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79 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
2 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
3Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003 3
EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
O
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
telefone tocou e do outro lado da linha o homem se apresentou com uma voz firme, dizendo-se um
leitor da Panorama da AQÜICULTURA. Falou que eu não o conhecia, mas que tinha um convite a me
fazer, adiantando que ficaria muito honrado se eu o aceitasse. A seguir pôs-se a falar do seu passado,
contando-me que sempre atuou na comercialização de pescados, e do seu desejo de fazer algo para
impulsionar as vendas da tilápia processada. Pus-me a escutar, mas cá comigo, só lembrava que eu já tinha
assistido a esse filme antes.
A medida que a conversa evoluía, porém, foi dando pra perceber que o sonhador do outro lado da
linha sabia vender o seu peixe e parecia estar seguro do que estava dizendo. Desliguei sem saber exatamente
o que pensar, mas prometi a ele que faria tudo para aceitar o tal convite que era, nada mais nada menos,
que estar presente em uma reunião em Londrina, na qual ele pretendia juntar todos os processadores de
tilápia que hoje operam no País.
O sujeito estava apostando alto, pensei, medindo o tamanho do desafio que era atrair, de uma hora
para outra, pessoas de vários estados até Londrina. E por quê Londrina? Bem, até hoje não sei direito.
Muitos e-mails e telefonemas depois, me peguei sentado na sala de reuniões de um confortável
hotel londrinense, e junto comigo, pasmem, estavam presentes os representantes de 24 empresas
processadoras de tilápia. Não é que o cara havia conseguido?!
Os detalhes do que aconteceu lá, vocês terão oportunidade de ler nesta edição. Mas o que me
encantou nessa história toda foi a determinação do Carlos Roberto Floriani, um filho de Brusque - SC, como
gosta de ser reconhecido, pertinaz nos seus 45 anos, possivelmente da mesma forma como foi na sua
adolescência. Para encurtar: o Floriani, acabou sendo eleito por unanimidade o primeiro presidente da AB-
Tilápia, a recém criada Associação Brasileira dos Processadores de Tilápia.
É claro que muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte, mas senti que um importante
elo da cadeia produtiva da tilápia começou a se fortalecer, graças a iniciativa dele e de todos os que
atenderam ao seu convite. Só me vinha na cabeça que foi esse mesmo setor que ficou por muitos anos, de
mãos atadas, vendo passar na sua porta os caminhões levando sua matéria-prima para os pesque-pagues,
esperando as sobras para processar. Dá dó lembrar das processadoras que quebraram no meio da década
passada levando junto com elas o sonho de tantos. O tempo parece solucionar pacientemente as coisas,
e é melhor que seja assim.
Para terminar, quero desejar aos leitores um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, já que a próxima
edição só será distribuída em janeiro do ano que vem. Assim, aproveito a oportunidade também para
compartilhar a boa impressão que experimento, neste momento, ao olhar a aqüicultura brasileira, apesar
dos desacertos, tropeços e frustrações de muita gente. Coisas de um país grande, onde existem muitos
consertos a serem feitos nas leis, na forma de se trabalhar e no coração dos homens.
A todos uma boa leitura e a determinação necessária para um 2004 de muita prosperidade.
4 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
5Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003Edição 79– setembro/outubro,2003
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br
Direção Comercial:
Solange Fonseca
solange@panoramadaaquicultura.com.br
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
Assistentes:
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e Daniela Dell’Armi
Projeto Gráfico:
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Colaboradora:
Virginia Totti Guimarães
A única publicação brasileira dedicada
exclusivamente aos cultivos de
organismos aquáticos
Design & Editoração Eletrônica:
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Impresso na SRG Gráfica & Editora Ltda.
Endereço para correspondência:
Caixa Postal 62.555
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Uma publicação Bimestral da:
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
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Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14,
17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35,
36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65.
ISSN 1519-1141
Capa: camarão Farfantepenaeus subtilis
Arte Panorama da Aqüicultura
...Pág 21
...Pág 14
...Pág 15
...Pág 19
...Pág 19
...Pág 29
...Pág 36
...Pág 43
...Pág 22
...Pág 55
...Pág 57
...Pág 61
Í N D I C E
...Pág 62
...Pág 51
...Pág 66
...Pág 65
A performance do Camarão subtilis
Animais mantidos em viveiros por muitas gerações
resultam, geralmente, em perda gradual da performance
da espécie. Isso vem ocorrendo com o L. vannamei,
que embora se mantenha com destaque no ranking das
exportações brasileiras, já dá sinais de que seus
bancos de reprodutores estão perdendo aptidões.
Como possível substituto para esta espécie, recentes
estudos apontam para o Farfantepenaeus subtilis, um
camarão que ocorre na costa brasileira, e que já foi
cultivado comercialmente na Região Nordeste, em meados da década de 80 até o início dos anos 90,
ocasião em que sua engorda foi considerada inferior quando comparada ao vannamei. Agora os novos
estudos, que avaliaram o crescimento do F. subtilis sob condições semi-intensivas de cultivo em
viveiros de terra, concluíram que a espécie pode ser uma boa alternativa para a carcinicultura
brasileira, se forem elaboradas rações que levem em conta as suas necessidades nutricionais.
Editorial
Notícias & Negócios
Legislação Aqüícola: licenciamento ambiental
Ranicultura Comercial: a importância da água
Aqüimerco 2004: técnicos e acadêmicos estarão em Vitória-ES
EPO 2003 - Encontro reuniu Produtores de Ornamentais em Recife
Semana do Peixe Incentiva o Consumo de Pescado
Reprodução de Peixes Ornamentais
Peixes Transgênicos: uma tecnologia já à disposição
A Performance do Subtilis
O Cultivo do Bijupirá em Taiwan
Processadores de tilápia se associam
Coluna da SEAP
Entrevista com João Donato Scorvo Filho
Carcinicultura: questões político-ideológicas ou técnicas?
Sygen International compra a Aquatec para investir em melhoramento genético
Engenheiros de Pesca se reúnem no XIII Conbep em Porto Seguro
Calendário Aqüícola
...Pág 03
...Pág 07
Peixes Ornamentais BijupiráSemana do Peixe
6 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
7Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
CABOGE - Uma das grandes preocu-
pações dos técnicos da área de meio
ambiente do setor elétrico nacional, é
a presença do mexilhão dourado
Limnoperna fortunei, por sua alta dis-
seminação e incrustação em tubos,
bombas, sistema de refrigeração, tubu-
lações de água, câmara de comportas de
serviços de tomada d’água, filtros, etc.
Trata-se de uma espécie de molusco de
água doce originário do sudeste asiático
(Coréia e China) e sua introduçãoteria
ocorrido através
da água de lastro
de navios. Além
dele, outra espé-
cie, o Corbicula
fluminea, tam-
bém originário
da Ásia, está presente nos reservatórios
do submédio do rio São Francisco onde
foi observada pela primeira vez em
outubro de 2002, quando da paralisa-
ção de uma das máquinas geradoras de
energia do Complexo Hidro Elétrico de
Paulo Afonso. Na busca de soluções
para o problema gerado por essas espé-
cies invasoras, os pesquisadores da Es-
tação de Piscicultura de Paulo Afonso
estão se dedicando ao cultivo do caboge
(ou mandi armado), Franciscodoras
marmoratus, uma espécie de peixe na-
tiva do rio São Francisco. Acreditam
que, por ser uma espécie malacófoga,
possa ser usado com vantagens no com-
bate a esses moluscos invasores, com a
vantagem de ser também um peixe
muito apreciado para consumo.
SEBRAE – Aconteceu no final de outu-
bro, em Cabo Frio – RJ, o II Seminário
Estadual de Maricultura, promovido pelo
SEBRAE/RJ, que vem desenvolvendo
um grande esforço para incluir a
maricultura, principalmente o cultivo de
moluscos, como uma das boas opções
para os pescadores artesanais, já que
eles padecem com os problemas crôni-
cos relacionados à atividade extrativista
a que se dedicam. Ficou claro, porém,
nos debates e nas intervenções dos re-
presentantes dos pescadores durante o
evento, que essa tarefa será ainda muito
árdua. A ajuda que pleiteiam inclui, além
do treinamento para o manejo de cultivo
que já vem recebendo, todo o equipa-
mento (espinheis, etc.) necessário ao
trabalho. Ao contrário da região de An-
gra dos Reis, em toda a Região dos
Lagos o cultivo de moluscos encontra
dificuldades para se desenvolver, apesar
do grande potencial. Em recente período
pré-eleitoral, recursos provenientes de
emendas parlamentares a fundo perdido
já foram parar por lá, com o propósito de
desenvolver a atividade e, ao que parece,
nenhum resultado positivo virá dessa
experiência, a não ser a certeza de que
“ensinar a cultivar funciona mais que
dar o peixe”. Parece que deu a hora de
mudar a estratégia de extensão em toda
a região, sob pena da atividade cair no
descrédito e a população começar a re-
clamar das estruturas improdutivas boi-
ando desnecessariamente.
MERENDA ESCOLAR 1 – A Secreta-
ria de Agricultura e do Abastecimento
do Paraná, através do Programa Paraná
12 Meses, irá implantar junto a Prefeitu-
ra Municipal de Mal. Candido Rondon e
a indústria de processamento de pesca-
dos Peixe Bom Vital, uma experiência
inédita denominada “Alternativa de
Aproveitamento de Subprodutos de Pes-
cados”, que visa o aproveitamento da
polpa de peixes na merenda escolar de
3.900 alunos da rede municipal. O pro-
jeto estimulou a Peixe Bom Vital a in-
vestir em uma despolpadeira, por ser o
maquinário necessário para o aproveita-
mento da carne da carcaça, resultante da
filetagem da tilápia. A expectativa é de
que o volume seja de uma tonelada de
polpa por mês. Cartilhas educativas
voltadas para a educação alimentar
serão confeccionadas pelo governo do
estado e um treinamento será feito jun-
to às 100 merendeiras do município,
para que possam melhor utilizar a pol-
pa na alimentação das crianças. A idéia
foi bem recebida pela Aquimar, a as-
sociação de produtores do município e
atraiu também outros parceiros como a
Itaipu Binacional e o CEFET de
Medianeira, interessados no pescado
enlatado e na sopa congelada feita da
cabeça do peixe, para atuar no Projeto
Fome Zero.
MERENDA ESCOLAR 2 - Segundo a
Agência Nacional, Chapecó será uma
das primeiras cidades catarinenses a ado-
tar a carne de peixe na merenda escolar.
Um convênio firmado entre a prefeitura
e a Secretaria Nacional da Aqüicultura e
Pesca, prevê a compra da produção pes-
queira de agricultores familiares e de
pequenos frigoríficos que produzem a
polpa de peixe, principal ingrediente
usado em sopas e outros pratos. A meta
da Secretaria da Educação é incluir o
peixe no cardápio da merenda de todas
as escolas municipais até 2004. O convê-
nio, assinado pelo prefeito Pedro Uczai
(PT) e o ministro José Fritsch, objetiva,
além da melhoria da qualidade da ali-
mentação dos estudantes, um incentivo à
produção de pescados no Oeste. Recur
8 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
sos federais, via Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf) serão canalizados para os pes-
cadores artesanais que necessitam de
assistência técnica para industrializar e
comercializar a produção.
RANICULTURA – Após ter sido can-
celada, como informamos na última edi-
ção, foi novamente
confirmada para os
dias 21, 22 e 23 de
novembro a realiza-
ção do I Simpósio Bra-
sileiro de Ranicultura
e o II Ciclo de Pales-
tras sobre Ranicultura
do Instituto de Pesca,
no Auditório do Insti-
tuto de Pesca de São
Paulo. O mesmo evento, realizado no
ano passado, foi de altíssimo nível o que
faz com que sejam excelentes as expec-
tativas para o evento deste ano, sendo,
portanto, uma grande oportunidade para
que os interessados atualizem suas infor-
mações sobre a ranicultura. A taxa de
inscrição é de R$ 80,00. O depósito pode
ser feito no Banco Bradesco, em favor
de: Fundepag, agência 3394-4, conta cor-
rente 707-2. Após ter sido feita a inscri-
ção, o comprovante de depósito junto ao
nome completo, endereço e telefone de-
verão ser enviados para o fax: (11) 3871-
7568, a/c do Simpósio Ranicultura.
BOLSA – O IFS - International
Foundation for Science, uma ONG sue-
ca que apóia pesquisadores de países em
desenvolvimento, incluindo o Brasil, está
oferecendo bolsas ao redor de US$12.000
anuais para cientistas que trabalhem com
o manejo, uso e conservação de recursos
biológicos, incluindo a aqüicultura. É
preciso ser um cientista de um país em
desenvolvimento; possuir mestrado ou
graduação equivalente; ter menos que
40 anos; estar trabalhando em uma uni-
versidade ou instituição de pesquisa do
seu país (espera-se que esta instituição
provenha salários e facilidades básicas
para a pesquisa) e, atue numa das aéreas de
pesquisa apoiada pelo IFS. Segundo Jack
Littlepage do Programa BMLP, o IFS apóia
tradicionalmente projetos de aqüicultura
que tenha bons propósitos O prazo para
solicitação de bolsa este ano encerra-se no
dia 31 de dezembro e, para mais informa-
ções, consultar http://www.ifs.se
DISPUTA ACIRRADA - O aumento
da produção de camarão de cultivo no
Brasil tem preocupado os produtores
tailandeses, já que podem perder a sua
atual participação no mercado dos Esta-
dos Unidos. No ano passado os EUA
aumentaram suas importações do Bra-
sil em 81%, fazendo com que a Tailândia
sofresse uma queda de vendas de 15%.
O diretor da Associação de Produtores e
Exportadores de Camarão da Tailândia,
Somsak Paneetatayasai, declarou que a
indústria não poderia suportar o alto
potencial dos novos competidores e que
tanto o governo como os criadores de-
veriam trabalhar muito para melhorar a
qualidade do produto tailandês.
FLUORESCENTES - Criadores
taiwaneses do peixe Night Pearl (Pérola
Noturna) se tornaram alvo de ambienta-
listas europeus que alegam que o peixe
verde fluorescente de cinco centímetros
pode ser uma ameaça para o ecossistema.
Os ambientalistas afirmam que o Night
Pearl está sendo exportado para vários
países, sem que se conheça o impacto
que o peixe transgênico pode causar ao
meio ambiente. O peixe recebeu um
gene de medusa para que adquirisse um
brilho verde quando colocado em ambi-
entes sem luz. A empresa responsável
afirma que seus peixes transgênicos são
estéreis, portanto, seguros para o meio
ambiente. Alegam também que o fato
do gene introduzido proceder de um
organismo marinho natural transforma
o Night Pearl em mera proteína, inócuo
tanto para os demais organismos mari-
nhos quanto para as pessoas. Além do
Pérola Noturna a empresa taiwanesa já
lançou outro peixe transgênico, um ze-
bra púrpura obtido a partir de um gene
de corais e planeja produzir outros pei-
xes fluorescentes de cores como verme-
lho, roxo e azul. Cada peixe custa cerca
de US$ 15, enquanto um peixe normal
da mesma espécie custa US$ 0,51.
FREQÜÊNCIA CARDÍACA - Umnovo estudo sobre o consumo de peixes
foi desenvolvido por pesquisadores da
França e da Irlanda com o objetivo de
avaliar a relação entre a ingestão de
peixes e a freqüência cardíaca. Entre
1991 e 1993 foram analisados 9.758
homens com idades entre 50 e 59 anos
que não eram portadores de doença
coronária. A freqüência cardíaca e os
fatores de risco para doença coronária
foram comparados entre o consumo de
peixes em menos de 1 vez por semana;
uma vez por semana; duas vezes por
semana e, mais de duas vezes por sema-
na. Nos resultados obtidos, os triglicerí-
deos, a pressão arterial sistólica e a
pressão arterial diastólica eram meno-
res entre os que consumiam mais pei-
xes, quando comparados aos homens
9Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
que consumiam menos peixes; os ní-
veis do HDL colesterol (conhecido
como “bom colesterol”) eram maio-
res entre os consumidores de peixes.
A freqüência cardíaca permaneceu
mais lenta entre consumidores de
peixes do que entre os não-consumi-
dores. Como a freqüência cardíaca
mais elevada está relacionada direta-
mente com o risco de morte súbita,
esta associação conclui que é menor
o risco de morte súbita entre consu-
midores de peixe.
ESTÍMULO - Mais um estudo vem
estimular o consumo de peixes. Uma
pesquisa desenvolvida na Universidade
da Califórnia constatou que o ácido
siálico, um carboidrato aminado que faz
parte de muco e glicoproteínas das célu-
las das carnes de carneiro, porco e gado,
provoca efeitos perniciosos no organis-
mo humano. Essa substância, porém,
não ocorre na carne de peixe, frango,
ovos ou em verduras.Segundo a pesqui-
sa, a molécula do ácido siálico das car-
nes vermelhas é diferente da existente
no ser humano e pode ter efeito alergênico
ou indutor de alergia. Uma grande parte
das doenças degenerativas é desencadeada
por mecanismo imunológico, portanto,
uma maior exposição a substâncias
alergênicas ao longo da vida pode nos
predispor a tais enfermidades.
ESTAGNADA – A imprensa pernam-
bucana noticiou que as restrições da
legislação ambiental e a falta de novas
áreas propícias à carcinicultura, estão
fazendo com que empresas pernambu-
canas procurem outros estados como
Ceará, Sergipe e Rio Grande do Norte,
para expandir seus cultivos, freando a
expansão da atividade no Estado. Produ-
tores do Estado e especialistas em carci-
nicultura são unânimes em afirmar que
as restrições ambientais têm peso maior
sobre a falta de espaço útil para a ativi-
dade. Essa limitação legal começou em
1997, com a criação da Área de Proteção
Ambiental (APA) Costa dos Corais, que
proíbe atividades comerciais que afetem
mananciais d’água em 220 km da costa
pernambucana. A APA possui 413,5
mil hectares entre o Rio Formoso, no
Estado, e o Rio Meirim, em Alagoas.
Este ano o volume anual de exporta-
ção do camarão pernambucano deve
permanecer o mesmo, enquanto ou-
tros estados expandirão suas vendas.
Até o ano passado, Pernambuco era
responsável por 11,3% da produção
nacional.
NOTÍCIA TRISTE - Faleceu em aci-
dente automobilístico, Édison José de
Paula, professor da USP e maior autori-
dade brasileira em cultivo de algas e no
processamento de carragenanas. Na Pa-
norama da AQÜICULTURA ele havia
publicado um artigo sobre o cultivo ex-
perimental da alga Kappaphycus
alvarezii, originária das Filipinas, por
ele introduzida no Brasil para que pu-
desse ser pesquisada e possivelmente
cultivada. Édison José de Paula voltava
de seu sítio em Monte-Mor-SP (sua terra
natal), quando foi atingido de frente por
um carro conduzido por bandidos fugin-
do da polícia. Faleceu preso nas ferra-
gens, no apogeu da carreira e com nume
10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
rosos projetos em curso. Na opinião de
seus amigos, além de excelente cientista
acadêmico, a sua origem rural fazia com
que tivesse um imenso interesse na apli-
cação prática dos conhecimentos gera-
dos. O Brasil acaba de perder quem esta-
va alavancando o cultivo de algas de
forma tecnificada e realista. Sua morte
foi um choque para todos que o conheci-
am, pois Édson tinha um astral sempre
elevado, brincalhão, e era um amigo de
todos que dele se aproximavam.
FUTUROS PROCESSADORES - A
Escola de Pesca Estadual Ascânio de
Faria, em São Gonçalo - RJ pretende
formar até o final de 2006, nada mais,
nada menos que 8 mil alunos. A escola da
FIPERJ - Fundação Instituto de Pesca do
Estado do Rio de Janeiro, que funciona
em parceria com a Fundação de Apoio à
Escola Técnica oferece cursos gratuitos
em dois turnos e conta com aulas de
Mecânica Naval, Culinária e Processa-
mento do Pescado. A aula de Processa-
mento do Pescado tem como objetivo
ensinar como agregar valor ao pescado,
mostrando boas práticas de manipula-
ção, além da conservação do pescado
através da salga, defumação e baixas
temperaturas. Os alunos produzem ham-
búrgueres, salsichas, lingüiças de peixe,
entre outros itens.
PELE DE PEIXE - Sandálias femini-
nas com pele de peixe estão sendo pro-
duzidas por um pequeno empresário
amazonense. Aidson Ponciano já fazia,
há seis anos, sandálias de couro sintético
e juta quando aprendeu com Jorge
Rabelo, pesquisador do INPA-Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, a
técnica de usar a pele de pescado. Pas-
sou, então, a desenvolver modelos ela-
borados com pele de pescada e tambaqui
que vieram agregar valor às sandálias,
que são compradas principalmente por
turistas, que pagam cerca de R$ 130,00
o par. O negócio cuja produção é de 150
pares por mês, envolve seis pessoas na
confecção e venda dos produtos. Os
retalhos das peles estão sendo estudados
para que sejam aproveitados na confec-
ção de carteiras e porta-cartões de visita.
O Sebrae está auxiliando o empresário,
que têm participado de capacitações para
aperfeiçoar o acabamento dos produtos e
investir na comercialização.
DESPOLPADORA - A High Tech Equi-
pamentos Industriais Ltda., empresa lo-
calizada em Chapecó-SC, além de ser
líder absoluta na fa-
bricação de Máqui-
nas Desossadoras
para aves, com mais
de 140 máquinas
instaladas, está fa-
bricando também,
máquinas despol-
padoras para pei-
xes, com o objetivo
de se fazer o apro-
veitamento da carcaça do peixe
(espinhaço), após a retirada do filé. Com
este novo equipamento obtém-se uma
polpa totalmente isenta de espinhas, e
dependendo do tipo de peixe utilizado e
peso da carcaça, chega-se a um rendi-
mento de separação acima de 75%, o que
viabiliza muito o seu aproveitamento. O
resultado final é um produto da mais alta
qualidade, e com poder nutritivo muito
bom, ideal para produtos à base de peixe,
como hambúrgueres, empanados, lingüi-
ças, salsichas, surimis, etc.. A High Tech
desenvolveu a despolpadora para peixes
depois de dois anos de pesquisas e inves-
timentos, e oferece no mercado dois mo-
delos de máquinas; a HT 250, com capa-
cidade de 250 kg/h de alimentação de
matéria-prima, e a HT 500, com capaci-
dade horária de 500 kg/h. Os interessa-
dos em saber mais informações a respei-
to destes equipamentos, podem entrar
em contato com a High Tech, através do
site: www.hightech.ind.br
PISCICULTURA INFORMATIZADA
– No dia 17 de outubro foi realizado na
UNIOESTE – Campus de Toledo/PR, a
solenidade de entrega de 200 cópias do
software Beta – Programa para Gerenci-
amento de Aqüiculturas, a serem distri-
buídas ao setor aquícola. O Beta é resul-
11Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
tado de um convênio firmado entre o
Curso de Engenharia de Pesca e o IAP/
CPAA – Instituto Ambiental do Paraná/
Centro de Pesquisa em Aqüicultura
Ambiental. A idéia do sistema é ser uma
ferramenta gerencial para os pequenos
piscicultores paranaenses, como forma
de otimizar e racionalizar seu processo
produtivo. O software pode ser utiliza-
do por técnicos, professores, pesquisa-
dores, estudantes e instituições de cré-
dito, de acordo com as particularidades
técnicas e econômicas de cada região.
O usuário cadastra investimentos, des-
pesas e operações financeiras, além dos
viveiros e cultivos. O Beta então, emite
relatórios sobre os desempenhos técni-
cos como sobrevivência, ganhode peso,
densidade, produtividade e conversão
alimentar. Além disso, o programa per-
mite estabelecer análises econômicas e
também o relatório fluxo de caixa (en-
tradas e saídas financeiras). Com essas
informações é possível verificar se o
empreendimento está sendo viável de
forma a possibilitar agilidade e segu-
rança na tomada de decisões. Mais in-
formações sobre o Beta podem ser obti-
das com o GERPEL - Grupo de Pesquisas
em Recursos Pesqueiros e Limnologia,
pelo email: gerpel@unioeste.br ou fone
(45) 252 3535 ramal 261.
CEARÁ 1 - Foi realizada no dia 6 de
outubro na sede do Sebrae-CE, uma reu-
nião da ACEAq - Associação Cearense
de Aqüicultores, junto a produtores de
tilápia, com o objetivo de organizar o
seguimento da aqüicultura e criar a
COOPEIXE-Cooperativa dos Piscicul-
tores do Ceará Ltda, com a perspectiva
da exportação do filé de tilápia já a partir
de 2004. A reunião contou com a presen-
ça de representantes do Banco do Nor-
deste, do Banco do Brasil, técnicos do
Sebrae-CE, o Presidente do Sindicato
dos Artesãos, o Presidente da CELPEX
- Indústria do Pescado, o Presidente da
OCEC - Sindicato e Organização das
Cooperativas do Ceará, o Diretor da
Vikouro e de José Nilton Kury, repre-
sentante da empresa mineira Fruto do
Rio, que já exporta filés de tilápia para o
mercado americano.
 
CEARÁ 2 – Eudes Medeiros Paulino,
presidente da ACEAq – Associação
Cearense de Aqüicultura, em correspon-
dência para a redação da Panorama da
AQÜICULTURA, informa que estão tra-
balhando para dar um basta na entrada
das tilápias “engordadas com caldo de
esgoto do baixo Tietê”, no Estado do
Ceará. A ACEAq já se reuniu com os
órgãos dos governos municipal, estadu-
al e federal (DFA) - conjuntamente -
onde exigiu o cumprimento da legisla-
ção existente, bem como outras medidas
que haviam conseguido junto ao gover-
no anterior (acondicionamento do pes-
cado eviscerado como manda a legisla-
ção e, barreiras fiscal e sanitária) que, no
final do ano passado deram bastante
resultado. Informou também que fize-
ram chegar às mãos do governador do
estado, Lúcio Alcântara, a edição da
Panorama da AQÜICULTURA com a
denúncia do problema, o que fez com
que a reunião com o Governador fosse
convocada num breve espaço de tempo.
Eudes Paulino informa ainda que em
Fortaleza não chega somente dois cami-
nhões por semana carregados com tilápia
(40 t), mas sim de 100 a 120 toneladas
por semana, o que tem afetado muito o
mercado local e levado muitos produto-
res a desistirem da atividade. Como con-
seqüência, diz, temos menos empregos e
renda no campo, além dos problemas de
saúde que estes peixes sem qualidade
podem causar a população. Segundo a
ACEAq verificou, em visita ao Mercado
do Carlito Pamplona, local onde se
comercializa 90% da tilápia no estado, a
profissionalização dos transportadores
de tilápias de origem duvidosa chegou a
um nível tão elevado que estão chegando
em Fortaleza com nota fiscal, guia de
trânsito exigido pela DFA e SIF. Entre-
tanto, na oportunidade, foi detectado que
o produto não chega acondicionado como
manda a legislação, ou seja, em caixa de
isopor devidamente lacrada. Até o mo-
mento, diz Paulino, não há iniciativas
para apreender a mercadoria como man-
da a lei. Desta forma, já solicitaram às
secretarias encarregadas da fiscalização,
12 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
que apreendam o produto quando trans-
portado irregularmente (transporte em
caixas plásticas a granel). Na Secreta-
ria da Fazenda, a ACEAq pediu a alte-
ração da pauta fiscal de R$ 2,80 para R$
4,00 onde é gerado o ICMS na entrada
do produto. Eudes Paulino acredita que,
desta forma, será possível inibir em
grande parte a importação de tilápias
sem qualidade no Estado.
NOVA FÁBRICA - Apostando no
crescimento do mercado da carcini-
cultura brasileira, a Socil Guyo-
marc’H está fazendo investimentos
em sua nova unidade de produção de
alimentos para camarões. Segundo Fá-
bio Torretta, Diretor de Marketing da
empresa, a nova unidade inicia suas
operações já em novembro deste ano,
após um investimento superior a um
milhão de reais, na antiga unidade,
que terá sua capacidade de produção
ampliada em 40%. Além da amplia-
ção da fábrica, a Socyl investirá em
um novo processo de fabricação dife-
renciado e exclusivo no Brasil, já uti-
lizado pelo Grupo Evialis na Europa e
Ásia, que traz como benefícios uma
maior estabilidade, palatabilidade e
conversão alimentar, significando
mais peso com menos alimento, me-
nor poluição e melhor qualidade de
água. O grupo francês Evialis é espe-
cializado em nutrição e saúde animal
e um dos maiores produtores de ração
em todo o mundo. É a líder do merca-
do francês e atua em mais de 50 paí-
ses. Sua produção está na casa das 6
milhões de toneladas anuais.
PROJETO GENOMA - O CNPq vai
liberar recursos no valor de R$ 400
mil, e, posteriormente, de mais R$
300 mil para o desenvolvimento do
Projeto Genoma do Camarão. A pes-
quisa tem como objetivo aumentar a
competitividade do setor produtivo
do camarão brasileiro que, fundamen-
tado em informações genéticas pode-
rá produzir com mais eficiência um
produto de melhor qualidade alimen-
tar, e um animal com melhores gan-
hos de crescimento e maior resistên-
cia a doenças. O projeto coordenado
pelo Prof. Pedro Manoel Galetti
Junior, do departamento de Genética
e Evolução, da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar) vai estudar o
Litopenaeus vannamei, principal es-
pécie cultivada no Brasil, mas poderá
também servir como modelo para in-
vestigações do genoma de espécies
nativas de camarão. O estudo visa
seqüenciar 300 mil ESTs, ou Expres-
sed Sequence Tags. O tamanho do
genoma do grupo ao qual pertence o
L. vannamei é de 2 bilhões de pares de
bases, o que equivale a dois terços do
genoma humano. As pesquisas serão
desenvolvidas em uma rede de labo-
ratórios especializados em genética e
bioinformática de várias instituições
brasileiras das regiões Sul, Sudeste,
Norte e Nordeste.
ESTÍMULO À PESQUISA – O inte-
resse no melhoramento genético de
camarão por parte de empresas priva-
das, tem induzido à conclusão por par-
te da Embrapa, que é preciso investir
em pesquisa para que haja também o
incremento do setor. Por conta disso,
o chefe da Superintendência de Pes-
quisa e Desenvolvimento da Embrapa,
Geraldo Eugênio, ressaltou que já co-
meçaram as iniciativas sobre esta ques-
tão, já que na previsão da SEAP, os
investimentos na carcinicultura deve-
rão triplicar em dez anos. Segundo
José Fritsch, a SEAP - Secretaria Es-
pecial de Aqüicultura e Pesca espera
que esta previsão seja considerada es-
tratégica pela Embrapa, de maneira
que a empresa venha a assumir na
aqüicultura o papel que já desempe-
nha na agricultura e pecuária, abrindo
concursos para incrementar os estudos
de espécies nativas do camarão. Atual-
mente a Embrapa conta com apenas 13
pesquisadores atuando no setor.
13Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
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EPAGRI - Com o objetivo de pro-
mover ações que gerem tecnologias
sustentáveis em aqüicultura e pesca,
foi criado pela Epagri de Santa
Catarina, o Centro e Desenvolvimen-
to em Aqüicultura e Pesca – CEDAP.
O novo centro ins ta lado em
Flor ianópol is é chef iado pelo
oceanógrafo Sérgio Winckler da Cos-
ta e tem como missão assessorar o
governo na execução das ações de
pertinentes a atividade e em conso-
nância com a Epagri. Dentre as ações
estão previstas a coordenação das
atividades relacionadas com a assis-
tência técnica e extensão junto aos
produtores rurais e pescadores em
todo o território catarinense e a as-
sessoria nas ações das Secretarias
Regionais de Governo. A criação do
Centro de Desenvolvimento em
Aqüicultura e Pesca é um passo im-
portante para o fortalecimento, am-
pliação e consolidação dos traba-
lhos desenvolvidos pela Epagri.
TILAPICULTURA BAIANA - Um
projeto para o desenvolvimento da ca-
deia produtiva da tilápia, receberá re-
cursos no total de R$ 870 milvindos da
Seagri- Secretaria da Agricultura, por
meio da Bahia Pesca e do Sebrae, que
serão voltados para estudos e análise de
desempenho, qualificação e conscien-
tização de integrantes em todos os seus
segmentos. A formalização da parceria
foi realizada na sede da Bahia Pesca,
em Salvador. A tilapicultura baiana que
já conta com mais de cem produtores
comerciais e de pequenos portes, tem
ciclo de apenas seis meses. Depois de
processado, o filé da tilápia está sendo
comercializado entre R$ 14,00 a R$
22,00. Já o peixe inteiro é vendido entre
R$ 4,50 a R$ 6,50. A tilápia baiana
abastece o mercado interno e é exporta-
da, principalmente para os Estados Uni-
dos. A expectativa da parceria segundo
declarou o presidente da Bahia Pesca,
Max Stern, é que haja uma maior regu-
laridade de oferta e melhoria da maté-
ria-prima, já que com os estudos, pre-
tende-se promover o aumento da pro-
dutividade, melhoria da produção e ele-
vação de renda para as regiões atendi-
das. Os municípios que serão benefici-
ados são Barra, Camacã, Ipiaú, Ibirataia,
Itapetinga, Ilhéus, Jequié, Paulo Afon-
so, Senhor do Bonfim, Sobradinho, San-
to Antônio de Jesus, Teixeira de Freitas
e Valença.
INAUGURAÇÃO - Com a presença
do ministro José Fritsch, a empresa Mar
& Terra inaugurou em Itaporã, no Mato
Grosso do
Sul, em final
de setembro, o
mais avança-
do frigorífico
para o abate
de peixes do
País. Com ca-
pacidade para
processar oito
toneladas de
peixe por dia,
o empreendimento vai gerar cerca de 70
novos empregos diretos e outros 250
indiretos para a pequena cidade de 15
mil habitantes. Segundo o diretor-téc-
nico João Campos, o frigorífico vai
trabalhar somente com espécies nativas,
em especial com peixes do Pantanal,
como o pintado, pacu, piauçu, matrinxã
e piracanjuba, que serão engordados em
16 viveiros da fazenda Mar & Terra e
depois comercializados principalmente
para as grandes redes de supermercados
de São Paulo e do Rio de Janeiro. Todo
o processo de abate dos peixes será con-
trolado pelo SIF (Serviço de Inspeção
Federal) e a comercialização dos peixes
virá acompanhada de uma campanha de
responsabilidade ecológica e preserva-
ção ambiental. A Mar & Terra é contro-
lada pela Axial Participações, uma em-
presa de São Paulo que investe em pro-
jetos de desenvolvimento sustentável e
que tem, por princípio, só utilizar peixes
oriundos de pisciculturas.
14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Legislação Ambiental
uito se tem discutido acerca das questões que envolvem o licenci-
amento ambiental das atividades de aqüicultura. Já ressaltamos em
outra oportunidade a importância da determinação de regras claras
e de um procedimento mais célere para o setor produtivo pois, na prática,
o que se verifica é a lentidão dos procedimentos de licenciamento de
competência do órgão ambiental federal – IBAMA – e, para as atividades
localizadas em águas públicas, a conseqüente demora da conclusão dos
processos de cessão. Cabe mencionar que a presente análise se restringe
ao IBAMA, dada a impossibilidade de serem trabalhadas as especificidades
dos OEMAs - Órgãos Estaduais de Meio Ambiente.
Por meio do licenciamento ambiental, o Poder Público atende
ao seu dever de defesa do meio ambiente. Sua atuação é exigida pela
Constituição Federal, não sendo facultado ao Poder Público um
posicionamento omisso. O que determina a necessidade das atividades
aqüícolas se submeterem ao licenciamento ambiental é o seu
enquadramento como atividades poluidoras ou potencialmente
poluidoras. A título exemplificativo, foi estabelecida na Resolução
CONAMA nº 237/97, uma lista de atividades que devem se submeter
ao licenciamento; são as atividades presumivelmente poluidoras,
dentre as quais, encontra-se o “manejo de recursos aquáticos vivos”.
Assim, enquanto vigente esta Resolução, não cabe excepcionar a
exigência de licenciamento ambiental para a aqüicultura, pois trata-se
de uma obrigatoriedade estabelecida pela norma geral.
No entanto, mesmo dentre as atividades que devem submeter-se
ao licenciamento, existem as que, por serem causadoras de significativa
degradação ambiental, sujeitam-se a um procedimento mais complexo. O
licenciamento dessas atividades inclui a elaboração de Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – exigência
estabelecida pela Constituição Federal. Trata-se de uma avaliação do
empreendimento cujo objetivo principal é munir os órgãos públicos de
informações mais detalhadas e completas sobre os impactos ambientais
que serão gerados. Não se constitui, portanto, de um procedimento
simples, mas de uma série de atos e fases, dentre as quais podem estar
incluídas as audiências públicas.
A princípio, a atividade de aqüicultura não se encontra entre as
consideradas de significativo impacto ambiental listadas no art. 2º da
Resolução CONAMA nº 01/86, o que simplifica bastante o procedi-
mento de licenciamento. No entanto, o entendimento é de que tal
relação de atividades é meramente exemplificativa. Desta forma,
mesmo a aqüicultura não estando entre as atividades mencionadas na
Resolução, pode o órgão ambiental, mediante decisão motivada,
exigir o EIA destes empreendimentos. Tal exigência, caso venha a ser
feita, deve ser, porém, respaldada em conclusões técnicas e bem
fundamentadas para não se constituir em um obstáculo infundado à
livre iniciativa, consagrada na Constituição Federal. O EIA é um
estudo de custo elevado e só deve ser exigido quando verificado o seu
pressuposto, qual seja, a significativa degradação ambiental.
Cabe observar, a existência de norma específica para carcini-
cultura localizada na zona costeira (Resolução CONAMA nº 312, de
10.10.2002) que exige a elaboração de EIA/RIMA para empreendi-
mentos: (i) com área maior que 50 hectares; (ii) com área menor que
50 hectares, quando potencialmente causadores de significativa de-
gradação do meio ambiente; (iii) a serem localizados em áreas onde se
verifique o efeito de adensamento pela existência de empreendimen-
tos cujos impactos afetem áreas comuns.
Partindo-se da premissa de que a quase totalidade dos
cultivos ora em funcionamento está isento do EIA, pode-se afirmar
que, a contar da data da protocolização do requerimento da licença
ambiental, o órgão competente tem seis meses para deferir ou
indeferir o pedido, nos termos da mesma Resolução CONAMA nº
237/97. Cabe ressaltar que, caso haja necessidade de elaboração de
EIA/RIMA, o prazo será de até 12 meses e que o prazo será suspenso
durante o período de elaboração dos estudos ambientais.
O mesmo texto normativo também determina que, no caso do
prazo máximo transcorrer sem resposta do órgão ambiental estadual ou
municipal, o IBAMA passará a ser o responsável pelo licenciamento. Nada
dispõe, no entanto, acerca dos casos em que o IBAMA já é o competente
pelo licenciamento. No entanto, em ambas situações a resposta do Poder
Público nos mencionados prazos constitui-se um direito dos aqüicultores
que, se não observado, possibilita aos mesmos o acesso ao Judiciário para
evitar a ocorrência de novas lesões, além das originadas pelo atraso do
requerimento da licença ambiental.
Cabe mencionar, por fim, que a autorização de uso de águas
públicas federais e a licença ambiental são procedimentos distintos,
sendo, portanto, diferentes os órgãos competentes para proceder suas
análises. Nos termos da legislação em vigor, a licença ambiental é um
dos documentos necessários para requerer a autorização de uso (art. 4°,
da Instrução Normativa Interministerial nº 09, de 11.04.2001). Assim,
não há que se falar em autorização de uso sem a obtenção prévia da
licença ambiental.
Neste sentido, ressaltamos a intenção de simplificação do proce-
dimento de cessão, nos termos do texto da minuta do Decreto recentemente
elaborada pela SEAP/PR, apresentada como substitutiva ao Decreto
Federal nº 2869, ora na Casa Civil da Presidência da República para análise
e posterior, ao qual a Revista Panorama da AQÜICULTURA teve acesso.
Nesse novo texto, a análise de licenciamento ambiental passaria a ser parte
dopróprio procedimento de cessão: o empreendedor, ao requerer a
autorização de uso para exercer sua atividade em águas públicas federais,
terá seu pedido de licença ambiental analisado pelo IBAMA.
Observamos, no entanto, que diante da impossibilidade de ser
alterado o procedimento de licenciamento ambiental por meio de Decre-
to ou de Instrução Normativa, poderemos estar diante de uma mera
alteração formal. O aqüicultor não precisaria mais solicitar a autorização
de uso de águas públicas e a licença ambiental em órgãos diversos,
devendo apenas, ao iniciar o processo de cessão de águas públicas, adotar
todas as medidas necessárias para que o processo possa, também, passar
pelo IBAMA que, verificando o cumprimento da legislação, expedirá a
licença ambiental. Cumpre ressaltar que a alteração apenas terá relevân-
cia prática se o real problema for enfrentado, qual seja, a inércia do
IBAMA em responder aos pedidos de licença.
Pretendemos deixar claro que, além da previsão legal de um
procedimento mais simplificado, sem a exigência de EIA/RIMA, na
medida em que a atividade de aqüicultura não se inclui, a princípio, como
potencial causadora de significativa degradação ao meio ambiente, possi-
bilita-se a adoção de medidas, ainda que judiciais, para a solução do
impasse que vem sendo gerado ultimamente para muitos aqüicultores que
pleiteiam o uso das águas públicas da União. A exigência de licenciamento
ambiental impõe deveres e responsabilidades para ambos os lados: ao
aqüicultor incumbe a adoção das condutas destinadas à obtenção de sua
licença ambiental (tais como, requerimento de licença nos moldes deter-
minados, apresentação dos documentos exigidos, realização dos estudos
ambientais necessários) e ao Poder Público cabe analisar e responder ao
pedido, dentro de um prazo razoável que foi estabelecido pela legislação.
Licenciamento Ambiental das
Atividades da Aqüicultura
Por:
Virgínia Totti Guimarães
Advogada especializada em Direito Ambiental
Correspondências para esta coluna podem ser enviadas para
a autora através do e-mail vtotti@alternex.com.br, ou carta
aos seus cuidados para Revista Panorama da Aqüicultura,
Caixa Postal 62.555 Rio de Janeiro, RJ cep: 22252-970
M
15Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Por: Cláudia Maris Ferreira
Pesquisadora Científica - Instituto de Pesca/SP
gua é vida! E como muitos já sabem ou
então já ouviram falar, o Planeta Terra
deveria se chamar “Planeta Água”. Isto
porque cerca de ¾ da crosta terrestre
são recobertos por água. Entretanto, desses ¾,
97,25% caracterizam-se por serem água salgada
e somente 2,75% constituem-se de água conti-
nental. Do total da água continental 68,9% estão
concentrados nas calotas polares restando ape-
nas 31,1% para utilização imediata.
A água é um recurso vital para nossa
sobrevivência e representa um elo de ligação
entre todos os ecossistemas do planeta. Caindo
em forma de chuva é um excepcional solvente
que carrega os nutrientes essenciais à vida.
Mais de 70% do corpo humano é constituído de
água. Além disso, é utilizada no uso doméstico;
industrial; recreação; agricultura, pecuária;
comércio; navegação; aqüicultura, geração de
força motriz e energia; saúde e lazer. Dada a
importância deste recurso e de sua crescente
deterioração ao longo dos últimos anos, a ONU
(Organização das Nações Unidas) decretou
que o ano de 2003 seria o “Ano Internacional
da Água Doce”. A principal intenção deste
órgão foi a de fomentar entre os mais distintos
níveis da sociedade (governamental, empresa-
rial e produtivo) uma ampla discussão sobre
este tema. Segundo a ONU está previsto para o
ano de 2025 a “Crise da Água”, onde aproxima-
damente 5 bilhões de pessoas terão dificulda-
des para satisfazer suas necessidades de água e
a metade delas enfrentará uma extrema escas-
sez, se não houver uma mudança nos padrões
de consumo, uso e conservação dos mananci-
ais. São por estas e por outras razões que se
torna imprescindível para as diferentes ativida-
des dentro da aqüicultura reconhecer a devida
importância da principal fonte de recurso e
sucesso dentro do empreendimento: a água.
O Brasil possui um dos maiores poten-
ciais de água continental, distribuídos em uma
das mais extensas e densas redes hidrográficas
do mundo. Este grande potencial de água conti-
nental - superficial e subterrânea - deve ser
visto como um capital ecológico de
inestimada importância e fator competitivo
fundamental do desenvolvimento sócio-eco-
nômico sustentado. Em contra partida, a água
é o meio pelo qual doenças podem se alastrar
em grande velocidade e freqüência, e se faz
necessário controlar ou atenuar a poluição
aquática e suas implicações biológicas que
representam sérias ameaças à saúde pública.
Muitas vezes a criação de organismos
aquáticos pode ser conflitante com outros
segmentos agropecuários. A agricultura in-
tensiva geralmente lança mão de produtos
químicos e orgânicos para incrementar a sua
produtividade e defender as culturas de possí-
veis ataques de pragas. Estes xenobióticos
entram no ambiente aquático através de apli-
cações na lavoura, sendo disseminados pela
ação de chuvas e ventos, contaminando rios,
lagos e lençóis freáticos. No caso das águas
subterrâneas, a contaminação compromete o
seu uso, o que se torna mais grave considerando
que tais águas tendem a ser mais utilizadas para
o consumo humano, em função do esgotamento
de mananciais de boa qualidade em águas de
superfície (rios e lagos). Os organismos aquáti-
cos são sensíveis à ação tóxica de pequenas
quantidades de substâncias químicas. Eles po-
dem morrer ou envenenar-se em conseqüência
direta da presença de substâncias na água. É o
caso, por exemplo, do cobre e do zinco. Milhares
de organismos aquáticos são mortos, periodica-
mente, em nossos rios, por causa da aplicação de
substâncias como o sulfato de cobre e/ou compostos
a base de cobre e zinco, no combate a fungos que
constituem pragas da lavoura. Essas substâncias são,
depois arrastadas pelas chuvas, para os rios, onde concen-
trações da ordem de 0,5 mg/L já podem provocar grandes
mortalidades de peixes. Nos ambientes aquáticos, a absor-
ção das substâncias tóxicas por algas leva, através da cadeia
alimentar, ao aumento das concentrações nos organismos a
cada degrau dessa cadeia. Este processo é conhecido como
biomagnificação.
16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Qualidade de água para ranicultura
A qualidade e limpeza da água usada em criações de orga-
nismos aquáticos são fatores essenciais para o sucesso desses em-
preendimentos. Na ranicultura, não é diferente. As rãs deixam seus
excretas na água, além de restos de pele, oriundos de trocas
constantes. Por isso, é imperativo a constante renovação da água e
limpeza dos tanques e baias. Esses cuidados são necessários, pois
quando uma doença se instala, a mortalidade é certa, tornando-se
imprescindível a prevenção e a profilaxia desses locais.
Anfíbios, tais como a rã-touro têm necessidade de água com
qualidade física e química específicas. Parâmetros como pH,
condutividade elétrica, alcalinidade total, dureza total, amônia,
nitrito, nitrato, fósforo, cloretos, ferro e principalmente oxigênio,
devem ser medidos antes de iniciar uma criação. Esses parâmetros
são os índices mais importantes que caracterizam a qualidade de
uma água. Para o criador que está se iniciando na atividade é de
suma importância familiarizar-se, mesmo que de maneira
simplificada, com algumas destas definições (ver quadro ao lado).
Todas as formas de vida animal ou vegetal respiram inalan-
do oxigênio e exalando dióxido de carbono. Quando um ambiente
aquático é poluído com matéria orgânica, o consumo de O2 (respi-
ração) excede os níveis aceitáveis, resultando na depleção do
mesmo. Se o desequilíbrio persistir em condições anaeróbicas (sem
oxigênio), peixes e a maior parte de outros animais serão elimina-
dos. O oxigênio permite que bactérias aeróbicas (que usam oxigê-
nio), sejam decompositoras mais eficientes do que as bactérias
anaeróbicas (que não usam oxigênio), reduzindo a matériaorgânica
em decomposição na água sem deixar odores nocivos. Quando
grandes quantidades de material orgânico são descarregadas em
rios, por exemplo, ocorre uma explosão populacional de bactérias
decompositoras. Ao “respirarem”, ocorre uma depressão do oxigê-
nio e a água torna-se anaeróbica ou séptica. A população de
bactérias aeróbicas precisa então dar lugar às bactérias anaérobicas,
que produzem sulfeto de hidrogênio, um gás de cheiro extrema-
mente desagradável que em quantidades suficientes é tóxico.
Os ecossistemas aquáticos são dinâmicos. Mesmo em tan-
ques com pequeno volume de água, os parâmetros físicos e
químicos se inter-relacionam e são dependentes uns dos outros. O
nível de oxigênio dissolvido na água, por exemplo, varia em função
da temperatura e da pressão atmosférica. O teor de oxigênio
dissolvido é no máximo 9,08 mg/L ao nível do mar, e temperatura
de 20oC, ao passo que essa concentração se eleva para 10,07 mg/
L de oxigênio caso a temperatura desça para 15oC. Dois fatores que
estão estreitamente correlacionados: oxigênio e temperatura da
água. O comportamento de vários outros parâmetros se dá da
mesma forma. Assim, não basta ter conhecimento de apenas um
parâmetro (na maioria das vezes o pH) ou ainda, ater-se rigidamen-
te aos valores tabela. O exame físico e químico da água deve ser
analisado de uma forma conjunta, de maneira global, levando em
consideração todos os fatores e nunca apenas um dos parâmetros
isoladamente.
Índices encontrados em ranários comerciais
A excreção dos animais (fezes e urina) resulta em compos-
tos a base de amônia. A amônia é extremamente tóxica quando em
grandes quantidades e, se transforma em nitrito e em nitrato por
ação de bactérias nitrificantes. O nitrito também é um composto
tóxico. Ele pode oxidar a hemoglobina do sangue dos animais,
17Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
• pH (potencial hidrogeniônico) ® É a proporção entre as concentra-
ções de íons de hidrogênio (H+) e íons de hidroxila (OH-), ou seja,
acidez ou alcalinidade. Possui escala de 0 a 14, sendo o 7 o pH neutro,
onde as concentrações de H+ e OH- encontram-se iguais. Abaixo de
7 o pH indica acidez e acima, alcalinidade. O maior responsável pela
sua variação é o ácido carbônico, proveniente do gás carbônico
produzido pelo fitoplâncton durante a fotossíntese, onde em excesso
torna o pH ácido e vice-versa.
• Condutividade Elétrica ® É determinada pela presença de substân-
cias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions. É a capacidade
da água de transmitir corrente elétrica. Na prática para os organismos
aquáticos quanto maior a condutividade mais carregado estará o
sistema.
• Alcalinidade Total ® Indica a concentração de sais de carbonatos e
bicarbonatos na água. Tem função de tamponamento da água, ou seja,
mantém o pH estável, além de participar na formação da carapaça de
algumas espécies de plâncton. Os carbonatos e outros sais reagem com
o ácido carbônico, neutralizando a sua ação.
• Dureza Total ® Indica a concentração de íons metálicos principal-
mente os íons de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) presentes na água.
É expressa em equivalentes de CaCO3. Os valores de dureza total
praticamente encontram-se associados à alcalinidade. Também
potencializa a toxicidade de vários produtos químicos.
• Amônia, Nitrito e Nitrato ® Da excreção dos organismos aquáticos
e da decomposição bacteriana do material orgânico existente na água
o resultado é a amônia, que é dividida em amônia tóxica (NH3) e íon
amônio (NH4). Através da oxidação bacteriana (nitrossomonas) a
amônia é transformada em nitrito. Em seguida o nitrito é oxidado
pelas bactérias do gênero Nitrobacter transformando-se em nitrato. As
bactérias desnitrificantes transformam o nitrato em nitrogênio com-
pletando-se o ciclo. Na prática a amônia e o nitrito são as formas
tóxicas (dependendo do pH e temperatura). O nitrato não é tóxico.
• Fósforo ® É um nutriente com baixa concentração na água, porém
é o de maior fator de concentração no fitoplâncton, seguido do
nitrogênio e carbono. Seus compostos constituem-se num importante
componente da célula viva, especialmente de nucleoproteínas, essen-
ciais à reprodução celular, associados também ao metabolismo
respiratório e fotossintético. Ocorrem principalmente sob forma de
fosfatos solúveis e fosfatação das rochas. Os despejos orgânicos
especialmente os esgotos domésticos contribuem para o enriqueci-
mento das águas com este elemento.
• Ferro ® Dos parâmetros físicos e químicos da água aquele que com
maior freqüência inviabiliza a implantação de uma ranicultura comer-
cial é o ferro. Esse metal quando em altas concentrações causa a
mortalidade dos girinos por toxicidade química. Algumas vezes
consegue-se retirar o ferro da água através de sua oxidação (Fe3 -
coloidal), em outras palavras, introduzindo oxigênio no meio: aeração.
convertendo-a em metahemoglobina, molécula incapaz de trans-
portar oxigênio. Esse processo de transformação: amônia (NH3 -
tóxica) em nitrito (NO2 - tóxico) e em nitrato (NO3 - tóxico somente
em altas quantidades) chama-se desnitrificação e, irá ocorrer de-
pendendo da temperatura e do pH da água consumindo o oxigênio
existente no meio. Essa reação é uma das causas mais comuns de
mortalidade em tanques de girinos, mas também pode ser facilmen-
te contornada tomando-se precauções básicas tais como o controle
da quantidade de alimento ofertado, a oxigenação constante e
eficiente, a renovação da água e limpezas periódicas.
A percepção do homem nas alterações da qualidade da água,
através de seus sentidos, dá-se pelas características físicas e quími-
cas da mesma. É através destas alterações que se pode relacionar
valores que permitem classificar a água por seu grau de contamina-
ção, origem ou natureza dos principais poluentes, seus efeitos,
tipificar casos de cargas ou picos de concentração de substâncias
tóxicas, e avaliar o equilíbrio bioquímico necessário para manuten-
ção da vida aquática. Em outras palavras, o próprio ranicultor ao
observar diariamente a água de seus tanques, pode inferir e/ou
perceber o seu estado. Entretanto, nem mesmo a experiência
adquirida ao longo dos anos irá dispensar o criador de realizar
exames periódicos das águas de seus tanques.
Infortunamente, não existem muitos dados disponíveis so-
bre a qualidade de água ideal para ranicultura. Muitos conceitos e
valores provêm de outros tipos de criações (piscicultura e
carcinicultura). Assim, ocorre uma lacuna quando da aplicação
dessas informações em ranários comerciais, que muitas vezes é
preenchida com dados pontuais colhidos no campo. Uma maneira
de auxiliar na elucidação desse processo é a realização de pesquisas
de toxicologia aquática desenvolvendo bioensaios e testes de
laboratório.
A seguir, alguns dados coletados no campo, oriundos de
observações realizadas em ranários comerciais, principalmente no
Estado de São Paulo (Tabela 1).
*Uma vez que na região sudeste trabalha-se basicamente com água mole e
baixa alcalinidade, quando em tanques de cultivo a condutividade atinge
valores próximos a 150µS/cm, deduz-se que haverá mortalidade caso não
se tome às providências cabíveis.
Analisando estes dados verifica-se que realmente existe
uma semelhança muito grande entre peixes e anfíbios no que diz
respeito aos parâmetros físicos e químicos da água. Nota-se tam-
bém que os girinos de rã-touro são um pouco menos exigentes
quando comparados à maioria dos peixes. Esta é uma das razões
que fazem com que muitos anfíbios sejam conhecidos como orga-
nismos “homebodies”, ou seja, animais que não migram de seu
local de origem quando as condições do meio se tornam adversas.
Entretanto, quando se trabalha em condições de cativeiro e
confinamento deve-se ressaltar que a qualidade da água precisa ser
mantida em excelentes condições para evitar a proliferação de
agentes patogênicos e mortalidades.
Finalizando, fica a lembrança ao ranicultor e a todo aqüicultor
profissional que antes de implantar uma criação comercial é im-
prescindível à realização de um exame completodas características
físicas, químicas e bacteriológicas (quantidade de coliformes totais
e fecais no meio) da água de abastecimento, além dos exames de
alguns parâmetros periodicamente. Baseado no conjunto dessas
informações o ranicultor poderá prever, estimar e até mesmo evitar
determinadas situações dentro do plantel.
18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
19Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
A segunda versão do EPO 2003 - Encontro de Produtores de Peixes
Ornamentais, que ocorreu em Recife entre os dias 9 e 12 de outubro, contou
com a presença de técnicos, aqüicultores e pesquisadores do Rio de Janeiro,
Bahia, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, e até
do Chile. No evento foram apresentadas palestras sobre os diversos temas
ligados ao setor, entre eles o cultivo de ciclideos africanos e o de cavalos
marinhos. Juntos discutiram as perspectivas de financiamento para o setor e a
revisão da atual legislação. Apesar do extrativismo também ter sido debatido,
a aqüicultura se destacou face as grandes possibilidades comerciais que esta
modalidade de aqüicultura pode oferecer, considerando as excelentes condi-
ções ambientais que o Brasil dispõe e o franco mercado internacional para o
mercado de aquarismo.
No EPO 2003 estiveram presentes representantes de cinco instituições
de pesquisa que estão trabalhando com peixes ornamentais, com destaques para
pesquisas em tecnologia de reprodução de novas espécies (exóticas e nativas) e
em nutrição, esta última visando desenvolver rações que promovam uma melhor
coloração dos peixes e uma maior resistência ao período de transporte e
comercialização.
Os aqüicultores e empresários da cadeia produtiva de peixes ornamen-
A Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquáti-
ca - Aquabio, constituída para representar pesquisadores, profis-
sionais, estudantes e entidades que atuam na aqüicultura brasileira
realizará durante os dias 24 a 28 de maio de 2004, no Centro de
Convenções da cidade de Vitória, no Espírito Santo, o
AQÜIMERCO 2004 - Simpósio Mercosul de Aqüicultura. O
evento engloba o AquaCiência 2004: Sustentabilidade e Integração;
o I Congresso da Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia
da Aquabio; o Congresso do Capítulo Latino Americano da WAS;
o II Simpósio Capixaba de Aqüicultura; a Feira Internacional de
Produtos Aqüícolas; a Rodada de Negócios em Aqüicultura e, o
Salão do Produtor.
Segundo Elizabeth Urbinati, presidente da Aquabio, o even-
to é um grande desafio para a recém-criada entidade e representa os
anseios das classes técnica e científica e, principalmente, do
empresariado brasileiro e do Mercosul. Urbinati acredita que,
devido ao momento estratégico por que passa o Mercosul como
importante bloco econômico de desenvolvimento econômico e
social dos países integrados (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai),
associado aos interesses do Governo Brasileiro em fomentar a
aqüicultura no país, a realização desse grande evento proporcionará
uma maior integração entre os setores públicos e privados, criando
condições favoráveis a futuras parcerias e negócios aqüícolas.
O AQÜIMERCO 2004 abordará através de inúmeras confe-
rências, palestras e mini-cursos os aspectos econômicos, sociais e
ambientais da aqüicultura na região do Mercosul. Temas como
políticas de desenvolvimento de intercâmbio técnico científico e
comercial entre organizações públicas e privadas, segurança ali-
mentar; legislação ambiental, inovações tecnológicas, biotecnolo-
Encontro em Pernambuco possibilita
coesão de Produtores de Ornamentais
tais solicitaram ao Ministro José Fritsch, presente
a abertura do evento (foto), a formação de um
grupo gestor que viabilize as ações que permitam
a expansão da produção de peixes ornamentais
através da aqüicultura de modo a permitir uma
maior competitividade internacional para o peixe
ornamental produzido no Brasil.
I Simpósio Mercosul de Aqüicultura reunirá
técnicos e acadêmicos em Vitória-ES
gia e genética estão entre os outros tantos que serão discutidos
durante o simpósio. Paralela ao evento, a Feira Internacional de
Produtos Aqüícolas apresentará aos participantes os últimos lança-
mentos de máquinas e equipamentos para produção, beneficia-
mento e transporte de pescados, bem como outros produtos relaci-
onados às cadeias produtivas dos camarões marinhos e de água
doce, e os aplicados às demais cadeias da aqüicultura como a da
criação de rãs, cultivo de macroalgas e peixes ornamentais.
O grupo gestor do evento é formado pelo CTA - Centro de
Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente; FAES - Federação
de Agricultura do Estado do Espírito Santo; Bioalevinus; BANDES
- Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo; SEBRAE/ES;
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e
Extensão Rural; Unilinhares; Delegacia Federal de Agricultura e
a AQÜES - Associação dos Aqüicultores do Espírito Santo. O
AQÜIMERCO conta ainda com o apoio do CEAQ - Central de
Apoio ao Aqüicultor; Conventions & Visitors Bureau do Espírito
Santo; CRBio-2 - Conselho Regional de Biologia; Escola
Agrotécnica Federal de Alegre; Escola Agrotécnica Federal de
Colatina; GTCAD - Grupo de Trabalho em Camarões de Água
Doce; Instituto ECOS - Pesquisa e Desenvolvimento Sócio Ambi-
ental; Prefeitura Municipal de Vitória; SENAR - Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural; UFES - Universidade Federal do Espírito
Santo e UVV - Centro Universitário de Vila Velha. Mais informa-
ções sobre o evento no site:www.cta-es.com.br
Da esquerda para a direita: Manuel Vidal, Gilberto Falbo e
Alberto Lima com o ministro José Fritsch na abertura do EPO 2003
20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
21Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Semana do Peixe:
uma estratégia do governo para incentivar
o consumo de pescado em todo o Brasil
Uma parceria entre a SEAP - Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca e a ABRAS - Associação Brasileira de
Supermercados, firmada em setembro durante a ExpoAbras,
no Rio de Janeiro, deu início ao projeto Semana do Peixe, um
evento promocional anual que aconteceu na sua primeira
edição, entre os dias três e nove de novembro, em redes de
supermercados de municípios brasileiros, especialmente nos
litorâneos e de grande porte. Por ocasião do evento, os estabele-
cimentos realizaram promoções direcionadas, exclusivamente,
ao consumidor final, como descontos entre 10% e 30% no preço
dos produtos e sub-produtos oriundos da pesca e da aqüicultura.
Coube à Abras a articulação das comunidades agregadas pelas Associ-
ações Estaduais de Supermercados filiadas a ela e, ao governo, a
produção, coordenação e execução do evento, através da sua Diretoria
de Logística, Infra-estrutura e Comercialização.
Além de estimular a participação do pescado na mesa de todos
os brasileiros, as ações desenvolvidas durante a Semana do Peixe
pretendem, também, promover a educação alimentar da população, a
ser desencadeada através da divulgação dos benefícios para a saúde
humana proporcionados pelo hábito de se ingerir pescados. Para isso,
foram distribuídos meio milhão de folderes e cartazes que explicam as
inúmeras qualidades do peixe como alimento de origem animal mais
saudável do mundo, se consumidos regularmente.
O lançamento da Semana do Peixe se deu em Brasília, em um
supermercado da rede Super Maia, mas a promoção atraiu a curiosidade
dos consumidores nos quatro cantos do país. Em Natal, por exemplo,
onde o secretário especial adjunto, Romeu Porto Daros, esteve presente
para a abertura do evento na cidade, uma das perguntas mais freqüentes
era “por que o peixe é vendido tão caro?”
A Semana do Peixe em Porto Alegre, contou com a presença do
Ministro José Fritsch e do Presidente da ABRAS, João Carlos de
Oliveira, entre outras autoridades, no supermercado Big Cristal. Após
um breve discurso, Fritsch distribuiu os folderes promocionais aos
clientes da peixaria.
No Ceará, alguns supermercados venderam algumas variedades
com descontos de quase 40%.Em Fortaleza a tilápia com peso entre 600a 800 gramas foi oferecida a preços promocionais em torno de R$ 3,00
quando, normalmente, o preço gira em torno de R$ 5,00 e em dias de
oferta R$ 4,00. O produtor vende e entrega no local a R$ 3,30. Nos três
primeiros dias da promoção, as vendas cearenses aumentaram em 15%.
Nas Sendas do Leblon, bairro da zona sul da cidade no Rio de
Janeiro, Romeu Porto Daros enalteceu as qualidades nutricionais do
peixe e falou sobre a importância da aqüicultura no fornecimento de
peixes de qualidade para os clientes de supermercados.
A Semana do Peixe foi uma das primeiras iniciativas do governo
para incentivar o consumo de pescados junto à população, mas estão nos
planos da SEAP, também, ações que aumentem a distribuição de peixes
na rede escolar, para que sejam adotados nos cardápios das merendas das
crianças. Segundo Darus, nós brasileiros consumimos menos de 7 quilos
de pescado per capita/ano, enquanto a média mundial é estimada em 20
kg per capita/ano. O Distrito Federal é onde o consumo anual de pescado
é um dos maiores do país, em média, 14 kg por habitante, o dobro da média
nacional. Já Minas Gerais é um dos estados que menos consome peixes,
apenas 2 kg por habitante/ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda um consumo per capita de, no mínimo 12 kg por ano, contudo,
a expectativa do governo é a de que já no ano que vem, tanto a produção
quanto o consumo cresçam em 25%.
Semana do Peixe na rede Sendas - RJ, onde
o camarão vannamei foi vendido a R$ 8,90 e
o filé de tilápia a R$ 14,90, ao lado do filé de
linguado oferecido a R$ 32,80.
22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Por: Manuel Vazquez Vidal Junior
Universidade do Norte Fluminense
e-mail: mvidal@uenf.br
Dos quase quatro mil
produtores de peixes
ornamentais existentes
no Brasil, a maioria faz
dessa modalidade de
cultivo a principal ati-
vidade econômica da
propriedade. Além da
evolução no número de
aqüicultores brasileiros
percebe-se, atualmen-
te também, que é cada
vez mais raro encontrar produtores que cultivam de forma
extensiva ou semi-intensiva os peixes ornamentais. Apesar
disso, muitas espécies de alto valor agregado ainda são
importadas para abastecer o mercado nacional, pois o
aqüicultor brasileiro não dispõe de tecnologia para sua
reprodução induzida, como é o caso dos labeos, botias,
pangassius, bala shark, comedor de algas siamês e outros.
Neste caso, a boa notícia é que alguns centros de pesquisa
em parceria com os aqüicultores desenvolveram tecnologias
eficientes que já estão em campo. Espera-se, com isso, que
o aqüicultor de ornamentais no Brasil se torne mais compe-
titivo, possibilitando a sua participação até, quem sabe, no
mercado externo. Este artigo aborda os aspectos gerais da
reprodução dos peixes ornamentais, uma das etapas do
cultivo que mais desperta o interesse dos produtores por
significar bons rendimentos, especialmente no caso dos
peixes mais raros.
té a década de 40 a aqüicultura brasileira de peixes
ornamentais esteve restrita a poucas propriedades do
Estado do Rio de Janeiro e mais tarde começou a ser
praticada, também, no interior de São Paulo. No final
da década de 70 a produção passou a ser praticada também
em Muriaé-MG, onde ocorreu uma rápida expansão, fazendo
com que na década de 80 esta microrregião mineira passasse
a ser o maior e mais importante pólo de produção de peixes
ornamentais por aqüicultura do país. As práticas, bem como
as espécies adotadas para cultivo nesta época, entretanto,
pouco diferiram das observadas anteriormente. Os cultivos
praticados eram extensivos ou semi-intensivos, não havia
preocupação com a qualidade genética dos espécimes (ex-
pressa na coloração e conformação dos peixes) e, os peixes
utilizados ainda eram os das famílias dos ciprinídeos e
poecilídeos. Apenas alguns poucos produtores se dedicavam
ao cultivo de ciclídeos como o ramirezi e o acara bandeira, ou
de caracídeos como o mato grosso e o tetra. Merece destacar,
no entanto, que dentre produtores de kinguyo e koi do interior
de São Paulo e os produtores urbanos de guppy e de betta, já
havia uma grande preocupação com o melhoramento genéti-
co das linhagens produzidas. Práticas modernas de cultivo
como o sistema super-intensivo já eram adotadas por esses
produtores, que utilizavam recursos tecnológicos oriundos
da aquariofilia.
Foi somente na década de noventa que a aqüicultura
brasileira de peixes ornamentais deu um salto. Até então, o
país pouco participava do mercado externo, exceto pela
expressiva e decadente exportação de peixes ornamentais
frutos do extrativismo na Bacia Amazônica. Com a abertura
do mercado aos peixes importados do sudoeste asiático, o
aqüicultor brasileiro que já não possuía competitividade para
atuar no mercado externo, percebeu que também o mercado
A
Laboratório de peixes ornamentais da UENF
Universidade Estadual do Norte Fluminense
23Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Como as fêmeas não desovam simultaneamente, deve-se
repor o substrato. O período de desova no sudeste começa em agosto
e se estende até dezembro. Como é importante a utilização de
cruzamentos específicos para produção de boas linhagens, aconse-
lha-se o uso de tanques pequenos. Desta forma, pode-se fazer
cruzamentos dirigidos sem muito desperdício de espaço.
Para a desova dos barbos e do paulistinha pode-se adotar a
mesma técnica e no caso da carpa e do kinguyo, podemos ainda
utilizar a indução hormonal visando ter uma desova mais controlada.
Espécies com cuidado parental
No caso das espécies com cuidado parental é preciso avaliar
se realmente há a possibilidade de aumentar a viabilidade dos ovos
e larvas. Em muitos casos, a resposta é não. Então, por que manejar
estas desovas? O manejo da desova nestes casos permitirá que o
reprodutor ou matriz possa reduzir o intervalo de desova, possibi-
litando um maior número de crias por ano. Como exemplo tomare-
mos um casal de acará bandeira. Caso deixemos o casal tomar conta
da prole, o intervalo de desova será de mais de 25 dias, em geral de
30 a 40 dias, mas se a desova for retirada e incubada em separado,
a fêmea fará nova desova dentro de 7 a 10 dias.
No caso do acará disco, as pós-larvas se alimentam do
muco dos pais, mas podem ser alimentadas com sucedâneos.
Mesmo assim, a incubação artificial é controversa, pois a morta-
lidade dos alevinos é elevada e a redução do intervalo de desova
não é tão significativa.
No caso dos peixes que incubam os ovos e larvas na boca,
como o auratus, devemos retirar os ovos da boca da fêmea com
auxílio de jatos de água de uma pisseta, e deixá-los em incubadoras
semelhantes ao modelo MacDonald para ovos densos.
interno estava ameaçado. Além das espécies não produzidas no
Brasil, eram importadas também as mesmas espécies produzidas
aqui, com um agravante: os peixes asiáticos que possuíam caracte-
rísticas de cor e conformação superiores aos nacionais eram ofere-
cidos a preços competitivos.
Se por um lado a falta de tecnologia na época fez com que
diversos aqüicultores desistissem do mercado, por outro, revelou-
se a necessidade da evolução do processo produtivo de ornamen-
tais, fazendo com que uma significativa fração das espécies impor-
tadas passasse a ser produzida aqui no Brasil. Hoje, a aqüicultura
ornamental outrora centralizada na região sudeste cresce com
rapidez e fôlego na Região Nordeste, impulsionada por suas
características climáticas favoráveis ao cultivo de peixes tropicais.
Reprodução
A reprodução dos peixes ornamentais desperta interesse
mesmo em pessoas que não pretendem se dedicar à atividade
produtiva. Isso se explica pela beleza e exotismo da reprodução
natural de algumas espécies, e também pela mistura de uma
complexa tecnologia com uma extrema simplicidade, característi-
cas da reprodução induzida em laboratórios.
Algumas espécies ornamentais possuem estratégias de re-
produção tão complexas que despertam a curiosidade dos aquaristas,
que, com suas observações, contribuem para o desenvolvimento
das técnicas de manejo destas desovas.
É preciso compreender que o desenvolvimentode novas
linhagens é um dos principais objetivos da atividade, pois é a que
representa a possibilidade de maiores lucros e, talvez por esta razão,
é rara a figura do vendedor de alevinos de peixes ornamentais.
Manejo da desova natural
Diversas espécies de peixes ornamentais desovam natural-
mente em tanques ou aquários, e apesar dos produtores obterem
algum lucro com esta reprodução natural, isso não significa que a
taxa de sobrevivência da prole não possa ser aumentada com
técnicas simples de manejo. A adoção destas medidas visa prover
uma alimentação adequada nas fases iniciais de vida, e um ambiente
com o menor número de predadores possível, que em certos casos
são representados pelos próprios pais, resultando em maior
lucratividade e competitividade. A seguir, veremos alguns exem-
plos práticos e viáveis.
Espécies com ovos adesivos
Como exemplo trataremos da reprodução do kinguyo. Esta
espécie tem sua desova estimulada quando ocorre o fim da estação
fria e existe disponibilidade de substratos. Para que aumente a
viabilidade dos ovos, é importante estocar um número de machos
superior ao de fêmeas. Sugere-se dois machos para cada fêmea. O
substrato para desova pode ser o aguapé ou fibras que fiquem
amarradas, simulando raízes. Coloca-se o substrato de forma
concentrada, em dois ou três lugares, e verifica-se, diariamente, a
presença de ovos. O substrato com ovos deve ser transferido para
tanques adubados e ricos em plâncton, mas sem predadores, onde
ocorrerá a eclosão e o desenvolvimento das larvas.
Outra técnica interessante é a separação dos lotes por sexo
e o cultivo em temperatura entre 23 e 26 ºC. Nesta condição os
animais farão diversas desovas durante o ano. Basta ao criador
pegar as fêmeas mais preparadas e extrair os óvulos e o sêmen dos
machos, sem uso de hormônios (mais detalhes deste processo serão
descritos na parte sobre desova induzida).
A aquariofilia foi introduzida no Brasil em meados da
década de 20 na cidade do Rio de Janeiro. Filho de um
comerciante de peixes ornamentais no Japão, o imigrante
Sigeiti Takase veio para o Brasil, trazendo consigo algumas
espécies asiáticas de peixes ornamentais que, mediante
reprodução em cativeiro, forneceram o material para o
comércio de peixes ornamentais que ele viria fundar. Assim
começa a produção de peixes ornamentais por aqüicultura
no Brasil. Nesta fase inicial o cultivo se concentrava em
ciprinídeos com ênfase no kinguyo, na koi e nos barbos,
totalizando quase 50 espécies.
A aqüicultura com peixes ornamentais no Brasil não
é recente, se comparada a outras atividades aqüícolas
desenvolvidas em nosso país, porém vale lembrar que em
outros países essa atividade é bem mais antiga.
Escritos chineses indicam que há mais de três milênios
os kinguyos são utilizados para ornamentação, bem como
existem pinturas que indicam que os maias, os romanos e os
antigos egípcios utilizavam peixes para ornamentação.
Estes fatos, entretanto, não confirmam a prática da
aqüicultura com peixes ornamentais, segundo os conceitos
de hoje e, apenas no século III começou a aqüicultura de
uma espécie ornamental, o kinguyo, após o domínio de sua
técnica de reprodução. Esta mesma espécie, na idade média,
passou a ser selecionada em função da conformação do
corpo e das nadadeiras, originando diversas raças.
24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
25Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2003
Tanto para os ovos aderidos a um substrato, quanto
para os que estão soltos, podemos usar dois tipos de incubadoras,
a de fluxo contínuo e a sem fluxo de água. Na segunda opção, o uso
de aeração é imprescindível. Quando o fluxo é contínuo deve-se
fazer duas ou três interrupções neste fluxo ao longo da incubação
para aplicação de antifúngicos. Na incubadora sem renovação de
água o uso do antifúngico deve ser contínuo.
Propagação artificial
As técnicas de propagação artificial foram desenvolvidas
para propiciar a reprodução dos peixes migradores em ambientes
lênticos, mas podem ser adotadas também para aumentar o contro-
le sobre a desova de peixes não migradores, além do aumento da
taxa de sobrevivência de ovos e larvas. Essas técnicas consistem
em processos que induzem a maturação final dos óvulos e o
aumento da produção de espermatozóides. Algumas delas se
baseiam no manejo do ambiente e outras se utilizam de substâncias
indutoras, geralmente hormônios naturais ou sintéticos. Neste
caso, é importante ponderar se os processos artificiais resultaram
em maior lucratividade que a apresentada pelo manejo da reprodu-
ção natural, não apenas por aumentar o controle sobre o processo
produtivo, mas principalmente por propiciar a reprodução de
espécies mais valorizadas.
Técnicas de indução
As técnicas que se baseiam no manejo do ambiente podem
estar relacionadas à manipulação da temperatura, do foto-período
e também da condutividade elétrica da água. Existem técnicas que
simulam, fisicamente, a piracema e outras que estão relacionadas
ao uso de substratos para desova.
O aumento da temperatura da água e do comprimento do
dia estimula a liberação de hormônios que promovem a maturação.
Esta técnica é utilizada com espécies ornamentais que apresen-
tam desova parcelada e sua aplicação em peixes migratórios tem
sido alvo de estudos.
No caso da coridora, a manipulação da temperatura ocorre de
forma inversa: os peixes são submetidos a um período em baixa
temperatura para estimular a desova. Nesse caso específico esse
período é curto e se assemelha a um choque térmico. A água do tanque
de cultivo tem sua temperatura reduzida à 18 ºC por meia hora e depois
é elevada até 28ºC. A desova, em geral, ocorre em 24 a 72 horas.
A desova de peixes como o acará disco, que prefere águas
com baixa condutividade elétrica, pode ser estimulada pela sim-
ples redução nos valores deste parâmetro. Para tal, utiliza-se fontes
de água natural com condutividade elétrica baixa ou mesmo água
destilada misturada à água dos aquários de desova.
Uso de hormônios
O uso de hormônios para estimular a desova em peixes
ornamentais vem sendo praticado desde o final da década de
setenta, sendo que no Brasil, no início da década de oitenta, já havia
aqüicultores que utilizavam esta técnica na desova do beijador e do
kinguyo.
Diversos hormônios passaram a ser utilizados na indução à
reprodução em peixes ornamentais e apresentam vantagens e desvan-
tagens em relação ao uso de hipófises. Uma vantagem é que com o
uso de hormônios pode-se estabelecer a dose correta, enquanto as
hipófises possuem concentração de hormônios variável.
A técnica mais utilizada em peixes de corte reofílicos e que
apresenta os melhores resultados é a do uso de duas doses. A
primeira dose é chamada de preparatória. Após um período de 8 a
14 horas aplica-se outra dose, esta mais elevada e chamada de
definitiva. Essa mesma técnica pode ser utilizada para algumas
espécies de peixes ornamentais, mas precisa ser adaptada quando
lidamos com espécies que apresentam mais de dois picos de
maturação ovocitária. No caso dos labeos bicolor e frenatus, da
botia lohachata e do bala shark, deve-se utilizar na segunda dose
uma de 2,5 a 4,0 mg/Kg de peso da fêmea.
Os principais hormônios utilizados são o hCG, que é a
gonadotrofina coriônica humana e o LH-RH, que é o fator liberador
do hormônio luteinizante. Este último, em geral, é utilizado asso-
ciado a um inibidor de dopamina, sendo esta a técnica padrão para
desova em pangassius.
O hCG é um hormônio natural humano que atua sobre os
ovários promovendo o aumento da produção do hormônio
luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), que irão atuar
diretamente no óvulo. Já o LH-RH promove a liberação do hormônio
luteinizante. Outro hormônio que vem sendo utilizado é a
gonadodrofina sintética.
O uso de implantes de GnRH (hormônio liberador de
gonadotropina) também vem sendo testado em peixes ornamentais,
porém, ainda não é uma técnica bem estabelecida.
A forma de cálculo das doses de hormônios ou de hipófise
para peixes ornamentais é a mesma que utilizamos para peixes de
corte: simples

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