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�Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 � Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 �Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 “O Brasil luta pela conservação ambiental. No Instituto de Biologia/UFBA, as “CONSULTORIAS” atendem as empresas poluidoras, degradadoras e a projetos de Carcinicultivo! Temos que dar um basta e abrir os olhos que está enriquecendo com o nosso nome institucional. Vamos criar a lista negra dos CONSULTORES e sua empresa que funcionam, clandestinamente, no seio da UFBA! Chega de ataques na imprensa a nossa instituição - ELA É SAGRADA!” (texto original) E. Q. (Professor da Universidade Federal da Bahia) � Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor A mensagem acima foi enviada para uma lista de discussão, por um professor universitário, revoltado com a carta da ABCC, em resposta ao documento “Carta de Fortaleza dos Povos das Águas”, gerado durante um seminário ambientalista. Ao ler o quase “grito de guerra” desse professor, fiquei preocupado com a liberdade de expressão, com o futuro dos pesquisadores brasileiros e com os rumos que as discussões acerca da carcinicultura estão tomando. Até porque, tenho reparado que a palavra “enfrentamento” vem sendo utilizada sem a menor parcimônia pelos que se autodenominam “ambientalistas”. Assim que li o texto, me veio a imagem de um pesquisador tendo que medir cada uma das suas palavras, para evitar que ele ou mesmo a sua instituição venham a figurar em alguma “lista negra”. Lembrei-me então, do macartismo, um movimento conservador, surgido nos EUA na década de 50, também conhecido como “Caça às Bruxas”. Em nome dos valores democráticos, o senador republicano Joseph McCarthy desencadeou uma feroz campanha anticomunista, que levou dezenas de artistas, produtores e intelectuais à falência, ao desespero, e alguns até ao suicídio. Muitos entraram na “lista negra” do senador McCarthy, apenas por serem suspeitos de pertencer ao Partido Comunista ou de simpatizar com os ideais socialistas. Foram anos de horror. Na ocasião, os suspeitos de exercerem atividades antiamericanas, tinham suas correspondências violadas, podiam ser presos e muitos, sob pressão, eram obrigados a se manifestarem publicamente a favor das causas conservadoras. Uma das vítimas mais conhecidas dessa campanha foi Charles Chaplin que, perseguido pelo FBI por causa dos seus filmes humanistas, acabou deixando os Estados Unidos em 1952. Não acho que os enfrentamentos e as “listas negras” sejam a solução. Ao contrário, acho que as pessoas em geral e, especialmente os pesquisadores, deveriam ter total liberdade para pensar, pesquisar e apresentar os argumentos que lhes cabem, frente às dúvidas sobre esse ou aquele tema. Aliás, estudos sérios e fundamentados parecem ser o melhor caminho para o entendimento. E isso, é claro, não vai ser possível se os pesquisadores temerem viver no ostracismo, usando um chapéu de burro escrito “inimigo da natureza” e uma estrela amarela costurada no peito com a inscrição “sou um idiota, apoiei a carcinicultura”. Para que você fique ainda mais por dentro dessa polêmica, publicamos nessa edição as duas cartas que geraram a manifestação desse professor. Nas próximas páginas estão também excelentes artigos, um deles - o de capa - sobre as pesquisas brasileiras que buscam alternativas para a carcinicultura, desta vez, com a utili- zação de um sistema com troca zero de água. A todos, boa leitura. � Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 �Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Edição 96 – julho/agosto, 2006 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Antonio Roberto Barreto Matos Adriano Cassiatore Marenzzi Carlos Riedel Porto Carreiro Cláudio Turek Eduardo Ballester Fernando Kubitza Francisco Manoel de Oliveira Neto Jaime Fernando Ferreira Luciene C. Lima Marcelo Sampaio Marco Antonio Mathias Maria do Socorro Chacon Mesquita Maurício Emerenciano Mirela Simões Maroneza Borini Paulo César Abreu Pedro Eymard Campos Mesquita Rafael Tiago da Silva Raúl Malvino Madrid Roberta Soares Ronaldo Cavalli Rômulo C. Leite Rose Meire Vidotti Tácito Araújo Bezerra Wilson Wasielesky Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 15,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a qualidade dos serviços e produtos anunciados. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Capa: Foto: Dariano Krummenauer Arte Panorama da AQÜICULTURA ...Pág 56 ...Pág 38 ...Pág 43 ...Pág 53 í n d i c e ...Pág 24 ...Pág 30 ...Pág 49 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 12 ...Pág 14 ...Pág 09 Flocos Microbianos nos sistemas de troca zero de água O aumento das densidades de estocagem nos cultivos de camarão exigiu mudanças nas estratégias de manejo, para que a qualidade da água dos cultivos pudesse ser mantida. Surgiram assim, os chamados cultivos com troca zero de água (ZEAH na sigla em inglês), que permitem a diminuição do uso da água, e consequentemente a emissão de efluentes, reduzindo as possibilidades de impactos ambientais. Os sistemas “ZEAH” reduzem o risco de introdução e disseminação de doenças, além de complementarem a dieta dos animais através da produtividade natural presente nos viveiros, que permitem a formação de flocos microbianos. Detalhes sobre esta modalidade de cultivo podem ser lidos a partir da página 14. ...Pág 57 ...Pág 58 ...Pág 59 ...Pág 60 ...Pág 60 ...Pág 61 ...Pág 62 ...Pág 62 ...Pág 63 ...Pág 66 Editorial Notícias & Negócios Notícias & negócios on line A eterna briga entre Ambientalistas e Carcinicultores Cultivos em Meios com Flocos microbianos Boas coletas garantem bons diagnósticos Atenção no manejo dos peixes na saída do inverno Aparas da filetagem da tilápia se transformam em polpa Coletores de sementes de mexilhão: uma opção para o mitilicultor catarinense O Pirarucu nas instalações do DNOCS Brasil e o Mercado Americano de Camarões Purina tem novidades para a carcinicultura Maritech amplia seus horizontes no brasil Grupo Ypioca e Nutron Alimentos inauguram fábica de ração Falta de análises quase barra pescados brasileiros para a UE Lançamento Editorial: Aqüicultura Capixaba: da produção ao mercado Ministério da Fazenda isenta produtos aqüícolas de PIS e Cofins Maricultura é beneficiada pelo Programa Juro Zero da FINEP Engenheiros de Aqüicultura já podem solicitar registro no CREA Aquaciência 2006 reuniu acadêmicos em Bento Gonçalves Conversa franca sobre o Licenciamento Ambiental da Aqüicultura Calendário Aqüícola � Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 LEN LOVSHIN - O professor Leonard Lovshin, mestre de muitos brasileiros que estudaram na Auburn University-USA, eassinante da Panorama da AQÜICULTURA desde 1992, enviou uma carinhosa correspondência para a nossa redação informando que o Departamento de Pesca e Aqüicultura da universidade acaba de disponibilizar um portal dedicado a aqüicultura, o qual teve muito prazer em ajudar a desenvolver. Lovshin considera que o portal www.aleam. info poderá ser de grande valia para alunos e professores brasileiros, já que disponibiliza em PDF boletins técnicos, artigos, legis- lação e uma galeria de fotos com cerca de 1.500 imagens e vídeos. E avisa: o acesso é totalmente gratuito. NOVO PRESIDENTE DO LACC-WAS - Rodrigo Roubach foi eleito, em votação finali- zada em 28 de agosto, presidente do Capítulo Latino Americano da Sociedade Mundial de Aqüicultura - LACC- WAS. O novo presi- dente do LACC é formado em biologia com PhD desde 1998 pela Auburn University em Fisheries and Allied Aquacultures. Desde 1990 é membro da WAS, e vem, desde 2004, ocupando o cargo de tesoureiro do Capítulo Latino Americano. Rodrigo Roubach possui mais de 20 anos de ex- periência em aqüicultura como pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA e atualmente ocupa o cargo de Gerente de Projetos da Diretoria de Desenvolvimento da Aqüicultura/DI- DAQ da SEAP. Como presidente-eleito Roubach pretende fortalecer as ações do LACC através de maior participação dos países Latino-americanos e Caribenhos envolvendo principalmente os estudantes nos encontros regionais, nacionais e in- ternacionais na região, procurando assim um maior avanço e consolidação das ações para um LACC-WAS ativo e integrado as demandas supra-regionais. Mais infor- mações sobre o nosso capítulo na página na internet http://www.was.org/LAC-WAS/ boletins/boletim04.htm IV SEMAQUI – A quarta edição da Semana de Aqüicultura da UFSC - SEMAQUI, evento organizado pelos estudantes do curso de Engenharia de Aqüicultura, será realizada entre os próximos dias 6 a 10 de novembro. A SEMAQUI já se caracterizou por criar opor- tunidades de discussão de temas relevantes ao setor, além de proporcionar o intercâmbio de inovações científicas e tecnológicas entre alunos, professores e profissionais. Além dos mini-cursos, palestras, workshop e mesas re- dondas o evento traz também exposição dos trabalhos realizados pelos alunos do curso juntamente com seus orientadores, além de divulgação das linhas de pesquisa e dos trabalhos desenvolvidos nos Laboratórios do Departamento de Aqüicultura. A SEMAQUI está divulgada no site www.semaqui.ufsc.br. Segundo Camilla Gomes Nunes, da comissão organizadora, espera-se que mais uma vez o evento contribua para o enriquecimento da formação dos acadêmicos em sua futura profissão, fazendo de sua caminhada pela universidade um momento de crescimento intelectual e aprendizado concreto. XII SEP - A XII Semana do Engenheiro de Pesca da UFRPE, acontecerá de 11 a 14 de dezembro de 2006 nas dependências da Universidade Federal Rural de Per- nambuco. As SEPs são organizadas pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Engenharia de Pesca da UFRPE e, segundo a tutora do grupo, Profa Maria do Carmo Figueredo Soares, que coordena o encontro pelo quinto ano consecutivo, apesar de ser um evento local, as SEPs vêm atraindo, ano a ano, cada vez mais estudantes e profissionais de outros es- tados, ampliando a troca de informações profissionais e institucionais. Os contatos com a Coordenadoria da XII SEP podem ser feitos pelo fone: (81) 3320-6527 ou e-mail: mcfs@ufrpe.br SALVE A AQÜICULTURA - O documento "O estado da aqüicultura mundial em 2006", foi divulgado em 4 de setembro último em Nova Délhi - Índia, para delegados de 50 países que participam do encontro bianual da subcomissão de Aqüicultura da FAO. O estudo afirma que quase 50% dos peixes consumidos em todo o mundo são oriundos do cultivo. A quantidade de peixes pescados no mar ou em água doce tem se mantido estável desde os anos 80 - em torno de 90 e 93 milhões de toneladas e, de acordo com a FAO, são poucas as chances desse número aumentar nos próximos anos. Segundo o relatório, a aqüicultura é a única alternativa para suprir o consumo de peixes no futuro. Em 1980, a aqüicultura foi responsável por apenas 9% dos pescados consumidos em todo o mundo e hoje já é responsável por 43%. Isso totaliza 45,5 milhões de toneladas/ano, o equivalente a �Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 R$ 134 bilhões. Em quase todas as partes do mundo a atividade tem crescido 8% ao ano, desde os anos 1980. Entretanto, segundo a FAO, entre os gargalos que o setor pode enfrentar nos próximos anos estão a falta de capital para aqüicultura nos países em desenvolvimento e a es- cassez de terras e água para os cultivos. Desenvolver a aqüicultura já é estratégico para a humanidade, já que em 2030 serão necessários mais 40 milhões de toneladas de pescados para que sejam mantidos, apenas, os níveis atuais de consumo. NOVIDADES NA FENACAM 2007 - A Feira Nacional do Camarão entra na sua quarta edição e já começou a comercializar os estandes para a edição do próximo ano. O evento será realizado no período de 12 a 15 de junho de 2007, novamente no Centro de Convenções de Natal (RN). Além da feira e seminários sobre a carcinicultura, o evento do próximo ano trará como novidade a “Aqua&Pesca Internacional”, um setor que reunirá empresários da aqüicultura e da pesca mundial. Ao atrair novos participantes e investidores, os organizadores pretendem ampliar o leque de negócios das empresas que já expõem no evento. Para saber quais são os estandes disponíveis entre no site: www.fenacam.com.br e clique no ícone “Mapa de Expositores 2007”. Basta escolher o estande e entrar em contato para confirmar a disponibilidade pelo e-mail fenacam@ fenacam.com.br ou fone (84) 3202-0054. DIA DE CAMPO - Piscicultores da Região e Sul de Minas se reuniram no dia 7 de julho em Descalvado, interior de São Paulo, para participarem do I Dia de Campo para Pis- cicultores. O encontro entre especialistas do setor e produtores foi promovido pela Vansil Laboratório Veterinário, (www.vansil. com.br), para discutir os diversos temas relacionados com a atividade, com destaque para a palestra “Produtos utilizados na prevenção e no tratamento dos peixes” – apresentado pela técnica responsável pelo setor de Alimentação Animal da Vansil, Kelly Crivellari. Os aspectos relacionados ao manejo, estresse e medidas preventivas aplicadas a piscicultura foram apresentados pelo biólogo e consultor técnico, Rodrigo Figueiredo do Rego e, a importância da boa alimentação e o papel da indústria de ração na aqüicultura, foi tema apre- sentado pelo zootecnista e supervisor técnico-comercial da Socil, Marcos Garcia de Oliveira. Em comum, os profissionais presentes orientaram os produtores para que somente utilizem produtos mediante diagnósticos desenvolvidos por técnicos especializados e prescritos por médicos veterinários. Os presentes foram informa- dos também da importância da avaliação prévia dos projetos de piscicultura a serem implantados, bem como da definição do sistema produtivo a ser adotado no cultivo, se extensivo, semi-intensivo ou intensivo. Sempre direcionados para que procurem o apoio de um profissional da área para que minimizem seus riscos, os piscicultores iniciantes escutaram também conselhos importantes como a necessidade de se saber a procedência genética dos peixes, a importância do uso de dietas balanceadas, além de terem aprendido, obtiveram noções sobre a prevenção de doenças, higiene, desinfecção de tanques e estratégias de comercialização da produção. EXTRUSORAS - A inauguração da nova fábrica de rações da BRFish/Nu- tron, em São Gonçalo do Amarante – CE foi também motivo de muitas comemo- rações em Ribeirão Preto - SP, onde está localizada a sede da Ferraz Máquinas e Engenharia Ltda., for- necedora de toda a linha de fabricação de rações da nova fábrica. A Ferrazcada vez mais se faz presente junto ao setor aqüícola brasileiro, tendo sido também a fornecedora dos equipamentos da fábrica da Poli-Nutri, recentemente inaugurada em Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. Em julho deste ano a Ferraz também forneceu a segunda linha de peletização da empresa Maresias Pescados (Unir Distribuidora) locali- zada em Teresina – PI, que já possuía uma linha completa de produção de rações para camarões, também fabricada pela Ferraz. Segundo José Luiz Ferraz, diretor da em- presa, os equipamentos da Ferraz Máquinas e Equipamentos já respondem pela fabricação de mais de 50% das rações para animais de estimação fabricadas no Brasil. CARNÍVOROS – A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, de Piracicaba-SP está estudando aspectos relacionados à nutrição e manejo dos peixes dourado e pintado, consideradas espécies nativas carnívoras de grande porte e de alto valor econômico brasi- leiro. Financiados pela FAPESP, CNPq e FINEP, os projetos de pesquisa orienta- dos pelo professor do Departamento de Zootecnia, José Eurico Possebon Cyrino, são diretamente ligados ao programa de pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens e têm por objetivo determi- nar as exigências nutricionais dessas duas espécies em relação à proteína e à energia. A pesquisa trabalha a nutrição ligada à fisiologia dos peixes. O estudo evitará a utilização da proteína como fonte energética pelos peixes. Segundo Cyrino, o conhecimento da relação ener- gia-proteína é fundamental para a produ- ção comercial do dourado e do pintado, uma vez que estão diretamente ligadas ao metabolismo dos peixes. O excesso de energia pode produzir peixes gordurosos, da mesma forma que uma perfeita relação energia-proteína resultará num pescado de qualidade, com boa quantidade de filé e pouca gordura. O projeto prevê a compra, com recursos da FINEP, de uma máquina extrusora para produzir ração para os peixes, cuja formulação será focada na adequação das quantidades de aminoácidos da dieta ao perfil de amino- ácidos da carcaça dos peixes. A próxima etapa da pesquisa será direcionada na � Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 adequação do enriquecimento vitamínico e mineral das dietas. IMNV NA INDONÉSIA – O IMNV (Vírus da Mionecrose Infecciosa), que primeiramente foi detectado nas fazendas do Brasil e que causou imensos prejuízos à carcinicultura brasileira, foi agora confirmado em Litope- naeus vannamei na Indonésia. Inicialmente foi suspeitada a sua presença em maio de 2006, em cultivos localizados no Distrito de Situbondo, no leste da Província de Java. A infecção foi observada em juvenis de 60 a 80 dias de cultivo, onde foram detectados os sinais clínicos clássicos, como coloração avermelhada no segmento abdominal, mi- onecrose (morte do tecido muscular) com o esbranquecimento do músculo afetado. A confirmação foi feita por Donald Lightner, do Laboratório de Patologia em Aqüicultura da Universidade do Arizona (EUA). PATOLOGISTAS – O IX ENBRAPOA - Encon- tro Brasileiro de Patologistas de Organis- mos Aquáticos, que acontecerá de 23 a 27 de outubro, no Hotel Ritz Lagoa das Antas, em Maceió, Alagoas terá como tema central “Biodiversidade Aquática Sadia: Exigência do século XXI”. O ENBRAPOA é o evento da Associação de Patologistas de Organismos Aquáticos - ABRAPOA que congrega os profissionais que atuam na área de saúde animal, um tema da maior importância no estágio atual de desenvolvimento da aqüicultura brasileira. Mais informações podem ser obtidas no endereço www. abrapoa.org.br REFERÊNCIA NACIONAL – As instalações do antigo Departamento de Aqüicultura do Centro de Ciências Agrárias da UFSC será sede do Centro de Diagnóstico e Estudos de Patologias de Organismos Aquáticos, elevando a universidade ao status de referência nacional na pesquisa de doenças que atingem animais aquáticos cultivados. O ministro da Secretaria Especial de Aqüi- cultura e Pesca da Presidência da República (SEAP) Altemir Gregolin, assinou no dia 29 de agosto o ato de transferência de recursos à UFSC no valor de R$ 543 mil para o projeto para a implementação do Laboratório de Biologia Molecular, primeira etapa do Centro de Diagnóstico. Os recursos serão usados na reforma do prédio que vai sediar os laboratórios e na aquisição de equipamentos e materiais. O projeto deverá receber recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC), Ministério da Agricultura e Governo Estadual, num total de cerca de R$ 3 milhões em investimentos. A estrutura vai dar suporte ao trabalho de outras áreas de pesquisa, atendendo a mais de 50 pesquisadores da UFSC, da Epagri e de instituições de outros estados. MAIS ÔMEGA 3 - Não é de hoje que se con- hece os benefícios do consumo de Ômega 3, encontrado em peixes como salmão, atum e sardinha. Indicado no tratamento de doenças cardiovasculares, do diabetes, do mal de Alzheimer e também da depressão, o Ômega 3 agora está sendo estudado também quanto a redução da violência. Um estudo realizado pelo psicólogo Bernard Gesch, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, dividiu em dois grupos os detentos de uma das mais violentas prisões do país. Durante nove meses, um dos grupos recebeu suplementos de Ômega 3, e o outro não. Segundo o psicólogo, a pesquisa apontou uma redução da violência em 35% entre os presidiários do grupo que consumiu o Ômega e que pela primeira vez na história daquele presídio, não foi registrado nenhum incidente violento durante um mês. Para Gesch o Ômega 3 não é uma pílula mágica, mas estimula o crescimento de neurônios na região do cérebro que controla o com- portamento impulsivo. ALGAS - O III Festival das Algas, reali- zado nos dias 27 a 29 de julho na Praia de Flexeiras, a 123 km de Fortaleza, ajudou a promover o trabalho desenvolvido pela Asso- ciação dos Produtores de Algas de Flexeiras e Guajirú - APAFG. Os algueiros puderam mostrar como realizam o cultivo marinho, a coleta e a secagem, além de venderem toda a variedade de produtos feitos a partir das algas. O festival foi montado próximo ao Centro de Processamento de Algas, onde os produtores realizam a secagem do material coletado. As algas são utilizadas na indústria farmacêutica, promovendo o desenvolvimento local. A localidade está incluída no Projeto Algas da FAO. Atual- mente são 12 famílias beneficiadas com o cultivo em pequena escala. Além do Ceará, participam do projeto a Paraíba e o Rio Grande do Norte. SKYPE – Agora ficou mais fácil falar com a Revista Panorama da AQUICULTURA. A nossa redação está acessível também pelo SKYPE. Fale conosco. Nosso contato é panoramadaaquicultura. �Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 De: Alexandre Sampaio sampaioa@ufc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Doutorado em Eng. de Pesca Caros amigos, é com satisfação que informo a aprovação pela CAPES do nosso doutorado em Engenharia de Pesca. Os integrantes do Conselho Técnico Científico (CTC), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- soal de Ensino Superior do Ministério da Educação (CAPES/MEC), em reunião que ocorreu nos dias 11 e 12 de julho aprovaram a recomendação dos novos cursos de pós- graduação. Dentre as propostas aprovadas está o Curso de Doutorado em Engenharia de Pesca, que recebeu conceito 4. Após a recomendação da CAPES, os cursos receberão o reconhecimento do Conselho Nacional de Educação (CNE). O Curso de Doutorado em Engenharia de Pesca é o primeiro douto- rado em Engenharia de Pesca do Brasil o que é uma grande vitória dos professores que compõem o programa e do Centro de Ciências Agrárias da UFC. De: Luz Weber Baladão luzweber@seap.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Relatório do consultor interna- cional da FAO Dr.Wurmann Como solicitado na lista recentemente, segue link para o texto de um dos con- sultores internacionais queparticiparam do Projeto de Cooperação Técnica entre a SEAP/PR e a FAO: http://www.planalto. gov.br/seap/. No item aqüicultura, está o relatório do consultor internacional da FAO Dr.Wurmann. Assim que forem saindo os demais relatórios eu vos informo. De: Janaina Mendes Barros jana_mbarros@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Maranhão Estou cursando Ciências Aquáticas na Uni- versidade Federal do Maranhão - UFMA e gostaria de saber mais sobre o andamento da aqüicultura, ou seja criação de peixes, ostras e, principalmente, camarão aqui no Maranhão, pois andei pesquisando e obtive pouca informação...e também sobre o le- vantamento de fazendas nesta região. De: Alexandre Oliveira aagoliveira@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Maranhão Janaina, imagino o seu calvário em obter informações sobre a aqüicultura aqui no Maranhão. Em um estado comandado por pessoas desqualificadas não poderia ser diferente. Há cerca de 10 anos o governo estadual incentivou o cultivo de ostras no município de Raposa, mas hoje este "pro- jeto" não mais funciona. A piscicultura é um Deus nos acuda. O Estado é omisso e o setor vem crescendo desordenadamente. Nenhuma estatística é gerada, daí que você nada, ou quase nada, conseguiu. Em relação ao camarão também nada foi feito nos último anos, aliás, só o fechamento de inúmeras pequenas fazendas em Primeira Cruz e Humberto de Campos. Muitas, por falta de licenciamento e outras por desco- nhecerem os gargalos da atividade. Em 2003 foi criada a AMCC - Associação Maranhense de Criadores de Camarão, inicialmente com 20 sócios. Devido às dificuldades criadas pelo "secretário de mal ambiente othelino neto" (em minúsculas mesmo), muitos interessados desistiram e apesar de alguns licenciamentos concedidos no ano passado (após 3 anos de espera, como foi o meu caso), nada foi implantado, quer pela des- crença em relação ao "apoio" do governo estadual, quer devido às dificuldades que todo o agronegócio está enfrentando no mo- mento. No ano passado uma nova diretoria foi eleita, tendo como presidente o senhor Raimundo Carneiro Sobrino, ex-diretor do BNB no governo FHC. Este sujeito até hoje não promoveu nenhuma reunião com os associados e quando instigado ele diz que realmente reconhece que nada ainda fez pela atividade. Mas vai fazer. Ultimamente não mais atende meus telefonemas. E o governador José Reinaldo ainda acredita que seremos grandes produtores de camarão cultivado. Logo ele que nomeou um ambien- talista para "secretário de mal ambiente". Haja esperança! Resumindo: este é o quadro caótico em que se encontra o Maranhão, cercado de ONGs ambientalistas e órgãos públicos comandados por despreparados. Não desanime. O Maranhão é diferente de tudo que se possa imaginar. De: Gustavo Frota gustavofrota@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Beneficiamento de Camarão Gostaria de saber se alguém que participa da nossa lista pode me informar sobre o preço de compra de camarão para beneficiar e, o Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 por quê de tanta alternância nos preços. Quem determina estes preços na Região de Natal? De: Bruno Moser br6_mo@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re Beneficiamento de Camarão Aqui no Rio Grande do Norte estão sendo pra- ticados preços diferenciados para a compra de camarão: Para o mercado interno o preço do camarão de 11g (80/100) é R$ 7,80/kg, e é dado por compradores que levam diretamente para outros estados, sem passar por nenhum beneficiamento!? e sem nenhuma "Guia de Trân- sito", documento legal emitido pelo Ministério da Agricultura, que habilita o produto para ser transportado para outros estados. Este preço é maior do que o praticado pelos beneficiamentos que compram camarão com o objetivo de expor- tação (R$ 7,30 /kg). Para o mercado externo o preço é dado por frigoríficos que beneficiam para exportar, pois o preço internacional é regido pelo mercado (commodite), sofre influência sazonal, conforme a procura pelo produto. Neste caso, o preço de compra é determinado pelo preço internacional em dólar, pelo câmbio e pelos custos de despesca, beneficiamento, embalagem e custos de exportação. De: Marcos Martins marcostmartins@globo.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápias - Excesso de Gordura Crio tilápias em tanques-rede e com ração com teor de 32% de proteína, desde juvenil até o abate. Sirvo ração à vontade, mas o volume consumido nunca chega nem perto dos percentuais recomendados pelos fabri- cantes de ração. Tenho notado o acúmulo de bastante gordura no abdômen dos peixes, quando estes são eviscerados. O aspecto externo do peixe é normal, mas as vísceras apresentam bastante gordura, que se adere também ao filé. Isso é normal? Diminuir o teor de proteína melhora, agrava ou não altera a situação? De: Márcia Regina Stech marciastech@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápias - Excesso de Gordura Isso acontece em primeira instância por causa de um alto teor de energia, o que pode ser percebido por uma ingestão de ração mais baixa (ao menos na teoria do fabricante). Os peixes preferem utilizar os lipídios como fonte de energia, mas se a ração for extrusada, a energia em excesso provavelmente vai vir do carboidrato, que tem que ser utilizado no processamento da ração. Quando a relação energia/proteína da ração está correta, esse tipo de coisa não deveria acontecer. Infelizmente teu problema tem sido constatado junto a muitos produtores e com diferentes marcas de ração. Reporte isso ao seu distribuidor, mas só com uma reformulação é que isso poderá ser revertido. De: Luiz Marcelo S. Pinheiro luizmarcelovet@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápias - Excesso de Gordura O acúmulo de gordura ocorre quando há sobra de nutrientes, ou seja, você está fornecendo mais do que é necessário para a mantença e crescimento dos peixes. Sugiro reduzir a porcentagem de proteína bruta na fase de engorda destes. Vale a pena testar outras formulações. Além de evitar o acúmulo de gordura, você irá reduzir o seu custo de produção. De: Giovani Sampaio Gonçalves gsgoncalves@pesca.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápias - Excesso de Gordura Essa é uma situação muito encontrada em relação à alimentação de tilápias com as mais diversas rações, mesmo em pesquisas com alimentos de alta qualidade!! Nem sempre as recomendações fornecidas pelas indústrias são aquelas que devemos adotar. Cada sistema de produção tem a sua carac- terística e talvez a quantidade de ração que você está utilizando esteja até acima do ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 necessário. Tente fazer a sua própria tabela de arraçoamento (sem sobras), controlando o fornecimento de ração e acompanhando uma curva de crescimento do peixe em fun- ção do tempo, ganho em peso e conversão alimentar. A relação energia/proteína é uma questão importante, entretanto ela pode ser apenas uma indicação, pois mesmo que esteja em equilíbrio, o fornecimento em aminoácidos fora da exigência mínima para produção pela Tilápia pode ocorrer em elevada deposição de gordura. Isso se dá pela alta capacidade da espécie em utilizar proteína como fonte de energia. Alguns microingredientes também são importantes no metabolismo energético, podendo levar à situação de acúmulo de gordura. Resumindo: mesmo que sua ração esteja com pouca ou muita gordura (energia), o desbalanço em aminoácidos (apenas 1) ou mesmo a defici- ência em algum microingrediente, pode fazer com que grande parte da proteína (mesmo que de boa qualidade) seja utilizada para a síntese de gordura e não fibras musculares como o esperado. Faça testes com outros alimentos, e com certeza encontrará boas rações nomercado. De: Paulo rodrigues pauloromez@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápias - Excesso de Gordura Nossa experiência prática em relação a gordura visceral é a seguinte: 1) Fatores que contribuem para o aumento da gordura visceral: proteínas baseadas em farinha de carne e sangue; alimentação acima da curva de alimentação e crescimento e, teor protéico acima da necessidade do peixe para a fase de crescimento que se encon- tra. 2) Fatores que reduzem a quantidade de gordura visceral: proteínas baseadas em farinha de peixe; alimentação dentro da curva de alimentação e crescimento. Usar 32% até o final da engorda é muito bom, pois reduz o tempo de abate do animal e proporciona um ganho de peso acima da curva (cerca de 15 dias em nossa experiência). Contudo, aumenta consideravelmente a gordura visceral por estar acima, pouca coisa, da necessidade para esta "fase" do peixe. De: José Maria comercial@wgautomacao.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Filetagem de peixes Pretendo agregar valor a minha engorda de tilápias e pensei em filetar peixes em minha propriedade para entregar no comércio local. Tenho demanda para uns 150 kg de filés/semana fornecendo filés frescos dois dias por semana(terças e quintas). Ocorre que tenho represas grandes (2000 m2) que têm inviabilizado o processo, em função do custo para retirar peixes, uma vez que tenho que pagar pessoal para passar o arrastão para a retirada, aumentando o custo e estressando demais os mesmos. Pensei em fazer uma pequena represa de depuração para transferir uns 1000 kg de peixe a cada 15 dias, o que facilitaria o processo de retirada de peixes frescos para filetagem. Gostaria de opiniões e idéias sobre a viabilidade ou não deste projeto por parte de nossos companheiros piscicul- tores, bem como de literatura disponível com as formas de filetagem para melhor aproveitamento de carcaça. Gostaria de saber também se alguém pode me dizer quais as obrigações legais para poder entrar neste novo negócio. De: Francisco Moreira Dubeux Leao Junior francisco.leao@fleury.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Filetagem de peixes Dica: coloque tanques-rede de pequeno vo- lume nas represas, porque desta forma você não precisa fazer grandes despescas e retira somente aquilo que vai ser depurado e depois vendido. Para 150 kg de filé por semana, você está no limite daquilo que se considera arte- sanal (processar 100kg de peixe vivo por dia). Se crescer mais, vai ter que ser aprovado pelo menos pelo Serviço de Inspeção Estadual. Eu tenho o mesmo problema em relação à iniciar a filetagem. Quem sabe a gente pode trocar uma idéia e unir esforços? �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 A eterna briga entre Ambientalistas e Carcinicultores O Seminário "Manguezais e Vida Comunitária: os impactos sócio ambientais da carcinicultura", realizado em Fortaleza-CE nos dias 21 a 24 de agosto reuniu grupos ambientalistas com o objetivo de articular as comunidades e definir estratégias de enfrentamento com a carcinicultura no Brasil e de outros países do ex-Terceiro Mundo. No encontro foram apresentados painéis que procuraram mostrar a carcinicultura como uma atividade causadora de prejuízos sócioambientais. Os temas discutidos foram: Carcinicultura: um olhar a partir das comu- nidades pesqueiras; Panorama da Carcinicultura e da Água no Brasil; Políticas Públicas de Carcinicultura e de Conservação dos Manguezais e, Estratégias de Enfrentamento. No último dia do seminário os participantes elaboraram uma carta intitulada “Carta de Fortaleza dos povos das águas”, com reclamações, denúncias e exigências. Os posicionamentos contrários a ex- pansão da carcinicultura no Brasil geraram uma carta/resposta da ABCC. A seguir, transcrevemos as duas cartas. Carta de Fortaleza dos Povos das Águas Os quinze estados brasileiros representados por cento e sessenta e seis participantes do “Seminário Manguezal e Vida Comunitária: os impactos socioambientais da carcinicultura” reunidos em Fortaleza no período de 21 a 24 de agosto de 2006, representando organizações comunitárias de base, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, pescadores e pescadoras, do movimento nacional dos pescadores/as (MONAPE), pastorais sociais, escolas de pesca, pesquisadores e organizações não governamentais locais, estaduais, nacionais e internacionais, dirigimos- nos à sociedade para expressar : 1. Afirmamos que ocorre de forma acelerada a destruição dos manguezais no Brasil, e de maneira predominante pela atividade de carcinicultura ou cultivo de camarão, com privatização sem precedentes de água e de terras públicas e indígenas, expulsão das populações locais, desmatamento de manguezais, salinização de água doce, poluição de rios, gamboas e estuários, diminuição crescente do pescado (mariscos, crustáceos e peixes) e empobrecimento dos Povos das Águas. Essa destruição dos manguezais e de outros ecossistemas costeiros segue avançando e se soma a ela uma violação sistemática dos direitos humanos e ambientais dos Povos do Mar, dos Mangues e dos Rios; 2. A atividade da carcinicultura, a despeito de sua trajetória his- tórica de destruição social e ambiental, segue sua expansão de maneira impune em nosso país, sobretudo no Nordeste brasileiro; 3. Denunciamos que a atividade de carcinicultura tem mani- festado uma ação violenta dirigida a comunidades locais, lideranças, entidades, utilizando para tanto de intimidação, constrangimento e violência física com registro de vários assassinatos (casos ocorridos no RN, BA, PI), o que se configura como agente violador de direitos humanos e ambientais; 4. Reclamamos das corregedorias estaduais uma atuação para evitar a recorrente ação das polícias nos estados (civil e militar) que têm assumido o papel de segurança privada nas fazendas de camarão, inclusive estatal usando a estrutura (fardamento, viatura, munição) e, sem deixar duvida, agindo com violência contra as populações locais: 5. Denunciamos que as legislações de nossos estados estão sendo revisadas para permitir a expansão de atividades destrutivas dos carcinicultores em áreas caracterizadas pelos ecossistemas costeiros. Rechaçamos qualquer modificação de sistemas legais com o objetivo de diminuir a proteção e permitir a apropriação dos espaços marinho- costeiros e suas áreas de influência; 6. As instituições publicas de financiamento (Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) têm financiado a atividade de carcinicultura que se desenvolve de maneira insustentável, exercendo assim um papel determinante na expansão do cultivo de camarão e no quadro de degradação e de pobreza que cresce na Zona Costeira e áreas ribeirinhas; 7. Denunciamos que se acentua em nosso país um modelo de desenvolvimento primário-exportador, orientado pelo agronegócio e hidronegócio e direcionando à produção de bens para a exportação (como no caso da carcinicultura) às custas de nossos ricos ecossistemas e de populações cada vez mais pobres. O projeto de transposição das águas do Rio São Francisco responde às demandas do empresariado brasi- leiro, dentre os quais o da carcinicultura, mostrando-se inaceitável sua concretização pelo estado brasileiro. Reclamamos políticas sustentáveis que satisfaçam as necessidades das populações locais e que garantam direito e acesso aos recursos naturais(pescado, água, terra...); 8. Reclamamos das Delegacias Regionais de Trabalho a ação efetiva para coibir a exploração dos trabalhadores nas fazendas de car- cinicultura (ausência de carteira assinada e de equipamentos de proteção individual, jornadas abusivas de trabalho, trabalho infantil, trabalho escravo) e problemas relativos à saúde do trabalhador (doenças de pele, intoxicação por metabissulfito de sódio); 9. Denunciamos que os governos estaduais, de modo especial, sustentam e animam a expansão da carcinicultura em basesinsus- tentáveis na medida em que desenvolvem legislações que abrem as portas para a degradação dos manguezais e dos ecossistemas costeiros. Incentivam ainda atividades de grande impacto (carcini- cultura, turismo, pesca industrial) que não guardam relação alguma com as necessidades das populações costeiras e ribeirinhas em prol da garantia de qualidade de vida e de saúde e da conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos; 10. Denunciamos que se está substituindo as atividades tradicionais por novas atividades econômicas eleitas por governos (estaduais e federal) como alternativa à crise econômica atual. Estas alternativas seguem concentrando a riqueza em mãos de uma minoria e diminuindo a qualidade de vida da grande maioria da população local. Reclamamos a elaboração de políticas públicas que fortaleçam as atividades produtivas tradicionais da nossa Zona Costeira. Estas políticas devem garantir a soberania e os direitos concernentes à cidadania e à vida; 11. Exigimos ação preventiva e corretiva dos governos es- taduais e federal para determinar que a recuperação das fazendas de carcinicultura abandonadas ocorra por parte dos degradadores e que haja uma reversão da posse e ou titularidade dessas áreas para a integração ao patrimônio público ; 12. Observamos que parte das atividades de pesquisa e gestão de nossos ecossistemas seguem orientadas para satisfazer necessidades contrárias às das nossas comunidades, firmando assim a base para a degradação dos meios de vida e da cultura de nossos povos, através da expansão de atividades destrutivas e insustentáveis; 13. Reafirmamos nossa intenção firme e determinada em resistir aos processos de privatização e destruição dos recursos naturais das zonas marinho-costeiras em nossos estados; 14. Expressamos nossa solidariedade e apoio aos Povos do Mar do Extremo Sul da Bahia e solicitamos a criação imediata da RESEX de Cassurubá pelo governo Federal. 15. Exigimos do Ministério da Justiça e da Secretaria Especial de Direitos Humanos a proteção de moradores das loca- lidades de Cumbe, Porto do Céu, Cabreiro, Tabuleiro e Volta em Aracati(CE), São José e Buriti em Itapipoca(CE), Camondongo, ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Confl itos Passagem Rasa em Itarema(CE), Salinas da Margarida, Canaviei- ras, Praia do Guaibim em Valença(BA), Logradouro em Porto do Mangue e (RN),Porto do Carão em Pendências (RN) Finalmente : 1. Nos posicionamos contrários a expansão da carcinicultura no Brasil ao mesmo tempo em que exigimos a não concessão de novas licenças e de financiamento a atividade de cultivo de camarão, bem como o embargo das fazendas instaladas e recuperação de áreas degradadas 2. Exigimos um posicionamento claro da SEAP, MMA, IBAMA, FUNAI, SEEDPH, SPU e GRPUs,Instituições financeiras e Governos estaduais, sobre o cenário apresentado nesta carta e uma plataforma de ação destas instituições frente à problemática; 3. Reclamamos a urgência na implantação de políticas públicas que garantam que os responsáveis por esta destruição (Instituições de crédito, governos federal, estaduais e municipais, industriais, especula- dores e carcinicultores) recuperem os ecossistemas degradados na zona costeira brasileira. Carta resposta da Associação Brasileira de Criadores de Camarão - ABCC Natal, 02 de setembro de 2006 Mais uma vez os pseudo-ambientalistas capitaneados pelo oportunista João Alfredo e pelo deliberado alienismo do Instituto Terra- mar, dão uma clara demonstração de que estão a serviço dos interesses contrariados “além mar”. Consideramos extremamente sensacionalistas as acusações e afirmações contidas na “Carta de Fortaleza”, documento elaborado sob a liderança da ONG Terramar, entidade descomprometida com o social e ambiental e que, através da manipulação de populações carentes da zona rural do litoral Nordestino ligadas a pesca artesanal e extrativista, vem apresentando a mídia informações inverídicas, distorcidas e tendenciosas sobre impactos ambientais e sociais da atividade de cultivo de camarão. Entendemos que o verdadeiro objetivo desta “Carta de Fortaleza” é garantir a continuidade dos recursos advindos de fontes internacionais como a Inter-American Foundation (IAF), Fundação Avina e Fundação BankBoston, que financiam as atividades da ONG Terramar, represen- tante no Brasil da Red Manglar International, entidade que tem a função de coordenar campanhas contra a aqüicultura e articular o financiamento internacional para suas filiadas, a exemplo do Terramar em nosso país (Ambientalismo o Novo Colonialismo-Editora Capax Dei, 2005), cuja principal função parece ser a oposição à carcinicultura através da agitação e da manipulação de populações carentes. Estas ONG’s pregam em nome do meio ambiente a manutenção, a qualquer custo, do atraso e da degradação da vida dessas populações, que em pleno século XXI, convivem com um enorme potencial natural e todos os dias, exatamente pela visão vesga dos governos e desses “arau- tos do apocalipse” não conseguem viver com um mínimo de dignidade, quando na realidade, a aqüicultura, que é a vocação natural do Brasil, poderá estar lhes proporcionando condição de vida muito diferente. Estudos elaborados pelo Departamento de Economia da UFPE, comprovam que a carcinicultura vem gerando emprego e renda na zona rural do litoral nordestino (http://www.abccam.com.br/downlo- ad/GERA%C7%C3O%20DE%20EMPREGOS.pdf), quando 88% do trabalho ofertado é ocupado por mão-de-obra sem qualificação profis- sional e 14% das oportunidades é ocupada por mão-de-obra feminina. Adicionalmente, o estudo “Impactos Sócio-Econômicos do Cultivo do Camarão Marinho em Municípios Selecionados do Nordeste” realizado pelo mesmo Departamento, concluiu que a carcinicultura nos 10 (dez) municípios analisados, contribui significativamente para a elevação e estabilidade do emprego e da renda, para a elevação da receita municipal e para a melhoria das condições de vida nestes municípios, destacando a participação da população economicamente ativa (PEA) no setor, a representação setorial no PIB municipal e a sua participação na receita tributária. (www.abccam.com.br/publicações) Não nos surpreende mais acusações e afirmações gené- ricas e recicladas sobre o que estas entidades consideram como impactos da carcinicultura no Brasil, as quais não apresentam números reais baseados em estudos comprovadamente científi- cos, utilizando apenas um relatório tendencioso da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, documento que foi alvo de um manifesto elaborado por 28 Doutores/Pesquisadores da área de aqüicultura de 13 instituições de ensino e pesquisa, que consideraram socialmente injusto e cientificamente dis- cutível os supostos impactos mencionados pelo relatório. Os pesquisadores que assinaram este manifesto, se colocaram a disposição para participarem de fóruns e debates sobre o tema, porém, os organizadores do evento que assinam a carta, não convi- daram os mesmos para discutir os impactos da carcinicultura. O trabalho: “Impactos Sócio-Econômicos e Ambientais da Carcinicultura Brasileira: Mitos e Verdades” (Rocha, 2005) disponível no site www,abccam.com.br, que utilizando informações e estatísticas do próprio IBAMA e dos centros de excelência das universidades bra- sileiras, desmistifica e coloca por terra os mitos e as inverdades sobre a carcinicultura, atividade que na realidade, tem profundos compromissos com a preservação ambiental e com o bem star social, uma vez que ao analisar o conjunto de sua cadeia produtiva, se ressalta claramente que o “somatório dos impactos positivos são de tal magnitude que justificam as ações de mitigação para a superação dos seus impactos negativos”. A afirmação sem nenhuma comprovação de que ocorre de forma acelerada a destruição de manguezais no Brasil, não condiz com a verda- de que foi apresentada pelo recente estudo técnico científico elaborado e publicado pelo LABOMAR/UFCE como apoio do CNPq e da Socie- dade Internacional para Ecossistemas de Manguezal – ISME-BR, que através das análises de imagens de satélites de 1978 a 2004, identificou um crescimento total de 36,56% na cobertura vegetal do manguezal entre os Estados de Pernambuco (67%), Paraíba (39,84%), RN (19,88%), Ceará (27%) e Piauí (34,94%), descaracterizando e desmistificando as acusações do crescimento da carcinicultura em detrimento da destruição dos manguezais (http://www.abccam.com.br/download/Atlas_man- gues_NE_%FAltima_vers%E3o%5B1%5D.pdf). A carcinicultura, diferente do que informa a “Carta”, é uma atividade lícita e considerada pela Lei Federal 10.165/00, como uma atividade de médio impacto ambiental, considerada ainda pelo Banco Mundial, NACA e FAO (2002), que a aqüicultura é uma importante atividade na área costeira de muitos países, ofe- recendo um número de oportunidades para amenizar a pobreza, gerar empregos, promover o desenvolvimento comunitário, redu- ção da sobreexploração das fontes naturais costeiras e segurança alimentar nas regiões tropicais e subtropicais (www.eneca.org), informação completamente desconsiderada pelas ONG’s que assinam a Carta. A carcinicultura brasileira através da sua entidade representativa ABCC, vem cumprindo o seu dever de casa no que se refere a questões ambientais e sociais, elaborando e distribuindo entre os produtores de camarão e demais associados, o Código de Conduta e de Boas Práticas de Manejo para uma Carcinicultura Ambientalmente Sustentável e So- cialmente Justa e os Manuais de Gestão de Qualidade e Rastreabilidade na Fazenda e de Biossegurança na Fazenda, disponíveis para consulta publica no site da ABCC (www.abccam.com.br). Por fim, gostaríamos de vêr as entidades que assinam esta carta demonstrar à sociedade a verdadeira fonte de financiamento das suas atividades e propor alternativas concretas de melhoria de vida para as milhares de famílias que da carcinicultura tiram o seu sustento e que estariam desempregadas pelo desejo insano de sustar uma atividade que hoje se apresenta como uma das poucas alternativas de crescimento sustentável e de geração de emprego e renda para populações da zona rural do litoral nordestino. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Wilson Wasielesky, Maurício Emerenciano, Eduardo Ballester, Roberta Soares, Ronaldo Cavalli e Paulo César Abreu Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Programa de Pós-graduação em Aqüicultura, manow@mikrus.com.br P odemos considerar que o cultivo de camarões nas Américas pode ser dividido em três perío- dos, se levarmos em consideração as estratégias de cultivo utilizadas. O primeiro deles (anos 80/90) foi marcado pelas grandes áreas de cultivo em viveiros utilizando baixas densidades de estocagem. Neste período o país com maior produção foi o Equador, com produtividades médias em torno de 500 kg/ha/ano. O segundo período, nos anos noventa, caracterizou-se também pelos cultivos em viveiros utilizando, po- rém, mais tecnologia, como é o caso do Brasil, com produtividades acima de 6000 kg/ha/ano. Enquanto isso, nos Estados Unidos da América, Hopkins e co- laboradores iniciaram pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias ambientalmente amigáveis com objetivos de diminuir a emissão de efluentes com produtividades também acima de 5000 kg/ha/ano. Apesar dos esforços, o surgimento de doenças como a Síndrome de Taura, Mancha Branca, entre outras, prejudicou a atividade em diferentes países americanos. Em decorrência, nos últimos cinco anos, surgiu o terceiro momento dos cultivos de camarões, com o uso de novas tecnologias desenvolvidas, principalmente, nos Estados Unidos (Browdy et al. 2001) e em Belize (Burford et al., 2003), com objetivo de produzir camarões em sistemas fechados, com maior biossegurança e com diminuição da emissão de efluentes. um novo caminho a ser percorrido Cultivos em Meios com Flocos microbianos: ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Os Flocos Microbianos A intensificação da densidade de estocagem tornou-se requisito básico para a viabilidade econômica deste tipo de cultivo. Entretanto, o aumento das densidades de estocagem exigiu mudanças nas estratégias de manejo para a manuten- ção da qualidade da água dos cultivos. Com isso, iniciou-se a realização de pesquisas sobre os cultivos chamados “ZEAH” (Zero Exchange, Aerobic, Heterotrophic Culture Systems), ou seja, sistema de cultivo sem renovação de água através de uma biota predominantemente aeróbica e heterotrófica (organismos incapazes de sintetizar o seu próprio alimento e que necessitam de oxigênio para sobreviver). A vantagem desse sistema é a diminuição do uso da água, diminuindo a emissão de efluentes e consequentemen- te reduzindo as possibilidades de impactos ambientais. Além disso, os sistemas “ZEAH” reduzem o risco de introdução e disseminação de doenças, além de complementar a dieta dos animais através da produtividade natural presente nos viveiros (McIntosh et al., 2000 e Moss et al., 2001). Para estimular a formação do meio heterotrófico o ambiente de cultivo deve ser fertilizado com fontes ricas em carbono e fortemente oxigenado. Diferentes nomes têm sido atribuídos aos flocos microbianos tais como: agregados microbianos ou bacterianos, flocos bacterianos, “marine snow”, etc.. Independentemente do nome, eles são forma- dos durante o ciclo de produção, sendo constituídos prin- cipalmente de bactérias, microalgas, fezes, exoesqueletos, restos de organismos mortos, cianobactérias, protozoários, pequenos metazoários e formas larvais de invertebrados, entre outros (Fotos abaixo). Núcleos do floco formado pela aglomeração de cianobactérias filamentosas, bactérias e colonizado por protozoários Fotos Eduardo Ballester Floco microbiano colonizado por protozoário ciliado Cianobactérias filamentosas auxiliando a formação do floco microbiano Uma vez formados, eles servem de suplemento alimen- tar aos animais, além disso, os microorganismos presentes no floco são capazes de assimilar os compostos nitrogenados originados da excreção dos camarões e dos restos do alimento em decomposição. A presença dos agregados no ambiente de cultivo proporciona a redução da utilização de proteína bruta nas rações, sendo esta suprida pela produção natural, acarretan- do em diminuição nos custos (Samocha et al..2004). Burford et al. (2004) reportaram que mais de 29% do alimento con- sumido por Litopenaeus vannamei podem ser provenientes do floco bacteriano presente no meio heterotrófico (meio onde predominam organismos heterotróficos, mantido principalmente através de um balanço de carbono/nitrogê- nio/fósforo), demonstrando assim a viabilidade do sistema, o mesmo demonstrado por Moss et al. (1992). McAbee et al. (2003) verificaram sobrevivências superiores a 90% em cultivo super-intensivo de L. vannamei em raceways, em densidades de estocagem acima de 300/m2. Segundo Browdy (2006, em preparação) cultivos pilotos com L. vannamei em sistemas de cultivo em estufas, em altas densidades de estocagem (até 700 camarões/m2), em meio heterotrófico, tem apresentado produtividades acima de 6 kg/m2, o que equivale a 60 ton/ha/safra. Flocos M icrobianos "A vantagem desse sistema é a diminuição do uso da água, diminuindo a emissão de efluentes e consequentemente reduzindo as possibilidades de impactos ambientais" �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Estufa para o cultivo superintensivo de camarões no Waddell Mariculture Center, Carolina do Sul, EUA (Foto: Wilson Wasielesky) Fl oc os M ic ro bi an os Estufa para o cultivo superintensivo de camarões na Estação Marinha de Aquacultura (EMA) da FURG, Brasil (Foto: Dariano Krummenauer) Apesar dos bons resultados obtidos até o momento, a di- nâmica e complexidade do sistema nos obriga a um manejo mais intensivo, sempre atentos nos parâmetros físico-químicos e biológi- cos da água, bem como na sanidade dosanimais. Dentre as diversas vantagens e desvantagens do sistema podemos destacar: Tabela 1 – Vantagens e desvantagens Flocos como suplemento alimentar A alimentação é um fator de extrema importância para um sistema de cultivo, pois influencia diretamente na sobrevivência e no crescimento dos organismos aquáticos, bem como na viabilidade econômica do cultivo, visto que pode representar até 60% do custeio da produção. Assim, o controle na qualidade e quantidade de alimentos fornecidos tornam-se elementos básicos para o sucesso na produção de organismos em cativeiro. O excesso de alimentos pode causar a degradação do meio de cultivo, devido ao aumento, principalmente, de compostos nitrogenados e fósforo. Assim sendo, um cultivo racional de camarões deve receber uma quantidade de alimentos balanceada, evitando descargas excessivas de compostos nitrogenados no ambiente natural. Os resíduos da alimentação do camarão (alimento não consumido e excretas) serão a principal fonte de ni- trogênio para a formação dos agregados, os quais irão ser convertidos em uma valiosa fonte de nutriente aos animais cultivados (Tabela 2). Além do nitrogênio, o carbono de- sempenha um papel importante no sistema de cultivo, pois a relação C/N é decisiva para determinar a comunidade microbiana que se estabelecerá no sistema. “A alimentação é de extrema importância para a sobrevivência e o crescimento dos animais. Um cultivo racional de camarões deve receber uma quantidade de alimentos balanceada, evitando descargas excessivas no ambiente natural.” ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Flocos M icrobianos Relação C/N para a formação dos meio heterotróficos Algumas pesquisas recentes demonstram que a relação C/N ideal para formação do floco microbiano deve estar na faixa entre 14 e 30:1. Isto é, para cada 14 a 30 partes de carbono, é necessário uma parte de nitrogênio, sendo expresso geralmente em peso. Isso se deve, principalmente, para estimular o crescimento de bactérias heterotróficas as quais são capazes de utilizar a matéria orgânica disponível (inclusive a dissolvida) e re- direcionar esta matéria orgânica para a cadeia alimentar presente no ambiente de cultivo, fornecendo desta forma uma fonte adicional de alimento para os camarões. Diversas fontes de C estão disponíveis no mer- cado, com destaque para o melaço de cana-de-açúcar (integral ou em pó) e os mais diversos farelos vegetais existentes. O melaço já vem sendo utilizado como pro- motor de crescimento bacteriano em viveiros de cultivo no Brasil e no mundo. No entanto, sua eficiência é ainda muito pouco conhecida. Para estimar a relação C/N podemos utilizar métodos sofisticados e precisos (TOC, “NHC Anali- zer”, entre outros). No entanto o custo das análises é elevado, além de serem aparelhos caros e difíceis de serem encontrados. Assim, uma maneira para estimar a relação é através da composição bromatológica dos ingredientes ou fertilizantes utilizados, estimando seus valores em carbono e nitrogênio. Qualidade da água Como em todos os sistemas de cultivos, a quali- dade de água é de vital importância para a manutenção e sucesso dos sistemas heterotróficos. Dentre os pa- râmetros físico-químicos relacionados à qualidade de água, a salinidade, o pH, a amônia, o nitrito, o fósforo e a alcalinidade necessitam de maior atenção. Quanto maior for a salinidade, maior o poder tampão que ela exercerá, assim, facilitará a manutenção dos níveis desejáveis de pH no sistema. Porém devido à intensa respiração dos organismos (cultivados e fau- na microbiana presente), há uma tendência natural do Tabela 2 – Composição Bromatológica com base na matéria seca de agregados microbianos formados em diferentes experimentos PB - proteína bruta; Carb. - carboidratos; EE - extrato etéreo ou lipídios; FB - fibra bruta ambiente de cultivo apresentar pH muito próximo a 7 ou até mesmo in- ferior a este valor. No entanto, o pH deve ser monitorado periódicamente pois de acordo com Wasielesky et al (2006), níveis abaixo de 7,0 afetam o crescimento de L. vannamei em meio heterotrófico. Em relação à amônia (princi- palmente a não ionizável), sua toxi- cidade está diretamente relacionada aos níveis de pH. Águas muito ácidas e com baixo teor de oxigênio dissolvido, diminuirão a capacidade das bactérias nitrificantes de converterem a amônia em nitrito e poste- riormente a nitrato. O nitrito em água de salinidade elevada (20-35 ‰) parece não apresentar grandes problemas quanto a níveis letais, já em salinidade reduzida isso pode ser um sério problema. Tão importantes como o carbono e nitrogênio, outros elementos são de fundamental importância para a “saúde” do sistema, exemplos disso são o fósforo e o cálcio. Lem- brando que por ser um sistema onde as densidades de cultivo são altas, e as renovações de água baixa ou nula, o acúmulo de determinados compostos na água é inevitável. Assim, é preciso estar atento com todos os parâmetros para que o ca- marão não seja submetido a situações de estresse que podem diminuir as taxas de sobrevivência. No caso de um acúmulo de fósforo, haverá favorecimento de cianobactérias, que muitas vezes, dependendo da espécie e concentração, são maléficas aos organismos cultivados. Assim, um controle nos níveis de fósforo podem acarretar no sucesso ou não do sistema. Já a alcalinidade, além de importante na atividade de muda dos camarões fornecendo cálcio ao animal, ajuda a manter equilibrado o pH do meio. “O melaço já é utilizado como promotor de crescimento bacteriano em viveiros de cultivo no Brasil e no mundo. No entanto, sua eficiência é ainda muito pouco conhecida” �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Dimensionamento do sistema Além dos parâmetros químicos e biológicos, os parâmetros físicos desempenham um importante papel no sistema. Um correto dimensionamento dos tanques de cultivo e um bom aporte de oxigênio no sistema, direção e intensidade de corrente são de fundamental importância na ressuspensão do material particulado e formação dos agregados. Estes devem estar sempre presentes na coluna d´água, caso contrário tenderão a acumular no fundo dos tanques ou viveiros, acarretando em zonas anaeróbias causando desconforto aos camarões cultivados, além de competir com outros organismos aeróbios. Assim, o uso de aeradores mecânicos, injetores de ar, air-lifts, entre outros, são importantes para o correto funcionamento do sistema. No caso de acúmulo de material no fundo (lodo “residual”) ou excesso de material suspenso, este deve ser retirado pe- riodicamente e destinado a lugares próprios como tanques de sedimentação, ou serem filtrados com o retorno da água para o sistema. Experiências da FURG O início do desenvolvimento de cultivos em meio ao floco microbiano realizado pelos pesquisadores da Estação Marinha de Aquacultura (EMA) e do Laboratório de Ecologia do Fitoplânc- ton e Microorganismos Marinhos, ambos pertencentes a FURG - Fundação Universidade Federal do Rio Grande, se deu após a reunião de informações obtidas por pesquisadores de nossa Uni- versidade que visitaram o CSIRO Marine Research (Austrália) e o Waddell Mariculture Center (USA), locais aonde os cultivos em meio heterotrófico já vêm sendo realizados há alguns anos. Além disso, a visita do Doutor Gerard Cuzon do IFREMER – França, ao nosso laboratório contribuiu bastante com o relato das experi- ências obtidas por sua equipe neste tipo de cultivo. Após este primeiro momento de troca de infor- mações, os pesquisadores da EMA desenvolveram um protocolo para obtenção do floco em um sistema fechado (sem renovação de água). Este protocolo estava baseado na utilização de uma fertilização orgânica que estimulasse o crescimento de bactérias heterotróficas, as quais formam a base dofloco. O protocolo utilizado mostrou-se ade- quado e rapidamente foi constatada a presença de densos agregados no tanque de cultivo (denominado como tanque matriz) permitindo que fosse dado início aos primeiros experimentos. Como mencionado anteriormente, o floco microbia- no além de ser uma fonte adicional de alimento para os orga- nismos cultivado, também tem a função de manter a qualidade da água do ambiente de cultivo. Por isso, durante todos os experimentos realizados foram monitoradas as concentrações de amônia, nitrito e fosfato, além do pH e da concentração de oxigênio dissolvido nas unidades de cultivo. A transparência da água foi medida diariamente com disco de Secchi, e sendo esse o parâmetro prático que possibilitou o monitoramento da densidade do floco de maneira rápida e possibilitou a correção nos níveis de fertilização empregados. Nossa equipe realizou experimentos com três dife- rentes espécies de camarões peneídeos: Farfantepenaeus paulensis, Farfantepenaeus brasiliensis e Litopenaeus vannamei. Os experimentos realizados na EMA - FURG foram desenvolvidos em dois sistemas básicos: (a) a água rica em floco era bombeada do tanque matriz para uni- dades experimentais onde os camarões foram cultivados em diferentes tratamentos ou; (b) unidades experimentais (gaiolas) montadas diretamente no tanque matriz. Além dos tratamentos em meio ao floco os camarões foram cultivados também em um sistema convencional (água clara) para que os resultados fossem efetivamente comparados. “O carbono, nitrogênio e outros elementos como o fósforo e o cálcio são de fundamental importância para a “saúde” do sistema. É preciso estar atento a todos os parâmetros para que o camarão não seja submetido a situações de estresse que podem diminuir as taxas de sobrevivência.” Foto: Wasielesky Flocos M icrobianos �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Flocos M icrobianos Experimento 3 - EFEITO DE RAÇÕES DE DI- FERENTES NÍVEIS PROTEICOS NO CULTIVO DO CAMARÃO-ROSA Farfantepenaeus paulensis EM MEIO HETEROTRÓFICO Estudos prévios haviam determinado que a quantidade ideal de proteína bruta a ser fornecida para juvenis de F. paulensis durante a fase inicial de engorda seria de 45% quando este camarão é cultivado em meio à água clara. Neste estudo Ballester et al, (2006) avaliaram uma possível redução no nível protéico durante o cultivo em meio ao floco microbiano. Os camarões foram alimentados com rações contendo 25, 30, 35, 40 e 45% de PB. Ao final de 45 dias de cultivo foi constatado que o peso final atingido pelos camarões não era significa- tivamente diferente (p>0,05) quando estes eram alimentados com rações contendo 35, 40 ou 45% de PB. Este resultado demonstrou que é pos- sível uma redução de até 10% da proteína fornecida à F. paulensis quando este cama- rão é cultivado na presença de agregados microbianos (Figura 4 na pag.22). Experimento 2 - CULTIVO DO CAMARÃO ROSA Farfantepenaeus brasiliensis EM MEIO HETEROTRÓFICO Neste experimento, Emerenciano et al. (2006) trabalharam com pós-larvas de F. brasiliensis (PL25 - 0,025 ± 0,01g; 17,86 ± 1,6mm), cultivadas em alta densidade (500/m2) durante trinta dias. Os tratamentos utilizados foram cultivo em água clara e cultivo em meio ao floco microbiano e ambos os tratamentos foram realizados com e sem suplementação com ração artificial (42% PB). Ao final do experimento foi constatado que os camarões cultivados em meio ao floco atingiram peso final estatisticamente igual (p>0,05) independente do fornecimento ou não de ração demonstrando a eficiência do floco como fonte de alimento para os camarões nesta fase do cultivo (Figura 3). Alguns dos principais resultados obtidos nestes experimentos estão resu- midos a seguir: Experimento 1 - CULTIVO DO CAMARÃO-ROSA Farfantepenaeus paulensis NA FASE DE PRÉ-BERÇÁRIO Neste estudo, Emerenciano et al. (2006) cultivaram pós-larvas de F. paulensis (PL10) em meio heterotrófico ou em água clara durante 15 dias. Os resultados finais mostraram que as pós-larvas cultivadas em meio ao floco microbiano obtiveram peso final e sobrevivência significativamente maiores em relação àquelas cultivadas em água clara (Figuras 1 e 2). Figuras 1 e 2 – Peso final, ganho de peso e sobrevivência de pós-larvas cultivadas na presença dos flocos microbianos com e sem ração (FLOC + R e FLOC) ou em água Figura 3 – Peso Final e Ganho de peso de pós-larvas de Farfantepenaeus brasiliensis cultivados na fase de berçário em diferentes tratamentos (FLOC+R = presença do floco com fornecimento de ração; FLOC = cultivo somente na presença do floco e AC +R = águas claras mais ração) Foto: Wasielesky �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Experimento 4 – Efeito da produtividade natural em um sistema de troca zero com floco microbiano para o cultivo superintensivo do camarão-branco Litopenaeus vannamei Em experimento realizado no Waddell Mariculture Center – South Carolina – USA, Wasielesky et al. (2006), avaliaram o efeito da produtividade natural (meio hetero- trófico) durante o cultivo de juvenis de L.vannamei confir- mando os efeitos positivos do meio sobre o crescimento, consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar e sobrevivência. Em densidade de estocagem de 300/m2 as taxas de crescimento foram de 0,85 g/semana em água clara e de 1,25 g/semana em meio heterotrófico, ou seja, 47 % acima, devido a contribuição dos flocos microbianos Recentemente, no congresso mundial de Aquacultura (Aqua2006/WAS) realizado em Florença na Itália, o Dr. Yoran Avi- nimelech, um dos maiores especialistas na questão dos cultivos em meios heterotróficos, declarou que muitos estudos foram realizados e conclusões alcançadas. Entretanto, o domínio deste mundo micro- biano de cultivo ainda apresenta muitas lacunas, e portanto muitas pesquisas deverão ser realizadas para o efetivo sucesso da atividade de cultivo nos meios heterotróficos. Os autores agradecem a empresa Sul Química Ltda, ao CNPq e a Capes pelo apoio às pesquisas realizadas até o momento. Fl oc os M ic ro bi an os Conclusão O papel de um técnico capacitado e instruído, além de um manejo intensivo baseado nos parâmetros de qualidade de água, é de fundamental importância para o sucesso do sistema. Conhecimentos de ecologia de microrganismos e microbiologia são fundamentais para compreender melhor o meio heterotrófico de cultivo. A troca de informações e os esforços em pesquisa são muito importantes para o aprimoramento do mesmo, que tende a revolucionar a maneira de cultivar organismos aquáticos ao redor do mundo. Portanto, apesar dos bons resultados obtidos até o momento, recomenda-se cautela na hora da decisão de utilizar este novo tipo de sistema de cultivo. Figura 4 – Peso médio (±dp) de juvenis de F. paulensis cultivados em meio ao floco microbiano e alimentados com diferentes níveis de proteína bruta ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Bibliografia Ballester, E. C., Wasielesky, W., Abreu, P. C., Cavalli, R. O., Emerenciano, M. G. C., e Adornes, S. 2006. Efeito de diferentes níveis protéicos no cultivo do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis em meio heterotrófico. Aquaciência 2006. Anais do congresso. Browdy, C.L., Bratvold, D., Stokes, A.D., and McIntosh, R.P. 2001. Perspectives on the application of closed shrimp culture systems. In: Browdy, C.L., Jory, D.E. (Eds.), The New Wave, Proceedings of the Special Session on Sustainable Shrimp Culture, Aquaculture 2001. The World Aquaculture Society, Baton Rouge, USA, pp 20-34. Burford, M.A., Thompson, P.J., McIntosh, R.P., Bauman, R.H., and Pearson, D.C. 2003. Nutrient and microbial dynamics in high-intensity, zero-exchange shrimp ponds in Belize. Aqua- culture 219: 393-411. Burford, M.A., Thompson, P.J., McIntosh, R.P., Bauman, R.H., and Pearson, D.C. 2004. The contribution of flocculated material to shrimp (Litopenaeus vannamei)nutrition in a high-intensity, zero-exchange system. Aquaculture 232(1-4):525-537. Emerenciano, M. G. C., Wasielesky, W. Soares, R. B., Ballester, E. C., Cavalli, R. O. e Izeppi, E. M. 2006. Agregados microbianos: cultivo do camarão-rosa Farfantepe- naeus paulensis na fase de pré-berçário. Aquaciência 2006. Anais do congresso. Emerenciano, M. G. C., Wasielesky, W., Soares, R. B., Ballester, E. C. e Izeppi, E. M. 2006. Cultivo do camarão rosa Farfante- penaeus brasiliensis em meio heterotrófico. Aquaciência 2006. Anais do congresso. Hopkins, J.S., P.A. Sandifer and C.L. Browdy, 1995. Effect of two feed protein levels and feed rate combinations on water quality and Production of intensive shrimp ponds operated without water exchange. Journal of the World Aquaculture Society, 26(1)93-97. McAbee, B.J., C.L. Browdy, R.J. 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Leite Laboratório de Ictiossanidade, Escola de Veterinária UFMG lucolima@netscape.net A coleta e o envio de material para exames laboratoriais são passos fundamentais para um diagnóstico con- fiável das doenças e permite a adoção de um tratamento direcionado e eficiente. Infelizmente, no Brasil ainda faltam labo- ratórios especializados no diagnóstico de doenças infecciosas de peixes. Mas esta lacuna importante da piscicultura nacional está sendo preenchida. Este artigo aborda alguns aspectos de ictiossanidade (saúde dos peixes), com ênfase à coleta e remessa de material para bacteriologia. A sanidade é um dos aspectos mais relevantes para a produção comercial de qualquer espécie, incluindo peixes. Doenças são uma das ameaças mais sérias ao sucesso da aqüicultura porque, além de não alcançarem bom desem- penho zootécnico e terem sua reprodução comprometida, peixes doentes disseminam agentes patogênicos para o ambiente, geram prejuízos ao produtor e ainda podem re- presentar riscos à saúde pública. Os organismos causadores de doenças estão presentes tanto no meio natural quanto em sistemas de cultivo, mas em cativeiro os patógenos encontram condições ideais ao seu desenvolvimento. De todas as doenças, aquelas causadas por bactérias são as que mais comumente atacam os peixes e as que também geram mais prejuízos para a piscicultura. Quando as enfermidades surgem, é importante saber como atuar rapidamente de modo a evitar ou minimizar mortalidades. Boas coletas garantem bons diagnósticos Foto: André A. Fernandes ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Embora a aqüicultura seja o setor de alimentos que mais cresce no mundo, doenças ainda representam um en- trave primário ao crescimento da atividade. Experiências passadas mostram que as doenças de peixes podem trazer perdas econômicas consideráveis à atividade e um aumento dos riscos sanitários é projetado à medida que a aqüicultura continua a se expandir, intensificar e diversificar. A intensi- ficação traz consigo a necessidade de manejos e transportes freqüentes, incremento das densidades de estocagem, au- mento nas taxas de alimentação e geração de resíduos que comprometem a qualidade da água, tornando o estresse inevitável dentro dos ambientes de cultivo. A manifestação de doenças em peixes está diretamente relacionada com situações estressantes. Devido à sua particular condição de pecilotermia, os peixes são altamente sensíveis à flutu- ação dos parâmetros de qualidade de água que, através do estresse, reduz a resistência dos peixes e sua capacidade de enfrentar doenças. Assim, a manutenção da saúde de peixes produzidos em cativeiro é considerada, hoje, um dos aspec- tos mais importantes ao êxito da aqüicultura. Entretanto, controlar doenças em sistemas aqüícolas não é tarefa fácil, sobretudo quando a adoção de medidas de controle é falha ou inexistente e os recursos para pre- venção são limitados. Sabe-se que grande parte dos surtos de doenças em peixes resulta da falta de regulamentação do transporte de animais aquáticos, movimentação esta que facilita a introdução e disseminação de agentes patogêni- cos. A maioria dos países em desenvolvimento enfrenta desafios significativos na implementação prática de es- tratégias de manejo especialmente na área de diagnóstico, vigilância, análise de riscos, preparação para situações de emergência, quarentena e programas de certificação. Grandes indústrias, como a do salmão, entretanto, sabem do potencial dizimador das doenças, daí fazerem cumprir um controle sanitário rigoroso, inclusive com vacinação rotineira dos peixes. Para indústrias como a do salmão, um programa sanitário não é apenas uma atitude burocrática mas a garantia da chegada de seus peixes até o mercado consumidor sem transtornos no processo de produção. Doenças infecto-contagiosas Uma grande quantidade de doenças viróticas, para- sitárias e fúngicas pode impactar negativamente sistemas aqüícolas. Entretanto, as de origem bacteriana ocasionam graves infecções sendo as principais responsáveis pelas grandes perdas de peixes cultivados (Foto 1). Elas são abundantes no ambiente e são capazes de se multiplicar rapidamente. A maioria das bactérias que causam doenças em peixes estão normalmente presentes no ambiente, daí serem chamadas de bactérias oportunistas, ou seja, capazes de causar doenças quando o sistema imunológico do animal está comprometido ou quando condições ambientais favo- recem o invasor. Exemplos de condições que desencadeiam o ataque de bactérias oportunistas são alterações frequentes de qualidade de água e grande densidade animal. Alguns dos sinais mais evidentes de doenças bacterianas incluem o desenvolvimento de lesões avermelhadas, feridas e úlceras no corpo (Foto 2); base das nadadeiras avermelhada, nada- deiras erodidas (esgarçadas), mudança de coloração da pele, exoftalmia (olho esbugalhado). A distribuição das lesões é bastante variável, mas geralmente inclui cabeça, face, opérculo (estrutura que cobre as brânquias) boca, costas, lateral do corpo e pedúnculo caudal. Apesar de alguns sin- tomas serem indicativos desta ou daquela bactéria, somente o exame laboratorial pode confirmar o diagnóstico. Diagnóstico Foto 1 - Placa com colônias de Aeromonas sp., bactéria comumente isolada de peixes doentes Foto 2 - Lesões na pele provocadas por Aeromonas hydrophila �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA,julho/agosto, 2006 Amostras para exame bacteriológico O protocolo de amostragem para a investigação de agen- tes infecciosos em peixes é tão importante quanto os métodos de diagnóstico propriamente empregados. A amostragem feita sem critérios e cuidados leva a falsos diagnósticos, a uma estimativa equivocada de prevalência das doenças ou ainda, pode impedir a identificação do agente causador da enfermidade. O número de amostras precisa ser representativo, isto é, diante de um surto, vários animais da população devem ser examinados. O número exato de peixes amostrados vai depender do histórico do problema, dos sinais de infecção, da quantidade de peixes disponíveis e da estrutura e capacidade de processa- mento do laboratório de referência. Peixes ainda vivos, mas que mostram sinais de enfermi- dade (moribundos), são os melhores espécimes para amostra- gem. Indivíduos moribundos usualmente abrigam grandes quan- tidades de bactérias causadoras de doenças. Após o sacrifício ou morte do peixe, os tecidos e órgãos afetados devem ser pronta- mente examinados. É importante ressaltar que quando o peixe morre, ocorre uma invasão rápida de bactérias contaminando os tecidos e órgãos internos. A rapidez da invasão bacteriana se dá em função de vários fatores, incluindo a temperatura que, quanto mais alta, maior a multiplicação bacteriana. Assim, a rapidez e a precisão da coleta de material são diretamente proporcionais à qualidade da amostra e dos resultados do exame. Seleção e remessa de peixes para o laboratório A investigação de bactérias exige um protocolo mais elaborado onde a seleção, preparação, embalagem e transporte são passos cruciais no processo de diagnóstico de doenças bacterianas de peixes, diferentemente da investigação de vírus, para a qual os animais podem ser enviados em refrigeração ou até congelados, ou para a pesquisa de parasitos, cujo material pode ser fixado em formol. Do contrário, amostras podem che- gar ao laboratório em condições precárias, a ponto de impedir o trabalho de isolamento e identificação. As dicas a seguir são importantes para um bom resultado diagnóstico: Envio de peixes vivos e ou moribundos 1- Selecionar os peixes que exibem os sinais clínicos mais comuns dentro da população acometida; 2- Encher um saco plástico limpo e forte (preferencialmen- te usar dois sacos) com 2/3 de água fresca e aerada; 3- Acomodar o peixe na água. Peixes pequenos sobrevivem até 48hs em sacos plásticos, desde que a água seja mantida fria, limpa, aerada e com uma densidade adequada de peixe por litro de água. Como referência, pode-se usar 10 larvas ou 5 alevinos por litro de água; 4- Peixes pesando acima de 500g devem ser acondiciona- dos separadamente. Peixes menores podem ser agrupados em dois ou três por saco plástico; 5- Para manter a água resfriada, especialmente em con- dições tropicais e longas distâncias, usar sacos plásticos menores, fechados, com gelo triturado e colocar na água junto com o peixe; 6- Completar o saco com oxigênio puro ou ar comprimido; 7- Fechar o saco com elásticos de borracha bem apertados, evitando vazamentos; 8- Etiquetar claramente os sacos, de preferência usando etiquetas à prova-d´água. Não escrever diretamente nos sacos plásticos; 9- Acomodar os sacos plásticos em caixas isotérmicas. Usar uma camada bem distribuída de gelo debaixo e na sua parte su- perior dos sacos de peixe, antes de colocar a tampa da caixa; 10- A manutenção da temperatura baixa é crucial para a qualidade do material amostrado. O gelo em escamas ou triturado permite melhor distribuição do frio do que o gelo em cubos. Também podem ser usadas embalagens de gelo reusável; 11- Selar a caixa com fita adesiva resistente certificando que não há vazamentos; 12- Do lado de fora da caixa colocar uma folha com in- formações sobre o problema (quando começou a doença, espécies acometidas, quantos e como os peixes morreram, informações sobre a água do sistema, manejos, outras informações que julgar importantes); 13- Certificar com o despachante (transportadora, cia aérea, etc) se o material chegará ao lab dentro de 12 a 24 hs; 14- Avisar o laboratório sobre a previsão de chegada do material para as análises. Diagnóstico �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Diagnóstico Envio de peixe recém-morto 1- Não sendo possível amostrar peixes vivos ou moribundos, con- tactar o laboratório de referência antes de enviar qualquer outro material. Somente o profissional habilitado poderá decidir sobre a validade do material disponível. Para resultados confiáveis e corretos, seguir rigorosamente as instruções do profissional. "Exames bacteriológicos são delicados, demorados e muito sensíveis a contaminações. Os resultados dependem enormemente dos cuidados na coleta, remessa e manuseio do material" Coleta asséptica de amostras para bacteriologia Técnicas assépticas de amostragem são essenciais ao diagnóstico de doenças bacterianas. A qualidade da necrópsia e da coleta de material é dependente de um trabalho paciente, criterioso e consciente. Assim, somente um profissional bem treinado está em condições de cuidar desta etapa do diagnóstico. No laboratório, usando material e equipamentos adequados, os peixe são sacrificados, cuidadosamente examinados e têm seus órgãos e tecidos coletados para a investigaçao dos agentes causadores de enfermidades. Em outras palavras, amostras de lesões de pele, fragmen- tos de brânquias, rim, fígado e cérebro (Fotos 4 A, B, C, D, E e F) são assepticamente coletados, inoculados em placas com e identificação, até chegar ao diagnóstico definitivo. Em aqüicultura prevenir é (mesmo!) melhor que remediar Exames de saúde dos peixes são importantes não só na ocasião de surtos. Testes e exames preventivos são críticos para o controle e erradicação de doenças de animais aquáticos. Resultados de testes e exames são também importantes para atividades relacionadas à biossegurança, incluindo certificado de saúde, vigilância e programas de monitoramento de doenças, estudos epidemiológicos, identificação de doenças emergentes e respostas efetivas para emergências em saúde animal. Embora se saiba da existência de doenças em nossas pisciculturas, não reconhecemos a importância da sanidade até depararmos com mortalidades. Certamente que todos nós pro- dutores, técnicos e estudiosos reconhecemos a necessidade de manter patógenos longe das piscigranjas, mas, na prática, não temos avançado muito nas questões sanitárias da aqüicultura e várias doenças que vêm acometendo nossos peixes nunca che- gam a ser diagnosticadas. Isto se dá, na maioria das vezes, devido à carência de técnicos habilitados para orientar produtores na área de ictiossanidade e também para realizar a amostragens adequadas de material para análises. Por outro lado, são pou- cos os laboratórios especializados em doenças infecciosas de peixes, uma situação que está se revertendo, com a atuação de duas universidades mineiras, UFLA e UFMG, que implantaram labora- tórios especialmente dedicados ao diagnóstico de doenças infecciosas de peixes, ambos já em processo de credenciamento junto ao Ministério da Agricultura. O LIS - Laboratório de Ictiossanidade, integra o comple- xo laboratorial do LAQUA, um mo- derno laboratório de demonstração e pesquisa em produção comercial de peixes instalado na Escola de Ve- terinária da Universidade Federal de Minas Gerais. O LIS é respon- sável pelas pesquisas e assessoria na prevenção e diagnóstico de doenças de peixes para consumo ou ornamentais. O telefone do LIS é: (31) 3499-2126. meios de cultura convencionais e meios seletivos, incu- bados em estufa e avaliados periodicamente. As colônias isoladas passam, então, por testes de coloração, de triagem e por uma bateria de provas bioquímicas para identificação das bactérias. A confirmação dos agentes patogênicos é baseada nos testes acima, na comparaçãocom amostras bacterianas de referência, além do uso de kits comerciais de diagnóstico. Dependendo do tipo de bactéria, o processo de isolamento e identificação pode levar cerca de 20 dias já que certos microorganismos são de crescimento lento e exigem meios especiais para se multiplicar, de modo que é preciso paciência para cultivá-los, fazer seu isolamento A B C D E F Fo to : An dr é A. F er na nd es Foto 4 – Coleta de amostras de lesões na pele (A); brânquias (B); rim (C); fígado (D); cérebro (E) e, necropsia (F) �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Atenção no manejo dos peixes na saída do inverno Por: Fernando Kubitza, Ph.D. Acqua & Imagem - Jundiaí-SP fernando@acquaimagem.com.br E stamos chegando ao final do inverno nas regi-ões sul e sudeste, que neste ano foi marcado por uma grande alternância de frentes frias e perí- odos de elevação na temperatura. Em pisciculturas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em manhãs com geadas, foram registradas temperaturas da água entre 11 e 13oC, valores muito próximos do limite letal para espécies como as tilápias e os peixes redondos. Afortunadamente, estas baixas temperaturas não persistem por mais do que um ou dois dias, amenizando seu potencial letal para os peixes. Contudo, as baixas temperaturas deprimem o sistema imunológico, deixando os peixes muito mais susceptíveis às doenças. Além das baixas temperaturas, o déficit hí- drico devido à longa estiagem deste inverno acen- tuou os problemas em muitas pisciculturas. Com a escassez de água, muitas pisciculturas conviveram com elevadas concentrações de nutrientes, plânc- ton e resíduos orgânicos nos tanques de cultivo. Isso, além de favorecer a multiplicação de agentes patogênicos, freqüentemente submeteu os peixes à déficits de oxigênio e a exposições contínuas a elevadas concentrações de amônia e nitrito, debilitando ainda mais a condição e a saúde dos peixes, já agravada pelo frio. Neste inverno, muitos produtores experimentaram mortalidade devido à falta de oxigênio (particularmente nos dias em que se registrou elevação repentina na temperatura) ou ao aumento na incidência de doenças. O momento demanda cautela por parte dos produtores, transportadores de peixes vivos e proprietários de pesqueiros. Neste período de elevação na temperatura que marca a saída do inverno e a chegada da primavera é intensificado o manejo dos peixes, quer seja para iniciar os trabalhos de reprodução ou mesmo para retomar os volumes de comercialização, particularmente das espécies tropicais. ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 M anejo de Peixes Atenção ao manejo de reprodutores Em setembro os produtores de alevinos de diversas espécies de carpas (comum, capim, cabeça-grande e pratea- da), do catfish americano, do kinguiô e jundiás intensificam o manejo e a transferência dos reprodutores para tanques de reprodução ou cercados de reprodução natural, ou mesmo para o laboratório para a desova induzida. Os produtores de alevinos de tilápias também começam a esvaziar seus tanques e a transferir os reprodutores já no final de setembro e começo de outubro. O manuseio deve ser feito com muito cuidado, visto o frágil estado do sistema imunológico dos reprodutores após o inverno. Infecções bacterianas, fúngicas e mesmo virais são comuns em algumas espécies neste período, devido ao sistema imunológico debilitado pelas baixas temperaturas do inverno e ao estresse imposto na intensificação do manuseio. Além dos cuidados na realização das des- pescas e transferência dos peixes, devem ser adotadas medidas profiláticas durante a transferência dos peixes para outros tanques ou para o laboratório. Durante as transferências a água de transporte deve conter entre 6 e 8 kg de sal/1.000 litros. Banhos profiláticos com permanganato de potássio em doses de 4 a 6g/1.000 litros por um tempo de 30 minutos podem ser aplicados nas próprias caixas de transporte durante a transferência, auxiliando na prevenção de infecções por fungos e bactérias externas. Cuidados no manuseio dos alevinos e juvenis Os produtores que irão comercializar alevinos e juvenis que foram invernados devem dar preferência ao manuseio de peixes estocados em tanques que não expe- rimentaram problemas de qualidade de água durante o inverno. Além da baixa na imunidade devido ao frio, os peixes que foram freqüentemente expostos a baixos níveis de oxigênio e a elevadas concentrações de amônia e nitrito, particularmente em tanques com excessiva carga orgânica, sentirão muito mais o manuseio e transporte. Invariavelmente, estes peixes também passaram por restrição alimentar, devido à necessidade de res- tringir as taxas de alimentação para não agravar a qualidade da água nos tanques. Adicionalmente, também podem estar com maior carga parasitária do que peixes mantidos em ambientes com água de boa qualidade. Assim, antes de serem transportados, estes peixes precisam de um período de recuperação sob condições adequadas de qualidade de água e boa nutrição para que recu- perem sua condição de saúde. Na preparação dos alevinos e juvenis para o transporte pós-inverno, os produtores devem utilizar ração de alta quali- dade. Acrescentar vitamina C (cerca de 1g/kg) e mesmo um premix mineral e vitamínico às rações por 3 a 4 semanas antes do manuseio pode melhorar a tolerância ao manuseio e a sobre- vivência dos peixes pós-transporte. O uso de ração medicada com antibióticos por 4 a 7 dias antes do transporte também é Foto 2 – Monogenóides – helminto parasito isolado das brânquias do bagre do canal (microscópio aumento 40x). No detalhe monogenóides no aumento de 100x. uma prática eficaz para reduzir a mortalidade por infecções bacterianas após o transporte. O uso de sal na água de transporte (6 a 8g/litro) é uma prática que deve ser incorporada à rotina da pisci- cultura. Exames de rotina também devem ser feitos para verificar o grau de infestação dos alevinos e juvenis que serão transportados. Para estes exames, o produtor precisa de um microscópio e de treinamento para reconhecer os principais parasitos e avaliar a severidade das infestações. Caso não tenha conhecimento para isso, solicite os serviços de profissionais com experiência e procure se capacitar mais sobre o assunto através de publicações, cursos e de matérias como as apresentadas nesta revista. Infestações por tricodinas e monogenóides (Fotos 1 e 2) são comuns e podem comprometer severamente a sobrevivência dos peixes após o manuseio e o transporte. Foto 1 – Trichodina - protozoário ciliado isolado da pele no bagre do canal (microscópio aumento 100x). No detalhe a tricodina em aumento de 400x. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Durante a primeira semana os alevinos e juvenis recebi- dos devem ser alimentados preventivamente com ração medi- cada, para evitar a instalação de infecções bacterianas. . Foto 4 – Tilápia com infecção fúngica (saprolegniose) após manuseio em períodos de baixa temperatura. No detalhe, a imagem das hifas do fungo ao microscópio (aumento de 100x) Caso haja infestações por tricodinas, os peixes devem ser submetidos a um banho de 30 minutos com formalina em doses entre 80 e 100ml/1.000 litros. Tricodinas são facilmente controladas com a formalina. Este banho pode ser feito nos tanques de depuração ou nas próprias caixas de transporte após o carregamento dos peixes. No caso do tratamento ser feito nas caixas de transporte, após o banho a água das caixas deve ser trocada e novamente deve ser adicionado o sal. Algumas espécies de monogenóides podem ser controladas com o banho de formalina. No entanto, outras são tolerantes a este produto.Verifique alguns peixes após o tratamento para ver se este foi eficaz. Caso a infestação por monogenóides não tenha diminuído com o banho de for- malina, consulte um técnico experiente sobre outras opçõesde tratamento. O produtor que lançar mão de banhos com forma- lina deve ficar atento à presença de um precipitado branco, o p-formaldeído, nas embalagens de formalina. O p-formaldeído é extremamente tóxico aos peixes e a sua formação nas emba- Atenção no manejo de peixes para pesca Os piscicultores que atendem os pesque-pagues com tilápias, peixes redondos e outras espécies tropicais não devem se precipitar e despescar seus estoques logo nos primeiros sinais de elevação das temperaturas no final do inverno. Neste momento, o sistema imunológico dos peixes está no nível mínimo de atividade. Assim, o manuseio e transporte neste período de águas com tem- peraturas amenas (20-24oC) irão debilitar ainda mais as condições do peixe, deixando os muito mais vulneráveis às doenças fúngicas e bacterianas após o transporte e estocagem nos pesque-pagues. Rações medicadas não devem ser usadas, visto que comumente estes peixes são capturados e consumidos nos dias seguintes à estocagem, não havendo tempo suficiente para a eliminação dos medicamentos da carne. Portanto, é prudente iniciar o manejo apenas após as temperaturas da água terem se mantido por um período de pelo menos 30 dias na casa dos 22-24oC. Isso permitirá aos peixes restaurar parte da atividade dos seus mecanismos de defesa e tolerar melhor o manuseio envolvido na despesca, carregamento, transporte e estocagem nos tanques de pesca. Ainda assim, antes de ir fundo na comercialização de todo o estoque pronto, é bom verificar os resultados de sobrevivência pós- transportes das primeiras cargas enviadas e dos peixes que ficaram nos tanques da piscicultura após o manejo. Infecções pelo protozoário Epistylis e pelo fungo Saprolegnia (Fotos 4 e 5) são comuns na saída do inverno e durante o início da primavera e podem resultar em severa mortalidade, difícil de ser impedida ou controlada com o uso de medicamentos. M anejo de Peixes Foto 3 – Estocagem de juvenis de bagre do canal em tanque de engorda após tratamento com permanganato de potássio dentro da própria caixa de transporte lagens ocorre sob baixas temperaturas (ou seja, nos meses de inverno) e com a presença de luz (em embalagens transparentes). Este precipitado deve ser separado da formalina para que esta seja utilizada. No momento da compra da formalina, verifique a presença deste precipitado na embalagem e recuse o produto se este estiver presente. Armazene o produto em embalagens escuras e em local protegido de luz e abrigado do frio durante o inverno. Após o transporte os peixes ainda podem ser submetidos a um banho profilático com permanganato de potássio (4 a 6g/1.000 litros por 30 minutos) antes da estocagem nos tanques de cultivo (Foto 3). �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 tilápias e carpas cabeça-grande), uma hora após finalizado o carregamento a água das caixas de transporte deve ser trocada para eliminar o máximo possível as fezes que, em função do estresse do carregamento, são eliminadas em sua maioria nesta primeira hora. Outra boa prática é o uso do deslocamento de água para estimativa das cargas de peixes no transporte, eliminando a pesagem dos peixes durante o carregamen- to e o descarregamento. Estas pesagens são totalmente desnecessárias quando há conhecimento técnico por parte do produtor e do transportador e confiança entre o transportador e o proprietário do pesqueiro. Cada 100 litros de água deslocada equivale a cerca de 96 a 98kg de peixes. Isso pode ser facilmente conferido pelos pro- dutores e transportadores, pesando uma carga de peixes e verificando o deslocamento de água em escalas colocadas nas paredes internas das caixas (ou ainda escalas nas paredes externas, ao lado de uma mangueira transparente de nível que se comunique com a água no interior das caixas (Foto 6). A eliminação das pesagens reduz tremendamente os danos físicos aos peixes e o tempo de carregamento e descarregamento. Foto 6 – Régua de alumínio e mangueira plástica transparente fixadas na parede externa de caixa de transporte para estimativa da carga de peixes por deslocamento de volume Foto 5 – Bagre do canal com infecção pelo protozoário Epistylis e pelo fungo Saprolegnia na nadadeira dorsal. No detalhe, a imagem de uma colônia de Epistylis em aumento de 100x no microscópio. Cautela no transporte de peixes vivos Os transportadores de peixes e os proprietários dos pes- que-pagues também devem compreender a delicadeza deste momento e agir com cautela, principalmente na compra de tilápias e peixes redondos no início da primavera. Devem dar preferência aos fornecedores que alimentam seus peixes com ração de boa qualidade, que acompanham e corrigem a qualidade de suas águas e àqueles que estão mais próximos dos pesqueiros, evitando transportes muito longos e demorados que debilitam ainda mais a condição dos peixes. O uso do sal no transporte em doses de 6 a 8kg/1.000 litros de água, além de amenizar o estresse osmoregulatório, reduz a severidade de ocorrência de infecções fúngicas nos peixes após a operação. Quanto mais longo o transporte, mais severo serão os desequilíbrios osmoregulatórios, fazendo com que os peixes se hidratem demasiadamente e percam significa- tivas quantidades de sais do sangue para a água. Dependendo da espécie, os desequilíbrios osmoregulató- rios podem se manter por períodos de 7 a 14 dias após o manu- seio, sendo este um importante fator de agravo da mortalidade dos peixes após o transporte. O sal deve ser colocado antes do início do carregamento dos peixes. Uma caixa de 1.000 litros deve estar com o nível de água entre 600 e 700 litros se for receber uma carga de peixes de 300kg. Praticamente, haverá um deslocamento de 1litro de água para cada quilo de peixe colocado na caixa. Assim, algo entre 4 e 5 kg de sal deve ser colocado na caixa com 600 a 700 litros de água. O jejum antes do transporte é fundamental para au- mentar a tolerância ao manuseio e a sobrevivência dos peixes após o transporte. Muitas bactérias patogênicas se encontram alojadas no intestino dos peixes e são eliminadas junto com as fezes, o que favorece a ocorrência de infecções bacterianas após o transporte. Quando não for possível realizar um jejum eficaz antes do transporte (no caso de peixes filtradores como as "O jejum antes do transporte é fundamental para aumentar a tolerância ao manuseio e a sobrevivência dos peixes" M anejo de Peixes M anejo de Peixes �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Mesmo tomando todos estes cuidados, os produtores devem estar cientes de que não há uma receita salvadora quando os peixes estão muito debilitados por problemas de qualidade de água e quando o manuseio empregado é grosseiro. O melhor procedimento é adotar boas práticas de manejo durante a produ- ção e, nesta próxima safra e nas futuras, evitar repetir os erros cometidos no passado. Pois bem, mais uma primavera está chegando e com ela o início de uma nova safra. Este é o momento em que os produtores se enchem de esperanças de alcançar resultados melhores do que os obtidos em anos anteriores. Além das promessas feitas por qualquer cidadão comum no início de cada ano, como quitar todas as dívidas, parar de fumar, trocar de carro e de sogra, ma- nerar na comida e perder alguns quilinhos (ou arrobinhas), dar mais atenção aos filhos, matricular-se em um curso de inglês, aprender a usar o computador, blá, blá, blá e blá, blá, blá, os produtores também prometem a si mesmo que não cometerão os mesmos erros de safras passadas que, além dos prejuízos finan- ceiros, frustraram as expectativas suas e de todos os funcionários envolvidos no processo produtivo. Assim, esta na hora de cada um dar mais de si, além do total empenho e desprendimento, para alcançar os tão esperados resultados. Não é possíveldeixar o destino dos empreendimentos nas mãos do acaso. A aqüicultura hoje exige muito mais pro- fissionalismo do que exigiu no passado. Não há mais espaço para erros primários na produção. Os produtores, os transpor- tadores e todos os demais profissionais envolvidos no setor devem buscar mais capacitação, visto que dependem disso para melhorar a qualidade do seu trabalho e os lucros dos seus negócios. Hoje há uma grande quantidade de informações so- bre aqüicultura disponível na internet, revistas especializadas, revistas científicas e em livros técnicos. Há ainda um grande número de seminários, congressos, dias de campo e cursos de capacitação sendo realizados todos os anos em diversas regiões do país, particularmente em localidades com vocação para a aqüicultura. Portanto, não dá mais para apontar culpados ou inventar justificativas para acobertar o próprio despreparo e amadorismo em relação à atividade. "A aqüicultura hoje exige muito mais profissionalismo do que exigiu no passado. Não há mais espaço para erros primários na produção" M anejo de Peixes �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Aparas da filetagem da tilápia se transformam em polpa condimentada Um produto de qualidade testado e aprovado na merenda escolar Por: Rose Meire Vidotti –Instituto de Pesca de São José do Rio Preto - rosevi@pesca.sp.gov.br Mirela Simões Maroneza Borini - Zootecnista msmaroneze@yahoo.com.br O s resíduos resultantes da filetagem da tilápia representam, em média, 70% do peso total do peixe inteiro. A cabeça, carcaça e vísceras constituem 54% dos resíduos, a pele 10%, escamas 1% e, as aparas dorsal e ventral e do corte em “v” do filé, 5%. Atualmente esses resíduos, com exceção das escamas, estão sendo destinados à produção de farinha e óleo de tilápia, utilizados na fabricação de rações para peixes, suínos e aves. As aparas, porém, são partes do próprio filé que são obtidas em decorrência do toalete para a padronização do seu formato (Figura 1). Assim, uma planta de filetagem que processa 6 toneladas/dia, obtém 300 kg/dia de aparas, uma matéria-prima de alta qualidade capaz de gerar um excelente produto para consumo humano. Cardápios elaborados com a “polpa condimentada de tilápia”, obtida com as aparas moídas e homogeneizadas em equipamento simples e de baixo custo, já fazem parte da merenda escolar na região de São José do Rio Preto – SP, e são tema deste artigo. A A B A B ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Aparas da filetagem da tilápia se transformam em polpa condimentada A qualidade das aparas As aparas dorsal, ventral e do corte em “v” representam em média 5% do peso dos peixes abatidos. Desse total de aparas, cerca de 15% são provenientes do corte em “v” para a retirada de espinhos remanescentes no filé, e 85% são provenientes do corte dorsal e ventral para a sua padronização. Para o desenvolvimento de produtos para consumo aproveitando essas aparas, foram realizadas análises visando conhecer as características quantitativa e qualitativa desse material, cujos valores estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Composição centesimal das aparas dorsais e ventrais e do corte em “v” obtidas na toalete do filé de tilápia e da fração lipídica O teor protéico das aparas do corte em “v” é maior que o das aparas dorsais e ventrais (17,6% e 12,6% de PB, respectivamente), e ambos os teores estão de acordo com o que é estabelecido para produ- tos comestíveis de origem animal. A fração lipídica aparece em maior quantidade nas aparas dorsais e ventrais, quando comparada com a do corte em “v”. Sendo que no corte em “v” os ácidos graxos que aparecem com predominância são os monoinsaturados, seguido pelos saturados e poliinsaturados, na proporção de: 0,87:1:0,22, respectivamente. Assim como no corte em “v”, nas aparas dorsal e ventral predominam os ácidos graxos monoinsaturados seguido pelos saturados e poliinsaturados, na proporção de: 0,74:1:0,29, respectivamente. Dentre os ácidos graxos saturados predomina o palmítico e dentre os monoinsaturados o oléico, que são adequados para a saúde humana. As aparas resultantes dos cortes em “v” apresentam baixo teor de colesterol, onde 100g de produto apresenta 16% da recomendação diária (300mg/dia). Já as aparas dos cortes dorsal e ventral do filé apre- sentam um teor maior de colesterol, quando comparado com o corte em “v”, onde em cada 100g é possível obter 33% da recomendação diária de colesterol. As aparas do corte em “v” apresentam maior teor de minerais devido aos espinhos que apresentam, no entanto encontram-se adequados e conferem qualidade ao produto. Produção da polpa condimentada de tilápia Para a padronização do produto adotou-se uma proporção conhe- cida de aparas para a obtenção de uma polpa com qualidade nutricional e boas características sensoriais como sabor, textura e maciez. Após a pesagem das aparas dorsal, ventral e do corte em “v” estas são ho- mogeneizadas e moídas para posterior preparo da polpa. (Figura 2 A, B e C) Processam ento Figura 2 – Moedor e homogeneizador de carne utilizado para moer as aparas do filé a) equipamento b) aparas sendo homogeneizadas c) moagem das aparas �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Foram elaborados e avaliados vários extensores (extender) aplicados na polpa de peixe com a finalidade de conferir a textura desejada à massa formada, promo- vendo ainda o aumento da capacidade de retenção de água. O melhor extensor encontrado foi o que contém em sua formulação a farinha de trigo fortificada com ferro e ácido fólico, proteína de soja, sal refinado, condimentos, maltodextrina, especiarias, aromatizante, realçador de sabor glutamato monossódico, antioxidan- te eritorbato de sódio e antiumectante, ou seja, amidos, proteínas, condimentos e conservantes. Assim, foi obtida uma polpa condimentada com alta flexibilidade de obtenção de produtos, tanto no preparo de pratos domésticos, como no cardápio institucional, assim como na industrialização dos produtos semiprontos. Depois de pronta, a polpa condimentada é armazena- da congelada, embalada em placas de 1 kg, conforme apresentado na figura 3. Figura 3 – Embalagem de polpa condimentada congelada Figura 4: Produtos empanados semi-prontos elaborado com a polpa condimentada: a) kafta; b) nugets; c) steak C A B A introdução da polpa na merenda escolar O trabalho com a Prefeitura do Município de Buritama foi iniciado em março de 2006, quando a polpa condimentada foi apresentada à nutricionista Francis Marta Dorti Rosante bem como as especificações nutricionais, que podem ser vistas na tabela 2. * % Valores Diários com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8.440 kJ. Tabela 2 – Informações nutricionais da polpa condimentada O passo seguinte foi o preparo das receitas na cozinha piloto da prefeitura, para treinamento e avaliação das merendei- ras e dos alunos, considerando diferentes faixas etárias: 4 a 6, 7 a 11 e 12 a 17 anos. A avaliação da aceitação foi medida pelas sobras nos recipientes onde estavam sendo servidas, tendo sido mais aceita na menor faixa etária (4 a 6). Os testes iniciais, realizados em maio de 2006, evidencia- ram que era baixa a aceitação pelas crianças de um alimento a base de pescado, o que levou a prefeitura a solicitar um trabalho de orientação e esclarecimentos sobre a importância do peixe na alimentação. Foi preparada então uma apresentação didática para ser apresentada às escolas do município mostrando como as tilápias são produzidas e quais as partes do peixe que são aproveitadas para a obtenção da polpa condimentada, além de outras informações relevantes relacionadas com a importância do consumo de peixes desde a fase escolar até a velhice. Após Pr oc es sa m en to Em uma unidade experimental de empanados foram preparados alguns produtos empanados semiprontos. Esses produtos (Figura 4), porém, necessitam, na maioria das vezes, de serem fritos, o que inviabilizaa sua utilização na merenda escolar, uma vez que há restrições na utilização desse tipo de preparo. Assim, com o objetivo de atender a merenda escolar na Região de São José do Rio Preto, foram elaborados vários cardápios utilizando a polpa, tendo sido escolhido e apresentado às merendeiras o molho para macarronada, almôndegas em molho cozidas com batata e hambúrgueres para serem assados. ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Processam ento Figura 5: Pratos adequados à merenda escolar elaborados com a polpa condimentada. a) Molho para macarronada b) Almôndegas em molho c) Hambúrguer para assar A B C a apresentação nas escolas procedeu-se novamente o forneci- mento da polpa na merenda e, além da aceitação ser mensurada pela sobra, avaliou-se também o grau de aceitação através de uma ficha simplificada de análise sensorial, conforme modelo exemplificado na figura 6. Figura 6 - Ficha (escala hedônica) para teste de aceitabilidade O resultado, após cinco meses de trabalho, foi a feliz constatação da boa aceitação da polpa na merenda escolar e a importância do trabalho de educação alimentar para alunos, cozinheiras e professores. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), im- plantado em 1955 pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), garante por meio da transferência de recursos financeiros, a alimentação escolar dos alunos da educação infantil (creches e pré-escola) e do ensino fundamental matriculados em escolas públicas e filantrópicas. Este mesmo Programa regulamenta que para a introdução de um novo produto na merenda escolar, é necessário que haja aceitabilidade do alimento superior a 85%, garantindo o direito da alimentação diária pelo aluno. Neste sentido, verificamos que apesar do pouco tempo de trabalho, da dificuldade encontrada anteriormente pelas Prefeituras na introdução do peixe na merenda escolar e a falta de hábito da nossa população no que se refere ao consumo de peixe, a polpa conquistou bons resultados de aceitação. Segundo testes realizados em quatro pequenos municípios da região (Buritama, Zacarias, Lourdes, Brejo Alegre e Coroados) observou-se aceitabilidade média de 90% nas creches, 87,5% nas escolas de 1ª a 4ª série, 77% nas escolas de 5ª a 8ª série e de 82% no ensino médio (1º, 2º e 3º colegial). Para melhorar esses índices, o empenho do município e das nutricionistas se torna ferramenta indispensável para o sucesso absoluto da introdução desta nova e rica fonte de proteína animal na merenda escolar de nossos alunos. Competitividade da polpa A importância deste projeto não se deve apenas às vantagens que traz para os frigoríficos através do melhor apro- veitamento da matéria prima, mas também ao incremento da qualidade nutricional da merenda escolar associado ao baixo custo e alto rendimento da polpa condimentada de tilápia. A polpa será comercializada a R$ 4,90/kg, um custo igual ou inferior à carne vermelha (bovina), possuindo ainda valor nutricional e rendimentos superiores as demais carnes utilizadas pelas Cozinhas Piloto. Em Buritama - SP, para o preparo de 40 kg de macarrão utilizou-se 25 kg de polpa condimentada, ao contrário dos usuais 60 kg de carne moída bovina, e ainda, para o preparo da mesma quantidade de uma mesma refeição, utilizou-se 50 kg de polpa de tilápia substituindo os 80 kg de carne moída, ambas preparadas com batatas. A metodologia até então utilizada para a introdução da polpa de tilápia em pequenos municípios deverá sofrer, porém, alterações quando o trabalho for realizado junto a Prefeituras com população superior a 100 mil habitantes. Nestes casos, a avaliação deverá ser feita por amostragem e a apresentação repassada nas escolas através de agentes multiplicadores, prática bastante comum em qualquer trabalho de educação alimentar realizado em municípios maiores. Ao longo da realização do presente trabalho, foi possível perceber que as nossas crianças estão cada vez mais exigentes e seletivas, porém, também estão mais bem instruídas e cons- cientes dos cuidados necessários para uma vida saudável. A partir desta experiência é possível afirmar que se educarmos as crianças a comerem peixe regularmente nas escolas isso passará a ser um hábito cultural na mesa do brasileiro. Despolpadeira Outra consideração relevante é o aproveitamento integral do pescado com investimentos planejados, uma vez que para a produ- ção da polpa condimentada feita com as aparas é necessário apenas como investimento inicial um moedor/homogeneizador de carne. Com a ajuda de uma despolpadeira, a carne aderida à carcaça pode ser aproveitada como CMS – Carne Mecanica- mente Separada. A recuperação dessa carne representa 17,4% em relação ao peso médio de abate dos peixes. Isso, somado aos 5% referentes às aparas obtidas após a toalete do filé, perfazem um total possível de 22,4% em relação ao peso médio de abate, de um produto extremamente versátil nas formas de preparo e mercados como: varejista, bares e restaurantes, institucionais (merendas, restaurantes universitários, presídios, etc.). Agradecimentos: Este trabalho está sendo desenvolvido em parceria com as empresas: Tilápia do Brasil, Moinhos Romariz, C.A.F. e Luiz Henrique Barrochelo, Gerente Industrial da Tilápia do Brasil. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 E m Santa Catarina, o cultivo de mexilhões (Perna perna, Linnaeus,1758) aumentou de 150 toneladas/ano em 1991 para 12.000 toneladas/ano em 2000, tornando-se uma importante atividade, com forte impacto sócio-econômico em comunidades de pescadores artesanais. No início dos cultivos, os produtores recorreriam exclusivamente à raspagem dos costões rochosos para a obtenção de sementes (mexilhões juvenis). Segundo dados da EPAGRI, em 2002, passados dez anos de crescimento, a produção experimentou a primeira queda, tendo sido contabilizadas 10.000 toneladas naquele ano. Isto se deu devido ao aumento de controle por parte das autoridades ambientais e da limitada oferta de sementes, em função do grande aumento do número de mitilicultores, bem como da produção nos anos anteriores. A falta de fontes alternativas de sementes restringiram o crescimento da atividade além das 10.000 ton/ano, já que a recuperação de estoques naturais de mexilhões em costões é um processo lento, que envolve a interação de diversos organismos, podendo demorar de 8 a 10 anos. As alternativas tecnológicas seriam a produção de sementes em laboratório ou o uso de co- letores de sementes. Optou-se pela instalação dos coletores em diversas comunidades catarinenses e, como resultado, em 2005 já foi possível reconquistar o volume de 12.000 toneladas. Por: Jaime Fernando Ferreira (LMM-UFSC) – jff@cca.ufsc.br Francisco Manoel de Oliveira Neto (CEDAP-EPAGRI) Adriano Cassiatore Marenzzi (UNIVALI) Cláudio Turek (UNIVILLE) Rafael Tiago da Silva (LMM-UFSC, PG AQI-UFSC) A larvicultura em laboratório para a produção de sementes de mexilhão, é utilizada em alguns países como alternativa para garantir a produção em locais com captação irregular, para a repro- dução de espécies exóticas ou, quando se pretende realizar seleção genética. No entanto, é uma produção dispendiosa, ainda mais se considerarmos espécies nativas que apresentam amplos estoques naturais, como é o caso do mexilhão Perna perna, no Brasil. Sendo assim, o uso de coletores é a alternativa mais sustentável do ponto de vista ambiental e econômico. Além disso, o uso de coletores elimina os riscos e perigos de acidentes associados à coleta nos costões, que são áreas expostas ao forte batimento de ondas. A utilização de coletores, no entanto, é uma prática difícil de aplicar no início de cultivos artesanais, principalmente em co- munidades pesqueiras, tipicamente extrativistas. O Perna perna é uma espécie que começou a ser cultivada recentemente carecendo, portanto, de informações básicas sobre diversosaspectos biológi- cos relacionandos à ocorrência de desovas, dispersão, transporte de larvas e assentamento de pós-larvas no ambiente marinho. Faltam também informações sobre as desovas em diferentes áreas de cultivo, sobre os melhores materiais a serem empregados para a captação de sementes, sobre as melhores épocas e locais para instalação dos coletores e sobre a quantidade de sementes que podem ser obtidas por metro linear de coletor. Coletores de sementes de mexilhão A opção do mitilicultor catarinense para retomar o crescimento da produção �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 M it ili cu lt ur a Outro problema de aplicação dessa tec- nologia pode ser a demora na obtenção das sementes, já que os coletores devem ser coloca- dos cerca de um mês antes da desova, devendo permanecer na água até que as sementes atinjam pelo menos 2 cm (Foto 1), o que pode levar de 4 a 6 meses. Além disso, a irregularidade na captação, provocada por variações nas condições climáticas, pode causar dificuldades quanto às quantidades de sementes obtidas. No caso do Perna perna, que tem desovas ao longo de todo o ano dependente das variações de temperatura, a irregularidade de produção é ainda maior já que, não ocorre concentração de sementes em um único período. Isso faz com que seja neces- sário um acompanhamento constante, ano a ano, por parte do produtor, para determinar a época correta de colocação dos coletores. Tipos de coletores Os coletores de sementes de mexilhão devem sempre apresentar uma região filamentosa (onde se fixam as larvas para metamorfose), com uma base mais sólida (onde ocorre a fixação defini- tiva). Em diversos países, para baratear os custos, os coletores são montados com materiais reutilizáveis, principalmente materiais sintéticos como polipropi- leno e polietileno, que podem ser reutilizados por vários anos. Usa-se também cordas ou trançados de fibras vegetais (não reutilizáveis) bem como são aproveitadas redes de pesca descartadas da pesca artesanal e da pesca industrial. Foto 1- (A) Aspecto de pré- sementes de 600 a 1000 µm e (B) sementes de 2 a 3 cm do mexilhão Perna perna Em Santa Catarina, por orientação dos órgãos de pesquisa e exten- são e por iniciativas próprias dos produtores, têm sido utilizados coletores (Foto 2) de polietileno filamentosos tipo “árvore de natal”; de polietileno desfiado; trança de redes de pesca multifilamento e cabos de polietileno envoltos em redes de pesca monofilamento. Locais de colocação De maneira geral, os locais de boa captação são determinados em- piricamente (por tentativa e erro) ou, com base em informações locais sobre a existência de fixação de sementes em bóias e outras estruturas próximas às áreas de cultivo. Raramente são encontrados coletores distantes de áreas de cultivo (engorda), mesmo porque, a proximidade de indivíduos adultos facilita a fixação. Foto 2- Aspecto geral dos coletores em teste: a- industrial tipo árvore de Natal (Itacordas); b- artesanal de cabo de polietileno recoberto com rede monofilamento; c- artesanal de rede de pesca multifilamento trançada; d- industrial de cabo de polietileno desfiado (BlueWater); e- industrial tipo árvore de Natal (Mazzaferro). Foto 3- (A) Sistema de colocação de coletores em espinhel duplo com flutuadores de PVC BA Foto 3- (B) Sistema de co l e to r l ongo , confeccionado com um coletor sustentado por flutuadores individuais de plástico ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 M itilicultura Da mesma forma, é rara a colocação de coletores pró- ximo aos estoques naturais, devido à exposição ao batimento de ondas, que dificulta a sua instalação e manutenção. A captação ocorre em diferentes profundidades, de- pendendo das características geográficas, hidrodinâmicas e da biologia da espécie a ser cultivada. No caso de Santa Catarina, diversos experimentos têm mostrado, para Perna perna, preferência de captação nos primeiros 50 cm a partir da superfície do mar. Em Santa Catarina a colocação dos co- letores tem sido feita em paralelo à superfície, em sistemas de espinhéis duplos ou de PVC, ou em sistemas de linhas únicas formadas pelos próprios coletores e sustentadas com flutuadores individuais (Foto 3). Esses mesmos coletores podem ser utilizados de várias outras formas, tais como enrolados em estruturas de quadros ou pendurados em espinhéis duplos de cultivo (como na Nova Zelândia), pendurados em balsas ou espi- nhéis simples de cultivo (como no Chile, Espanha e Cana- dá), ou colocados em áreas mais rasas, próximas a áreas de cultivo em sistemas de mesas ou estacas (como na França). A partir dessas idéias básicas, os produtores desenvolvem outras, adaptadas às condições locais de cultivo. Avaliação dos coletores O coletor do tipo árvore de Natal com grande área filamentosa, tem se mostrado compacto e leve, propor- cionando um aumento substancial da área disponível para assentamento por metro linear de coletor. Esse modelo tem mostrado excelentes resultados em outras partes do mun- do. Em Santa Catarina, esse tipo de coletor (fabricado por empresas brasileiras) tem se mostrado muito eficiente na captação de larvas durante a fase de metamorfose, manten- do indivíduos até aproximadamente 1cm de comprimento. Nesses coletores tem sido possível a captação de mais de 2.000 indivíduos por metro linear. Devido a problemas de confecção, no entanto, ainda não se atingiu boa manutenção de mexilhões até a fase de 2 a 3 cm, e apresentam baixa durabilidade (deteriorando-se com 6 meses no mar) e pouco reaproveitamento, se comparados como os do mesmo tipo, confeccionados no exterior. Os coletores de cabo de polietileno desfiados, apre- sentam captação baixa, mas podem manter os animais até a fase de semente, com boa durabilidade, boa taxa de rea- proveitamento e facilidade de retirada das sementes. Os coletores de cabo de polietileno envoltos por redes de pesca monofilamento apresentam-se com boa captação e manutenção de sementes, sendo de fácil retirada das mes- mas mas, tendo necessidade de serem parcialmente refeitos quando forem reutilizados. Os coletores de tranças de rede multifilamento apre- sentam boa captação, com excelente taxa de manutenção de animais até a fase de semente (2 a 3 cm) e ótima taxa de re- aproveitamento. No entanto, apresentam mais dificuldade de retirada de sementes pequenas quando a captação for baixa. Foto 4 – Aspecto de coletor de rede trançada com alta fixação (acima) e, com baixa fixação (à direita) Foto 5 - Aspecto de coletor de rede multifilamento trançada em início de colocação (abaixo), e ao final de seis meses no mar (à direita) Assim, são bons para retirada de sementes pequenas quando ocorre grande fixação (de 500 a 1.000 indivíduos por metro) (Foto 4 A) mas, em fixações menores (Foto 4 B), têm que ser mantidos na água até que os mexilhões atinjam cerca de 5 a 6 cm, para o desdobre. Podem ser utilizados em baixas fixações (menos de 500 indivíduos por metro linear) como cordas definitivas, deixando-se os animais crescerem diretamente no coletor até a fase de colheita (Foto 5). �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Características do Ciclo Sexual O mexilhão Perna perna é considerado uma es- pécie estritamente dióica (órgãos reprodutores mascu- linos e femininos em indivíduos distintos, unissexuais), que inicia a maturação já com 2 cm, com a primeira desova em torno de 5 cm. Não há descrição de dimorfismo sexual exter- no, de forma que machos e fêmeas não podem ser, até o presente, distintos por características externas. No entanto, após a abertura das conchas, a separação entre machos e fêmeas é possível graças à diferen- ça de coloração dos tecidos gônádicos dos animais sexualmente maduros. Nos machos esses tecidos apresentam coloração branco-leitosa e, nas fêmeas vermelho-alaranjado. Através da observação macroscópicae estudos microscópicos do tecido reprodutivo de animais madu- ros sexualmente, caracterizam-se os estádios do ciclo sexual (*) (Foto 6), resumidos a seguir: Estádio IIIA - Manto bastante espesso, com os folículos totalmente repletos de gametas. Nessa fase os animais reagem facilmente a alterações de fatores abióticos do ambiente (como tem- peratura e salinidade), com a eliminação de gametas. De forma prática, o tecido gonádico fica com aspecto muito homogêneo, não sendo possível visualizar os canais gonádicos; ao se seccionar o animal ou o próprio tecido, ocorre a liberação imediata de grande quantidade de fluido gonádico. É possível, em alguns casos, a visualização de aspecto floculado, principal- mente nas fêmeas, que representam os folículos em máximo desenvolvimento. Esse é o animal conhecido na prática como “gordo”. Estádio IIIB - Fase em que os folículos encon- tram-se parcial ou totalmente vazios. Manto pouco espesso e, de acordo com o grau de es- vaziamento, pode tornar-se até completamente transparente. É o animal “magro”. Estádio IIIC - Fase de gametogênese, havendo a restauração dos folículos. Os animais apresentam as cores típicas para cada sexo, porém mais ate- nuadas do que em IIIA. De forma prática, a defi- nição dessa etapa é caracterizada pela presença de tubulações gonádicais (canais) evidentes e a não eliminação de fluido após secção do tecido. Além disso, pode ocorrer a presença de grumos esbranquiçados, mais evidentes nas fêmeas, re- presentando fase de acúmulo de glicogênio. Acompanhamento do ciclo Para uma boa eficiência de captação de sementes com coletores em ambiente natural é fundamental o acompanha- mento do ciclo sexual. O ciclo reprodutivo de moluscos pode ser identificado, principalmente, através de observações de desovas no ambiente natural ou em laboratório, acompanha- mento do desenvolvimento do tecido gonádico (macro e mi- croscópico), fixação de larvas no ambiente natural e presença de larvas na coluna d’água. Esse ciclo envolve processos de crescimento (folicular e gamético), maturação dos gametas, desova e recuperação (gametogênese). O ciclo varia muito de- pendendo da espécie e, para uma mesma espécie, dependendo das variações climáticas, em particular da temperatura . Várias são as formas de acompanhamento do ciclo. Algumas dependentes de análise de laboratório, rápidas ou demoradas, enquanto outras podem ser feitas na prática, com simples observação ou com medições realizadas com instrumentos disponíveis a qualquer maricultor. As formas de laboratório podem envolver análises demoradas de histologia (aspecto microscópico do tecido reprodutivo) ou mais simples, de determinação de “Índice de Condição” (relação do espaço que a carne ocupa dentro da concha). Para as formas mais simples, basta a observação ma- croscópica como descrita no item anterior e a porcentagem de carne cozida em relação ao peso total (medida geralmente utilizada pela indústria de processamento). Em diversos experimentos para Perna perna em Santa Catarina, determinamos que existe grande grau de coincidência entre essas diversas formas de avaliação, Foto 6 - Estádio IIIA do ciclo sexual em mexilhões Perna perna sexualmente maduros, apresentando animais completamente cheios (repleção do tecido reprodutivo). (A) fêmea e (B) macho M itilicultura (*) Primeiramente descritos por João Edmundo Lunetta em 1969 - Bol. Zool. e Bio. Mar., v26, p. 33-111 �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ao longo do ano (no gráfico à direita). Assim, quando os animais apresentam tecidos reprodutivos com uma determi- nada característica morfológica, também seguem o aspecto macroscópico apre- sentado no ítem anterior, um “Índice de Condição” compatível e, porcentagem de carne equivalente. Peso total Peso da carne cozida x 100 2- Acompanhamento diário da temperatura do mar na área de cultivo com termômetro simples de 0 a 50oC. As medidas devem ser sempre tomadas em uma mesma hora (por exem- plo, sempre às 10:00 horas da manhã). 3- Acompanhar o aspecto macroscópico do tecido reproduti- vo em cerca de 30 animais (de 7 a 8 cm) a cada semana ou, As considerações nesse artigo são resultantes de vários trabalhos que vêm sendo desenvolvidos em Santa Catarina por diferentes instituições, condensados atualmente em projeto financiado pelo CNPq/SEAP, onde se integram a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e a Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE). Esse trabalho está em andamento ao longo das principais áreas de produção de mexilhões de Santa Catarina, junto a produtores dos municí- pios de São Francisco do Sul, Penha, Bombinhas, Governador Celso Ramos, Florianópolis e Palhoça. Exemplo de comportamento do ciclo sexual de mexilhões Perna perna, para uma mesma área, avaliado por diferentes metodologias 0 5 10 15 20 25 30 35 JU L A G O A G O S E T S E T O U T O U T N O V N O V D E Z D E Z JA N JA N F E V F E V M A R M A R A B R A B R M A I M A I JU N JU N JU L MES 0 5 10 15 20 25 30 35 IC % % CARNE COZIDA I C pelo menos, a cada quinze dias, registrando o grau de maturação (vazio, intermediário ou cheio). Assim que for percebida mudança de animais vazios passando a intermediários e cheios, seguida de porcentagem de carne variando de 20 a 25 % e a temperatura começar a aumentar, é a época que precede a desova e, portanto, hora de colocação dos coletores no mar. Análise Final Em Santa Catarina essas características acontecem, de forma geral, em vários períodos do ano como de abril para maio; julho; fim de setembro; fim de novembro e, de fim de dezembro a início de fevereiro. Potencialmente todos esses períodos seriam bons para colocar coletores, mas, em função da temperatura (alta no verão), menor predação das sementes por peixes, maior período de captação seguida, o melhor período para colocação dos coletores tem sido do final de agosto ao início de novem- bro, de forma escalonada (um pouco de coletor de cada vez ao longo desse período). Isso tem permitido a obtenção de sementes prontas para engorda (2 a 3 cm) de fevereiro a maio. o gatilho para a desova do Perna perna. O acompanhamento da temperatura pode ser feita com um termômetro simples com variação de 0 a 50 oC. Como forma de acompanhar de forma simplificada o desenvolvimento do ciclo sexual ao nível de produtor, pode ser utilizado a metodologia descrita abaixo : 1- Acompanhamento quinzenal ou semanal da variação de porcentagem de carne cozida em relação ao peso total fresco com concha. a- Utilizar aproximadamente 30 mexilhões (cerca de 1 kg) adultos (7 – 8 cm), coletados ao acaso na área de cultivo; b- Limpar, cortar o bisso, secar a concha com papel e pesar o conjunto em balança (pode ser em balança de cozinha simples); c- cozinhar em água (suficiente para cobrir os animais) por cerca de 5 minutos após a fervura (assegurar que todos tenham aberto e estejam cozidos); d- pesar o conjunto da carne cozida; e- obter a porcentagem (%) de carne cozida em relação ao peso total com o cálculo: M it ili cu lt ur a Época de colocação de coletores Para um acompanhamento prático da época de colocação de coletores é fundamental o acompanhamento da temperatura do local de cul- tivo como forma de avaliar as possíveis épocas de desovas. De forma geral, aumentos ou quedas bruscas (de 3 a 5 graus) de temperatura em curto espaço de tempo (em um dia ou poucos dias) são ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 O manejo e seleção de reprodutores e matrizes nas instalações do DNOCS Pirarucu: Por: Antonio Roberto Barreto Matos aquafishtec@ig.com.br Pedro Eymard Campos Mesquita pedro_mesquita@uol.com.br Maria do Socorro C. Mesquita socorrocmesquita@yahoo.com Tácito Araújo Bezerra tacitobezerra@bol.com.br Carlos Riedel PortoCarreiro riedel_cpaq@yahoo.comA introdução do pirarucu no Nordeste brasileiro se deu pela primeira vez em 1939, pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), que recebeu, na ocasião, 50 exemplares do peixe, procedentes do Museu Paraense Emílio Goeldi. A espécie foi introduzida, motivada pelo seu alto valor econômico e, principalmente, em virtu- de do pirarucu ser um peixe carnívoro, que possibilitava o combate biológico às piranhas Serrasalmus piraya, e piram- beba S. rhombeus, que nessa época proliferavam nos açudes nordestinos (Fontenele & Vasconcelos - 1982). Assim, no período de 1940 a 1943, sete grandes açudes infestados com Serrasalmus, receberam 5.590 alevinos de pirarucu. Recentemente, em 2004, a espécie foi reintroduzida na Região Nordeste através do Projeto Pirarucu, uma parceria do DNOCS com a SEAP - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República, com o intuito de fornecer subsídios técnicos, científicos e econômicos aos piscicultores que desejavam realizar o cultivo do pirarucu, em regime de engorda. Além do cultivo em cativeiro, as pesquisas se dedi- caram também à identificação de machos e fêmeas, através do uso de marcadores moleculares. Plantel de reprodutores e matrizes Fase 1: Esta é a fase onde começa com a se- leção de reprodutores, preferentemente feita com peixes nascidos e criados na própria es- tação do DNOCS. São escolhidos exemplares saudáveis, sem deformações corporais e de bom desenvolvimento somático, ou seja, os peixes escolhidos são os que mais crescem em relação a outros de mesma idade, criados em idênticas condições. É também fundamental a escolha de indivíduos condicionados ao consumo de rações comerciais para carnívoros (Silva, 1999). O condicionamento de alevinos está descrito em Ono et al, 2004. �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Pi ra ru cu Os alevinos (Foto 1) são mantidos em viveiros ou tanques numa densidade de 3 a 5 peixes/m2. Ao atingirem peso médio de 1,0kg os indivíduos são selecionados por tamanho. Tal procedimento é necessário para evitar a segregação entre eles e até mesmo o ataque de indivíduos maiores aos menores. Nesse período os peixes são alimentados com rações comerciais para carnívoros, que possuem teor protéico entre 56 a 40% de proteína bruta (PB). A taxa de alimentação varia entre 5 a 3% do peso vivo e a freqüência alimentar é de quatro refeições/dia. Os peixes chegam a dobrar de peso num período de 20 dias. Segundo observações práticas tem-se notado que os pirarucus se alimentam melhor quando a transparência da água é superior a 50cm e que a ração deve ser administrada lentamente por sobre o cardume, que normalmente a come com muita voracidade. Foto 1 - Alevino de pirarucu com peso médio de 150g. O preço médio de um exemplar custa entre R$ 1,00 e R$ 1,50/cm Fase 2: Ao atingirem 1,0kg, os peixes podem ser mantidos em viveiros, tanques ou tanques-rede até que atinjam peso médio entre Foto 2 - “Bolotas” de ração administrada aos peixes adultos O pirarucu alcança a primeira maturação gonadal entre o quarto e o quinto anos de vida e com comprimento total acima de 1,20m, quando pesa entre 50 e 60 kg. Macho e fêmea se acasalam e cavam o ninho (buraco) em solo preferentemente argiloso (barro), tarefa executada principalmente pelo reprodutor. O local é de água rasa, pois dificilmente a profundidade ultrapassa 1,50m. O ni- nho pode ter até 0,50m de diâmetro e profundidade de 0,20m, aproximadamente. A espécie é de desova parcelada, isto é, se reproduz o ano todo. Contudo, entre os meses de dezembro a maio ocorre a maior incidência de desovas, nas condições climáticas do Nordeste brasileiro (Silva, 1999). Sexagem molecular do Pirarucu Na reprodução do pirarucu, quando não se dispõe de méto- dos científicos apropriados, a identificação de casais de reprodutores se torna uma tarefa dificílima já que, externamente, não há o que diferencie o macho da fêmea, sendo preciso, portanto, uma identi- ficação a partir da observação de suas gônadas. Em razão disso se faz necessária a utilização da tecnologia de DNA, que desenvolve marcadores moleculares determinantes de características sexuais. Essa tecnologia, derivada da genética molecular, além da identifica- ção sexual dos peixes, permite solucionar outros problemas da aqüi- cultura, como a identificação de vírus em estoques de reprodutores, 15 e 20kg. A medida que crescem, aumentam também o tamanho dos peletts das rações para eles administrados. Nessa fase, os pei- xes recebem ração do tipo extrusada, com o mesmo teor protéico citado anteriormente, e a taxa de arraçoamento varia entre 3 e 2% do peso vivo e a freqüência alimentar é de três a duas refeições/dia. Vale salientar que a cada dois a três meses é necessária uma nova seleção entre os indivíduos. Outra estratégia que pode ser adotada é a aquisição de juvenis que estejam com essa faixa de peso, porém, será preciso adquiri-los em piscicultura de procedência conhecida. Lem- brando-se que, se os indivíduos forem condicionados ao consumo de ração comercial, facilitará consideravelmente o manejo alimentar. O valor de um juvenil está entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00. Fase 3: Nessa fase, os peixes são então mantidos em viveiros es- cavados no terreno natural, com área variando de 1.000 a 10.000m2 e profundidade média acima de 1,10m. A alimentação dos peixes é feita com peixes forrageiros, notadamente a tilápia. É feito também o arraçoamento com “bolotas” de ração (Foto 2), feitas a partir de uma mistura de ração comercial do tipo extrusada e massa de peixe, que depois de prensadas são colocadas na geladeira para serem ofe- recidas no dia seguinte. As “bolotas” pesam em torno de 80 gramas e possuem boa estabilidade na água. A taxa de arraçoamento é de 2 a 1% do peso vivo e a freqüência alimentar é de duas refeições/dia. ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Pirarucu a verificação de endogamias (atuando como poderosa ferramenta do melhoramento genético de diversas espécies) e, a identificação de populações (facilitando o manejo de estoques). O Laboratório de Genética Molecular – LabGeM, do Centro de Pesquisas em Aqüicultura Rodolpho von Ihering, do DNOCS, vem utilizando com sucesso marcadores moleculares para a iden- tificação sexual do pirarucu. A utilização desses marcadores mole- culares tem sido realizada conforme descrito a seguir: inicialmente alguns exemplares são sacrificados e dissecados para a identificação anatômica de suas gônadas. Em seguida, as gônadas são extraídas (Foto 3) e levadas ao microscópio ótico para teste histológico, visando confirmação do sexo. Com base nesse resultado inicia-se o processo de isolamento de DNA genômico (Foto 4). Diversas amostras de diferentes tecidos são tratadas, o que resulta em protocolo bem sucedido para o isolamento de DNA de pirarucu com qualidade e concentrações viáveis para estudos de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), uma tecnologia que gera cópias in vitro de genes. Quando esses genes apresentam diferen- ças polimórficas entre machos e fêmeas, tem-se um marcador molecular e o resultado é observado num processo chamado eletroforese e figura como uma impressão digital. Foto 3 - Extração de gônada para identificação via teste histológico Foto 4 - Precipitado de DNA genômico de pirarucu Mediante o uso dos mar- cadores moleculares do sexo dos pirarucus iniciou-se a identificação dos reprodutores do plantel do Centro de Pesquisas (100 indi- víduos). Cerca de vinte e cinco indivíduos já receberam chips eletrônicos (Foto 5) para sua identificação e em quatro desses já houve resultados. Dois machos e duas fêmeas, que foram postos para acasalar, resultaram em desova, cujos alevinos já estão em fase de treinamento alimentar com ração comercial. O passo seguinte será o sequenciamento dos genes que apresentam diferenças polimórficas. Foto 5 - Leitor de ch ip e let rônico com identificacão de reprodutor Manejode reprodutores e matrizes O manejo de peixes adultos é sempre uma preocupação, pois costumam saltar por sobre as redes de arrasto, causando muitas vezes traumatismos aos operários. Por isso, os viveiros devem ser esvaziados até que seja Foto 6 - Momento em que o operário espera o tempo adequado para colocação da “camisinha” Fo to 7 - Apó s a captura o peixe é colocado sobre uma maca confeccionada em lona Obtenção de desova em cativeiro Os principais sinais de desova entre os pirarucus são as lutas dos reprodutores acasalados, pelo domínio de seu território e com sua própria parceira. Ambos ficam com suas cores mais acentuadas, sendo que os machos ficam um pouco mais coloridos que as fêmeas. Também começam a “assoalhar” e começam a escavar os ninhos, buracos circulares no chão de vários tamanhos, mas geralmente com profundidade de 20cm. Os pirarucus constroem vários ninhos que são chamados de “panelas” e escolhem o melhor local para realizar sua desova. Depois de eclodidas, as larvas nadam sobre a cabeça do macho. O cardume possui o aspecto de uma esfera mudando constantemente de forma, e desloca-se lentamente, acima da cabeça do reprodutor. A fêmea geralmente fica um pouco mais distante e afugenta qualquer outro peixe que se aproxime do cardume. A coloração escura que toma a cabeça e o dorso do reprodutor onde nada o cardume, tem por fim mascarar as larvas, que também são negras, e, portanto, difíceis de serem distinguidas. Considerações finais Outros trabalhos têm sido desenvolvidos no Centro de Pes- quisas, como a produção de alevinos, condicionamento alimentar e o cultivo em tanques-rede e viveiros, com o objetivo de fornecer subsídios aos que desejam ingressar na atividade. É de grande im- portância o fato do DNOCS voltar a produzir alevinos da espécie, destinados a cultivos em cativeiro. Da mesma forma, também é importante a produção de alevinos destinados ao repovoamento dos açudes de particulares interessados em sua criação extensiva, capazes de garantir que esses peixes não invadirão águas públicas. Referências ONO, E.A.; HALVERSON, R.M.; KUBITZA, F. Pirarucu. O gigante esquecido. Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro, v. 14, n. 81, p. 14 -25, jan./fev. 2004. SILVA, J.W.B.S. Apostila da disciplina de Aqüicultura II do Curso de Engenharia de Pesca. 1999. 6p. Fortaleza VENTURIERI, R.; BERNARDINO, G. Pirarucu. Espécie ameaçada pode ser salva através do cultivo. Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro, v. 09, n. 53, p. 13 -21, mai./jun. 1999. possível observar o dorso dos peixes. Lentamente os indivíduos são capturados com o uso de uma rede em forma de tubo, confec- cionada com panagem de fio poliamida a qual denominamos de “camisinha” (Foto 6). Logo em seguida, os peixes são colocados sobre macas para facilitar o transporte (Foto 7). �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 BRASIL E O MERCADO AMERICANO DE CAMARÕES Por: Raúl Malvino Madrid IBAMA-CE/LABOMAR-UFC raul@labomar.ufc.br S eria insensato dizer que o mercado americano já não interessa à carcinicultura brasileira. É verdade que a participação percentual em volume das exportações de camarão para esse país diminuiu com o passar dos anos: 43,6% em 2000, 35,0% em 2003 e 8,0% em 2005. Nos três primeiros meses de 2006, das 7.383 toneladas exportadas de camarão cultivado pelo Brasil, apenas 1,97% (145,4 toneladas) foi para os Estados Unidos. Esse volume corresponde a 0,12% do total de camarão importado pelo grande país do norte, ocupando o Brasil o 27º entre os países exportadores no período citado. Com efeito, deve-se reconhecer que os Estados Unidos foram responsáveis em 2005 pela compra de 523.052 toneladas, 26,4% do total das importações de camarão comercializado in- ternacionalmente. Isso significou no referido ano, praticamente o mesmo volume importado pelo Japão (14,82%), Espanha (7,2%) e França (5,02%) juntos, os três maiores importadores, depois dos Estados Unidos. Observa-se ainda que a taxa de variação acumulativa anual das importações americanas aumentou bastante nos últimos anos, sendo de 8,69% entre 2000 e 2005. Contudo, ao comparar esse mesmo índice desdobrado em dois períodos: nos quatro primeiros anos da presente década (2000-2003) e nos três últimos (2003-2005), têm-se taxas respectivas de 13,5% e 2,4%, o que permite inferir que existe uma desaceleração expressiva nas importações de camarão pelos Estados Unidos. Essa desaceleração também ocorre quando são analisadas as importações da Espanha e da França e ainda no contexto das importações mundiais de camarão. As importações japonesas, por sua vez, não mostram variações significativas no período analisado. Importa destacar nesta análise que qualquer mudança de comportamento nas importações americanas de camarão afetará imediatamente toda a indústria mundial deste crustáceo: dos produtores aos consumidores, passando pelos processadores e distribuidores e pelos fabricantes de insumos e equipamento. Reconhece-se que as exportações brasileiras de camarão para os Estados Unidos diminuíram sensivelmente, não tanto pela inserção do Brasil entre os países acusados de dumping, mas principalmente pela apreciável redução da produção domés- tica, fruto de uma série de restrições que ocorreram entre 2003 e 2005. Mesmo sabendo que exportar para o mercado europeu (camarão inteiro) é melhor economicamente do que para o americano (camarão descabeçado), este último mercado servia ao Brasil como uma válvula de escape, seja para contornar a situação quando não era possível exportar o camarão com ca- beça pela falta de qualidade (cabeça solta, amarelada, etc.), seja para superar a sazonalidade do mercado europeu. Assim, faz-se necessário seguir lutando para que seja corrigida e superada a injusta inclusão do Brasil na lista de países que subsidiam a sua produção e que foram objeto da ação antidumping. A Comissão de Comércio Internacional dos EEUU (CCI) elaborou um relatório (publicação 3748), emitido em dezembro de 2005, com as investigações feitas nos seis países acusados de praticar o antidumping. O referido docu- mento analisa, entre outros aspec- tos, a taxa de câmbio nominal e real no período de janeiro de 2001 a junho de 2004, cujo resultado mostra que o Brasil apresentou a maior desvalorização da sua moeda nacional. Efetivamente, se reconhece que depois de 2000 hou- ve uma desvalorização contínua do Real, chegando ao máximo em agosto de 2002 com o valor nomi- nal de R$ 3,8/US$. Em junho de 2004, a conversão era R$ 3,3/US$, último mês pesquisado pela CCI/DOC. Embora essa situação cambial, no caso do Brasil, não tenha vinculação com as exportações, o Grupo Monitor de Michel Porter constatou que alguns países em desenvolvimento usam este artifício como forma de subsidiar, viabilizar e ampliar suas exportações. Acredita-se que na próxima revisão das taxas de dumping, a ser efetuada pelo DOC/CCI dos EEUU em janeiro de 2007, a situação brasileira seja oposta, isto é, se constatará que a moeda nacional estará supervalorizada e, em vez de subsidiar as exportações de camarão, estará inibindo-as. Outro aspecto a ser analisado deve ser a grande diferença que existe entre as taxas de juros, descontada a inflação, vigen- tes no Brasil e nos Estados Unidos. Neste último país, às vezes a taxa de juros real chega a ser negativa, ou seja, a inflação é "Qualquer mudança nas importações americanas de camarão afeta toda a indústria mundial deste crustáceo: produtores, consumidores, processadores, distribuidores e fabricantes de insumos e equipamentos" �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 M er ca do d e Ca m ar õe s maior que a taxa. É de conhecimento geral que o Brasil tem as taxas de juros maiores do planeta. Essa situação faz com que na maioria das vezes os pescadores americanos tenham custos financeiros mais de 10 vezes menores que os produtores brasileiros. Alémdo Real supervalorizado, esta é outra situação de subsídios às adversas aplicadas pelo Brasil e que afeta diretamente a competitividade da carcinicultura nacional. Observa-se ainda que a taxa de 7,05% imposta às exportações de camarão do Brasil para os Estados Unidos é injusta pela diminuta participação que o nosso país sempre teve nesse mercado, inclusive em termos de valor exportado, estando em 2003 abaixo do México e da Indonésia, países que não foram penalizados pela ação antidumping. Também o tipo de produto que o Brasil vende ao grande país do norte é diferente daquele produzido domesticamente nos Estados Unidos. Pode-se dizer, portanto, que o Brasil foi condenado mais pelo comportamento ascendente de suas exportações entre 2000 e 2003, pelo seu potencial e a ameaça que esse potencial significou e, pelos interesses americanos contra- riados em alguns casos de disputa comercial ganhos pelo Brasil na Organização Internacional do Comércio (OIC). A participação do México apoiando financeiramente a SSA para o encaminhamento da ação antidumping deve ter pre- judicado o Brasil. As informações precedentes fazem crer que existem motivos suficientes para acreditar que na próxima revisão das taxas de antidumping pelo DOC/CCI dos EEUU, em janeiro de 2007, o Brasil será inocentado. Caso contrário, o Governo Brasileiro deverá estar preparado para recorrer a OIC, como pretende fazer a Tailândia. Deve-se reconhecer que é caótica a situação dos pes- cadores de camarão do Golfo do México, aliás, situação pa- recida à que ocorre em todos os países que praticam a pesca extrativa do camarão. Isso se deve, como é do conhecimento geral, ao elevado preço do petróleo e, conseqüentemente, de operação dos barcos pesqueiros, aliado ao esgotamento dos estoques naturais e à diminuição dos preços internacionais do camarão. O que parece ser inadmissível é aceitar uma acusação de antidumping substanciada e provocada ao comparar um produto proveniente de duas atividades produtivas totalmente diferentes. Assim como não se pode pôr num mesmo plano o velho com o novo, o aleatório com o controlado, o natural com o artificial, é impróprio comparar os preços do camarão proveniente da pesca com os derivados do cultivo controlado, já que os sistemas de produção e as estruturas de custos são totalmente distintos. Por sua vez, analisados os antecedentes referentes aos preços de importação do camarão entre 2000 e 2003, fica a dúvida se a redução registrada foi uma tática abusiva usada pelos importadores americanos para diminuir os preços internacionais ou se, efetiva- mente, foi o resultado da lei da oferta e demanda. Pelos antecedentes disponíveis, pode-se concluir que devem ter sido ambos, desconhe- cendo-se, entretanto, o grau de participação de cada um. Em relação a isso, os dados precedentes permitem concluir que num primeiro momento a diminuição dos preços do camarão importado não foi repassada ao consumidor final. Num segundo instante, os menores preços de importação permitiram amortecer a alta do camarão ao consumidor final devido ao não repasse dos aumentos de preços de outros itens da estrutura de custo da cadeia de comercialização. Num terceiro momento, a diminuição de preços praticada pelas grandes cadeias de supermercados (Wal Mart, Kroger Company, etc.) ou de serviços de alimentação (Red Lobster), que fazem suas compras diretamente nos países produtores, teve que ser seguida pela concorrência: processadoras, atacadistas, distribuidores, etc. O futuro dos preços de importação praticados pelos Estados Unidos dependerá de uma engenharia complicada devido à com- plexidade de fatores que influenciam a formação dos preços, em maior ou menor grau, dificultando sobremaneira fazer qualquer pre- visão. Entretanto, sobressai o fato de estarem os preços futuros, em grande parte, sujeitos à saúde econômica dos paises desenvolvidos, e também, da continuação do crescimento econômico da China, principal produtor/consumidor mundial de camarões. ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 A verdade é que o nível a que chegaram os preços interna- cionais do camarão está permitindo um aumento significativo do consumo interno por parte dos próprios países produtores, na sua quase totalidade emergentes. Os dez maiores países produtores de camarão abrigam 57,33% da população mundial. A título ilustra- tivo, para atender um aumento do consumo de 1 kg per capita de camarão nesses dez países seria necessário produzir 3.439.000 toneladas, mais da metade de todo o camarão atualmente produ- zido pela pesca e pela aqüicultura. Acredita-se também que na medida em que as tarifas de energia se mantenham no patamar das de hoje, que os custos da mão-de-obra aumentem, seja pela regularização dos ilegais ou pela sua extradição, e que as taxas de juros mantenham tendên- cias de alta, os importadores terão menores condições de fazer estoques quando os preços estiverem em baixa, diminuindo assim a sua capacidade de barganha. Esse cenário também favorece o comércio americano de produtos de maior valor agregado, acreditando-se que a tendência de consumo de pratos prontos vendidos mais próximos do fim da cadeia de comercialização será cada vez mais acentuada. Observa-se ainda que as grandes cadeias de comercializa- ção de lojas de varejo ou de serviço de alimentação estão cada vez mais fortalecidas com a ampliação de sua atuação ou a incorporação de empresas menores. Esses grandes conglomerados de venda ao consumidor vêm implantando serviços de importação direta, o que ajuda enormemente o repasse de preços menores de importação ao consumidor final, permitindo dessa maneira um aumento mais imediato da demanda e evitando a continuidade da drástica tendência de baixa dos preços em nível de produção/importação, como ocorreu nos três primeiros anos da presente década. Acredita-se que assim como os cardumes de peixes se protegem de seus predadores atuando de maneira coesa, os produ- tores/exportadores de camarão dos diversos países deveriam seguir esse exemplo para defender seus interesses. Os países acusados de dumping, responsáveis em 2003 por 73,17% do valor das exportações de camarão para os Estados Unidos, perderam uma grande oportunidade para atuar em bloco ao optarem por defesas individuais que custaram milhões de dólares com serviços legais. Espera-se que para o futuro a lição tenha sido aprendida no sentido de uma atuação coesa dos países produtores em defesa de preços justos, ou seja, iniciar a frente comum para recuperá-los ao patamar dos preços praticados historicamente. É evidente que a redução das exportações brasileiras para o mercado americano se deve basicamente à perda de competiti- vidade da carcinicultura nacional, não só pela imposição da taxa de antidumping, mas principalmente pela falta de atitudes mais objetivas e concretas no momento mais requerido, para se obter maior eficiência e eficácia em toda a cadeia produtiva com visão de médio e longo prazo. Deve-se reconhecer que o grande salto da carcinicultura brasileira foi dado quando ocorreram fatores favoráveis fora de seu controle, que promoveram, em grande medida, o seu rápido desenvolvimento e que, efetivamente, motivaram e incentivaram o uso dos investimentos privados. Esse processo de bonança do camarão cultivado no Brasil foi iniciado em 1999, no segundo período do Presidente Fernando Henrique Cardoso, com o processo de flexibilização da taxa de câmbio, o qual foi seguido no fim daquele ano e no ano seguinte (2000) com o apreciável aumento dos preços internacionais do camarão provocado pela drástica diminuição da produção cultivada do Equador, como segundo maior produtor mundial, afetada pela doença da mancha branca. Posteriormente, no "Para atender o aumento de consumo em 1 kg per capita de camarão nos dez principais países produtores, é preciso produzir mais da metade de todo o camarão atualmente produzido pela pesca e pela aqüicultura" decorrerdo quadriênio 2001-2003, ocorreram seguidas desvalo- rizações do Real, antes e depois da posse do Presidente Lula, que neutralizavam a contínua redução dos preços internacionais do camarão com a abundante oferta dos países asiáticos. Enquanto os principais países produtores mundiais de camarão tomavam medidas radicais para manter a competitividade de suas indústrias de camarão, como foi a troca parcial da espécie de cultivo, de P. monodom pelo L. vannamei, o Brasil por cinco anos consecu- tivos desfrutava de índices de crescimento superiores (52,1%) à média mundial (14,0%), com rentabilidade acima de 30%, sem que esse crescimento possa ser atribuído a um input tecnológi- co no melhoramento genético, na qualidade das nossas rações e/ou nas atitudes preventivas de biossegurança. Tampouco, em sua maior parte, foi fruto de uma ação coordenada da cadeia produtiva na busca de melhor eficiência no engajamento inteligente da indústria de rações (qualidade, preços, etc.), na atuação conjunta dos laboratórios de pós-larvas (genética, biossegurança, etc.), na diversificação de produtos pelas indústrias de processamento (apresentação, valor agregado, etc.) e/ou na participação coesa e perspicaz de nossos exportadores (estratégia, mercados diversificados, etc.). O que sim se pode afirmar é que o crescimento do camarão brasileiro não foi uma resposta a uma política pública coordenada nos níveis institucionais hierárquicos do país (Federal, Estadual e Munici- pal), nem o resultado de uma ação sincronizada dos poderes do estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), nem o produto de programas do executivo (SEAP, MMA, MAA, MIN, MRE, etc.) e, muito menos, de incentivos provenientes do reconhecimento e apoio da sociedade. Recalca-se que esse crescimento, que gerou tantas expectativas e esperanças, em particular para o Nordeste, foi em grande medida o resultado de situações de política econômica e de condições momentâneas de mercado que, com o passar do tempo, se modificaram e se mostraram altamente instáveis. Tão instáveis que neste momento atuam contra o desenvolvimento da carcinicultura brasileira, ou seja, preços baixos no mercado internacional e Real supervalorizado. M ercado de Cam arões �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 In fo rm e Em pr es ar ia l Purina tem novidades para a carcinicultura Empresa lança três linhas de rações para camarões marinhos durante o Workshop Internacional de Nutrição e Sanidade na Carcinicultura 2006 A Purina, apresenta novas linhas de rações camarões durante o Workshop Internacional de Nu- trição e Sanidade na Carcinicultu- ra 2006, que aconteceu dias 31 de agosto em Natal e 01 de setembro em Fortaleza. As novidades são a Linha Aquaprofile as rações ini- ciais Aquaxcel e o relançamento da Linha Camaronina. Os eventos reuniram cer- ca de 400 pessoas e abordaram temas como o cenário mundial e perspectivas da carcinicultu- ra, trouxe o case do Equador que superou os problemas sanitários e também sobre a im- portância de uma boa nutrição na fase inicial de cultivo e os mais recentes avanços tecnológicos na nutrição de camarões. “A Purina quer conti- nuar investindo forte para transformar pesquisa e desenvolvimento em inovação, de forma a usar os corretos conhecimentos e experiências para ajudar os nossos clientes a alcançarem o sucesso. Enxergar os clientes como verdadeiros parceiros e crescer com eles, é nisso que a Purina acredita, afirma Vanice Waldige, Gerente de Negócios de Aquacultura da Purina. Aquaprofile é uma linha de rações para engorda de camarões formuladas não somente a partir de uma combinação de ingredientes e sim utilizando o conceito de disponibilizar consis- tentemente os nutrientes essenciais para o crescimento dos camarões. Os produtos são formulados com fontes de proteínas digestíveis para os camarões, promove um ótimo aproveita- mento do alimento, maior eficiência no crescimento e reduz a perda de proteínas na água. Além disso, são formulados com atrativos sintéticos que consistentemente ajudam a atrair e manter a alta palatabilidade do alimento, evitando desperdício por alimentos não consumidos. Outras características importantes de Aquaprofile são: as quantidades ótimas de aminoácidos essenciais, que são as unidades formadoras das proteínas e responsáveis na obten- ção de maiores taxas de crescimento; as excelentes fontes de ácidos graxos essenciais, bem como fonte de fosfolipídeos que causam um efeito benéfico no crescimento e sobrevivência dos camarões e colesterol, um nutriente essencial que o camarão não sintetiza e que deve estar presente no alimento, evitando a baixa sobrevivência e dificuldade de muda. Todos estes conceitos nutricionais de Aquaprofile estão disponíveis em cada partícula de alimento, pois o controle de qualidade atua rigorosamente desde a seleção das matérias- primas até o final do processo produtivo. Além disso, todas as unidades produtivas da Purina são certificadas em HACCP (Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que faz parte do objetivo global da empresa de produzir alimentos saudáveis visando a segurança alimentar ao consumidor final. Já Aquaxcel, uma linha de rações iniciais de altíssima performance visa aumentar a taxa de sobrevivência através de juvenis mais fortes e assim resultar numa maior rentabilidade do negó- cio. São três produtos com partículas extrusadas de 0,8mm, 1,5mm e 2,0mm. O tamanho exato da partícula para cada fase de desenvolvimento dos camarões, além de sua fórmula precisa e tecno- logia superior para produzir rações especiais em micro partículas, permite uma adequada entrega de nutrientes às pós-larvas e juvenis, por isso melhora a sobrevivência, o peso dos camarões e consequentemente a rentabilidade do cultivo. A linha Aquaxcel é produzida numa em- presa do grupo nos Estados Unidos, com tecnologia especializada para produzir rações iniciais e é inédita no Brasil. Outra novidade da Purina é o relançamento da linha Camaronina, composta por cinco produtos que agora está em novas embalagens e com novas formulações para maior performance nas rações iniciais Camaronina CR1 e Camaronina CR2. Com isso a empresa disponibiliza ao mercado três novas linhas de soluções nutricionais: Aquaxcel, Camaronina e Aquaprofile. ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Inform e Em presarial Maritech amplia seus horizontes no Brasil A empresa é líder no desenvolvimento de softwares para a aqüicultura, pesca e beneficiamento A Maritech Chile S.A, é uma empresa Noruega/Islandesa criada há 19 anos, que opera em 12 países e que desde 2002 atua no Chi- le. Líder mundial no desenvolvimento de softwares para a indústria do seafood (aqüicultura, pesca e beneficiamento), seus programas computacionais permitem realizar, entre outras funções, tarefas de controle de produção, custos, gestão (rendimento de matéria prima, controle de processos, etc.) e rastreabilidade. Soluções às exigências de rastreabilidade para a indústria aquícola e pesqueira são um dos seus principais produtos. No Chile, onde a indústria do salmão tem chegado a níveis de produção que logo a posicionarão como a primeira produtora a nível mundial, os softwares da Maritech estão presentes nas maiores empresas produtoras desse peixe. Atualmente a Maritech está ampliando seu raio de atuação na América Latina, e tem como seu principal foco o Brasil, onde a expansão das suas operações objetiva abrir novos mercados, tanto a nível local como continental, já que a Maritech enxerga um Paulo, cujo encarregado é o Engenheiro de Aqüicultura Axel Klimpel. A Maritech, diante do grande potencial que apresenta a indústria do ca- marão no Brasil, planeja instalar também escritórios no Nordeste com a finalidade de atender as necessidades específicas do setor. “Acreditamos que o Brasil oferece um grande potencial para nossos produtos, dadas as expectativas de crescimento da aqüicultura, e de suasnecessidades crescentes de contar com informação oportuna, de boa qualidade para enfrentar assuntos tais como a tomada correta de decisões, avaliação do negócio, rastreabilidade e as crescentes exigências dos mercados externos”, assinala o Gerente Geral de Maritech Chile, e encarregado do projeto de expansão na América Latina, Juan Manuel Toro. Para Juan Manuel Toro, a Maritech tem conhecimento de que existem outros softwares no mercado, e que as empresas tendem a fazer desenvolvimentos próprios. Porém, esses softwares foram ela- borados por uma equipe técnica sólida, que tem trabalhado por mais futuro promissor para a aqüicultura brasileira, especialmente nos culti- vos de tilápia e pintado. A indústria do camarão também é considerada altamente atrativa para Maritech, já que seus softwares também podem ser plenamente aplicados à carciicultura. No Brasil, a Maritech está promovendo dois de seus programas: FarmControl: Software aplicado a fase produtiva da aqüicultura, desde a reprodução até a despesca final, que permite o registro diário de todos os fatores produtivos envolvidos na criação, tais como alimentação, mortalidade, biometrias, peso, fatores de crescimento, conversão de alimento, tratamentos patológicos, despescas, transferências de peixes, entre outros O FarmControl possibilita ainda, o controle de custos da produção; planificação da produção; rastreabilidade dos produtos com o objetivo de conhecer o histórico de cada lote na produção, entre outras funcionalidades. Maritech PDS: Software para plantas de beneficiamento e frigoríficos, que permite o registro de recepções de matéria prima; produtividade em uma linha de processo com rendimentos e custos; controle da qua- lidade; empacotamento de produtos e controle de insumos; controle de frigorífico; inventário de produtos na câmara de frio; distribuição e vendas finais. Estes programas são utilizados no Chile em 23 empresas do setor, e possui ainda implementações na Costa Rica e Honduras, e proximamente no Equador e Argentina. No Brasil, apesar de ter iniciado as operações há pouco tempo, a Maritech já tem na sua carteira de clientes, quatro das mais importantes produtoras de tilapia e outras espécies. O fato motivou a empresa a abrir uma representação em São de 15 anos no desenvolvimento destas soluções. Por outro lado, a vantagem de se operar com uma empresa solidamente estabelecida, proporciona uma maior segurança e estabilidade aos clientes, neste delicado negócio dos softwares, onde a real competitividade não está na venda do programa, e sim no suporte e manutenção técnica posterior a venda. Segundo Juan, essa é a maior diferença entre os softwares da Maritech e os demais, e que permite que empresa tenha conquistado o crescimento nos últimos anos. Afim de conhecer a indústria e definir uma estrutura de preços que estivesse de acordo com a realidade do Brasil, a Maritech adotou estratégias de introdução no mercado brasileiro, de acordo com indústria aqüícola e de beneficiamento no país. Isto se traduziu em um estudo do mercado, que foi realizado desde as suas primeiras visitas ao Brasil, há mais de 1 ano e meio. Dessa forma, as soluções que Maritech colocou no mercado são acessíveis tanto aos pequenos produtores (integrados) como às grandes empresas, em vista de que a indústria brasileira opera de uma forma muito particular, principalmente no setor aquícola. Toda esta aproximação da Maritech ao mercado brasileiro, resul- tou em mais de um ano de investimentos para finalmente estabelecer se de forma definitiva no Brasil. Para conhecer nos entrar em contato no Brasil com o Sr. Axel Klimpel axel.klimpel@maritech.cl, telefone: +55 11 81604252. No Chile através do e-mail: info@maritech.cl telefones +56 65 233553 ou +56 65 236291. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 In fo rm e Em pr es ar ia l Grupo Ypióca em parceria com a Nutron Alimentos inaugura unidade de produção de ração Comemorando seus 160 anos de história, o Grupo Ypióca amplia sua área de atuação ao inaugurar a BRFish/Nutron, espe- cializada na produção de rações para peixes no município de São Gonçalo do Amarante, distante 59 km de Fortaleza. A nova unidade do grupo cearense nasce de uma parceria com a Nutron Alimentos, líder mundial em nutrição animal, e integrante do Grupo Provimi, que atua em 31 países dos cinco continentes. Com a iniciativa, a empresa irá produzir e comercializar rações extrusadas da linha ProAqua, produtos indicados para a alimentação de peixes onívoros e carnívoros em todas as fases de desenvolvimento e sistemas de cultivo, desde o manejo intensivo ao superintensivo. As rações são destinadas aos produtores que estão atentos à otimização dos resultados de campo, à competitividade e à lucratividade de sua piscicultura. A linha ProAqua é elaborada com ingredientes de alto valor nutritivo, com todas as rações suplementadas com vitamina C esta- bilizada com fosfato (ácido ascórbico mono ou poilifosfato), com retenção superior a 90% após a extrusão e o armazenamento. O resultado da parceria da Nutron com o Grupo Ypióca, será a quinta unidade da Nutron no Brasil e a primeira no Nordeste. A empresa possui duas fábricas em São Paulo (Campinas e Itapira), uma em Santa Catarina (Chapecó) e outra no Paraná (Toledo). A ao comemorar seus 160 anos de história, o Grupo amplia sua área de atuação investindo também em piscicultura. A BRFish cultiva tilápias (Oreochromis niloticus) de forma sustentável e integrada no estado do Ceará, sem incentivos públicos, a exemplo de outros empreendimentos do Grupo Ypióca. Ocupando área de 100.000 m2 conta com uma “Central de Reprodução de Tilápias” equipada com viveiros de reprodutores geneticamente selecionados provenientes da Tailândia e um moderno “Laboratório de Incubação e Maturação de Alevinos”. Sua capacidade de produção é de 60 toneladas/mês de tilápia, 4.000.000/mês de alevinos e 1.000 toneladas/mês de rações extrusadas. A “Unidade de Recria e Engorda” está localizada no açude Sítios Novos, onde são produzidos juvenis (peso médio de 30 gramas) e peixes (com 1 quilo em média). As espécies são cultivadas em tan- ques-rede de alumínio, com telas de arame galvanizado revestido de PVC. A produção de tilápia abastece o mercado distribuidor, assim como revendedores de grande porte da Região. tecnologia empregada é constantemente testada nos laboratórios do seu Centro de Pesquisa em Nutrição Animal (CPNA), instalado em Mogi-Mirim, em São Paulo. Além da cachaça, cuja marca está presente em mais de 40 países, o Grupo Ypióca atua em diversos outros ramos de atividades, como água mineral, emba- lagens plásticas (pet), papel, papelão e transporte de carga. Agora, Da esquerda para a direita: Everardo Telles (Dir. Presidente Grupo Ypióca), Luciano Roppa ( Presidente Nutron), Gabriel Jorge (Diretor Nutron) e Lucio Alcântara (Governador do Estado do Ceará) ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Falta de análises de resíduos quase barra exportação de pescados brasileiros para a União Européia Em meados de 2003, o Brasil recebeu a visita de uma missão de especialistas da União Européia que constatou que vários resíduos considerados como tóxicos no mercado eu- ropeu não eram devidamente controlados em produtos como carne suína, de frango e bovina, mel, leite, ovos, frutas e pesca- dos, incluindo os provenientes da aqüicultura. Como resultado desta visita, o Brasil assinou, ainda em 2003, um acordo onde o país poderia continuar provisoriamente exportando para a UE até o dia 14 de março deste ano, quando deveria apresentar os detalhes do seu Plano Nacional de Controle de Resíduos (PNCR). Uma segunda missão européia esteve no país no final de 2005 e com muita surpresa constatou que as falhas detectadas em 2003 ainda permaneciam, e que nada do que havia sido acordado com as autoridades brasileiras havia sido implementado. Isso levou a UE a revogar algumas autorizações de exportação,tendo o mel sido excluído imediatamente da lista dos produtos que ainda poderiam ser exportados pelo Brasil. Adicionalmente, as autoridades européias tornaram ainda mais severas as exigências para com o Brasil, aumen- tando o número de substâncias que devem ter um plano de monitoramento. Na ocasião, as autoridades brasileiras tiveram ainda que ouvir severas críticas das autoridades da UE por não terem cumprido o que foi acordado. Em julho deste ano, o jeitinho brasileiro de empurrar as coisas com a barriga de nada adiantou, tendo sido incapaz de ajudar as autoridades brasileiras do MAPA, presentes a uma reunião em Bruxelas que teve o intuito de reverter a situação da proibição das exportações, inclusive do mel. Além de não terem conseguido reverter a situação, as autoridades européias aproveitaram para comunicar oficialmente à missão brasileira que retirariam outros produtos, incluindo os pescados, da lista de permissões, caso não fosse apresentado um plano de ação até o dia 11 de julho de 2006. Para piorar, a ameaça ao Brasil foi noticiada pela imprensa européia, ganhando apoio de representantes da pecuária local em favor da proibição das carnes brasileiras, encorajando consumidores europeus a rejeitar produtos provenientes do Brasil. Enquanto isso, uma corrida louca contra o tempo mobilizou autoridades do MAPA e representantes da pesca e da aqüicultura, assustados com informações desencontradas que chegaram a falar em proibição definitiva das exportações. Representantes do setor produtivo e do governo, à frente Leandro Diamantino Feijó, Coordenador do Plano Nacional de Controle de Resíduos – PNCR, elaboraram finalmente em agosto o SISRES – Sistema de Controle de Resíduos, encami- nhado pelo MAPA para a FVO (Food and Veterinary Organi- zation). O SISRES, ainda em fase de implantação e avaliação, contempla sorteios semanais para a escolha dos frigoríficos a serem amostrados, os quais terão prazo de uma semana para envio das amostras aos laboratórios credenciados. Os procedimentos de comunicação, escolha e coleta de amostras serão realizados pelos Coordenadores Estaduais do Programa (fiscais do MAPA) devidamente habilitados para tal e, para isso, serão realizadas capacitações em todas as regiões do país para nivelar os fiscais brasileiros nos procedimentos de amostragens e demais informações pertinentes ao assunto. Os primeiros sorteios começaram em 18 de agosto e, somente, as análises realizadas através de sorteio terão validade. Leandro Feijó faz questão de deixar claro que não são as amostras em si que estão sendo analisadas, mas todo o sistema de controle de resíduos. O empenho dos empresários e a lisura dos pro- cedimentos serão os principais alvos de avaliação nessa fase de implantação do SISRES. �0 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Lançamento Editorial Aqüicultura Capixaba: da produção ao mercado A publicação tem como obje- tivo orientar aqüicultores e setores associados nos aspectos gerais da cadeia produtiva da aqüicultura como produção, acesso ao crédito, tecnolo- gias, comercialização, exportação de pescados, licenciamento ambiental e a outorga da água, contribuindo com a tomada de decisões dos atuais e futuros empreendedores, dentro de uma visão de sustentabilidade econômica e ambiental da aqüicultura. O diretor do Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente-CTA, Humberto Ker de Andrade, assina a coordenação técnica do livro, que reúne aspectos técnicos, ambientais e econômicos do setor, segundo a experiência de 25 profissionais das mais variadas áreas e instituições ligadas ao ramo, com o apoio do Sebrae/ES, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Sócio-ambiental (Ecos), SEAP e CTA. O livro apresenta também o diagnóstico da aqüicultura do Espírito Santo realizado pelo Sebrae em 2004 abrangendo os diversos aspectos da aqüicultura: piscicultura, carcinicul- tura, ranicultura, ostreicultura, mitilicultura, pectinicultura e algocultura. De acordo com o diagnóstico, a atividade beneficia cerca de mil famílias de pequenos produtores rurais e pescado- res artesanais do Espírito Santo. Os produtores são atendidos por cinco projetos aquícolas, com peixes, ostras e camarão. De fácil leitura, o livro Aqüicultura Capixaba: da produ- ção ao mercado é ilustrado com gráficos, figuras e fotos e tem distribuição gratuita. Os interessados podem solicitá-lo livro ao Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente – CTA pelos fones (27) 3345-4222 e (27) 9949-3679. Ministério da Fazenda isenta produtos aqüícolas de PIS e Cofins O Ministério da Fazenda publicou no Diário Oficial da União, no dia 25 de julho, a Instrução Normativa nº 660, que prevê a isenção do PIS/Pasep (1,65%) e do Cofins (7,6%) para a venda de produtos agrícolas e sobre o crédito presumido na aquisição de mercadorias, totalizando uma isenção de 9,25%. As isenções que serão aplicadas somente nas operações do mer- cado interno também ajudarão as matérias-primas agropecuárias usadas como insumo na fabricação de produtos destinados à alimentação humana e animal. A piscicultura e a carcinicultura estão entre os diversos segmentos do agronegócio que se beneficiarão com a IN 660. Veja quem se beneficia: 1) os cerealistas (produtos in natura de origem vegetal, classificados na NCM nos códigos 09.01 (café), 10.01 a 10.08 (trigo e mistura de trigo com centeio, centeio, cevada, milho, arroz, aveia, sorgo de grão, alpiste, painço, trigo mourisco e outros cereais) - exceto os códigos 1006.20 (arroz descascado, cargo ou castanho); ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Maricultura em Santa Catarina é beneficiada pelo Programa Juro Zero da FINEP A maricultura está entre os segmentos que serão beneficiados com o Programa Juro Zero da FINEP, recém implantado no Estado de Santa Catarina. O programa vai destinar para micro e pequenas empresas catarinenses, recur- sos no valor de R$ 20 milhões, através de linhas de crédito que variam de R$ 100 mil a R$ 900 mil, sempre sem juros, sem garantias reais e com pagamento dividido em até 100 parcelas. O empréstimo é corrigido apenas pelo IPCA. Sua implantação no Estado de Santa Catarina faz parte de um acordo entre a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia-ACATE e a SC Parcerias, que liberou R$ 1 milhão para compor a primeira parte do fundo de garantia exigido pelo programa. Para participar do Programa Juro Zero da FINEP, que já está operando oficialmente, a empresa além de comprovar a inovação do seu negócio, precisa possuir faturamento no ano anterior entre R$ 334 mil e R$ 10,5 milhões, solvência financeira e certificado digital ICP- Brasil. O pedido de participação no programa deve ser protocolado pelo site www.jurozero.finep.gov.br. Após a protocolação, as empresas têm um prazo de cinco dias para entregar toda a documentação necessária na ACATE e na SC Parcerias. No decorrer de 20 dias, o consórcio dará um parecer sobre a aprovação do pedido. Sendo positivo, o protocolo é encaminhado à FINEP, que também analisa a solicitação e em 30 dias libera o valor desejado. A expectativa gerada pelas facilidades do programa, é que com a sua implantação seja possível acelerar o desen- volvimento de projetos inovadores, bem como a sua entrada no mercado, uma vez que muitas empresas catarinenses têm dificuldades de crescer, por falta de capital para investir na sua expansão. O Programa Juro Zero já funciona nos estados do Paraná, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. 2) a pessoa jurídica que exerça cumulativamente as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel, no de leite in natura; e 3) a pessoa jurídica que exerça atividade agropecuária ou por cooperativa de produção agropecuária, no caso de produto in natura de origem vegetal destinado à elaboração de mercadorias classificadas no código 22.04 (vinhos e mostos de uvas), da NCM e de produtos agropecuários a serem utilizadoscomo insumo na fabricação dos produtos relacionados no inciso I do art. 5º da IN. As notas fiscais relativas às vendas efetuadas com suspensão, deverão constar a expressão "Venda efetuada com suspensão da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS", com especificação do dispositivo legal correspondente. A medida foi considerada pelos produtores rurais como uma importante vitória para o setor, uma vez que também aju- dará a desonerar de PIS-Cofins, o crédito presumido na compra dos produtos agropecuários, que passará a ser calculado com base no custo de aquisição do produto pela indústria. A IN 660 regulamenta a Lei 10.925, publicada em julho de 2004 e revoga a IN 636, do último mês de março, que limitava o benefício a empresas em regime de declaração de Imposto de Renda com base no lucro real. A IN 660 permite estender a desoneração ao regime de lucro presumido. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Engenheiros de Aqüicultura já podem solicitar registro no CREA Aquaciência 2006 reuniu acadêmicos em Bento Gonçalves O Presidente do CONFEA – Conselho Federal de En- genharia, Arquitetura e Agronomia, Marcos Túlio de Melo, assinou em 30 de julho último, a Resolução 493 que autoriza os Creas – Conselhos Regionais, a registrarem os participantes do curso de Engenharia de Aqüicultura, portadores de diplomas registrados ou revalidados. A Resolução entende que o curso de Engenharia de Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina foi reconhecido pela Portaria n° 2.105, de 5 de agosto de 2003, do Ministério da Educação, e que o profissional dele egresso está qualificado para dominar a prática e a teoria da aqüicultura relacionada à pesquisa, à transferência de tecnologia, O frio prometido pelos organizadores do Aquaciência 2006, não decepcionou e foram bem gelados os dias em Bento Gonçalves-RS durante o evento, criando um clima bastante agradável para a degustação dos famosos vinhos da região. O evento acadêmico reuniu mais de 500 cientistas, estu- dantes e pesquisadores, principalmente dos estados das Regiões Sul e Sudeste. Na abertura, foram saudados pelo ministro da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da Re- pública (SEAP/PR), Altemir Gregolin, que defendeu a pesquisa como instrumento estratégico para o desenvolvimento da aqüi- cultura. Segundo Gregolin, a Seap liberou nos últimos meses, mais de 18 milhões de reais em editais específicos voltados à pesquisa científica em aqüicultura e pesca, tendo sido estabeleci- das parcerias com o Ministério da Ciência e Tecnologia e com o CNPq. Esses projetos, segundo o ministro, garantem a realização de pesquisas com espécies importantes para o desenvolvimento da cadeia produtiva do setor, como o pintado e o pirarucu. Além de falar dos projetos com o apoio da Seap, Gregolin citou que o Governo Federal vem ampliando os investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia em todas as áreas. Segundo ele, os valores saltaram de 6,5 bilhões de reais em 2002 para mais de 10 bilhões de reais em 2006. “A produtividade dos trabalhos científicos no Brasil também cresceu cerca de 15%, passando de 13 mil para mais de 15,7 mil em 2006”, comentou. Gregolin acrescentou que a FAO destaca o potencial do Brasil para a produção de pescados, ressaltando que o país tem condições de produzir mais de 10 milhões de toneladas de pescado para atender a demanda mundial. O ministro disse ainda, que é de grande importância o desenvolvimento de um projeto de longo prazo, que leve em conta questões como a inclusão social, a organização da cadeia produtiva e o fim da descontinuidade nas políticas públicas, além das questões ambientais. Ainda na abertura do Aquaciência 2006, o público foi saudado com a palestra “Aqüicultura: uma solução ou um problema” proferida pelo professor Jorge Pa- blo Castello, da FURG, mostrando a im- portância da aqüicultura para o abasteci- mento futuro de pescados e os cuidados que deveremos ter para que os impactos sejam compatíveis com os benefícios que a ati- vidade gera. Mini-cursos, palestras e pôsteres sobre todos os temas da aqüicultura foram apresentados nos quatro dias do evento, com grande movimentação de estudantes e profissionais. A assembléia da AQUABIO – Sociedade Brasileira de Aqüi- cultura e Biologia Aquática, realizada durante o Aquaciência 2006, escolheu a cidade de Maringá para receber, em 2008, o próximo Congresso. à elaboração e avaliação de planos e projetos, à execução de projetos e à administração de empreendimentos aqüícolas. Em seu artigo dois, a Resolução Confea diz que “Com- pete ao Engenheiro de Aqüicultura o desempenho das atividades 1 à 18 do art. 1º da Resolução nº 218, de 29 de junho de 1973, referentes ao cultivo de espécies aqüícolas, construções para fins aqüícolas, irrigação e drenagem para fins de aqüicultura, ecologia e aspectos de meio ambiente referentes à aqüicultura, análise e manejo da qualidade da água e do solo das unidades de cultivo e de ambientes relacionados a estes, cultivos de espécies aqüícolas integrados à agropecuária, melhoramento genético de espécies aqüícolas, desenvolvimento e aplicação da tecnologia do pescado cultivado, diagnóstico de enfermidades de espécies aqüícolas, processos de reutilização da água para fins de aqüicultura, alimentação e nutrição de espécies aqüíco- las, beneficiamento de espécies aqüícolas e mecanização para aqüicultura.” ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 O p in iã o Conversa franca sobre o Licenciamento Ambiental da Aqüicultura Por: Marcelo Barbosa Sampaio Oceanógrafo e Coordenador Geral de Aqüicultura Continental da SEAP/Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca/ Presidência da República marcelo@seap.gov.br Quando o editor da Revista Panorama da Aqüicultura me convidou para falar aos leitores sobre a estratégia da SEAP/PR para promover a regularização dos empreendimentos de aqüicultura, com ênfase no licenciamento ambiental, percebi uma oportunidade, mas me deparei com o desafio de verificar se nós, aqui dos gabinetes de Brasília/DF, conseguimos transformar o que estamos fazendo, em uma conversa franca. Para começar vou precisar fazer uma espécie de sobrevôo em assuntos que, apesar de maçantes, afetam a atividade e precisam ser conhecidos pelos aqüicultores. Primeiro é necessário dizer que a aqüi- cultura não está sob o manto de uma Lei – como aquelas votadas no Congresso Nacional – mas sim, de um conjunto de normas dispersas, baixadas por órgãos como a antiga SUDEPE, ou mais recentemente pelo IBAMA, CONAMA, DPA e SEAP/PR, sem falar em outras so- pas de letrinhas que também acabam influenciando a nossa atividade. Isso torna tudo muito instável e de difícil compreensão. Por não termos uma regulamentação unificada e específica, as normas que são usadas para a aqüicultura são fruto de um ajus- tamento de normas pré-existentes, criadas para outras atividades. É como se vestíssemos as roupas de outras pessoas, cujo porte físico fosse muitíssimo diferente do nosso... Em alguns casos, a diferença parece mesmo ser de gênero! Não que eu seja um legalista ou que queira regular tudo, muito pelo contrário, acho até que há normas de mais e eficiência de menos. Mas, no Brasil, onde vale o que está es- crito, é necessário buscar, ao menos, que as normas percebam nossas peculiaridades, sob pena de sermos engessados e asfixiados. Outra questão a ser considerada é a concentração da regu- lamentação no âmbito federal, o que ocorre pelo excesso de des- confiança sobre a capacidade, competência e susceptibilidade dos órgãos estaduais às pressões políticas. Fato é que: ao tentar perceber todas as realidades de um país continental aqui nas salas de reuniões da Capital Federal acaba-se por produzir uma série interminável de erros, ainda mais quando se trata de uma atividade com baixa representatividade. Talvez alguns me critiquem por acreditar que cabe à esfera federal fazer a moldura, e aos demais entes da federaçãopintar o quadro. Neste sentido, mais recentemente, venho tendo mostras dos setores mais maduros da área ambiental, de que este é sim o caminho correto. Temos que lidar com a realidade e, na maioria das vezes, não adianta nadar contra a maré de um sistema consolidado. Tal constatação, nos levou a buscar ferramentas para melhor defender os interesses da aqüicultura, e a oportunidade veio com a criação da SEAP/PR, que nos deu musculatura política para buscar ocupar cadeiras no CONAMA, no CNRH, na CONABIO, na CTNBIO, além de outros colegiados, onde assuntos que nos afetam no dia-a-dia estavam sendo tratados, porém nossa capacidade de articulação era ínfima. Para este novo momento, fizemos uma avaliação crítica e percebemos que as nossas dificuldades não se encontravam apenas no arcabouço legal ou na interminável burocracia. Há também carências históricas de planejamento e de avaliações estratégicas que poderiam minimizar os custos do licenciamento ambiental, além de conduzi-lo a uma simplificação. Na prática, temos duas linhas estratégicas principais a serem trilhadas. A primeira, diz respeito à formatação de Re- soluções do CONAMA que estabeleçam critérios e referências para o licenciamento ambiental da aqüicultura. Estas deverão trazer parâmetros qualitativos que vão permitir enquadrar os empreendimentos conforme o seu potencial de impacto. Dessa forma, espera-se uma redução dos custos e da complexidade dos procedimentos de licenciamento para aqueles empreendimentos reco- nhecidamente de baixo e médio impacto, e por outro lado, possibilitar uma orientação clara aos empreendedores de maior porte. Faz parte dessa linha de atuação, também, a resolução que irá tratar das espécies exóticas aquáticas, já que grande parte da aqüicultura nacional as emprega em seus sistemas de cultivo e, em geral, essas espécies têm alto potencial zootécnico (produtividade, rusticidade etc). A segunda linha de atuação trata de um modelo de planejamento estratégico que consiste de uma avaliação ambiental estratégica – AAE, setorial (específica para a aqüicultura) e de am- plitude regional, como são os estudos para a demarcação de parques aqüícolas. Estratégia que merece algum aprofundamento. Hoje, no Brasil, os órgãos ambientais aplicam com maior freqüência as avaliações de impacto ambiental – AIA, usando como base os Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA. Essas avalia- ções têm como foco os empreendimentos individualizados, com baixa eficiência para avaliar os reais impactos de empreendimentos múltiplos e impondo ao empreendedor o ônus de aportar todo um complexo conjunto de informações, que elevam os custos e tornam o procedimento complexo. Este modelo coloca o licenciador numa constante condição de desconforto e insegurança para a emissão das licenças, ou seja, complicando as análises. Nos estudos de parques aqüícolas o poder público, através da SEAP/PR, chama para si a responsabilidade por aportar todo o conjunto de informações necessário ao licenciamento e planeja a atividade para um dado espaço geográfico, como por exemplo um grande reservatório de hidrelétrica ou uma enseada em águas marinhas. Este planejamento é concebido de maneira participa- tiva, considerando fatores sócio-econômicos e culturais, além das aptidões técnicas e da capacidade de suporte dos ambientes. Tudo isso conduz ao licenciamento simplificado de grupos de empreendimentos e, principalmente, a uma maior segurança quanto à sustentabilidade ambiental. Eu não poderia deixar de reconhecer que observamos certa guinada de pensamento sobre a aqüicultura, fato que credito à maior difusão de informações sobre a atividade, e que vem provocando nos distintos órgãos envolvidos no processo de regularização uma mudança de postura (para melhor!). Esta uma parcela do trabalho que conduzimos. Deixo aqui o registro da necessidade de maior participação dos interessados para orientar as condutas da equipe de aqüicultura da SEAP/PR, no sentido de estarmos cada vez mais próximos dos reais anseios do setor. Saudações aqüícolas. �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 ACalendário qüícola Anunciantes da Edição 96 ACQUA SUPRE 34 AGRIBRANDS PURINA DO BRASIL 68 AGROBOMBAS 46 AGROINDUSTRIAL SÓ PEIXES 11 ALFAKIT EQUIPAMENTOS PARA ANÁLISE 32 AQUAFAUNA BIO-MARINE 52 BIOGERMEX 06 BLUE WATER AQUACULTURE – BWA 60 BLUE FISH PISCICULTURA 08 BRAZIL FRUITS OF THE SEA 61 BR FISH 59 BRUSINOX IND. E COM. DE MÁQUINAS 42 ESCAMA FORTE PISCICULTURA 09 ENGEPESCA REDES PARA AQÜICULTURA 50 FERRAZ MÁQUINAS 37 GENEFORTE 26 HIPÓFISES E OVOPEL 07 INFOLINK 11 INSPECTORATE DO BRASIL 23 MACCAFERRI DO BRASIL 26 MALTA CLEYTON 20 MARITECH BRASIL 52 MAXFIO 08 MOANA HIPÓFISE 09 NUTRON ALIMENTOS/PROÁQUA 02 PELETIZADORAS CHAVANTES 18 PISCICULTURA AQUABEL 46 PISCICULTURA ARACANGUÁ 54 PISCICULTURA BURITI 11 PISCICULTURA FAZ. PACIÊNCIA 46 PIRACEMA HIPÓFISE 06 POLI-NUTRI ALIMENTOS 52 PRECIOUS FISH – VENDA DE FAZENDA 10 PROTEUS 10 RAÇÕES GUABI 67 RAÇÕES FRI-RIBE 28 SINDIRAÇÕES 64 SOCIL EVIALIS NUTRIÇÃO ANIMAL 36 SOLAR INSTRUMENTAÇÃO 22 TELAS RHV 22 TEXTIL SAUTER 18 VANSIL IND. COMÉRCIO 18 SETEMBRO 16-18 - II ENPAP – Encontro Nacional de Pis- cicultura em Águas Públicas – Será realizado no Auditório Central de Ilha Solteira/ SP. Inf.: (18) 3694-7266 ou anpap2006@yahoo.com.br 18-22 - Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado pelo SENAR-MG, em MG. Inf.: (37) 8816-2341. 19-22- "EEI 2006" 2º Congresso Nacional so- bre Espécies Exóticas Invasoras – Será realizado em Leon - Espanha. Inf.: www.invasionesbiolo- gicas.org.es ou e-mail: info@geib.org.es 21-22- Doenças e Parasitoses dos Peixes Cul- tivados – Será realizado em Jundiaí – SP pelo instrutor Fernando Kubitza. Inf.: 11-4587-2496 ou www.acquaimagem.com.br 23- "Aproveitamento do Resíduo do Pescado" Será realizado na ABRACOA em São Paulo/SP. Inf.: (11) 3672-8274, www.abracoa.kit.net ou abracoa@uol.com.br 25-29 - Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado em Varginha/ MG. Inf.: (35) 3212-2417. 27-29 – IV Seminário Estadual de Maricultura Será realizado pelo Sebrae/RJ em Angra dos Reis/ RJ. Inf.: 24- 3365-2799, rzsilva@rj.sebrae.com. br ou balcaoangra@rj.sebrae.com.br OUTUBRO 02-06 - Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado pelo SENAR-MG, em Campestre/ MG. Inf.: (35) 3743-1270 c/ Aurelúcia. 17-21- Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado pelo SENAR-MG, em Divinópolis/ MG. Inf.: (37) 9968-7801 c/ Henrique. 18-20 - I Conferência Latino Americana sobre Cultivo de Peixes Nativos – Será realizada em Michoacán, México. Inf.: www.aqua.stir.ac.uk/ GISAP/Conference/index.htm 19-20 - Projetos Aqüícolas: Planejamento, Orça- mento e Análise da Viabilidade Econômica – Será realizado em Jundiaí/SP por Fernando Kubitza. Inf.: 11-4587-2496 ou www.acquaimagem.com.br 23-27 - Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado em Divinópolis/ MG. Inf.: (37) 9968-7801. 23-27 - IX ENBRAPOA – Encontro Brasileiro de Patologias de Organismos Aquáticos – Será reali- zado em Maceió/ AL. Inf.: www.abrapoa.org.br 25-26- V Seminário Estadual de Aqüicultura Interior – Será realizado pelo Sebrae/RJ. Inf.: Tel: 24-3347-5845 ou convpirai01@rj.sebrae.com.br 25-27 – Biofach América Latina e Expo Sus- tentat – Serão realizadas em São Paulo, SP. Inf.: www.biofach-americalatina.com.br 26- Seminário sobre Aqüicultura do Sindirações O evento do COAqua engloba as principais empre- sas fabricantes de rações para peixes e camarão. Será realizado em São Paulo-SP . Inf.: Tel.: (11) 3541-1212, www.alimentacaoanimal.org.br NOVEMBRO 06-10 – III SEMAQUI (Semana de Aqüicultura da UFSC) - Será realizadono CCA na UFSC.Inf.: se- maqui@yahoo.com.br ou www.semaqui.ufsc.br 06-10 - Curso de Piscicultura (Abate e Orna- mental) para Produtores Rurais - Será realizado em Itaúna/ MG. Inf.: (37) 8816-2341. 09-10- Estratégias Avançadas de Manejo na Piscicultura – Será realizado em Jundiaí/SP por Fernando Kubitza. Inf.: 11-4587-2496. 15-17- VIII Simposio Internacional en Nutrici- ón Acuícola – Será realizado em Sinaloa, México. Inf.: www.ciad.mx/mazatlan/viiisina.htm 23-24- Correção e Controle da Qualidade da Água em Piscicultura – Será realizado em Jun- diaí/SP por Fernando Kubitza. Inf.: 11-4587-2496 ou www.acquaimagem.com.br. 24- Curso: “Piscicultura na Região Sudoeste Paulista” - Será realizado pela APTA em Capão Bonito/ SP. Inf.: www.aptaregional.sp.gov.br 29-03/12- II SEGAP - Seminário de Gestão Socioambiental para o Desenvolvimento Sustentável da Aqüicultura e da Pesca no Brasil – Será realizado na UFRJ. Inf.: Tel: (21) 2220-2097 ou www.sage.coppe.ufrj.br DEZEMBRO 07-08 - Produção Comercial de Alevinos de Tilápia – Será realizado em Jundiaí – SP pelo instrutor Fernando Kubitza. Inf.: 11-4587-2496 ou www.acquaimagem.com.br 11-14 - XII SEP – 12a edição da Semana do Engenheiro de Pesca - Será realizada na UFRPE, em Recife/ PE. Inf.: (81) 3320-6501 ou e-mail: mcfs@ufrpe.br ��Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 �� Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2006 Voltar para Menu do DVD Capa Edição 96 - Julho/Agosto - 2006 Editorial Edição 96 Índice da revista Notícias & Negócios Notícias & Negócios OnLine A eterna briga entre Ambientalistas e Carcinicultores Cultivos em Meios com Flocos Microbianos Boas coletas garantem bons diagnósticos Atenção no manejo dos peixes na saída do inverno Aparas da filetagem da tilápia se transformam em polpa condimentada Coletores de sementes de mexilhão Pirarucu: O manejo e seleção nas instalações do DNOCS Brasil e o mercado americano de camarões Purina tem novidades para a Carcinicultura Maritech amplia seus horizontes no Brasil Grupo Ypióca em parceria com a Nutron Alimentos inaugura unidade de produção de ração Falta de análises de resíduos quase barra exportação de pescados brasileiros para a União Européia Lançamento Editorial Aqüicultura Capixaba: da produção ao mercado aqüicultura. Ministério da Fazenda isenta produtos aqüícolas de PIS e Cofins Maricultura em Santa Catarina é beneficiada pelo Programa Juro Zero da FINEP Engenheiros de Aqüicultura já podem solicitar registro no CREA Aquaciência 2006 reuniu acadêmicos em Bento Gonçalves Conversa franca sobre o Licenciamento Ambiental da Aqüicultura Fórum Sindirações Anunciantes da edição 96 Calendário Aqüícola da Edição 96 Voltar para Menu do DVD