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1Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 2 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 3Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor E u tinha pouco tempo. Afinal época de fechamento de edição não é brincadeira, e o compromisso agendado anteriormente não podia ser cancelado. Entre uma conexão e outra escrevo esse editorial no avião rumo a Rondônia, onde farei uma matéria para a pauta da próxima edição. Apesar de já estar indo ao encontro de novos temas, meus pensamentos ainda giram em torno dos resultados positivos da produção do camarão Vannamei SPF, apresentados nessa edição, e que se mostram promissores para novamente impulsionar a carcinicultura brasileira, tão debilitada por conta das inúmeras viroses que a assolou. Ao tomar conhecimento desse trabalho que tem à frente a competentíssima Ana Carolina Guerrelhas, da Aquatec Ltda., não tive dúvidas de que esse seria o tema de capa dessa edição que você tem agora em mãos. O impulso que a carcinicultura certamente terá com essa inovação biotecnológica não será, porém, o único no cenário atual da aqüicultura brasileira. Também a piscicultura tem tudo para deslanchar a partir do impulso que lhe dará a nova Instrução Normativa, que deu à SEAP a competência para efetivar a cessão das águas da União. Nas palavras do ministro Gregolin, a aqüicultura no Brasil era como um Boeing deslizando na pista e que não levan- tava vôo. E agora, com a nova IN, temos condições de decolar. Tomara que o entusiasmo do ministro da SEAP se transforme na desburocratização dos processos, permitindo que milhares de aqüicultores brasileiros recebam a autorização para usar legalmente as águas públicas da União, que esperam há tantos anos. Outra boa notícia para a aqüicultura do nosso país é a recente inauguração do CTA - Centro Tecnológico de Aqüicultura, em Extremoz, na região metropolitana de Natal - RN, uma iniciativa do governo estadual para atender uma antiga reivindicação dos carcinicultores potiguares, que proporcionará ganhos tecnológicos para toda a aqüicultura brasileira, uma vez que, além do camarão, também fará pesquisas aplicadas a diversas outras áreas. Nesta edição você confere também a versatilidade do uso do sal na piscicultura; vai saber mais sobre as cianobactérias; conhecer a ação e os prejuízos que a bactéria Streptococcus vem causando na tilapicultura brasileira e, acompanhar um interessante estudo que mostra, pela primeira vez em detalhes, o custo de produção das ostras catarinenses. Pousando em Porto Velho, desejo a todos uma ótima leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 5Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 ...Pág 61 ...Pág 46 ...Pág 48 ...Pág 60 ...Pág 36 ...Pág 39 ...Pág 59 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 14 ...Pág 24 ...Pág 10 ...Pág 63 ...Pág 66 ...Pág 44 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Ana Carolina de Barros Guerrelhas, Ana Paula Teixeira, Daniela Tupy do Godoy, Fernando Kubitza, Gláucia Frasnelli Mian, Henrique César Pereira Figueiredo, João Luis Rocha, Léo Teobaldo Kroth, Marcelo Chammas, Neuza S. Takahashi, Paulo de Tarso Rozas Rodrigues, Rafael Alves, Ricardo Y. Tsukamoto, Zeno Frasson Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Sumaúma Editora e Gráfica Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Fotos: Aquatec Ltda. Edição 103 – setembro/outubro 2007 Editorial Notícias e Negócios Notícias e Negócios on-line A versatilidade do sal na piscicultura Cianobactérias + Civilização = Problemas (Parte 2) Estreptococose em tilápia do Nilo – Parte 1 Viabilidade econômica do cultivo de ostras em Florianópolis A classificação das ostras nativas Opinião Marcelo Chammas: Agora vai? Primeiros resultados do vannamei SPF no Brasil Lançamentos Editoriais Inaugurado o Centro Tecnológico de Aqüicultura-CTA Fiperj faz 20 anos SEAP já pode efetivar a cessão das águas da União Calendário Aqüícola Vannamei SPF no Brasil O desconhecimento sobre as diversas patologias que acometem os camarões, especialmente as viroses, promoveu a disseminação de várias doenças que culminaram em grandes prejuízos financeiros para a indústria do camarão cultivado em todo o mundo, inclusive no Brasil. Na busca por soluções para o controle dessas doenças, foi introduzido na carcinicultura, a exemplo do que já ocorre há anos com vários outros grupos de animais, o conceito “SPF” (Specific Pathogen Free). No Brasil, linhas SPF estão sendo desenvolvidas a partir da importação, no final do ano passado, de animais livres das doenças notificadas, e os resultados iniciais já se mostram extremamente promissores. Leia tudo sobre o vannamei SPF no Brasil na página 48, a matéria de capa dessa edição. 6 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negócios VANNAMEI EM SERGIPE - Em reunião con- junta dos Ministérios Públicos Estadual e Fe- deral ocorrida em Aracaju no último mês de agosto, na presença dos principais técnicos, ambientalistas e associações de carciniculto- res de Sergipe, foi lida decisão conjunta do IBAMA/SE e da ADEMA (Órgão estadual do meio ambiente) definindo um prazo de seis meses para que se proíba o cultivo de ca- marão vannamei em áreas de APP do Esta- do. Na mesma ata, os Ministérios Públicos ficaram de oficiar o Governo do Estado de Sergipe, para que ele apresentasse alter- nativas aos produtores, os quais, por meio de suas associações, já solicitaram posicio- namento oficial ao governo sergipano. Até o fechamento dessa edição, o Governador Marcelo Deda ainda não havia se pronun- ciado a respeito. Se essa moda pega... BANCOS NÃO QUEREM PRORROGAR - De- pois de controlar a incidência de doenças e aprender a lidar com a desvalorização do dólar os carcinicultores brasileiros produtores começam a retomar as estratégias de expan- são do setor. O que lhes tira o sono agora é a dificuldade de negociação com os bancos credores que não aceitam prorrogar os finan- ciamentos. Para apoiar os carcinicultores, o presidente da Associação Brasileira dos Cria- dores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, tem ministrado palestras para técnicos na sede do Banco do Nordeste (BNB) em Fortaleza -CE, expondo os números que apontam para a retomada do crescimento e justificam a prorrogação do prazo para o pagamento dos financiamentos. O débito total do se- tor, que acumula inadimplência de 5%, é de R$ 360 milhões e equivale a 12% do seu patrimônio. Aos técnicos do BNB Itamar Rocha tambémexpôs as condições naturais favoráveis para a expansão da atividade, ressaltando ainda que, no ano passado, a participação do crustáceo nas exportações mundiais, foi de 14,5 bilhões de dólares. MERENDA ESCOLAR - Está em tramitação na Assembléia Legislativa do Estado do Espíri- to Santo um projeto de Lei de autoria do deputado Atayde Armani (DEM), que tor- na obrigatória a inclusão da carne de peixe nas refeições dos alunos das escolas da rede estadual de ensino. Se aprovada, a Lei ain- da determina que a carne de peixe deve ser incluída duas vezes por semana no cardápio escolar. Entre alguns argumentos que justi- ficaram a sua aprovação, estão os de que a carne de peixe contém em média 18% de proteínas, e que é excelente fonte de mi- nerais, excelente, portanto, para colaborar com o desenvolvimento físico e mensal dos estudantes. Segundo o autor da proposta, a medida também impulsionará o setor pes- queiro capixaba, movimentando a economia estadual. O projeto de Lei, no entanto, não cita a aqüicultura como abastecedora de pescados, mas é fácil avaliar a importância dos cultivos no abastecimento de pescados do Espírito Santo, visto que até o peroá frito (Balistes vetula), tradicional prato da culiná- ria capixaba, já está sendo substituído nos restaurantes litorâneos pela tilápia cultiva- da. Para alguns especialistas, porém, se essa Lei vier a ser adotada em todo o País, tere- mos que importar muito pescado. MARICULTURA CEARENSE - Uma iniciati- va pública-privada cearense que envolve a Fundação Alphaville, Prefeitura do Eusébio, Superintendência Estadual do Meio Ambien- te e Instituto de Ciências do Mar - Labomar possibilita que há dois anos pesquisadores da Universidade Federal do Ceará - UFC de- senvolvam no Centro de Estudos Ambien- tais Costeiros - CEAC, um experimento com espécies de peixes marinhos. Cerca de 400 peixes reprodutores são objetos da pesqui- sa que visa viabilizar o cultivo das espécies Centropomídeos (robalos) e de Lutjanídeos, entre eles ariacó, dentão, guaiuba e a cioba. A coordenação do Projeto “Cultivo de Peixes Marinhos” está a cargo do professor Manuel Furtado Neto. BAIXA PRODUÇÃO ACREANA - O governo federal deve liberar R$ 30 milhões para o de- senvolvimento da cadeia produtiva no Esta- do do Acre, para contemplar a limpeza das águas, a instalação de uma fábrica de ração, subsídio à compra de combustíveis, adequa- ção de barcos às condições de navegabilida- de regional; e a instalação de laboratórios, já que a produção acreana de alevinos é insufi- ciente e se concentra apenas na capital Rio Branco. Segundo os aqüicultores do Acre é comum dependerem da compra de alevinos vindos de Rondônia, o centro mais próximo. O Acre é apontado como o terceiro Estado da Amazônia com maior quantidade de lagos. No entanto, 80% deles estariam em regiões de cerrados praticamente improdutivos, o que impede a pesca e a reprodução das espécies. A produção de pescado no Acre é de apenas 3,5 mil toneladas/ano. RELATÓRIO - Um relatório sobre os procedi- mentos estaduais de licenciamento ambiental 7Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negócios elaborado pela SEAP em 2005 e está sendo atualizado pela Diretoria de Desenvolvimento de Aqüicultura da SEAP. Segundo Felipe M. Suplicy, Coordenador Geral de Maricultura da Secretaria, apesar de estar desatualizada para alguns estados, o documento contém infor- mações de interesse para gestores públicos e interessados em investir no setor aqüí- cola. O relatório se encontra disponível em http://200.198.202.145/SEAP/didaq/htlm2/ legislacao_aquicola.html ENGENHEIROS DE PESCA - Acaba de ser fundado o Sindicato Nacional dos Enge- nheiros de Pesca – SINEP. A Diretoria Exe- cutiva Nacional eleita para o período 2007/ 2011 tem como presidente Haroldo Gomes Barroso (MA) e como vice-presidente José Rodolfo Rangel Moreira Cavalcanti (PE). Segundo Haroldo Barroso (hgbarroso@uol. com.br), a nova diretoria não medirá esfor- ços para ordenar a categoria e alcançar as metas pautadas pelo sindicato. PESCADO EM BRASÍLIA - O consumo de pescado em Brasília é duas vezes maior que a média nacional que é de 7 kg/ano. A cidade, mesmo distante do litoral, conso- me 13 quilos por habitante/ano, enquanto a OMS recomenda o consumo de 12 quilos de peixe por ano. O Distrito Federal produz apenas 823 toneladas por ano de pescado, um mercado que movimenta 3,2 milhões de reais e cresce a uma taxa de 10% ao ano. Estima-se que o pescado produzido no Distrito Federal pode crescer ainda mais com informação e preço baixo, já que 350 produtores criam peixes em municípios da região que atendem a apenas 5% do con- sumo brasiliense. Produtores rurais estão cada vez mais interessados na criação de peixes em viveiros ou açudes das cidades como Planaltina, São Sebastião e Gama, demonstrando que a atividade é rentável para as pequenas propriedades familiares. Segundo dados da SEAP, é a alta deman- da por pescado no Distrito Federal que tem incentivado a produção aqüícola. A SEAP já assinou um protocolo de coope- ração técnica com o governo do DF, onde uma das ações previstas na parceria é a construção de um local para treinamento e capacitação de piscicultores no Centro de Tecnologia em Piscicultura da Emater- DF, sediado na Granja do Ipê. Hoje, o pei- xe mais produzido no Distrito Federal é a tilápia, que representa cerca de 50% de todo o pescado cultivado. BIOECOLOGIA AQUÁTICA - O Programa de Pós-Graduação em Bioecologia Aquáti- ca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está com as inscrições abertas para o processo seletivo de 2008. As inscrições para o curso de mestrado em Bioecologia Aquática se encerram em novembro e a seleção se dará ente 17 e 19 de dezembro, com a divulgação dos resultados prevista para 21 de dezembro. São vinte vagas e o início do curso será em março de 2008. Mais informações pelo telefone (84) 3215-4431 ou e-mail: bioe- cologiaquatica@cb.ufrn.br VENDAS AO EXTERIOR - Os Estados Unidos são o destino de 99% da lagosta produzida pela Netuno Alimentos, o maior grupo de pes- cados do país. Para este ano, a empresa pre- vê um crescimento de 20% em receita, para R$ 265 milhões. Além do bom desempenho nos embarques de lagosta, a empresa estima uma expansão de 50% na receita com vendas para o mercado interno graças, sobretudo, ao avanço nas vendas de filés de tilápia. A Ne- tuno vai processar 5 mil toneladas de tilápia neste ano, contra 1,2 mil em 2006. VERBA PARA MARICULTORES - Mariculto- res e pescadores catarinenses receberam da Prefeitura de Florianópolis recursos do Fun- do Municipal de Geração de Oportunidades – Fungeof, no valor de R$ 44 mil a serem utilizados na manutenção de equipamentos ou na compra de matéria prima para o se- tor. O Fundo tem como finalidade promover o desenvolvimento econômico do município de Florianópolis através do apoio financeiro a programas e projetos definidos pelo Conselho Gestor do Instituto de Geração de Oportuni- dades (IGEOF). São ao todo 11 maricultores e pescadores que conquistaram o direito ao benefício. Esta é a segunda parcela paga pelo Fungeof este ano, sendo que um novo lote de financiamentos deve ser repassado até o final de 2007. Os profissionais que se enquadrem nas regras do benefício podem solicitar o fi- nanciamento, que tem valor máximo de R$ 4 mil e pode ser quitado em até dois anos. Entre os critérios para enquadramento estão: ser residente ou exercer atividade profissio- nal no município; obter nas atividades rurais, pesqueiras ou aqüícolas sua principal fonte de renda; não ter débitos pendentes junto a prefeitura; ser inscrito como produtor rural, pescador ou aqüicultor junto à Secretaria Es- tadual da Fazenda; estar registrado na SEAP (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca) ou Colônia de Pescadores ou Sindicato da ca- tegoria. Cada produtor tem direito a apenas 8 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negóciosum empréstimo por vez, porém pode se can- didatar a um novo financiamento depois que o débito anterior for quitado. MARÉS VERMELHAS - Nunca se viu, como este ano, tantas ocorrências da maré verme- lha como as que foram vistas no litoral de Santa Catarina. As mais recentes concentra- ções de algas tóxicas foram identificadas em Florianópolis, na Praia dos Ingleses, Santinho e Ponta das Canas. Este novo foco vem so- mar-se aos outros cinco encontrados em San- ta Catarina este ano, nos municípios de Porto Belo, São Francisco do Sul, Governador Celso Ramos, Balneário Camboriú e Penha. Em San- ta Catarina, cabe ao Laboratório de Algas No- civas do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a identificação e con- tagem de microalgas marinhas, bem como a análise de ficotoxinas nos mexilhões e ostras. O monitoramento segue regras internacio- nais de controle microbiológico, realizando as mesmas medidas preventivas que outros países produtores como o Chile e a Espanha. O que se sabe é que a maré vermelha é um fenômeno natural que acontece em todas as partes do mundo e, o que não é normal, é a alta concentração destas algas, causada pela poluição, temperatura da água, correntes e circulação. O seu aparecimento é comum no verão, mas, neste ano, as algas apareceram tanto no verão quanto no inverno. Para os produtores trata-se de uma fase atípica, uma vez que a maré vermelha dura apenas alguns dias e não meses, causada, provavelmente, por fenômenos climáticos como o La Niña. O Estado de Santa Catarina responde por cerca de 90% da produção nacional de moluscos, com 14 mil toneladas de ostras, mexilhões e vieiras produzidas em 2006. As interven- ções na comercialização são importantes para a segurança alimentar e ajudam a garantir a imagem positiva de um produto de qualidade. Resta, aos maricultores catarinenses, torcer para que a situação ao longo da costa logo se normalize, já que absolutamente nada pode ser feito a não ser esperar que as ocorrências se dissipem. CHEIAS DO SÃO FRANCISCO - O Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) reali- zou em Aracaju, uma audiência para deba- ter os problemas e traçar estratégias que reduzam os impactos ambientais causados pela abertura das comportas da Hidroelétri- ca de Xingó, causados pelas cheias do rio São Francisco. O encontro ocorrido em ou- tubro contou, entre outros, com a presença de representantes da Agência Nacional de Águas (ANA) e das prefeituras do Baixo São Francisco, além de representantes da Chesf, Adema, Ibama, Defesa Civil, Comitê da Ba- cia do São Francisco, Codevasf e Federação dos Pescadores de Sergipe. A abertura das comportas das usinas, especialmente a de Xingó tem gerado diversos estudos para que os piscicultores possam tomar providências para reduzir os prejuízos causados pelas cheias. De acordo com a procuradora geral da República no estado, Eunice Dantas, “de nada adianta a Chesf informar aos municí- pios quando e de quanto será o aumento da vazão, uma vez que a população não sabe mensurar o que isso vai provocar”. MERCADO INTERNO EM ALTA - Ao que tudo indica, foi acertada a decisão da indústria de pescado, sobretudo de camarões e tilápias, de redirecionar sua produção para o merca- do interno. Algumas empresas já chegaram a vender 50% mais no país neste ano. As ex- portações, apesar de mantidas, deixaram de ser o foco principal, por conta da desvaloriza- ção do dólar. Pelo mesmo motivo, as impor- tações também foram facilitadas e a oferta de produtos aumentou, elevando as vendas de pescados entre 20% e 22% nos últimos 12 meses. Os itens mais procurados são filés de merluza, cação, corvina, salmão e camarão. TILÁPIA PARA EXPORTAÇÃO - O Centro In- ternacional de Negócios da Bahia acaba de assinar acordo de cooperação técnica com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul (Ides) para promover a internacio- nalização da tilápia e seus derivados, dentro do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul). O projeto visa aproveitar a capacidade de ampliação da produção da Cooperativa Mista de Marisqueiros, Pescadores e Aqüicul- tores do Baixo Sul para abrir novos merca- dos no exterior. Integrantes do Ides já foram capacitados para promover a exportação da tilápia, através do Programa Oficinas de Co- mércio Exterior e já participaram de rodada de negócios com importadores europeus. O próximo passo é a identificação dos possí- veis importadores e distribuidores nos Es- tados Unidos, o maior mercado consumidor de tilápia no mundo. Resta saber se, com a atual desvalorização do dólar, o negócio deixará algum lucro para os produtores. 9Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negócios FURNAS E TRÊS MARIAS - Os interessados na demarcação de áreas propícias para o desenvolvimento de projetos de aqüicul- tura em tanques-rede nos reservatórios de Furnas e Três Marias, situados nas bacias dos rios Grande e São Francisco, em Minas Gerais, devem acessar o site do Progra- ma de Delimitação de Parques Aqüícolas desses reservatórios no endereço http:// ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/Parques_ Aquicolas/website/index.htm. Lá encon- trarão os relatórios parciais e finais do estudo limnológico (hidrobiológico) dos dois reservatórios, bem como os relatórios dos consultores contratados nas áreas de hidrologia, climatologia, sócio-economia, modelagem hidrodinâmica, capacidade de suporte, ictiologia e produção de pescado. O site ainda traz a íntegra do convênio assinado entre a SEAP-PR e a Secretaria de Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior de Minas Gerais que, por sua vez, contra- tou os serviços do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios/ICB/UFMG. FRIGORÍFICO EM SORRISO - O grupo Ibpa- sa - Indústria Brasileira de Pescados Amazô- nicos, está construindo em Sorriso - MT, um frigorífico com capacidade para industrializar 9,5 mil quilos de pescado por dia. O investi- mento será de R$ 20 milhões e vai gerar cerca de 180 empregos diretos e 500 indiretos e a expectativa é que o abatedouro entre em funcionamento a partir de fevereiro do ano que vem. A empresa vai trabalhar com cerca de 35% da alevinagem e engorda dos peixes, e o restante será negociado com piscicultores da região, que vão trabalhar em parceria com a empresa. O novo frigorífico vai trabalhar inicialmente com surubim e tambaqui. OFFSHORE EM PORTUGAL - O Departa- mento de Ciências e Tecnologias do Mar da Universidade do Algarve, em Portugal está se dedicando ao desenvolvimento de uma estação piloto de piscicultura mari- nha com foco na dourada. O projeto tem apoio do governo português, que já decla- rou que pretende alcançar um aumento da produção de peixe de aqüicultura de três para 30%. Em todo o País, só no Algarve é que se dedica à piscicultura marinha. O governo português aposta no sistema de aqüicultura "offshore", uma iniciativa que permitirá, além da reposição dos estoques no mar, uma produção superior ao sistema de aqüicultura tradicionalmente realizado em terra. A aqüicultura no Algarve iniciou- se na cidade pesqueira de Olhão, produ- tora de alevinos de dourada, que exporta 75% da sua produção para Espanha, já que Portugal não absorve sua produção. SIMPÓSIO NUTRIÇÃO - Como já havia sido noticiado nesta revista, o Brasil foi o país escolhido para sediar a décima ter- ceira versão do International Symposium on Fish Nutrition And Feeding (ISFNF). A comissão organizadora do evento no Bra- sil tem como presidente a professora Dé- bora Fracalossi, da UFSC, que espera que o simpósio ajude a consolidar a indústria da aqüicultura brasileira, ao discutir em profundidade a nutrição de peixes e cama- rões. O evento acontecerá de 1 a 5 de ju- nho de 2008 no Majestic Palace Hotel, em Florianópolis. Mais informações no www. isfnf2008.com.br ou com Mariana Alcân- tara no tel.: (48) 3322-1021 ou e-mail: mariana@oceanoeventos.com.br20 ANOS – A ABRAT - Associação Brasi- leira de Truticultores comemorou no dia 27 de outubro os seus vinte anos de existência. O evento dos truticultores se realizou no auditório da Fundação Roge, localizada no município de Del- fim Moreira (MG), na Serra da Manti- queira, a 1.207 metros de altitude. O Encontro de Truticultores contou com a participação do Prof. Dr. Nobuaki Okamoto, vice-reitor da Tokyo Univer- sity of Marine Science and Technology. O Prof. Okamoto desenvolveu no Ja- pão, uma linhagem de truta arco-íris que é capaz de maturar as gônadas, reproduzir e desenvolver seus ovos/ embriões a 18-20oC, enquanto o limite máximo para a truta normal comple- tar estas atividades é 11-12oC. Além disso, a truta se reproduz duas vezes por ano, enquanto o normal é apenas uma vez. Esta variedade, apelidada de "tropicalizada", seria importante para estender os limites do cultivo no Brasil, mas há numerosas etapas buro- cráticas para a sua importação, algu- mas das quais a legislação e as normas tornaram praticamente impossível de atender legalmente. Uma amostra das publicações do professor Okamoto pode ser vista no website: http://www.soi. wide.ad.jp/class/20050027/profile/ okamoto.html 10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negócios On-line Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. De: Wallace Batista engenheiro.de.pesca@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Licença ambiental No Estado do Acre, o aqüicultor que possuir até 2 ha de lâmina d’água re- cebe o licenciamento ambiental gra- tuitamente fornecido pelo governo, os que possuem acima de 2 ha têm que contratar um engenheiro de pes- ca para providenciar o Relatório de Controle Ambiental. De: Rodolfo Rangel rodolforangel@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Licença ambiental Para estimular o público interressado a ingressar na atividade de implanta- ção de viveiros para aqüicultura, em um hectare de viveiro, qual o valor do custo da licença ambiental e em quan- do tempo o empreendimento estará le- galizado? Existe alguma tabela? Pode- ria divulgá-la? Existem dados para que possamos comparar, já que não há pa- dronização de procedimentos... De: Assis Lacerda rodolforangel@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Licença ambiental Prezado Rodolfo e demais membros, em Pernambuco, nos guiamos pela Lei Estadual de Licenciamento Ambiental nº 12.916/05, na qual contempla- mos os licenciamentos de projetos de aqüicultura. Nessa Lei, colocamos os variados tipos de aqüicultura e em anexo a ela, tabelas de orientação de dimensão e tabelas de preços. De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@bol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Licença ambiental Se você visitar o site da FATMA de SC (http://www.fatma.sc.gov.br/de- fault/default.asp) você encontra as informações que procura, como ma- nuais, custos, etc.. E por aqui, vários profisionais com especialidades téc- nicas que tenham Anotação de Res- ponsabilidade Técnica (ART) podem se responsabilizar pela licença. De: Fabio Vaz fabiovazb@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Auto de infração Tenho um conhecido que foi autua- do pelo IBAMA devido a uma infração na elaboração de uma piscicultura. A piscicultura tem 10 anos de constru- ção e ele foi autuado devido a ela- boração dos tanques não respeitando a faixa de proteção de mata ciliar (1 ha) e tanques feitos muito próximos a uma nascente. Ele enviou a defesa explicando que no layout de constru- ção dos tanques, não havia nenhum corpo d’água que fora destruído com a implantação da piscicultura. Como eu não tenho conhecimentos dessa parte legal, gostaria que os amigos da lista me dessem uma opinião do que eu po- deria fazer para ajudá-lo e também o que pode acontecer daqui pra frente (reflorestamento, inativação da pisci- cultura, outras multas, etc.). De: Marco Pintaudi marco@audisys.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Auto de infração Olá Fábio, em alguns casos que acom- panhei, a melhor saída foi não tentar justificar que não fez algo de errado, e sim apresentar uma forma de repa- rar o dano em que foi acusado. Como por exemplo: ao redor da nascente, se possível, 50 metros de proteção nati- va. Averbar 20% da área para plantio de espécies nativas. Regularizar toda documentação do negócio, da pro- priedade e a captação e lançamento 11Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & NegóciosOn-line de água. Projeto com levantamento topográfico, fotos e um bom relatório explicando todas as compensações. Aqui no Estado de São Paulo com um trabalho deste tipo e apresentado dentro do prazo, há casos que a multa cai para 10% do valor da autuação. É lógico que tudo depende do tamanho do dano causado. De: Renato Soares rsconpisci@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Auto de infração Fábio, de quando é a lei pela qual o seu amigo foi autuado? Aqui no Ama- zonas estamos enfrentando dificulda- des frente as instituições ambientais devido a legislação do CONAMA, em relação aos empreendimentos loca- lizados em barragens de igarapés, construídos antes dessa resolução ser criada. De: Fabio Vaz fabiovazb@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Auto de infração Caro Renato, quero agradecer pela colaboração. Pelo que sei, ele foi au- tuado quando iniciou a instalação da piscicultura, em meados de 97. A lei vigente (Lei no 4.771, de 15 de se- tembro de 1965 - Código Florestal), se mantém até hoje com apenas al- gumas inovações para determinados casos específicos. Resumindo: “Dis- tância de corpos d’água e preserva- ção de mata ciliar.” Pelo que pude ver a autuação foi muito bem aplicada mediante os rigores da lei, mesmo que a alegação do autuado seja a de que não havia corpos d´água na área. Mas quero insistir em ter uma solu- ção desse infeliz caso. Quero dizer ao Marco que compreendi perfeitamente o que você quis me dizer. Se o tempo da defesa permitir, com certeza será o que iremos fazer. Agradeço muito a sua colaboração. De: Diogo Moreira diogopmoreira@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Produzir ração Caros colegas, estou desenvolvendo um projeto para testar a viabilida- de de iniciar uma criação de tilápias no sul fluminense (28 tanques-rede) e embora tudo esteja caminhando, o custo das rações é elevadíssimo, comprometendo boa parte do fatura- mento. Já ouvi falar sobre cultivos e re-processamento de restos da fileta- gem que poderiam ser utilizados para fabricar nova ração, mas a informação sobre isso é escassa. Alguém poderia me dizer como proceder com esse fim, que culturas são indicadas, e se cos- tuma ser viável fazer isso? De: Fabio Sussel sussel@aptaregional.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Produzir ração Prezado Diogo, resumidamente eu vou responder a sua última pergunta. Costuma ser viável isto? Não, Diogo, não vale a pena você produzir pouca quantidade de ração. A mão-de-obra que você vai ter para conseguir todos os ingredientes e a menor qualidade final desta sua ração quando compa- rada com as rações extrusadas comer- ciais, não vai valer a pena. Ainda não temos uma tecnologia para alimentar peixes em tanques-rede com rações peletizadas. Assim sendo, preconiza- se que as rações para tanques-rede sejam extrusadas. Você não irá conse- guir alguma empresa que extruse es- tas pequenas quantidades para você e muito menos adquirir uma extrusora. Para volumes acima de 50 ton./mês até vale a pena você contratar um nu- tricionista, de modo a ter várias fór- mulas em função de preços das ma- térias-prima e então terceirizar uma extrusora. Abaixo deste volume, fique com a ração comercial. Tente traba- lhar com cargas fechadas, brigue no preço e exija do fornecedor resulta- dos de boa conversão alimentar. De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@bol.com.brPara: lista@panorama-l.com.br Assunto: Ração o grande vilão da aqüi- cultura Olá Panoramanautas, acompanhan- do as colocações a longo tempo na Panorama-l, em Seminários, etc., fica a impressão de que o grande vilão que atrapalha o desenvolvimento da aqüicultura nacional, além do licen- ciamento ambiental, é a ração, quer em termos de qualidade quer em ter- mos de preço. Será que isto procede? Com certeza não podemos considerar que este insumo tem apenas uma par- ticipação angelical, mas qual seria a real participação, por exemplo percen- tual, deste ítem no rol dos problemas aqüícolas? Uma coisa que me chama a atenção é quando considero outros cultivos, como por exemplo, de aves e suínos. Eles também utilizam ração intensivamente, mas as cadeias destes estão tendo lucros, basta ver os balan- ços de empresas como Sadia, Perdigão, etc., que estão ganhando até com a ex- portação destes itens! As rações destes segmentos são eficientes e baratas e as da aqüicultura brasileira caras e ine- ficientes? Ou será que existem outras considerações que podem ser feitas acerca do tema, ou ele não procede? De: João Ribeiro joaoacquasul@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Ração o grande vilão da aqüicultura A sua impressão é real. Quanto à quali- dade das rações, até que foi melhorada. Mas quanto ao preço, só tem aumenta- do. Quando o dólar vivia em alta, eles usavam isso como argumento para au- mentar os preços das rações. E agora que o dólar está em baixa, a ração con- tinua aumentando de preço. 12 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & Negócios On-line De: Mauricio Emerenciano mauricioemerenciano@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Ração o grande vilão da aqüicultura Gostaria de fazer uma pequena refle- xão quando comparamos os diferen- tes segmentos agropecuários em nos- so país. Em relação ao lucro obtido nas mais diferentes atividades, quan- do pensamos no produtor a realidade não é tão boa assim. Os produtores de suínos, por exemplo, há muito tempo não vivem período de “vacas gordas”. A situação de aves de corte está um pouco melhor, mas não tão melhor as- sim. Ainda mais se pensar no peque- no produtor. Sadia e Perdigão (o elo final da cadeia produtiva, os “agre- gadores de valor”) com certeza se beneficiam de tudo isso. Agregam va- lor, mantêm a qualidade e padrão de seus produtos e possuem uma marca consolidada no mercado interno. Quer uma receita melhor? E ainda cada vez mais ganhando espaço no mercado externo. Bom não? Em relação ao importante tópico tocado, as rações, temos que ter em mente que “aves e suínos” sem sombra de dúvida estão anos luz na nossa frente em termos de conhecimentos técnicos (exigên- cias nutricionais, manejo, genética, entre outros). Já é sabido há muito tempo que as exigências básicas e a nutrição desses animais já chegou a um patamar altamente tecnificado. Um exemplo dessa tecnificação em aves: muitas fabricantes de rações já utilizam algumas enzimas para dispo- nibilizar um determinado nutriente específico nas rações. E essa “nova energia liberada por esse nutriente” já é calculada na energia total da ra- ção, que por sua vez já é calculada no desempenho animal, e que por exem- plo, pode diminuir em 1 dia o perío- do de abate. E na aqüicultura? Quais conhecimentos temos? Recentemente fui fazer um levantamento de exigên- cias de cálcio e fósforo (exigência mais do que básica) para tilápias. E me surpreendeu as poucas informa- ções obtidas e ainda as inúmeras con- tradições nas mais diversas partes do mundo. Resultado disso: muitas vezes utilizamos o “velho” 2:1 (Ca:P), sem sequer saber a real biodisponibilida- de dos ingredientes utilizados, aonde muitas vezes o excesso desse fósforo vai para ambiente, ou para os vivei- ros ocorrendo “blooms” de cianobacté- rias ou fitoplâncton, consequentemen- te off-flavor, queda de OD, etc.. Outra questão são dietas específicas para os mais diferentes estágios de crescimen- to. Em frangos de corte, são mais de 4 ou 5 tipos de rações em apenas 42 dias de crescimento animal, maximizan- do a curva de crescimento do animal. Vamos tomar como exemplo novamente a tilápia (creio que o nosso peixe que alcança mais rapidamente o período de abate) que leva aproximadamente uns 180 dias (média para 500g). E temos em média, quantos diferentes tipos de rações para esse período, duas, as vezes três? Assim, ainda temos que melhorar e muito nossos conhecimentos em termos de exigências nutricionais básicas ou mais específicas para que nossos peixes e camarões possam otimizar e maximi- zar seu crescimento, sempre adequando um correto manejo (manejo alimentar, densidades de estocagem, qualidade de água, entre outros). E se conseguirmos atrelar tudo isso a um melhoramento genético, busca de linhagens geneti- camente superiores para crescimento ou, por exemplo, resistentes a um de- terminado patógeno, entre outros, co- meçaremos a alcançar um desempenho zootécnico semelhante ao obtido nas 13Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Notícias & NegóciosOn-line outras categorias. Não sou defensor de aves e suínos. Mas admiro a tecnificação por eles alcançada. Temos que aprender com os erros e acertos dessas atividades e auxiliar a alavancar a nossa aqüicultu- ra. Sou otimista e o Brasil certamente chegará lá. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: [Panorama-L] PNCR e uso de anabolizantes em pescado (Respondendo à mensagem de Luiz Henrique Barrochelo) O uso dos anabolizantes esteroidais é proibido no Brasil por legislação espe- cífica, e não se pode nem fazer experi- mento a respeito (é proibido também). Com relação ao uso do Dietilestilbestrol (DES), duvido que esteja sendo usado em ração de salmão ou outros peixes para exportação, pois é uma substân- cia cancerígena e facilmente detectável por análises de laboratório. Além disso, o DES é tecnologia antiga, pertencen- te à primeira geração de anabolizantes esteroidais, e desde então surgiram ou- tras gerações bem mais seguras e efica- zes. Tive a oportunidade de participar no Japão, de pesquisas com peixes na universidade, utilizando um anaboli- zante esteroidal aprovado comercial- mente em vários países desenvolvidos, o acetato de trenbolona. É considera- do tão seguro, que é tradicionalmente usado até em humanos, para recuperar a massa muscular de pessoas idosas na Europa. O acetato de trenbolona (AT) é degradado no trato digestório dos ma- míferos, para garantir que mesmo que um ser humano viesse a comer a carne do gado tratado, antes do período de depuração, o anabolizante seria destru- ído e não absorvido pelo ser humano. Mas em peixes, o metabolismo do AT é diferente, e ele pode ser usado mesmo via oral, na ração. Num dos testes, o crescimento de peixes salmonídeos au- mentou 18% em relação ao controle, pelo uso do AT na ração. Com o pargo róseo, o AT aumentou a resistência ao estresse de cultivo e manipulação. Mas quando tentamos obter autorização para seguir com estas pesquisas com AT no Brasil, foi impossível. O país prefere continuar usando o ilegal DES a autori- zar os produtos seguros e legais. Como você trabalha com tilápia, uma aplica- ção interessante do AT é na masculiniza- ção dos lotes. Num trabalho com tilápia nilótica nos EUA (onde o uso do AT é legal), a imersão dos alevinos duran- te 2 horas em solução de AT produziu boa reversão, gerando mais de 90% de machos, enquanto não houve reversão num sub-grupo paralelo alimentado com ração adicionada de MT (metil testoste- rona), que era a metodologia padrão. O trabalho pode ser baixado na íntegra da webpage: http://pdacrsp.oregonstate. edu/pubs/technical/15tch/3.b.2.pdf. De qualquer forma, o Brasil está fechado à discussão séria neste assunto, prefe- rindo deixar solta a ilegalidade e com- promentendo a saúde do consumidor. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.brAssunto: Re: [Panorama-L] PNCR e uso de anabolizantes em pescado Talvez seja motivo de voltar ao as- sunto com os colegas da SEAP que fazem parte desta lista para que le- vem a frente esta possibilidade de liberar no Brasil o AT. Até proponho o seguinte: que os Ministérios elejam locais de referência em pesquisa de peixes para estudar a liberação des- te e outros produtos que estão sendo utilizados na ilegalidade aqui no Bra- sil e liberados em outros países. 14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Osmorregulação nos peixes de água doce O sangue dos peixes de água doce contém cerca de 9g de sal/litro ou 0,9% de sal, o equivalente à concentração de um soro fisiológico vendido nas farmácias. Esta concentração é semelhante ao registrado em outros animais, inclusive no homem. O íon sódio (Na+) representa cerca de 75 a 80% dos sais presentes no sangue dos peixes. Por viverem em um ambiente com muita água e poucos sais, e pelo fato de manterem um íntimo contato do sangue com a água através dos finos vasos sangüíneos (capilares) nas brânquias, os peixes de água doce estão freqüentemente envolvidos numa batalha para conservar os sais no sangue e se livrar do excesso de água absorvida, num mecanismo fisiológico conhecido como osmorregulação (Figura 1). Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua & Imagem Serviços Ltda. fernando@acquaimagem.com.br O sal marinho é ampla-mente disponível, de baixo custo, seguro para os peixes e para quem o manipula. Composto basicamente por clo- reto de sódio (NaCl), o sal pode ser usado em diversas situações nas pisciculturas: na prevenção e controle de doenças; como alívio do estresse relaciona- do às despescas, biometrias, classificações por tamanho, transferências dos peixes e confinamento durante a de- puração; no alívio do estresse do transporte de curta e longa duração; e como amenizador de condições ambientais adversas (toxidez por nitrito, inflamação das brânquias, entre outros). Neste artigo serão apresenta- das as diferentes situações e forma de uso do sal na pisci- cultura, visando manter o bem estar dos peixes. A versatilidade do sal na piscicultura Para a finalidade deste artigo, podemos descrever a osmorregulação nos peixes de água doce como um processo que envolve a participação de células especiais presentes nas brânquias (células de cloreto), e que têm como função minimizar as perdas de sais do sangue para a água, bem como absorver ativamente os sais presentes na água, mesmo em baixa concentração. Também participam da osmorregulação o rim e a bexiga urinária, que são os responsáveis por maximizar a reabsorção dos sais na urina em formação e pela produção de um grande volume de urina que permite o peixe se livrar do excesso de água que entra continuamente por osmose no corpo. 15Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 O sal na piscicultura do manejo de rotina (despesca, manipulações, classificações, manejo da reprodução, transferência, adensamentos na depu- ração e manejo, entre outras); as injúrias e inflamação causadas ao epitélio branquial, em virtude da infestação por parasitos, do uso de produtos químicos irritantes, da presença de argila em suspensão na água e do excesso de material orgânico particulado; e a freqüente exposição dos peixes a baixos níveis de oxigênio e a condições inadequadas de qualidade de água. Para lidar com estas condições adversas, que acentuam as perdas de sais do sangue para a água e causam uma exces- siva hidratação do corpo, os peixes precisam gastar energia extra para manter ou restabelecer o equilíbrio osmorregula- tório. Além disso, este esforço e gasto de energia adicional para manter a osmorregulação sob tais condições adversas deprimem a resistência e o sistema imunológico dos peixes, tornando-os mais susceptíveis às doenças. Diversos usos do sal na piscicultura Apesar do grande benefício do sal no dia a dia das pisciculturas, grande parte dos produtores desconhecem todas as possibilidades de uso deste produto. Muitos tam- bém usam o produto em doses totalmente inadequadas para a finalidade em questão. A versatilidade do sal na piscicultura No quadro 1 são apresentadas algumas finalida- des do uso do sal na piscicultura. O sal pode ser apli- cado na forma de banhos rápidos sob alta concentração (2 a 3%) para tratamentos de infecções por parasitos, fungos e bactérias. Para fins de alívio do estresse do manuseio e transporte, são utilizadas concentrações de sal entre 0,5 a 0,8%, valores próximos à concentração de sais no sangue dos peixes. Na depuração dos peixes para o transporte Durante a depuração dos peixes para o transporte (pós-larvas, alevinos e reprodutores), o uso do sal, onde for possível, previne o aparecimento de lesões (manchas brancas) e a infecção por fungos e bactérias externas (como a Flavo- bacterium columnare - que causa podridão das nadadeiras nos peixes). Além disso, por facilitar a manutenção do equilíbrio osmorregulatório, o uso do sal reduz a mortalidade dos peixes durante a depuração. Uma concentração de sal entre 0,3 e 0,6% (3 a 6g/litro ou 3 a 6kg/1.000litros) deve ser mantida durante toda a depuração. Tanques sem renovação de água e providos de aeração, ou mesmo sistemas de recirculação de água, são facilmente salinizados para uso na depuração. No transporte de peixes vivos Durante as operações que precedem o transporte (a despesca, o manuseio, a classificação por tamanho, a depu- ração e o carregamento), os peixes invariavelmente sofrem alguma injúria física (perda de escamas, esfolões, batidas, etc.) e perdem parte da proteção provida pelo muco e escamas. Estes ferimentos facilitam as perdas de sais e a hidratação excessiva dos peixes, dificultando a manutenção do equilíbrio Importante neste mo- mento é o produtor saber que a manutenção deste equilíbrio osmorregulatório (ou seja, da concentração normal de sais no sangue) demanda um gran- de gasto de energia e pode ser grandemente comprometido sob condições adversas de produção. Dentre estas condições adversas podemos relacionar o estresse e as injúrias físicas decorrentes Outro colaborador na osmorregulação é o trato digestivo dos peixes, onde ocorre a absorção de sais (minerais) ingeridos nos alimentos e a reabsorção dos sais biliares usados na digestão das gorduras, conservando sais e repondo parte das perdas de sais do corpo para a água. Também o muco e a pele dos peixes servem como uma barreira entre a água do ambiente e os fluídos celu- lares e plasma dos peixes, contribuindo com a osmorregulação. Assim o leitor pode perceber na figura 1 a grande complexidade da osmorregulação nos peixes de água doce, o que demandaria algumas boas páginas aqui para ser explicada em seus detalhes. Aqueles dispostos a se aprofundar no assunto e em outras questões sobre a fisiologia dos peixes, um bom começo é o livro de Ber- nardo Baldisserotto (Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura - Editora da Universidade Federal de Santa Maria - RS) . Quadro 1 - Diversos usos do sal na piscicultura 16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 17Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 O sal na piscicultura osmorregulatório. Além do estresse físico, o manuseio e o confinamento dos peixes (nas redes e durante a depuração) desencadeiam uma seqüência de reações fisiológicas que culminam com a elevação nos níveis de cortisol no sangue dos peixes. O cortisol aumenta a permeabilidade das mem- branas celulares, acentuando as perdas de sais do sangue para a água e a entrada de água (hidratação) no corpo dos peixes. Isso pode resultar em significativa mortalidade dos peixes durante e, mais comumente, uma a duas semanas após o transporte. Mesmo que não morram em conseqü- ência direta do desequilíbrio osmorregulatório, os peixes sobreviventes podem sucumbir a doenças com a supressão do seu sistema imunológico causada pelo estresse a que foram submetidos. Portanto, é fundamental adicionar sal à águade transporte, em concentrações entre 0,5 e 0,8% (5 a 8g/litro ou 5 a 8kg/1.000litros). Esse procedimento age de duas maneiras facilitando a manutenção do equilíbrio osmor- regulatório. Mantém a água com uma concentração de sais próxima da concentração do sangue dos peixes (0,9% ou 9g/ litro), diminuindo o gradiente da concentração de sais entre o sangue e a água e, portanto, as perdas de sais dos peixes. O sal também estimula os peixes a secretarem mais muco, que recobre as brânquias e o corpo. O muco funciona como barreira contra as perdas de sais e contra a excessiva hidratação do corpo dos peixes, facilitando a osmorregulação. A produção de muco estimulada pelo sal também ajuda a recobrir áreas lesionadas, diminuindo as chances de ocorrên- cia de infecções secundárias por fungos e bactérias nos peixes transportados. Outra contribuição do sal no transporte é o fato da presença de íons sódio (Na+) na água favorecer o mecanismo de transporte ativo do íon amônio do sangue dos peixes para a água. No transporte ativo ocorre a entrada de um íon sódio e a saída de um íon amônio, favorecendo a eliminação da amônia mesmo sob um gradiente negativo de concentração de amônia entre o sangue e a água. Isso é particularmente importante nos transportes de alevinos em sacos plásticos onde, sob cargas otimizadas, a concentração de amônia total na água ao final do trans- porte atinge valores elevados, geralmente acima de 40mg/l. Na prevenção e controle de parasitos Protozoários (Íctio, trichodina, epistylis, costia ou ichthyo- bodo, entre outros), dinoflagelados (como o Piscinoodinium) e os monogenóides (Dactylogyrus, Gyrodactylus, Cleidodiscus e outros) podem ser combatidos com banhos rápidos e concentrados em água salgada (acima de 20 a 30g de sal por litro). A maior parte destes parasitos causa severas infestações e injúrias nas brânquias, o que favorece ainda mais a entrada de água no corpo e a perda de sais do sangue para a água, prejudicando a osmorregulação. Dessa forma, os banhos em água salgada não apenas desidratam os parasitos (levando-os à morte), mas também possibilitam a re- posição de sais (sódio e cloreto) no sangue dos peixes, facilitando o restabelecimento do equilíbrio osmorregulatório. Nestes banhos concentrados, a água salgada desidrata tanto os parasitos como os peixes. No entanto, por serem organismos muito pequenos em re- lação aos peixes, os parasitos desidratam mais rapidamente. Assim, nos banhos com sal o mais resistente sobrevive e o mais sensível padece, sendo tudo uma questão de tempo de exposição. Algumas espécies de peixes toleram banhos concentrados de sal por mais tempo do que outras. Antes de aplicar o tratamento em todos os peixes do lote, faça um teste com alguns animais (50 a 100 peixes) para ver a reação dos mesmos e o tempo em que metade deles perde o equilíbrio durante o banho. Assim, você terá uma idéia do momento em que precisará intervir (do tempo de exposição ao banho), retornando os peixes para uma água de menor salinidade. Em geral, a maioria dos piscicultores não conta com equi- pamentos (microscópio, material de dissecação, etc.), recursos (laboratórios e técnicos especializados em sua região) e, tampouco, conhecimento para realizar um diagnóstico preciso dos parasitos ou patógenos que acometem seus estoques. Assim, o sal, por ser seguro, de baixo custo e facilmente disponível, deve ser sempre a primeira opção de produto a ser usado quando se identifica que algo não está bem com os peixes. "Alguns peixes toleram banhos concentrados de sal por mais tempo do que outros. Antes de aplicar o tratamento faça um teste com alguns animais para ver a reação dos mesmos e o tempo em que metade deles perde o equilíbrio durante o banho." Banho de sal em alevinos de truta arco-íris após a classificação, como medida preventiva contra Columnariose e parasitos branquiais 18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Em geral, banhos de sal na concentração de 5% (50g/litro ou 50kg/1.000 litros) são aplicados por 30 segundos a 2 minutos. Nesta concentração, cerca de 60% superior à da água do mar, os peixes de água doce rapidamente perdem o equilíbrio. Geralmente os peixes são mergulhados nesta água com auxílio de um puçá ou mesmo dentro de um hapa (ou tanque-rede), facilitando a rápida remoção e transferência dos mes- mos para uma água de salinidade mais baixa. Banhos em água com 2 a 3% de sal (20 a 30g/ litro = 20 a 30kg/1.000 litros) podem ser aplicados por 2 a 20 minutos, dependendo da tolerância da espécie de peixe a ser tratada. Mesmo que os peixes não apresentem perda de equilíbrio, o banho nesta concentração não precisa exceder o tempo de 20 mi- nutos, pois pode causar uma desnecessária desidratação dos animais e uma elevação excessiva na concentração de íons sódio e cloreto no sangue dos peixes. Estes banhos concentrados ge- ralmente são aplicados em tanques de pequeno volume ou mesmo em caixas de transporte, onde há aeração disponível e de onde os pei- xes podem ser rapidamente transferidos para uma água doce. Durante o banho os peixes podem ser mantidos em um hapa ou em um puçá, facilitando a remoção dos mesmos do tanque. Em tanques de grande tamanho estes banhos con- centrados geralmente não são viáveis, seja pelo custo (devido à grande quantidade de sal necessária), seja pela impossibilidade de prover um rápido alívio ao peixe após o tratamento. Banhos prolongados, entre 4 a 12 horas, podem ser aplicados em água com 1,0 a 1,2% de sal (10 a 12g/litro ou 10 a 12kg/1.000 litros). Estas concentra- ções são bastante seguras para a maioria dos peixes de água doce, podendo estes permanecer expostos até mais do que 24 horas a estas salinidades. No entan- to, sob períodos de exposição mais prolongados, os peixes podem apresentar desidratação e desconforto, pois tal salinidade supera em 10 a 30% a concentração de sal no sangue dos peixes. No controle de infestações severas por para- sitos, os banhos em água salgada geralmente precisam ser repetidos a intervalos de 1 a 2 dias, sendo necessários de 3 a 4 banhos para solucionar definitivamente o problema. No controle de fungos (Saprolegniose) Banhos com sal nas concentrações recomendadas para o con- trole de parasitos também podem ser usados na prevenção e controle de infecções por fungos em alevinos, juvenis e em reprodutores. Como já mencionado, a adição de sal na água da depu- ração e na água de transporte também previne a infecção por fungos, sendo um recurso útil no preparo de alevinos, juvenis e matrizes para o transporte. No recebimento de alevinos, juvenis e matrizes, quando o fornecedor não utiliza o sal na depuração e no transporte, é recomen- dável submeter os peixes a um banho com sal (2% ou 20kg/1.000 litros por 5 a 20 minutos) para prevenir eventu- ais infecções por fungos e controlar eventuais parasitos que possam ter vindo com os peixes. Este banho pode ser feito na própria caixa de transporte ou em um tanque (ou caixa d’água) colocado ao lado dos tanques onde os peixes serão estocados. Aeração ou oxigenação pode ser necessária, dependendo da quantidade de peixes a ser tratada. O controle de fungos em ovos de peixes pode ser realizado através de banhos diários ou em dias alternados, na concentração de 2 a 3% de sal (20 a 30g/litro) por 10-15 minutos, sendo este um procedimento comum na incubação de ovos do catfish americano e da truta. Em sistemas fechados (recirculação de água) usados para a incubação de ovos de tilápia, pode ser mantida uma concentração de sal constante entre 0,3 e 0,5% (3 a 5g/litro ou 3 a 5kg/1.000 litros), prevenindo as infecções por fungos nos ovos e nas pós-larvas recém nascidas. O controle de infecções fúngicas em peixes estocados em tanques de terra demanda o uso de grandes quantidades de sal. Doses ao redor de 0,3%, ou 3kg de sal/m3, podem ser usadas preventivamente. Isso equivale a 3 toneladas de sal para um tanque com1.000m2. Doses de até 9 kg de sal/m3 podem ser usadas por tempo indefinido. No entanto, estas doses, além de economicamente inviáveis para tratamento em tanques de grandes dimensões, nem sempre são eficazes para o tratamento de infecções já avançadas, servindo mais para o controle de infecções fúngicas em seu início. Para se ter um efeito curativo do sal contra os fungos é necessário expor os peixes a concen- trações de sal entre 20 e 30kg por/m3 por alguns minutos, e ainda repetir este tratamento. Isso é impraticável em tanques de grandes dimensões, seja pelo custo dos tratamentos, ou pela "Para se ter um efeito curativo do sal contra os fungos é necessário expor os peixes a concentrações de sal entre 20 e 30kg por/m3 por alguns minutos, e ainda repetir este tratamento. Isso é impraticável em tanques de grandes dimensões, seja pelo custo dos tratamentos, ou pela impossibilidade de aliviar esta concentração rapidamente devido às limitações no abastecimento de água" O sa l n a pi sc ic ul tu ra 19Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 O sal na piscicultura impossibilidade de aliviar esta concentração rapidamente devido às limitações no abastecimento de água. Uma alternativa que pode ser usada em casos ex- tremos (e em lotes de peixes de alto valor) é fazer uma despesca com o maior cuidado possível e proceder ao tratamento concentrado em caixas de transporte ou em caixas d’água posicionadas na beira do tanque, retornan- do os peixes ao tanque após o banho. Outra possibilidade, menos traumatizante, é con- centrar os peixes com a rede em um canto do tanque (sem apertá-los demais), e aplicar uma dose localizada de sal ao redor de 20 a 30kg por m2 de área de concentração dos peixes e manter assim durante 20 a 30 minutos, monito- rando o oxigênio no local e a reação dos peixes, liberando a rede após este tempo. Neste caso deve se usar um sal bem fino para que sua dissolução na água seja a mais eficiente possível. Após estes tratamentos concentrados, assegure-se de que a água do tanque permaneça com pelo menos 3kg de sal/m3 (já considerando o que foi aplicado localmente), e que esta salinidade seja mantida por alguns dias, de forma a aliviar a sobrecarga osmorregulatória dos peixes. Em peixes estocados em tanques-rede é possível realizar banhos de sal preventivos e curativos contra fungos com o uso de bolsões que “encapam” os tanques-rede, como será discuti- do mais adiante neste artigo. No controle da Columnariose Banhos de sal, nas doses e tempo de exposição recomenda- dos para o controle de parasitos e fungos, também podem ser usados no controle da Colum- nariose, doença causada pela bactéria Flavobacterium colum- naris, e que resulta em podridão das nadadeiras, necrose na boca (boca de algodão) e necrose das brânquias (que prejudica a respiração e a osmorregulação dos peixes). A Columnariose ocorre com relativa freqüência em alevinos após o manejo ou transporte, particularmente nos meses de verão, com temperaturas mais elevadas na água. Banhos preventivos com sal podem ser aplicados no rece- bimento dos alevinos e após as operações de manejo. Na prevenção da intoxicação por nitrito O nitrito (NO2 -) é um composto nitrogenado tóxico aos peixes, oriundo da decomposição da matéria orgânica pre- sente nos tanques de cultivo. Em tanques de terra com baixa renovação de água e altas taxas de alimentação, ou intensa fertilização orgânica, podem ser registradas concentrações de nitrito prejudiciais ao desempenho dos peixes (concentrações acima de 0,3mg/litro). Concentrações tóxicas de nitrito também podem ocorrer em sistemas de cultivo onde é feita a recirculação de água e o tratamento da mesma através de filtros mecânicos e biológicos. A aplicação de sal na água ameniza o potencial tóxico do nitrito aos peixes. Os íons cloreto, quando pre- sentes em quantidades adequadas na água, se associam aos receptores de nitrito nas células das brânquias dos peixes, impedindo a absorção deste composto tóxico. A dose de sal necessária para amenizar o potencial tóxico do nitrito é muito pequena e pode ser calculada usando a seguinte equação: Por exemplo, se a concentração de nitrito na água for de 0,5mg/l e a concentração de cloreto for 0,1mg/l, a dose de sal que deve ser aplicada no tanque ou no sistema de recirculação deve ser de (6 x 0,5 – 0,1)/0,6 = 4,8g de sal/m3. Assim, em um tanque de engorda de 1 hectare (10.000m2) e pro- fundidade média de 1,0m, seria necessário aplicar 48kg de sal. No caso de um sistema de recirculação com volume total de água de 500m3, seriam necessários 25kg de sal. Note que a aplicação de sal para fins de redução do potencial tóxico do nitrito em geral é muito pe- quena e de baixo custo, mesmo considerando grandes áreas de tanques. Se o produtor não dispõe de um teste para análise do teor de cloreto na água, a dose de sal pode ser calculada considerando a concentração de cloreto como zero, ou seja, a dose de sal equivale a 10 vezes a concentração de nitrito na água. No entanto, se a água no local contiver níveis elevados de cloreto (por exemplo, em áreas estuarinas) e isso não for verificado através da análise de cloretos, a aplicação de sal poderá ser feita sem necessidade. Após as despescas e o manejo Durante as despescas com rede de arrasto, além das eventuais injúrias mecânicas sobre o muco, as escamas e a pele, ocorre a suspensão dos sedimentos orgânicos ou "A Columnariose ocorre com grande freqüência em alevinos e juvenis após o manejo e transporte. Banhos preventivos de sal no recebimento dos peixes ajudam a diminuir a severidade desta doença." Dose de sal: (g/m3) = [6 x (NO2 - mg/L) - (Cl- na água mg/L)] / 0,6 20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 21Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 O sal na piscicultura minerais (argila, silte e mesmo pequenas partículas de areia). Estes sedimentos se depositam sobre as brânquias dificultando a respiração dos peixes e causando lesões no epitélio branquial. A adição de 1% (10g/litro ou 10kg/1.000 litros) à água das caixas onde os peixes serão colocados (durante a transferência entre os tanques de cultivo ou para os tanques de depuração) estimula a produção de muco pelos peixes, o que auxilia na remoção dos resíduos depositados sobre as brânquias e no recobrimento e proteção das lesões nas brânquias e corpos dos peixes. Em sistemas de recirculação Os peixes criados em sistemas de recirculação es- tão freqüentemente expostos há uma água com grande quantidade de sólidos em suspensão (material orgânico particulado). Nestes sistemas de cultivo pode ocorrer uma grande proliferação de parasitos, bactérias e fungos. Além disso, com as altas densidades de estocagem e a contínua exposição a fatores de estresse (por exemplo, oscilações nos parâmetros de qualidade de água), os peixes tendem a perder mais sais para a água. Assim, manter continuamente uma salinidade ao redor de 0,2 a 0,3% (2 a 3kg de sal por 1.000 litros) ajuda a reduzir problemas com parasitos e fungos, bem como ameniza a irritação do epitélio branquial e a excessiva perda de sais dos peixes. Esta salinidade não interfere com o funcionamento do filtro biológico e ajuda a prevenir problemas de intoxicação por nitrito. Na prevenção de doença ambiental das brânquias A doença ambiental é uma condição de lesão, inflama- ção e irritação do epitélio branquial que pode ser causada por diversos fatores. Alguns dos mais comuns em piscicultura são: a infestação por parasitos; o uso de produtos químicos; e a presença de partículas sólidas em suspensão na água (argila ou mesmo partículas orgânicas, como fezes e ração fina dissolvida na água). As lesões e inflamações provocadas por parasitos e a deposição de material orgânico no epitélio branquial favo- recem a ocorrência de infecções bacterianas nas brânquias. Tratamentos freqüentes com formalina podem resultar em irritaçãoe inflamação das brânquias dos peixes, prejudicando a osmorregulação. Problemas de integridade do epitélio branquial ocorrem com freqüência durante a larvicultura intensiva de diversas espécies de peixes (por exemplo, a tilápia, o catfish americano, a truta arco-íris, entre outros), onde se mantém alta densidade de pós-larvas e se faz uso de ração finamente moída. Partículas de ração e material fecal geralmente se depositam sobre as brânquias, levando à uma irritação e inflamação do epitélio branquial. Isso prejudica a respiração, a os- morregulação e a excreção de amônia do sangue para a água. Todos estes fatores comprometem o bem estar dos peixes, tornando os animais mais susceptíveis às doenças e resultando em alta mortalidade no cultivo. Ba- nhos semanais com sal a 1% (10kg/m3) por 2 a 4 horas podem ajudar a prevenir este problema. O sal aumenta a produção de muco nas brânquias, o que favorece a eliminação do excesso de muco branquial, juntamente com os resíduos orgânicos nele aderidos. "Os peixes criados em sistemas de recirculação estão freqüentemente expostos há uma água com grande quantidade de sólidos em suspensão (material orgânico particulado). Nestes sistemas de cultivo pode ocorrer uma grande proliferação de parasitos, bactérias e fungos." O uso do sal na criação de peixes em tanques-rede Tanques-rede geralmente estão instalados em gran- des reservatórios, o que exige que o produtor disponha de equipamentos e estruturas especiais que possibilitem a realização de banhos preventivos ou curativos. Os banhos podem ser dados com o uso de um bolsão de plástico (lona plástica ou vinil), que possibilita ensacar completamente o tanque-rede. Isso evita que o sal se dilua muito rapidamente Tanque-rede sendo "envelopado" com bolsão de vinil para aplicação de banho com sal (Foto: Fábio Mori) 22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 23Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 O sal na piscicultura na água dos reservatórios. Nestes casos, o tempo do banho é limitado pela disponibilidade de oxigênio dentro do tanque- rede, geralmente ao redor de 20 a 40 minutos, dependendo da biomassa estocada, da temperatura da água, do tamanho dos peixes e de quão alimentados eles estão. Assim, os banhos com sal (ou com outros produtos), geralmente são rápidos e feitos a uma alta concentração (por exemplo, ao redor de 2 a 3% ou 20 a 30kg de sal/m3). Os banhos devem ser realizados pela manhã, quando o peixe ainda não foi alimentado e a temperatura da água ainda não está tão elevada. Com isso, o consumo de oxigênio é menor e o banho pode ser mais prolongado. Um recurso para reduzir o uso de sal nestes tratamentos é injetar oxigênio dentro do bolsão, o que permite prolongar o banho e usar uma dose menor do produto. Para isso é preciso um bom difusor de oxigênio, cilindro e regulador. Quando se dispõe de um oxímetro é possível monitorar o oxigênio no interior do tanque-rede e determinar o momento de retirar o bolsão (em geral, quando o oxigênio chega a 2mg/litro). O produtor deve dispor de equipamentos para isso (um bom difusor de oxigênio, cilindro e regulador). Quando se dispõe de um oxímetro é possível monitorar os níveis de oxigênio no interior do tanque-rede e determinar o mo- mento em que o bolsão deve ser retirado (em geral quando o oxigênio chega a 2mg/litro no interior do bolsão). Banhos com sal podem ser empregados no recebimento dos alevinos (particularmente se o fornecedor não costuma colocar uma adequada quantidade de sal na água de transporte). Se o transporte for a granel, o banho pode ser dado nas próprias caixas de transporte, facilitando a operação. Se os alevinos foram transportados em sacos plásticos, o banho pode ser dado em algum tanque especialmente preparado para isso, ou mesmo após a soltura dos alevinos nos tanques-rede, usando os bolsões. Banhos com sal também podem ser aplicados após os manejos de classificação e transferência dos peixes. Alguns produtores de tilápia colocam sal (cerca de 4 a 6kg) em um saco de ração e penduram este saco dentro da água no interior dos tanques-rede onde estão os peixes que foram submetidos ao manuseio. Conheci tal prática em um empreendimento de tanques-rede no reservatório de Xingó, em Alagoas, se não me falha a memória em 2001. Na ocasião, um produtor local me explicou que, após adotar este pro- cedimento, a mortalidade dos peixes após o manejo e seleção (classificação) reduziu significativamente. Na ocasião, olhando aquele mundo de água no reservatório, pensei: “de que maneira um saco com alguns quilos de sal poderia prover uma significativa melhora na condição e sobrevivência dos peixes? Pela presença de uma significativa concentração de sal na água da gaiola? Impossível com a intensa renovação de água, com o grande volume do reser- vatório e com a pequena quantidade de sal confinada dentro de um saco de ração. Muito provavelmente, os peixes estressados no manejo (que envolve con- finamento por algumas horas na rede, captura com puçás, classificação manual, contagem, pesagem, etc. e etc.), descobrem que ali, no interior do saco de ração, há algo (o sal) que pode ajudar na rápida restauração do seu equilíbrio osmorregulatório. E, seguramente, os peixes ingerem pequenas partículas de sal que passam através da ráfia ou de pequenos furos no saco, recompondo os níveis de sódio e clo- reto no sangue.” Embora o produtor não soubesse me explicar a razão da melhora dos peixes, acredito ser este o fundamento de tal prática. Considerações finais O sal é considerado um produto de uso seguro pelas agências norte-americanas e européias que regulamentam o uso de produtos químicos na aqüi- cultura. Diversas são as possibilidades de uso deste produto na piscicultura, sendo o mesmo muito eficaz em ações preventivas quando aplicado com conhe- cimento. C W. Johnson relacionou 12 finalidades de uso do sal na rotina das truticulturas. Algumas delas já foram aqui discutidas. Outras são muito interessan- tes ou, no mínimo, curiosas, como o alívio dos efeitos das chuvas ácidas, o controle de algas filamentosas, o alívio de situações momentâneas de baixo oxigênio dissolvido, o derretimento do gelo que se concentram nas telas da entrada dos raceways (o que é pouco provável ocorrer nas truticulturas aqui no Brasil). Quem se interessar em ler este artigo do uso do sal na truticultura, poderá baixar o PDF na internet (www. wvu.edu/~agexten/aquaculture/12salttrout.pdf) e terá mais uma confirmação da versatilidade do uso do sal no cultivo de peixes. "Conheci tal prática em um empreendimento de tanques- rede no reservatório de Xingó, em Alagoas, e na ocasião, olhando aquele mundo de água no reservatório, pensei: “de que maneira um saco com alguns quilos de sal poderia prover uma significativa melhora na condição e sobrevivência dos peixes?" 24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Cianobactérias + Civilização = Problemas Por: Ricardo Y. Tsukamoto, Ph.D Bioconsult - Puriaqua, e-mail: ricardo@bioconsult.com.br Neuza S. Takahashi, Ph.D Instituto de Pesca, APTA-SAA, e-mail: neuza@pesca.sp.gov.br Envenenamento dos mananciais de água no Brasil Recentemente, a revista VEJA publicou o artigo “O Avanço das Algas Tóxicas” (03/10/2007, edição no. 2028), que aborda o desastre na China, em que cidades de até 2 milhões de habitantes estão ficando sem água potável, pois seus mananciais foram contaminados por toxinas da floração de cianobactérias. Ironicamente, o mesmo proble- ma ocorre em nível dramático no Brasil há mais de uma década, mas não foi sequer citado naquele artigo. A quase totalidade das espécies de seres vivos do pla- neta, incluindo os humanos, deve a sua existência às cianobactérias. Mesmo na era atual, as cianobactérias mantêm uma atuação indispensável para o bem estar dos ecossistemas, conforme discutido na primeira parte deste artigo. Entretanto, a civilização humana, em sua rápidaexpansão no último século, vem lançando uma grande quantidade de nutrientes no ambiente aquático (eutrofização). Isto estimula a proliferação excessiva (floração) das cianobactérias, causando impactos negativos sobre a natureza e a civilização. Assim, o surgimento de um efeito duplo das cianobactérias – benéfico e deletério – é a confirmação de que “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose” - preceito criado há 5 séculos por Paracelsus, precursor da ciência da Toxicologia. As “doses” de eutrofização e a conseqüente floração de cianobactérias vêm aumen- tando rapidamente no mundo, e avançam agora pelo estágio de veneno ambiental. A conseqüência direta das florações de cianobactérias tóxicas é o envenenamento de animais e do ser humano pela ingestão de água e potencialmente de pescado (da pesca extrativista e da aqüicultura), com sérias implicações na saúde humana e na economia das atividades ligadas à água. Parte 2 - Problemas e tragédias causados por cianobactérias para a Saúde, a Aqüicultura e a Natureza Figura 1 - Aspecto típico de floração de cianobactéria, com a formação de uma nata ou escuma de cor verde intensa (“cor de ervilha”) sobre a superfície da água. A escuma tende a se acumular nos cantos do viveiro pela ação do vento. 25Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 Cianobactérias Cianobactérias + Civilização = Problemas O lançamento do esgoto das cidades em rios e lagos é o responsável pela maior parte das florações de cianobactérias e de algas. A falta de tratamento ou o tratamento inadequado do esgoto no Brasil carreia os nutrientes fósforo e nitrogênio para os corpos d´água usados como manancial, induzindo a floração (revisão em European Comission, 2002). Algumas das capitais dos estados “mais desenvolvidos” do país são exemplos disto. Porto Alegre, com 1,5 milhão de habitantes, capta água do Rio Guaíba, onde a floração da cianobactéria Planktothrix é conhecida desde a década de 70, mas sérios problemas de chei- ro e odor na água tratada surgiram nos últimos 5 anos; aquele gênero pode produzir toxinas, de modo que há risco potencial de toxicidade, além do cheiro repugnante. Em Brasília, DF, o gigantesco Lago Paranoá, um dos principais mananciais a abastecer 2 milhões de habitantes, é dominado pela cianobactéria tóxica Cylindrospermopsis. Em São Paulo, 3 milhões de habitantes são abastecidos com água das Represas Billings e Guarapiranga, cercadas por mais de 500 loteamentos e ocupações irregulares, cujo esgoto induz a floração de cianobactérias tóxicas, produtoras da temida toxina microcistina (Lorenzi, 2004). No Rio de Janeiro, a água que abastece 12 milhões de habitantes provém do Rio Paraíba do Sul, após receber o esgoto das cidades ao longo do Vale do Paraíba - região que concentra 11 % do PIB do país, provocando uma floração de cianobactérias tóxicas na área de captação (Barbosa, 2007). Em Minas Gerais, o esgoto de Belo Horizonte e outras cidades, descartado sem qualquer tratamento que elimine o alto teor de fósforo, está provocando intensas florações de cia- nobactérias no momento da publicação deste artigo. O estado de alerta foi decretado em 57 cidades, devido à contaminação simultânea dos principais rios de MG - Rio das Velhas, Rio São Francisco e Rio Doce. A população abastecida com a água destes rios já relata os sintomas típicos de intoxicação por cianobactérias (fonte: www.manuelzão.ufmg.br). O fato destas florações atingirem até rios com grande volume de água em movimento indica que a eutrofização atingiu ali um patamar de extrema gravidade. Características biológicas que diminuem a contaminação Tragédias ainda não ocorreram naquelas grandes cidades graças a uma conjunção de três condições favoráveis. A primeira é a existência de monitoramento. A segunda é que a cianobactéria acumula a toxina dentro de sua célula (toxina intracelular), como forma de defesa contra competidores e predadores, sem liberar a toxina enquanto está viva; apenas após a morte da cianobactéria, a toxina é liberada para o ambiente durante a decomposição da célula. A terceira condição é que as cianobactérias tóxicas mais frequentemente envolvidas em florações (Microcystis, Anabaena, Cylindrospermopsis e outras) se acumulam sobre a superfície da água, formando uma “nata” ou escuma verde flutuante (Fig. 1). Com isso, enquanto as cianobactérias estiverem vivas e flutuantes, é ainda possível (sob risco) captar água para a cidade numa pro- fundidade abaixo da escuma, que contém menor concentração de cianobactérias e toxinas. Porém, se (a) ocorrer mortalidade de cianobactérias naquele manancial (devido à mudança do tempo, die-off, tratamento com algicidas, e outros eventos), ou se (b) as cianobactérias forem aspiradas pela captação da água e morrerem durante o tratamento, a água tratada conterá as toxinas em níveis perigosos. O tratamento convencional de água das cidades (coagulação + filtração + desinfecção) remove apenas parcialmente as toxinas de cianobactérias após estarem dissolvidas na água; revisões sobre o assunto estão dispo- níveis em Haider et al. (2003) e em um manual publicado pelo Ministério da Saúde (FUNASA, 2003). Risco maior de contaminação no Nordeste A Região Nordeste do Brasil infelizmente apresenta condições mais propensas para a contaminação da popula- ção por toxinas de cianobactérias. O clima sempre quente, os mananciais constituídos por açudes e pequenos corpos d´água sem renovação de água, o manancial com baixo nível de água na seca (que facilita a aspiração da escuma de cianobactérias), a água com pH básico, a falta de sane- amento (coleta e tratamento de esgoto), níveis de pobreza e educação problemáticos, e a falta de controle da saúde pelo poder público, são fatores que, associados, já produziram tragédias. Assim, em 1988 na Bahia, 2.000 pessoas tiveram gastroenterite após consumir a água proveniente do reser- vatório de Itaparica, afetado por floração das cianobactérias Microcystis e Anabaena, o que ocasionou a morte de 88 pessoas, a maioria crianças (Teixeira et al., 1993). Em Caruaru, Pernambuco, 123 pacientes em trata- mento de hemodiálise foram intoxicados em 1996 através da água do Açude Tabocas, retirada do estágio interme- diário da estação de tratamento da cidade e clorada num "O lançamento do esgoto em rios e lagos é o responsável pela maior parte das florações de cianobactérias e de algas. A falta de tratamento ou o tratamento inadequado do esgoto no Brasil carreia os nutrientes fósforo e nitrogênio para os corpos d´água usados como manancial, induzindo a floração. Algumas das capitais dos estados “mais desenvolvidos” do país são exemplos disto" 26 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 27Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2007 caminhão-pipa, o que provocou a liberação da toxina contida nas cianobactérias; 76 pacientes morreram no prazo de 20 me- ses (Carmichael et al., 2001). Este caso em Caruaru tornou-se um marco na literatura médica mundial, após ser estudado em detalhes aqui e no exterior, sendo considerado como o primeiro caso comprovado no mundo de morte de pessoas por toxina de cianobactéria, com a toxina identificada tanto no meio externo como no fígado dos pacientes. No Rio Grande do Norte, o extenso Açude Açu, utilizado como manancial de água para a cidade, contém 3 tipos distintos de toxinas de cianobactérias, com a ocorrência de elevadas concentrações na água do reservatório (Costa et al., 2006); tal situação foi também observada pelos pesquisadores em outros açudes que abastecem cidades daquele Estado. O pescado está sujeito à mesma contaminação Abordamos os exemplos acima de contaminação do manancial de água das cidades por cianobactérias tóxicas, pois além de constituir um grave problema de saúde pública, tem reflexo direto sobre o pescado obtido de águas sob tais con- dições. O pescado que ingeriu cianobactérias pode conter as toxinas delas
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