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1Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 2 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 3Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 I r ao teatro nem sempre foi um programa onde o público assiste ao espetáculo comportadamente sentado, e que somente ao término da apresentação se manifesta, ou não, com aplausos. Ao redor do século XVI, as manifestações das platéias eram diferentes das atuais. Os teatros eu- ropeus, por exemplo, eram freqüentados por um público ruidoso, disposto a discordar dos autores em cena aberta, muitas vezes aos gritos, que eram algumas vezes acompanhados de objetos jogados nos atores. Tomates e coxas de galinhas voavam agressivamente para expressar a discordância e desapro- vação. Os atores, por sua vez, eram treinados para ter um jogo de cintura, ou seria um jogo de cena, para fazer as adaptações necessárias, improvisando ações para levar a peça até o fi nal. Ainda nos dias de hoje, durante as apresentações das óperas, a vaia continua sendo usada em cena aberta, seja para discordar da encenação dos intérpretes, da concepção do diretor, da qualidade da orquestra, ou até mesmo da inspiração do autor. O público freqüentador das óperas é tido como um dos mais exigentes, e não raro, ainda leva a vaia no bolso do colete, da mesma forma que leva balas de hortelã. A aprovação por seus atos é uma das principais necessidades do ser humano. A reprovação difi cilmente é bem-vinda, ainda mais quando vem sob a forma de uma vaia, que denota a reprovação por um grande número de pessoas. Recentemente o IBAMA foi calorosamente vaiado no plenário da II Conferência Nacional de Aqüicultura e Pesca (II CNAP), ao se mostrar publicamente contrário à criação de um Ministério da Aqüicultura e Pesca, uma proposta que veio acompanhada da transferência de competências que hoje cabem ao IBAMA, e que, no entender dos delegados presentes, devem ser de responsabilidade desse novo ministério. É muito difícil saber se o Ministério da Aqüicultura e Pesca será criado ou não. Essa resposta depende de uma confi guração política que ainda é cedo para prever. Até porque, existem outras estruturas institucionais que podem também gerenciar com seriedade o fomento e o ordenamento sustentável da aqüicultura e da pesca. A vaia na plenária da II CNAP ainda ecoa nos ouvidos de todos os que lá estavam presentes. O cenário institucional parece que não está do agrado do público, que ao vaiar pediu criatividade aos atores para que mudem o roteiro, pois entendem que o espetáculo está enfadonho e seu fi m é previsível demais. De toda forma, um recado muito contundente foi dado: a vaia signifi cou um pedido para que o IBAMA reveja seus conceitos. A II Conferência Nacional de Aqüicultura é apenas um dos assuntos que trazemos nessa edição. O leitor encontrará nas páginas à seguir, temas de grande interesse, como o uso da branchoneta na alimentação de peixes carnívoros ornamentais; a larvicultura do caranguejo-uçá; o aproveitamento dos resíduos de pescado; o licenciamento de tanques-rede nas águas públicas do Estado de São Paulo, entre outros temas que esperamos sejam do interesse de todos. Uma boa leitura... 4 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 5Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Edição 94 – março/abril, 2006 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Ângelo Francisco dos Santos Antônio Ostrensky Arrilton Araújo Cibele Soares Pontes Fernando Kubitza Izabel Cristina da Silva Almeida João Lorena Campos José Patrocínio Lopes Marco Antonio Mathias Robson Ventura Ubiratã A.T. da Silva Walter A. Boeger Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua as si na tu ra. Basta conferir o número de créditos des cri to entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 15,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfi co: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfi ca & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a qua li da de dos serviços e produtos anunciados. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Capa: Arte Panorama da Aqüicultura ...Pág 51 ...Pág 38 ...Pág 42 ...Pág 49 Í N D I C E ...Pág 30 ...Pág 33 ...Pág 43 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 15 ...Pág 23 ...Pág 10 Caranguejo-uçá A captura desordenada do caranguejo-uçá, uma atividade desenfreada nas regiões litorâneas de vários estados brasileiros, bem como o surgimento de uma enfermidade chamada “Doença do Caranguejo Letárgico” (DCL), trazem muita preocupação com a rápida redução dos estoques desses animais. Esse rápido declínio das populações naturais vem forçando as instituições de pesquisa e o poder público a despender um enorme esforço para o manejo e recuperação das populações afetadas. Trabalhos neste sentido estão sendo realizados pelo Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (GIA) da UFPR, com o objetivo de recuperar áreas de manguezal onde as populações de caranguejo mostram acentuado declinio. Nesta edição são apresentadas as técnicas de larvicultura empregadas para a produção em larga escala de megalopas, a forma jovem utilizada no trabalho de repovoamento da espécie. ...Pág 52 ...Pág 53 ...Pág 57 Editorial Notícias & Negócios Notícias & negócios on line Caranguejo-uçá: A produção em laboratório O aproveitamento dos subprodutos do processamento de pescado Santa Catarina tem produção recorde de mexilhões em 2005 A branchoneta na piscicultura ornamental Regularização de cultivo de peixes em tanques-rede em São Paulo Cessão das áreas aqüícolas nas águas da União não sai sem licitação pública Apontadas as melhores áreas para o cultivo de ostras em Pernambuco Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca tem novo Ministro Conferência Nacional de Aqüicultura atrai mais de 2000 pessoas Lançamentos Editoriais Carta do Coordenador Geral de Maricultura - SEAP/PR, Felipe M. Suplicy Aqüicultura brasileira ganha dois novos laboratórios Lançados no Paraná os primeiros parques aquícola Bom começo para as importações norte-americanas de camarão Mercado da tilápia nos USA bate recorde de importação em 2005 FAO promove série de seminários A Fenacam 2006 em Natal Tudo pronto para a terceira edição da Seafood Expo em São Paulo Aquaciência 2006: encontro da Aquabio será realizado na Serra Gaúcha Calendário Aqüícola ...Pág 58 ...Pág 59 ...Pág 60 ...Pág 61 ...Pág 63 ...Pág 65 ...Pág 65 ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 PROCESSO DE SELEÇÃO - O Programa de Pós- Graduação em Aqüicultura – nível Mestrado - da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, FURG, Rio Grande, RS, informa a abertura do processo de seleção de candidatos para ingresso em agosto de 2006. As inscrições estarão abertas até 12 de junho de 2006 (data da postagem). As provas de seleção serão realizadas no dia 03 de julhode 2006 e, de acordo com a demanda dos candidatos, a prova poderá ser realizada em várias cidades do país. Mais informações poderão ser obtidas em www.aquicultura.furg.br, e-mail aquicultura@furg.br, telefone/fax (53) 3236- 8042 ou escrevendo diretamente para: Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura Fundação Uni- versidade Federal do Rio Grande – FURG - Caixa Postal 474 - Rio Grande, RS - 96201-900. SEMENTES DE VIERAS – Em abril foi realizado no Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina – LMM/UFSC, na Barra da Lagoa, Florianópolis – SC, o Seminário sobre Manejo e Cultivo de Vieiras, promovido pela Epagri e pela universidade. Durante o evento foi feita a entrega de sementes aos produtores interessados em iniciar na atividade de pectinicultura (cultivo de vieiras). Essa foi a primeira entrega de sementes de vieiras em escala comercial, produzidas a partir da parceria entre o LMM/UFSC e a Epagri/Cedap. O projeto de desenvolvimento do cultivo de vieiras da Epagri foi denominado “Projeto Gaivota 3”, em homenagem ao ex-governador Pedro Ivo Campos, precursor da maricultura em Santa Catarina, que implantou o primeiro cultivo no mar na década de 80 e que recebeu o nome, na ocasião, de Projeto Gaivota. As sementes foram encomendadas pelos produtores, por intermédio dos extensionistas municipais da Epagri, e as estimativas foram de uma demanda de cerca de 200 mil sementes de vieiras para aproximadamente 50 produtores espalhados por oito municípios litorâneos que já trabalham no cultivo de ostras, e que pretendem também ingressar no cultivo de vieiras. Durante o seminário, foram apresentadas técnicas de manejo com as sementes, estruturas de cultivo, densidades de estocagem, infl uência dos fatores ambientais, e as principais diferenças entre as técnicas para o cultivo de ostras e o de vieiras. CONSELHO ESTADUAL – No dia 11 de abril, o Esta- do do Amazonas passou a ser o primeiro no Brasil a ter um Conselho Estadual de Aqüicultura e Pesca, onde estão representados órgãos governamentais, representantes de cada setor da cadeia produtiva e organizações não-governamentais, num total de 48 membros (24 vindos dos governos federal e estadual e 24 da sociedade civil). A SEAP/PR, que atuou como articuladora deste Conselho, também é uma das integrantes do Conselho, ao lado de outros órgãos governamentais como Ibama, DRT e INSS, de ONGs como a Pastoral da Pesca e de representantes de associações de pescadores, indústria pesqueira, aqüicultores e armadores. A criação dos conselhos estaduais de aqüicultura e pesca foi uma das resoluções aprovadas na 1ª Conferência Nacional de Aqüicultura e Pesca, realizada em 2003 pela SEAP/PR e que resultou na criação em 2004 do Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca, Conape, cujo objetivo é auxiliar a SEAP/PR na formulação das políticas para o setor e acompanhar as ações desenvolvidas pelo governo. ENZIMA DE PEIXES – Pesquisadores da Univer- sidade de Ciência e Tecnologia de Trondheim (NTNU, na sigla em inglês), e da Universidade de Bergen, ambas na Noruega, testaram um novo creme para a pele humana, produzido com base em uma enzima proveniente de pescados. Os resultados demonstraram ser um tratamento efi caz contra a psoríase e eczemas. Trata-se de uma enzima conhecida como “zonase”, en- contrada em grandes quantidades nos ovos de peixes. Essa enzima elimina as células mortas da pele e, por sua vez, estimula o crescimento de células novas. A descoberta desse produto foi acidental e resultou da observação, uma vez que foi possível comprovar que os trabalhadores dos cultivos de salmões na Noruega, que estão constantemente em contato com a água fria para a realização de suas atividades, deveriam ter problemas na pele de suas mãos, em virtude das condições de trabalho. No entanto, ao contrário do esperado, os trabalhadores desses centros de criação conservam suas mãos em perfeito estado. A partir de então os pesquisadores da Universidade de Bergen dedicaram-se ao estudo do caso e encontraram a zonase como possível fator benefi ciário. Alguns pontos ainda deverão ser trabalhados pelos pesquisadores. Um deles é o inconveniente que este novo produto apresenta, visto que para o bom funcionamento do creme, é necessário aplicá-lo com água. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO DE APP’s – Acabou de ser publicada a Resolução Conama no 369 de 28/3/06, que “dispõe sobre os casos excepcio- nais, de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Áreas de Preservação Permanente – APP’s”. Trata-se de uma Resolução muito importante para os aqüicultores, visto que a boa parte das áreas propícias aos cultivos aquáticos têm, de alguma forma, alguma relação com as APP's, principalmente no que se refere aos canais que abastecem e drenam os cultivos. A Resolução dá detalhes acerca das possíveis intervenções nas APP’s e alerta, no seu artigo 13 e 14, que as autorizações de intervenção ou supressão de vegetação em APP ainda não executadas deverão ser regularizadas junto ao órgão ambiental com- petente, e que o não cumprimento sujeitará os 7Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 infratores às penalidades prevista na lei. A íntegra da Resolução Conama no 369 pode ser baixada no endereço www.panoramadaaquicultura.com. br/download.asp 40% VEM DA AQÜICULTURA – Um recente es- tudo realizado pela FAO intitulado “Aqüicultura: produção e mercados”, aumentou a importância da atividade aqüícola como fonte suplementar de pescado, situando a produção total prove- niente de cultivos em 40% do total de pescados produzidos mundialmente. O estudo diz ainda que entre os anos de 2020 e 2030 a produção oriunda da aqüicultura irá superar a produção proveniente da pesca, como fonte de pescado. O salmão e os camarões são as espécies que estão transformando o comércio internacional de pescados, sendo que é crescente no mercado internacional a importância de outras espécies como a tilápia e os bagres. CRIAÇÃO DE SALICORNIA – O Departamento de Investigações Científi cas e Tecnológicas da Universidade de Sonora, no México (Dictus – Unison) está pesquisando a reutilização da água de cultivo dos camarões para a criação de salicornia, uma planta que pode ser irrigada com água salgada (halófi ta). Em função do seu elevado valor protéico a salicornia pode ser utilizada na alimentação dos próprios camarões, além do fato de ser possível extrair um óleo comestível das suas sementes. Os experimentos estão sendo realizados na Baía de Kino e a água utilizada para um hectare de engorda de camarões pode ser aproveitada para cultivar de quatro a cinco hectares de salicornia. BOOM DA TILÁPIA NOS USA – Desde 2001 o consumo de tilápia dobrou nos USA. A tilápia é agora, o sexto pescado no ranking dos principais pescados consumidos pelos norte-americanos, o que é uma posição bastante expressiva, consi- derando que a tilápia entrou para o ranking das dez principais espécies consumidas, há apenas três anos atrás. Para os próximos anos, não se espera um fi m nesse crescimento em espiral, mesmo considerando o principal concorrente, o bagre vietnamita basa, que vem encontrando grandes difi culdades para se manter no mercado norte-americano. ÓLEO DE PEIXE – O Departamento de Pesca da FAO divulgou que um estudo mostra que em 2005 houve uma redução de 12% na produção mundial de óleo de pescado, já sendo possível prever uma redução também para 2006. As causas para essa redução estariam relacionadas com a indústria alimentícia voltada para o consumo humano, onde o produto é utilizado para o enriquecimento de Omega-3 dos produtos lácteos, entre outros. O Peru, principal produtor de óleo de peixe, res- ponsável por mais de 25% da produção mundial, mesmo mantendo os níveis de capturas, registrou uma queda na qualidade da produção. Além do Peru, os maiores produtores de óleo de peixe são Dinamarca,Chile, Noruega e Islândia, sendo que apenas a Islândia registrou um leve aumento na produção em 2005. O mercado europeu para o Omega-3 foi estimado em 160 milhões de euros, dos quais 75% são provenientes do óleo de pes- cado. A alternativa que vem sendo desenvolvida é a utilização de óleos extraídos de microalgas, que registraram no ano passado um aumento de 19% na sua participação no mercado. BLOG DO CARCINICULTOR – Está implementado em fase de testes, o blog do site www.carcinicultor. com.br. Este serviço é uma complementação à lista de discussão daquele site, onde os usuários poderão publicar artigos (posts), inclusive com alguma imagem associada. Para publicar artigos ou comentários é necessário se cadastrar, escolhendo seu login e senha, o que não leva mais do que um minuto. O endereço é blog.carcinicultor.com. br, e não tem www, mesmo! WAS – O pesquisador da Pukyong National Uni- versity, República da Korea, Sungchul C. Bai, foi eleito o novo presidente da Sociedade Mundial de Aqüicultura (WAS na sigla em inglês). Para o cargo também concorreu Ricardo Martino, chefe da Unidade de Tecnologia do Pescado da FIPERJ - Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de 8 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Janeiro. Apesar da forte torcida verde e amarela que compareceu às urnas da instituição, ainda não foi dessa vez que um brasileiro ocupará a presidência da principal entidade representativa do setor aqüícola. ANTIBIÓTICOS: USO RESPONSÁVEL – Em virtude do uso errado de antibióticos em áreas como a medicina humana, medicina veterinária, produção animal e proteção de vegetais, a FAO publicou recentemente o estudo “O Uso responsável de An- tibióticos na Aqüicultura”, visando conscientizar sobre o problema da resistência aos antibióticos nos cultivos de peixes e setores correlatos. O do- cumento foca o emprego errado dos antibióticos e o risco de desenvolvimento de resistência, visto como de interesse da saúde pública que afeta a população mundial. O trabalho, em formato PDF, pode ser obtido na íntegra, no endereço: ftp://ftp. fao.org/docrep/fao/009/a0282e/a0282e00.pdf MACROBRACHIUM NA ISLÂNDIA? – Num ne- gócio de muitos milhões de dólares, a empresa New Zealand Prawns Ltd., que opera a única fazenda de engorda de camarões de água doce (Macrobrachium rosenbergii) do mundo operada com águas de fontes geotermais, vendeu 50% da sociedade em sua tecnologia para o governo da Islândia, que espera utilizar seus recursos geotermais para a engorda do camarão de água doce Macrobrachium rosenbergii. Um projeto piloto já foi conduzido, certifi cando a viabilidade de realização da larvicultura nas condições locais e agora estão construindo a primeira fazenda comercial de camarões de água doce da Islândia. A expectativa é de que a fazenda tenha autonomia para produzir camarões sufi cientes para abastecer totalmente a cadeia de restaurantes do país. Em tempo: na Nova Zelândia, o Macrobrachium rosen- bergii tornou-se também uma atração turística. O "New Zealand-Catch and Cook: Prawn Park” é a única fazenda de turismo e cultivo de camarão em águas geotermais do mundo. Os visitantes podem alimentar os juvenis de camarão M. rosenbergii, visitar "Grumpy", o maior exemplar em cativeiro no mundo e pescar camarões para refeições no restaurante local. O passe para a família (dois adultos e quatro crianças) custa NZ$7,00, o passe para um adulto custa NZ$3,25 e para uma criança NZ$0,80 (1 Dólar neozelandês = R$ 1,32). NOVO GLOSSÁRIO AQÜÍCOLA – Um novo glos- sário online publicado pela FAO voltado para a aqüicultura com mais de 2.950 termos com de- fi nições, sinônimos, termos relacionados, fontes de informação e imagens, está disponível em vários idiomas. O objetivo principal do glossário é servir como referência para os produtores, consultores, administradores, “fazedores de política”, desenvolvedores de negócios, engenhei- ros, agricultores, economistas, ambientalistas e todos os interessados no tema aqüicultura, além de facilitar a comunicação entre os experts e cientistas envolvidos com a pesquisa e desen- volvimento em aqüicultura. Os termos podem ser encontrados por ordem alfabética ou por assunto relacionado à aqüicultura. O glossário online de aqüicultura está disponível nos cinco idiomas ofi ciais da FAO: árabe, chinês, inglês, francês e espanhol, no seguinte endereço: http://www. fao.org/fi /glossary/aquaculture TECNOLOGIA DO CAMARÃO – A empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) assegurou que as obras do Centro de Tecnologia do Camarão (CTC) serão concluídas até o fi m de 2006, após dois anos em ritmo lento em virtude da burocracia para liberar re- cursos e do processo de embargo da área onde o empreendimento seria construído, no antigo “Projeto Camarão” à margem do rio Potengi. Os 12 viveiros de engorda (dez com 1000 m2 cada e dois com 2.000 m2 cada) e os prédios do CTC estão quase prontos, desta vez na Fazenda Samisa, localizada no município de Extremoz, à margem da rodovia de acesso à Jenipabu, em uma área de 5.000 m2 de propriedade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e que pertencia à empresa Souza Cruz. De acordo com o diretor-presidente da Emparn, Robson de Macedo Vieira, quase 80% dos R$ 2,3 milhões captados para o CTC já foram aplicados e o Governo do Estado entrou com uma contrapartida de R$ 500 mil. Está sendo aguardada a chegada de cinco pesquisadores especialistas na área, provenientes da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- pecuária, conforme acerto entre as instituições. O coordenador responsável pelo CTC no âmbito da Emparn, Ezequias Viana de Moura, informa que além das pesquisas ligadas diretamente à genética, também serão realizados estudos ligados à análise de águas e desenvolvimento de rações por parte dos especialistas da UFRN e Emparn. Por enquanto, a Emparn e a UFRN não defi niram onde buscar os recursos necessários à manutenção do empreendimento. Um custo que, na opinião dos carcinicultores, é elevado. SELEÇÃO DE PROJETOS – Projetos voltados à Elaboração de Planos de Recuperação e de Gestão de Espécies de Peixes e Invertebrados Aquáticos, estão sendo selecionados pelo Ministério do Meio Ambiente, através do Fundo Nacional do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Re- nováveis. Os recursos na ordem de R$ 4 milhões serão destinados para o apoio dos projetos que visem tanto recuperação de espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção, quanto planos de gestão para espécies de peixes e invertebrados aquáticos sobreexplotadas ou ameaçadas de extinção. As propostas de projeto podem ser encaminhadas até o dia 02 de junho e deverão ser apresentadas na última versão 9Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 disponível do programa de elaboração de projetos do FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente) disponibilizado na página eletrônica: www.mma. gov.br/fnma (arquivos para download). WHITE SPOT – Um recente estudo realizado no Laboratório de Aqüicultura do Centro de Referência de Artêmia, na Bélgica, utilizou um procedimento padrão de inoculação intramus- cular, para a avaliação dos efeitos das altas temperaturas da água nos resultados virológicos e clínicos com o vírus da mancha branca (WSSV). Os resultados mostraram que o aumento da tem- peratura da água para 33oC depois da inoculação do vírus, foi sufi ciente para evitar as mortalidades induzidas pelo WSSV. Ainda de acordo com o estudo, a utilização de água quente antes da inoculação não teve nenhum efeito de proteção. Os camarões mantidos em temperatura de 33oC depois da inoculação do vírus da mancha branca apresentaram-se negativos para o WSSV, o que demonstra que essa infecção ou, no mínimo, a replicação do vírus, foi bloqueada pela elevada temperatura da água. TILÁPIAS NA COSTA RICA – A Costa Rica se consolida comoum dos principais exportadores mundiais de tilápia com 4.200 toneladas ex- portadas em 2005, e uma receita de US$ 23,5 milhões. O destaque foram os fi lés que represen- taram 3.400 t, equivalentes a US$ 19 milhões. Vale mencionar que 412 toneladas de peles de tilápia foram exportadas correspondendo a US$ 289 mil, bem como 130 toneladas de escamas, que geraram uma receita de US$ 146 mil. Esses subprodutos são utilizados para a extração de gelatinas e colágenos, que são usados na Europa na produção de cosméticos. MISSÃO INTERNACIONAL - Um grupo de técnicos da Prefeitura Municipal de Sobral-CE, Instituto de Desenvolvimento de Tecnologias em Agropécuária e Recusos Hídricos (Idetagro/ Sobral-CE), Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), e do Sebrae/CE, esteve no início de abril último em Guayaquil, no Equador, em Missão Técnica como parte do projeto "Arranjo Produtivo da Piscicultura", coordenado pela Prefeitura Municipal de Sobral em parceria com o Governo Federal, através do Ministério da Integração Nacional. O objetivo principal foi conhecer o pacote tecnológico utilizado pela indústria aqüícola daquele país para a produção de tilápias em cativeiro - da reprodução ao co- mércio exterior. A missão brasileira, coordenada por Francisco Hiran Costa da UFC, incluindo os técnicos Aquiles de Moraes, Emerson Moreira, Pedro Maia, Galdino Moura Neto e Luiza Barreto, foi recebida pelo Diretor Técnico da Companhia El Rosario S.A., Diego Buenaventura Borrero, que apresentou as principais fazendas pro- dutoras de tilápias. A empresa exporta 4.500 toneladas/ano de fi lés frescos para o mercado norte-americano, o que signifi ca dizer que apro- ximadamente 13.000 toneladas de tilápia inteira são processadas, correspondendo a praticamente toda produção do Estado do Ceará, no ano de 2003, segundo o IBAMA (2004). A tecnologia equatoriana poderá ser adequada à realidade ce- arense, buscando a maximização da produção de tilápias e incrementando a renda dos produtores locais. As inovações serão adicionadas às ações desenvolvidas pela Secretaria da Agricultura e Pecuária de Sobral, que basicamente são cons- tituídas de Cultivo de Tilápias em Tanque-Rede, Manejo Nutricional de Peixes, Benefi ciamento de Pescados, Capacitação Técnica de Piscicultores, Educação Ambiental e Monitoramento Ambiental Contínuo de Reservatórios. PRORROGAÇÃO - O Edital MCT/CNPq 02/2006 Universal, para Seleção Pública de Projetos de Pesquisa Científi ca, Tecnológica e Inovação teve as inscrições prorrogadas para 31 de maio de 2006 (http://www.cnpq.br/servicos/editais/ct/2006/ edital_0022006.htm). Segundo o Coordenador de Incentivo à Pesquisa e Geração de Novas Tecnologias da SEAP, Eric Routledge esta é uma oportunidade para os pesquisadores da área para propor projetos de até R$ 50 mil, lembrando a importância dos interessados em indicar o Comitê de Assessoramento de Aqüicultura e Recursos Pesqueiros na hora da submissão. Ainda segundo Eric Routledge, o fortalecimento deste comitê no CNPq, signifi ca a perspectiva do aumento de projetos aprovados, concessão de mais bolsas e aumento do número de membros do comitê. DISSERAM LÁ FORA – Sob o título “Três Grandes Alertas”, o site “Shrimp News International” no último dia 14 de abril, publicou que a indústria brasileira de cultivo de camarões ainda enfrenta no ano de 2006, três grandes desafi os: taxa de câmbio desfavorável, enfermidades (IMNV e WSSV) e baixo crescimento dos camarões, decorrente em muitos casos, da transmissão de infecções por patógenos, do plantel de reprodutores para a sua prole. A nota diz que em algumas fazendas, os camarões param de crescer com peso médio entre 8 e 10 gramas, que a produção brasileira tem caído nos últimos dois anos e que, provavelmente, deverá cair ainda no ano de 2006. Relata ainda o fechamento de algumas fazendas, a redução das densidades de estocagem de outras e o fato de que algumas fazendas não estão povoando, ressaltando que a situação vem criando uma crise não somente para o setor de produção, como toda a indústria relacionada, como a de produção de ração, plantas de processamento e laboratórios de larvicultura. A notícia termina anunciando que o Brasil irá abrir transitoriamente suas fronteiras para a importação de exemplares de Litopenaeus vannamei, livres de patógenos, provenientes de fontes seguras, na esperança de revigorar os estoques e incrementar o setor. 10 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. De: Hênio do Nascimento Melo Júnior hpeixejr@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tanque-rede Estou precisando recuperar uma fórmula que Fernando Kubitza enviou para a lista da Panorama da Aqüicultura. Com esta fórmula é possível calcular a carga de poluição que a ração causa em ambientes com cultivo de peixes em tanque-rede. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tanque-rede O Fernando Kubitza disse que “Você tem que considerar que do ganho de peso dos peixes, 75% mais ou menos é água que ele ganha do ambiente. Assim, se eles comem 1.000 kg de ração, ganham 1.000 kg (conversão alimentar 1:1). Na realida- de eles ganharam apenas 25% ou 250 kg em matéria seca. E a ração tem cerca de 90% de matéria seca, ou seja, 900 kg de matéria seca de ração resultaram em 250 kg de ganho em matéria seca nos peixes. O potencial poluente da ração é de 650 kg de matéria seca para uma tonelada de peixe produzida neste exemplo.” De: Antonio Dantas avdantas@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Mortalidade de Tilápias Caros Colegas, estou com um problema na minha criação de tilápias em tanques-rede no Rio São Francisco, em Alagoas. As tilápias maiores que 300 gramas morrem apresen- tando os seguintes sintomas: 1 - Coloração escura do corpo, 2 - Olhos bastante saltados da cavidade ocular, 3 - Apresentam uma membrana branca cobrindo o olho. Algumas apresentam lesões no corpo como se fossem provenientes de pancadas. Gostaria que alguém me informasse que doença é essa e como tratá-la. De: Johnnie Castro Montealegre jcmaqua@gye.satnet.net Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Mortalidade de tilápias Consultei sobre o seu problema de morta- lidade com uma especialista venezuelana em enfermidades de peixes e segue o co- mentário dela: “A cor escura é a primeira reação que os peixes têm quando expostos a algo negativo prolongado, podendo tam- bém estar relacionada com uma situação em que não podem regular as últimas terminações nervosas que controlam a coloração dos peixes. Por isso os peixes enfermos se mostram escuros. Os olhos saltados são sintomas de várias doenças, incluindo defi ciência de vitaminas. Nos tanques-rede muitas vezes observamos peixes com olhos opacos, quase sempre do mesmo lado, resultado do roçar na rede. É importante ver os órgãos internos antes de poder pensar em algo. Muitas vezes observamos lesões externas como se tivessem sido golpeados mas que na realidade é por falta de escamas devido a algum processo de captura ou também associado a problemas com Pseudomonas e Aeromonas. É importante conhecer a densidade que estão sendo criados, em que profundidade está o fundo do reserva- tório e como se encontram as brânquais. É necessário que se faça observações de cada um do órgãos – mesmo que seja macroscópica. Com as informações que você me enviou é muito pouco o que se pode fazer. Um abraço, Gina” Conroy email: anig2005@cantv.net De: José Maria comercial@wgautomacao.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Milho fermentado para tilápias em Terminação Recebi informações de que milho fermen- tado serve como alimento alternativo para terminação de tilápias. Gostaria de saber se tem algum problema no trato uma vez que temos uma quantidade razoável de milho em nossapropriedade. Até o momento, fi zemos o trato apenas com ração. De: Márcia Regina Stech marciastech@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Milho fermentado para tilápias em Terminação José Maria, poder usar o milho você pode, mas não deve, essa é a questão, pois pro- vavelmente terá problemas com transporte, qualidade de carcaça e sanidade. De: Luiz Vítor Oliveira Vidal luiz_vidal@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Milho fermentado para tilápias em Terminação 11Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 O milho é bastante energético, o acúmulo de gordura na carcaça será maior. Os pigmentos carotenóides do milho podem alterar a colora- ção da carcaça, prejudicando a venda. De: Josué Moura josuemoura@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia no inverno Gostaria de saber o que vocês acham de locar tilápia nos tanques-rede agora, na entrada do inverno, minha represa apresenta uma temperatura média no inverno de 18ºC. Terei um resultado satisfatório? De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Veja que país belo nós temos! Para quem está preocupado se pode estocar as suas tilápias com uma temperatura média de 18ºC graus no inverno, nós aqui estamos criando tilápias no verão (entre os meses de outubro a abril) e a temperatura média em minha região (Centro de Santa Catarina) não é maior do que isto. Veja as médias: janeiro: 20,7 ºC, fevereiro: 20,5 ºC, março: 19,6 ºC, abril: 16,6 ºC, maio: 13,4 ºC, ju- nho: 12,0 ºC, julho: 11,9 ºC, agosto: 13,3 ºC, setembro: 14,8 ºC, outubro: 16,8 ºC, novembro: 18,6 ºC e, dezembro: 20,0 ºC. Produzimos peixes ao redor de 500 gramas por cabeça em 200 dias. As adversidades nos fazem ser criativos para produzir "nesta terra em que se plantando tudo dá". De: Francisco Moreira Dubeux Leão Junior francisco.leao@fl eury.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Prezados Álvaro e Josué, deixa eu pegar uma carona na sua discussão. Aqui na minha região, a água varia de 29 ºC no verão a 18 ºC no inverno. Os meses frios são junho, julho e agosto. Nestes meses elas comem mais ou menos uns 75% do que deveriam comer se a temperatura não caísse. Isto me dá um ciclo de nove meses entre o Alevino II (pós-reversão) e o peixe gordo com mais de 500g e menos de 700g. Álvaro, você acha que eu estou "marcando bobeira" e demorando muito ou o ciclo de 9 meses é compatível com estas temperaturas? Você chega em 500g em 200 dias partindo de que tamanho? Outra pergunta: quem faz os seus alevinos/juvenis? Você mesmo já tem as matrizes adaptadas para o seu clima ou você compra de terceiros da sua região? Se não for pedir muito: qual o esquema de arraçoamento que você usa? De: Álvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Os resultados foram obtidos em tanque-rede com alimentador automático de 24 horas da Bernauer, com oferecimento constante. O início do cultivo começa com juvenis de tilápia com 50 gramas, produzidos e forne- cidos por nós mesmos (passam o inverno em recria). São dados experimentais, pois estamos desenvolvendo dietas completas, para possibilitar um sistema de produção em nossa região que, como falei, tem um inverno rigoroso. De: Flavio Lindenberg ffl @moana.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Aqui em Cananéia - SP as médias de inver- no se assemelham às suas e temos obtido converções alimentares semelhantes às do verão caindo, contudo, a taxa de crescimen- to diário aproximadamente pela metade. Nossa opção é por manter as engordas e pré-engordas, suprimindo apenas as alevi- nagens. Creio que a questão determinante é econômica (aumento do custo de produção) e depende da sua análise particular. Nos casos do Álvaro e Francisco Leão pode-se notar que sem o inverno as metas não seriam alcançadas. Divagando um pouco, "tempo é dinheiro" e experiência. De: Flavio Lindenberg ffl @moana.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Talvez a solução esteja em partir de alevinos saudáveis e de grande porte, acima de 5 gra- mas, sem estresse de transporte e tratamento preventivo contra patógenos. No inverno o sistema de alimentação ad libitum (à von- tade) e ração de qualidade também podem ser limitantes. Por que você não mantém um novo teste em pequena escala? De: Francisco Moreira Dubeux Leao Junior francisco.leao@fl eury.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia no inverno Eu ainda tentei fazer juvenis no inverno do ano passado e não deu muito certo. Morreu um bocado e o que sobrou teve um desempenho meio fraco. Este ano eu vou passar o inverno com a recria vazia. Outro aspecto que eu notei é que eu estava dando pouca comida quando chegavam nas 400g, 12 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 principalmente no calor. Acho que fi quei muquirana de repente e acabei deixando a peixada com fome! De: Paulo Afonso pafonso@infonet.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia & Cia Estamos vivenciando uma experiência muito interessante aqui em Aracaju-SE. A Piscicultura Porã, voltada para a reprodu- ção, engorda e processamento de tilápia, há mais de 10 anos, resolveu montar um restaurante e choperia (TILÁPIA & CIA.), onde só pratos e petiscos de tilápia são servidos aos fregueses. Está sendo um su- cesso. As pessoas estão adorando e muitas delas que não conheciam o nosso peixe, passaram a conhecer e gostar. São mais de 10 receitas que oferecemos. Estamos localizados na orla da praia de Atalaia, em Aracaju. O restaurante também funciona como ponto de venda dos nossos produtos processados (fi lé, postas, eviscerados, bolinhos, etc.). Como ponto de escoa- mento da produção, está surpreendendo a todos nós. Quando vierem a Sergipe, nos visitem, será um prazer, contar da nossa experiência. De: Daniel Y. Sonoda dysonoda@esalq.usp.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia & Cia Paulo, acho que esta iniciativa de vocês deveria ser copiada em todos os Estados do Brasil. Esta é a forma de marketing mais efi ciente que existe, pois se ganha dinheiro para divulgar o produto! Seria uma ótima forma para fi xar o consumo de peixes de piscicultura na população. De Carlos Iannoni iannoni1@itelefonica.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia & Cia Olá Paulo, aqui na região central do Estado de São Paulo trabalho exclusi- vamente com a pesca de tilápia e no restaurante sirvo somente filé de tilápia já há três anos e tem sido um sucesso. O produto é muito bom de trabalhar, vende sozinho, preenche os anseios do consumidor sem detalhes à acrescentar ou ressalvas. Gostaria de propor um trabalho com moto-boys entregando peixes nos domicílios. Fiquei interessado nos boli- nhos que você comercializa. Como vai a aceitação deles? Parece mais barato que o filé e oferece praticidade ao consumidor. Vocês têm a percepção que me deixou os pirões confeccionados com tilápia (carcaça do filé)? Quando se deixa sem tempero a farinha se pronuncia mais e quando se tempera muito o peixe some. Não é defeito e sim uma característica de leveza que a tilápia tem. Coloco em confronto com o pirão de piranha, por exemplo. Parabéns e tenha a certeza de vida longa para o empreendimento. De: Paulo de Mesquita Sampaio pdemesquitas@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia enlatada Pessoal do processamento, vocês já vi- ram e experimentaram o fi lé de tilápia enlatado em lata de sardinha pela fi rma “Rubi” do Rio de Janeiro? Tem fi lé no óleo comestível, fi lé no molho de alca- parras e fi lé com outro molho que não me recordo. Comi e gostei. É um sabor bem leve. São latinhas com 83g de fi lé de tilápia. Como vêem o peixe em lata é um mercado já consolidado, com a sar- dinha, anchova, atum, etc.. E agora é a tilápia conquistando seu espaço. Sugiro irem ao supermercado paraexperimentar e, principalmente, comentar e tocar pra frente esse novo produto para que todos possam vender mais tilápias. De: Silvia Mello silviaqua@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia enlatada O enlatamento começou através da proposta de um piscicultor do Estado do Rio de Janeiro que fornece a tilápia para a Rubi. As tilápias fi letadas são de tamanho pequeno, devido a questões técnicas e econômicas. O produtor em questão prefere comercializar a tilápia pequena (inicialmente o peixe tinha entre 250 e 350 g) devido a questões de manejo da sua piscicultura. De: Luiz Eduardo lesba@onda.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia enlatada Tive a oportunidade de experimentar a tilá- pia enlatada. Aqui em Londrina, uma rede de supermercado algum tempo atrás andou vendendo a tilápia dessa forma. Há tempos que não tenho visto o produto, mas posso garantir que é extremamente saborosa. De: André Bezerra agencia_brasil@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia enlatada Através de nosso Sistema de Inteligência de Mercado (SIM) temos monitorado os preços, ofertas e fl utuações de diversos produtos de Aqüicultura. A tilápia / fi lé / rubi/ vem tendo boa aceitação no mercado, tem sido ofertada em embalagens de 130g com óleo comestível, pimenta, ou alcaparras, nos últimos quatro meses segue com o preço médio (consumidor) de R$ 2,99. Tenho encontrado o produto em supermercado no Espírito Santo. Parabéns aos empreen- dedores que mostram que é possível irem além de nossas comodities e investem em agregação de valor. De: Bernardo Sardão milagredospeixes@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia enlatada Tive oportunidade de percorrer alguns supermercados nos Estados Unidos e Canadá dando especial atenção aos pes- cados. Encontrei uma grande variedade de produtos enlatados e os mais populares eram os do tipo “atum enlatados” muito parecidos com os de marca brasileira, e esses custavam entre US$ 0,25 (produto de excelente qualidade) e US$ 1.00 (marcas e supermercados mais caros) a unidade. Havia também salmão enlatado utilizando partes do peixe (com espinha e pele) de menor tamanho aos comercializados. Comprei vá- rios tipos e marcas. Apesar do cheiro muito forte, experimentei e gostei. Os preços das latas estavam em torno de US$ 2.00 e US$ 3.50, dependendo claro, do tamanho e marca. Não havia tilápias enlatadas, no entanto, este peixe ocupa grande parte das prateleiras, onde se encontra tilápias para todos os gostos. Em fi lés, inteiras, diferentes cortes, congeladas e prontas para cozinhar (US$ 0.99 cada fi lé de 100 gramas (promoção!), fresca, congelada, etc. de procedência chinesa (obs.: todas as tilápias, sem exceção, eram de proce- dência chinesa). Além do salmão e atum, havia uma grande variedade de moluscos e outros peixes de águas frias, também enlatados (ao óleo, água, diferentes mo- lhos e defumados). Vale a pena entrar nos sites de grandes empresas estrangeiras de pescados e também de redes de supermer- cados para ter conhecimento do que está sendo comercializado no exterior. 13Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 De: Eduardo Tiguera Bernhardt tiguera@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Policultivo Estou em Aracajú-SE e recentemente passei por desagradável surpresa ao despescar um viveiro de 2 hectares povoados com cerca de 100 mil Pl´s de vanammei e 30 mil alevinos de tilápia. Esse meu viveiro é abastecido com água de uma nascente que fi ca próxima, têm características especiais com salinidade de 4,5 ppt, alcalinidade e dureza maiores de 150 ppt e fi ca em uma antiga área embrejada onde viviam muitos camarões nativos de água doce. Acontece que os camarões (vannamei) se desenvol- veram muito bem até 13-15 g porém, não tinha idéia da sobrevivência, pois a acli- matação na época do povoamento a fi z em condições adversas e com pouca técnica. Bom, a partir daí (+/- 90 dias) começou a aparecer e logo depois a predominar em minhas biometrias, esse camarão nativo de água doce muito parecido com o pitú ou o rosenbergii) e no fi nal do período de poli- cultivo cerca de 180 dias despesquei cerca de 200 kg de camarão. Desses, apenas cerca de 5% eram vannamei. Percebi ainda, que os maiores, que chegaram a atingir 18 gramas nas biometrias, haviam desaparecido! A possibilidade que levanto é de canibalismo por parte dos de água doce (que tem quelas) contra os vannamei. Gostaria, no entanto, da opinião dos listeiros! Gostaria também de receber notícias de outros policultivos em água doce ou salgada e seus índices, bem como se alguém já desenvolveu técnica de despesca ou mesmo de construção de viveiros ou estruturas de despescas para essa modalidade, visto que a despesca é uma das grandes difi culdades desse tipo de cultivo. Alguns dados importantes: utilizei Pl 10, a aclimatação de Pls que vieram com salinidade 5 para 4,7 (minha), inicialmente dentro das próprias bolsas de transporte, duração de cerca de 1 hora e meia. Não foram observados outros parâmetros como pH, no entanto o meu sempre é próximo de 7 (método colorimétrico). O tempo de transporte das Pls até a fazenda é de cerca de 18 hs. O horário da aclimatação foi 21hs. Foram feitas correção do solo com calcáreo dolomítico e desinfecção de poças com cloro, porém como a área do viveiro têm fundo muito úmido e muitas poças, acredito que as larvas dos camarões nativos vem daí! Uso tela de entrada e saída do tipo “tela mosquiteiro” (não sei exatamente quantas micras de abertura). As tilápias foram estocadas com cerca de uma grama mais ou menos, sete dias antes da estocagem dos camarões. De: Francisco Costa hiran1968@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Policultivo Eduardo, a estocagem foi feita da forma errada. Você colocou tilápias com uma grama, que vão se alimentar fortemente de zooplâncton e, então, você coloca PL 10 (praticamente zooplâncton). As 100.000 PLs, então, serviram praticamente de ali- mento para as tilápias que com uma semana já deviam estar com 2 gramas. Acabei de fazer uma viagem ao Equador para veri- fi car esse pacote. Dê uma olhada em www. civa2004.org, lá você encontrará um artigo nesse sentido...é um bom caminho. 14 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 15Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Por: Ubiratã A. T. da Silva, Antonio Ostrensky, Robson Ventura, Angelo Francisco dos Santos e Walter A. Boeger Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais, Universidade Federal do Paraná. e-mail: ostrensky@ufpr.br e-mail: ostrensky@ ufpr.br O caranguejo-uçá é o maior crustáceo encontrado nos manguezais brasileiros. Sua carne é adocicada e muito saborosa, o que faz de sua captura uma atividade econômica muito importante nas regiões lito- râneas. Porém, já existe uma crescente preocupação com a redução dos seus estoques naturais, não só pela destruição de seus habitats e pela captura desenfreada a que está sendo sujeito, mas também pelo surgimento de uma enfermidade chamada “Doença do Caranguejo Letárgico” (DCL). Desde 1997, essa doença vem provocando grandes mortandades de caranguejo-uçá em grande parte da Região Nordeste. Os problemas relacionados ao caranguejo-uçá vêm forçando as instituições de pesquisa e o poder público a despender um enorme esforço para o manejo e recuperação das populações afetadas. Trabalhos neste sentido vêm sendo realizados desde 2001, pelo Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (GIA), com o objetivo de recuperar áreas de manguezal onde as populações de caranguejo mostram estar declinando. Para isso foram desenvolvidas técnicas inéditas de larvicultura em larga escala da espécie, que vêm se tornando uma ferramenta valiosa para o manejo de populações naturais. O caranguejo-uçá é um dos principais recursos pesqueiros explo-rados pelas populações que vivem próximas a estuários. Essa espécie pode ser encontrada desde o norte deSanta Catarina até o Estado norte-americano da Flórida. Na fase adulta, o caranguejo-uçá chega a atingir um tamanho considerável - até 10 cm de largura de carapaça e mais de 30 cm de envergadura. A sua carne é muito apreciada e sua captura é relativamente fácil, principalmente duran- te o período reprodutivo. Como não exige equipamentos ou artes de pesca sofi sticadas, a cata do caranguejo é uma prática acessível às camadas mais pobres das populações litorâneas e, com isso, a pressão sobre esse recurso pesqueiro, principalmente em torno das grandes cidades, é muito grande. A cata do caranguejo, dessa forma, acaba funcionando como uma “válvula de escape” à falta de emprego e opção de geração de renda para essas populações. No entanto, há alguns anos é possível observar uma tendência de redução dos estoques do caranguejo-uçá em grande parte dos manguezais brasileiros. Até mesmo o tamanho médio dos caranguejos capturados vem decrescendo ano após ano. Preocupados com estes fatos, a comunidade científica e os órgãos ambientais vêm realizando esforços para ampliar o conhecimento sobre a biologia do animal e tentando imple- mentar medidas administrativas e legais para tentar reverter este quadro. Diversos encontros anuais, reunindo catadores de caranguejo, membros da comunidade científica e agentes de fiscalização foram realizados e, a partir daí, os moldes de portarias como a de Nº 52/2003, que regula a captura e comercialização do caranguejo-uçá no sul do Brasil, foram estabelecidos. 16 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 17Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Apesar da implementa- ção de medidas mais rígidas de controle, tais como ta- manho mínimo de captu- ra e períodos de defeso, os estoques continuam a decair. Outros fa- tores como o cresci- mento das cidades em torno dos manguezais, acidentes ambientais e, recentemente pelo aparecimento de uma enfermidade altamen- te letal para populações de caranguejo-uçá, vêm demonstrando que apenas a regulamentação da cata do caran- guejo é insufi ciente para garantir a sustentabilidade da exploração desta espécie pelas populações ri- beirinhas por um longo tempo. O repovoamento procura explorar algumas das lacunas repro- dutivas da espécie, que apresenta alta prolifi cidade, mas baixíssimas taxas de sobrevivência larval no ambiente natural. Em laboratório, através do uso de tecnologias avançadas, é possível obter índices de sobrevivência centenas e até milhares de vezes superiores àqueles obtidos naturalmente. Essas larvas podem ser utilizadas para recom- por áreas alteradas por ações antrópicas ou naturais. Entretanto, o uso das técnicas de repovoamento é muitas vezes visto pela população e, por isso mesmo, também pelos administradores públicos, como uma panacéia – uma solução para todos os males. Ape- sar de sua efi ciência já ter sido comprovada para diferentes espécies em países como Japão, Noruega e Estados Unidos, existem muitos exemplos nos quais as técnicas de repovoamento, até por terem sido exageradamente simplifi cadas, resultaram em exemplos negativos até hoje lembrados e explorados pelos adversários da idéia. Apesar da maior consciência que se tem atualmente de que a interação entre uma multitude de fatores ambientais exerce enorme infl uência nos resultados dos esforços de repovoamento, muitas tentativas sem o necessário critério continuam a ser realizadas, ano após ano, atraídas principalmente pelo clamor popular, mas também pelo desejo dos governantes em dar uma resposta rápida às demandas, tanto sociais como ambientais. O que o GIA tem feito é justamente desenvolver, testar e validar a tecnologia de repovoamento do caranguejo-uçá de uma maneira científi ca. O início de todo o processo de repovoamento em um determinado local passa primeiramente por um diagnóstico muito preciso da situação da área-alvo. Dentre os aspectos que são avaliados estão a identifi cação do agente estressor, a dimensão do impacto e a capacidade de regeneração natural dessa área. Primeiros passos Em janeiro de 2000, um acidente na refi naria Duque de Caxias foi responsável pelo derramamento de grandes quantidades de óleo cru na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O óleo atingiu diversas praias e ilhas, mas principalmente os manguezais das reservas ambientais de Guapimirim, no fundo da baía. Como resposta ao acidente, a Petrobras apoiou as primeiras pesquisas desenvolvidas pelo GIA para o desen- volvimento de uma tecnologia para produzir larvas de caranguejo-uçá em larga escala. O projeto foi realizado em um pequeno laboratório no município de São Mateus, ES. As primeiras tentativas foram frustrantes, pois ainda não se conhecia o momento exato em que as eclosões ocorreriam e nem como manter as fêmeas em cativeiro. Conversando com os catadores, percebeu-se que as eclosões ocorriam em sincronia com os ciclos lunares e que a manutenção das fêmeas em cativeiro por longos períodos era desnecessária. A partir daí, as fêmeas ovadas (Foto 1) somente eram trazidas ao laboratório alguns dias antes da lua cheia ou nova. Com isso, a sobrevivência das fêmeas foi maximizada permitindo, fi nalmente, que grandes quantidades de larvas na fase inicial, ou zoea I (Foto 2), fossem obtidas. As fêmeas eram, então, devolvidas, após a eclosão, para o mesmo manguezal do qual foram capturadas. Foto 2 – Larva zoea Foto 1 - Fêmea ovígera de caranguejo-uçá A Doença do Caranguejo Letárgico – DCL Desde 1997, episódios de mortandades em massa de popula- ções de caranguejo-uçá vêm sendo registrados na região Nordeste. Em um estudo desenvolvido desde 2004, fi nanciado pelo Governo do Estado de Sergipe e realizado pelo GIA/UFPR, o agente cau- sador dessa patologia, batizada de DCL (Doença do Caranguejo Letárgico) foi identifi cado como sendo um fungo negro do grupo dos ascomicetos. O microorganismo se espalha pela hemolinfa e afeta diversos órgãos do caranguejo, principalmente o sistema nervoso e o coração. Como os caranguejos perdem a capacidade de coordenação dos seus movimentos, a manifestação mais visível da doença é a letargia. Em poucos dias, os animais infectados acabam morrendo. Em várias cidades turísticas, como Salvador e Aracaju, por exemplo, a redução na oferta de caranguejo nos bares e restau- rantes já se faz sentir na forma de um drástico aumento dos preços, criando até mesmo um mercado para a importação de caranguejos de outras regiões do país ainda não afetadas pela doença. Repovoamento Poucas pessoas sabem que o caranguejo-uçá demora cerca de seis ou sete anos até atingir o tamanho mínimo permitido para sua captura (seis centímetros de comprimento de carapaça). Mesmo a maioria dos próprios catadores profi ssionais desconhece este fato. O longo tempo necessário para o crescimento até seu tamanho co- mercial dá uma idéia de sua fragilidade ambiental. Por este mesmo motivo, o cultivo comercial e econômico do caranguejo-uçá é tido como totalmente inviável. A alternativa está no gerenciamento e na manutenção dos estoques para captura extrativista. Porém, uma terceira alternativa, para se somar às já tradicionais, vem sendo desenvolvida pelo GIA/UFPR: a reposição de estoques depletados através da liberação de formas jovens, ou seja, pós-larvas e juvenis produzidos em laboratório. 18 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 As fêmeas ovadas são capturadas nos manguezais, lavadas, desinfectadas e mantidas por alguns dias até que os ovos eclodam. A eclosão ocorre nos dias que antecedem as luas cheias ou novas. Ovos embrionasdos Ao chegar ao manguezal a megalopa cava uma pe- quena toca onde sofre sua última metamorfose: se torna um caranguejinho. Fêmea ovada A partir do momento em que foi possível obter uma quantidade sufi ciente de larvas, no estágio de zoea I, a maior preocupação da equipe de pesquisadores passou a ser o alimento mais indicado para cada estágio larval. Diversos experimentos foram necessários paraencontrar alimentos vivos que pudessem ser aceitos pelas larvas. À medida que o desenvolvimento larval avançava, algumas enfermidades passaram a surgir e precisaram ser controladas com ajustes do manejo de rotina, até que fi nalmen- te os primeiros lotes do último estágio larval, conhecido como megalopa, puderam ser produzidos em grande quantidade. Neste primeiro ano do projeto, cerca de dois milhões de megalopas (Foto 3) foram produzidas. As larvas foram transportadas para o Rio de Janeiro e liberadas nos manguezais que margeiam a Refi naria Duque de Caxias e na unidade de proteção ambiental de Guapimirim (Foto 4). A partir do sucesso inicial, que na verdade se restringiu mais ao desenvolvimento de uma tecnologia básica para a larvicultura da espécie do que no repovoamento em si, outros esforços foram realizados, também em parceria com a Petro- bras, nos anos seguintes. A continuidade do processo de desenvolvimento da tecnologia para o repovoamento do caranguejo-uçá consistiu em resolver gargalos tecnológicos para aumentar as taxas fi - nais de sobrevivência durante a larvicultura, o que implicava em abandonar defi nitivamente o modelo de larvicultura de camarões e desenvolver um modelo próprio para a produção de larvas de caranguejo-uçá. Atualmente, as larviculturas estão sendo realizadas no Laboratório de Pesquisas de Organismos Aquáticos (LA- POA), que pertence ao próprio GIA, localizado no campus da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, a 130 km do litoral paranaense (Foto 5). Devido à distância com o mar, a água marinha utilizada no laboratório é transportada por caminhões-pipa e mantida por meio de sistemas de recircula- ção por fi ltragem biológica. Foto3 – Megalopas Foto 4 – Transporte de larvas Foto 5 – Tanques de larvicultura do Laboratório de Pesquisas de Organismos Aquáticos (LAPOA) 19Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Após a eclosão dos ovos, as larvas são tran- feridas para os tanques de larvicultura, pre- viamente abastecidos com microalgas para alimentação. Ovos e la rvas recém eclodidas Tanque de larvicultura O grupo de larvas recém eclodidas parecem minúsculas “vírgulas”. O primeiro estágio larval é a zoea I. Em média, a cada 2,5 dias, as larvas mudam para o próximo estágio. Nos estágios de zoea, as larvas preferem alimentos vivos. O laboratório deve contar então com um setor específi co para cultivo de microalgas e zooplâncton. O último estágio larval é seme- lhante a uma minúscula lagosta e recebe o nome de megalopa. A megalopa já apresenta grande afinidade pelo sedimento dos manguezais. As megalopas produzidas em laboratório são libera- das no manguezal, próxi- mo a vegetação durante as marés enchentes. Zoea I Zoea III Zoea V Apesar do desafi o que signifi ca produzir organismos marinhos tão longe do mar, as larviculturas têm sido realizadas com grande êxito, já que as difi culdades exigiram o refi namen- to das técnicas de produção. A metodologia de produção de organismos-alimento, o esquema de alimentação, as trocas de água e o manejo em geral, acabaram por atingir um alto grau de sofi sticação e de especialização, de tal forma que grandes quantidades de larvas vêm sendo liberadas em regiões pre- viamente estudadas. Larvicultura Para a realização das larviculturas, fêmeas ovadas de caranguejo-uçá (Foto 1) são coletadas dos manguezais nos dias que antecedem a lua cheia e nova. Trazidas até o LAPOA, elas são desinfetadas em solução de iodo e formalina e acondicio- nadas em tanques especiais para eclosão. As larvas, que após a eclosão formam nuvens na coluna d’água, são facilmente atraídas por uma fonte luminosa e retiradas dos tanques. Após serem contadas por amostragem, são então transferidas para os tanques de larvicultura. Uma seqüência de diferentes alimentos é utilizada para cada estágio. Inicialmente, para o primeiro estágio larval, ou zoea I, fornecia-se microalgas móveis, como as Tetraselmis spp. A partir de zoea II, o rotífero da espécie Brachionus plicatilis era adicionado à dieta e por fi m, náuplios de artê- mia, eram fornecidos após o estágio de zoea V. Atualmente, estão sendo testadas diferentes espécies de microalgas para alimentação das larvas. Na fase fi nal do processo ainda são fornecidos náuplios de artêmia como alimento suplementar, porém, devido ao alto custo do cisto de artêmia, foram testadas algumas espécies de copépodes que demonstraram grande potencial e deverão ser utilizadas mais freqüentemente nos próximos ciclos de produção. O cultivo larval demora cerca de 30 dias. Durante este período as larvas passam por seis estágios de zoea até realizarem a metamorfose para megalopa. Normalmente, a maioria das larvas atinge a fase de megalopa já no vigésimo quinto dia de larvicultura, mas ainda não estão prontas para o recrutamento. Isto é, as megalopas ainda não estão preparadas para enfrentar as condições encontradas nos rios que permeiam os manguezais. Somente após cerca de cinco dias desta última ecdise, a megalopa passa a tolerar variações de salinidades mais extremas e começa a procurar ativamente o sedimento, detalhe que indica o momento correto para sua liberação no ambiente. Este período adicional no laboratório é muito impor- tante, pois minimiza também as perdas por predação. As larvas, assim que liberadas, permanecem o menor tempo possível na coluna d’água antes de se dirigirem para o sedimento. Experimentos de campo demonstraram que imedia- tamente após a liberação, as megalopas de U.cordatus já são capazes de cavar suas tocas, diferentemente do que ocorre com várias outras espécies de caranguejos que cavam tocas ou se enterram para se proteger de predadores somente após várias mudas subseqüentes à sua metamorfose para o estágio juvenil. Esta diferença básica explica porque o repovoamento de caranguejo-uçá pode ser realizado liberando-se megalopas e não somente juvenis crescidos, como é o caso dos programas de repovoamento de siri, realizados no Japão e Estados Unidos. 20 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 21Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Alguns dias após a liberação, a larva, já dentro de uma pe- quena toca, realiza a metamorfose para o primeiro estágio juvenil. A partir daí, o caranguejinho aprofunda drasticamente a sua toca, fi cando defi nitivamente protegido da predação inicial. Atualmente, as taxas médias fi nais de sobrevivência larval em laboratório variam entre 10 a 15%. A maior perda de larvas se dá no momento da metamorfose de zoea VI para megalopa. Este vem sendo o maior gargalo tecnológico enfrentado atualmente pela equipe do GIA. O problema é muito semelhante ao que ocorre em larviculturas de várias espécies de crustáceos em outras partes do mundo e que recebeu o nome de MDS (Molt Death Syndrome). As causas da MDS ainda não são claras e sua solução demanda a realização de mais pesquisas científi cas sobre o assunto. Resultados Desde o início do projeto até hoje já foram liberadas mais de seis milhões de megalopas no ambiente natural (Foto 6). As liberações ocorreram, além da Baía de Guanabara, nas baías de Antonina e Guaratuba, no Estado do Paraná, entre 2003 e 2006. Em liberações experimentais, realizadas em áreas moni- toradas, foram obtidas taxas de colonização próximas à 100% e de sobrevivência média de 27%, seis meses após a liberação das megalopas. Após este tempo os caranguejos haviam atingido cerca de 1,0 cm de comprimento de carapaça (Foto 7). As pesquisas não podem parar Além das pesquisas em laboratório, os estudos do GIA têm se concentrado na compreensão dos mecanismos de adaptação das megalopas liberadas ao ambiente natural. Estudos comparativos entre as taxas de sobrevivência de larvas da natureza e das larvas produzidas em laboratório estão sendo realizados, para quantifi car, de forma mais precisa, a efi ciência do repovoamento (Foto 8). Tam- bém estão sendo realizados estudos comportamentais, comparando os recrutas produzidosem laboratório com os obtidos diretamente do ambiente natural. Porém, apenas o monitoramento a longo prazo pode avaliar o sucesso do empreendimento. Como o tempo necessário para atingir o tamanho comercial é muito longo, as técnicas clássicas de liberação e recaptura, utilizando marcadores físicos, são inade- quadas. A observação de incrementos populacionais perceptíveis pode demorar mais de uma década. Por este motivo, o GIA vem utilizando a técnica hoje con- siderada mais adequada: a aplicação de marcadores moleculares do tipo micro-satélites. Após a eclosão das larvas no laboratório, o material genético de todas as fêmeas é coletado, fi xado e armaze- nado. Logo após isso, as fêmeas são devolvidas ao ambiente. Após as larviculturas, apenas o material genético daquelas fêmeas cujas larvas forem efetivamente liberadas será processado e os dados obtidos armazenados em um banco de dados. Futuramente, amos- tragens de caranguejos em áreas utilizadas para liberação das larvas irão permitir a comparação do perfi l genético destes animais com os das fêmeas utilizadas na larvicultura, detectando os animais produzidos em nosso laboratório. Isso dará aos pesquisadores uma idéia mais precisa da taxa de sobrevivência a médio e longo prazo das larvas liberadas e da capacidade de dispersão da espécie. A mesma tecnologia está sendo também utilizada para investigar a existência de diferentes sub-populações de caranguejo-uçá e a origem genética dos recrutas capturados no ambiente natural, de forma a esclarecer as inter-relações populacionais e determinar as possíveis áreas prioritárias para a preservação dentro dos sistemas estuarinos. Considerações fi nais Não se deve negligenciar o fato de que a recuperação de estoques de caranguejo-uçá depende de ações multidisciplinares, envolvendo estratégias de manejo do recurso e de manutenção da integridade dos habitats. Porém, em áreas onde a população já foi muito afetada, são necessárias medidas remediadoras mais incisivas. O repovoamento pode ser uma importante ferramenta para a recuperação de áreas com reconhecido declínio populacional. Seus benefícios estão ainda sendo investigados, porém os resultados obtidos até aqui são bastante animadores. É importante ressaltar que todo o trabalho do GIA está voltado à criação de uma tecnologia responsável, que não se limite à simples liberação de larvas no ambiente natural e nem tem por objetivo subs- tituir as medidas de manejo atualmente estabelecidas, mas sim, desen- volver meios concretos para auxiliar as populações de caranguejo-uçá a suportar os exageros da população humana. Foto 6 - Liberação das larvas no ambiente natural Foto 7 – Juvenis triados das áreas monitoradas Foto 8 – Experimentos em campo Além disso, estão sendo desenvolvidas pesquisas que visam quantifi car os efeitos da predação de peixes e outros animais da fauna estuarina sobre as megalopas liberadas. 22 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 23Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 O número de empreendimentos dedicados ao processamento dos produtos da piscicultura vem aumentando de forma expressiva nos últimos anos. Estes englobam frigorífi cos com registro no SIF (Serviço de Inspeção Federal), SIE’s (Serviço de Inspeção Estadual) ou nos SIM’s (Serviço de Inspeção Municipal), além de inúmeras pequenas unidades de processamento de pescado dentro das próprias pisciculturas, que não contam com uma inspeção sanitária no abate e no processamento. Qualquer que seja o porte ou situação de registro destes frigo- ríficos, todos eles enfrentam um desafio em comum: “Como promover o aproveitamento integral do pescado cultivado, uma vez que o apro- veitamento ou não dos subprodutos e resíduos do processamento traz importantes conseqüências econômicas e ambientais?” No momento há informações e equipamentos disponíveis para a implementação de processos que possibilitem a transformação dos diversos resíduos e subprodutos das indústrias de pescado em farinhas, ensilados, carne mecanicamente separada (CMS) ou a polpa de pescado, empanados e embutidos, couro, dentre outros produtos. Não obstante, a implementação destes processos exige considerável investimento em equipamentos, em tecnologia, em implementação de processos e controles necessários para obtenção de certifi cação sanitária e licenciamento ambiental, limitando assim sua utilização aos frigorífi cos de maior porte. Neste artigo serão discutidas algumas alternativas de aproveitamento dos resíduos e subprodutos do processamento que poderão ser aplicadas por frigorífi cos de grande ou de pequeno porte e mesmo pelas pequenas unidades de benefi ciamento de pescado instaladas nas próprias pisciculturas. Por: Fernando Kubitza, Eng. Agrônomo, Ph.D. (Acqua & Imagem, Jundiaí-SP) fernando@acquaimagem.com.br João Lorena Campos, Eng. Agrônomo, M. Sc. (Qualy Aqua, Dourados-MS) joaocampos@qualyaqua.com.br Os resíduos do processamento do pescado As cabeças, escamas, peles, vísceras e carca- ças (esqueleto com carne aderida) são os principais resíduos do processamento de pescado (Quadro 1). Dependendo da espécie de peixe processada e do produto fi nal obtido pelo frigorífi co, estes resíduos podem representar algo entre 8-16% (no caso do pescado eviscerado) e 60 a 72% (na produção de fi lés sem pele). Quadro 1 – Percentual dos diferentes tipos de resíduos em relação ao pescado inteiro e em relação à tilápia O aproveitamento e processamento dos resíduos Produção de farinhas – A produção de farinhas para uso na alimentação animal tem sido a forma mais tradicional de aproveitamento dos resíduos do processamento de pescado (cabeças, vísceras, sobras da fi letagem, entre outros). No processo de produção de farinhas, os resíduos são submetidos a um cozimento, seguido de prensagem para remoção do óleo, secagem, moagem e ensacamento. 24 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Figura 1 – Esquema simplificado dos principais produtos, resíduos e subprodutos possíveis de serem obtidos no processamento de pescado Para fi ns didáticos vamos reunir estes resíduos em dois grupos: Grupo 1 – os resíduos não adequados para a elaboração de produtos de valor agregado destinados à alimentação humana (vísceras, escamas e o esqueleto, incluindo a cabeça). Estes resídu- os geralmente são descartados ou utilizados na produção de farinhas e silagens de peixes, destinadas a alimentação animal e/ou como fertilizantes. Grupo 2 – os resí- duos que podem ser submetidos a processos para a obtenção de matéria-prima para a elaboração de produtos de valor agregado (empanados, embutidos, entre outros) para uso na alimentação humana. O principal resíduo usa- do para esta fi nalidade é a carcaça com carne aderida após a retirada do fi lé, além das aparas durante o recorte dos fi lés. No fl uxograma (Figura 1) é apresentado de forma simplifi cada os produtos e sub- produtos geralmente possíveis de serem obtidos em um frigorífi co de pescado. 25Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 Em média, são necessários cerca de 4 a 6kg de resíduos para a obtenção de 1kg de farinha de peixe. Este percentual depende do grau de umidade da matéria-prima utilizada no processo. O alto investi- mento em equipamentos e instalações e a inexistência de equipamentos destinados a pequenas produções restringem a pro- dução de farinhas aos empreendimentos com grande volume de processamento. Informações levantadas com fabricantes de equipamentos e processadores indicam que o volume mínimo de produção que justificaria o investimento na produção de farinha de peixe seria ao redor de 4.000 – 5.000 kg/dia. Apesar de alguns frigo- ríficos de pescado no Brasil contarem com suas próprias fábricas de farinha de peixe, o mais comum é a existência de produtores de farinha especializados que recolhem os resíduos do processamento de diversos frigoríficos. Hoje esta coleta geralmente é feita sem custo aos frigo- ríficos. No entanto,os frigoríficos que não contam com outras alternativas para descarte dos resíduos ficam extrema- mente dependentes das retiradas diárias feitas pelos fabricantes de farinha. Outro detalhe importante a ser considerado é o fato das fábricas de farinhas estarem localizadas em regiões litorâneas com tra- dição no desembarque e processamento de pescado, facilitando a logística de coleta de resíduos, enquanto grande parte dos frigoríficos dedicados ao processamento do pescado cultivado está distante das farinheiras e nem sempre podem contar com elas para se desfazer dos resíduos do processamento. Uso de resíduos frescos no preparo de rações As vísceras e as carcaças com carne aderida (até mesmo as cabeças de algumas espécies de peixes) podem ser desintegradas, resul- tando em um material pastoso passível de ser injetado diretamente no condicionador das extrusoras. Dessa forma seria possível incorporar os resíduos diretamente às ra- ções. Alguns fabricantes lançam mão desse recurso, porém com pescado inteiro, na produção de rações para gatos. A logística e viabilidade desta via de aproveitamento dependem muito da distância entre o fri- gorífi co e a fábrica de ração. A difi culdade de armazenamento dos resíduos exige que o fabricante de ração tenha uma linha de extrusão diariamente disponível para o aproveitamento destes resíduos, o que ge- ralmente não ocorre nas fábricas de rações. Já os pequenos processadores podem lançar mão destes resíduos no preparo de rações na propriedade. Dependendo do volume de resíduos gerado diariamente, pode ser necessário um funcionário exclusivo para o processo de preparo da ração. Silagem de peixe – Uma alternativa para transformação dos resíduos é o processo de ensilagem, que consiste na promoção da hidrólise (decomposição enzimática) e preservação dos resíduos através da redução do pH do material com a adição de ácidos (silagem química) ou através da fermenta- ção láctica promovida por bactérias (prin- cipalmente os Lactobacillus) incorporadas ao material ensilado (silagem biológica). Informações mais detalhadas sobre o pro- cesso de ensilagem dos resíduos de pescado podem ser obtidas consultando o material elaborado por Macedo-Viégas e Souza (no livro “Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical e Intensiva” 2004, Ed. Aquabio) e por Machado (Panorama da AQÜICULTURA, 1998 Vol. 8, no 47, p. 30-32). O investimento para a produção de ensilados não é tão elevado, o que possi- bilita a adoção desta tecnologia tanto pelos grandes, como pelos pequenos processa- dores. No Brasil, diversos processadores de pescado partiram para a produção de silagem como alternativa para se livrar dos resíduos do processamento. No entanto, muitos não conseguiram dar destino ao material produzido, fi cando com grandes quantidades de produtos armazenadas na propriedade. A silagem de peixe pode ser transformada em fertilizantes e pode ser aplicada em áreas com culturas agríco- las. No entanto, a aplicação rotineira de grandes quantidades do material exige a disponibilidade de equipamentos espe- ciais e mão-de-obra. A transformação da silagem em fertilizante para comércio em lojas de jardinagem é uma opção muito atrativa e com boas margens de lucro. No entanto, para escoar grandes quantidades de material de forma rotineira através des- se mercado, demanda um grande esforço de venda e distribuição, principalmente se o processamento fi ca distante dos grandes centros de consumo. Uma alternativa inte- ressante e capaz de dar conta de reutilizar toda a silagem produzida é a incorporação da mesma nas rações usadas na própria piscicultura. O material ensilado também pode ser usado em rações para gatos e mesmo na alimentação de outros animais (suínos e aves). ..."As vísceras e as carcaças com carne aderidas e, até mesmo as cabeças de algumas espécies de peixes, podem resultar em um material pastoso passível de ser injetado diretamente no condicionador das extrusoras. Dessa forma, é possível incorporar os resíduos às rações. A viabilidade deste aproveitamento, porém, depende da distância entre o frigorífi co e a fábrica de ração. A difi culdade de armazenamento dos resíduos exige que o fabricante de ração tenha uma linha de extrusão diariamente disponível para o aproveitamento destes resíduos, o que geralmente não ocorre"... 26 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2006 A polpa (CMS - carne mecanicamente separada) – Após o processo de fi letagem, uma considerável quantidade de carne ainda permanece aderida ao esqueleto do peixe. Além disso, ainda sobram as aparas provenientes do toalete feito nos fi lés (Foto 1). Este material pode ser processado com o auxílio de uma despolpadeira (Foto 2), de forma a separar a polpa dos ossos. A polpa de pescado pode ser usada diretamente na produção de embutidos (salsichas e lingüiças) e diversos tipos de empanados de alto valor agregado. A polpa também pode passar por uma seqüência de lavagens e prensagens, obtendo-se o surimi. O surimi é usado como matéria–prima básica na elaboração de produtos como os hambúrgueres, diversos tipos de empanados, kani-kama, entre outros. Existe também a possibilidade de se comercializar a polpa diretamente, quando elaborada a partir de carcaças lavadas. Esse pro- duto pode ser utilizado diretamente como ingrediente na merenda escolar, em cozinhas industriais e até nas refeições domésticas (Foto3). FOTO 1 – Carcaças de tilápia após a fi letagem e decotes do fi lé. Esses subprodutos podem ser usados para a obtenção da polpa. Foto 2 Despolpadeira HT-250 Foto 3 – Polpa obtida a partir dos resíduos da filetagem, embalada e prato elaborado com a polpa No processamento de tilápias para a produção de fi lés sem pele, o montante de resíduos (vísceras, cabeça, pele, es- cama, esqueleto com carne aderida e aparas e decotes do fi lé) varia entre 65 e 70%. Desta forma, todo o custo de produção e processamento recai sobre o fi lé (30 a 35% do pescado in natu- ra), encarecendo-o demasiadamente No processo de obtenção da polpa, a recuperação da carne aderida chega próximo de 45 a 60% do material que passa pela despolpadeira. Este material geralmente é composto do esqueleto com a carne aderida, mais as aparas da fi letagem, que juntos representam cerca de 35% do peso do peixe in natura. Portanto, para cada 1.000 kg de tilápia abatida, são gerados 350kg de esqueleto com carne aderida. Assim, 160 a 210kg de polpa podem ser obtidas por tonelada de tilápia processada. Em análise apresentada por Kubitza e Campos (Panorama da AQÜICULTURA, 2005, Vol. 15 no 91 p. 14-21) foi estimado que a produção e venda da polpa congelada pode gerar um lucro adicional de pelo menos R$ 0,85/kg de fi lé de tilápia no mercado interno e R$ 0,40/kg de fi lé para exportação. Isso equivale a um lucro adicional de R$ 0,13 a R$ 0,28/kg de peixe in natura processado. Este lucro pode ser ainda mais incrementado com a elaboração de produtos de alto valor agregado. Os frigorífi cos poderiam destinar parte deste lucro adicional para aumentar a remuneração ao produtor pela tilápia in natura, estimulando-os a expandirem a produção e, assim, a oferta de matéria-prima para o próprio frigorífi co. Aproveitamento de cortes pouco nobres – Alguns cortes, como a “costelinha de tilápia” ou a “asinha do pintado”, barriguinhas, entre outros, podem ser aproveitados como petiscos, normal- mente sendo consumidos fritos em pesque-pague e bares. Em algumas localidades do Centro-Oeste e do Norte do país, as cabeças e carcaças de peixe têm valor comercial, sendo usadas no preparo de caldos e pirão. Compostagem: a compostagem de resíduos animais está sendo aplicada com sucesso em várias partes do mundo e deverá ser o principal processo para a disposição de animais mortos durante a criação. Um número crescente de granjas de aves e criadouros desuínos vem empregando esse processo no Brasil e já
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