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83 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
2 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
3Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 3
EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
P
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2004
apo vai, papo vem, e o licenciamento ambiental acaba sendo a vedete de todas as conversas entre aqüicultores.
Esse, aliás, é um tema que também insiste em não fugir desse espaço editorial. Só que dessa vez a minha
preocupação em estar sendo repetitivo logo se desfez quando lembrei que a maior parte dos aqüicultores
brasileiros, apesar de desejarem, não estão licenciados. Dessa forma, suponho que tudo o que se disser aqui
sobre esse licenciamento ainda será pouco.
O motivo que me faz tocar novamente nesse tema tem a ver com uma recente visita que fiz ao Ceará. Lá, me
deparei com dois acontecimentos que me chamaram a atenção: o primeiro envolve um produtor de tilápias na
barragem de Jaibaras, no município de Sobral, que sofreu a perda de 130 toneladas de peixe ao longo de 24 horas,
por conta de uma queda no oxigênio dissolvido na água. Não me cabe aqui analisar a capacidade técnica do
piscicultor de monitorar o seu cultivo e assim ter percebido a tendência de queda da sua curva de oxigênio,
tampouco a sua capacidade de resposta com ações que poderiam ter evitado essa mortalidade e esse prejuízo. O
fato é que assim que a notícia se espalhou e chegou aos gabinetes oficiais cearenses, a melhor ajuda que o
atordoado piscicultor recebeu foi o embargo da sua criação pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente do
Estado do Ceará (Semace). O motivo? O piscicultor não possui o licenciamento ambiental. E quem possui, cara-
pálida? Ao invés de ungüento veio a salmoura. Será que a turma da Semace não sabe que somente em maio último
foi finalmente publicada e Instrução Normativa que regulamenta o Decreto que autoriza o uso das águas públicas
da União para cultivos aqüícolas?
O segundo acontecimento ligado a falta do licenciamento ambiental que também me chamou a atenção no
Ceará, tem a ver com os criadores de camarão do Estado, quase todos amargando prejuízos por conta das mortali-
dades decorrentes do IMNV – o vírus da mionecrose infecciosa, coincidindo com um dos piores momentos do
comércio do camarão brasileiro no mercado internacional. Pois bem, justo nesse momento onde naturalmente
poderiam se socorrer nos bancos para atenuar o baque (os bancos não se cansam de alardear que possuem crédito
de custeio para o setor), os carcinicultores não podem ter acesso ao crédito. E adivinhem por quê? Ora, porque não
têm licenciamento ambiental.
E o agravante é que os carcinicultores ainda ficam levando pancada da opinião pública, que se mantém
constantemente informada através da grande imprensa com as notícias que dizem que as fazendas não têm licença,
por isso mesmo são ilegais.
Para Ricardo Cunha Lima, presidente da ACCC - Associação Cearense de Criadores de Camarão, o produtor não
pode em hipótese alguma ser taxado de marginal ou ilegal uma vez que quase todos têm a licença prévia e a licença
de instalação, e a maioria já deu a entrada na licença de operação. O que ocorre, segundo Cunha Lima, é que já se
passaram 14 meses sem que a Semace libere uma licença sequer de operação, nem tampouco tenha renovado as
licenças anuais de quem já a possui.
A polarização está posta à mesa. De um lado, os grupos autodenominados ambientalistas que não se
cansam de gritar e engessar o poder público, do outro os produtores com seus ouvidos de mouco, que seguem sem
perceber claramente que o seu negócio está correndo o risco de se tornar inviável por conta da intolerância
demonstrada pelas partes envolvidas. Deu a hora das vozes de bom senso retomarem rapidamente o diálogo entre
esses dois grupos.
Enquanto o licenciamento continua neste dilema, convido os leitores para conhecer nesta edição, entre
outros temas, a importância de sabermos a quantidade de energia nas rações; em que pé se encontra a produção de
cistos de Artemia no Brasil; a pesquisa que está permitindo a produção de sementes de mexilhões em laboratório;
a segunda e última parte do artigo sobre peixes redondos e, detalhes do vírus IMNV come as sugestões de manejo
para se conviver melhor com ele.
A todos uma boa leitura,
4 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
5Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br
Direção Comercial:
Solange Fonseca
solange@panoramadaaquicultura.com.br
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
Assistentes:
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fernanda@panoramadaaquicultura.com.br
e Daniela Dell’Armi
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Colaboradores:
Fernando Kubitza
Marco Mathias
Virginia Totti Guimarães
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exclusivamente aos cultivos de
organismos aquáticos
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18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36,
37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65,79,81.
ISSN 1519-1141
Capa: Arte Panorama da Aqüicultura
...Pág 37
...Pág 11
...Pág 13
...Pág 31
...Pág 24
...Pág 58
...Pág 61
...Pág 62
...Pág 53
ÍNDICE
...Pág 63
...Pág 03
...Pág 07
Carcinicultura Ameaçada
Especialistas da Universidade do Arizona identificaram como
“Vírus da Mionecrose Infecciosa” ou IMNV (da sigla em inglês),
o responsável pelas grandes mortalidades que vêm ocorrendo
nos viveiros de camarão no Nordeste. Assim sendo, não se
justifica mais denominarmos a doença de NIM – Necrose
Idiopática Muscular, visto que “idiopatia” se refere a uma
doença cuja origem é desconhecida. O artigo publicado na
página 37, elaborado pelos pesquisadores do Centro de
Diagnóstico de Enfermidades de Camarão Marinho da
Universidade Federal do Ceará, traz a evolução desta doença e
detalhes do quadro clínico que possivelmente permitem que o vírus se estabeleça. Os autores discutem
ainda algumas estratégias de manejo para lidar com este agente infeccioso, cujos prejuízos à indústria
ao longo do ano de 2003, foram estimados em 20 milhões de dólares.
Editorial
Notícias & Negócios
Alterações Práticas da nova legislação sobre o uso das águas públicas
Informações aplicadas ao cultivo de peixes redondos
Cistos de Artêmia: oscilações de produção e desafios tecnológicos
Mitilicultura: a produção de sementes em laboratório como solução
Carcinicultura ameaçada: produtores brasileiros já convivem com o IMNV
A importância da quantidade de energia na ração de peixes
Aqüicultura Ornamental, um mercado aberto para o agronegócio
Monitoramento Ambiental mostra sustentabilidade na carcinicultura
Aqüimerco e Pecnordeste: eventos que aqueceram a aqüicultura
Nova Zelândia e Brasil: boas parcerias comerciaispara o cultivo de mexilhão
Calendário Aqüicola ...Pág 66
6 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
7Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
RESULTADOS CONTESTADOS - Por
iniciativa da ABCC – Associação Brasilei-
ra de Criadores de Camarão, 13 fabricantes
de alimentos para camarão tiveram seus
produtos enviados para análises em labora-
tório fora do país. Os resultados iniciais
mostraram que todas as rações estavam em
desconformidade com seus conteúdos es-
tampados nas embalagens. A notícia já se
espalhou entre os produtores, e tem levado
muitos ao equívoco de associar as altas
mortalidades decorrentes do vírus IMNV à
qualidade da ração que consomem. Do ou-
tro lado, as indústrias produtoras de rações
se defendem explicando que o laboratório
que realizou as análises deveria utilizar
metodologias específicas para identificar
alguns produtos presentes nas rações, e isso
não foi feito. Entre outros exemplos, desta-
cam o caso da vitamina C, cuja busca foi
feita pelo “ácido ascórbico” e não pelo “L–
ácido ascórbico monofosfato”, a vitamina
C utilizada por muitas fábricas. Este des-
cuido levou o laboratório a afirmar que
muitas empresas simplesmente não utili-
zam a vitamina C em seus produtos. La-
mentando a divulgação precipitada desses
laudos, as indústrias de alimentos lembram
que não é de hoje que sofrem acusações.
Segundo um representante do setor, isso
não é de se estranhar porque até hoje, em
nenhum momento, o importante papel das
rações brasileiras foi reconhecido pelos
carcinicultores quando se comemora e se
propaga as razões que levam o Brasil a ser
o campeão mundial de produtividade.
CÃO AMIGO – Os cães estão próximos
de se tornar também os melhores amigos
dos produtores de catfish, no estado do
Alabama (EUA). Em demonstração feita
na Universidade de Auburn, pesquisa-
dores do Laboratório de Pesquisa de
Animais Aquáticos do Departamento da
Agricultura e da Escola de Medicina
Veterinária da universidade, apresenta-
ram aos produtores de catfish o uso de
cães treinados para detectar a presença
do off-flavor já a partir da água dos
viveiros. Na demonstração, dois cães
das raças pastor alemão e labrador, trei-
nados nos laboratórios da universidade
para reconhecer o odor de terra e mofo
característico do off-flavor, foram obri-
gados a passar diante de cinco amostras
de água, das quais apenas uma encontra-
va-se contaminada. Em segundos, após
farejarem, os animais se sentaram diante
da amostra contaminada. De acordo com
os pesquisadores, cães treinados podem
auxiliar a detectar muito mais antecipa-
damente que os humanos a presença do
off-flavor na água, antes mesmo que este
seja detectado pelo paladar humano na
carne dos peixes.
GATO POR LEBRE – A Piscicultura
Aquabel faz um alerta sobre os falsos
revendedores de seus alevinos, que vêm
agindo em diversos estados brasileiros.
Segundo Ricardo Newkirchner, respon-
sável pela empresa paranaense, oportu-
nistas estão se utilizando da credibilidade
conquistada pela Aquabel para
comercializar alevinos de origem desco-
nhecida. Os falsos revendedores enga-
nam os piscicultores, prometendo entre-
gar alevinos e juvenis das tilápias
Tailandesa e Supreme, esse um produto
exclusivo Aquabel, registrado no
INPI. Além de prejudicar a imagem da
sua empresa, Ricardo considera que esse
comércio ilegal traz prejuízos aos pisci-
cultores já que acreditam estar engordan-
do alevinos de qualidade e acabam se
deparando com longos períodos de en-
gorda, alto consumo de ração, reversão
sexual indesejada e custos altos de produ-
ção. Ricardo solicita aos piscicultores que
denunciem esses falsos revendedores para
que sua empresa possa tomar as medidas
legais cabíveis.
 
ACORDO À VISTA - O ministro Luiz
Fernando Furlan, do Desenvolvimento, In-
dústria e Comércio Exterior, informou que
o Brasil poderá chegar a um “acordo políti-
co” com os EUA na ação que os americanos
8 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
movem contra vários países exportadores
de camarão. Em função dessa ação
antidumping, que poderá resultar em mul-
tas retroativas, as importações americanas
do camarão brasileiro caíram cerca de
47% neste ano de 2004. Segundo o minis-
tro, o acordo poderá ser possível em fun-
ção da pequena participação do Brasil nas
importações americanas de camarão (ape-
nas cerca de 3%), visto que a ação dos
EUA visa grandes exportadores, como
Vietnã, Malásia e China.
caberá ao CENIACUA continuar as pesquisas
de desenvolvimento genético de camarões ma-
rinhos e à Nicovita, o desenvolvimento de
alimentos para estes animais, reforçando sua
participação internacional. Na foto, da esquer-
da para a direita, Martín Carrión Lavalle, Ge-
rente de Negócio/Nutrição Animal da Alicorp
S.A.A.;Jorge Arturo Suárez, do CENIACUA e
Dagoberto Sánchez, Gerente Técnico de Ne-
gócio/Nutrição Animal da Alicorp S.A.A.
BARREIRA FISCAL - O Governo do Rio
Grande do Norte decidiu fechar a porta de
saída para o camarão marinho, aplicando
12% de ICMS nas operações interestaduais.
Esta medida visou evitar o que vinha ocor-
rendo há tempos com o camarão produzido
no Rio Grande do Norte, que era exportado
para outros estados (principalmente
Pernambuco), para ser beneficiado e expor-
tado. Para evitar o desemprego de inúmeros
trabalhadores das indústrias processadoras
pernambucanas, a ABCC sugeriu, através
do vice-governador de Pernambuco, que
seja assinado um protocolo com o Rio Gran-
de do Norte, reconhecendo o convênio AE-
15/74. O documento permite a suspensão
do ICMS nas remessas interestaduais de
produtos destinados à industrialização, des-
de que os produtos retornem ao estado de
origem no prazo de 120 dias. Desta forma,
as indústrias processadoras pernambucanas
poderiam continuar processando parte do
camarão produzido no Rio Grande do Norte
e assim continuar mantendo o emprego e a
renda nos dois estados. Atualmente,
Pernambuco é o único estado no Nordeste
que não participa desse mecanismo fiscal.
 
NOVA COOPERATIVA - Os pisciculto-
res cearenses de Curupati estão estruturando
uma cooperativa para a comercialização de
seus peixes. O projeto vai beneficiar 100
famílias até 2005 e prevê a implantação de
640 tanques-rede, que vão gerar uma produ-
ção mensal de 96.000 kg de tilápia e uma
renda familiar de R$ 800,00. Até o final
desse ano a cooperativa deve beneficiar 50
piscicultores atingindo uma produção de 27
toneladas/mês. A primeira despesca já reti-
rou três toneladas de peixes e em julho serão
despescadas mais cinco toneladas de peixes.
O DNOCS investiu até agora R$ 561 mil para
a compra de tanques-rede, ração, construção
de armazém, e prometeu implantar uma uni-
dade produtora de alevinos. Até o final de
2006, o governo espera ampliar a produção a
partir de parcerias com empresários.
PEIXE NA GRAVIDEZ - Pesquisa desen-
volvida pela Universidade de Bristol, na
CONVÊNIO - A Alicorp (Nicovita),
convencida da importância que tem a pesquisa
para o desenvolvimento industrial, firmou du-
rante a Conferência de Prensa realizada no dia
27 de maio na Colômbia, um convênio de
desenvolvimento científico com o Centro de
Investigações de Aqüicultura da Colômbia -
CENIACUA e a Universidade Autônoma do
México - UNAM. Neste importante convênio
9Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Grã-Bretanha, concluiu que mulheres que
comem peixe nos meses de gestação podem
estimular o crescimento de seus bebês. Qua-
se 12 mil mulheres anotaram a quantidade
de peixes que consumiram ao longo das 32
semanas de gravidez para que pudesse ser
calculada a ingestão total de Omega 3. Em
média, as mulheres comeram diariamente o
equivalente a 0,15 gramas desses ácidos
graxos. A pesquisa recomendou que as
mulheres grávidas incluam pelo menos duas
porções de peixe por semana em suas refei-
ções. Os ácidos Omega-3 atuam tornando
os sangues menos viscosos, facilitando as-
sim a sua circulação pela placenta, aumen-
tando, dessa forma, a quantidade de nutri-
entes disponível para o feto.
EXPORTAÇÃO – A Bluefish Piscicultu-
ra, a maior produtora de catfish americano
no Brasil, está, atualmente, exportando parao mercado americano e europeu, 100% da
sua produção. A piscicultura, localizada em
Blumenau-SC, iniciou o processamento de
catfish (Ictalurus punctatus) no ano passa-
do. Após o processamento, onde são
filetados, embarcam mensalmente em
container de 20 toneladas. A empresa conta
com o apoio da ACCS - Associação de
Criadores de Catfish do Sul, que em função
da segurança do novo mercado e de um
contrato cujo valor foi pré-fixado em dólar,
passou a vender a maior parte da sua produ-
ção para a Bluefish, que é a responsável pelo
transporte até a processadora, para posterior
comercialização para o mercado externo.
Atualmente, 30% do catfish exportado pela
Bluefish é proveniente dos vinte associados
da ACCS. Os outros 70% são produzidos em
seis pisciculturas pertencentes à própria em-
presa. André Luiz Theiss, diretor da Bluefish,
acredita que o mercado externo dá a seguran-
ça e a rentabilidade para que os produtores
brasileiros de catfish ampliem a produção.
Segundo ele, nem mesmo os bagres “Basa”
(Pangasius bocourti) e “Tra” (Pangasius
hypophthalmus), produzidos no Vietnam,
têm chegado ao mercado europeu ou ameri-
cano com preços mais baixos. 
WAS 2005 - Já está agendado para os dias 9 a
13 de maio de 2005, em Nusa Dua, Bali, na
Indonésia, o próximo encontro anual da Soci-
edade Mundial de Aqüicultura (WAS na sigla
em inglês). Os interessados em submeter traba-
lhos para apresentações orais ou posters devem
fazê-lo até o dia primeiro de novembro. Os
trabalhos submetidos por fax não serão aceitos,
sendo o método on line de submissão o escolhi-
do pela comissão organizadora do evento. Para
isso deve acessado o endereço: www.was.org/
SubmitAbstract.asp?Code=WA2005
EXPORTAÇÕES PARA OS EUA - Des-
de dezembro de 2003, todas as empresas
estrangeiras que exportam camarões, pes-
cados e outros alimentos para os EUA,
precisam ter estabelecido um registro espe-
cial, com um ultimate consignee ou respon-
sável final, caso a alfândega e/ou outros
órgãos federais venham inspecionar e soli-
citar mais informações sobre o embarque.
Esse “responsável final” precisa ser uma
entidade norte americana, e é mais uma
norma restritiva imposta pelo governo dos
EUA na luta contra o bio-terrorismo. Com
isso, o governo americano pretende tam-
bém minimizar os contrabandos dentro de
containeres, bem como a introdução de
doenças via produtos exportados. No caso
do camarão brasileiro, o ultimate consignee
será também responsável, de forma retro-
ativa, pelo pagamento junto à alfândega de
uma eventual tarifa antidumping que po-
derá em breve vir a ser cobrada. Em acrés-
cimo poderá haver taxas adicionais (acima
de US$250/embarque) exigidas pelo De-
partamento de Agricultura (USDA) para
cobrir os custos de movimentação de
containeres, de checagem com modernos
equipamentos de raios-X, de abertura de
containeres para fins de inspeção, de alu-
guel de espaço em portos e de permanência
em solo americano durante o período de
investigação, dentre outros.
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10 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
DE PESCADORES A INTERMEDIÁRIOS - A pesca no Baixo
Rio São Francisco já não fornece mais alimento e sustento aos
pescadores da cidade de Propriá (SE) e redondezas. De acordo com
o Presidente da Colônia de Pescadores Z-8, Sr. Francisco “Nica”
Rodrigues da Silva, os peixes comercializados na Banca do Peixe
de Propriá, principal ponto de comercialização de pescados da
cidade, são na sua maior parte provenientes das pisciculturas. Com
o declínio da pesca, restou aos pescadores apenas o papel de
intermediários na comercialização do tambaqui, tambacu, curimatã
e tilápias provenientes das pisciculturas.
ANTIDUMPING - O Departamento de Comércio dos EUA anun-
ciou em 6 de julho as tarifas punitivas que serão aplicadas a China
e ao Vietnam, países que junto com o Brasil, Equador, Índia e
Tailândia, vêm sendo acusados de estarem comercializando cama-
rões no mercado norte-americano praticando preços artificialmente
baixos. As tarifas foram diretamente dirigidas a cinco empresas da
República Popular da China e a outras cinco empresas vietnamitas
e ficaram abaixo daquelas solicitadas pela SSA (Southern Shrimp
Alliance). As empresas chinesas receberam tarifas punitivas que
variaram de 7,67 a 112% e as vietnamitas de 12,11 a 93, 13%. Essas
empresas têm agora um prazo para apresentarem suas defesas e no
dia 24 de novembro será anunciada a decisão final do Departamen-
to de Comércio. A decisão das tarifas que eventualmente serão
impostas ao Brasil e aos demais países acusados será anunciada
apenas no final de julho. A expectativa é grande.
CONSUMO DE PESCADO DA AQÜICULTURA – Segun-
do Jochen Nierentz, representante da Organização das Na-
ções Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), no ano de
2020 cerca de 41% do pescado a ser consumido no mundo
(aproximadamente 128 milhões de toneladas), será proveni-
ente da aqüicultura, enquanto os restantes 59%, serão proce-
dentes da pesca extrativa. No ano de 1997 as capturas de
pescados por meio da pesca extrativa representavam 69%,
enquanto que o consumo proveniente da aqüicultura era de
31% (93 milhões de toneladas). Ainda de acordo com Nierentz,
em 2020, a China será responsável por 36% do consumo
mundial de pescados.
SUCESSO DO FILÉ FRESCO – A produção de tilápia já
apresenta posição de destaque na indústria aqüícola latino-
americana, sendo o Equador, Costa Rica e Honduras, os
principais produtores na região, e responsáveis por 90,5%
das 18 mil toneladas de filés frescos que ingressaram nos
EUA em 2003, avaliados em US$ 102 milhões. O restante
das importações de filés frescos foram provenientes da
China (4,77%), Taiwan (1,57%), Brasil (1,16%) e El Salva-
dor (1,05%). A China continua mantendo a liderança das
exportações de filés de tilápia congelados (68%), seguida da
Indonésia (15,41%), Taiwan (10,62%), Tailândia (4,04%),
Equador (0,80%), entre outros.
NUTRI-CAMARÃO – A Nutricil, que está oferecendo no
mercado a sua Linha Nutri-Camarão para garantir um rápido
crescimento e ganho de peso dos camarões em todas as fases
da criação, informa seu telefone para contato, que por engano
não foi publicado em seu anúncio em nossa última edição:
(84) 223-7986. Mais informações: www.nutricil.com.br
MEXILHÕES ORGÂNICOS - A maior empresa processadora
e fornecedora do mexilhão da concha verde da Nova Zelândia,
a Sealord Group Ltd, está pronta para lançar no mercado
inglês a sua primeira partida de mexilhões produzidos com
o selo orgânico, junto à cadeia de supermercados Waitrose.
A empresa criou uma marca de referência mundial para o seu
mexilhão, que é cultivado segundo um programa de monito-
ramento abrangente que inclui normas e práticas de cultivo
aprovadas pela Bio-Gro, agência neozelandesa de
certificação. De acordo a Sealord, existe também um grande
interesse por parte de compradores norte-americanos, em-
bora lá o produto não possa ainda ser classificado como
“orgânico” em função das normas federais para os produtos
orgânicos. O diretor técnico da empresa certificadora Bio-
Gro considera um grande desafio a definição de critérios
para a certificação orgânica de produtos aqüícolas, em fun-
ção da natureza dos cultivos marinhos, no entanto, acredita
que o modelo da Sealord pode ser promovido à uma marca de
referência para normas que estão sendo atualmente desen-
volvidas para a maricultura. A empresa gastou cerca de
NZ$600.000 (R$1,2 milhões) nos últimos cinco anos prepa-
rando o processo de certificação e estima que o selo orgânico
venha oferecer ao produto um valor premium 30% superior.
11Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Legislação Ambiental
Alterações práticas trazidas pela nova legislação sobre autorização de uso para atividade
de aqüicultura em águas públicas federais
Por: Virginia Totti Guimarães
Advogada especializada em Direito Ambiental
e-mail: vtotti@uol.com.br
Na última edição da revista Panorama da AQÜICULTURA
foi publicada a minuta da Instrução NormativaInterministeri-
al que regulamenta o Decreto Federal nº 4.895, de 25 de
novembro de 2003. Com pouquíssimas modificações, esta
Instrução Normativa foi finalmente publicada no Diário Ofi-
cial em maio último, passando a ser denominada Instrução
Normativa Interministerial No 06 de 28 de maio de 2004. O
texto final, com todos os seus anexos está disponível na
Internet, e pode ser acessado na página http://
masrv56.agricultura.gov.br/seap/html/in06.htm. A publicação
desta Instrução Normativa finalmente regulamentou o Decre-
to Federal nº 4.895/2003, que traz a nova legislação acerca da
autorização de uso dos espaços físicos em corpos d´água de
domínio da União para fins de aqüicultura. Neste artigo não se
pretende fazer uma análise jurídica ou críticas aos textos mas
apenas esclarecer aos aqüicultores algumas das mudanças que
foram trazidas e alguns possíveis reflexos.
Órgão ao qual o aqüicultor deve se dirigir
A SEAP – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca é o
órgão responsável pelo recebimento dos pedidos de autorização,
pelo fornecimento de informações aos aqüicultores, pela conferên-
cia dos documentos no ato do protocolo, pela solicitação da docu-
mentação faltante e pela emissão do Registro do Aqüicultor. Além
disso, atuará como interlocutor entre os demais órgãos envolvidos
e o aqüicultor. Assim, a princípio, se o aqüicultor que tive alguma
dúvida ou precisar protocolar documentos, deve procurar o Escri-
tório Estadual da SEAP. Esta medida é uma tentativa de
desburocratizar o procedimento que será comandado pela SEAP.
Despesas decorrentes do processo de aprovação do projeto
A Instrução Normativa nº 06/2004 tem uma regra que dispõe
que “caberá ao interessado o pagamento de todas as despesas decorren-
tes do processo de aprovação do projeto” (art. 2º, § 4º). Tal disposição
deve ser aplicada com muito cuidado pelos órgãos envolvidos. A arre-
cadação de valores pelo Poder Público encontra-se disciplinada na Cons-
tituição Federal e no Código Tributário Nacional, que estabelece princí-
pios e regras que devem ser obedecidos.
Um dos princípios mais importantes nesta área é o da legalidade
que impõe a necessidade dos tributos serem instituídos por leis para que
possam ser devidamente cobrados. Verificando-se, por exemplo, a ne-
cessidade de contraprestação pela utilização de um serviço público ou
em razão do exercício do poder de polícia, deve ser instituída a taxa, por
lei ordinária. Assim, a princípio, tal regra nos parece inconstitucional
por instituir o pagamento de uma contraprestação que não foi prevista
em lei específica. Possivelmente as cobranças com fundamento nesta
disposição poderão ser discutidas no Judiciário.
Licenciamento ambiental
Foram mantidas as regras sobre licenciamento ambiental,
estabelecendo-se, no entanto, nos anexos V e VI, os critérios míni-
mos necessários a este, bem como ao Estudo de Impacto Ambiental
– EIA. Isto não poderia ser diferente, já que o assunto é tratado em
Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.
Prazo para conclusão do processo de autorização de uso
Diferente da legislação anterior, os textos que estão em vigor
não estabelecem prazos para a conclusão do processo de autorização de
uso, nem para o pronunciamento de cada um dos órgãos envolvidos.
Prazo de vigência da autorização
Ao ser expedida a autorização, deverá constar o seu prazo,
tendo sido estabelecido como limite máximo 20 (vinte) anos. A auto-
rização de uso poderá ser renovada, a pedido do aqüicultor, que deve-
rá ser feito com antecedência de um ano do término de sua vigência.
12 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
13Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem)
fernando@acquaimagem.com.br
Nutrição e alimentação dos peixes redondos
Os peixes redondos apresentam hábito alimentar onívoro,
sendo capazes de aproveitar diversos tipos de alimentos, desde
frutas, caramujos, pequenos peixes, plantas, sementes, entre ou-
tros, de acordo com a disponibilidade destes alimentos ao longo do
ano. Por exemplo, na época das cheias dos rios amazônicos, a
floresta inundada oferece ao tambaqui e a pirapitinga um rico
cardápio de sementes, plantas, frutos, castanhas, pequenos peixes,
caramujos, dentre muitos outros alimentos naturais. Estes itens
alimentares são facilmente triturados por seus dentes molariformes.
Adicionalmente, o tambaqui apresenta grande habilidade em filtrar
o zooplâncton presente na água, sendo este um importante alimento
durante os períodos de vazante nos rios amazônicos, quando os
peixes são obrigados a se concentrar na calha dos rios.
Nível de proteína nas rações. Diversos estudos avaliaram a
resposta em crescimento do pacu (Carneiro et al, 1984; Brener
1988; Carneiro 1990; Carneiro et al, 1992; Merola, 1988; Cantelmo
et al, 1994; Muñoz-Ramírez e Carneiro, 2002) e do tambaqui
(Eckman, 1987; Macedo, 1989; Van der Meer et al, 1995; Vidal Jr.
et al, 1998). Os resultados destes estudos (QUADRO 4) são
bastante díspares, devido às diferenças no tamanho dos peixes, na
composição das rações, nas condições ambientais durante os
estudos, na freqüência e taxa de alimentação empregada, na possí-
vel presença de alimentos naturais, entre outras particularidades de
cada experimento.
sta é a segunda e última parte da coletânea
de informações aplicadas ao cultivo do
tambaqui, do pacu e de outros peixes redondos.
Na verdade, trata-se de uma extensa revisão
bibliográfica sobre esses peixes trazida para
nós pelo Fernando Kubitza. Nesta segunda
parte, o foco recai sobre a nutrição e suas
implicações na criação dos redondos; a forma
como reagem às variações dos principais
parâmetros relacionados à qualidade da água;
às doenças e parasitas que usualmente lhes
acometem durante as várias fases do cultivo,
bem como os tratamentos mais adequados; e,
por fim, são revisadas as informações
disponíveis sobre as características dos
redondos que lhes permitem ser processados
e comercializados de várias maneiras.
E
14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
15Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
QUADRO 4 – Recomendações de diversos estudos sobre os níveis de proteína bruta
(PB%) na ração do pacu e do tambaqui.
Rações com baixos níveis de proteína. Nos últimos anos, em
virtude do aumento contínuo no preço dos ingredientes e das
rações, alguns fabricantes passaram a recomendar o uso de rações
com reduzidos níveis de proteína (entre 22 e 24%) para peixes
redondos e outras espécies de peixes onívoros. Com essas rações
mais baratas, vêm a promessa e a expectativa de reduzir o custo de
produção. Invariavelmente isso não ocorre, em virtude do baixo
teor protéico dessas rações penalizar demasiadamente o cresci-
mento e a conversão alimentar. Adicionalmente, a redução dos
níveis de proteína das rações resulta em maior acúmulo de gordura
no peixe produzido, particularmente gordura visceral. Van der
Meer et al (1995) utilizando rações com 20% de proteína, registra-
ram um teor de 18% de gordura na carcaça do tambaqui, comparado
a 11 e 8% quando os peixes foram alimentados com rações
contendo 30 e 40%, respectivamente (QUADRO 5). No caso da
gordura localizada nas vísceras e na cabeça (material não comestí-
vel) essa redução foi de 15 para 12%, implicando, portanto, em
aumento de 3% no rendimento pós-processamento. Eckman (1987)
também registrou um aumento de 16% no teor de gordura corporal
do tambaqui quando estes foram alimentados com ração contendo
25% ao invés de 37% de proteína. Para o pacu, Carneiro et al, 1994,
registraram que a redução no nível de proteína nas rações de 34 para
22% causou aumento de 20% na gordura corporal com base no peso
seco dos animais, o que representa perto de 5% do peso corporal do
peixe vivo. Grande parte do excesso de gordura nos peixes redon-
dos é depositado na cavidade abdominal, o que resulta em menor
rendimento de carcaça no processamento.
QUADRO 5 - Influência dos níveis de proteína bruta (PB) e da relação
energia bruta:proteína (EB/PB) nas rações, sobre o ganho de peso
(GDP), a conversão alimentar(Conv. alim.) e a composição em gordura
na matéria seca (MS) no tambaqui e no pacu.
Adaptado de: 1 Van der Meer et al , 1995; 2 Eckmann 1987 (ganho de peso
em % do peso/dia); 3 Carneiro et al 1994.
Assim, ainda não há unanimidade entre os resulta-
dos de pesquisas sobre os níveis de proteína mais adequa-
dos nas rações para as diversas fases de desenvolvimento
dos peixes redondos. Deste modo, com base nos resultados
obtidos em diversas pisciculturas com o cultivo intensivo
em viveiros (com biomassa variando entre 6.000 e 20.000kg/
ha, em função das diferentes condições de renovação de
água e aeração) este autor sugere uma estratégia nutricional
e alimentar para os peixes redondos (QUADRO 6).
QUADRO 6. Sugestões quanto ao nível de proteína nas rações, número de
refeições diárias (Ref./dia) e estimativa do consumo médio diário de alimento
(% do PV/dia) para peixes redondos.
Energia nas rações. Camargo et al, (1998) verificaram que 3.300
kcal de energia metabolizável por quilo de ração (valores calcula-
dos com base em tabela nutricional para aves e suínos) proporcio-
nou o melhor ganho de peso e conversão alimentar, além de uma
maior taxa de deposição de proteína na carcaça de juvenis de
tambaqui entre 30 e 180g. Registraram, ainda, um aumento linear
na deposição de gordura corporal (de 55 a 65mg/dia) com o
aumento da energia das rações de 2.850 a 3.300 kcal/kg e sugerem
que a energia metabolizável nas rações (estimada com tabelas para
aves e suínos) deve girar entre 12,5 e 14,0 kcal/g de proteína.
Carneiro (1990) estudou a exigência em energia para alevinos de
pacu e sugeriu a formulação de rações contendo um nível energético
próximo a 12kcal/g de proteína. Cantelmo et al (1994) recomen-
dam que a energia digestível nas rações para o pacu seja ajustada
para 10 kcal/g de proteína. Van der Meer et al (1995) sugeriram
manter uma relação EB/PB entre 8,4 e 9,4kcal/g de proteína nas
rações para tambaquis com peso entre 1,5 e 180g.
Qualidade de algumas fontes protéicas. Eckman (1987) regis-
trou o reduzido valor nutricional da farinha de sangue quando esta
foi usada em substituição parcial da farinha de peixes em rações
para o tambaqui (QUADRO 7). Nas rações com 25 e 28% de
proteína bruta, o aumento na inclusão da farinha de sangue nas
rações comprometeu a conversão alimentar e o crescimento do
tambaqui. Esta redução no desempenho dos peixes pode ser atribu-
ída à baixa digestibilidade da proteína das farinhas de sangue
tradicionais e ao seu desequilíbrio em aminoácidos essenciais. No
QUADRO 8 pode ser apreciado o baixo coeficiente de digestibili-
dade da proteína da farinha de sangue (58%), comparado a outras
fontes de proteína. Van der Meer (1995) sugere que o aumento na
inclusão de farinha de sangue reduz a quantidade de proteína
digestível nas dietas para o tambaqui, prejudicando o crescimento
dos peixes, mesmo sob elevados níveis de proteína (50 a 60%) nas
rações. A adição de farinha de peixe em rações com altos níveis de
inclusão de farinha de sangue, parece equilibrar o balanço em
aminoácidos nas rações para o tambaqui, restaurando o crescimen-
to e maximizando a conversão alimentar, conforme observado nos
resultados obtidos por Eckman (QUADRO 7).
16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
17Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
QUADRO 7- Ganho de peso e conversão alimentar de tambaquis alimen-
tados com rações de diferentes níveis protéicos e composição em
ingredientes (Eckman, 1987).
O uso de proteína de origem vegetal nas rações. Diversos estudos
constataram a viabilidade da substituição total da proteína de origem
animal (notadamente originada na farinha de peixe) pela proteína de
origem vegetal (no caso usando o farelo de soja como principal fonte
protéica), em rações para o pacu (Cantelmo e de Souza 1986;
Kubitza, 1990; Fernandes et al, 1998) e para o tambaqui (Van der
Meers et al, 1996; Bock et al, 1998), da mesma forma como o
observado em rações para outras espécies de peixes onívoros, como
por exemplo a tilápia e o catfish americano. Assim, os produtores
não devem se preocupar tanto em detectar algum aroma de farinha
de peixe nas rações, usando isso como um critério para predizer a
qualidade da mesma para os peixes redondos. Devem, e sim, ficar
atentos aos índices de crescimento e conversão alimentar alcançados
nos cultivos.
 Digestibilidade dos principais ingredientes. Diversos estudos
avaliaram a digestibilidade dos nutrientes nos principais ingredien-
tes utilizados na composição das rações para o pacu (Carneiro e
Pires, 1998; Stech e Carneiro, 1998; Carneiro e Abimoradi, 2002).
Os principais resultados foram reunidos no QUADRO 8. O farelo de
soja possui alta digestibilidade de proteína para os peixes redondos
(até 94%). As farinhas de peixe nacionais apresentam baixo coefi-
ciente de digestibilidade da proteína (entre 82 a 88%). Além disso,
as farinhas de peixe possuem elevados teores de matéria mineral,
portanto, com baixo valor nutritivo.
QUADRO 8 - Digestibilidade da proteína bruta (PB), da matéria seca (MS) e da
energia (ENE) dos ingredientes mais comuns usados em rações para juvenis de
pacu (valores compilados de Carneiro e Pires, 1998; Stech e Carneiro, 1998;
Carneiro e Abimorad, 2002).
Vitaminas C e E
Até o momento, poucos estudos focaram a determinação
das exigências ou do efeito da suplementação de vitaminas indivi-
duais para os peixes redondos. Castagnolli et al (1994) determina-
ram que a adição de 50mg de vitamina C por quilo na ração foi
suficiente para promover o adequado crescimento em alevinos de
pacu com peso ao redor de 10g. Peixes alimentados com ração não
suplementada com vitamina C apresentaram anorexia após sete
semanas e um menor crescimento comparado aos peixes alimenta-
dos com as rações suplementadas. Uma análise histopatológica do
tecido branquial nestes peixes revelou hiperplasia, hipertrofia e
displasia da cartilagem basal dos filamentos branquiais. Foram
observadas distorção e inflamação na porção final das lamelas
branquiais primárias (Martins 1994). Miranda et al (2002) alimen-
taram pós-larvas de pacu com rações contendo entre 125 e 750mg
de vitamina C por quilo e registraram melhor crescimento utilizan-
do rações com 250mg de vitamina C por quilo. Brum et al (2004)
observaram que juvenis de pacus alimentados com ração contendo
500mg de vitamina C por quilo apresentaram melhor formação de
macrófagos comparados aos peixes alimentados com ração despro-
vida desta vitamina. Isso demonstra a importância da vitamina C no
fortalecimento dos mecanismos de defesa dos peixes. Borges et al
(1997) observaram que os juvenis de pacus (250g) que foram
alimentados com ração contendo 2.000mg de vitamina C/kg apre-
sentaram uma depleção menos intensa da reserva de glicogênio no
fígado após o estresse devido ao manuseio, quando comparados aos
peixes que foram alimentados com ração não suplementada com
vitamina C. Chagas e Val (2003) verificaram que a inclusão de
vitamina C nas rações melhorou o crescimento e a conversão
alimentar do tambaqui e recomendaram a suplementação com pelo
menos 100mg/kg (QUADRO 9). Peixes alimentados com rações
desprovidas de vitamina C apresentaram anemia (baixo hematócrito
e baixa contagem de eritrócitos). Deficiência de vitamina C em
rações para alevinos de pacu resultou em deformidades na coluna
(escoliose e lordose), reduzido crescimento e alta mortalidade após
manuseio e transporte.
QUADRO 9 - Efeito da suplementação de vitamina C nas rações, sobre o ganho de
peso (GDP), a conversão alimentar (CA) e a sobrevivência (SOB) de alevinos de
tambaqui com peso entre 30 e 60g (Adaptado de Chagas e Val, 2003).
Belo (2002) observou um efeito positivo da suplementação
com 100 ou 450mg de vitamina E por quilo de ração sobre os
mecanismos de defesa do pacu e sugere a importância da
suplementação das rações com estes níveis de vitamina E para peixes
que serão submetidos ao estresse de confinamento em alta densidade
ou de manuseio.
Tolerância à qualidade da água
Temperatura da água. Peixes tropicais como o tambaqui e o pacugeralmente encontram conforto térmico em temperaturas variando
entre 27 e 30oC. Nestas temperaturas o consumo de alimento parece
atingir o nível máximo, possibilitando alcançar as maiores taxas de
crescimento. Araújo-Lima e Goulding (1997), citando estudo de
Saint-Paul (1983), registraram um aumento no metabolismo de
rotina do tambaqui (peixes entre 2,5 e 40cm) com a elevação da
temperatura até 30oC. Deste ponto até 35oC, a taxa metabólica se
manteve estável.
O consumo de alimento para os peixes redondos cai conside-
ravelmente quando a temperatura da água se aproxima de 22-20oC.
18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Dias et al (1998) observaram que o consumo
de alimento em juvenis de pacu foi, em
média, 30% maior a 27oC comparado a
23oC. Nos meses mais frios, quando a tem-
peratura da água atinge 17-18oC aumenta a
incidência de problemas com parasitos, fun-
gos e bactérias, notadamente com o tambaqui
e o tambacu, podendo ocorrer grande mor-
tandade. Estes peixes geralmente não supor-
tam exposição prolongada à temperaturas
da água abaixo de 14oC.
Poucas são as informações disponí-
veis com relação ao efeito da temperatura
sobre o aproveitamento dos alimentos nos
peixes redondos. Recentemente, para
tambaquis com peso variando entre 20 e
350g, Vidal Jr. et al (2002 a,b) registraram
maior digestibilidade da proteína e da maté-
ria seca dos alimentos em temperaturas va-
riando entre 29 e 30oC. Com a temperatura
acima de 32oC ocorreu uma redução na
digestibilidade dos alimentos e um aumento
no tempo de trânsito intestinal. Os resulta-
dos destes estudos indicam que as tempera-
turas ideais para o processo digestivo do
tambaqui estão entre 29 e 31oC. Dias et al
(1998) observaram um tempo de trânsito
gastrointestinal de 14 horas a 27oC e de 36
horas a 23oC em juvenis de pacu com 160g.
Amônia. A toxidez da amônia para juvenis
de tambaqui com 17g foi avaliada por
Croux et al (1994). A concentração de amô-
nia total (NH3 e NH4+) na água foi fixada em
5mg/L. Com o pH da água em 6 ou 7, não foi
observada mortalidade. Com a elevação no
pH para 8,0 a mortalidade variou entre 10 e
20%. Nesse valor de pH cerca de 7% da
amônia total está na forma tóxica (NH3), ou
seja, 7% de 5mg/l equivale a 0,35mg de
NH3/L. Com a elevação do pH para 9,0 (o
que resulta em uma concentração próxima
de 2mg de NH3/L) a mortalidade foi total.
Marcon et al (2002) registraram para
o tambaqui uma CL5096h (concentração que
mata 50% dos animais em 96 horas) ao redor
de 0,71mg de NH3/litro. Esses pesquisado-
res observaram um aumento na concentra-
ção de glicose e uréia no plasma dos peixes
expostos por 48 horas a concentrações de
0,5 e 0,7mg de NH3/litro. Os parâmetros
sangüíneos analisados foram restabeleci-
dos aos níveis normais 48 horas após os
peixes terem sido transferidos para água
livre de amônia.
pH. O tambaqui é um dos peixes de melhor
capacidade de adaptação ao baixo pH da
água. Em um estudo realizado por Wilson et
al (1997), o pH da água foi gradualmente
abaixado de 6 para 5, de 5 para 4 e de 4 para
3,5, permitindo que o peixe ficasse por 24
horas sob a nova condição de pH. Juntamen-
te com o tambaqui, outras duas espécies
foram avaliadas (matrinxã, Brycon
erythropterum, e o armau, Hoplosternum
litorale). Sob pH 3,5, o tambaqui foi a única
espécie a recuperar o balanço iônico no
plasma após 18 horas de exposição em água
ácida. Em pH 3,0 foi detectado estresse
iônico, com redução nos níveis de Na+ e Cl-
e aumento na concentração de amônia e
proteína no plasma. Em outro estudo,
Portela et al (1997a) observaram que a
exposição do tambaqui a pH = 3,5 resultou
em perdas significativas de Na+, Cl- e K+ do
plasma. As perdas destes íons foram redu-
zidas com o aumento na concentração de
íons Ca2+ na água.
Oxigênio dissolvido. Araújo-Lima e
Goulding (1997) em referência a um estudo
de Saint Paul (1984) relataram que o
tambaqui começa a mostrar os efeitos da
hipoxia quando o oxigênio dissolvido atin-
ge valores ao redor de 2mg/L. Rantin et al
(1998) registraram uma pressão crítica de
oxigênio para o pacu ao redor de 20 e 25%
da saturação de oxigênio, sendo que a respi-
ração na superfície teve início com valores
logo abaixo dessa concentração crítica.
Saint-Paul (1986) registrou que tanto o
tambaqui como a pirapitinga podem sobre-
viver por horas em águas com menos do que
0,5mg/L de oxigênio dissolvido, utilizando
uma estratégia de respiração de emergência
através do prolongamento (expansão) do
lábio inferior (beiço). Acredita-se que esta
expansão labial auxilie no aumento da taxa
de ventilação branquial (aumento na passa-
gem de água através das brânquias). No
lábio expandido também está presente uma
intricada rede de capilares sangüíneos, que
pode estar envolvida na absorção direta do
pouco oxigênio presente na água ou, até
mesmo, do oxigênio presente na atmosfera.
Zaniboni Filho et al (1997) observa-
ram um aumento no consumo de alimento e
no crescimento do pacu com o aumento na
concentração de oxigênio dissolvido na
água. Esta resposta positiva no crescimento
e consumo ocorreu até determinados níveis
de oxigênio, acima dos quais, não foram
registradas diferenças adicionais no consu-
mo e no crescimento dos peixes. Estes ní-
veis de oxigênio, que podem ser considera-
dos níveis de conforto para o pacu, foram de
32 e 40% da saturação nas temperaturas de
25 e 28oC, respectivamente.
Supersaturação de gases. Domitrovic et
al (2000) avaliaram o efeito da
supersaturação de gases na ocorrência de
doença da bolha de gás e na tolerância de
juvenis de pacu expostos por diferentes
tempos a concentrações de gases totais va-
riando entre 100 a 126%. De uma forma
geral, a exposição contínua por 24 horas a
19Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
uma concentração de 126%, resultou na morte de 50% dos peixes
(LC5024h = 126% da saturação). Este mesmo efeito (50% de
mortalidade) também foi observado em peixes mantidos por 8 dias
(192 horas) a concentração total de gases de 121%. A concentração
limite que pode causar lesões relacionadas à doença da bolha de gás
foi ao redor de 114% durante 24 horas contínuas de exposição.
Peixes que apresentavam lesões e efeitos letais pela exposição a
altas concentrações de gases totais geralmente se recuperavam em
um período de 24 horas, após o restabelecimento dos níveis normais
de saturação de gases.
Nos viveiros de cultivo a concentração de oxigênio dissol-
vido freqüentemente ultrapassa 200% da saturação. No entanto, não
há registros de mortalidade que possa ser atribuída a essa condição.
Doenças e parasitoses
Nesta seção serão apresentadas as principais parasitoses e
doenças registradas em peixes redondos, quer seja em condições de
cultivo ou em tanques de pesca recreativa.
Protozoários parasitos. Moraes e Martins (2004) registraram a
ocorrência de Ictiophthirius multifilis (íctio), Trichodina (tricodina)
e Piscinoodinium pillulare (Oodiniose ou “doença do veludo”) em
pacu, tambacu e tambaqui. Estes parasitos também são
freqüentemente observados em raspados de brânquias e de pele do
tambaqui. Godoi et al (2002) registraram a presença de tricodina
nas brânquias e na superfície do corpo de pacus cultivados. O íctio
e o “veludo” ocorrem com maior freqüência nos meses com
temperaturas mais amenas (20 a 24oC). Moraes e Martins (2004)
apontam que 73% dos casos de infestação por Piscinoodinium na
região nordeste do Estado de São Paulo ocorreram entre maio e
QUADRO 10 – Sugestões de tratamentos terapêuticos para o controle de algumas parasitoses em peixes redondos.
agosto, com a temperatura da água variando entre 17 e 24oC.
Infestações por tricodina são comuns durante todo o ano, porém
se agravando nos meses de verão, nos quais ocorre um maior
acúmulo de matéria orgânica na água devido às altas taxas de
alimentação, o que favorece a proliferação dos tricodinídios.
Infestações por tricodinas também são freqüentes em larvas, nas
incubadoras dos laboratórios.
Estes protozoários parasitos geralmente causam severas
injúrias ao epitélio branquial. Isso pode ocasionar desequilíbrio
na osmorregulaçãoe dificuldades respiratórias, levando os pei-
xes até mesmo à morte por asfixia. As lesões na pele e no epitélio
branquial dos peixes já debilitados, favorecem infestações se-
cundárias por bactérias e fungos. No QUADRO 10 são resumi-
das algumas recomendações para o tratamento destes protozoários
parasitos. Durante o tratamento, deve ser monitorado o oxigênio
dissolvido na água, evitando que este caia para níveis abaixo de
4-5mg/L, evitando agravar ainda mais a dificuldade respiratória
dos peixes infestados.
Trematodos monogenéticos. Três gêneros de trematodos
monogenéticos foram associados a infestações no tambaqui:
Anacanthorus spatulatus, Linguadactyloides brinkmanni e
Notozothecium sp. (Araújo-Lima e Goulding 1997; Fischer et al,
1997; Araújo-Lima et al, 2002). Godoi et al (2002) também
relataram a ocorrência de trematodos monogenéticos em pacu,
tambacu e tambaqui. Alexandrino et al (1994) observaram severa
infestação por monogenóide da família Dactilogyridae em pacu.
Moraes e Martins (2004) registraram uma freqüência de 71 e 87%
de infestação de pacu por monogenóides em dois pesque-pagues de
São Paulo. O parasito Anacanthorus penilabiatus foi um dos
monogenéticos mais comuns. As infestações são menos freqüentes
no período de inverno e aumentam progressivamente na primavera.
Para o tambacu a freqüência de ocor-
rência foi menor, entre 10 e 13%, sen-
do mais comum o registro de infestações
durante o outono e a primavera. Estes
autores relatam que o fornecimento de
rações suplementadas com 300 a
500mg de vitamina C por quilo, dois
meses antes do inverno, é um manejo
que contribui para reduzir a incidên-
cia de parasitos e doenças. Nomura et
al (2002) observaram que o aumento
na densidade de estocagem (de 0,7 a
1,6kg/m2) e o estresse devido à captu-
ra com anzol e soltura (peque-solte)
favorecem a infestação de tambacus
por monogenóides.
Mixosporídios. Martins et al (1999)
registraram infestações por
mixosporídios com incidência de 97%
no pacu (espécie mais susceptível),
33% no híbrido tambacu e 6% no
tambaqui. O mixosporídio Myxobolus
colossomatis foi encontrado nos ór-
gãos internos (rins, baço, fígado,
vesícula biliar) e na musculatura do
pacu. O mixosporídio Henneguya
piaractus foi registrado nas brânquias
do pacu, do tambaqui e do tambacu.
Nos filamentos branquiais do tambaqui
foram observados cistos entre 0,1 e
0,5mm de diâmetro. Infestações seve-
ras nas brânquias levaram a um aumen-
20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
21Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
to na produção de muco e hiperplasia nas células basais. A
presença de cistos dentro e entre as lamelas branquiais, aumentou
a aderência entre as lamelas secundárias. Esta reação do hospe-
deiro, combinada ao excesso de muco, resultou em dificuldade
respiratória nos peixes.
Alexandrino et al (1994) observaram severa infestação por
Henneguya sp em pacu com mais de 2 anos de idade. Os peixes
apresentavam coloração escurecida, letargia e tendência de isola-
mento. As brânquias apresentavam muco sanguinolento e os
filamentos fusionados, bem como a presença de cistos de Henneguya
sp. Os peixes demonstravam sinais de asfixia. Infestação por
Henneguya sp. também foram observadas em juvenis de pacu
(Ferraz de Lima et al, 1994). A presença de cistos de mixosporídeos
provocou reação inflamatória, hiperplasia e hipertrofia do epitélio
branquial, sendo perceptível a fusão das lamelas branquiais. Os
autores ainda detalham as alterações observadas nos tecidos renais
e que foram atribuídas à infestação por esse parasito, dentre as quais
o desarranjo dos corpúsculos renais e dos elementos tubulares, e a
redução no número de túbulos renais.
Esporos de Henneguya foram encontrados nas brânquias de
tambaquis e pacus adultos (Godoi et al, 2002). Peiro et al (2002)
registraram a ocorrência de mixosporídios (Myxobolus sp. e
Henneguya sp) em tambaquis cultivados em tanques-rede. Todos
os peixes amostrados tinham estes parasitos.
Não há tratamento eficaz para o controle de infestações por
mixosporídios em peixes. No entanto, é recomendável a adoção de
algumas práticas de manejo que contribuem com o alivio do
estresse fisiológico sobre os peixes infestados. Dentre muitas,
recomenda-se: a) evitar a redução nos níveis de oxigênio dissolvido
nos tanques e viveiros; b) aplicação de sal na água dos tanques e
viveiros em doses que variam entre 100 a 500g/m3. Estas doses não
possuem função terapêutica, mas sim, de aliviar o possível estresse
osmorregulatório (devido às perdas de sais, do sangue para a água)
causado pelos cistos e pela presença dos parasitos nas brânquias; c)
o uso de rações com níveis mais elevados de vitamina C. Esta
vitamina auxilia na reparação (cicatrização) dos tecidos dos peixes
lesionados pela ação dos parasitos; d) evitar o manuseio dos peixes
até que estes se encontrem recuperados.
Acantocéfalos. Infestações por acantocéfalos foram observadas
em pacus, tambaquis e tambacus (Fischer et al, 1997; Malta et al,
2001; Godoi et al, 2002; Peiro et al, 2002). De acordo com Malta
et al (2001), nove espécies de acantocéfalos ocorrem em peixes
amazônicos. Duas espécies em particular foram observadas
parasitando o tambaqui, o Neoechinorhynchus buttnerae e o
Echinorhynchus jucundus. Estes parasitos geralmente se alojam
na região dos cecos pilóricos e na porção anterior do intestino,
próximo ao piloro, podendo causar obstrução do intestino e
ulcerações e necroses no epitélio intestinal. Em infestações seve-
ras, os parasitos são encontrados ao longo de todo o intestino,
prejudicando a absorção de nutrientes e competindo com o
hospedeiro pelo bolo alimentar. Malta et al (2001) registraram
uma prevalência de 100% do acantocéfalo Neoechinorhynchus
buttnerae em tambaquis, sendo encontrados entre 30 e 406
parasitos por peixe. Os peixes infestados pararam de se alimentar
e começaram a morrer.
Copépodos. Diversos copépodos parasitos foram registrados em
peixes redondos. Nas décadas de 80 e 90 a Lernaea ciprinacea
tornou-se o copépodo mais popular e temido nas pisciculturas e
pesque-pagues, notadamente no sul e sudeste do Brasil. Infestações
por este parasito ocasionaram grandes prejuízos ao setor. Maiores
informações sobre o ciclo de vida da Lernaea ciprinacea podem
ser encontradas em Pavabelli et al (1998), Kubitza e Kubitza
(1999) e Moraes e Martins (2004). Atualmente, o tratamento mais
indicado para o controle de infestações por Lernaea é a aplicação do
Dimilimâ (diflubenzuron). Moraes e Martins (2004) recomendam o
uso de doses de 200g/1000m3 em duas aplicações a intervalos de 4
a 5 dias. Outra estratégia eficaz de controle envolve três aplicações
de Dimilimâ a intervalos semanais (sugestão deste autor). Na
primeira aplicação deve ser usada uma dose de 50 a 100g/1.000m3.
Na segunda e terceira aplicação devem ser utilizadas, respectiva-
mente, doses equivalentes a 70 e 50% da primeira dose.
A Perulernaea gamitanae (Benetton, 1994; Araújo- Lima e
Goulding 1997; Fischer et al, 1997), é outro copépodo da família
Lernaeaidae muito comum na região amazônica e que pode ser
encontrado nas fossas nasais, na cavidade bucal e nas brânquias do
tambaqui. O ciclo de vida deste parasito foi relatado por Benetton
(1994) e é semelhante ao ciclo de vida da Lernaea ciprinacea.
O Argulus sp e Dolops sp são freqüentemente associados a
parasitoses dos peixes redondos. Conhecidos como “piolhos dos
peixes”, estes organismos se fixam às brânquias, corpo e nadadeiras
e utilizam um aparelho bucal sugador (probóscide) para se alimentar
dos fluídos das células do peixe hospedeiro. Nos pontos de fixação
do parasito e de penetração do aparelho bucal podem ocorrer
irritações e lesões na pele e brânquias do hospedeiro, favorecendo
a infestação secundária por bactérias e fungos. Moraes e Martins
(2004) indicam que o Argulus e o Dolops são mais resistentes ao
diflubenzuron e sugerem a possibilidade de tratamento através de
banhos diários com sal na concentração de 1 a 3% (10 a 30kg/m3).
Além do Argulus sp., Fischer et al (1997) também verificou
a ocorrênciade Gamidactylus sp infestando o tambaqui. Araújo-
Lima e Goulding (1997) também fazem referência à infestações por
Gamidactylus jaraquensis nas narinas deste peixe. Peiro et al
(2002) observaram uma prevalência de 40 e 80% na infestação do
tambaqui pelos copépodos Gamidactylus jaraquensis e Ergasilus
sp. Alguns dos tratamentos sugeridos para o controle de infestações
por copépodos em peixes são resumidos no QUADRO 10.
Nematodos. Garcia et al (1997a) demonstraram a prevalência de
uma única espécie de nematodo Rondonia rondoni, em pacus
oriundos de viveiros do CEPTA/IBAMA. De um total de 90 peixes,
64 estavam infectados, apresentando um número médio de 3.304
parasitos por peixe. A ocorrência deste nematodo aumentou propor-
cionalmente ao tamanho dos peixes. Todos os peixes acima de 800g
amostrados tinham seu trato intestinal infestado pelo parasito.
Garcia et al (1997b) verificaram que o uso de ração medicada com
fembendazole (20 ou 40mg/kg) não foi eficaz no controle deste
nematodo no pacu. Fischer et al (1997) identificaram a presença do
nematodo Spirocammalus sp. no tambaqui.
Fungos. Os fungos são parasitos facultativos encontrados na grande
maioria dos ambientes aquáticos, vivendo sobre os resíduos orgâni-
cos em decomposição. Saprolegnia parasitica é um dos mais
freqüentes fungos parasitos de peixes. Os fungos geralmente agem
como agentes secundários em peixes com lesões externas causadas
por bactérias e parasitos. A inadequada nutrição, a má qualidade da
água (alta carga orgânica nos tanques de cultivo), oscilações bruscas
na temperatura e as injúrias físicas devido ao mau manuseio durante
a despesca, pesagem, transporte e descarregamento, facilitam a
infestação por fungos. Doenças fúngicas em peixes redondos geral-
mente ocorrem nos períodos de baixa temperatura da água, quando
a resistência imunológica dos peixes é reduzida. O crescimento de
fungos é acelerado em temperaturas variando entre 18 e 26oC e tende
a se reduzir em temperaturas mais elevadas. Sugestões de tratamen-
to para o controle de infestações por fungos são apresentadas no
QUADRO 10. Peixes mortos são ricos reservatórios de esporos dos
fungos e devem ser removidos dos tanques e viveiros.
22 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Bacterioses nos peixes redondos. Costa (2004) relaciona os se-
guintes gêneros de bactérias isoladas de tambaquis cultivados na
Amazônia: Aeromonas sp, Pseudomonas sp. Streptococcus sp.
Aerococcus e Nocardia. Ainda menciona o isolamento de Flexibacter
columnaris (Flavobacterium columnare) em pacu e tambaqui e de
Aeromonas hydrophila isolada de pacus. Estas bactérias normal-
mente habitam a água dos tanques e viveiros e, algumas delas,
convivem no trato intestinal ou nos tecidos do próprio hospedeiro,
favorecendo-se da queda de resistência do mesmo para causar
infecções. A deterioração da qualidade da água, a exposição fre-
qüente a baixas concentrações de oxigênio dissolvido e a níveis
subletais de amônia tóxica, a inadequada nutrição e manejo alimen-
tar, a redução da temperatura durante os meses de outono e inverno,
o manuseio e o transporte, infestações por parasitos externos, dentre
outros, são fatores que debilitam os peixes, deixando-os mais
susceptíveis à infecções.
O melhor remédio para o controle das doenças bacterianas
nos peixes é a prevenção através da adoção de boas práticas de
manejo e do cultivo de espécies adaptadas às condições climáticas
locais. Problemas com bacteriose em peixes redondos geralmente
são mais comuns durante o período de inverno (devido à redução da
temperatura da água) e no início da primavera quando o peixe que
teve seu sistema imunológico debilitado pelas baixas temperaturas
da água no inverno, começa a ser manuseado para comercialização
ou remanejamento dentro da propriedade. Uma exceção é a infecção
por Flexibacter columnaris, que geralmente ocorre nos meses de
verão (temperaturas entre 28 e 30oC), causando grande mortandade
de alevinos após o manuseio envolvido na despesca e após o estresse
de transporte. Também pode acometer os reprodutores após o
manuseio envolvido no processo de indução hormonal à desova.
O controle de bacterioses invariavelmente demanda o uso de
antibióticos, geralmente incorporados na ração. Este tipo de trata-
mento é pouco eficaz quando a infecção é detectada tardiamente,
pois os peixes infectados geralmente deixam de se alimentar, não
sendo, portanto, medicados com o antibiótico incorporado à ração.
A recomendação do antibiótico a ser utilizado deve ser feita após o
conhecimento do resultado do antibiograma. A forma de tratamento
(via ração, banhos ou injeção), a dose a ser utilizada, o tempo de
tratamento e o período de carência, devem ser indicados por
profissional qualificado, para assegurar a segurança e a maior
eficácia do tratamento. Uma ampla revisão sobre as bacterioses
mais comuns registradas em peixes foi apresentada por Costa
(2004). Mais informações sobre bacterioses em peixes podem ser
encontradas em literatura técnica disponível em português (Kubitza
e Kubitza, 1999; Pavanelli et al, 1998; Costa, 2004).
Processamento e qualidade da carne
O mercado de peixes redondos ficou restrito durante muito
tempo às regiões norte e centro-oeste, onde predomina o abasteci-
mento pela pesca extrativa. A piscicultura e o pesque-pague contri-
buíram com a ampliação dos mercados para os peixes redondos.
Atualmente diversos mercados tradicionalmente abastecidos com
produtos oriundos da pesca já são supridos com peixes redondos
provenientes de cultivo.
Os peixes redondos se tornaram bastante populares nos
pesque-pagues devido à sua esportividade e fama nas pescarias nos
rios amazônicos e pantaneiros. A carne destes peixes é saborosa,
porém apresenta na musculatura dorsal (filé dorsal) espinhos em
forma de “Y” que dão um certo trabalho na hora do consumo. Suas
costelas, no entanto, rendem um petisco muito saboroso e valoriza-
do. As costelas do tambaqui fazem parte de um prato típico muito
famoso na região norte do país e que vêm se tornando um produto
bastante procurado pelos compradores internacionais. Entretanto, a
produção de peixes de maior porte (4 a 5kg de peso) que permitem
a extração de costelas de tamanho que atendam a estes mercados,
ainda não é uma prática comum junto aos piscicultores. Os peixes
redondos podem acumular grande quantidade de gordura visceral,
em função da sua idade, época de captura ou do tipo de alimento
utilizado no cultivo. Isso resulta em perdas adicionais de rendimen-
to durante o beneficiamento destes peixes.
Os peixes redondos têm sido, tradicionalmente, apresenta-
dos no mercado na forma eviscerada. No entanto, graças aos
esforços de piscicultores e empresários, visando promover seus
produtos e abrir novos mercados, diversos itens mais elaborados,
como as costelinhas, lingüiças, “nuggets”, bolinhos, hambúrgue-
res, peças defumadas e carne moída congelada já estão à disposição
do consumidor em alguns estados.
Os pratos a seguir foram preparados com peixes redondos e fazem parte da linha
de produtos da empresa Delicious Fish, que também cedeu as fotos.
Caldo de Peixe
Temperado
Costelinha
de peixe
Banda de peixe
sem espinha
Peixe inteiro
eviscerado
23Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Embora os produtos elaborados a partir de peixes cultivados
apresentem uma qualidade inigualável do ponto de vista do frescor
(os peixes podem ser entregues vivos aos frigoríficos), a
competitividade de produtos elaborados, como os empanados e
hambúrgueres preparados usando o peixe inteiro, ainda necessita
ser melhor avaliada. Estes produtos enfrentam a forte concorrência
de produtos elaborados com peixes de baixo valor comercial ou com
subprodutos provenientes do extrativismo. Via de regra, a polpa
usada na elaboração destes produtos é oriunda de pescado de baixo
valor comercial, sem padrão para a venda na forma inteira. A polpa
também pode ser oriunda dos resíduos da filetagem, uma matéria-
prima de baixo custo. A exemplo do que ocorre no Peru, país de
grande tradição pesqueira e exportador de produtosde pescados, o
peixe usado na produção de polpa para a elaboração de produtos
empanados, surimi e enlatados custa de US$ 0,12 a 0,15 por quilo
(R$ 0,36 a 0,45/kg). A inserção dos cortes especiais no mercado
parece ser uma perspectiva muito promissora, restando os
subprodutos do beneficiamento para a produção da polpa.
Características e rendimento da carne. Os peixes redondos
apresentam carne de coloração clara e de sabor suave. Apesar de
saborosa, a carne destes peixes apresenta espinhos intramusculares
em forma de “Y”, particularmente na região dorso-lateral do corpo.
Silva e Gurgel (1998) avaliaram o rendimento de filé e os descartes
do processamento da pirapitinga e do tambaqui. A pirapitinga
apresentou rendimento de 41% de filé e 15% de carne aderida ao
esqueleto. Cerca de 29% do peso total era composto pela cabeça,
vísceras e escamas. Para o tambaqui, os descartes (cabeça, vísceras
e escama) somaram 35%, enquanto o rendimento de filé foi 36%
com mais 15% de carne aderida ao esqueleto. Malca (1989) resumiu
o rendimento de carcaça e carne de um tambaqui com 4,4kg (peso
inteiro): vísceras 10%; pele 9%; cabeça, escamas e nadadeiras 23%;
carcaça 67% (peixe eviscerado, sem cabeça, sem escamas e sem
nadadeiras); carcaça sem a pele 58%. Caraciolo et al (2000) obteve
rendimento de filé entre 41 e 44% para tambaquis de 700 a 2.100g
(QUADRO 11).
Para amenizar os possíveis problemas dos espinhos
intramusculares deste peixe, Caraciolo et al (2001) descrevem
detalhadamente os diferentes cortes para a obtenção do filé sem
espinho (músculo abdominal da região abaixo da linha lateral), das
iscas ou “sticks” da porção do filé com espinhos intramusculares
(região dorso-lateral, acima da linha lateral) e das costelinhas.
QUADRO 11 – Rendimento no processamento do tambaqui (adaptado de
Caraciolo et al, 2001 e Malca, 1989).
Preservação dos produtos. Almeida e Lessi (1998) observaram
que o início do rigor mortis no tambaqui ocorreu 20 minutos após
a morte dos peixes por asfixia entre as camadas de gelo. Com mais
30 minutos o rigor mortis foi completo e permaneceu por 144 horas.
Com até 22 dias de armazenamento no gelo (0oC) o tambaqui foi
considerado como de classe especial e, até 43 dias de armazenamento,
foi considerado como de boa qualidade.
Souza et al (2002) e Faria et al (2002) apresentaram dados
sobre o rendimento do filé in natura e do filé defumado do pacu
(QUADRO 12). Durante a defumação do filé com pele, a perda de
peso da peça foi de 8% relativo ao peixe inteiro. Para o filé sem pele
a perda de peso ultrapassou os 11%. Souza et al (2002) observaram
ainda que os filés de pacu defumados sem pele foram mais atrativos
visualmente do que os filés com pele.
QUADRO 12 - Rendimento do pacu in natura e defumado
(Adaptado de Souza et al, 2002 e Faria et al, 2002).
Considerações finais
O início da década de 80 foi marcado pelos primeiros passos
rumo à produção de alevinos e ao cultivo de peixes redondos no
Brasil. Desde então, o volume de informações sobre a biologia e o
cultivo dos peixes redondos tem evoluído a passos largos. Não
obstante, e em contraste com o grande potencial de mercado e de
cultivo destes peixes, notadamente nas regiões norte do país, o
cultivo comercial de peixes redondos ainda caminha a passos
relativamente lentos, comparado ao progresso no cultivo de algu-
mas espécies exóticas no país. Parte deste atraso se deve às
dificuldades na abertura de mercado. Outros quinhões ficam por
conta da lenta difusão das tecnologias de produção. Ainda hoje
encontramos diversos empresários iniciando os cultivos de peixes
redondos e tropeçando em questões básicas, há muitos anos já
resolvidas pela pesquisa. Adicionalmente, poucos empresários
perceberam a oportunidade de ter em mãos material genético
amazônico, produzi-lo em escala comercial e utilizar o apelo de
marketing da referida região para promover os produtos amazôni-
cos da piscicultura no mercado interno e externo.
Ventrecha de
peixe sem
espinha
Burgerfish no prato
com salada light
24 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
O microcrustáceo Artemia é a espécie mais amplamente
utilizada na alimentação de organismos aquáticos cultiváveis
em todo o mundo. Distribuídos em ambientes hipersalinos,
especialmente em lagos salgados interiores e salinas costeiras,
cistos (embriões em diapausa) e biomassa (indivíduos juvenis e
adultos) de Artemia são coletados nesses ecossistemas, proces-
sados e utilizados como alimento para uma enorme variedade de
peixes e crustáceos.
Tanto cistos como biomassa de Artemia são elos importan-
tes da cadeia produtiva do camarão marinho Litopenaeus vannamei,
cuja produção no Brasil cresceu de 40.000 toneladas em 2001 para
90.190 toneladas em 2003. Como conseqüência, o consumo de
cistos e de biomassa de Artemia em 2003, alcançou 16,4 e 246
a edição anterior da Panorama da
AQÜICULTURA, o artigo “Uso da biomassa
de Artemia na carcinicultura brasileira” delineou
as bases históricas e estruturais da produção de
Artemia no Rio Grande do Norte e realçou as
repercussões ambientais, econômicas e sociais
decorrentes do extrativismo (pesca) e uso de
biomassa no cultivo de camarões em nosso país.
O presente artigo, por sua vez, aborda aspectos
econômicos, científicos e tecnológicos
relacionados à produção de cistos. Aqui, serão
discutidas as oscilações do mercado mundial de
cistos, os mistérios da reprodução de Artemia
através de embriões encistados e finalmente, a
busca de respostas tecnológicas para aumentar a
oferta desses verdadeiros “ovos de ouro” da
aqüicultura.
N
Por: Marcos Rogério Câmara, Ph.D.
E-mail: mrcamara@ufrnet.br
Encistamento ou produção de larvas?
25Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
toneladas, respectivamente. Desses totais, toda a biomassa e apro-
ximadamente 2 toneladas de cistos de Artemia foram coletadas nas
salinas do Rio Grande do Norte.
A coleta desses produtos é realizada por pescadores artesanais
e o processamento e venda de cistos e biomassa de Artemia por
empreendimentos familiares (de baixo capital financeiro e tecnológico)
localizados nos municípios de Grossos/Areia Branca (seis empreen-
dimentos) e Macau (três). Tais empreendimentos não detêm os meios
de produção ou acordos oficialmente estabelecidos com os proprie-
tários das salinas e, por conseguinte, dependem da coleta de Artemia
realizada por pescadores artesanais. Esse modelo informal de pesca
é, em sua essência, clandestino, e implica tensões sociais no relacio-
namento entre processadores, salineiros e pescadores artesanais. É
preocupante a sustentabilidade das práticas de extrativismo atual-
mente em uso, não apenas por conta da conversão de centenas de
hectares de salinas em viveiros de camarão mas principalmente, em
função do desconhecimento da capacidade máxima sustentável dos
locais de pesca (evaporadores de salina) e da coleta indiscriminada de
Artemia (cistos, náuplios, juvenis e adultos).
Oscilações na produção de cistos
O Grande Lago Salgado (Utah, Estados Unidos) é o maior
produtor mundial de cistos de Artemia. No entanto, as flutuações
ambientais no “Great Salt Lake” (GSL) nos últimos anos têm
interferido na produtividade primária do lago e na quantidade de
cistos coletados. Tais oscilações são claramente observadas na
Figura 1, que ilustra as colheitas anuais de cistos de Artemia no GSL
no período 1989 – 2003.
A demanda mundial por cistos de Artemia é hoje superior a
2.000 toneladas anuais e tenderá a aumentar, principalmente em razão
das elevadas taxas de crescimento previstas para a aqüicultura nos
próximos anos (por volta de 10 % ao ano). No entanto, uma vez que essa
demanda será, em sua maior parte, decorrente do consumo das chama-
das larviculturas de camarões, o crescimento mundial do mercado de
cistos de Artemia dependerá basicamente da expansão da carcinicultu-
ra marinha, atividade submetida atualmente a acusações de “dumping”,
acirrada competição internacional e fortes pressões ambientalistas.
A presente escassez de Artemia no mercado mundial tem
estimulado a exploração de novas fontesde cistos, principalmente
na Ásia. Nesse contexto, biótopos como o Lago Urmia (Irã), por
exemplo, podem vir a ter uma participação importante no futuro.
Por outro lado, embora sem contribuir significativamente para o
mercado global de cistos de Artemia, produções anuais entre 1 e 20
toneladas provenientes de cultivos em salinas nos EUA, Vietnã,
Java (Indonésia), Chile, Colômbia, Peru, Madagascar, Índia,
Figura 1. Colheitas anuais de cistos de Artemia no Grande Lago Salgado (Utah,
Estados Unidos) no período 1989 – 2003.
26 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
27Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 27
Paquistão, Tailândia, e Brasil, entre outros países, passarão a ter
uma importância regional cada vez maior nos próximos anos.
As oscilações globais na produção de cistos de Artemia nos
últimos anos, têm acelerado o desenvolvimento de novas estratégi-
as de alimentação e reduzido o consumo de cistos nas larviculturas
de peixes e camarões. Ademais, o aprimoramento (e barateamento)
das dietas artificiais para larvas de peixes e camarões poderá
compensar parcialmente a expansão do consumo de cistos de
Artemia na próxima década, principalmente se os problemas de
lixiviação de nutrientes e de digestibilidade das rações larvais hoje
disponíveis no mercado forem resolvidos. Por sua vez, o mercado
nacional de cistos de Artemia, da ordem de 15 toneladas, muito
produção de larvas – coexistem, e todas as linhagens de
Artemia combinam essas estratégias reprodutivas em
diferentes proporções.
O encistamento (oviparidade) é um mecanismo
de sobrevivência relevante em populações de Artemia
expostas a condições ambientais desfavoráveis. Assim,
a produção de cistos ocorre em populações submetidas
a um forte ciclo sazonal de temperatura (Grande Lago
Salgado, Utah, EUA) ou salinidade (Fallon, Nevada,
EUA). A produção de larvas (ovoviviparidade), por
outro lado, é usualmente observada como o modo de
reprodução dominante em fêmeas que habitam
ecossistemas relativamente mais estáveis (Macau, Rio
Grande do Norte, Brasil; Guerrero Negro, México).
Entre outros fatores também relacionados ao modo
de reprodução em Artemia, estão a fecundidade das fêmeas, hipóxia,
fotoperíodo, disponibilidade e tipo de alimento (microalgas), e estru-
tura genética das populações.
Estudos que procuram
identificar complexos de genes
vinculados à determinação das
características reprodutivas das
populações de Artemia mostra-
ram que após a maturação em
condições laboratoriais
estandardizadas, fêmeas de va-
rias linhagens bissexuais e
partenogenéticas tenderam ini-
cialmente a reproduzir-se por
ovoviviparidade (produção de
larvas) e, posteriormente, por
oviparidade (encistamento).
Outras observações indicaram
que a inversão do modo de re-
produção em Artemia não de-
penderia exclusivamente de fatores ambientais. Estudos de ecolo-
gia molecular recentes também sugerem que o encistamento está
sob controle genético e correlacionado com os níveis de
heterozigosidade encontrados nas fêmeas.
O microcrustáceo Artemia é encontrado nas salinas do
Rio Grande do Norte em conseqüência de inoculações feitas em 1977
nas salinas de Macau com cistos provenientes da Baía de San Francisco
(Califórnia, Estados Unidos). No entanto, apesar de uma ampla disper-
são e de um crescente esforço extrativista, a produção de cistos declinou
de 10 toneladas anuais ao final da década de 70 para cerca de 5
toneladas em meados dos anos 80, e finalmente, para aproximadamente
2 toneladas a partir dos anos 90. Uma menor produção de cistos de
Artemia nas salinas do Rio Grande do Norte tem levado a um
incremento no esforço de coleta. Se efetivamente o encistamento está
sob controle genético e relacionado à heterozigosidade (variabilidade),
tal sobrepesca acarretaria a remoção de genótipos predispostos à
oviparidade e contribuiria para um declínio ainda maior na produção
desse importante recurso natural no Brasil.
Lavagem de cistos de Artemia
Cistos de Artemia
armazenados em
salmoura
Secagem de cistos
Cistos processados
provavelmente continuará sendo abastecido por importações, já
que as duas toneladas de cistos produzidas anualmente no Brasil
representam cerca de 15% do consumo anual dos cultivos de
Litopenaeus vannamei. É certo que a demanda por cistos de
Artemia continuará crescendo à medida que se consolidem os
cultivos das várias espécies de crustáceos e peixes em fase de
pesquisa e desenvolvimento no Brasil.
Para a larvicultura de peixes marinhos como garoupas,
meros, robalos e linguados, por exemplo, as necessidades de cistos
para cada unidade de alevino produzida se situam em níveis 200 a
500 vezes superiores às estabelecidas para Litopenaeus vannamei.
Em resumo, não há garantias de estabilização na produção mundial
de cistos de Artemia a médio e curto prazos. No entanto, é razoável
estimar que a demanda mundial por cistos de Artemia deverá
manter-se em torno de 2.000 toneladas anuais na próxima década.
Mistérios na reprodução de Artemia
O microcrustáceo Artemia destina grande parte de sua ener-
gia para a produção de gametas e descendentes. A qualidade e o tipo
do zigoto são particularmente importantes para a sobrevivência das
populações, pois, dois modos de reprodução – encistamento ou
28 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
29Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004
Produção controlada de cistos
Cultivar Artemia é cada vez mais importante como medida
complementar para o aumento da disponibilidade de cistos e biomassa
para uso na aqüicultura. Isso é particularmente evidente no sudeste da
Ásia, onde os cultivos de Artemia foram inicialmente desenvolvidos
em evaporadores de salinas na Tailândia e no Vietnã. As primeiras
experimentações de cultivo no Vietnã, por exemplo, ocorreram em
1982, e atualmente, o delta do Mekong é fornecedor importante de
cistos de Artemia de alta qualidade, com produção estimada em 6 a
8 toneladas anuais. Nos sistemas de produção vietnamitas, água
hipersalina rica em microalgas é bombeada de uma lagoa comum de
fertilização/evaporação para fornecer níveis apropriados de alimento
e de salinidade (~80 ‰) nos viveiros de cultivo. Os viveiros são
estocados com larvas de Artemia em densidades elevadas (~20
náuplios/litro) e controlados intensivamente (manipulação da produ-
ção primária e secundária; controle de predadores) até que a colheita
seja necessária por conta da ausência de alimento ou por deterioração
da qualidade da água. Em tais regimes intensivos de cultivo, os ciclos
de produção se estendem por 5 a 6 semanas e os viveiros são drenados
e estocados diversas vezes por ano.
As considerações acima ressaltam a importância e os
desafios tecnológicos enfrentados pelo Projeto Artemia
da Associação Brasileira de Criadores de Camarão
(ABCC). Localizado no município de Grossos, no Rio
Grande do Norte, a fazenda experimental tem como
principal objetivo desenvolver técnicas básicas de
cultivo semi-intensivo de Artemia no nordeste do Bra-
sil. A fazenda consiste de uma área de fertilização/
evaporação de 1,44 ha (2 viveiros de 0,72 ha), área de
produção de 2,16 ha (3 viveiros de 0,72 ha), estação de
bombeamento, canais de abastecimento e drenagem,
laboratório e infra-estrutura de apoio.
Os dados da produção obtidos durante dez ciclos
de cultivo realizados entre julho de 2001 e novembro de
2002 na fazenda experimental de Artemia são sumaria-
dos na Tabela 1. A produtividade é dada para cistos
(peso seco) e biomassa (peso molhado) por ciclo realizado em
viveiros de produção de 0,72 ha. Apesar dos procedimentos
estandardizados de manejos empregados na fazenda experimental,
a produção (kg/ha) e produtividade (g/ha/dia) dos viveiros oscila-
ram substancialmente nos dez ciclos monitorados. Os índices mais
altos de produtividade foram obtidos nos ciclos realizados ao final
de 2002 (A4, B3 e C3). Esses resultados podem ser creditados ao
refinamento dos procedimentos de manejo empregados na fazenda,
particularmente em termos da disponibilidade do alimento
(microalgas) para as populações de Artemia.
Embora raramente a manipulação

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