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1Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 2 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 3Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 3 EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor P Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2004 apo vai, papo vem, e o licenciamento ambiental acaba sendo a vedete de todas as conversas entre aqüicultores. Esse, aliás, é um tema que também insiste em não fugir desse espaço editorial. Só que dessa vez a minha preocupação em estar sendo repetitivo logo se desfez quando lembrei que a maior parte dos aqüicultores brasileiros, apesar de desejarem, não estão licenciados. Dessa forma, suponho que tudo o que se disser aqui sobre esse licenciamento ainda será pouco. O motivo que me faz tocar novamente nesse tema tem a ver com uma recente visita que fiz ao Ceará. Lá, me deparei com dois acontecimentos que me chamaram a atenção: o primeiro envolve um produtor de tilápias na barragem de Jaibaras, no município de Sobral, que sofreu a perda de 130 toneladas de peixe ao longo de 24 horas, por conta de uma queda no oxigênio dissolvido na água. Não me cabe aqui analisar a capacidade técnica do piscicultor de monitorar o seu cultivo e assim ter percebido a tendência de queda da sua curva de oxigênio, tampouco a sua capacidade de resposta com ações que poderiam ter evitado essa mortalidade e esse prejuízo. O fato é que assim que a notícia se espalhou e chegou aos gabinetes oficiais cearenses, a melhor ajuda que o atordoado piscicultor recebeu foi o embargo da sua criação pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Estado do Ceará (Semace). O motivo? O piscicultor não possui o licenciamento ambiental. E quem possui, cara- pálida? Ao invés de ungüento veio a salmoura. Será que a turma da Semace não sabe que somente em maio último foi finalmente publicada e Instrução Normativa que regulamenta o Decreto que autoriza o uso das águas públicas da União para cultivos aqüícolas? O segundo acontecimento ligado a falta do licenciamento ambiental que também me chamou a atenção no Ceará, tem a ver com os criadores de camarão do Estado, quase todos amargando prejuízos por conta das mortali- dades decorrentes do IMNV – o vírus da mionecrose infecciosa, coincidindo com um dos piores momentos do comércio do camarão brasileiro no mercado internacional. Pois bem, justo nesse momento onde naturalmente poderiam se socorrer nos bancos para atenuar o baque (os bancos não se cansam de alardear que possuem crédito de custeio para o setor), os carcinicultores não podem ter acesso ao crédito. E adivinhem por quê? Ora, porque não têm licenciamento ambiental. E o agravante é que os carcinicultores ainda ficam levando pancada da opinião pública, que se mantém constantemente informada através da grande imprensa com as notícias que dizem que as fazendas não têm licença, por isso mesmo são ilegais. Para Ricardo Cunha Lima, presidente da ACCC - Associação Cearense de Criadores de Camarão, o produtor não pode em hipótese alguma ser taxado de marginal ou ilegal uma vez que quase todos têm a licença prévia e a licença de instalação, e a maioria já deu a entrada na licença de operação. O que ocorre, segundo Cunha Lima, é que já se passaram 14 meses sem que a Semace libere uma licença sequer de operação, nem tampouco tenha renovado as licenças anuais de quem já a possui. A polarização está posta à mesa. De um lado, os grupos autodenominados ambientalistas que não se cansam de gritar e engessar o poder público, do outro os produtores com seus ouvidos de mouco, que seguem sem perceber claramente que o seu negócio está correndo o risco de se tornar inviável por conta da intolerância demonstrada pelas partes envolvidas. Deu a hora das vozes de bom senso retomarem rapidamente o diálogo entre esses dois grupos. Enquanto o licenciamento continua neste dilema, convido os leitores para conhecer nesta edição, entre outros temas, a importância de sabermos a quantidade de energia nas rações; em que pé se encontra a produção de cistos de Artemia no Brasil; a pesquisa que está permitindo a produção de sementes de mexilhões em laboratório; a segunda e última parte do artigo sobre peixes redondos e, detalhes do vírus IMNV come as sugestões de manejo para se conviver melhor com ele. A todos uma boa leitura, 4 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 5Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004Edição 83– maio/junho, 2004 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Direção Comercial: Solange Fonseca solange@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Assistentes: Fernanda Carvalho Araújo fernanda@panoramadaaquicultura.com.br e Daniela Dell’Armi daniela@panoramadaaquicultura.com.br Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores: Fernando Kubitza Marco Mathias Virginia Totti Guimarães A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfica & Editora Ltda. Endereço para correspondência: Caixa Postal 62.555 22252-970 - Rio de Janeiro - RJ Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Os editores não respondem quanto a qualidade dos serviços e produtos anunciados, bem como pelos dados divulgados na seção “Informe Publicitário”. Números atrasados custam R$ 10,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail: assinatura@panoramadaaquicultura.com.br ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parenteses na etiqueta que endereça a sua revista. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65,79,81. ISSN 1519-1141 Capa: Arte Panorama da Aqüicultura ...Pág 37 ...Pág 11 ...Pág 13 ...Pág 31 ...Pág 24 ...Pág 58 ...Pág 61 ...Pág 62 ...Pág 53 ÍNDICE ...Pág 63 ...Pág 03 ...Pág 07 Carcinicultura Ameaçada Especialistas da Universidade do Arizona identificaram como “Vírus da Mionecrose Infecciosa” ou IMNV (da sigla em inglês), o responsável pelas grandes mortalidades que vêm ocorrendo nos viveiros de camarão no Nordeste. Assim sendo, não se justifica mais denominarmos a doença de NIM – Necrose Idiopática Muscular, visto que “idiopatia” se refere a uma doença cuja origem é desconhecida. O artigo publicado na página 37, elaborado pelos pesquisadores do Centro de Diagnóstico de Enfermidades de Camarão Marinho da Universidade Federal do Ceará, traz a evolução desta doença e detalhes do quadro clínico que possivelmente permitem que o vírus se estabeleça. Os autores discutem ainda algumas estratégias de manejo para lidar com este agente infeccioso, cujos prejuízos à indústria ao longo do ano de 2003, foram estimados em 20 milhões de dólares. Editorial Notícias & Negócios Alterações Práticas da nova legislação sobre o uso das águas públicas Informações aplicadas ao cultivo de peixes redondos Cistos de Artêmia: oscilações de produção e desafios tecnológicos Mitilicultura: a produção de sementes em laboratório como solução Carcinicultura ameaçada: produtores brasileiros já convivem com o IMNV A importância da quantidade de energia na ração de peixes Aqüicultura Ornamental, um mercado aberto para o agronegócio Monitoramento Ambiental mostra sustentabilidade na carcinicultura Aqüimerco e Pecnordeste: eventos que aqueceram a aqüicultura Nova Zelândia e Brasil: boas parcerias comerciaispara o cultivo de mexilhão Calendário Aqüicola ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 7Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 RESULTADOS CONTESTADOS - Por iniciativa da ABCC – Associação Brasilei- ra de Criadores de Camarão, 13 fabricantes de alimentos para camarão tiveram seus produtos enviados para análises em labora- tório fora do país. Os resultados iniciais mostraram que todas as rações estavam em desconformidade com seus conteúdos es- tampados nas embalagens. A notícia já se espalhou entre os produtores, e tem levado muitos ao equívoco de associar as altas mortalidades decorrentes do vírus IMNV à qualidade da ração que consomem. Do ou- tro lado, as indústrias produtoras de rações se defendem explicando que o laboratório que realizou as análises deveria utilizar metodologias específicas para identificar alguns produtos presentes nas rações, e isso não foi feito. Entre outros exemplos, desta- cam o caso da vitamina C, cuja busca foi feita pelo “ácido ascórbico” e não pelo “L– ácido ascórbico monofosfato”, a vitamina C utilizada por muitas fábricas. Este des- cuido levou o laboratório a afirmar que muitas empresas simplesmente não utili- zam a vitamina C em seus produtos. La- mentando a divulgação precipitada desses laudos, as indústrias de alimentos lembram que não é de hoje que sofrem acusações. Segundo um representante do setor, isso não é de se estranhar porque até hoje, em nenhum momento, o importante papel das rações brasileiras foi reconhecido pelos carcinicultores quando se comemora e se propaga as razões que levam o Brasil a ser o campeão mundial de produtividade. CÃO AMIGO – Os cães estão próximos de se tornar também os melhores amigos dos produtores de catfish, no estado do Alabama (EUA). Em demonstração feita na Universidade de Auburn, pesquisa- dores do Laboratório de Pesquisa de Animais Aquáticos do Departamento da Agricultura e da Escola de Medicina Veterinária da universidade, apresenta- ram aos produtores de catfish o uso de cães treinados para detectar a presença do off-flavor já a partir da água dos viveiros. Na demonstração, dois cães das raças pastor alemão e labrador, trei- nados nos laboratórios da universidade para reconhecer o odor de terra e mofo característico do off-flavor, foram obri- gados a passar diante de cinco amostras de água, das quais apenas uma encontra- va-se contaminada. Em segundos, após farejarem, os animais se sentaram diante da amostra contaminada. De acordo com os pesquisadores, cães treinados podem auxiliar a detectar muito mais antecipa- damente que os humanos a presença do off-flavor na água, antes mesmo que este seja detectado pelo paladar humano na carne dos peixes. GATO POR LEBRE – A Piscicultura Aquabel faz um alerta sobre os falsos revendedores de seus alevinos, que vêm agindo em diversos estados brasileiros. Segundo Ricardo Newkirchner, respon- sável pela empresa paranaense, oportu- nistas estão se utilizando da credibilidade conquistada pela Aquabel para comercializar alevinos de origem desco- nhecida. Os falsos revendedores enga- nam os piscicultores, prometendo entre- gar alevinos e juvenis das tilápias Tailandesa e Supreme, esse um produto exclusivo Aquabel, registrado no INPI. Além de prejudicar a imagem da sua empresa, Ricardo considera que esse comércio ilegal traz prejuízos aos pisci- cultores já que acreditam estar engordan- do alevinos de qualidade e acabam se deparando com longos períodos de en- gorda, alto consumo de ração, reversão sexual indesejada e custos altos de produ- ção. Ricardo solicita aos piscicultores que denunciem esses falsos revendedores para que sua empresa possa tomar as medidas legais cabíveis. ACORDO À VISTA - O ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, In- dústria e Comércio Exterior, informou que o Brasil poderá chegar a um “acordo políti- co” com os EUA na ação que os americanos 8 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 movem contra vários países exportadores de camarão. Em função dessa ação antidumping, que poderá resultar em mul- tas retroativas, as importações americanas do camarão brasileiro caíram cerca de 47% neste ano de 2004. Segundo o minis- tro, o acordo poderá ser possível em fun- ção da pequena participação do Brasil nas importações americanas de camarão (ape- nas cerca de 3%), visto que a ação dos EUA visa grandes exportadores, como Vietnã, Malásia e China. caberá ao CENIACUA continuar as pesquisas de desenvolvimento genético de camarões ma- rinhos e à Nicovita, o desenvolvimento de alimentos para estes animais, reforçando sua participação internacional. Na foto, da esquer- da para a direita, Martín Carrión Lavalle, Ge- rente de Negócio/Nutrição Animal da Alicorp S.A.A.;Jorge Arturo Suárez, do CENIACUA e Dagoberto Sánchez, Gerente Técnico de Ne- gócio/Nutrição Animal da Alicorp S.A.A. BARREIRA FISCAL - O Governo do Rio Grande do Norte decidiu fechar a porta de saída para o camarão marinho, aplicando 12% de ICMS nas operações interestaduais. Esta medida visou evitar o que vinha ocor- rendo há tempos com o camarão produzido no Rio Grande do Norte, que era exportado para outros estados (principalmente Pernambuco), para ser beneficiado e expor- tado. Para evitar o desemprego de inúmeros trabalhadores das indústrias processadoras pernambucanas, a ABCC sugeriu, através do vice-governador de Pernambuco, que seja assinado um protocolo com o Rio Gran- de do Norte, reconhecendo o convênio AE- 15/74. O documento permite a suspensão do ICMS nas remessas interestaduais de produtos destinados à industrialização, des- de que os produtos retornem ao estado de origem no prazo de 120 dias. Desta forma, as indústrias processadoras pernambucanas poderiam continuar processando parte do camarão produzido no Rio Grande do Norte e assim continuar mantendo o emprego e a renda nos dois estados. Atualmente, Pernambuco é o único estado no Nordeste que não participa desse mecanismo fiscal. NOVA COOPERATIVA - Os pisciculto- res cearenses de Curupati estão estruturando uma cooperativa para a comercialização de seus peixes. O projeto vai beneficiar 100 famílias até 2005 e prevê a implantação de 640 tanques-rede, que vão gerar uma produ- ção mensal de 96.000 kg de tilápia e uma renda familiar de R$ 800,00. Até o final desse ano a cooperativa deve beneficiar 50 piscicultores atingindo uma produção de 27 toneladas/mês. A primeira despesca já reti- rou três toneladas de peixes e em julho serão despescadas mais cinco toneladas de peixes. O DNOCS investiu até agora R$ 561 mil para a compra de tanques-rede, ração, construção de armazém, e prometeu implantar uma uni- dade produtora de alevinos. Até o final de 2006, o governo espera ampliar a produção a partir de parcerias com empresários. PEIXE NA GRAVIDEZ - Pesquisa desen- volvida pela Universidade de Bristol, na CONVÊNIO - A Alicorp (Nicovita), convencida da importância que tem a pesquisa para o desenvolvimento industrial, firmou du- rante a Conferência de Prensa realizada no dia 27 de maio na Colômbia, um convênio de desenvolvimento científico com o Centro de Investigações de Aqüicultura da Colômbia - CENIACUA e a Universidade Autônoma do México - UNAM. Neste importante convênio 9Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Grã-Bretanha, concluiu que mulheres que comem peixe nos meses de gestação podem estimular o crescimento de seus bebês. Qua- se 12 mil mulheres anotaram a quantidade de peixes que consumiram ao longo das 32 semanas de gravidez para que pudesse ser calculada a ingestão total de Omega 3. Em média, as mulheres comeram diariamente o equivalente a 0,15 gramas desses ácidos graxos. A pesquisa recomendou que as mulheres grávidas incluam pelo menos duas porções de peixe por semana em suas refei- ções. Os ácidos Omega-3 atuam tornando os sangues menos viscosos, facilitando as- sim a sua circulação pela placenta, aumen- tando, dessa forma, a quantidade de nutri- entes disponível para o feto. EXPORTAÇÃO – A Bluefish Piscicultu- ra, a maior produtora de catfish americano no Brasil, está, atualmente, exportando parao mercado americano e europeu, 100% da sua produção. A piscicultura, localizada em Blumenau-SC, iniciou o processamento de catfish (Ictalurus punctatus) no ano passa- do. Após o processamento, onde são filetados, embarcam mensalmente em container de 20 toneladas. A empresa conta com o apoio da ACCS - Associação de Criadores de Catfish do Sul, que em função da segurança do novo mercado e de um contrato cujo valor foi pré-fixado em dólar, passou a vender a maior parte da sua produ- ção para a Bluefish, que é a responsável pelo transporte até a processadora, para posterior comercialização para o mercado externo. Atualmente, 30% do catfish exportado pela Bluefish é proveniente dos vinte associados da ACCS. Os outros 70% são produzidos em seis pisciculturas pertencentes à própria em- presa. André Luiz Theiss, diretor da Bluefish, acredita que o mercado externo dá a seguran- ça e a rentabilidade para que os produtores brasileiros de catfish ampliem a produção. Segundo ele, nem mesmo os bagres “Basa” (Pangasius bocourti) e “Tra” (Pangasius hypophthalmus), produzidos no Vietnam, têm chegado ao mercado europeu ou ameri- cano com preços mais baixos. WAS 2005 - Já está agendado para os dias 9 a 13 de maio de 2005, em Nusa Dua, Bali, na Indonésia, o próximo encontro anual da Soci- edade Mundial de Aqüicultura (WAS na sigla em inglês). Os interessados em submeter traba- lhos para apresentações orais ou posters devem fazê-lo até o dia primeiro de novembro. Os trabalhos submetidos por fax não serão aceitos, sendo o método on line de submissão o escolhi- do pela comissão organizadora do evento. Para isso deve acessado o endereço: www.was.org/ SubmitAbstract.asp?Code=WA2005 EXPORTAÇÕES PARA OS EUA - Des- de dezembro de 2003, todas as empresas estrangeiras que exportam camarões, pes- cados e outros alimentos para os EUA, precisam ter estabelecido um registro espe- cial, com um ultimate consignee ou respon- sável final, caso a alfândega e/ou outros órgãos federais venham inspecionar e soli- citar mais informações sobre o embarque. Esse “responsável final” precisa ser uma entidade norte americana, e é mais uma norma restritiva imposta pelo governo dos EUA na luta contra o bio-terrorismo. Com isso, o governo americano pretende tam- bém minimizar os contrabandos dentro de containeres, bem como a introdução de doenças via produtos exportados. No caso do camarão brasileiro, o ultimate consignee será também responsável, de forma retro- ativa, pelo pagamento junto à alfândega de uma eventual tarifa antidumping que po- derá em breve vir a ser cobrada. Em acrés- cimo poderá haver taxas adicionais (acima de US$250/embarque) exigidas pelo De- partamento de Agricultura (USDA) para cobrir os custos de movimentação de containeres, de checagem com modernos equipamentos de raios-X, de abertura de containeres para fins de inspeção, de alu- guel de espaço em portos e de permanência em solo americano durante o período de investigação, dentre outros. você leu? o seu cliente também.... anuncie! solicite nossa tabela de preços seu cliente certamente é nosso leitor (21) 2552-2223 10 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 DE PESCADORES A INTERMEDIÁRIOS - A pesca no Baixo Rio São Francisco já não fornece mais alimento e sustento aos pescadores da cidade de Propriá (SE) e redondezas. De acordo com o Presidente da Colônia de Pescadores Z-8, Sr. Francisco “Nica” Rodrigues da Silva, os peixes comercializados na Banca do Peixe de Propriá, principal ponto de comercialização de pescados da cidade, são na sua maior parte provenientes das pisciculturas. Com o declínio da pesca, restou aos pescadores apenas o papel de intermediários na comercialização do tambaqui, tambacu, curimatã e tilápias provenientes das pisciculturas. ANTIDUMPING - O Departamento de Comércio dos EUA anun- ciou em 6 de julho as tarifas punitivas que serão aplicadas a China e ao Vietnam, países que junto com o Brasil, Equador, Índia e Tailândia, vêm sendo acusados de estarem comercializando cama- rões no mercado norte-americano praticando preços artificialmente baixos. As tarifas foram diretamente dirigidas a cinco empresas da República Popular da China e a outras cinco empresas vietnamitas e ficaram abaixo daquelas solicitadas pela SSA (Southern Shrimp Alliance). As empresas chinesas receberam tarifas punitivas que variaram de 7,67 a 112% e as vietnamitas de 12,11 a 93, 13%. Essas empresas têm agora um prazo para apresentarem suas defesas e no dia 24 de novembro será anunciada a decisão final do Departamen- to de Comércio. A decisão das tarifas que eventualmente serão impostas ao Brasil e aos demais países acusados será anunciada apenas no final de julho. A expectativa é grande. CONSUMO DE PESCADO DA AQÜICULTURA – Segun- do Jochen Nierentz, representante da Organização das Na- ções Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), no ano de 2020 cerca de 41% do pescado a ser consumido no mundo (aproximadamente 128 milhões de toneladas), será proveni- ente da aqüicultura, enquanto os restantes 59%, serão proce- dentes da pesca extrativa. No ano de 1997 as capturas de pescados por meio da pesca extrativa representavam 69%, enquanto que o consumo proveniente da aqüicultura era de 31% (93 milhões de toneladas). Ainda de acordo com Nierentz, em 2020, a China será responsável por 36% do consumo mundial de pescados. SUCESSO DO FILÉ FRESCO – A produção de tilápia já apresenta posição de destaque na indústria aqüícola latino- americana, sendo o Equador, Costa Rica e Honduras, os principais produtores na região, e responsáveis por 90,5% das 18 mil toneladas de filés frescos que ingressaram nos EUA em 2003, avaliados em US$ 102 milhões. O restante das importações de filés frescos foram provenientes da China (4,77%), Taiwan (1,57%), Brasil (1,16%) e El Salva- dor (1,05%). A China continua mantendo a liderança das exportações de filés de tilápia congelados (68%), seguida da Indonésia (15,41%), Taiwan (10,62%), Tailândia (4,04%), Equador (0,80%), entre outros. NUTRI-CAMARÃO – A Nutricil, que está oferecendo no mercado a sua Linha Nutri-Camarão para garantir um rápido crescimento e ganho de peso dos camarões em todas as fases da criação, informa seu telefone para contato, que por engano não foi publicado em seu anúncio em nossa última edição: (84) 223-7986. Mais informações: www.nutricil.com.br MEXILHÕES ORGÂNICOS - A maior empresa processadora e fornecedora do mexilhão da concha verde da Nova Zelândia, a Sealord Group Ltd, está pronta para lançar no mercado inglês a sua primeira partida de mexilhões produzidos com o selo orgânico, junto à cadeia de supermercados Waitrose. A empresa criou uma marca de referência mundial para o seu mexilhão, que é cultivado segundo um programa de monito- ramento abrangente que inclui normas e práticas de cultivo aprovadas pela Bio-Gro, agência neozelandesa de certificação. De acordo a Sealord, existe também um grande interesse por parte de compradores norte-americanos, em- bora lá o produto não possa ainda ser classificado como “orgânico” em função das normas federais para os produtos orgânicos. O diretor técnico da empresa certificadora Bio- Gro considera um grande desafio a definição de critérios para a certificação orgânica de produtos aqüícolas, em fun- ção da natureza dos cultivos marinhos, no entanto, acredita que o modelo da Sealord pode ser promovido à uma marca de referência para normas que estão sendo atualmente desen- volvidas para a maricultura. A empresa gastou cerca de NZ$600.000 (R$1,2 milhões) nos últimos cinco anos prepa- rando o processo de certificação e estima que o selo orgânico venha oferecer ao produto um valor premium 30% superior. 11Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Legislação Ambiental Alterações práticas trazidas pela nova legislação sobre autorização de uso para atividade de aqüicultura em águas públicas federais Por: Virginia Totti Guimarães Advogada especializada em Direito Ambiental e-mail: vtotti@uol.com.br Na última edição da revista Panorama da AQÜICULTURA foi publicada a minuta da Instrução NormativaInterministeri- al que regulamenta o Decreto Federal nº 4.895, de 25 de novembro de 2003. Com pouquíssimas modificações, esta Instrução Normativa foi finalmente publicada no Diário Ofi- cial em maio último, passando a ser denominada Instrução Normativa Interministerial No 06 de 28 de maio de 2004. O texto final, com todos os seus anexos está disponível na Internet, e pode ser acessado na página http:// masrv56.agricultura.gov.br/seap/html/in06.htm. A publicação desta Instrução Normativa finalmente regulamentou o Decre- to Federal nº 4.895/2003, que traz a nova legislação acerca da autorização de uso dos espaços físicos em corpos d´água de domínio da União para fins de aqüicultura. Neste artigo não se pretende fazer uma análise jurídica ou críticas aos textos mas apenas esclarecer aos aqüicultores algumas das mudanças que foram trazidas e alguns possíveis reflexos. Órgão ao qual o aqüicultor deve se dirigir A SEAP – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca é o órgão responsável pelo recebimento dos pedidos de autorização, pelo fornecimento de informações aos aqüicultores, pela conferên- cia dos documentos no ato do protocolo, pela solicitação da docu- mentação faltante e pela emissão do Registro do Aqüicultor. Além disso, atuará como interlocutor entre os demais órgãos envolvidos e o aqüicultor. Assim, a princípio, se o aqüicultor que tive alguma dúvida ou precisar protocolar documentos, deve procurar o Escri- tório Estadual da SEAP. Esta medida é uma tentativa de desburocratizar o procedimento que será comandado pela SEAP. Despesas decorrentes do processo de aprovação do projeto A Instrução Normativa nº 06/2004 tem uma regra que dispõe que “caberá ao interessado o pagamento de todas as despesas decorren- tes do processo de aprovação do projeto” (art. 2º, § 4º). Tal disposição deve ser aplicada com muito cuidado pelos órgãos envolvidos. A arre- cadação de valores pelo Poder Público encontra-se disciplinada na Cons- tituição Federal e no Código Tributário Nacional, que estabelece princí- pios e regras que devem ser obedecidos. Um dos princípios mais importantes nesta área é o da legalidade que impõe a necessidade dos tributos serem instituídos por leis para que possam ser devidamente cobrados. Verificando-se, por exemplo, a ne- cessidade de contraprestação pela utilização de um serviço público ou em razão do exercício do poder de polícia, deve ser instituída a taxa, por lei ordinária. Assim, a princípio, tal regra nos parece inconstitucional por instituir o pagamento de uma contraprestação que não foi prevista em lei específica. Possivelmente as cobranças com fundamento nesta disposição poderão ser discutidas no Judiciário. Licenciamento ambiental Foram mantidas as regras sobre licenciamento ambiental, estabelecendo-se, no entanto, nos anexos V e VI, os critérios míni- mos necessários a este, bem como ao Estudo de Impacto Ambiental – EIA. Isto não poderia ser diferente, já que o assunto é tratado em Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Prazo para conclusão do processo de autorização de uso Diferente da legislação anterior, os textos que estão em vigor não estabelecem prazos para a conclusão do processo de autorização de uso, nem para o pronunciamento de cada um dos órgãos envolvidos. Prazo de vigência da autorização Ao ser expedida a autorização, deverá constar o seu prazo, tendo sido estabelecido como limite máximo 20 (vinte) anos. A auto- rização de uso poderá ser renovada, a pedido do aqüicultor, que deve- rá ser feito com antecedência de um ano do término de sua vigência. 12 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 13Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem) fernando@acquaimagem.com.br Nutrição e alimentação dos peixes redondos Os peixes redondos apresentam hábito alimentar onívoro, sendo capazes de aproveitar diversos tipos de alimentos, desde frutas, caramujos, pequenos peixes, plantas, sementes, entre ou- tros, de acordo com a disponibilidade destes alimentos ao longo do ano. Por exemplo, na época das cheias dos rios amazônicos, a floresta inundada oferece ao tambaqui e a pirapitinga um rico cardápio de sementes, plantas, frutos, castanhas, pequenos peixes, caramujos, dentre muitos outros alimentos naturais. Estes itens alimentares são facilmente triturados por seus dentes molariformes. Adicionalmente, o tambaqui apresenta grande habilidade em filtrar o zooplâncton presente na água, sendo este um importante alimento durante os períodos de vazante nos rios amazônicos, quando os peixes são obrigados a se concentrar na calha dos rios. Nível de proteína nas rações. Diversos estudos avaliaram a resposta em crescimento do pacu (Carneiro et al, 1984; Brener 1988; Carneiro 1990; Carneiro et al, 1992; Merola, 1988; Cantelmo et al, 1994; Muñoz-Ramírez e Carneiro, 2002) e do tambaqui (Eckman, 1987; Macedo, 1989; Van der Meer et al, 1995; Vidal Jr. et al, 1998). Os resultados destes estudos (QUADRO 4) são bastante díspares, devido às diferenças no tamanho dos peixes, na composição das rações, nas condições ambientais durante os estudos, na freqüência e taxa de alimentação empregada, na possí- vel presença de alimentos naturais, entre outras particularidades de cada experimento. sta é a segunda e última parte da coletânea de informações aplicadas ao cultivo do tambaqui, do pacu e de outros peixes redondos. Na verdade, trata-se de uma extensa revisão bibliográfica sobre esses peixes trazida para nós pelo Fernando Kubitza. Nesta segunda parte, o foco recai sobre a nutrição e suas implicações na criação dos redondos; a forma como reagem às variações dos principais parâmetros relacionados à qualidade da água; às doenças e parasitas que usualmente lhes acometem durante as várias fases do cultivo, bem como os tratamentos mais adequados; e, por fim, são revisadas as informações disponíveis sobre as características dos redondos que lhes permitem ser processados e comercializados de várias maneiras. E 14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 15Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 QUADRO 4 – Recomendações de diversos estudos sobre os níveis de proteína bruta (PB%) na ração do pacu e do tambaqui. Rações com baixos níveis de proteína. Nos últimos anos, em virtude do aumento contínuo no preço dos ingredientes e das rações, alguns fabricantes passaram a recomendar o uso de rações com reduzidos níveis de proteína (entre 22 e 24%) para peixes redondos e outras espécies de peixes onívoros. Com essas rações mais baratas, vêm a promessa e a expectativa de reduzir o custo de produção. Invariavelmente isso não ocorre, em virtude do baixo teor protéico dessas rações penalizar demasiadamente o cresci- mento e a conversão alimentar. Adicionalmente, a redução dos níveis de proteína das rações resulta em maior acúmulo de gordura no peixe produzido, particularmente gordura visceral. Van der Meer et al (1995) utilizando rações com 20% de proteína, registra- ram um teor de 18% de gordura na carcaça do tambaqui, comparado a 11 e 8% quando os peixes foram alimentados com rações contendo 30 e 40%, respectivamente (QUADRO 5). No caso da gordura localizada nas vísceras e na cabeça (material não comestí- vel) essa redução foi de 15 para 12%, implicando, portanto, em aumento de 3% no rendimento pós-processamento. Eckman (1987) também registrou um aumento de 16% no teor de gordura corporal do tambaqui quando estes foram alimentados com ração contendo 25% ao invés de 37% de proteína. Para o pacu, Carneiro et al, 1994, registraram que a redução no nível de proteína nas rações de 34 para 22% causou aumento de 20% na gordura corporal com base no peso seco dos animais, o que representa perto de 5% do peso corporal do peixe vivo. Grande parte do excesso de gordura nos peixes redon- dos é depositado na cavidade abdominal, o que resulta em menor rendimento de carcaça no processamento. QUADRO 5 - Influência dos níveis de proteína bruta (PB) e da relação energia bruta:proteína (EB/PB) nas rações, sobre o ganho de peso (GDP), a conversão alimentar(Conv. alim.) e a composição em gordura na matéria seca (MS) no tambaqui e no pacu. Adaptado de: 1 Van der Meer et al , 1995; 2 Eckmann 1987 (ganho de peso em % do peso/dia); 3 Carneiro et al 1994. Assim, ainda não há unanimidade entre os resulta- dos de pesquisas sobre os níveis de proteína mais adequa- dos nas rações para as diversas fases de desenvolvimento dos peixes redondos. Deste modo, com base nos resultados obtidos em diversas pisciculturas com o cultivo intensivo em viveiros (com biomassa variando entre 6.000 e 20.000kg/ ha, em função das diferentes condições de renovação de água e aeração) este autor sugere uma estratégia nutricional e alimentar para os peixes redondos (QUADRO 6). QUADRO 6. Sugestões quanto ao nível de proteína nas rações, número de refeições diárias (Ref./dia) e estimativa do consumo médio diário de alimento (% do PV/dia) para peixes redondos. Energia nas rações. Camargo et al, (1998) verificaram que 3.300 kcal de energia metabolizável por quilo de ração (valores calcula- dos com base em tabela nutricional para aves e suínos) proporcio- nou o melhor ganho de peso e conversão alimentar, além de uma maior taxa de deposição de proteína na carcaça de juvenis de tambaqui entre 30 e 180g. Registraram, ainda, um aumento linear na deposição de gordura corporal (de 55 a 65mg/dia) com o aumento da energia das rações de 2.850 a 3.300 kcal/kg e sugerem que a energia metabolizável nas rações (estimada com tabelas para aves e suínos) deve girar entre 12,5 e 14,0 kcal/g de proteína. Carneiro (1990) estudou a exigência em energia para alevinos de pacu e sugeriu a formulação de rações contendo um nível energético próximo a 12kcal/g de proteína. Cantelmo et al (1994) recomen- dam que a energia digestível nas rações para o pacu seja ajustada para 10 kcal/g de proteína. Van der Meer et al (1995) sugeriram manter uma relação EB/PB entre 8,4 e 9,4kcal/g de proteína nas rações para tambaquis com peso entre 1,5 e 180g. Qualidade de algumas fontes protéicas. Eckman (1987) regis- trou o reduzido valor nutricional da farinha de sangue quando esta foi usada em substituição parcial da farinha de peixes em rações para o tambaqui (QUADRO 7). Nas rações com 25 e 28% de proteína bruta, o aumento na inclusão da farinha de sangue nas rações comprometeu a conversão alimentar e o crescimento do tambaqui. Esta redução no desempenho dos peixes pode ser atribu- ída à baixa digestibilidade da proteína das farinhas de sangue tradicionais e ao seu desequilíbrio em aminoácidos essenciais. No QUADRO 8 pode ser apreciado o baixo coeficiente de digestibili- dade da proteína da farinha de sangue (58%), comparado a outras fontes de proteína. Van der Meer (1995) sugere que o aumento na inclusão de farinha de sangue reduz a quantidade de proteína digestível nas dietas para o tambaqui, prejudicando o crescimento dos peixes, mesmo sob elevados níveis de proteína (50 a 60%) nas rações. A adição de farinha de peixe em rações com altos níveis de inclusão de farinha de sangue, parece equilibrar o balanço em aminoácidos nas rações para o tambaqui, restaurando o crescimen- to e maximizando a conversão alimentar, conforme observado nos resultados obtidos por Eckman (QUADRO 7). 16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 17Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 QUADRO 7- Ganho de peso e conversão alimentar de tambaquis alimen- tados com rações de diferentes níveis protéicos e composição em ingredientes (Eckman, 1987). O uso de proteína de origem vegetal nas rações. Diversos estudos constataram a viabilidade da substituição total da proteína de origem animal (notadamente originada na farinha de peixe) pela proteína de origem vegetal (no caso usando o farelo de soja como principal fonte protéica), em rações para o pacu (Cantelmo e de Souza 1986; Kubitza, 1990; Fernandes et al, 1998) e para o tambaqui (Van der Meers et al, 1996; Bock et al, 1998), da mesma forma como o observado em rações para outras espécies de peixes onívoros, como por exemplo a tilápia e o catfish americano. Assim, os produtores não devem se preocupar tanto em detectar algum aroma de farinha de peixe nas rações, usando isso como um critério para predizer a qualidade da mesma para os peixes redondos. Devem, e sim, ficar atentos aos índices de crescimento e conversão alimentar alcançados nos cultivos. Digestibilidade dos principais ingredientes. Diversos estudos avaliaram a digestibilidade dos nutrientes nos principais ingredien- tes utilizados na composição das rações para o pacu (Carneiro e Pires, 1998; Stech e Carneiro, 1998; Carneiro e Abimoradi, 2002). Os principais resultados foram reunidos no QUADRO 8. O farelo de soja possui alta digestibilidade de proteína para os peixes redondos (até 94%). As farinhas de peixe nacionais apresentam baixo coefi- ciente de digestibilidade da proteína (entre 82 a 88%). Além disso, as farinhas de peixe possuem elevados teores de matéria mineral, portanto, com baixo valor nutritivo. QUADRO 8 - Digestibilidade da proteína bruta (PB), da matéria seca (MS) e da energia (ENE) dos ingredientes mais comuns usados em rações para juvenis de pacu (valores compilados de Carneiro e Pires, 1998; Stech e Carneiro, 1998; Carneiro e Abimorad, 2002). Vitaminas C e E Até o momento, poucos estudos focaram a determinação das exigências ou do efeito da suplementação de vitaminas indivi- duais para os peixes redondos. Castagnolli et al (1994) determina- ram que a adição de 50mg de vitamina C por quilo na ração foi suficiente para promover o adequado crescimento em alevinos de pacu com peso ao redor de 10g. Peixes alimentados com ração não suplementada com vitamina C apresentaram anorexia após sete semanas e um menor crescimento comparado aos peixes alimenta- dos com as rações suplementadas. Uma análise histopatológica do tecido branquial nestes peixes revelou hiperplasia, hipertrofia e displasia da cartilagem basal dos filamentos branquiais. Foram observadas distorção e inflamação na porção final das lamelas branquiais primárias (Martins 1994). Miranda et al (2002) alimen- taram pós-larvas de pacu com rações contendo entre 125 e 750mg de vitamina C por quilo e registraram melhor crescimento utilizan- do rações com 250mg de vitamina C por quilo. Brum et al (2004) observaram que juvenis de pacus alimentados com ração contendo 500mg de vitamina C por quilo apresentaram melhor formação de macrófagos comparados aos peixes alimentados com ração despro- vida desta vitamina. Isso demonstra a importância da vitamina C no fortalecimento dos mecanismos de defesa dos peixes. Borges et al (1997) observaram que os juvenis de pacus (250g) que foram alimentados com ração contendo 2.000mg de vitamina C/kg apre- sentaram uma depleção menos intensa da reserva de glicogênio no fígado após o estresse devido ao manuseio, quando comparados aos peixes que foram alimentados com ração não suplementada com vitamina C. Chagas e Val (2003) verificaram que a inclusão de vitamina C nas rações melhorou o crescimento e a conversão alimentar do tambaqui e recomendaram a suplementação com pelo menos 100mg/kg (QUADRO 9). Peixes alimentados com rações desprovidas de vitamina C apresentaram anemia (baixo hematócrito e baixa contagem de eritrócitos). Deficiência de vitamina C em rações para alevinos de pacu resultou em deformidades na coluna (escoliose e lordose), reduzido crescimento e alta mortalidade após manuseio e transporte. QUADRO 9 - Efeito da suplementação de vitamina C nas rações, sobre o ganho de peso (GDP), a conversão alimentar (CA) e a sobrevivência (SOB) de alevinos de tambaqui com peso entre 30 e 60g (Adaptado de Chagas e Val, 2003). Belo (2002) observou um efeito positivo da suplementação com 100 ou 450mg de vitamina E por quilo de ração sobre os mecanismos de defesa do pacu e sugere a importância da suplementação das rações com estes níveis de vitamina E para peixes que serão submetidos ao estresse de confinamento em alta densidade ou de manuseio. Tolerância à qualidade da água Temperatura da água. Peixes tropicais como o tambaqui e o pacugeralmente encontram conforto térmico em temperaturas variando entre 27 e 30oC. Nestas temperaturas o consumo de alimento parece atingir o nível máximo, possibilitando alcançar as maiores taxas de crescimento. Araújo-Lima e Goulding (1997), citando estudo de Saint-Paul (1983), registraram um aumento no metabolismo de rotina do tambaqui (peixes entre 2,5 e 40cm) com a elevação da temperatura até 30oC. Deste ponto até 35oC, a taxa metabólica se manteve estável. O consumo de alimento para os peixes redondos cai conside- ravelmente quando a temperatura da água se aproxima de 22-20oC. 18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Dias et al (1998) observaram que o consumo de alimento em juvenis de pacu foi, em média, 30% maior a 27oC comparado a 23oC. Nos meses mais frios, quando a tem- peratura da água atinge 17-18oC aumenta a incidência de problemas com parasitos, fun- gos e bactérias, notadamente com o tambaqui e o tambacu, podendo ocorrer grande mor- tandade. Estes peixes geralmente não supor- tam exposição prolongada à temperaturas da água abaixo de 14oC. Poucas são as informações disponí- veis com relação ao efeito da temperatura sobre o aproveitamento dos alimentos nos peixes redondos. Recentemente, para tambaquis com peso variando entre 20 e 350g, Vidal Jr. et al (2002 a,b) registraram maior digestibilidade da proteína e da maté- ria seca dos alimentos em temperaturas va- riando entre 29 e 30oC. Com a temperatura acima de 32oC ocorreu uma redução na digestibilidade dos alimentos e um aumento no tempo de trânsito intestinal. Os resulta- dos destes estudos indicam que as tempera- turas ideais para o processo digestivo do tambaqui estão entre 29 e 31oC. Dias et al (1998) observaram um tempo de trânsito gastrointestinal de 14 horas a 27oC e de 36 horas a 23oC em juvenis de pacu com 160g. Amônia. A toxidez da amônia para juvenis de tambaqui com 17g foi avaliada por Croux et al (1994). A concentração de amô- nia total (NH3 e NH4+) na água foi fixada em 5mg/L. Com o pH da água em 6 ou 7, não foi observada mortalidade. Com a elevação no pH para 8,0 a mortalidade variou entre 10 e 20%. Nesse valor de pH cerca de 7% da amônia total está na forma tóxica (NH3), ou seja, 7% de 5mg/l equivale a 0,35mg de NH3/L. Com a elevação do pH para 9,0 (o que resulta em uma concentração próxima de 2mg de NH3/L) a mortalidade foi total. Marcon et al (2002) registraram para o tambaqui uma CL5096h (concentração que mata 50% dos animais em 96 horas) ao redor de 0,71mg de NH3/litro. Esses pesquisado- res observaram um aumento na concentra- ção de glicose e uréia no plasma dos peixes expostos por 48 horas a concentrações de 0,5 e 0,7mg de NH3/litro. Os parâmetros sangüíneos analisados foram restabeleci- dos aos níveis normais 48 horas após os peixes terem sido transferidos para água livre de amônia. pH. O tambaqui é um dos peixes de melhor capacidade de adaptação ao baixo pH da água. Em um estudo realizado por Wilson et al (1997), o pH da água foi gradualmente abaixado de 6 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3,5, permitindo que o peixe ficasse por 24 horas sob a nova condição de pH. Juntamen- te com o tambaqui, outras duas espécies foram avaliadas (matrinxã, Brycon erythropterum, e o armau, Hoplosternum litorale). Sob pH 3,5, o tambaqui foi a única espécie a recuperar o balanço iônico no plasma após 18 horas de exposição em água ácida. Em pH 3,0 foi detectado estresse iônico, com redução nos níveis de Na+ e Cl- e aumento na concentração de amônia e proteína no plasma. Em outro estudo, Portela et al (1997a) observaram que a exposição do tambaqui a pH = 3,5 resultou em perdas significativas de Na+, Cl- e K+ do plasma. As perdas destes íons foram redu- zidas com o aumento na concentração de íons Ca2+ na água. Oxigênio dissolvido. Araújo-Lima e Goulding (1997) em referência a um estudo de Saint Paul (1984) relataram que o tambaqui começa a mostrar os efeitos da hipoxia quando o oxigênio dissolvido atin- ge valores ao redor de 2mg/L. Rantin et al (1998) registraram uma pressão crítica de oxigênio para o pacu ao redor de 20 e 25% da saturação de oxigênio, sendo que a respi- ração na superfície teve início com valores logo abaixo dessa concentração crítica. Saint-Paul (1986) registrou que tanto o tambaqui como a pirapitinga podem sobre- viver por horas em águas com menos do que 0,5mg/L de oxigênio dissolvido, utilizando uma estratégia de respiração de emergência através do prolongamento (expansão) do lábio inferior (beiço). Acredita-se que esta expansão labial auxilie no aumento da taxa de ventilação branquial (aumento na passa- gem de água através das brânquias). No lábio expandido também está presente uma intricada rede de capilares sangüíneos, que pode estar envolvida na absorção direta do pouco oxigênio presente na água ou, até mesmo, do oxigênio presente na atmosfera. Zaniboni Filho et al (1997) observa- ram um aumento no consumo de alimento e no crescimento do pacu com o aumento na concentração de oxigênio dissolvido na água. Esta resposta positiva no crescimento e consumo ocorreu até determinados níveis de oxigênio, acima dos quais, não foram registradas diferenças adicionais no consu- mo e no crescimento dos peixes. Estes ní- veis de oxigênio, que podem ser considera- dos níveis de conforto para o pacu, foram de 32 e 40% da saturação nas temperaturas de 25 e 28oC, respectivamente. Supersaturação de gases. Domitrovic et al (2000) avaliaram o efeito da supersaturação de gases na ocorrência de doença da bolha de gás e na tolerância de juvenis de pacu expostos por diferentes tempos a concentrações de gases totais va- riando entre 100 a 126%. De uma forma geral, a exposição contínua por 24 horas a 19Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 uma concentração de 126%, resultou na morte de 50% dos peixes (LC5024h = 126% da saturação). Este mesmo efeito (50% de mortalidade) também foi observado em peixes mantidos por 8 dias (192 horas) a concentração total de gases de 121%. A concentração limite que pode causar lesões relacionadas à doença da bolha de gás foi ao redor de 114% durante 24 horas contínuas de exposição. Peixes que apresentavam lesões e efeitos letais pela exposição a altas concentrações de gases totais geralmente se recuperavam em um período de 24 horas, após o restabelecimento dos níveis normais de saturação de gases. Nos viveiros de cultivo a concentração de oxigênio dissol- vido freqüentemente ultrapassa 200% da saturação. No entanto, não há registros de mortalidade que possa ser atribuída a essa condição. Doenças e parasitoses Nesta seção serão apresentadas as principais parasitoses e doenças registradas em peixes redondos, quer seja em condições de cultivo ou em tanques de pesca recreativa. Protozoários parasitos. Moraes e Martins (2004) registraram a ocorrência de Ictiophthirius multifilis (íctio), Trichodina (tricodina) e Piscinoodinium pillulare (Oodiniose ou “doença do veludo”) em pacu, tambacu e tambaqui. Estes parasitos também são freqüentemente observados em raspados de brânquias e de pele do tambaqui. Godoi et al (2002) registraram a presença de tricodina nas brânquias e na superfície do corpo de pacus cultivados. O íctio e o “veludo” ocorrem com maior freqüência nos meses com temperaturas mais amenas (20 a 24oC). Moraes e Martins (2004) apontam que 73% dos casos de infestação por Piscinoodinium na região nordeste do Estado de São Paulo ocorreram entre maio e QUADRO 10 – Sugestões de tratamentos terapêuticos para o controle de algumas parasitoses em peixes redondos. agosto, com a temperatura da água variando entre 17 e 24oC. Infestações por tricodina são comuns durante todo o ano, porém se agravando nos meses de verão, nos quais ocorre um maior acúmulo de matéria orgânica na água devido às altas taxas de alimentação, o que favorece a proliferação dos tricodinídios. Infestações por tricodinas também são freqüentes em larvas, nas incubadoras dos laboratórios. Estes protozoários parasitos geralmente causam severas injúrias ao epitélio branquial. Isso pode ocasionar desequilíbrio na osmorregulaçãoe dificuldades respiratórias, levando os pei- xes até mesmo à morte por asfixia. As lesões na pele e no epitélio branquial dos peixes já debilitados, favorecem infestações se- cundárias por bactérias e fungos. No QUADRO 10 são resumi- das algumas recomendações para o tratamento destes protozoários parasitos. Durante o tratamento, deve ser monitorado o oxigênio dissolvido na água, evitando que este caia para níveis abaixo de 4-5mg/L, evitando agravar ainda mais a dificuldade respiratória dos peixes infestados. Trematodos monogenéticos. Três gêneros de trematodos monogenéticos foram associados a infestações no tambaqui: Anacanthorus spatulatus, Linguadactyloides brinkmanni e Notozothecium sp. (Araújo-Lima e Goulding 1997; Fischer et al, 1997; Araújo-Lima et al, 2002). Godoi et al (2002) também relataram a ocorrência de trematodos monogenéticos em pacu, tambacu e tambaqui. Alexandrino et al (1994) observaram severa infestação por monogenóide da família Dactilogyridae em pacu. Moraes e Martins (2004) registraram uma freqüência de 71 e 87% de infestação de pacu por monogenóides em dois pesque-pagues de São Paulo. O parasito Anacanthorus penilabiatus foi um dos monogenéticos mais comuns. As infestações são menos freqüentes no período de inverno e aumentam progressivamente na primavera. Para o tambacu a freqüência de ocor- rência foi menor, entre 10 e 13%, sen- do mais comum o registro de infestações durante o outono e a primavera. Estes autores relatam que o fornecimento de rações suplementadas com 300 a 500mg de vitamina C por quilo, dois meses antes do inverno, é um manejo que contribui para reduzir a incidên- cia de parasitos e doenças. Nomura et al (2002) observaram que o aumento na densidade de estocagem (de 0,7 a 1,6kg/m2) e o estresse devido à captu- ra com anzol e soltura (peque-solte) favorecem a infestação de tambacus por monogenóides. Mixosporídios. Martins et al (1999) registraram infestações por mixosporídios com incidência de 97% no pacu (espécie mais susceptível), 33% no híbrido tambacu e 6% no tambaqui. O mixosporídio Myxobolus colossomatis foi encontrado nos ór- gãos internos (rins, baço, fígado, vesícula biliar) e na musculatura do pacu. O mixosporídio Henneguya piaractus foi registrado nas brânquias do pacu, do tambaqui e do tambacu. Nos filamentos branquiais do tambaqui foram observados cistos entre 0,1 e 0,5mm de diâmetro. Infestações seve- ras nas brânquias levaram a um aumen- 20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 21Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 to na produção de muco e hiperplasia nas células basais. A presença de cistos dentro e entre as lamelas branquiais, aumentou a aderência entre as lamelas secundárias. Esta reação do hospe- deiro, combinada ao excesso de muco, resultou em dificuldade respiratória nos peixes. Alexandrino et al (1994) observaram severa infestação por Henneguya sp em pacu com mais de 2 anos de idade. Os peixes apresentavam coloração escurecida, letargia e tendência de isola- mento. As brânquias apresentavam muco sanguinolento e os filamentos fusionados, bem como a presença de cistos de Henneguya sp. Os peixes demonstravam sinais de asfixia. Infestação por Henneguya sp. também foram observadas em juvenis de pacu (Ferraz de Lima et al, 1994). A presença de cistos de mixosporídeos provocou reação inflamatória, hiperplasia e hipertrofia do epitélio branquial, sendo perceptível a fusão das lamelas branquiais. Os autores ainda detalham as alterações observadas nos tecidos renais e que foram atribuídas à infestação por esse parasito, dentre as quais o desarranjo dos corpúsculos renais e dos elementos tubulares, e a redução no número de túbulos renais. Esporos de Henneguya foram encontrados nas brânquias de tambaquis e pacus adultos (Godoi et al, 2002). Peiro et al (2002) registraram a ocorrência de mixosporídios (Myxobolus sp. e Henneguya sp) em tambaquis cultivados em tanques-rede. Todos os peixes amostrados tinham estes parasitos. Não há tratamento eficaz para o controle de infestações por mixosporídios em peixes. No entanto, é recomendável a adoção de algumas práticas de manejo que contribuem com o alivio do estresse fisiológico sobre os peixes infestados. Dentre muitas, recomenda-se: a) evitar a redução nos níveis de oxigênio dissolvido nos tanques e viveiros; b) aplicação de sal na água dos tanques e viveiros em doses que variam entre 100 a 500g/m3. Estas doses não possuem função terapêutica, mas sim, de aliviar o possível estresse osmorregulatório (devido às perdas de sais, do sangue para a água) causado pelos cistos e pela presença dos parasitos nas brânquias; c) o uso de rações com níveis mais elevados de vitamina C. Esta vitamina auxilia na reparação (cicatrização) dos tecidos dos peixes lesionados pela ação dos parasitos; d) evitar o manuseio dos peixes até que estes se encontrem recuperados. Acantocéfalos. Infestações por acantocéfalos foram observadas em pacus, tambaquis e tambacus (Fischer et al, 1997; Malta et al, 2001; Godoi et al, 2002; Peiro et al, 2002). De acordo com Malta et al (2001), nove espécies de acantocéfalos ocorrem em peixes amazônicos. Duas espécies em particular foram observadas parasitando o tambaqui, o Neoechinorhynchus buttnerae e o Echinorhynchus jucundus. Estes parasitos geralmente se alojam na região dos cecos pilóricos e na porção anterior do intestino, próximo ao piloro, podendo causar obstrução do intestino e ulcerações e necroses no epitélio intestinal. Em infestações seve- ras, os parasitos são encontrados ao longo de todo o intestino, prejudicando a absorção de nutrientes e competindo com o hospedeiro pelo bolo alimentar. Malta et al (2001) registraram uma prevalência de 100% do acantocéfalo Neoechinorhynchus buttnerae em tambaquis, sendo encontrados entre 30 e 406 parasitos por peixe. Os peixes infestados pararam de se alimentar e começaram a morrer. Copépodos. Diversos copépodos parasitos foram registrados em peixes redondos. Nas décadas de 80 e 90 a Lernaea ciprinacea tornou-se o copépodo mais popular e temido nas pisciculturas e pesque-pagues, notadamente no sul e sudeste do Brasil. Infestações por este parasito ocasionaram grandes prejuízos ao setor. Maiores informações sobre o ciclo de vida da Lernaea ciprinacea podem ser encontradas em Pavabelli et al (1998), Kubitza e Kubitza (1999) e Moraes e Martins (2004). Atualmente, o tratamento mais indicado para o controle de infestações por Lernaea é a aplicação do Dimilimâ (diflubenzuron). Moraes e Martins (2004) recomendam o uso de doses de 200g/1000m3 em duas aplicações a intervalos de 4 a 5 dias. Outra estratégia eficaz de controle envolve três aplicações de Dimilimâ a intervalos semanais (sugestão deste autor). Na primeira aplicação deve ser usada uma dose de 50 a 100g/1.000m3. Na segunda e terceira aplicação devem ser utilizadas, respectiva- mente, doses equivalentes a 70 e 50% da primeira dose. A Perulernaea gamitanae (Benetton, 1994; Araújo- Lima e Goulding 1997; Fischer et al, 1997), é outro copépodo da família Lernaeaidae muito comum na região amazônica e que pode ser encontrado nas fossas nasais, na cavidade bucal e nas brânquias do tambaqui. O ciclo de vida deste parasito foi relatado por Benetton (1994) e é semelhante ao ciclo de vida da Lernaea ciprinacea. O Argulus sp e Dolops sp são freqüentemente associados a parasitoses dos peixes redondos. Conhecidos como “piolhos dos peixes”, estes organismos se fixam às brânquias, corpo e nadadeiras e utilizam um aparelho bucal sugador (probóscide) para se alimentar dos fluídos das células do peixe hospedeiro. Nos pontos de fixação do parasito e de penetração do aparelho bucal podem ocorrer irritações e lesões na pele e brânquias do hospedeiro, favorecendo a infestação secundária por bactérias e fungos. Moraes e Martins (2004) indicam que o Argulus e o Dolops são mais resistentes ao diflubenzuron e sugerem a possibilidade de tratamento através de banhos diários com sal na concentração de 1 a 3% (10 a 30kg/m3). Além do Argulus sp., Fischer et al (1997) também verificou a ocorrênciade Gamidactylus sp infestando o tambaqui. Araújo- Lima e Goulding (1997) também fazem referência à infestações por Gamidactylus jaraquensis nas narinas deste peixe. Peiro et al (2002) observaram uma prevalência de 40 e 80% na infestação do tambaqui pelos copépodos Gamidactylus jaraquensis e Ergasilus sp. Alguns dos tratamentos sugeridos para o controle de infestações por copépodos em peixes são resumidos no QUADRO 10. Nematodos. Garcia et al (1997a) demonstraram a prevalência de uma única espécie de nematodo Rondonia rondoni, em pacus oriundos de viveiros do CEPTA/IBAMA. De um total de 90 peixes, 64 estavam infectados, apresentando um número médio de 3.304 parasitos por peixe. A ocorrência deste nematodo aumentou propor- cionalmente ao tamanho dos peixes. Todos os peixes acima de 800g amostrados tinham seu trato intestinal infestado pelo parasito. Garcia et al (1997b) verificaram que o uso de ração medicada com fembendazole (20 ou 40mg/kg) não foi eficaz no controle deste nematodo no pacu. Fischer et al (1997) identificaram a presença do nematodo Spirocammalus sp. no tambaqui. Fungos. Os fungos são parasitos facultativos encontrados na grande maioria dos ambientes aquáticos, vivendo sobre os resíduos orgâni- cos em decomposição. Saprolegnia parasitica é um dos mais freqüentes fungos parasitos de peixes. Os fungos geralmente agem como agentes secundários em peixes com lesões externas causadas por bactérias e parasitos. A inadequada nutrição, a má qualidade da água (alta carga orgânica nos tanques de cultivo), oscilações bruscas na temperatura e as injúrias físicas devido ao mau manuseio durante a despesca, pesagem, transporte e descarregamento, facilitam a infestação por fungos. Doenças fúngicas em peixes redondos geral- mente ocorrem nos períodos de baixa temperatura da água, quando a resistência imunológica dos peixes é reduzida. O crescimento de fungos é acelerado em temperaturas variando entre 18 e 26oC e tende a se reduzir em temperaturas mais elevadas. Sugestões de tratamen- to para o controle de infestações por fungos são apresentadas no QUADRO 10. Peixes mortos são ricos reservatórios de esporos dos fungos e devem ser removidos dos tanques e viveiros. 22 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Bacterioses nos peixes redondos. Costa (2004) relaciona os se- guintes gêneros de bactérias isoladas de tambaquis cultivados na Amazônia: Aeromonas sp, Pseudomonas sp. Streptococcus sp. Aerococcus e Nocardia. Ainda menciona o isolamento de Flexibacter columnaris (Flavobacterium columnare) em pacu e tambaqui e de Aeromonas hydrophila isolada de pacus. Estas bactérias normal- mente habitam a água dos tanques e viveiros e, algumas delas, convivem no trato intestinal ou nos tecidos do próprio hospedeiro, favorecendo-se da queda de resistência do mesmo para causar infecções. A deterioração da qualidade da água, a exposição fre- qüente a baixas concentrações de oxigênio dissolvido e a níveis subletais de amônia tóxica, a inadequada nutrição e manejo alimen- tar, a redução da temperatura durante os meses de outono e inverno, o manuseio e o transporte, infestações por parasitos externos, dentre outros, são fatores que debilitam os peixes, deixando-os mais susceptíveis à infecções. O melhor remédio para o controle das doenças bacterianas nos peixes é a prevenção através da adoção de boas práticas de manejo e do cultivo de espécies adaptadas às condições climáticas locais. Problemas com bacteriose em peixes redondos geralmente são mais comuns durante o período de inverno (devido à redução da temperatura da água) e no início da primavera quando o peixe que teve seu sistema imunológico debilitado pelas baixas temperaturas da água no inverno, começa a ser manuseado para comercialização ou remanejamento dentro da propriedade. Uma exceção é a infecção por Flexibacter columnaris, que geralmente ocorre nos meses de verão (temperaturas entre 28 e 30oC), causando grande mortandade de alevinos após o manuseio envolvido na despesca e após o estresse de transporte. Também pode acometer os reprodutores após o manuseio envolvido no processo de indução hormonal à desova. O controle de bacterioses invariavelmente demanda o uso de antibióticos, geralmente incorporados na ração. Este tipo de trata- mento é pouco eficaz quando a infecção é detectada tardiamente, pois os peixes infectados geralmente deixam de se alimentar, não sendo, portanto, medicados com o antibiótico incorporado à ração. A recomendação do antibiótico a ser utilizado deve ser feita após o conhecimento do resultado do antibiograma. A forma de tratamento (via ração, banhos ou injeção), a dose a ser utilizada, o tempo de tratamento e o período de carência, devem ser indicados por profissional qualificado, para assegurar a segurança e a maior eficácia do tratamento. Uma ampla revisão sobre as bacterioses mais comuns registradas em peixes foi apresentada por Costa (2004). Mais informações sobre bacterioses em peixes podem ser encontradas em literatura técnica disponível em português (Kubitza e Kubitza, 1999; Pavanelli et al, 1998; Costa, 2004). Processamento e qualidade da carne O mercado de peixes redondos ficou restrito durante muito tempo às regiões norte e centro-oeste, onde predomina o abasteci- mento pela pesca extrativa. A piscicultura e o pesque-pague contri- buíram com a ampliação dos mercados para os peixes redondos. Atualmente diversos mercados tradicionalmente abastecidos com produtos oriundos da pesca já são supridos com peixes redondos provenientes de cultivo. Os peixes redondos se tornaram bastante populares nos pesque-pagues devido à sua esportividade e fama nas pescarias nos rios amazônicos e pantaneiros. A carne destes peixes é saborosa, porém apresenta na musculatura dorsal (filé dorsal) espinhos em forma de “Y” que dão um certo trabalho na hora do consumo. Suas costelas, no entanto, rendem um petisco muito saboroso e valoriza- do. As costelas do tambaqui fazem parte de um prato típico muito famoso na região norte do país e que vêm se tornando um produto bastante procurado pelos compradores internacionais. Entretanto, a produção de peixes de maior porte (4 a 5kg de peso) que permitem a extração de costelas de tamanho que atendam a estes mercados, ainda não é uma prática comum junto aos piscicultores. Os peixes redondos podem acumular grande quantidade de gordura visceral, em função da sua idade, época de captura ou do tipo de alimento utilizado no cultivo. Isso resulta em perdas adicionais de rendimen- to durante o beneficiamento destes peixes. Os peixes redondos têm sido, tradicionalmente, apresenta- dos no mercado na forma eviscerada. No entanto, graças aos esforços de piscicultores e empresários, visando promover seus produtos e abrir novos mercados, diversos itens mais elaborados, como as costelinhas, lingüiças, “nuggets”, bolinhos, hambúrgue- res, peças defumadas e carne moída congelada já estão à disposição do consumidor em alguns estados. Os pratos a seguir foram preparados com peixes redondos e fazem parte da linha de produtos da empresa Delicious Fish, que também cedeu as fotos. Caldo de Peixe Temperado Costelinha de peixe Banda de peixe sem espinha Peixe inteiro eviscerado 23Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Embora os produtos elaborados a partir de peixes cultivados apresentem uma qualidade inigualável do ponto de vista do frescor (os peixes podem ser entregues vivos aos frigoríficos), a competitividade de produtos elaborados, como os empanados e hambúrgueres preparados usando o peixe inteiro, ainda necessita ser melhor avaliada. Estes produtos enfrentam a forte concorrência de produtos elaborados com peixes de baixo valor comercial ou com subprodutos provenientes do extrativismo. Via de regra, a polpa usada na elaboração destes produtos é oriunda de pescado de baixo valor comercial, sem padrão para a venda na forma inteira. A polpa também pode ser oriunda dos resíduos da filetagem, uma matéria- prima de baixo custo. A exemplo do que ocorre no Peru, país de grande tradição pesqueira e exportador de produtosde pescados, o peixe usado na produção de polpa para a elaboração de produtos empanados, surimi e enlatados custa de US$ 0,12 a 0,15 por quilo (R$ 0,36 a 0,45/kg). A inserção dos cortes especiais no mercado parece ser uma perspectiva muito promissora, restando os subprodutos do beneficiamento para a produção da polpa. Características e rendimento da carne. Os peixes redondos apresentam carne de coloração clara e de sabor suave. Apesar de saborosa, a carne destes peixes apresenta espinhos intramusculares em forma de “Y”, particularmente na região dorso-lateral do corpo. Silva e Gurgel (1998) avaliaram o rendimento de filé e os descartes do processamento da pirapitinga e do tambaqui. A pirapitinga apresentou rendimento de 41% de filé e 15% de carne aderida ao esqueleto. Cerca de 29% do peso total era composto pela cabeça, vísceras e escamas. Para o tambaqui, os descartes (cabeça, vísceras e escama) somaram 35%, enquanto o rendimento de filé foi 36% com mais 15% de carne aderida ao esqueleto. Malca (1989) resumiu o rendimento de carcaça e carne de um tambaqui com 4,4kg (peso inteiro): vísceras 10%; pele 9%; cabeça, escamas e nadadeiras 23%; carcaça 67% (peixe eviscerado, sem cabeça, sem escamas e sem nadadeiras); carcaça sem a pele 58%. Caraciolo et al (2000) obteve rendimento de filé entre 41 e 44% para tambaquis de 700 a 2.100g (QUADRO 11). Para amenizar os possíveis problemas dos espinhos intramusculares deste peixe, Caraciolo et al (2001) descrevem detalhadamente os diferentes cortes para a obtenção do filé sem espinho (músculo abdominal da região abaixo da linha lateral), das iscas ou “sticks” da porção do filé com espinhos intramusculares (região dorso-lateral, acima da linha lateral) e das costelinhas. QUADRO 11 – Rendimento no processamento do tambaqui (adaptado de Caraciolo et al, 2001 e Malca, 1989). Preservação dos produtos. Almeida e Lessi (1998) observaram que o início do rigor mortis no tambaqui ocorreu 20 minutos após a morte dos peixes por asfixia entre as camadas de gelo. Com mais 30 minutos o rigor mortis foi completo e permaneceu por 144 horas. Com até 22 dias de armazenamento no gelo (0oC) o tambaqui foi considerado como de classe especial e, até 43 dias de armazenamento, foi considerado como de boa qualidade. Souza et al (2002) e Faria et al (2002) apresentaram dados sobre o rendimento do filé in natura e do filé defumado do pacu (QUADRO 12). Durante a defumação do filé com pele, a perda de peso da peça foi de 8% relativo ao peixe inteiro. Para o filé sem pele a perda de peso ultrapassou os 11%. Souza et al (2002) observaram ainda que os filés de pacu defumados sem pele foram mais atrativos visualmente do que os filés com pele. QUADRO 12 - Rendimento do pacu in natura e defumado (Adaptado de Souza et al, 2002 e Faria et al, 2002). Considerações finais O início da década de 80 foi marcado pelos primeiros passos rumo à produção de alevinos e ao cultivo de peixes redondos no Brasil. Desde então, o volume de informações sobre a biologia e o cultivo dos peixes redondos tem evoluído a passos largos. Não obstante, e em contraste com o grande potencial de mercado e de cultivo destes peixes, notadamente nas regiões norte do país, o cultivo comercial de peixes redondos ainda caminha a passos relativamente lentos, comparado ao progresso no cultivo de algu- mas espécies exóticas no país. Parte deste atraso se deve às dificuldades na abertura de mercado. Outros quinhões ficam por conta da lenta difusão das tecnologias de produção. Ainda hoje encontramos diversos empresários iniciando os cultivos de peixes redondos e tropeçando em questões básicas, há muitos anos já resolvidas pela pesquisa. Adicionalmente, poucos empresários perceberam a oportunidade de ter em mãos material genético amazônico, produzi-lo em escala comercial e utilizar o apelo de marketing da referida região para promover os produtos amazôni- cos da piscicultura no mercado interno e externo. Ventrecha de peixe sem espinha Burgerfish no prato com salada light 24 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 O microcrustáceo Artemia é a espécie mais amplamente utilizada na alimentação de organismos aquáticos cultiváveis em todo o mundo. Distribuídos em ambientes hipersalinos, especialmente em lagos salgados interiores e salinas costeiras, cistos (embriões em diapausa) e biomassa (indivíduos juvenis e adultos) de Artemia são coletados nesses ecossistemas, proces- sados e utilizados como alimento para uma enorme variedade de peixes e crustáceos. Tanto cistos como biomassa de Artemia são elos importan- tes da cadeia produtiva do camarão marinho Litopenaeus vannamei, cuja produção no Brasil cresceu de 40.000 toneladas em 2001 para 90.190 toneladas em 2003. Como conseqüência, o consumo de cistos e de biomassa de Artemia em 2003, alcançou 16,4 e 246 a edição anterior da Panorama da AQÜICULTURA, o artigo “Uso da biomassa de Artemia na carcinicultura brasileira” delineou as bases históricas e estruturais da produção de Artemia no Rio Grande do Norte e realçou as repercussões ambientais, econômicas e sociais decorrentes do extrativismo (pesca) e uso de biomassa no cultivo de camarões em nosso país. O presente artigo, por sua vez, aborda aspectos econômicos, científicos e tecnológicos relacionados à produção de cistos. Aqui, serão discutidas as oscilações do mercado mundial de cistos, os mistérios da reprodução de Artemia através de embriões encistados e finalmente, a busca de respostas tecnológicas para aumentar a oferta desses verdadeiros “ovos de ouro” da aqüicultura. N Por: Marcos Rogério Câmara, Ph.D. E-mail: mrcamara@ufrnet.br Encistamento ou produção de larvas? 25Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 toneladas, respectivamente. Desses totais, toda a biomassa e apro- ximadamente 2 toneladas de cistos de Artemia foram coletadas nas salinas do Rio Grande do Norte. A coleta desses produtos é realizada por pescadores artesanais e o processamento e venda de cistos e biomassa de Artemia por empreendimentos familiares (de baixo capital financeiro e tecnológico) localizados nos municípios de Grossos/Areia Branca (seis empreen- dimentos) e Macau (três). Tais empreendimentos não detêm os meios de produção ou acordos oficialmente estabelecidos com os proprie- tários das salinas e, por conseguinte, dependem da coleta de Artemia realizada por pescadores artesanais. Esse modelo informal de pesca é, em sua essência, clandestino, e implica tensões sociais no relacio- namento entre processadores, salineiros e pescadores artesanais. É preocupante a sustentabilidade das práticas de extrativismo atual- mente em uso, não apenas por conta da conversão de centenas de hectares de salinas em viveiros de camarão mas principalmente, em função do desconhecimento da capacidade máxima sustentável dos locais de pesca (evaporadores de salina) e da coleta indiscriminada de Artemia (cistos, náuplios, juvenis e adultos). Oscilações na produção de cistos O Grande Lago Salgado (Utah, Estados Unidos) é o maior produtor mundial de cistos de Artemia. No entanto, as flutuações ambientais no “Great Salt Lake” (GSL) nos últimos anos têm interferido na produtividade primária do lago e na quantidade de cistos coletados. Tais oscilações são claramente observadas na Figura 1, que ilustra as colheitas anuais de cistos de Artemia no GSL no período 1989 – 2003. A demanda mundial por cistos de Artemia é hoje superior a 2.000 toneladas anuais e tenderá a aumentar, principalmente em razão das elevadas taxas de crescimento previstas para a aqüicultura nos próximos anos (por volta de 10 % ao ano). No entanto, uma vez que essa demanda será, em sua maior parte, decorrente do consumo das chama- das larviculturas de camarões, o crescimento mundial do mercado de cistos de Artemia dependerá basicamente da expansão da carcinicultu- ra marinha, atividade submetida atualmente a acusações de “dumping”, acirrada competição internacional e fortes pressões ambientalistas. A presente escassez de Artemia no mercado mundial tem estimulado a exploração de novas fontesde cistos, principalmente na Ásia. Nesse contexto, biótopos como o Lago Urmia (Irã), por exemplo, podem vir a ter uma participação importante no futuro. Por outro lado, embora sem contribuir significativamente para o mercado global de cistos de Artemia, produções anuais entre 1 e 20 toneladas provenientes de cultivos em salinas nos EUA, Vietnã, Java (Indonésia), Chile, Colômbia, Peru, Madagascar, Índia, Figura 1. Colheitas anuais de cistos de Artemia no Grande Lago Salgado (Utah, Estados Unidos) no período 1989 – 2003. 26 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 27Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 27 Paquistão, Tailândia, e Brasil, entre outros países, passarão a ter uma importância regional cada vez maior nos próximos anos. As oscilações globais na produção de cistos de Artemia nos últimos anos, têm acelerado o desenvolvimento de novas estratégi- as de alimentação e reduzido o consumo de cistos nas larviculturas de peixes e camarões. Ademais, o aprimoramento (e barateamento) das dietas artificiais para larvas de peixes e camarões poderá compensar parcialmente a expansão do consumo de cistos de Artemia na próxima década, principalmente se os problemas de lixiviação de nutrientes e de digestibilidade das rações larvais hoje disponíveis no mercado forem resolvidos. Por sua vez, o mercado nacional de cistos de Artemia, da ordem de 15 toneladas, muito produção de larvas – coexistem, e todas as linhagens de Artemia combinam essas estratégias reprodutivas em diferentes proporções. O encistamento (oviparidade) é um mecanismo de sobrevivência relevante em populações de Artemia expostas a condições ambientais desfavoráveis. Assim, a produção de cistos ocorre em populações submetidas a um forte ciclo sazonal de temperatura (Grande Lago Salgado, Utah, EUA) ou salinidade (Fallon, Nevada, EUA). A produção de larvas (ovoviviparidade), por outro lado, é usualmente observada como o modo de reprodução dominante em fêmeas que habitam ecossistemas relativamente mais estáveis (Macau, Rio Grande do Norte, Brasil; Guerrero Negro, México). Entre outros fatores também relacionados ao modo de reprodução em Artemia, estão a fecundidade das fêmeas, hipóxia, fotoperíodo, disponibilidade e tipo de alimento (microalgas), e estru- tura genética das populações. Estudos que procuram identificar complexos de genes vinculados à determinação das características reprodutivas das populações de Artemia mostra- ram que após a maturação em condições laboratoriais estandardizadas, fêmeas de va- rias linhagens bissexuais e partenogenéticas tenderam ini- cialmente a reproduzir-se por ovoviviparidade (produção de larvas) e, posteriormente, por oviparidade (encistamento). Outras observações indicaram que a inversão do modo de re- produção em Artemia não de- penderia exclusivamente de fatores ambientais. Estudos de ecolo- gia molecular recentes também sugerem que o encistamento está sob controle genético e correlacionado com os níveis de heterozigosidade encontrados nas fêmeas. O microcrustáceo Artemia é encontrado nas salinas do Rio Grande do Norte em conseqüência de inoculações feitas em 1977 nas salinas de Macau com cistos provenientes da Baía de San Francisco (Califórnia, Estados Unidos). No entanto, apesar de uma ampla disper- são e de um crescente esforço extrativista, a produção de cistos declinou de 10 toneladas anuais ao final da década de 70 para cerca de 5 toneladas em meados dos anos 80, e finalmente, para aproximadamente 2 toneladas a partir dos anos 90. Uma menor produção de cistos de Artemia nas salinas do Rio Grande do Norte tem levado a um incremento no esforço de coleta. Se efetivamente o encistamento está sob controle genético e relacionado à heterozigosidade (variabilidade), tal sobrepesca acarretaria a remoção de genótipos predispostos à oviparidade e contribuiria para um declínio ainda maior na produção desse importante recurso natural no Brasil. Lavagem de cistos de Artemia Cistos de Artemia armazenados em salmoura Secagem de cistos Cistos processados provavelmente continuará sendo abastecido por importações, já que as duas toneladas de cistos produzidas anualmente no Brasil representam cerca de 15% do consumo anual dos cultivos de Litopenaeus vannamei. É certo que a demanda por cistos de Artemia continuará crescendo à medida que se consolidem os cultivos das várias espécies de crustáceos e peixes em fase de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Para a larvicultura de peixes marinhos como garoupas, meros, robalos e linguados, por exemplo, as necessidades de cistos para cada unidade de alevino produzida se situam em níveis 200 a 500 vezes superiores às estabelecidas para Litopenaeus vannamei. Em resumo, não há garantias de estabilização na produção mundial de cistos de Artemia a médio e curto prazos. No entanto, é razoável estimar que a demanda mundial por cistos de Artemia deverá manter-se em torno de 2.000 toneladas anuais na próxima década. Mistérios na reprodução de Artemia O microcrustáceo Artemia destina grande parte de sua ener- gia para a produção de gametas e descendentes. A qualidade e o tipo do zigoto são particularmente importantes para a sobrevivência das populações, pois, dois modos de reprodução – encistamento ou 28 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 29Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2004 Produção controlada de cistos Cultivar Artemia é cada vez mais importante como medida complementar para o aumento da disponibilidade de cistos e biomassa para uso na aqüicultura. Isso é particularmente evidente no sudeste da Ásia, onde os cultivos de Artemia foram inicialmente desenvolvidos em evaporadores de salinas na Tailândia e no Vietnã. As primeiras experimentações de cultivo no Vietnã, por exemplo, ocorreram em 1982, e atualmente, o delta do Mekong é fornecedor importante de cistos de Artemia de alta qualidade, com produção estimada em 6 a 8 toneladas anuais. Nos sistemas de produção vietnamitas, água hipersalina rica em microalgas é bombeada de uma lagoa comum de fertilização/evaporação para fornecer níveis apropriados de alimento e de salinidade (~80 ‰) nos viveiros de cultivo. Os viveiros são estocados com larvas de Artemia em densidades elevadas (~20 náuplios/litro) e controlados intensivamente (manipulação da produ- ção primária e secundária; controle de predadores) até que a colheita seja necessária por conta da ausência de alimento ou por deterioração da qualidade da água. Em tais regimes intensivos de cultivo, os ciclos de produção se estendem por 5 a 6 semanas e os viveiros são drenados e estocados diversas vezes por ano. As considerações acima ressaltam a importância e os desafios tecnológicos enfrentados pelo Projeto Artemia da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC). Localizado no município de Grossos, no Rio Grande do Norte, a fazenda experimental tem como principal objetivo desenvolver técnicas básicas de cultivo semi-intensivo de Artemia no nordeste do Bra- sil. A fazenda consiste de uma área de fertilização/ evaporação de 1,44 ha (2 viveiros de 0,72 ha), área de produção de 2,16 ha (3 viveiros de 0,72 ha), estação de bombeamento, canais de abastecimento e drenagem, laboratório e infra-estrutura de apoio. Os dados da produção obtidos durante dez ciclos de cultivo realizados entre julho de 2001 e novembro de 2002 na fazenda experimental de Artemia são sumaria- dos na Tabela 1. A produtividade é dada para cistos (peso seco) e biomassa (peso molhado) por ciclo realizado em viveiros de produção de 0,72 ha. Apesar dos procedimentos estandardizados de manejos empregados na fazenda experimental, a produção (kg/ha) e produtividade (g/ha/dia) dos viveiros oscila- ram substancialmente nos dez ciclos monitorados. Os índices mais altos de produtividade foram obtidos nos ciclos realizados ao final de 2002 (A4, B3 e C3). Esses resultados podem ser creditados ao refinamento dos procedimentos de manejo empregados na fazenda, particularmente em termos da disponibilidade do alimento (microalgas) para as populações de Artemia. Embora raramente a manipulação
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