilizada para algumas espécies de peixes ornamentais, mas precisa ser adaptada quando lidamos com espécies que apresentam mais de dois picos de maturação ovocitária. No caso dos labeos bicolor e frenatus, da botia lohachata e do bala shark, deve-se utilizar na segunda dose uma de 2,5 a 4,0 mg/Kg de peso da fêmea. Os principais hormônios utilizados são o hCG, que é a gonadotrofina coriônica humana e o LH-RH, que é o fator liberador do hormônio luteinizante. Este último, em geral, é utilizado asso- ciado a um inibidor de dopamina, sendo esta a técnica padrão para desova em pangassius. O hCG é um hormônio natural humano que atua sobre os ovários promovendo o aumento da produção do hormônio luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), que irão atuar diretamente no óvulo. Já o LH-RH promove a liberação do hormônio luteinizante. Outro hormônio que vem sendo utilizado é a gonadodrofina sintética. O uso de implantes de GnRH (hormônio liberador de gonadotropina) também vem sendo testado em peixes ornamentais, porém, ainda não é uma técnica bem estabelecida. A forma de cálculo das doses de hormônios ou de hipófise para peixes ornamentais é a mesma que utilizamos para peixes de corte: simples
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