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103 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
2 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
3Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 3
Editorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
E u tinha pouco tempo. Afinal época de fechamento de edição não é brincadeira, e o compromisso agendado anteriormente não podia ser cancelado. Entre uma conexão e 
outra escrevo esse editorial no avião rumo a Rondônia, onde farei uma matéria para a pauta 
da próxima edição.
Apesar de já estar indo ao encontro de novos temas, meus pensamentos ainda giram 
em torno dos resultados positivos da produção do camarão Vannamei SPF, apresentados nessa 
edição, e que se mostram promissores para novamente impulsionar a carcinicultura brasileira, 
tão debilitada por conta das inúmeras viroses que a assolou. Ao tomar conhecimento desse 
trabalho que tem à frente a competentíssima Ana Carolina Guerrelhas, da Aquatec Ltda., não 
tive dúvidas de que esse seria o tema de capa dessa edição que você tem agora em mãos. 
O impulso que a carcinicultura certamente terá com essa inovação biotecnológica não 
será, porém, o único no cenário atual da aqüicultura brasileira. Também a piscicultura tem 
tudo para deslanchar a partir do impulso que lhe dará a nova Instrução Normativa, que deu 
à SEAP a competência para efetivar a cessão das águas da União. Nas palavras do ministro 
Gregolin, a aqüicultura no Brasil era como um Boeing deslizando na pista e que não levan-
tava vôo. E agora, com a nova IN, temos condições de decolar. Tomara que o entusiasmo do 
ministro da SEAP se transforme na desburocratização dos processos, permitindo que milhares 
de aqüicultores brasileiros recebam a autorização para usar legalmente as águas públicas da 
União, que esperam há tantos anos.
Outra boa notícia para a aqüicultura do nosso país é a recente inauguração do CTA - Centro 
Tecnológico de Aqüicultura, em Extremoz, na região metropolitana de Natal - RN, uma iniciativa 
do governo estadual para atender uma antiga reivindicação dos carcinicultores potiguares, 
que proporcionará ganhos tecnológicos para toda a aqüicultura brasileira, uma vez que, além 
do camarão, também fará pesquisas aplicadas a diversas outras áreas. 
Nesta edição você confere também a versatilidade do uso do sal na piscicultura; vai 
saber mais sobre as cianobactérias; conhecer a ação e os prejuízos que a bactéria Streptococcus 
vem causando na tilapicultura brasileira e, acompanhar um interessante estudo que mostra, 
pela primeira vez em detalhes, o custo de produção das ostras catarinenses.
Pousando em Porto Velho, desejo a todos uma ótima leitura.
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Í N D I C E
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
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Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
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Colaboradores desta edição: Ana 
Carolina de Barros Guerrelhas, Ana Paula 
Teixeira, Daniela Tupy do Godoy, Fernando 
Kubitza, Gláucia Frasnelli Mian, Henrique 
César Pereira Figueiredo, João Luis Rocha, 
Léo Teobaldo Kroth, Marcelo Chammas, 
Neuza S. Takahashi, Paulo de Tarso 
Rozas Rodrigues, Rafael Alves, Ricardo Y. 
Tsukamoto, Zeno Frasson
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dos autores. 
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40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 
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Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA
Fotos: Aquatec Ltda.
Edição 103 – setembro/outubro 2007
Editorial
Notícias e Negócios
Notícias e Negócios on-line 
A versatilidade do sal na piscicultura
Cianobactérias + Civilização = Problemas (Parte 2)
Estreptococose em tilápia do Nilo – Parte 1
Viabilidade econômica do cultivo de ostras em Florianópolis
A classificação das ostras nativas
Opinião Marcelo Chammas: Agora vai?
Primeiros resultados do vannamei SPF no Brasil
Lançamentos Editoriais
Inaugurado o Centro Tecnológico de Aqüicultura-CTA
Fiperj faz 20 anos 
SEAP já pode efetivar a cessão das águas da União
Calendário Aqüícola
Vannamei SPF no Brasil
O desconhecimento sobre as diversas patologias que 
acometem os camarões, especialmente as viroses, 
promoveu a disseminação de várias doenças que 
culminaram em grandes prejuízos financeiros para a 
indústria do camarão cultivado em todo o mundo, 
inclusive no Brasil. Na busca por soluções para o controle 
dessas doenças, foi introduzido na carcinicultura, a 
exemplo do que já ocorre há anos com vários outros 
grupos de animais, o conceito “SPF” (Specific Pathogen Free). No Brasil, linhas SPF estão sendo 
desenvolvidas a partir da importação, no final do ano passado, de animais livres das doenças 
notificadas, e os resultados iniciais já se mostram extremamente promissores. Leia tudo sobre 
o vannamei SPF no Brasil na página 48, a matéria de capa dessa edição.
6 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negócios
VANNAMEI EM SERGIPE - Em reunião con-
junta dos Ministérios Públicos Estadual e Fe-
deral ocorrida em Aracaju no último mês de 
agosto, na presença dos principais técnicos, 
ambientalistas e associações de carciniculto-
res de Sergipe, foi lida decisão conjunta do 
IBAMA/SE e da ADEMA (Órgão estadual do 
meio ambiente) definindo um prazo de seis 
meses para que se proíba o cultivo de ca-
marão vannamei em áreas de APP do Esta-
do. Na mesma ata, os Ministérios Públicos 
ficaram de oficiar o Governo do Estado de 
Sergipe, para que ele apresentasse alter-
nativas aos produtores, os quais, por meio 
de suas associações, já solicitaram posicio-
namento oficial ao governo sergipano. Até 
o fechamento dessa edição, o Governador 
Marcelo Deda ainda não havia se pronun-
ciado a respeito. Se essa moda pega...
BANCOS NÃO QUEREM PRORROGAR - De-
pois de controlar a incidência de doenças 
e aprender a lidar com a desvalorização do 
dólar os carcinicultores brasileiros produtores 
começam a retomar as estratégias de expan-
são do setor. O que lhes tira o sono agora é 
a dificuldade de negociação com os bancos 
credores que não aceitam prorrogar os finan-
ciamentos. Para apoiar os carcinicultores, o 
presidente da Associação Brasileira dos Cria-
dores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, tem 
ministrado palestras para técnicos na sede 
do Banco do Nordeste (BNB) em Fortaleza 
-CE, expondo os números que apontam para 
a retomada do crescimento e justificam a 
prorrogação do prazo para o pagamento 
dos financiamentos. O débito total do se-
tor, que acumula inadimplência de 5%, é 
de R$ 360 milhões e equivale a 12% do seu 
patrimônio. Aos técnicos do BNB Itamar 
Rocha tambémexpôs as condições naturais 
favoráveis para a expansão da atividade, 
ressaltando ainda que, no ano passado, a 
participação do crustáceo nas exportações 
mundiais, foi de 14,5 bilhões de dólares. 
MERENDA ESCOLAR - Está em tramitação na 
Assembléia Legislativa do Estado do Espíri-
to Santo um projeto de Lei de autoria do 
deputado Atayde Armani (DEM), que tor-
na obrigatória a inclusão da carne de peixe 
nas refeições dos alunos das escolas da rede 
estadual de ensino. Se aprovada, a Lei ain-
da determina que a carne de peixe deve ser 
incluída duas vezes por semana no cardápio 
escolar. Entre alguns argumentos que justi-
ficaram a sua aprovação, estão os de que a 
carne de peixe contém em média 18% de 
proteínas, e que é excelente fonte de mi-
nerais, excelente, portanto, para colaborar 
com o desenvolvimento físico e mensal dos 
estudantes. Segundo o autor da proposta, a 
medida também impulsionará o setor pes-
queiro capixaba, movimentando a economia 
estadual. O projeto de Lei, no entanto, não 
cita a aqüicultura como abastecedora de 
pescados, mas é fácil avaliar a importância 
dos cultivos no abastecimento de pescados 
do Espírito Santo, visto que até o peroá frito 
(Balistes vetula), tradicional prato da culiná-
ria capixaba, já está sendo substituído nos 
restaurantes litorâneos pela tilápia cultiva-
da. Para alguns especialistas, porém, se essa 
Lei vier a ser adotada em todo o País, tere-
mos que importar muito pescado.
MARICULTURA CEARENSE - Uma iniciati-
va pública-privada cearense que envolve a 
Fundação Alphaville, Prefeitura do Eusébio, 
Superintendência Estadual do Meio Ambien-
te e Instituto de Ciências do Mar - Labomar 
possibilita que há dois anos pesquisadores 
da Universidade Federal do Ceará - UFC de-
senvolvam no Centro de Estudos Ambien-
tais Costeiros - CEAC, um experimento com 
espécies de peixes marinhos. Cerca de 400 
peixes reprodutores são objetos da pesqui-
sa que visa viabilizar o cultivo das espécies 
Centropomídeos (robalos) e de Lutjanídeos, 
entre eles ariacó, dentão, guaiuba e a cioba. 
A coordenação do Projeto “Cultivo de Peixes 
Marinhos” está a cargo do professor Manuel 
Furtado Neto.
BAIXA PRODUÇÃO ACREANA - O governo 
federal deve liberar R$ 30 milhões para o de-
senvolvimento da cadeia produtiva no Esta-
do do Acre, para contemplar a limpeza das 
águas, a instalação de uma fábrica de ração, 
subsídio à compra de combustíveis, adequa-
ção de barcos às condições de navegabilida-
de regional; e a instalação de laboratórios, já 
que a produção acreana de alevinos é insufi-
ciente e se concentra apenas na capital Rio 
Branco. Segundo os aqüicultores do Acre é 
comum dependerem da compra de alevinos 
vindos de Rondônia, o centro mais próximo. 
O Acre é apontado como o terceiro Estado da 
Amazônia com maior quantidade de lagos. No 
entanto, 80% deles estariam em regiões de 
cerrados praticamente improdutivos, o que 
impede a pesca e a reprodução das espécies. 
A produção de pescado no Acre é de apenas 
3,5 mil toneladas/ano.
RELATÓRIO - Um relatório sobre os procedi-
mentos estaduais de licenciamento ambiental 
7Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negócios
elaborado pela SEAP em 2005 e está sendo 
atualizado pela Diretoria de Desenvolvimento 
de Aqüicultura da SEAP. Segundo Felipe M. 
Suplicy, Coordenador Geral de Maricultura da 
Secretaria, apesar de estar desatualizada para 
alguns estados, o documento contém infor-
mações de interesse para gestores públicos 
e interessados em investir no setor aqüí-
cola. O relatório se encontra disponível em 
http://200.198.202.145/SEAP/didaq/htlm2/
legislacao_aquicola.html
ENGENHEIROS DE PESCA - Acaba de ser 
fundado o Sindicato Nacional dos Enge-
nheiros de Pesca – SINEP. A Diretoria Exe-
cutiva Nacional eleita para o período 2007/ 
2011 tem como presidente Haroldo Gomes 
Barroso (MA) e como vice-presidente José 
Rodolfo Rangel Moreira Cavalcanti (PE). 
Segundo Haroldo Barroso (hgbarroso@uol.
com.br), a nova diretoria não medirá esfor-
ços para ordenar a categoria e alcançar as 
metas pautadas pelo sindicato.
PESCADO EM BRASÍLIA - O consumo de 
pescado em Brasília é duas vezes maior 
que a média nacional que é de 7 kg/ano. A 
cidade, mesmo distante do litoral, conso-
me 13 quilos por habitante/ano, enquanto 
a OMS recomenda o consumo de 12 quilos 
de peixe por ano. O Distrito Federal produz 
apenas 823 toneladas por ano de pescado, 
um mercado que movimenta 3,2 milhões 
de reais e cresce a uma taxa de 10% ao 
ano. Estima-se que o pescado produzido 
no Distrito Federal pode crescer ainda mais 
com informação e preço baixo, já que 350 
produtores criam peixes em municípios da 
região que atendem a apenas 5% do con-
sumo brasiliense. Produtores rurais estão 
cada vez mais interessados na criação de 
peixes em viveiros ou açudes das cidades 
como Planaltina, São Sebastião e Gama, 
demonstrando que a atividade é rentável 
para as pequenas propriedades familiares. 
Segundo dados da SEAP, é a alta deman-
da por pescado no Distrito Federal que 
tem incentivado a produção aqüícola. A 
SEAP já assinou um protocolo de coope-
ração técnica com o governo do DF, onde 
uma das ações previstas na parceria é a 
construção de um local para treinamento 
e capacitação de piscicultores no Centro 
de Tecnologia em Piscicultura da Emater-
DF, sediado na Granja do Ipê. Hoje, o pei-
xe mais produzido no Distrito Federal é a 
tilápia, que representa cerca de 50% de 
todo o pescado cultivado.
BIOECOLOGIA AQUÁTICA - O Programa 
de Pós-Graduação em Bioecologia Aquáti-
ca da Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte (UFRN) está com as inscrições 
abertas para o processo seletivo de 2008. 
As inscrições para o curso de mestrado 
em Bioecologia Aquática se encerram em 
novembro e a seleção se dará ente 17 e 
19 de dezembro, com a divulgação dos 
resultados prevista para 21 de dezembro. 
São vinte vagas e o início do curso será 
em março de 2008. Mais informações pelo 
telefone (84) 3215-4431 ou e-mail: bioe-
cologiaquatica@cb.ufrn.br
VENDAS AO EXTERIOR - Os Estados Unidos 
são o destino de 99% da lagosta produzida 
pela Netuno Alimentos, o maior grupo de pes-
cados do país. Para este ano, a empresa pre-
vê um crescimento de 20% em receita, para 
R$ 265 milhões. Além do bom desempenho 
nos embarques de lagosta, a empresa estima 
uma expansão de 50% na receita com vendas 
para o mercado interno graças, sobretudo, ao 
avanço nas vendas de filés de tilápia. A Ne-
tuno vai processar 5 mil toneladas de tilápia 
neste ano, contra 1,2 mil em 2006. 
VERBA PARA MARICULTORES - Mariculto-
res e pescadores catarinenses receberam da 
Prefeitura de Florianópolis recursos do Fun-
do Municipal de Geração de Oportunidades 
– Fungeof, no valor de R$ 44 mil a serem 
utilizados na manutenção de equipamentos 
ou na compra de matéria prima para o se-
tor. O Fundo tem como finalidade promover 
o desenvolvimento econômico do município 
de Florianópolis através do apoio financeiro a 
programas e projetos definidos pelo Conselho 
Gestor do Instituto de Geração de Oportuni-
dades (IGEOF). São ao todo 11 maricultores 
e pescadores que conquistaram o direito ao 
benefício. Esta é a segunda parcela paga pelo 
Fungeof este ano, sendo que um novo lote de 
financiamentos deve ser repassado até o final 
de 2007. Os profissionais que se enquadrem 
nas regras do benefício podem solicitar o fi-
nanciamento, que tem valor máximo de R$ 
4 mil e pode ser quitado em até dois anos. 
Entre os critérios para enquadramento estão: 
ser residente ou exercer atividade profissio-
nal no município; obter nas atividades rurais, 
pesqueiras ou aqüícolas sua principal fonte 
de renda; não ter débitos pendentes junto a 
prefeitura; ser inscrito como produtor rural, 
pescador ou aqüicultor junto à Secretaria Es-
tadual da Fazenda; estar registrado na SEAP 
(Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca) 
ou Colônia de Pescadores ou Sindicato da ca-
tegoria. Cada produtor tem direito a apenas 
8 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negóciosum empréstimo por vez, porém pode se can-
didatar a um novo financiamento depois que 
o débito anterior for quitado.
MARÉS VERMELHAS - Nunca se viu, como 
este ano, tantas ocorrências da maré verme-
lha como as que foram vistas no litoral de 
Santa Catarina. As mais recentes concentra-
ções de algas tóxicas foram identificadas em 
Florianópolis, na Praia dos Ingleses, Santinho 
e Ponta das Canas. Este novo foco vem so-
mar-se aos outros cinco encontrados em San-
ta Catarina este ano, nos municípios de Porto 
Belo, São Francisco do Sul, Governador Celso 
Ramos, Balneário Camboriú e Penha. Em San-
ta Catarina, cabe ao Laboratório de Algas No-
civas do Centro de Ciências Tecnológicas da 
Terra e do Mar (CTTMar), da Universidade do 
Vale do Itajaí (Univali), a identificação e con-
tagem de microalgas marinhas, bem como a 
análise de ficotoxinas nos mexilhões e ostras. 
O monitoramento segue regras internacio-
nais de controle microbiológico, realizando 
as mesmas medidas preventivas que outros 
países produtores como o Chile e a Espanha. 
O que se sabe é que a maré vermelha é um 
fenômeno natural que acontece em todas as 
partes do mundo e, o que não é normal, é a 
alta concentração destas algas, causada pela 
poluição, temperatura da água, correntes e 
circulação. O seu aparecimento é comum no 
verão, mas, neste ano, as algas apareceram 
tanto no verão quanto no inverno. Para os 
produtores trata-se de uma fase atípica, uma 
vez que a maré vermelha dura apenas alguns 
dias e não meses, causada, provavelmente, 
por fenômenos climáticos como o La Niña. O 
Estado de Santa Catarina responde por cerca 
de 90% da produção nacional de moluscos, 
com 14 mil toneladas de ostras, mexilhões 
e vieiras produzidas em 2006. As interven-
ções na comercialização são importantes para 
a segurança alimentar e ajudam a garantir a 
imagem positiva de um produto de qualidade. 
Resta, aos maricultores catarinenses, torcer 
para que a situação ao longo da costa logo se 
normalize, já que absolutamente nada pode 
ser feito a não ser esperar que as ocorrências 
se dissipem.
CHEIAS DO SÃO FRANCISCO - O Ministério 
Público Federal em Sergipe (MPF/SE) reali-
zou em Aracaju, uma audiência para deba-
ter os problemas e traçar estratégias que 
reduzam os impactos ambientais causados 
pela abertura das comportas da Hidroelétri-
ca de Xingó, causados pelas cheias do rio 
São Francisco. O encontro ocorrido em ou-
tubro contou, entre outros, com a presença 
de representantes da Agência Nacional de 
Águas (ANA) e das prefeituras do Baixo São 
Francisco, além de representantes da Chesf, 
Adema, Ibama, Defesa Civil, Comitê da Ba-
cia do São Francisco, Codevasf e Federação 
dos Pescadores de Sergipe. A abertura das 
comportas das usinas, especialmente a de 
Xingó tem gerado diversos estudos para que 
os piscicultores possam tomar providências 
para reduzir os prejuízos causados pelas 
cheias. De acordo com a procuradora geral 
da República no estado, Eunice Dantas, “de 
nada adianta a Chesf informar aos municí-
pios quando e de quanto será o aumento da 
vazão, uma vez que a população não sabe 
mensurar o que isso vai provocar”. 
MERCADO INTERNO EM ALTA - Ao que tudo 
indica, foi acertada a decisão da indústria de 
pescado, sobretudo de camarões e tilápias, 
de redirecionar sua produção para o merca-
do interno. Algumas empresas já chegaram 
a vender 50% mais no país neste ano. As ex-
portações, apesar de mantidas, deixaram de 
ser o foco principal, por conta da desvaloriza-
ção do dólar. Pelo mesmo motivo, as impor-
tações também foram facilitadas e a oferta 
de produtos aumentou, elevando as vendas 
de pescados entre 20% e 22% nos últimos 12 
meses. Os itens mais procurados são filés de 
merluza, cação, corvina, salmão e camarão.
TILÁPIA PARA EXPORTAÇÃO - O Centro In-
ternacional de Negócios da Bahia acaba de 
assinar acordo de cooperação técnica com o 
Instituto de Desenvolvimento Sustentável do 
Baixo Sul (Ides) para promover a internacio-
nalização da tilápia e seus derivados, dentro 
do Programa de Desenvolvimento Integrado e 
Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo 
Sul). O projeto visa aproveitar a capacidade 
de ampliação da produção da Cooperativa 
Mista de Marisqueiros, Pescadores e Aqüicul-
tores do Baixo Sul para abrir novos merca-
dos no exterior. Integrantes do Ides já foram 
capacitados para promover a exportação da 
tilápia, através do Programa Oficinas de Co-
mércio Exterior e já participaram de rodada 
de negócios com importadores europeus. O 
próximo passo é a identificação dos possí-
veis importadores e distribuidores nos Es-
tados Unidos, o maior mercado consumidor 
de tilápia no mundo. Resta saber se, com 
a atual desvalorização do dólar, o negócio 
deixará algum lucro para os produtores. 
9Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negócios
FURNAS E TRÊS MARIAS - Os interessados 
na demarcação de áreas propícias para o 
desenvolvimento de projetos de aqüicul-
tura em tanques-rede nos reservatórios de 
Furnas e Três Marias, situados nas bacias 
dos rios Grande e São Francisco, em Minas 
Gerais, devem acessar o site do Progra-
ma de Delimitação de Parques Aqüícolas 
desses reservatórios no endereço http://
ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/Parques_
Aquicolas/website/index.htm. Lá encon-
trarão os relatórios parciais e finais do 
estudo limnológico (hidrobiológico) dos 
dois reservatórios, bem como os relatórios 
dos consultores contratados nas áreas de 
hidrologia, climatologia, sócio-economia, 
modelagem hidrodinâmica, capacidade de 
suporte, ictiologia e produção de pescado. 
O site ainda traz a íntegra do convênio 
assinado entre a SEAP-PR e a Secretaria de 
Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior 
de Minas Gerais que, por sua vez, contra-
tou os serviços do Laboratório de Gestão 
Ambiental de Reservatórios/ICB/UFMG.
FRIGORÍFICO EM SORRISO - O grupo Ibpa-
sa - Indústria Brasileira de Pescados Amazô-
nicos, está construindo em Sorriso - MT, um 
frigorífico com capacidade para industrializar 
9,5 mil quilos de pescado por dia. O investi-
mento será de R$ 20 milhões e vai gerar cerca 
de 180 empregos diretos e 500 indiretos e 
a expectativa é que o abatedouro entre em 
funcionamento a partir de fevereiro do ano 
que vem. A empresa vai trabalhar com cerca 
de 35% da alevinagem e engorda dos peixes, 
e o restante será negociado com piscicultores 
da região, que vão trabalhar em parceria com 
a empresa. O novo frigorífico vai trabalhar 
inicialmente com surubim e tambaqui. 
OFFSHORE EM PORTUGAL - O Departa-
mento de Ciências e Tecnologias do Mar 
da Universidade do Algarve, em Portugal 
está se dedicando ao desenvolvimento de 
uma estação piloto de piscicultura mari-
nha com foco na dourada. O projeto tem 
apoio do governo português, que já decla-
rou que pretende alcançar um aumento da 
produção de peixe de aqüicultura de três 
para 30%. Em todo o País, só no Algarve 
é que se dedica à piscicultura marinha. O 
governo português aposta no sistema de 
aqüicultura "offshore", uma iniciativa que 
permitirá, além da reposição dos estoques 
no mar, uma produção superior ao sistema 
de aqüicultura tradicionalmente realizado 
em terra. A aqüicultura no Algarve iniciou-
se na cidade pesqueira de Olhão, produ-
tora de alevinos de dourada, que exporta 
75% da sua produção para Espanha, já que 
Portugal não absorve sua produção.
SIMPÓSIO NUTRIÇÃO - Como já havia 
sido noticiado nesta revista, o Brasil foi 
o país escolhido para sediar a décima ter-
ceira versão do International Symposium 
on Fish Nutrition And Feeding (ISFNF). A 
comissão organizadora do evento no Bra-
sil tem como presidente a professora Dé-
bora Fracalossi, da UFSC, que espera que 
o simpósio ajude a consolidar a indústria 
da aqüicultura brasileira, ao discutir em 
profundidade a nutrição de peixes e cama-
rões. O evento acontecerá de 1 a 5 de ju-
nho de 2008 no Majestic Palace Hotel, em 
Florianópolis. Mais informações no www.
isfnf2008.com.br ou com Mariana Alcân-
tara no tel.: (48) 3322-1021 ou e-mail: 
mariana@oceanoeventos.com.br20 ANOS – A ABRAT - Associação Brasi-
leira de Truticultores comemorou no dia 
27 de outubro os seus vinte anos de 
existência. O evento dos truticultores 
se realizou no auditório da Fundação 
Roge, localizada no município de Del-
fim Moreira (MG), na Serra da Manti-
queira, a 1.207 metros de altitude. O 
Encontro de Truticultores contou com 
a participação do Prof. Dr. Nobuaki 
Okamoto, vice-reitor da Tokyo Univer-
sity of Marine Science and Technology. 
O Prof. Okamoto desenvolveu no Ja-
pão, uma linhagem de truta arco-íris 
que é capaz de maturar as gônadas, 
reproduzir e desenvolver seus ovos/
embriões a 18-20oC, enquanto o limite 
máximo para a truta normal comple-
tar estas atividades é 11-12oC. Além 
disso, a truta se reproduz duas vezes 
por ano, enquanto o normal é apenas 
uma vez. Esta variedade, apelidada 
de "tropicalizada", seria importante 
para estender os limites do cultivo no 
Brasil, mas há numerosas etapas buro-
cráticas para a sua importação, algu-
mas das quais a legislação e as normas 
tornaram praticamente impossível de 
atender legalmente. Uma amostra das 
publicações do professor Okamoto pode 
ser vista no website: http://www.soi.
wide.ad.jp/class/20050027/profile/
okamoto.html 
10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negócios On-line
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e siga as instruções.
De: Wallace Batista
engenheiro.de.pesca@gmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Licença ambiental
No Estado do Acre, o aqüicultor que 
possuir até 2 ha de lâmina d’água re-
cebe o licenciamento ambiental gra-
tuitamente fornecido pelo governo, 
os que possuem acima de 2 ha têm 
que contratar um engenheiro de pes-
ca para providenciar o Relatório de 
Controle Ambiental. 
De: Rodolfo Rangel
rodolforangel@uol.com.br 
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Licença ambiental
Para estimular o público interressado 
a ingressar na atividade de implanta-
ção de viveiros para aqüicultura, em 
um hectare de viveiro, qual o valor do 
custo da licença ambiental e em quan-
do tempo o empreendimento estará le-
galizado? Existe alguma tabela? Pode-
ria divulgá-la? Existem dados para que 
possamos comparar, já que não há pa-
dronização de procedimentos... 
 
De: Assis Lacerda
rodolforangel@uol.com.br 
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Licença ambiental
Prezado Rodolfo e demais membros, 
em Pernambuco, nos guiamos pela Lei 
Estadual de Licenciamento Ambiental 
nº 12.916/05, na qual contempla-
mos os licenciamentos de projetos 
de aqüicultura. Nessa Lei, colocamos 
os variados tipos de aqüicultura e em 
anexo a ela, tabelas de orientação de 
dimensão e tabelas de preços.
 
De: Sergio Tamassia
tamassia.panorama@bol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Licença ambiental
Se você visitar o site da FATMA de 
SC (http://www.fatma.sc.gov.br/de-
fault/default.asp) você encontra as 
informações que procura, como ma-
nuais, custos, etc.. E por aqui, vários 
profisionais com especialidades téc-
nicas que tenham Anotação de Res-
ponsabilidade Técnica (ART) podem 
se responsabilizar pela licença.
De: Fabio Vaz
fabiovazb@hotmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Auto de infração
Tenho um conhecido que foi autua-
do pelo IBAMA devido a uma infração 
na elaboração de uma piscicultura. A 
piscicultura tem 10 anos de constru-
ção e ele foi autuado devido a ela-
boração dos tanques não respeitando 
a faixa de proteção de mata ciliar (1 
ha) e tanques feitos muito próximos 
a uma nascente. Ele enviou a defesa 
explicando que no layout de constru-
ção dos tanques, não havia nenhum 
corpo d’água que fora destruído com a 
implantação da piscicultura. Como eu 
não tenho conhecimentos dessa parte 
legal, gostaria que os amigos da lista 
me dessem uma opinião do que eu po-
deria fazer para ajudá-lo e também o 
que pode acontecer daqui pra frente 
(reflorestamento, inativação da pisci-
cultura, outras multas, etc.). 
De: Marco Pintaudi
marco@audisys.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Auto de infração
Olá Fábio, em alguns casos que acom-
panhei, a melhor saída foi não tentar 
justificar que não fez algo de errado, 
e sim apresentar uma forma de repa-
rar o dano em que foi acusado. Como 
por exemplo: ao redor da nascente, se 
possível, 50 metros de proteção nati-
va. Averbar 20% da área para plantio 
de espécies nativas. Regularizar toda 
documentação do negócio, da pro-
priedade e a captação e lançamento 
11Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & NegóciosOn-line
de água. Projeto com levantamento 
topográfico, fotos e um bom relatório 
explicando todas as compensações. 
Aqui no Estado de São Paulo com um 
trabalho deste tipo e apresentado 
dentro do prazo, há casos que a multa 
cai para 10% do valor da autuação. É 
lógico que tudo depende do tamanho 
do dano causado.
De: Renato Soares
rsconpisci@yahoo.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Auto de infração
Fábio, de quando é a lei pela qual o 
seu amigo foi autuado? Aqui no Ama-
zonas estamos enfrentando dificulda-
des frente as instituições ambientais 
devido a legislação do CONAMA, em 
relação aos empreendimentos loca-
lizados em barragens de igarapés, 
construídos antes dessa resolução ser 
criada.
De: Fabio Vaz
fabiovazb@hotmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Auto de infração
Caro Renato, quero agradecer pela 
colaboração. Pelo que sei, ele foi au-
tuado quando iniciou a instalação da 
piscicultura, em meados de 97. A lei 
vigente (Lei no 4.771, de 15 de se-
tembro de 1965 - Código Florestal), 
se mantém até hoje com apenas al-
gumas inovações para determinados 
casos específicos. Resumindo: “Dis-
tância de corpos d’água e preserva-
ção de mata ciliar.” Pelo que pude ver 
a autuação foi muito bem aplicada 
mediante os rigores da lei, mesmo 
que a alegação do autuado seja a de 
que não havia corpos d´água na área. 
Mas quero insistir em ter uma solu-
ção desse infeliz caso. Quero dizer ao 
Marco que compreendi perfeitamente 
o que você quis me dizer. Se o tempo 
da defesa permitir, com certeza será 
o que iremos fazer. Agradeço muito a 
sua colaboração.
De: Diogo Moreira
diogopmoreira@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Produzir ração
Caros colegas, estou desenvolvendo 
um projeto para testar a viabilida-
de de iniciar uma criação de tilápias 
no sul fluminense (28 tanques-rede) 
e embora tudo esteja caminhando, 
o custo das rações é elevadíssimo, 
comprometendo boa parte do fatura-
mento. Já ouvi falar sobre cultivos e 
re-processamento de restos da fileta-
gem que poderiam ser utilizados para 
fabricar nova ração, mas a informação 
sobre isso é escassa. Alguém poderia 
me dizer como proceder com esse fim, 
que culturas são indicadas, e se cos-
tuma ser viável fazer isso?
De: Fabio Sussel
sussel@aptaregional.sp.gov.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Produzir ração
Prezado Diogo, resumidamente eu 
vou responder a sua última pergunta. 
Costuma ser viável isto? Não, Diogo, 
não vale a pena você produzir pouca 
quantidade de ração. A mão-de-obra 
que você vai ter para conseguir todos 
os ingredientes e a menor qualidade 
final desta sua ração quando compa-
rada com as rações extrusadas comer-
ciais, não vai valer a pena. Ainda não 
temos uma tecnologia para alimentar 
peixes em tanques-rede com rações 
peletizadas. Assim sendo, preconiza-
se que as rações para tanques-rede 
sejam extrusadas. Você não irá conse-
guir alguma empresa que extruse es-
tas pequenas quantidades para você e 
muito menos adquirir uma extrusora.
Para volumes acima de 50 ton./mês 
até vale a pena você contratar um nu-
tricionista, de modo a ter várias fór-
mulas em função de preços das ma-
térias-prima e então terceirizar uma 
extrusora. Abaixo deste volume, fique 
com a ração comercial. Tente traba-
lhar com cargas fechadas, brigue no 
preço e exija do fornecedor resulta-
dos de boa conversão alimentar.
De: Sergio Tamassia
tamassia.panorama@bol.com.brPara: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Ração o grande vilão da aqüi-
cultura
Olá Panoramanautas, acompanhan-
do as colocações a longo tempo na 
Panorama-l, em Seminários, etc., fica 
a impressão de que o grande vilão 
que atrapalha o desenvolvimento da 
aqüicultura nacional, além do licen-
ciamento ambiental, é a ração, quer 
em termos de qualidade quer em ter-
mos de preço. Será que isto procede? 
Com certeza não podemos considerar 
que este insumo tem apenas uma par-
ticipação angelical, mas qual seria a 
real participação, por exemplo percen-
tual, deste ítem no rol dos problemas 
aqüícolas? Uma coisa que me chama 
a atenção é quando considero outros 
cultivos, como por exemplo, de aves 
e suínos. Eles também utilizam ração 
intensivamente, mas as cadeias destes 
estão tendo lucros, basta ver os balan-
ços de empresas como Sadia, Perdigão, 
etc., que estão ganhando até com a ex-
portação destes itens! As rações destes 
segmentos são eficientes e baratas e as 
da aqüicultura brasileira caras e ine-
ficientes? Ou será que existem outras 
considerações que podem ser feitas 
acerca do tema, ou ele não procede?
De: João Ribeiro
joaoacquasul@gmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Ração o grande vilão da 
aqüicultura
A sua impressão é real. Quanto à quali-
dade das rações, até que foi melhorada. 
Mas quanto ao preço, só tem aumenta-
do. Quando o dólar vivia em alta, eles 
usavam isso como argumento para au-
mentar os preços das rações. E agora 
que o dólar está em baixa, a ração con-
tinua aumentando de preço. 
12 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & Negócios On-line
De: Mauricio Emerenciano
mauricioemerenciano@yahoo.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Ração o grande vilão da 
aqüicultura
Gostaria de fazer uma pequena refle-
xão quando comparamos os diferen-
tes segmentos agropecuários em nos-
so país. Em relação ao lucro obtido 
nas mais diferentes atividades, quan-
do pensamos no produtor a realidade 
não é tão boa assim. Os produtores de 
suínos, por exemplo, há muito tempo 
não vivem período de “vacas gordas”. 
A situação de aves de corte está um 
pouco melhor, mas não tão melhor as-
sim. Ainda mais se pensar no peque-
no produtor. Sadia e Perdigão (o elo 
final da cadeia produtiva, os “agre-
gadores de valor”) com certeza se 
beneficiam de tudo isso. Agregam va-
lor, mantêm a qualidade e padrão de 
seus produtos e possuem uma marca 
consolidada no mercado interno. Quer 
uma receita melhor? E ainda cada vez 
mais ganhando espaço no mercado 
externo. Bom não? Em relação ao 
importante tópico tocado, as rações, 
temos que ter em mente que “aves e 
suínos” sem sombra de dúvida estão 
anos luz na nossa frente em termos 
de conhecimentos técnicos (exigên-
cias nutricionais, manejo, genética, 
entre outros). Já é sabido há muito 
tempo que as exigências básicas e a 
nutrição desses animais já chegou a 
um patamar altamente tecnificado. 
Um exemplo dessa tecnificação em 
aves: muitas fabricantes de rações já 
utilizam algumas enzimas para dispo-
nibilizar um determinado nutriente 
específico nas rações. E essa “nova 
energia liberada por esse nutriente” 
já é calculada na energia total da ra-
ção, que por sua vez já é calculada no 
desempenho animal, e que por exem-
plo, pode diminuir em 1 dia o perío-
do de abate. E na aqüicultura? Quais 
conhecimentos temos? Recentemente 
fui fazer um levantamento de exigên-
cias de cálcio e fósforo (exigência 
mais do que básica) para tilápias. E 
me surpreendeu as poucas informa-
ções obtidas e ainda as inúmeras con-
tradições nas mais diversas partes do 
mundo. Resultado disso: muitas vezes 
utilizamos o “velho” 2:1 (Ca:P), sem 
sequer saber a real biodisponibilida-
de dos ingredientes utilizados, aonde 
muitas vezes o excesso desse fósforo 
vai para ambiente, ou para os vivei-
ros ocorrendo “blooms” de cianobacté-
rias ou fitoplâncton, consequentemen-
te off-flavor, queda de OD, etc.. Outra 
questão são dietas específicas para os 
mais diferentes estágios de crescimen-
to. Em frangos de corte, são mais de 
4 ou 5 tipos de rações em apenas 42 
dias de crescimento animal, maximizan-
do a curva de crescimento do animal. 
Vamos tomar como exemplo novamente 
a tilápia (creio que o nosso peixe que 
alcança mais rapidamente o período de 
abate) que leva aproximadamente uns 
180 dias (média para 500g). E temos 
em média, quantos diferentes tipos de 
rações para esse período, duas, as vezes 
três? Assim, ainda temos que melhorar e 
muito nossos conhecimentos em termos 
de exigências nutricionais básicas ou 
mais específicas para que nossos peixes 
e camarões possam otimizar e maximi-
zar seu crescimento, sempre adequando 
um correto manejo (manejo alimentar, 
densidades de estocagem, qualidade de 
água, entre outros). E se conseguirmos 
atrelar tudo isso a um melhoramento 
genético, busca de linhagens geneti-
camente superiores para crescimento 
ou, por exemplo, resistentes a um de-
terminado patógeno, entre outros, co-
meçaremos a alcançar um desempenho 
zootécnico semelhante ao obtido nas 
13Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Notícias & NegóciosOn-line
outras categorias. Não sou defensor de 
aves e suínos. Mas admiro a tecnificação 
por eles alcançada. Temos que aprender 
com os erros e acertos dessas atividades 
e auxiliar a alavancar a nossa aqüicultu-
ra. Sou otimista e o Brasil certamente 
chegará lá.
De: Ricardo Y. Tsukamoto 
bioconsu@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: [Panorama-L] PNCR e 
uso de anabolizantes em pescado 
(Respondendo à mensagem de Luiz 
Henrique Barrochelo)
O uso dos anabolizantes esteroidais é 
proibido no Brasil por legislação espe-
cífica, e não se pode nem fazer experi-
mento a respeito (é proibido também). 
Com relação ao uso do Dietilestilbestrol 
(DES), duvido que esteja sendo usado 
em ração de salmão ou outros peixes 
para exportação, pois é uma substân-
cia cancerígena e facilmente detectável 
por análises de laboratório. Além disso, 
o DES é tecnologia antiga, pertencen-
te à primeira geração de anabolizantes 
esteroidais, e desde então surgiram ou-
tras gerações bem mais seguras e efica-
zes. Tive a oportunidade de participar 
no Japão, de pesquisas com peixes na 
universidade, utilizando um anaboli-
zante esteroidal aprovado comercial-
mente em vários países desenvolvidos, 
o acetato de trenbolona. É considera-
do tão seguro, que é tradicionalmente 
usado até em humanos, para recuperar 
a massa muscular de pessoas idosas na 
Europa. O acetato de trenbolona (AT) é 
degradado no trato digestório dos ma-
míferos, para garantir que mesmo que 
um ser humano viesse a comer a carne 
do gado tratado, antes do período de 
depuração, o anabolizante seria destru-
ído e não absorvido pelo ser humano. 
Mas em peixes, o metabolismo do AT é 
diferente, e ele pode ser usado mesmo 
via oral, na ração. Num dos testes, o 
crescimento de peixes salmonídeos au-
mentou 18% em relação ao controle, 
pelo uso do AT na ração. Com o pargo 
róseo, o AT aumentou a resistência ao 
estresse de cultivo e manipulação. Mas 
quando tentamos obter autorização para 
seguir com estas pesquisas com AT no 
Brasil, foi impossível. O país prefere 
continuar usando o ilegal DES a autori-
zar os produtos seguros e legais. Como 
você trabalha com tilápia, uma aplica-
ção interessante do AT é na masculiniza-
ção dos lotes. Num trabalho com tilápia 
nilótica nos EUA (onde o uso do AT é 
legal), a imersão dos alevinos duran-
te 2 horas em solução de AT produziu 
boa reversão, gerando mais de 90% de 
machos, enquanto não houve reversão 
num sub-grupo paralelo alimentado com 
ração adicionada de MT (metil testoste-
rona), que era a metodologia padrão. O 
trabalho pode ser baixado na íntegra da 
webpage: http://pdacrsp.oregonstate.
edu/pubs/technical/15tch/3.b.2.pdf. 
De qualquer forma, o Brasil está fechado 
à discussão séria neste assunto, prefe-
rindo deixar solta a ilegalidade e com-
promentendo a saúde do consumidor.
De: Alvaro Graeff
agraeff@epagri.sc.gov.br
Para: lista@panorama-l.com.brAssunto: Re: [Panorama-L] PNCR e uso 
de anabolizantes em pescado
Talvez seja motivo de voltar ao as-
sunto com os colegas da SEAP que 
fazem parte desta lista para que le-
vem a frente esta possibilidade de 
liberar no Brasil o AT. Até proponho 
o seguinte: que os Ministérios elejam 
locais de referência em pesquisa de 
peixes para estudar a liberação des-
te e outros produtos que estão sendo 
utilizados na ilegalidade aqui no Bra-
sil e liberados em outros países.
14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Osmorregulação nos peixes de água doce
O sangue dos peixes de água doce contém cerca de 9g de sal/litro ou 0,9% de 
sal, o equivalente à concentração de um soro fisiológico vendido nas farmácias. Esta 
concentração é semelhante ao registrado em outros animais, inclusive no homem. O íon 
sódio (Na+) representa cerca de 75 a 80% dos sais presentes no sangue dos peixes. 
Por viverem em um ambiente com muita água e poucos sais, e pelo fato de 
manterem um íntimo contato do sangue com a água através dos finos vasos sangüíneos 
(capilares) nas brânquias, os peixes de água doce estão freqüentemente envolvidos numa 
batalha para conservar os sais no sangue e se livrar do excesso de água absorvida, num 
mecanismo fisiológico conhecido como osmorregulação (Figura 1).
Por: 
Fernando Kubitza, Ph. D.
Acqua & Imagem Serviços Ltda.
fernando@acquaimagem.com.br
O sal marinho é ampla-mente disponível, de 
baixo custo, seguro para os 
peixes e para quem o manipula. 
Composto basicamente por clo-
reto de sódio (NaCl), o sal pode 
ser usado em diversas situações 
nas pisciculturas: na prevenção 
e controle de doenças; como 
alívio do estresse relaciona-
do às despescas, biometrias, 
classificações por tamanho, 
transferências dos peixes e 
confinamento durante a de-
puração; no alívio do estresse 
do transporte de curta e longa 
duração; e como amenizador de 
condições ambientais adversas 
(toxidez por nitrito, inflamação 
das brânquias, entre outros). 
Neste artigo serão apresenta-
das as diferentes situações e 
forma de uso do sal na pisci-
cultura, visando manter o bem 
estar dos peixes.
A versatilidade do sal na piscicultura
Para a finalidade deste artigo, podemos descrever a osmorregulação nos peixes de 
água doce como um processo que envolve a participação de células especiais presentes 
nas brânquias (células de cloreto), e que têm como função minimizar as perdas de sais 
do sangue para a água, bem como absorver ativamente os sais presentes na água, mesmo 
em baixa concentração. Também participam da osmorregulação o rim e a bexiga urinária, 
que são os responsáveis por maximizar a reabsorção dos sais na urina em formação e 
pela produção de um grande volume de urina que permite o peixe se livrar do excesso 
de água que entra continuamente por osmose no corpo. 
15Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
O sal na piscicultura
do manejo de rotina (despesca, manipulações, classificações, 
manejo da reprodução, transferência, adensamentos na depu-
ração e manejo, entre outras); as injúrias e inflamação causadas 
ao epitélio branquial, em virtude da infestação por parasitos, do 
uso de produtos químicos irritantes, da presença de argila em 
suspensão na água e do excesso de material orgânico particulado; 
e a freqüente exposição dos peixes a baixos níveis de oxigênio e 
a condições inadequadas de qualidade de água.
Para lidar com estas condições adversas, que acentuam 
as perdas de sais do sangue para a água e causam uma exces-
siva hidratação do corpo, os peixes precisam gastar energia 
extra para manter ou restabelecer o equilíbrio osmorregula-
tório. Além disso, este esforço e gasto de energia adicional 
para manter a osmorregulação sob tais condições adversas 
deprimem a resistência e o sistema imunológico dos peixes, 
tornando-os mais susceptíveis às doenças. 
Diversos usos do sal na piscicultura
Apesar do grande benefício do sal no dia a dia das 
pisciculturas, grande parte dos produtores desconhecem 
todas as possibilidades de uso deste produto. Muitos tam-
bém usam o produto em doses totalmente inadequadas para 
a finalidade em questão. 
A versatilidade do sal na piscicultura
No quadro 1 são apresentadas algumas finalida-
des do uso do sal na piscicultura. O sal pode ser apli-
cado na forma de banhos rápidos sob alta concentração 
(2 a 3%) para tratamentos de infecções por parasitos, 
fungos e bactérias. Para fins de alívio do estresse do 
manuseio e transporte, são utilizadas concentrações de 
sal entre 0,5 a 0,8%, valores próximos à concentração 
de sais no sangue dos peixes. 
Na depuração dos peixes para o transporte
Durante a depuração dos peixes para o transporte 
(pós-larvas, alevinos e reprodutores), o uso do sal, onde for 
possível, previne o aparecimento de lesões (manchas brancas) 
e a infecção por fungos e bactérias externas (como a Flavo-
bacterium columnare - que causa podridão das nadadeiras nos 
peixes). Além disso, por facilitar a manutenção do equilíbrio 
osmorregulatório, o uso do sal reduz a mortalidade dos peixes 
durante a depuração. Uma concentração de sal entre 0,3 e 0,6% 
(3 a 6g/litro ou 3 a 6kg/1.000litros) deve ser mantida durante 
toda a depuração. Tanques sem renovação de água e providos 
de aeração, ou mesmo sistemas de recirculação de água, são 
facilmente salinizados para uso na depuração.
No transporte de peixes vivos
Durante as operações que precedem o transporte (a 
despesca, o manuseio, a classificação por tamanho, a depu-
ração e o carregamento), os peixes invariavelmente sofrem 
alguma injúria física (perda de escamas, esfolões, batidas, 
etc.) e perdem parte da proteção provida pelo muco e escamas. 
Estes ferimentos facilitam as perdas de sais e a hidratação 
excessiva dos peixes, dificultando a manutenção do equilíbrio 
Importante neste mo-
mento é o produtor saber que 
a manutenção deste equilíbrio 
osmorregulatório (ou seja, da 
concentração normal de sais 
no sangue) demanda um gran-
de gasto de energia e pode ser 
grandemente comprometido sob 
condições adversas de produção. 
Dentre estas condições adversas 
podemos relacionar o estresse 
e as injúrias físicas decorrentes 
Outro colaborador na osmorregulação é o trato digestivo 
dos peixes, onde ocorre a absorção de sais (minerais) ingeridos 
nos alimentos e a reabsorção dos sais biliares usados na digestão 
das gorduras, conservando sais e repondo parte das perdas de sais 
do corpo para a água. Também o muco e a pele dos peixes servem 
como uma barreira entre a água do ambiente e os fluídos celu-
lares e plasma dos peixes, contribuindo com a osmorregulação. 
Assim o leitor pode perceber na figura 1 a grande complexidade 
da osmorregulação nos peixes 
de água doce, o que demandaria 
algumas boas páginas aqui para 
ser explicada em seus detalhes. 
Aqueles dispostos a se aprofundar 
no assunto e em outras questões 
sobre a fisiologia dos peixes, um 
bom começo é o livro de Ber-
nardo Baldisserotto (Fisiologia 
de peixes aplicada à piscicultura 
- Editora da Universidade Federal 
de Santa Maria - RS) .
Quadro 1 - Diversos usos do sal na piscicultura
16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
17Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
O sal na piscicultura
osmorregulatório. Além do estresse físico, o manuseio e o 
confinamento dos peixes (nas redes e durante a depuração) 
desencadeiam uma seqüência de reações fisiológicas que 
culminam com a elevação nos níveis de cortisol no sangue 
dos peixes. O cortisol aumenta a permeabilidade das mem-
branas celulares, acentuando as perdas de sais do sangue 
para a água e a entrada de água (hidratação) no corpo dos 
peixes. Isso pode resultar em significativa mortalidade dos 
peixes durante e, mais comumente, uma a duas semanas 
após o transporte. Mesmo que não morram em conseqü-
ência direta do desequilíbrio osmorregulatório, os peixes 
sobreviventes podem sucumbir a doenças com a supressão 
do seu sistema imunológico causada pelo estresse a que 
foram submetidos. Portanto, é fundamental adicionar sal à 
águade transporte, em concentrações entre 0,5 e 0,8% (5 a 
8g/litro ou 5 a 8kg/1.000litros). Esse procedimento age de 
duas maneiras facilitando a manutenção do equilíbrio osmor-
regulatório. Mantém a água com uma concentração de sais 
próxima da concentração do sangue dos peixes (0,9% ou 9g/
litro), diminuindo o gradiente da concentração de sais entre 
o sangue e a água e, portanto, as perdas de sais dos peixes. 
O sal também estimula os peixes a secretarem mais muco, que 
recobre as brânquias e o corpo. O muco funciona como barreira 
contra as perdas de sais e contra a excessiva hidratação do corpo 
dos peixes, facilitando a osmorregulação. 
A produção de muco estimulada pelo sal também ajuda 
a recobrir áreas lesionadas, diminuindo as chances de ocorrên-
cia de infecções secundárias por fungos e bactérias nos peixes 
transportados. 
Outra contribuição do sal no transporte é o fato da 
presença de íons sódio (Na+) na água favorecer o mecanismo 
de transporte ativo do íon amônio do sangue dos peixes para a 
água. No transporte ativo ocorre a entrada de um íon sódio e a 
saída de um íon amônio, favorecendo a eliminação da amônia 
mesmo sob um gradiente negativo de concentração de amônia 
entre o sangue e a água. Isso é particularmente importante nos 
transportes de alevinos em sacos plásticos onde, sob cargas 
otimizadas, a concentração de amônia total na água ao final do trans-
porte atinge valores elevados, geralmente acima de 40mg/l.
Na prevenção e controle de parasitos
Protozoários (Íctio, trichodina, epistylis, costia ou ichthyo-
bodo, entre outros), dinoflagelados (como o Piscinoodinium) e 
os monogenóides (Dactylogyrus, Gyrodactylus, Cleidodiscus e 
outros) podem ser combatidos com banhos rápidos e concentrados 
em água salgada (acima de 20 a 30g de sal por litro). A maior parte 
destes parasitos causa severas infestações e injúrias nas brânquias, 
o que favorece ainda mais a entrada de água no corpo e a perda 
de sais do sangue para a água, prejudicando a osmorregulação. 
Dessa forma, os banhos em água salgada não apenas desidratam 
os parasitos (levando-os à morte), mas também possibilitam a re-
posição de sais (sódio e cloreto) no sangue dos peixes, facilitando 
o restabelecimento do equilíbrio osmorregulatório. Nestes banhos 
concentrados, a água salgada desidrata tanto os parasitos como os 
peixes. No entanto, por serem organismos muito pequenos em re-
lação aos peixes, os parasitos desidratam mais rapidamente. Assim, 
nos banhos com sal o mais resistente sobrevive e o mais sensível 
padece, sendo tudo uma questão de tempo de exposição. 
Algumas espécies de peixes toleram banhos concentrados 
de sal por mais tempo do que outras. Antes de aplicar o tratamento 
em todos os peixes do lote, faça um teste com alguns animais (50 
a 100 peixes) para ver a reação dos mesmos e o tempo em que 
metade deles perde o equilíbrio durante o banho. Assim, você 
terá uma idéia do momento em que precisará intervir (do tempo 
de exposição ao banho), retornando os peixes para uma água de 
menor salinidade. 
Em geral, a maioria dos piscicultores não conta com equi-
pamentos (microscópio, material de dissecação, etc.), recursos 
(laboratórios e técnicos especializados em sua região) e, tampouco, 
conhecimento para realizar um diagnóstico preciso dos parasitos 
ou patógenos que acometem seus estoques. Assim, o sal, por ser 
seguro, de baixo custo e facilmente disponível, deve ser sempre 
a primeira opção de produto a ser usado quando se identifica que 
algo não está bem com os peixes.
"Alguns peixes toleram 
banhos concentrados de sal 
por mais tempo do que outros. 
Antes de aplicar o tratamento 
faça um teste com alguns 
animais para ver a reação 
dos mesmos e o tempo em 
que metade deles perde o 
equilíbrio durante o banho."
Banho de sal em alevinos de truta arco-íris após a classificação, como 
medida preventiva contra Columnariose e parasitos branquiais
18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Em geral, banhos de sal na concentração de 5% 
(50g/litro ou 50kg/1.000 litros) são aplicados por 30 
segundos a 2 minutos. Nesta concentração, cerca de 
60% superior à da água do mar, os peixes de água 
doce rapidamente perdem o equilíbrio. Geralmente os 
peixes são mergulhados nesta água com auxílio de um 
puçá ou mesmo dentro de um hapa (ou tanque-rede), 
facilitando a rápida remoção e transferência dos mes-
mos para uma água de salinidade mais baixa.
Banhos em água com 2 a 3% de sal (20 a 30g/
litro = 20 a 30kg/1.000 litros) podem ser aplicados 
por 2 a 20 minutos, dependendo da tolerância da 
espécie de peixe a ser tratada. Mesmo que os peixes 
não apresentem perda de 
equilíbrio, o banho nesta 
concentração não precisa 
exceder o tempo de 20 mi-
nutos, pois pode causar uma 
desnecessária desidratação 
dos animais e uma elevação 
excessiva na concentração 
de íons sódio e cloreto no 
sangue dos peixes. Estes 
banhos concentrados ge-
ralmente são aplicados em 
tanques de pequeno volume 
ou mesmo em caixas de 
transporte, onde há aeração 
disponível e de onde os pei-
xes podem ser rapidamente 
transferidos para uma água 
doce. Durante o banho os 
peixes podem ser mantidos 
em um hapa ou em um puçá, 
facilitando a remoção dos 
mesmos do tanque. 
Em tanques de grande 
tamanho estes banhos con-
centrados geralmente não 
são viáveis, seja pelo custo 
(devido à grande quantidade de sal necessária), seja 
pela impossibilidade de prover um rápido alívio ao 
peixe após o tratamento.
Banhos prolongados, entre 4 a 12 horas, podem 
ser aplicados em água com 1,0 a 1,2% de sal (10 a 
12g/litro ou 10 a 12kg/1.000 litros). Estas concentra-
ções são bastante seguras para a maioria dos peixes 
de água doce, podendo estes permanecer expostos até 
mais do que 24 horas a estas salinidades. No entan-
to, sob períodos de exposição mais prolongados, os 
peixes podem apresentar desidratação e desconforto, 
pois tal salinidade supera em 10 a 30% a concentração 
de sal no sangue dos peixes. 
 No controle de infestações severas por para-
sitos, os banhos em água salgada geralmente precisam 
ser repetidos a intervalos de 1 a 2 dias, sendo necessários de 
3 a 4 banhos para solucionar definitivamente o problema.
No controle de fungos (Saprolegniose)
Banhos com sal nas concentrações recomendadas para o con-
trole de parasitos também podem ser usados na prevenção e controle 
de infecções por fungos em alevinos, juvenis e em reprodutores. 
Como já mencionado, a adição de sal na água da depu-
ração e na água de transporte também previne a infecção por 
fungos, sendo um recurso útil no preparo de alevinos, juvenis 
e matrizes para o transporte. No recebimento de alevinos, 
juvenis e matrizes, quando o fornecedor não utiliza o sal na 
depuração e no transporte, é recomen-
dável submeter os peixes a um banho 
com sal (2% ou 20kg/1.000 litros por 
5 a 20 minutos) para prevenir eventu-
ais infecções por fungos e controlar 
eventuais parasitos que possam ter 
vindo com os peixes. Este banho pode 
ser feito na própria caixa de transporte 
ou em um tanque (ou caixa d’água) 
colocado ao lado dos tanques onde 
os peixes serão estocados. Aeração 
ou oxigenação pode ser necessária, 
dependendo da quantidade de peixes 
a ser tratada.
O controle de fungos em ovos 
de peixes pode ser realizado através de 
banhos diários ou em dias alternados, 
na concentração de 2 a 3% de sal (20 a 
30g/litro) por 10-15 minutos, sendo este 
um procedimento comum na incubação 
de ovos do catfish americano e da truta. 
Em sistemas fechados (recirculação 
de água) usados para a incubação de 
ovos de tilápia, pode ser mantida uma 
concentração de sal constante entre 0,3 
e 0,5% (3 a 5g/litro ou 3 a 5kg/1.000 
litros), prevenindo as infecções por 
fungos nos ovos e nas pós-larvas recém nascidas.
O controle de infecções fúngicas em peixes estocados em 
tanques de terra demanda o uso de grandes quantidades de sal. 
Doses ao redor de 0,3%, ou 3kg de sal/m3, podem ser usadas 
preventivamente. Isso equivale a 3 toneladas de sal para um 
tanque com1.000m2. Doses de até 9 kg de sal/m3 podem ser 
usadas por tempo indefinido. No entanto, estas doses, além 
de economicamente inviáveis para tratamento em tanques de 
grandes dimensões, nem sempre são eficazes para o tratamento 
de infecções já avançadas, servindo mais para o controle de 
infecções fúngicas em seu início. Para se ter um efeito curativo 
do sal contra os fungos é necessário expor os peixes a concen-
trações de sal entre 20 e 30kg por/m3 por alguns minutos, e 
ainda repetir este tratamento. Isso é impraticável em tanques 
de grandes dimensões, seja pelo custo dos tratamentos, ou pela 
"Para se ter um efeito 
curativo do sal contra os 
fungos é necessário expor os 
peixes a concentrações de 
sal entre 20 e 30kg por/m3 
por alguns minutos, e ainda 
repetir este tratamento. Isso 
é impraticável em tanques de 
grandes dimensões, seja pelo 
custo dos tratamentos, ou pela 
impossibilidade de aliviar esta 
concentração rapidamente 
devido às limitações no 
abastecimento de água"
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19Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
O sal na piscicultura
impossibilidade de aliviar esta concentração rapidamente 
devido às limitações no abastecimento de água. 
Uma alternativa que pode ser usada em casos ex-
tremos (e em lotes de peixes de alto valor) é fazer uma 
despesca com o maior cuidado possível e proceder ao 
tratamento concentrado em caixas de transporte ou em 
caixas d’água posicionadas na beira do tanque, retornan-
do os peixes ao tanque após o banho.
Outra possibilidade, menos traumatizante, é con-
centrar os peixes com a rede em um canto do tanque (sem 
apertá-los demais), e aplicar uma dose localizada de sal 
ao redor de 20 a 30kg por m2 de área de concentração dos 
peixes e manter assim durante 20 a 30 minutos, monito-
rando o oxigênio no local e a reação dos peixes, liberando 
a rede após este tempo. Neste caso deve se usar um sal 
bem fino para que sua dissolução na água seja a mais 
eficiente possível. Após estes tratamentos concentrados, 
assegure-se de que a água do tanque permaneça com pelo 
menos 3kg de sal/m3 (já considerando o que foi aplicado 
localmente), e que esta salinidade seja mantida por alguns 
dias, de forma a aliviar a sobrecarga osmorregulatória 
dos peixes.
Em peixes estocados em 
tanques-rede é possível realizar 
banhos de sal preventivos e 
curativos contra fungos com o 
uso de bolsões que “encapam” os 
tanques-rede, como será discuti-
do mais adiante neste artigo.
 
No controle da Columnariose
Banhos de sal, nas doses e 
tempo de exposição recomenda-
dos para o controle de parasitos 
e fungos, também podem ser 
usados no controle da Colum-
nariose, doença causada pela 
bactéria Flavobacterium colum-
naris, e que resulta em podridão 
das nadadeiras, necrose na boca 
(boca de algodão) e necrose das brânquias (que prejudica 
a respiração e a osmorregulação dos peixes). 
A Columnariose ocorre com relativa freqüência em 
alevinos após o manejo ou transporte, particularmente nos 
meses de verão, com temperaturas mais elevadas na água. 
Banhos preventivos com sal podem ser aplicados no rece-
bimento dos alevinos e após as operações de manejo.
Na prevenção da intoxicação por nitrito
O nitrito (NO2
-) é um composto nitrogenado tóxico aos 
peixes, oriundo da decomposição da matéria orgânica pre-
sente nos tanques de cultivo. Em tanques de terra com baixa 
renovação de água e altas taxas de alimentação, ou intensa 
fertilização orgânica, podem ser registradas concentrações de 
nitrito prejudiciais ao desempenho dos peixes (concentrações 
acima de 0,3mg/litro). 
Concentrações tóxicas de nitrito também podem 
ocorrer em sistemas de cultivo onde é feita a recirculação de 
água e o tratamento da mesma através de filtros mecânicos 
e biológicos. A aplicação de sal na água ameniza o potencial 
tóxico do nitrito aos peixes. Os íons cloreto, quando pre-
sentes em quantidades adequadas na água, se associam aos 
receptores de nitrito nas células das brânquias dos peixes, 
impedindo a absorção deste composto tóxico. 
A dose de sal necessária para amenizar o potencial 
tóxico do nitrito é muito pequena e pode ser calculada 
usando a seguinte equação: 
Por exemplo, se a concentração de nitrito na água 
for de 0,5mg/l e a concentração 
de cloreto for 0,1mg/l, a dose 
de sal que deve ser aplicada 
no tanque ou no sistema de 
recirculação deve ser de (6 x 
0,5 – 0,1)/0,6 = 4,8g de sal/m3. 
Assim, em um tanque de engorda 
de 1 hectare (10.000m2) e pro-
fundidade média de 1,0m, seria 
necessário aplicar 48kg de sal. 
No caso de um sistema 
de recirculação com volume 
total de água de 500m3, seriam 
necessários 25kg de sal. Note 
que a aplicação de sal para fins 
de redução do potencial tóxico 
do nitrito em geral é muito pe-
quena e de baixo custo, mesmo 
considerando grandes áreas 
de tanques. Se o produtor não 
dispõe de um teste para análise do teor de cloreto na 
água, a dose de sal pode ser calculada considerando a 
concentração de cloreto como zero, ou seja, a dose de sal 
equivale a 10 vezes a concentração de nitrito na água. 
No entanto, se a água no local contiver níveis elevados 
de cloreto (por exemplo, em áreas estuarinas) e isso não 
for verificado através da análise de cloretos, a aplicação 
de sal poderá ser feita sem necessidade.
Após as despescas e o manejo
Durante as despescas com rede de arrasto, além das 
eventuais injúrias mecânicas sobre o muco, as escamas e 
a pele, ocorre a suspensão dos sedimentos orgânicos ou 
"A Columnariose ocorre 
com grande freqüência em 
alevinos e juvenis após 
o manejo e transporte. 
Banhos preventivos de 
sal no recebimento dos 
peixes ajudam a diminuir a 
severidade desta doença."
Dose de sal:
(g/m3) = [6 x (NO2
- mg/L) - (Cl- na água mg/L)] / 0,6
20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
21Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
O sal na piscicultura
minerais (argila, silte e mesmo pequenas partículas de areia). 
Estes sedimentos se depositam sobre as brânquias dificultando a 
respiração dos peixes e causando lesões no epitélio branquial. A 
adição de 1% (10g/litro ou 10kg/1.000 litros) à água das caixas 
onde os peixes serão colocados (durante a transferência entre os 
tanques de cultivo ou para os tanques de depuração) estimula a 
produção de muco pelos peixes, o que auxilia na remoção dos 
resíduos depositados sobre as brânquias e no recobrimento e 
proteção das lesões nas brânquias e corpos dos peixes.
Em sistemas de recirculação
Os peixes criados em sistemas de recirculação es-
tão freqüentemente expostos há uma água com grande 
quantidade de sólidos em suspensão (material orgânico 
particulado). Nestes sistemas de cultivo pode ocorrer uma 
grande proliferação de parasitos, bactérias e fungos. Além 
disso, com as altas densidades de estocagem e a contínua 
exposição a fatores de estresse (por exemplo, oscilações 
nos parâmetros de qualidade de água), os peixes tendem a 
perder mais sais para a água. Assim, manter continuamente 
uma salinidade ao redor de 0,2 a 0,3% (2 a 3kg de sal por 
1.000 litros) ajuda a reduzir problemas com parasitos e 
fungos, bem como ameniza a irritação do epitélio branquial 
e a excessiva perda de sais dos peixes. Esta salinidade não 
interfere com o funcionamento do filtro biológico e ajuda 
a prevenir problemas de intoxicação por nitrito.
Na prevenção de doença ambiental das brânquias
A doença ambiental é uma condição de lesão, inflama-
ção e irritação do epitélio branquial que pode ser causada por 
diversos fatores. Alguns dos mais comuns em piscicultura são: 
a infestação por parasitos; o uso de produtos químicos; e a 
presença de partículas sólidas em suspensão na água (argila ou 
mesmo partículas orgânicas, como fezes e ração fina dissolvida 
na água). As lesões e inflamações provocadas por parasitos e 
a deposição de material orgânico no epitélio branquial favo-
recem a ocorrência de infecções bacterianas nas brânquias. 
Tratamentos freqüentes com formalina podem resultar em 
irritaçãoe inflamação das brânquias dos peixes, prejudicando 
a osmorregulação. Problemas de integridade do epitélio 
branquial ocorrem com freqüência durante a larvicultura 
intensiva de diversas espécies de peixes (por exemplo, 
a tilápia, o catfish americano, a truta arco-íris, entre 
outros), onde se mantém alta densidade de pós-larvas 
e se faz uso de ração finamente moída. Partículas de 
ração e material fecal geralmente se depositam sobre 
as brânquias, levando à uma irritação e inflamação do 
epitélio branquial. Isso prejudica a respiração, a os-
morregulação e a excreção de amônia do sangue para 
a água. Todos estes fatores comprometem o bem estar 
dos peixes, tornando os animais mais susceptíveis às 
doenças e resultando em alta mortalidade no cultivo. Ba-
nhos semanais com sal a 1% (10kg/m3) por 2 a 4 horas 
podem ajudar a prevenir este problema. O sal aumenta 
a produção de muco nas brânquias, o que favorece a 
eliminação do excesso de muco branquial, juntamente 
com os resíduos orgânicos nele aderidos.
"Os peixes criados em sistemas de 
recirculação estão freqüentemente 
expostos há uma água com grande 
quantidade de sólidos em suspensão 
(material orgânico particulado). 
Nestes sistemas de cultivo pode 
ocorrer uma grande proliferação de 
parasitos, bactérias e fungos." 
O uso do sal na criação de peixes em tanques-rede
Tanques-rede geralmente estão instalados em gran-
des reservatórios, o que exige que o produtor disponha 
de equipamentos e estruturas especiais que possibilitem a 
realização de banhos preventivos ou curativos. Os banhos 
podem ser dados com o uso de um bolsão de plástico (lona 
plástica ou vinil), que possibilita ensacar completamente o 
tanque-rede. Isso evita que o sal se dilua muito rapidamente 
Tanque-rede sendo "envelopado" com 
bolsão de vinil para aplicação de banho 
com sal (Foto: Fábio Mori)
22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
23Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
O sal na piscicultura
na água dos reservatórios. Nestes casos, o tempo do banho é 
limitado pela disponibilidade de oxigênio dentro do tanque-
rede, geralmente ao redor de 20 a 40 minutos, dependendo 
da biomassa estocada, da temperatura da água, do tamanho 
dos peixes e de quão alimentados eles estão. Assim, os 
banhos com sal (ou com outros produtos), geralmente são 
rápidos e feitos a uma alta concentração (por exemplo, ao 
redor de 2 a 3% ou 20 a 30kg de sal/m3).
Os banhos devem ser realizados pela manhã, quando o 
peixe ainda não foi alimentado e a temperatura da água ainda 
não está tão elevada. Com isso, o consumo de oxigênio é 
menor e o banho pode ser mais prolongado. Um recurso para 
reduzir o uso de sal nestes tratamentos é injetar oxigênio 
dentro do bolsão, o que permite prolongar o banho e usar 
uma dose menor do produto. Para isso é preciso um bom 
difusor de oxigênio, cilindro e regulador. Quando se dispõe 
de um oxímetro é possível monitorar o oxigênio no interior 
do tanque-rede e determinar o momento de retirar o bolsão 
(em geral, quando o oxigênio chega a 2mg/litro).
O produtor deve dispor de equipamentos para isso 
(um bom difusor de oxigênio, cilindro e regulador). Quando 
se dispõe de um oxímetro é possível monitorar os níveis 
de oxigênio no interior do tanque-rede e determinar o mo-
mento em que o bolsão deve ser retirado (em geral quando 
o oxigênio chega a 2mg/litro no interior do bolsão).
Banhos com sal podem ser empregados no recebimento dos 
alevinos (particularmente se o fornecedor não costuma colocar uma 
adequada quantidade de sal na água de transporte). Se o transporte 
for a granel, o banho pode ser dado nas próprias caixas de transporte, 
facilitando a operação. Se os alevinos foram transportados em sacos 
plásticos, o banho pode ser dado em algum tanque especialmente 
preparado para isso, ou mesmo após a soltura dos alevinos nos 
tanques-rede, usando os bolsões. 
Banhos com sal também podem ser aplicados 
após os manejos de classificação e transferência dos 
peixes. Alguns produtores de tilápia colocam sal (cerca 
de 4 a 6kg) em um saco de ração e penduram este saco 
dentro da água no interior dos tanques-rede onde estão 
os peixes que foram submetidos ao manuseio. 
Conheci tal prática em um empreendimento de 
tanques-rede no reservatório de Xingó, em Alagoas, 
se não me falha a memória em 2001. Na ocasião, um 
produtor local me explicou que, após adotar este pro-
cedimento, a mortalidade dos peixes após o manejo e 
seleção (classificação) reduziu significativamente. 
Na ocasião, olhando aquele mundo de água no 
reservatório, pensei: “de que maneira um saco com 
alguns quilos de sal poderia prover uma significativa 
melhora na condição e sobrevivência dos peixes? 
Pela presença de uma significativa concentração 
de sal na água da gaiola? Impossível com a intensa 
renovação de água, com o grande volume do reser-
vatório e com a pequena quantidade de sal confinada 
dentro de um saco de ração. Muito provavelmente, 
os peixes estressados no manejo (que envolve con-
finamento por algumas horas na rede, captura com 
puçás, classificação manual, contagem, pesagem, 
etc. e etc.), descobrem que ali, no interior do saco 
de ração, há algo (o sal) que pode ajudar na rápida 
restauração do seu equilíbrio osmorregulatório. E, 
seguramente, os peixes ingerem pequenas partículas 
de sal que passam através da ráfia ou de pequenos 
furos no saco, recompondo os níveis de sódio e clo-
reto no sangue.” Embora o produtor não soubesse 
me explicar a razão da melhora dos peixes, acredito 
ser este o fundamento de tal prática.
Considerações finais
O sal é considerado um produto de uso seguro 
pelas agências norte-americanas e européias que 
regulamentam o uso de produtos químicos na aqüi-
cultura. Diversas são as possibilidades de uso deste 
produto na piscicultura, sendo o mesmo muito eficaz 
em ações preventivas quando aplicado com conhe-
cimento. C W. Johnson relacionou 12 finalidades de 
uso do sal na rotina das truticulturas. Algumas delas 
já foram aqui discutidas. Outras são muito interessan-
tes ou, no mínimo, curiosas, como o alívio dos efeitos 
das chuvas ácidas, o controle de algas filamentosas, 
o alívio de situações momentâneas de baixo oxigênio 
dissolvido, o derretimento do gelo que se concentram 
nas telas da entrada dos raceways (o que é pouco 
provável ocorrer nas truticulturas aqui no Brasil). 
Quem se interessar em ler este artigo do uso do sal na 
truticultura, poderá baixar o PDF na internet (www.
wvu.edu/~agexten/aquaculture/12salttrout.pdf) e terá 
mais uma confirmação da versatilidade do uso do sal 
no cultivo de peixes. 
"Conheci tal prática em um 
empreendimento de tanques-
rede no reservatório de Xingó, 
em Alagoas, e na ocasião, 
olhando aquele mundo de 
água no reservatório, pensei: 
“de que maneira um saco com 
alguns quilos de sal poderia 
prover uma significativa 
melhora na condição e 
sobrevivência dos peixes?"
24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Cianobactérias + Civilização = Problemas
Por:
Ricardo Y. Tsukamoto, Ph.D 
Bioconsult - Puriaqua, e-mail: ricardo@bioconsult.com.br
Neuza S. Takahashi, Ph.D
Instituto de Pesca, APTA-SAA, e-mail: neuza@pesca.sp.gov.br
Envenenamento dos mananciais de água no Brasil
Recentemente, a revista VEJA publicou o artigo “O 
Avanço das Algas Tóxicas” (03/10/2007, edição no. 2028), 
que aborda o desastre na China, em que cidades de até 2 
milhões de habitantes estão ficando sem água potável, 
pois seus mananciais foram contaminados por toxinas da 
floração de cianobactérias. Ironicamente, o mesmo proble-
ma ocorre em nível dramático no Brasil há mais de uma 
década, mas não foi sequer citado naquele artigo. 
A quase totalidade das espécies de seres vivos do pla-
neta, incluindo os humanos, deve a sua existência às 
cianobactérias. Mesmo na era atual, as cianobactérias 
mantêm uma atuação indispensável para o bem estar 
dos ecossistemas, conforme discutido na primeira parte 
deste artigo. Entretanto, a civilização humana, em sua 
rápidaexpansão no último século, vem lançando uma 
grande quantidade de nutrientes no ambiente aquático 
(eutrofização). Isto estimula a proliferação excessiva 
(floração) das cianobactérias, causando impactos 
negativos sobre a natureza e a civilização. Assim, o 
surgimento de um efeito duplo das cianobactérias 
– benéfico e deletério – é a confirmação de que “a 
diferença entre o remédio e o veneno está na dose” - 
preceito criado há 5 séculos por Paracelsus, precursor 
da ciência da Toxicologia. As “doses” de eutrofização e 
a conseqüente floração de cianobactérias vêm aumen-
tando rapidamente no mundo, e avançam agora pelo 
estágio de veneno ambiental. A conseqüência direta das 
florações de cianobactérias tóxicas é o envenenamento 
de animais e do ser humano pela ingestão de água e 
potencialmente de pescado (da pesca extrativista e da 
aqüicultura), com sérias implicações na saúde humana 
e na economia das atividades ligadas à água.
Parte 2 - Problemas e tragédias 
causados por cianobactérias
para a Saúde, a Aqüicultura e a Natureza
Figura 1 - Aspecto típico de floração de cianobactéria, com a formação 
de uma nata ou escuma de cor verde intensa (“cor de ervilha”) sobre 
a superfície da água. A escuma tende a se acumular nos cantos do 
viveiro pela ação do vento.
25Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
Cianobactérias
Cianobactérias + Civilização = Problemas
O lançamento do esgoto das cidades em rios e lagos é o 
responsável pela maior parte das florações de cianobactérias e 
de algas. A falta de tratamento ou o tratamento inadequado do 
esgoto no Brasil carreia os nutrientes fósforo e nitrogênio para 
os corpos d´água usados como manancial, induzindo a floração 
(revisão em European Comission, 2002). Algumas das capitais 
dos estados “mais desenvolvidos” do país são exemplos disto.
Porto Alegre, com 1,5 milhão de habitantes, capta água 
do Rio Guaíba, onde a floração da cianobactéria Planktothrix é 
conhecida desde a década de 70, mas sérios problemas de chei-
ro e odor na água tratada surgiram nos últimos 5 anos; aquele 
gênero pode produzir toxinas, de modo que há risco potencial 
de toxicidade, além do cheiro repugnante. 
Em Brasília, DF, o gigantesco Lago Paranoá, um dos 
principais mananciais a abastecer 2 milhões de habitantes, é 
dominado pela cianobactéria tóxica Cylindrospermopsis. 
Em São Paulo, 3 milhões de habitantes são abastecidos 
com água das Represas Billings e Guarapiranga, cercadas por 
mais de 500 loteamentos e ocupações irregulares, cujo esgoto 
induz a floração de cianobactérias tóxicas, produtoras da temida 
toxina microcistina (Lorenzi, 2004). 
No Rio de Janeiro, a água que abastece 12 milhões de 
habitantes provém do Rio Paraíba do Sul, após receber o esgoto 
das cidades ao longo do Vale do Paraíba - região que concentra 
11 % do PIB do país, provocando uma floração de cianobactérias 
tóxicas na área de captação (Barbosa, 2007). 
Em Minas Gerais, o esgoto de Belo Horizonte e outras 
cidades, descartado sem qualquer tratamento que elimine o 
alto teor de fósforo, está provocando intensas florações de cia-
nobactérias no momento da publicação deste artigo. O estado 
de alerta foi decretado em 57 cidades, devido à contaminação 
simultânea dos principais rios de MG - Rio das Velhas, Rio São 
Francisco e Rio Doce. 
A população abastecida com a água destes rios já relata 
os sintomas típicos de intoxicação por cianobactérias (fonte: 
www.manuelzão.ufmg.br). O fato destas florações atingirem 
até rios com grande volume de água em movimento indica que 
a eutrofização atingiu ali um patamar de extrema gravidade. 
Características biológicas que diminuem a contaminação
Tragédias ainda não ocorreram naquelas grandes cidades 
graças a uma conjunção de três condições favoráveis. A primeira 
é a existência de monitoramento. A segunda é que a cianobactéria 
acumula a toxina dentro de sua célula (toxina intracelular), como 
forma de defesa contra competidores e predadores, sem liberar a 
toxina enquanto está viva; apenas após a morte da cianobactéria, 
a toxina é liberada para o ambiente durante a decomposição da 
célula. A terceira condição é que as cianobactérias tóxicas mais 
frequentemente envolvidas em florações (Microcystis, Anabaena, 
Cylindrospermopsis e outras) se acumulam sobre a superfície da 
água, formando uma “nata” ou escuma verde flutuante (Fig. 1). 
Com isso, enquanto as cianobactérias estiverem vivas e flutuantes, 
é ainda possível (sob risco) captar água para a cidade numa pro-
fundidade abaixo da escuma, que contém menor concentração 
de cianobactérias e toxinas. 
Porém, se (a) ocorrer mortalidade de cianobactérias 
naquele manancial (devido à mudança do tempo, die-off, 
tratamento com algicidas, e outros eventos), ou se (b) as 
cianobactérias forem aspiradas pela captação da água e 
morrerem durante o tratamento, a água tratada conterá as 
toxinas em níveis perigosos. 
O tratamento convencional de água das cidades 
(coagulação + filtração + desinfecção) remove apenas 
parcialmente as toxinas de cianobactérias após estarem 
dissolvidas na água; revisões sobre o assunto estão dispo-
níveis em Haider et al. (2003) e em um manual publicado 
pelo Ministério da Saúde (FUNASA, 2003).
Risco maior de contaminação no Nordeste
A Região Nordeste do Brasil infelizmente apresenta 
condições mais propensas para a contaminação da popula-
ção por toxinas de cianobactérias. O clima sempre quente, 
os mananciais constituídos por açudes e pequenos corpos 
d´água sem renovação de água, o manancial com baixo 
nível de água na seca (que facilita a aspiração da escuma 
de cianobactérias), a água com pH básico, a falta de sane-
amento (coleta e tratamento de esgoto), níveis de pobreza e 
educação problemáticos, e a falta de controle da saúde pelo 
poder público, são fatores que, associados, já produziram 
tragédias. Assim, em 1988 na Bahia, 2.000 pessoas tiveram 
gastroenterite após consumir a água proveniente do reser-
vatório de Itaparica, afetado por floração das cianobactérias 
Microcystis e Anabaena, o que ocasionou a morte de 88 
pessoas, a maioria crianças (Teixeira et al., 1993).
 Em Caruaru, Pernambuco, 123 pacientes em trata-
mento de hemodiálise foram intoxicados em 1996 através 
da água do Açude Tabocas, retirada do estágio interme-
diário da estação de tratamento da cidade e clorada num 
"O lançamento do esgoto em 
rios e lagos é o responsável pela 
maior parte das florações de 
cianobactérias e de algas. 
A falta de tratamento ou o 
tratamento inadequado do esgoto no 
Brasil carreia os nutrientes fósforo 
e nitrogênio para os corpos d´água 
usados como manancial, induzindo 
a floração. Algumas das capitais dos 
estados “mais desenvolvidos” do 
país são exemplos disto"
26 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
27Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007
caminhão-pipa, o que provocou a liberação da toxina contida 
nas cianobactérias; 76 pacientes morreram no prazo de 20 me-
ses (Carmichael et al., 2001). Este caso em Caruaru tornou-se 
um marco na literatura médica mundial, após ser estudado em 
detalhes aqui e no exterior, sendo considerado como o primeiro 
caso comprovado no mundo de morte de pessoas por toxina de 
cianobactéria, com a toxina identificada tanto no meio externo 
como no fígado dos pacientes.
No Rio Grande do Norte, o extenso Açude Açu, utilizado 
como manancial de água para a cidade, contém 3 tipos distintos 
de toxinas de cianobactérias, com a ocorrência de elevadas 
concentrações na água do reservatório (Costa et al., 2006); tal 
situação foi também observada pelos pesquisadores em outros 
açudes que abastecem cidades daquele Estado.
 
O pescado está sujeito à mesma contaminação
Abordamos os exemplos acima de contaminação do 
manancial de água das cidades por cianobactérias tóxicas, pois 
além de constituir um grave problema de saúde pública, tem 
reflexo direto sobre o pescado obtido de águas sob tais con-
dições. O pescado que ingeriu cianobactérias pode conter as 
toxinas delas

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