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1Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 2 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 3Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor N ão sei se tem a ver com o fato do meu avô materno ter sido pescador, e ter tido outros pescadores na família, mas sempre achei que era furado aquele papo de que nunca fal-tariam peixes no mar e nos rios. Na minha lógica de adolescente já sabia, de alguma forma, que aquela equação ambiental não ia acabar bem. E não deu outra. Ainda no início da minha vida universitária, quando esse assunto me chamava cada vez mais a atenção, tive a oportunidade de presenciar as tentativas frustradas dos pesquisadores do PDP (Programa de Desenvolvimento Pes- queiro da SUDEPE/FAO), para estabelecerem os acordos para os primeiros defesos da sardinha e do camarão. Era de dar raiva a miopia do setor pesqueiro! Naquela época o único acordo que era possível com os armadores se restringia a uma parada da frota no final de ano, entre o Natal e o Ano Novo, uma espécie de defeso de meia tigela, regado a vinho, castanhas e bacalhau portugueses. Por essas e outras é que ficava cada vez mais claro pra mim que o cultivo era o caminho. A única coisa chata era ter que explicar aos familiares e amigos o significado da palavra aquicultura, fato que tive que me acostumar, já que ainda faço isso até hoje. Ainda universitário, na década de 70, quase toda a literatura sobre cultivos vinha de fora, o que me motivou a aproveitar umas férias de final de ano, para fazer um estágio num laboratório que era a referência no cultivo de camarões, localizado na beira do Golfo do México, na cidade de Galves- ton, no Texas. Lá trabalhava o Cornelius “Corny” Mock, “o cara”, responsável, na época, pelos mais importantes artigos sobre desenvolvimento ovariano, desova e larvicultura do Penaeus aztecus, e sua parceira nas pesquisas, a Dra. Zoula Zein-Eldin, uma simpática senhora, que sabia tudo, ou quase tudo, da fisiologia desses bichos. O céu era lá: pesquisa, recursos, visão do futuro... Aqui no Brasil, não se tinha muitas pesquisas sobre o cultivo aquático. Nessa época, quando a maturação do camarão em laboratório só existia quando a gente resolvia brincar de ficção científica, a Companhia de Cigarros Souza Cruz investiu numa instalação experimental para produção de pós- larvas, pequena e eficiente, e ainda na compra de um barco de pesca (o cigarro era muito lucrativo naquela época), somente para capturar as fêmeas ovadas para rodar o laboratório. Muitas pós-larvas foram produzidas naqueles dias, sem que existissem estruturas de engorda, ração, e tantas outras coisas indispensáveis para o cotidiano de um cultivo. A Souza Cruz, é claro, cansou de brincar e saiu do negócio. Bem, essa história toda é pra dizer que há 35 anos, quando os estoques silvestres davam sinais de que estavam declinando, fui testemunha de que era praticamente impossível falar em preservação com o setor pesqueiro. Uma época onde os argumentos técnicos entravam por um ouvido e saiam pelo outro, e não sei até que ponto isso mudou hoje em dia. Não me cabe aqui comentar o que aconteceu com a pesca de lá pra cá. Mas com relação à aquicultura, muita coisa foi feita, e posso dizer que tive o enorme prazer de acompanhar bem de pertinho essa espetacular transformação. Entre esses praze- res, o de ter acompanhado a trajetória da Aquatec, uma empresa que dá orgulho a todos que estão envolvidos com a aquicultura brasileira, por tudo que construiu, pelo altíssimo padrão de qualidade com que sempre fez questão de impor às suas pós-larvas, pelos investimentos que nunca deixou de fazer para que isso acontecesse, tudo isso sob a batuta precisa da Ana Carolina Guerrelhas, a quem, de público quero parabenizar pelos 20 anos à frente desse belo empreendimento. À Ana, Werner e Maria Claudia, o meu grande abraço. A todos uma boa leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 ACQUA SUPRE ALFAKIT LTDA AQUACULTURA PL BRASIL AQUATEC IND. PECUÁRIA BAYER HEALTHCARE BERNAUER AQUACULTURA BRUSINOX IND. E COM. DE MÁQUINAS IND. DE RAÇÕES DO BRASIL/ PURINA DANÚBIO AQUACULTURA LTDA ESCAMA FORTE PISCICULTURA ENGEPESCA REDES PARA AQÜICULTURA FAZENDA PACIÊNCIA FENACAM 2009 FERRAZ MÁQUINAS INVE DO BRASIL MALTA CLEYTON DO BRASIL MEGABOMBAS MOANA AQUACULTURA NUTRON ALIMENTOS/ PROÁQUA PELETIZADORAS CHAVANTES PISCICULTURA AQUABEL PISCICULTURA ARACANGUÁ POLI-NUTRI ALIMENTOS PROVET DIAGNÓSTICOS RAÇÕES FRI-RIBE RAÇÕES GUABI SCHERING-PLOUGH SAÚDE ANIMAL SEAP SOCIL EVIALIS NUTRIÇÃO ANIMAL STYMMULAB/ PHOSLOCK TANQUES-REDE IAREMA TELAS RHV TEXTIL SAUTER TREVISAN EQUIP. AGROINDUSTRIAIS VENDA DE PISCICULTURA Anunciantes da edição 112 5Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 ...Pág 51 ...Pág 34 ...Pág 36 ...Pág 26 ...Pág 30 ...Pág 46 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 15 ...Pág 24 ...Pág 33 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Gomes Leal, Daniel Lemos, Felipe de Azevedo Silva Ribeiro, Fernando Kubitza, Henrique César Pereira Figueiredo, Jaime Ribeiro Carvalho Júnior, João Batista Kochenborger Fernandes, Lamartine da Nóbrega Netto, Luiza Nakayama, Rodrigo Carvalho Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 112 - março/abril - 2009 Boas práticas no manejo sanitário - página 15... Cadeia produtiva do peixe ornamental - página 36... ...Pág 53 ...Pág 55 ...Pág 57 ...Pág 58 ...Pág 61 ...Pág 61 Os números da aquicultura Apesar de ainda serem difíceis de serem dimensionados estatisticamente, os números da produção da aquicultura no Brasil e no mundo, sempre causam impacto. O objetivo do artigo escrito pelo doutorando do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo – USP, Rodrigo Carvalho, é apresentar alguns desses números atuais, combinados, em certos casos, com estimativas. Ao ler a matéria de capa dessa edição, publicada a página 46, o leitor da revista Panorama da AQÜICULTURA vai se informar através de gráficos, sobre a situação geral da produção mundial e nacional de pescado oriundo da aquicultura. Através desses dados é possível fazer uma avaliação sobre até que ponto o Brasil está alinhado com as tendências do desenvolvimento da aquicultura mundial. Editorial Notícias & Negócios Manejo na produção de peixes – Parte 5: Boas práticas no manejo sanitário Combatendo o off-flavor na tilápia Sanidade Aquícola: Streptococcus iniae – um grande vilão Entrevista como Departamento Técnico da Poli-Nutri A melhoria da sanidade de peixes nos sistemas aquícolas brasileiros Aquatec comemora 20 anos Cadeia produtiva do peixe ornamental Aquicultura e consumo de carnes no Brasil e no Mundo Guabi comemora 35 anos e lança produto anti-stress para camarões Inaugurado Curso de Aquicultura da UFMG Seminário no BNDES reúne investidores no Rio de Janeiro Lançamentos Editoriais Programa de Certificação da Qualidade das Ostras concede o primeiro Selo V FIAM - Feira Internacional da Amazônia acontecerá em novembro ExpoLondrina 2009: seminário reune cerca de 300 participantes Evialis marca presença na Fenacam 2009 Calendário Aquícola ...Pág 63 ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 3.960/08), o resultado das discussões foi bastante positivo após o compartilhamen- to das competências do novo órgão ter sido negociado dentro do governo. A idéia é que a pasta do Meio Ambiente cuide da pesca amadora e o novo ministério trate da pesca comercial. O texto mantém o dispositivo que obriga o Ministério da Pesca e da Aquicultura a repassar para o Ibama metade da receita obtida com a arrecadação de taxas, por acre- ditar que sem receita não dá para desenvol- ver com mais eficiência o trabalho que já vem sendo executado pelo órgão. O ministro Altemir Gregolin fez uma visita ao presiden- te do Senado, José Sarney, que manifestou publicamente o seu interesse na criação do Ministério da Pesca e da Aquicultura. Sarney se mostrou disposto a apressar na Casa a vo- tação do projeto que realiza essa mudança. “O presidente Sarney me disse que tem total compromisso em dar agilidade à votação des- se projeto. A transformação dessa secretaria em ministério é da maior importância. O Bra- sil, que hoje produz 1 milhão de toneladas de pescados, terá a possibilidade de produzir 20 milhões de toneladas”, disse Gregolin ao sair do encontro, explicando que a estrutura de um ministério dará mais autonomia admi- nistrativa, financeira e jurídica ao organismo que dirige, tirando o setor de uma situação pouco estável. Há uma grande expectativa dentro da SEAP para que o Projeto de Lei que cria o Ministério da Pesca e da Aquicultura seja aprovado no Senado ainda em junho, para que o presidente Lula possa anunciá-lo oficialmente no dia 29 de junho, dia de São Pedro, padroeiro dos pescadores, mesma data em que Lula assinou no ano passado a Medi- da Provisória que criou o Ministério, e que foi posteriormente revogada. RESOLUÇÃO CONAMA – Nos dias 27 e 28 de maio será, finalmente, aprovada a redação final da Resolução que tratará o licenciamen- to ambiental da aquicultura. No processo, segundo o regimento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), já não cabe mais nenhum recurso ou adiamento, daí a certeza de que as propostas serão votadas neste final de maio. A votação já constava da pauta da reunião de março, mas foi suspensa em função de pedidos de vista pelo conse- lheiro da ONG Fundação Ondazul. Um acordo no plenário definiu mais uma rodada de de- bate, tendo sido criado um Grupo Assessor, WAS 2009 AGORA EM SETEMBRO – A ver- são deste ano do maior evento da aquicul- tura mundial, WAS 2009, já tem uma nova data, após ter sido desmarcado por conta do surto da gripe suína. Segundo o diretor executivo da WAS, John Cooksey, tudo está pronto para 25 a 29 de setembro de 2009, na mesma cidade de Veracruz, no México. Apesar dos transtornos, Cooksey recebeu o apoio de todos os envolvidos, e manteve a mesma pro- gramação prevista anteriormente para maio. Em nota divulgada no site da entidade www. was.org, Cooksey agradeceu a paciência e a compreensão de todos, e se colocou a dis- posição para qualquer esclarecimento que se fizer necessário. MINISTÉRIO À VISTA – Depois de uma longa negociação entre o governo e a oposição, e até mesmo entre diferentes correntes ligadas ao setor aquícola, o ministro Altemir Gregolin espera que a criação do Ministério da Pesca e da Aquicultura, que substituirá a SEAP, seja aprovada pelo Congresso Nacional, ainda neste semestre “Conseguimos um acordo na Câmara com todos os partidos e lá o projeto teve aprovação unânime na comissão espe- cial”, disse o ministro. Segundo o Deputado federal José Airton Cirilo (PT-CE), relator do projeto de criação do Ministério da Pesca (PL Notícias & Negócios Notícias & Negócios cujo objetivo foi o de buscar um consenso. As divergências referem-se ao processo de li- cenciamento de baixo impacto e à liberação de instalação de empreendimentos em áreas de preservação permanente. A proposta que pretende regulamentar a aquicultura no Brasil vem sendo construída há cerca de seis anos, e foi apresentada ao plenário do CONAMA pelo conselheiro representante SEAP. Entre seus objetivos está a simplificação e a padroniza- ção do licenciamento para a piscicultura em todo o País. O presidente do CONAMA, minis- tro do Meio Ambiente, Carlos Minc, chegou a declarar que a regulamentação do licencia- mento do setor coloca de um mesmo lado, a produção pesqueira e o Meio Ambiente. “A simplificação do licenciamento vai evitar a ameaça às espécies e contribuir para a queda no preço do pescado”, disse Minc aos conse- lheiros na apresentação da pauta. Nesta reta final, porém, a expectativa é muito grande com relação a redação final da Resolução, já que não houve um acordo no Grupo Assessor. Existem duas versões que serão votadas, a primeira é da ONG Ondazul (que pode ser bai- xada no endereço http://www.mma.gov.br/ port/conama/reuniao/dir1187/ParecerOndA- zul_PropResolAquicultura.pdf) e a segunda é uma proposta conjunta do MMA, Governos do Rio Grande do Sul e Amazonas e SEAP, (que também pode ser baixada no endereço 7Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios http://www.mma.gov.br/port/conama/ reuniao/dir1187/PropResolAquic-Pedido- VistasMMA-Reuniao14abr09.pdf). Entidades ligadas ao setor produtivo estão convocando produtores e demais envolvidos com a cadeia produtiva do pescado cultivado, para que se mobilizem e enviem representantes a Brasília nos dias 27 e 28 de maio, para demonstrar apoio para que a melhor redação de Resolu- ção seja aprovada. OSTRAS TRIPLÓIDES – A Blue Water Aqua- cultura Ltda., com sede em Florianópolis - SC, acaba de realizar sua primeira desova para a produção de sementes de ostras triplóides (3n) de Crassostrea gigas. Segundo Carlos Rogério Poli, diretor da empresa, este é um acontecimento importante e pionei- ro no estado, e con- sequentemente no Brasil, “por serem se- mentes triplóides e também pelo fato de ser uma iniciativa particular, que vem preencher uma lacuna em nosso país, onde tudo é feito apenas nas Universidades, sem que tenham empresas interessadas em apostar nesta área de produção”. Ainda segundo Poli, este ex- perimento serviu como calibrador do sistema montado e demonstrou ser bastante promis- sor. Os reprodutores foram maturados por indução no próprio laboratório e apresenta- ram boa quantidade de óvulos e esperma, e a fecundação ocorreu normalmente, em 80% dos casos. As larvas veliger, por sua vez, fo- ram poucas e a ausência do flowcitometro, um instrumento que mede quantas são tri- plóides, através do tamanho do núcleo das células (núcleos maiores são 3n), não pos- sibilitou definir a quantidade de larvas 3n. Este equipamento, entretanto, está sendo esperado no laboratório ainda em maio. A Blue Water já prepara novos reprodutores, induzindo a maturação e terá, com isso, da- dos para a correção dos pontos de desequilí- brio do sistema. A empresa pretende, ainda este ano, produzir de 5 a 10 milhões de se- mentes até atingir, gradativamente, os 30 milhões que otimizará o sistema montado. O laboratório da empresa tem o suporte do SEBRAE/FINEPE, FAPESC e da UFSC (MIP). PROVET – O Centro de Diagnósticos Provet em parceria com a Acquapiscis, inaugurou o primeiro laboratório particular para peixes do Estado de São Paulo. O novo laboratóriovisa diagnosticar problemas nos animais e na água em que estão e, a partir disso, fazer tratamento dos peixes e de seu ambiente. O serviço do laboratório é disponibilizado para criadores de peixes para abate, para aquaris- tas e criadores de peixes ornamentais. Para o atendimento, o criador pode ir até uma das unidades do Provet e contar seu problema, para que através do histórico do peixe seja possível detectar a doença, ou levar o próprio animal até o centro de diagnóstico. “Grande parte dos problemas que encontramos são gerados pela falta de tratamento adequado da água. Como os peixes são animais peci- lotérmicos, quando ocorre queda brusca da temperatura da água, seu sistema de defesas fica frágil e com a resistência baixa podem ser afetados por doenças”, explica Roberto Ishikawa, coordenador do laboratório. Além do atendimento ao público, um dos focos do laboratório de peixes é auxiliar e orien- tar os órgãos públicos no desenvolvimento do conhecimento a respeito das doenças que afligem os peixes. Segundo Ishikawa, “atual- mente, neste campo, existem poucos veteri- nários qualificados para realizar as vistorias. Os biólogos, técnicos e engenheiros de pesca que atuam no setor não podem realizar tra- tamentos, pois não possuem conhecimento de farmacologia”, acrescentando que “para evitar doenças nos cultivos o criador deve fa- zer um exame preventivo antes de introduzir qualquer peixe recém-comprado no tanque, pois há perigo de surtos de doenças, que po- dem levar a um grande prejuízo econômico”. O Instituto Brasileiro de Diagnósticos e Espe- cialidades Veterinárias foi fundado em 1987. Criado com o propósito de oferecer diversos serviços diferenciados, num mesmo espaço físico, voltado para o diagnóstico e algu- mas especialidades clínicas, destacando-se pelo atendimento, exclusivamente por soli- citação de um clínico responsável. Hoje, o Instituto conta com três unidades de aten- dimento. O médico veterinário Edgar Luiz Sommer, diretor deste Instituto, também preside a Associação Brasileira de Radiolo- gia Veterináia e o Congresso da Internatio- nal Veterinary Association Radiology. GLOBALGAP – Os padrões GLOBALGAP para camarões marinhos já estão disponíveis em português. O GLOBALGAP é um dos maiores criadores de padrões voluntários para certifi- cação da Europa e seus membros formam uma ramificação que engloba os maiores varejistas europeus. O objetivo é estabelecer um padrão 8 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Notícias & Negócios mundial para Boas Práticas de Aquicultura aplicado a diferentes espécies em escala glo- bal, a exemplo do que vem sendo feito para a agricultura. Este padrão foi elaborado com a participação de produtores de camarão da Ásia e das Américas, entre eles o Brasil, e foi um dos primeiros padrões do GLOBALGAP a contar a participação de ONG’s como a World Conservation Union, IUCN NL, e OxfamNOVIB. O padrão contempla aspectos ambientais, so- ciais e de segurança do trabalho, bem estar animal, além de controles com a qualidade da água, efluentes, manguezais, ração e produ- tos químicos para larviculturas e fazendas de camarão marinho. As discussões sobre o pa- drão no Brasil contaram com o apoio da ABCC e a tradução contou com a colaboração de Rodrigo Carvalho, Fanny Yasumaru e Luciana Xavier. Além dos padrões estabelecidos para o camarão (em português), a GLOBALGAP tam- bém já elaborou (ainda em inglês) os padrões para a tilápia, pangassius e salmonídeos, e todos estão disponíveis para download no link http://www.globalgap.org/cms/front_ content.php?idart=34 CANAVIEIRAS – A Secretaria da Agricultu- ra, por meio da Agência de Defesa Agrope- cuária da Bahia (Adab), em conjunto com o Ministério da Agricultura (Mapa) e Bahia Pesca, liberou os produtores de camarão da região de Canavieiras, localizada a 600 km ao sul de Salvador, para repovoarem seus vi- veiros. Os órgãos concluíram que o vírus da Mancha Branca e da Necrose Hipodérmica Hepatopoética Infecciosa (NHHI), doenças que acometem esse tipo de crustáceo, já es- tão sob controle. Em agosto do ano passado, após o surgimento da doença na região, to- das as fazendas de criação de camarões foram interditadas pela agência. A Adab, seguindo orientação do Mapa e normas internacionais, realizou coleta de material para exames, con- trole do trânsito e orientou o processamento da produção do camarão para comercializa- ção, além de realizar atividades de educação sanitária e reuniões periódicas com os pro- dutores para esclarecimento da situação. An- tes do surgimento das doenças, o município produzia aproximadamente 2.500 toneladas de camarão/ano, gerando em torno de 250 empregos diretos e 310 indiretos. PRODUÇÃO DE PEIXES NATIVOS - No perío- do de 25 a 28 de agosto de 2009, Cuiabá – MT, será sede do II Congresso de Produção de Pei- xe Nativo de Água Doce e do I Encontro Mato- Grossense de Aquicultura, uma promoção da SEAP, da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática (Aquabio), EMBRAPA e Mi- nistério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- mento (MAPA), com realização do Governo do Estado de Mato Grosso e AQUAMAT. O evento tem previsão de 800 participantes. O Esta- do de Mato Grosso é hoje o maior produtor de peixes nativos do Brasil, principalmente o híbrido tambacu. Segundo o Presidente da Aquabio, João Donato Scorvo Filho, o prazo para envio de resumos vai até 10 de julho de 2009, e as normas para a elaboração do resu- mo, bem como a programação do Congresso, estão disponíveis no site da Aquabio (www. aquabio.com.br). O II Congresso de Produ- ção de Peixe Nativo de Água Doce tem como principais objetivos reunir, discutir e divul- gar informações e novas tecnologias sobre os aspectos inerentes à piscicultura, atualizar conhecimentos, promover debates sobre pro- blemas e dificuldades técnicas, econômicas e políticas da piscicultura nas diferentes regi- ões produtoras do país. Além disso, pretende levantar demandas para a pesquisa científica, divulgar as pesquisas realizadas no cultivo de espécies de peixes nativos de água doce, dando maior visibilidade a este setor da pisci- cultura e, promover a interação entre pesqui- sadores e produtores dos estados brasileiros. Inscrições e outras informações poderão ser obtidas com a Indústria d’Eventos, empresa responsável pelo apoio ao Congresso, através do endereço eletrônico atendimento@indus- triadeeventos.com.br aos cuidados de Danie- la ou Bárbara, ou tel. (65) 3621-1315. ALGAS TÓXICAS – O Phoslock® é um pro- duto natural, desenvolvido na Austrália, para melhorar a qualidade da água e controlar algas tóxicas em tanques de aquicultura e ambientes aquáticos, em geral. O produto já está disponível no mercado brasileiro, segun- do Tiago Finkler Ferreira, da Stymmulab S.A., empresa gaúcha que representa com exclu- sividade o produto e o aplica em ambientes aquáticos eutrofizados (ricos em fosfatos). Ferreira explica que “Phoslock® reduz mais de 95% do orto-fosfato disponível na água em poucas horas, alcançando uma remoção de até 99%". Como o orto-fosfato é o principal alimento de algas tóxicas (cianobactérias), uma vez que este nutriente é adsorvido pelo produto, ele não estará mais disponível para a assimilação e crescimento destes organis- 9Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios mos indesejáveis. Após aplicação, ocorre também um efeito de tamponamento do influxo de orto-fosfato do sedimento, evi- tando que a água se torne novamente eu- trofizada por influência do estoque de fós- foro e mineralização do acúmulo de ração proveniente do fundo. Portanto, a redução de fosfatos nos tanques de aquicultura tem impacto direto na proliferação das algas tóxicas, diz Ferreira. As toxinas produzidas por estas algas, além de afetar a saúde dos organismos cultivados, podendo levar à morte, se acumulam no organismo gerando problemas de sabor e odor alterados. Além disso, a redução de fosfatos possibilitao aumento da proporção N:P na água. O efei- to disso é uma redução significativa das cianobactérias e o aumento da densidade de algas benignas, que servem de alimento para o zooplâncton. As algas benignas e o zooplâncton são um alimento natural para os organismos cultivados. Assim, ao contro- lar o fósforo, as cianobactérias são elimina- das e consequentemente o risco de toxinas. Isto permite que o equilíbrio ecológico seja restabelecido nos tanques, melhorando a qualidade da água, evitando doenças e into- xicação dos organismos cutivados, garante Ferreira. Mais sobre a Stymmulab S.A. e o produto, no site: www.phoslock.com.br HORMÔNIOS - Diante da constatação de que tanto o hormônio 17 alpha-metil testoste- rona, utilizado por produtores para reversão sexual de tilápia, como a hipófise, utilizada para indução de desovas em diversas espé- cies, não possuem registro no setor compe- tente do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), caracterizando uma situação de irre- gularidade, e também por conta de atuações feitas por fiscais do MAPA, principalmente no Estado de Minas Gerais, a Diretoria de Desen- volvimento da Aquicultura da SEAP (DIDAQ) elaborou uma nota aos produtores de alevi- nos no sentido de orientá-los. A nota tem por base uma solução provisória elaborada em conjunto por representantes de diversas instituições, incluindo o MAPA. Os produtores devem legalizar o estoque atual e as futu- ras importações dos hormônios, mediante o preenchimento de um formulário apropriado, que deverá ser entregue ao Serviço de Fis- calização Agropecuária do MAPA no Estado, para análise e posteriormente autoriza- ção. O teor completo da nota elaborada pelo DIDAQ/SEAP pode ser acessado no site http://www.presidencia.gov.br/estru- tura_presidencia/seap/publicacoes/int_ aos_produtores_de_alevinos_do_Brasil, no mesmo endereço os produtores encontrarão as orientações para baixar os formulários e outros documentos pertinentes. INFOPESCA INVESTIRÁ R$ 3 MILHÕES - O Banco Mundial (BIRD), através do Infopesca, investirá R$ 3 milhões num projeto que irá le- vantar o potencial de mercado para os peixes da Amazônia. Os recursos serão investidos em pesquisas de mercado, capacitação de pesca- dores, empresários e organizações do setor, como cooperativas, entidades sindicais, entre outras. Haverá, também, investimentos em infraestrutura, como fábricas de gelo, para apoiar as ações a serem desenvolvidas. O pro- jeto, que irá beneficiar o Brasil, a Colômbia e o Peru, começará a ser desenvolvido a partir de julho. A sua execução estará sob respon- sabilidade da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), SEAP, Infopesca, Instituto de Pesquisa da Amazô- nia e organizações de pescadores e aquicul- tores. O Infopesca é um centro para os servi- ços de informação e assessoramento sobre a comercialização dos produtos pesqueiros na América Latina e Caribe. Tem como principal objetivo a prestação de serviços a empresas, associações setoriais e a governos em todos os aspectos do desenvolvimento da pesca e aquicultura. O Infopesca tem 11 países mem- bros: Argentina, Belize, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Honduras, México, Nicarágua, Re- pública Dominicana, Uruguai e Venezuela. A organização trata de diversos projetos de pro- dução, industrialização e comercialização. Ele produz e disponibiliza no sítio www.infopes- ca.org um boletim com informações e diag- nósticos da situação do comércio pesqueiro em vários continentes servindo de base para a abertura de novos mercados para os produ- tos da pesca e da aquicultura brasileira. IAREMA, 25 ANOS DE PISCICULTURA - Um certificado de Curso de Piscicultura, emitido pela Emater-PR, em 1984, e o nascimento do filho Demétrio, no dia em que escavava al- guns tanques, marcaram de forma indelével o início das atividades do Eng. Agrônomo Cé- sar Iarema no setor. Na sua trajetória, César trabalhou com viveiros escavados até o ano 2000, quando desenvolveu, com tecnologia própria, o primeiro tanque-rede em alumínio do Brasil. Seu diferencial foi a fabricação de estruturas, tampas e suportes para bóias mol- dados, que hoje, segundo César, são copiados 10 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios pelas maiores e mais tradicionais empresas do setor. “Enquanto grandes e tradicionais empresas passaram a cortar e juntar seg- mentos do metal, a Iarema usou a técnica da moldagem. Isso foi possível porque começou usando o formato cilíndrico, com única emen- da, e passou a fazer um quadrado com cantos arredondados”, diz César Iarema. Para testar o equipamento e desenvolver tecnologia de produção, a empresa montou uma piscicultu- ra experimental em parcerias, com duzentas unidades. Atualmente o empresário tenta a obtenção de patente no INPI, requerida em 2004. Mais detalhes e vídeos sobre os pro- dutos Iarema podem ser obtidos no endereço www.iarema.com.br INSTITUTO DE PESCA COMEMORA 40 ANOS – O Instituto de Pesca, ligado à Agên- cia Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, comemorou seu aniversário de 40 anos no dia 8 de abril, com uma solenidade no Museu de Pesca, em Santos. O even- to contou com uma breve apresenta- ção de seu histó- rico, homenagens a entidades ligadas ao setor, demonstração dos trabalhos executados, degustação de produtos, dentre outras atividades. Parale- lamente às atividades de investigação cien- tífica, coleta e processamento de dados de produção e esforço de pesca, o Instituto de Pesca transfere tecnologia na área de culti- vo de bivalves marinhos (ostra e mexilhão) para comunidades de pescadores artesanais, analisa a qualidade física, química e biológica da água para cultivo e consolida processos inovadores de processamento e qualidade de produtos pesqueiros. “O Pesca”, como é ca- rinhosamente chamado, também emite lau- dos e pareceres sobre qualidade, diagnostica, cuida e orienta sobre a profilaxia de doenças em peixes, presta assessoria técnica a cria- dores de organismos aquáticos, pescadores, associações e empresários, assessora órgãos dos poderes legislativos, executivos e órgãos governamentais nas políticas para o setor. Como parte das comemorações dos 40 anos, será realizada ainda, de 11 a 15 de agosto, no Auditório Paulinho Nogueira, do Parque da Água Branca (Av. Francisco Matarazzo, 455 - Água Branca - São Paulo, SP), a 9ª Reunião Científica do Instituto de Pesca, um evento voltado para pesquisadores e estudantes das áreas de pesca e aquicultura, que terá como destaque as apresentações orais e os painéis dos bolsistas de graduação e pós-graduação dessas áreas. Mais informações através do e- mail: mase@pesca.sp.gov.br CONFERÊNCIA NACIONAL DE AQUICULTU- RA E PESCA – A 3ª Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca, que se realizará no Cen- tro de Convenções de Brasília entre os dias 30 de setembro a 2 de outubro, terá como tema a: “Consolidação de uma política de Estado para o desenvolvimento sustentável de Aquicultura e Pesca”. A terceira versão da Conferência Nacional está sendo precedida por 26 reuniões estaduais e uma no Distrito Federal. É muito importante a participação de todos os envolvidos na aquicultura nas Con- ferências prévias realizadas nos seus estados. Para saber sobre a data das Conferências Es- taduais consulte o calendário no endereço http://200.198.202.145/seap/3conferencia/ calendario.html. No mesmo endereço poderá também ser checado o número de delegados com direito a voto de cada estado, que varia de 25 para o Estado do Acre a 137 para o Estado do Pará. O total de delegados com di- reito a votos na 3ª Conferência Nacional será de 1760. Não custa lembrar que as demandas do setor aquícola devem ser encaminhadas às Conferências Estaduais para então serem le- vadas e legitimadas na Conferência Nacional. TECNOLOGIA 100% NACIONAL – O desen- volvimento da aquicultura brasileira levou a avanços técnico-científicosque incrementam os indicadores de produtividade. Sendo assim, a água como principal insumo da atividade, é um aspecto muito importante a ser con- siderado. Com o objetivo de facilitar a vida dos piscicultores e carcinicultores, a Alfakit, empresa catarinense sediada em Florianópo- lis tomou a iniciativa de montar o primeiro kit brasileiro para análise de água utilizada em aquicultura, conhecido e comercializado como Kit Produtor. A Alfakit atua no mercado desde 1989, atendendo, além da aquicultura, diversos outros segmentos, tais como sane- amento, educação ambiental, entre outros, fabricando kits específicos e equipamentos com tecnologia 100% nacional. Os kits téc- nicos, colorimétricos, Polikit´s e o Ecokit´s são exemplos de alguns dos seus produtos. Os Ecokit’s foram desenvolvidos especialmen- te para educação ambiental, sendo utilizados em projetos de monitoramento ambiental de todo país. A empresa desenvolve também equipamentos eletrônicos, como oxímetros, pHmetros e blocos digestores e o fotocolo- rímetro multiparâmetros. Além de novos pro- dutos, o corpo técnico da empresa se dedica a aperfeiçoá-los, tal como foi feito com o oxímetro AT 150, microprocessado, digital e a prova d’água. Os produtos da Alfakit são de fácil aplicação, podendo ser utilizados pelo próprio aquicultor, que poderá analisar parâmetros como alcalinidade total, cloro residual, cloreto, dureza de cálcio e magné- sio, temperatura, etc.. Os kits acompanham reagentes específicos para cada parâmetro, permitindo que sejam analisados em poucos minutos. Para facilitar ainda mais as análises a Alfakit disponibiliza em seu site (http:// www.alfakit.com.br) uma tabela de parâme- tros dos produtos químicos onde é possível encontrar determinações colorimétricas e vo- lumétricas de cada elemento. PERDAS COM ENCHENTES – As enchentes deste ano na Região Norte e Nordeste do país novamente deixam um rastro de prejuízos severos para o setor aquícola. Entidades que representam carcinicultores e piscicultores já solicitaram ajuda ao BNB, e no fechamento desta edição, quando o índice pluviométrico já havia atingido 853 milímetros, não havia sido feito um inventário detalhado das perdas e tampouco dos postos de trabalho. SEMINÁRIO NO AMAPÁ – A Embrapa Ama- pá promove nos dias 9 e 10 de junho, no au- ditório da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), em Macapá, o Iº Seminário de Aqui- cultura do Estado do Amapá: Boas práticas de manejo para a saúde de peixes. As inscrições e a programação do evento podem ser vistas no site www.cpafap.embrapa.br/aquicultura. As palestras e os debates abordarão temas como políticas para aquicultura e pesca no Amapá, manejo em piscicultura, sistema de manejo para o tambaqui na Amazônia, alimentação e nutrição de peixes cultivados, qualidade da água para aquicultura, situação atual e 11Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios perspectivas da pesca de camarão e carcini- cultura no Amapá, que serão apresentados por especialistas locais e de outros estados, de diversas áreas que atuam na aquicultura. Mais informações pelo tel.: (96) 4009-9550 ou e-mail: aquicultura@cpafap.embrapa.br LEI 9.109/2009 – Foi sancionada no dia 13 de abril a Lei 9.109/2009, que trata de be- nefícios para a aquicultura matogrossense. O sistema tributário facilitará a comercialização do pescado cultivado, na medida que isenta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) os produtos da aquicultura comercializados dentro e fora de Mato Grosso. A medida permitirá que a produção estadual alcance grandes centros de consumo do país. Em um período de 10 anos (1995 -2004), a produção total de pescado em Mato Grosso cresceu 27,3% ao ano, saindo de 6.046 tone- ladas para 22.550 toneladas. Com a aprova- ção do projeto e os consequentes benefícios gerados, o setor estima um crescimento de 56%, elevando o Estado para o quarto maior produtor de aquícola do país. ENTREPOSTO EM DOURADOS – O município de Dourados - MS vai ser beneficiado com a implantação de um entreposto de pesca- do que vai possibilitar o beneficiamento e a comercialização de peixes com o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal). Para tan- to, a SEAP liberou recursos da ordem de R$ 997.546,00, que serão utilizados na cons- trução de um prédio de 960 m2, em área de 42.980 m2, doada à Cooperativa de Aquicul- tores do Mato Grosso do Sul (MSPEIXE) pelo Município. Segundo o presidente do Conse- lho de Administração da MSPeixe, Ademar Ferreira, o recurso é pleiteado pela entida- de desde 2007. A cooperativa congrega 38 aquicultores na região da Grande Dourados. A MSPeixe, porém, vai pleitear à SEAP mais R$ 1,5 milhão para a compra dos equipamentos necessários. Segundo Ademar, a estrutura fí- sica e os equipamentos que serão adquiridos possibilitarão o beneficiamento de cinco to- neladas de peixe/dia. A cooperativa receberá o produto tanto de cooperados quanto de não sócios e fará o abate, a evisceração e a em- balagem, possibilitando a venda do produ- to para qualquer parte do país. Atualmente os cooperados da MSPeixe produzem cerca de 1.200 toneladas de peixes/ano, que são vendidos em pesque-pagues, e uma parte é vendida para a indústria Mar e Terra, locali- zada no município de Itaporã. BIJUPIRÁ EM SÃO PAULO – O LANAM - La- boratório Nacional de Aquicultura Marinha, instalado no Boqueirão Sul, em Ilha Com- prida-SP, produziu nos dois primeiros meses desse ano, cerca de 16 mil alevinos de biju- pirá. Um projeto de expansão dos trabalhos do LANAM está sendo acertado entre a Pre- feitura local e a SEAP, visando beneficiar pe- quenos, médios e grandes produtores da área pesqueira. Para dar andamento ao projeto de ampliação do laboratório, o prefeito da Ilha 12 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Comprida, Décio Ventura, recebeu o minis- tro adjunto da SEAP, Dirceu Lopes; o co- ordenador de Maricultura da SEAP, Felipe Suplicy; o coordenador de Infra-Estrutura, Wilson Abreu e, a chefe do escritório es- tadual da SEAP, Leinad Ayer. Após analisar as condições de instalação do LANAM a comitiva da SEAP anunciou novos inves- timentos no laboratório, já que o projeto vai de encontro aos interesses da SEAP, que quer envolver as comunidades costei- ras de pescadores e outros parceiros no processo de reprodução do bijupirá. Se- gundo o prefeito, o LANAM é reconhecido como o maior e mais bem equipado labo- ratório de aquicultura marinha da América Latina, e detentor da melhor tecnologia mundial de produção de alevinos em labo- ratório. O laboratório é resultado de uma parceria entre SEAP e Prefeitura da Ilha Solteira e a sua operacionalização conta com apoio da Fundação Primeira de São Vicente (FUNDASV), também responsável pela capacitação e constituição do corpo técnico. Outro parceiro é a TWB - Fazenda Marinha, integrante do grupo TWB S/A, empresa privada que está investindo no cultivo de peixes marinhos offshore em Ilha Comprida. REDE DE IDENTIFICAÇÃO DO PESCADO – A SEAP e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) devem acertar uma par- do pescado para estatísticas da pesca; à indústria pesqueira, que irá agregar valor ao pescado ao permitir a certificação de origem para a exportação; aos importa- dores, que poderão controlar a qualidade do material importado. A SEAP dará con- trapartida de R$ 800 mil e definirá 100 espécies que deseja ter sequenciada. O programa terá duas etapas, a primeira, de pesquisa e desenvolvimento; e a segunda, de implementação. CENTRO VOCACIONAL TECNOLÓGICO – Sete mil famílias da região dos municípios de Floresta, Petrolândia, Jatobá, Belém de São Francisco e Itacuruba serão beneficia- das com a implementação do Centro Voca- cional Tecnológico (CVT) de Aquicultura. O CVT vai possibilitar a capacitação profis- sional dos pequenos produtores e jovens do ensino médio e destacar a demanda produtiva local desses municípios. A im- plementação do CVT conta com o apoioda Finep, ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que aprovou a liberação de cerca de R$ 1,3 milhão para viabilizar o Projeto, que tem prazo para conclusão em dois anos. O Cefet-Petrolina, Univer- sidade Federal Rural de Pernambuco e a Prefeitura de Itacuruba são parceiros da iniciativa. O principal responsável pelo desenvolvimento do Centro Vocacional de Tecnologia de Aquicultura será o Cefet- Notícias & Negócios Notícias & Negócios ceria para criarem uma Rede de Identifi- cação Molecular de Pescado (RENIMP). O projeto foi apresentado no dia 24 de abril pelo Professor Antônio Solé-Cava, do La- boratório de Biodiversidade Molecular da UFRJ, a diretores e técnicos da Secretaria. A RENIMP tem como meta desenvolver e implantar uma metodologia segura para a identificação molecular das principais espécies de pescado brasileiro. Dentre os seus objetivos estão: construir um ban- co de referência nacional de sequências diagnósticas de pescado; estabelecer uma rotina segura de identificação, basea- da no sequenciamento de DNA; otimizar a identificação para casos específicos de fraude conhecida; oferecer formação para técnicos do Governo no uso da metodolo- gia desenvolvida. Os métodos de identi- ficação de espécies devem: comprovar a autenticidade de amostras-padrão e a ho- mogeneidade intra-específica; permitir um teste de presença/ausência da amostra; excluir equívocos em relação a espécies próximas; basear-se em procedimentos re- produzíveis, seguros, rápidos e simples de executar e interpretar. A certificação das espécies interessa aos consumidores, que deixarão de pagar mais caro por pescados de qualidade inferior; aos conservacio- nistas, que poderão evitar que espécies ameaçadas de extinção sejam pescadas e comercializadas ilegalmente; aos biólogos pesqueiros, que validarão a identificação 13Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 senta a segunda maior atividade do Produ- to Interno Bruto (PIB) da Noruega, ficando atrás apenas da produção petrolífera. AQUICULTURA NO PROGRAMA DE AQUI- SIÇÃO DE ALIMENTOS – A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural aprovou a inclusão da aquicultura familiar e da pesca artesanal no Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal. Por meio desse programa, criado pela Lei 10.696/03, o Executivo des- tina a pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional alimentos compra- dos de agricultores familiares. O objetivo é institucionalizar a aquisição de peixes, uma vez que essas pessoas têm dietas ricas em carboidratos, mas pobres em proteínas, minerais e vitaminas. O projeto estabelece que, para vender o pescado ao governo, os produtores deverão se enquadrar no Pro- grama Nacional de Fortalecimento da Agri- cultura Familiar (Pronaf) ou em outro equi- valente em âmbito federal. Esse requisito Petrolina, executor do Projeto. A UFRPE e o Instituo de Tecnologia de Pernambu- co (Itep) serão os co-executores. BRASIL + NORUEGA – No dia 5 de março foi firmado um acordo entre o Brasil e a Norue- ga que inclui a criação de um Comitê para planejar as primeiras ações de colaboração no desenvolvimento da aquicultura e da pes- ca oceânica. Segundo o ministro Gregolin, a colaboração será feita também através de intercâmbios entre as universidades brasi- leiras e norueguesas, cientistas, pesquisado- res e empresários dos dois países. Gregolin destacou ainda o interesse da Noruega no desenvolvimento da aquicultura na Amazô- nia. “Os noruegueses têm uma preocupação muito grande com as questões climáticas e a possibilidade da produção de proteína animal proveniente da aquicultura como um instrumento de preservação da Floresta Amazônica, despertou o interesse deles”, disse o ministro. Atualmente a produção de pescado (aquicultura e pesca juntas), repre- já vale para os agricultores familiares. DIA DE CAMPO – A Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), a Apta Pólo Leste Pau- lista, a Guabi Alimentos SA e a Bayer SA - Health Care realizaram no dia 4 de abril, o Dia de Campo sobre produção de tilápia em tanques-rede em represa rural, na sede da Apta Pólo Leste Paulista , Monte Alegre do Sul, SP. A tilápia é a principal espécie de peixe cultivado na região do Leste Paulista e no Dia de Campo foram discutidas expe- riências da sua criação quando os partici- pantes tiveram a oportunidade de atualizar seus conhecimentos sobre melhores práticas de manejo. O uso racional de alimentos (ra- ções), a densidade de estocagem em tan- ques rede, noções básicas sobre parâmetros físicos, químicos e biológicos de qualidade d’água, com demonstração prática da uti- lização de equipamentos para procedimen- tos de coleta, análise e monitoramento da qualidade d’água foram outros importantes temas abordados. Notícias & Negócios Notícias & Negócios 14 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 15Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Boas práticas no manejo sanitário Parte 5 Na edição 108, iniciamos uma série de artigos sobre práticas eficientes e responsáveis empregadas no manejo na criação de peixes. O termo “manejo” aqui se refere às intervenções realizadas durante a criação. Estas intervenções buscam, dentre inúmeros objetivos, otimizar a produção e a rentabilidade nas pisciculturas, de maneira compatível com a manutenção de adequada qualidade ambiental, dentro e fora do empreendimento, possibili- tando a oferta de produtos seguros ao consumidor. Nas próximas edições desta revista será dada continuidade a esta matéria com os temas: •Parte 6 – Boas práticas nas despescas, manuseio e classificações dos peixes •Parte 7 – Boas práticas no transporte de peixes vivos Manejo na produção de peixes Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua & Imagem Serviços Ltda. fernando@acquaimagem.com.br No Brasil, do mesmo modo que em outros países, diversos empre- endimentos aquícolas têm sua rotina marcada por surtos de doenças de diferentes intensidades. Estes surtos, muitas vezes, resultam em perdas econômicas consideráveis, que podem até mesmo selar o destino de um empreendimento ou da indústria aquícola de um país. No mundo há diver- sos exemplos desse devastador efeito. Doenças virais dizimaram estoques de camarão cultivado na Ásia e no Equador, e também tiveram sua contri- buição na crise da carcinicultura no Brasil. Doenças bacterianas em tilápia atingiram severamente alguns dos mais importantes empreendimentos do mundo e têm sido uma preocupação em nosso país. Fo to : D an ie l U m ez u 16 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 M an ej o Recentemente, no Chile, uma virose vem im- pondo riscos e incertezas sobre o futuro da indústria salmoneira e sobre os milhares de empregos diretos e indiretos por esta sustentados. Por estas implicações as doenças são conside- radas hoje o principal obstáculo para a intensificação e expansão da aquicultura no mundo. Estima-se que as perdas econômicas na aquicultura mundial devido a doenças superam a cifra dos US$ 9 bilhões ao ano. Produtores, técnicos, professores, pesquisadores, empresas privadas e gestores do setor precisam se antecipar a este obstáculo. Com a difusão e adoção de boas práticas de produção e manejo sanitário. Com pesquisas focadas nos reais problemas do setor e formação de profissionais preparados para atender a indústria. Através da oferta de serviços de diagnóstico ictiopatológicos e do desenvolvimento de medicamentos e vacinas eficientes na prevenção e controle das principais enfermidades. Com pron- tidão, objetividade e bom senso na regulamentação do uso de produtos e medicamentos já avaliados como seguros e aprovados para uso em aquicultura em outros países. E, por fim, através do incentivo ao processo de registro de novos medicamentos e vacinas desenvolvidos especificamente para uso em aquicultura. O artigo aqui apresentado expressa a impor- tância da adoção de boas práticas de produção e de manejo sanitário como ferramenta fundamental ao sucessode um empreendimento aquícola, propor- cionando condições adequadas ao bom desenvol- vimento e saúde dos peixes, de forma a minimizar a ocorrência de doenças e, com isso, aumentar a rentabilidade da criação. Fatores que predispõem os peixes às doenças Doenças ocorrem quando há um desequilíbrio na relação entre os peixes, a qualidade do ambiente em que vivem e os potenciais patógenos, bem como quando os peixes são submetidos a estresse relacio- nado ao manuseio, transporte, confinamento, entre outras adversidades comuns na rotina de produção (Figura 1). Muitos dos potenciais patógenos estão presentes no ambiente de cultivo. Alguns, até mesmo, se encontram residentes no próprio organismo dos peixes. Apenas aguardam uma oportunidade propícia para se manifestarem. Condições inadequadas de qualidade da água, má nutrição, manuseio grosseiro ou feito em momentos inadequados, temperaturas extremas, excessivo acúmulo de material orgânico nas unidades de produção (que favorece a prolife- ração de diversos patógenos), exposição a produtos químicos e medicamentos, dentre outros desequilí- Figura 1 – Representação da interação entre a qualidade ambiental, os fatores de estresse relacionados à produção e os patógenos sobre a saúde dos peixes Figura 2 – Mortalidade crônica de catfish americano em tanques com elevada carga orgânica, excessiva proliferação de fitoplâncton e baixos níveis de oxigênio durante a madrugada brios, comprometem a resistência dos peixes e beneficiam os patógenos, levando a um aumento nos problemas com doenças. No Quadro 1 são resumidos os principais fatores que afetam a resistência dos peixes aos agentes patogênicos e favorecem a ocorrência de doenças na piscicultura. Parasitos e Patógenos Estresses da produção Alta densidade Despesca Transporte Produtos químicos Nutrição Qualidade da água 17Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 • Qualidade de água – exposição prolongada ao baixo oxigênio dissolvido e a com- postos tóxicos como a amônia e o nitrito, prejudicam o crescimento e reduz a resistência dos peixes às doenças. O baixo oxigênio dissolvido geralmente está associado a uma alta carga orgânica no ambiente de cultivo. O acúmulo de material orgânico, além de prejudicar a qualidade da água, favorece a multiplicação de diversos organismos patogênicos. Mortalidade crônica devido a ocorrência de doenças (Figura 2). • Excessiva densidade (ou biomassa) – altas densidades de estocagem podem implicar em alta biomassa de peixe estocada nas unidades de cultivo. Esta biomassa, quando excede a capacidade de suporte do ambiente, pode causar desequilíbrios na qualidade da água e favorecer uma rápida disseminação dos patógenos devido a maior facilidade de contato e proximidade entre os animais, bem como pelo maior acúmulo de resíduos orgânicos (fezes, plâncton, sobras de alimento, etc.) por unidade de área ou volume dos tanques de cultivo. Altas densidades / biomassa demandam altas taxas de alimentação, aumentando a carga orgânica no ambiente de cultivo. • Temperaturas extremas e grande oscilação diária na temperatura – o conforto térmico para a maioria dos peixes tropicais geralmente está entre 25 e 28ºC. Sob condições extremas de temperatura (muito baixa ou muito alta) a resistência dos peixes às doenças pode ficar severamente comprometida. Instabilidade na temperatura (grande variação diária) também favorece a ocorrência de doenças. Geralmente, os produtores não podem controlar a temperatura em suas unidades de cultivo (salvo em sistemas fechados de produção) • Má nutrição – deficiências nutricionais (vitaminas, minerais e outros nutrientes) comprometem a resposta imunológica dos peixes, o que favorece a ocorrência de doenças. Deficiências nutricionais são mais comuns em sistemas de produção onde os peixes não têm acesso a alimentos naturais que possam complementar eventuais deficiências das rações, a exemplo da criação de peixe em tanques redes, raceways e em sistemas de recirculação. • Manuseio inadequado – despescas, classificações, transferências e transportes de longa distância são operações rotineiras nas pisciculturas. O manuseio dos peixes durante estas operações deve ser feito com critério, técnica, equipamento adequado e pessoal trei- nado. O ideal é deixar os peixes em jejum por pelo menos 24 horas antes de realizar qualquer manejo mais intenso (despesca, classificações, transportes, etc.). Os peixes não devem ser manipulados logo após as alimentações, pois neste momento suas demandas por oxigênio e energia são elevadas devido ao processo de digestão. Operações mais intensas de manejo devem ser programadas para os horários mais frescos do dia, evitando o manuseio dos peixes sob altas temperaturas. Com os peixes tropicais – como exemplo a tilápia e diversas espécies nativas – é recomendável minimizar, e até mesmo evitar, o manuseio durante o inverno, pois sob baixas temperaturas, a imunidade dos peixes é minimizada e há um grande risco de infecções por fungos ou bactérias. O manuseio dos peixes deve ser feito de forma rápida e suave, evitando ferimentos e minimizando o tempo de confinamento dos peixes durante o manuseio, este último um importante fator de estresse durante as operações de despesca, classificações e transferências. • Transporte inadequado e de longa duração – considerável mortalidade tem sido registrada durante e após o transporte de peixes. Uma parte desta mortalidade se deve aos descuidos no transporte (como o inadequado jejum dos peixes, déficits de oxigênio e excessivo acúmulo de gás carbônico na água de transporte). Ou ainda aos desequilíbrios fisiológicos e osmorregulatório desencadeados pelo estresse do manuseio e transporte. O estresse durante o manuseio e transporte resulta em diminuição da resposta imunológica dos peixes, favorecendo a ocorrência de infecções bacterianas, fúngicas e mesmo virais, que resultam em considerável mortalidade dos peixes pós-transporte. • Contínua exposição a produtos químicos e medicamentos – pode resultar em alterações fisiológicas, anemia, irritação das brânquias, má função hepática, danos a barreira mucosa e supressão da resposta imunológica dos peixes, entre outros efeitos adversos. Por- tanto, os produtores devem procurar obter o máximo de informação a respeito dos produtos que dispõem para uso. A decisão pelo uso de medicamentos e profiláticos deve ser tomada com critério e baseada em recomendação de profissional especializado, de preferência com o respaldo de um diagnóstico seguro do agente patogênico envolvido. Quadro 1 – Fatores que prejudicam a resistência imunológica dos peixes e favorecem o desenvolvimento e manifestação dos agentes patogênicos 18 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 M an ej o Forma de disseminação das doenças A disseminação de doenças ocorre facilmente através da água que abastece um empreendimento aquícola. Potenciais patógenos podem estar presentes na água de drenagem das pisciculturas e pesque pagues, bem como nos efluentes domésticos e industriais. Estes efluentes podem estar sendo lançados em mananciais que, em sua jusante, servem ao abastecimento de outras pisciculturas e pesque pagues. Desta forma, um problema sanitário rapidamente pode ser transferido de um a outro empreendimento. Outra forma de disseminação de doenças é através do transporte de peixes vivos, que com técnicas e equipamentos adequados, pode ser realizado a longas distâncias. Assim, a água usada no transporte, os equipamen- tos e os peixes em si podem ser os veículos de patógenos entre uma piscicultura e outra. Boas práticas para a prevenção de doenças Os produtores devem adotar boas práticas de manejo sanitário com o intuito de minimizar a ocorrência de doenças na criação. Na grande maioria das pisciculturas é praticamente impossí- vel manter um ambiente livre de patógenos. Por- tanto, é preciso saber conviver com os mesmos, buscando sempre manter adequadas condições para o bom desenvolvimento e saúdedos peixes. A inadequada qualidade da água, a má nutrição, o acúmulo de resíduos orgânicos, a presença de carcaças de animais mortos nas unidades de pro- dução, o manejo grosseiro (nas despescas, classi- ficações e transferências de peixes) e a introdução de peixes doentes nas unidades de cultivo, entre outras, são condições que devem ser evitadas. A seguir serão discutidas algumas das principais boas práticas para a prevenção de doenças nas pisciculturas. Manutenção de adequada qualidade da água – através do monitoramento contínuo dos parâme- tros críticos e da adequada correção, principal- mente no que diz respeito ao oxigênio dissolvido. Mais informações sobre qualidade de água podem ser obtidas nas edições 45, 46, 47 (1998) e mais recentemente nas edições 109 e 110 (2008). Nutrição e alimentação adequadas – o manejo nutricional e alimentar deve ser ajustado de acor- do com a espécie cultivada, a etapa de desenvolvi- mento e o sistema de produção adotado (conforme apresentado na edição 111 desta revista). Peixes bem nutridos são menos susceptíveis às doenças e mais tolerantes ao manuseio e transporte. O produtor deve evitar alimentar excessivamente os peixes. A severidade de algumas doenças pode ser agravada quando os peixes são alimentados em excesso (ver edição 105 desta revista). Os alimentos (rações) devem ser armazenados em locais adequados, protegidos de animais (imple- mentar controle de roedores), do excessivo calor e da umidade. Alguns produtores, por questões econômicas ou por desconhecimento, acabam aproveitando os resíduos de processamento de pescado ou carcaças de outros animais, para uso direto na alimentação dos peixes ou, então, para o preparo de rações caseiras (Figura 3). O uso destes resíduos deve ser evitado, pois estes são excelentes substratos e veículos para diversos patógenos, e podem auxiliar a fechar o ciclo e a aumentar a capacidade de infecção (ou virulência) de um determinado patógeno. • Via oral - através da água ingerida, do alimento natural, da prática do canibalismo sobre peixes vivos ou mortos; da ingestão de fezes de outros peixes; do consumo de rações contaminadas, de esterco e de carcaças de outros animais; do uso de restos de processamento de produtos animais na confecção de rações para os peixes; • Infecção através da água que circula pelas narinas dos peixes; • Ferimentos (lesões) no corpo e nas brânquias, que servem como porta de entrada para diversos patógenos (bactérias, fungos, vírus); • Contato direto entre os peixes (transmissão horizontal) – via narinas, via oral, via brânquias, via pele (ferimentos), entre outras; • Da mãe para os filhos, através de ovos infectados (transmissão vertical); • Infecção através de vetores específicos - parasitos externos, por exem- plo, podem servir como reservatório de patógenos e/ou funcionar como vetores destes durante seu trabalho de parasitismo sobre os peixes. Vias de infecção dos peixes Os peixes contraem agentes patogênicos através do contato com a água, equipamentos e instalações infectadas. Também através do contato direto com outros peixes doentes ou através da ingestão de alimentos contaminados. As rotas de entrada de organismos patogênicos são: via oral, pela ingestão de água e alimento contaminado; via narinas, sendo infectados por patógenos livres na água; via canibalismo, onde peixes sadios acabam comendo peixes mortos ou moribundos infectados; e através de lesões na pele e brânquias (Quadro 2). Ainda há a possibili- dade de infecções verticais, ou seja, um determinado patógeno pode ser transmitido da mãe para os filhos através de ovos infectados. Essa é uma via comum de infecção no caso de viroses. Quadro 2 - Principais vias de infecção dos peixes por agentes patogênicos 19Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 M anejo Figura 3 – Cabeças de frango (a) e descartes de pescado (b) usados como ingredientes na produção de rações caseiras para peixes: potenciais fontes de patógenos Ajuste nas densidades de estocagem – que devem ser feitos de acordo com a capacidade de produção em cada fase de cultivo e conforme os limites do sistema de pro- dução utilizado. Aquisição de peixes sadios – na chegada de novos peixes à piscicultura, o produtor deve ficar atento a sinais indica- tivos de doenças ou parasitos. O fato de não ser detectado parasitos a olho nu, ou mesmo sinais indicativos de doen- ças, não assegura que os peixes adquiridos estejam livres de organismos patogênicos. Muitos parasitos somente podem ser visualizados ao microscópio e alguns patógenos, como exemplo bactérias e vírus, podem estar hospedados nos peixes sem manifestar sinais de infecção. Desta forma, sempre que possível, os animais recém adquiridos devem ser mantidos em uma unidade de cultivo isolada das demais por um período de ao menos 30 dias. No recebimento destes peixes deve ser feito um raspado do muco (das brânquias e do corpo) de alguns exemplares para verificar ao micros- cópio se há presença significativa de parasitos, indicando assim a necessidade ou não de um tratamento preventivo ou curativo logo na chegada dos peixes. Daí a importância de se adquirir alevinos, juvenis ou matrizes de produtores profissionalizados e capazes de comercializar peixes livres de parasitos e sem sinais de doenças. Observação contínua do comportamento dos peixes nas unidades de produção – o produtor deve ficar atento à resposta alimentar dos peixes. A redução no apetite e a presença de sobras de alimento pode ser um sinal indicativo de problemas na qualidade da água ou do início da insta- lação de uma enfermidade. Natação errática ou letárgica, peixes se raspando contra as paredes e fundo dos tanques ou, ainda, boquejando na superfície da água sob condições de adequado oxigênio, são alterações comportamentais que podem indicar a ocorrência de infestações parasitárias ou doenças. Realização de exames rotineiros – a presença e o grau de infestação por parasitos, bem como eventuais sinais clínicos de doenças devem ser avaliados rotineiramente em amostras de peixes retiradas das unidades de produção. Estes exames devem ser feitos tanto em peixes moribun- dos que apresentam os sinais clínicos da enfermidade, como em peixes aparentemente sadios, sem quaisquer sinais de doença. Tal procedimento permite a detecção de infestações parasitárias e de sinais clínicos ainda no início do estabelecimento de uma enfermidade, possibilitando a adoção de medidas que previnam o agravamento da situação. Mais informações sobre como proceder nestas avaliações da saúde dos peixes podem ser encontradas nesta revista, na edição 62 (2000). Controle de infestações parasitárias – parasitos podem ser potenciais vetores de doenças. Assim, o tratamento preventivo e curativo contra parasitos é uma forma eficaz de prevenir doenças mais severas na produção de peixes. Estes tratamentos devem ser realizados sob a orientação de um profissional experiente. Rotina de remoção de peixes moribundos ou mortos – estes peixes são potenciais reservatórios de agentes pato- gênicos e devem ser rapidamente removidos das unidades de produção (Figura 4). Peixes sadios podem consumir parte das carcaças destes peixes mortos e acelerar o pro- cesso de infecção. 20 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 21Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 M anejo Manejo adequado nas despescas, classificações, transferências e trans- porte de peixes – mortalidades devido à infecções por fungos e/ou bactérias são comuns após o manuseio e o trans- porte. Essas perdas podem ser signi- ficativamente minimizadas com o uso de técnicas e equipamentos adequados, bem como de pessoal devidamente trei- nado, reduzindo o estresse fisiológico e as injúrias físicas nos peixes. Deixar os peixes em jejum por 24 a 48 horas antes do manuseio e transporte aumenta a sobrevivência dos peixes após a operação. No transporte de peixes vivos, prover condições que amenizem o estresse dos peixes,como a salinização e o abaixamento da temperatura da água e o controle nos níveis de oxigênio de forma a manter um adequado fluxo de oxigênio nos tanques de transporte. Estabelecimento de uma rotina de limpeza e desinfecção de equipamentos e instalações – realizar a limpeza e desinfecção de redes, caixas de transporte, puçás, hapas, barcos, platafor- mas, peças do vestuário dos funcionários, incubadoras, classi- ficadores, tanques e caixas d’água, caixas plásticas, sacolas de manejo, baldes, entre outros equipamentos usados na rotina de produção das pisciculturas. A limpeza dos equipamentos pode ser feita com água pressurizada, ou através de lavagem com sabão em pó. Diversos compostos podem ser usados como desinfetantes. Alguns com espectro de ação mais abrangente e outros com eficácia apenas sobre um número restrito de organismos patogênicos. A eficiência destes desinfetantes de- pende da concentração empregada, do pH da água usada para a dissolução do produto, da presença de material orgânico nos equipamentos ou água a ser desinfetadas e da pré-limpeza dos equipamentos. Produtos como o cloro (hipoclorito de sódio), água oxigenada, formalina, iodo, sal, permanganato de potás- sio, amônia quaternária, alguns ácidos (em soluções diluídas), entre outros, podem ser usados como desinfetantes. Precauções devem ser tomadas para evitar o contato direto com a pele e a inalação dos vapores de alguns destes produtos durante o uso. Luvas e máscaras são equipamentos essenciais na manipula- ção destes e de suas soluções. Alguns equipamentos, depois de limpos, podem ser expostos ao sol, permitindo a ação dos raios ultravioletas sobre potenciais organismos patogênicos. Figura 4 – Peixes mortos devem ser prontamente removidos das unidades de produção, para diminuir o potencial de infecção dos peixes sadios. A unidade de produção com problema, no caso do cultivo de peixes em tanques rede, deve ser afastada das demais unidades de produção Expor periodicamente (ao final de cada ciclo de produção) o fundo dos tanques ao sol também é um bom procedimento para redução na carga de organismos patogênicos nos tanques de cultivo. Aplicação de cal hidratada ou cal virgem no fundo dos tanques também complementa a desinfecção iniciada pelo sol, sendo uma prática importante sempre que tenha ocorrido problemas sérios de doenças no ciclo anterior de produção. Restrição de visitas à propriedade – evitar ao máximo as visitas à propriedade, ou restringir o acesso dos visitantes a áreas menos críticas, sem descuidar do emprego de medidas de higienização preventiva (desinfecção do exterior, das rodas e do assoalho dos veículos; instalação de pedilúvio ou lava botas na entrada dos laboratórios; uso de roupa e calçados limpos fornecidos pela empresa; lavagem de mãos e braços, entre outras precauções). Contar com os serviços de profissional especializado – para a implantação de um programa de sanidade em seu empre- endimento. Este profissional é capaz de avaliar os procedi- mentos de produção empregados e detectar pontos críticos referentes à infraestrutura de produção e manejo, apontando soluções que podem contribuir com a redução dos problemas associados às doenças, melhorando os resultados econômicos do empreendimento. Procedimentos básicos quando da ocorrência de mortali- dade ou de alterações no comportamento dos peixes. Diante da observação de anormalidades comportamen- tais ou de sinais clínicos de doenças (ver Quadro 3) ou ainda já diante de mortalidade crônica dos peixes, o produtor deve proceder da seguinte forma: 22 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 M an ej o Verificar a qualidade da água nas unidades de produ- ção afetadas, em particular os níveis de oxigênio dissolvido na água nas primeiras horas da manhã e a concentração de amônia tóxica, entre outros parâmetros críticos. Coletar alguns peixes moribundos e que apresentem os sinais clínicos da doença para análises parasitológicas e microbiológicas. Caso o produtor disponha de equipamen- tos (material de dissecação e microscópio) e conhecimento para uma primeira análise, pode analisar alguns raspados do muco das brânquias e do corpo dos animais afetados para verificar a presença de parasitos. Também pode reali- zar uma minuciosa análise macroscópica, para verificar a presença de sinais clínicos de doenças. Todos os achados nesta primeira análise devem ser registrados, juntamente com as observações sobre o comportamento dos peixes ainda nos tanques. Hoje com o recurso de câmeras digitais é possível sacar boas fotografias de parasitos visualizados ao microscópio, bem como dos peixes doentes e seus principais sinais clínicos (Figura 5). Estas fotos podem ser enviadas por e-mail a profissionais que podem auxiliar no diagnóstico do problema. Figura 5 - Fotos de parasitos de peixes vistos ao microscópio (A - monogenóide em raspado do muco das brânquias; B - Epistylis, em raspado de lesão sobre pele) e C – foto de uma tilápia doente ilustrando alguns sinais clínicos (lesão e hemorragia na pele) O envio de amostras de peixes para um laboratório de diagnóstico – quando o diagnóstico no local não for possível, amostras de peixes vivos com sinais da doença devem ser en- viadas a laboratórios especializados, onde há maior chance de se determinar o agente patogênico. Muitos destes laboratórios podem realizar antibiogramas (teste de eficiência de antibióti- cos, no caso de infecções bacterianas) ou testes de dosagem de medicamentos administrados na forma de banhos, provendo uma recomendação mais eficaz na tentativa de controlar a doença (Figura 6). Caso não seja possível enviar amostras de peixes vivos, os exemplares coletados deverão ser sacrificados imediatamente e acondicionados em sacos plásticos sem água e colocados em caixas térmicas com gelo ou “gel pack” em quantidade suficiente para manter a amostra resfriada até que esta chegue ao laboratório para análise. Verifique com o labo- ratório a forma mais adequada para envio das amostras e quais são as informações que precisam para auxiliar no diagnóstico dos problemas. Os laboratórios de ictiopatologia geralmente fornecem um questionário que deve ser preenchido pelo produtor para auxílio na compreensão do problema. Figura 6 – Laboratório especializado no diagnóstico de doenças em peixes – Auburn, Alabama, USA. Meio de cultura com teste da eficácia de antibióticos (antibiograma) Em caso de uma mortalidade significativa, um bom procedimento é reduzir ou interromper a alimentação por um a três dias e observar se a mortalidade diminui, além é claro da adoção dos procedimentos anteriormente mencionados. O produtor também deve evitar o manuseio dos peixes doentes (classificações, transferências, transporte vivo) até que as condições retornem ao normal. Peixes mortos e moribundos devem ser removidos dia- riamente, pois servem como potencial reservatório do patógeno. Peixes sadios podem se alimentar com as carcaças destes peixes mortos e assim contrair a doença. As carcaças devem ser dispos- tas adequadamente em aterros ou em pilhas de compostagem. No caso da criação de peixes em tanques rede, os tanques que apresentam significativa quantidade de peixes moribundos ou mortos devem ser afastados, quando possível, dos demais. Realizar a limpeza e desinfecção dos equipamentos de uso em comum entre as unidades de produção (redes, puçás, roupas de tra- balho, caixas de transporte, baldes, entre outros), de forma a impedir a propagação do problema para outros setores da piscicultura. 23Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Saiba mais: Quem é assinante lê on-line A Panorama da AQÜICULTURA sugere a leitura de artigos relativos ao tema, publicados em edições anteriores. M anejo A importância de um diagnóstico preciso do problema Grande parte da ineficiência das medidas de prevenção e controle de doenças nas pisciculturas deve ser creditada a falta de um diagnóstico preciso do problema. Invariavelmenteos tratamentos são feitos na base da tentativa e erro, minis- trando-se medicamentos na água ou nas rações, muitas vezes sem qualquer noção da dose efetiva, sem conhecimento da composição do produto, seus efeitos colaterais e sua eficácia sobre a doença sendo enfrentada. Grande parte do esforço empregado nos tratamentos “ce- gos” hoje realizados nas pisciculturas pode ser poupada com o correto diagnóstico da doença e seu agente causador, bem como através da realização de testes de eficiência dos medicamentos. Isso significa rapidez e eficiência no controle do problema e economia de dinheiro. Assim, sempre que possível, busque auxílio junto a um laboratório de diagnóstico de doenças em peixes e conte com o suporte de um profissional experiente na implementação das medidas imediatas de controle da enfermidade e na implantação de procedimentos para minimizar a ocorrência de doenças no futuro. • Alterações no Comportamento Perda total ou redução no apetite Letargia - natação vagarosa ou o peixe fica parado Natação errática Peixes ficam boquejando na superfície (asfixia) Peixes raspam o corpo em alguma superfície (prurido) • Sinais Clínicos Externos Hemorragia (pele, olhos, tronco, nadadeiras, boca, abdô- men, ânus) Lesões corporais (necroses, úlceras e furúnculos) Manchas despigmentadas (descoloridas) pelo corpo Abdômen inchado (ascite) ou comprimido (barriga seca) Escamas eriçadas Olhos saltados e córnea opaca (catarata) Coloração anormal: escurecimento ou palidez Excessiva produção de muco no corpo e nas brânquias Palidez das brânquias (sinal indicativo de anemia) Áreas necrosadas ou podridão das brânquias Inflamação das brânquias (inchaço, vermelhidão e san- gramento) Pontos brancos, amarelos ou pretos no corpo (cistos) Necroses nas nadadeiras (podridão, erosão, ablação) • Sinais Clínicos Internos Vísceras e/ou órgãos internos (fígado, baço e rins) he- morrágicos Fluído claro ou opaco na cavidade abdominal Fluído amarelado ou sanguinolento no intestino Lesões tipo úlceras no fígado Hiperplasia (aumento de tamanho) dos órgãos internos Fígado: cor anormal, aspecto friável e margens espessas Baço de tamanho aumentado, com margens espessas e coloração escura Pontos brancos no fígado, rins, coração e/ou no baço Quadro 3 - Alterações comportamentais e sinais clínicos externos e internos que servem como indicativos de uma enfermidade nos peixes Monitorando a saúde dos peixes (Panorama da Aqüicultura - Edição 62 Novembro/Dezembro 2000) Atenção no manejo dos peixes na saída do inverno (Panorama da Aqüicultura - Edição 96 Julho/Agosto 2006) Antecipando-se às doenças na Tilapicultura (Panorama da Aqüicultura - Edição 89 Maio/Junho 2005) A versatilidade do sal na piscicultura (Panorama da Aqüicultura - Edição 103 Setembro/Outubro 2007) Excessiva alimentação pode agravar a mortalidade de peixe em sistemas intensivos de cultivo (Panorama da Aqüicultura - Edição 105 Janeiro/Fevereiro 2008) Tilápia na mira dos patógenos (Panorama da Aqüicultura - Edição 107 Maio/Junho 2008) O perigo do uso indiscriminado de medicamentos Grande parte dos produtores desconhece as boas práticas de produção, nem contam com uma equipe de funcionários su- ficientemente treinada para realizar um manuseio adequado dos peixes (despescas, classificações, transferências, entre outros manejos). Como se isso não bastasse, também não dispõem de equipamentos adequados para um eficiente manejo. Por tudo isso, mais a falta de um diagnóstico preciso dos problemas sanitários e a experiência de altas mortalidades após operações específi- cas de manejo e durante o curso da criação, muitos produtores acabam lançando mão do uso de rações medicadas com grande frequência. Os principais problemas com o uso indiscriminado de medicamentos – em particular os antibióticos – como forma de compensar deficiências do manejo são: o aumento no custo de produção; o desenvolvimento de cepas de bactérias resistentes aos antibióticos disponíveis; a destruição de outros organismos naturais importantes na ecologia do ambiente aquático; a redução da resistência dos peixes às doenças (proporcionadas por alguns antibióticos); os efeitos colaterais adversos que prejudicam a saúde dos peixes; o maior risco aos funcionários com a manipulação contínua de medicamentos; e a possibilidade de permanência de resíduos acima do permitido na carne dos peixes, quando não se respeita o período de carência dos produtos. 24 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 INFORME EMPRESARIAL Nos Estados Unidos os prejuízos causados por algas azuis (cianobactérias) custam milhares de dólares todos os anos à industria do catfish cultivado (Fishsite, abril 2008). O “sabor de lama” ou “sa- bor de terra” off-flavor em peixes, camarões e outros invertebrados deve-se principalmente a dois terpenos: geosmina e 2-metilisoborneol (MIB). A geosmina (trans-1,10-dimetil-trans-9-decalol) tem um gosto de lama/terra e o MIB (1,2,7,7-tetrametil-exo-biciclo-heptano-2-ol) tem gosto de mofo/bolor. Estes compostos são problemas não só para a aquicultura, mas também para a indústria de alimentos, bebidas e na indústria de água potável. O olfato humano pode detectá-los (i.e. nós podemos cheirá-los) em concentrações bem pequenas de 4 a 15 ng/l. Eles se acumulam nos lipídeos do peixe e podem ser tóxicos, por exemplo, a geosmina é tóxica para truta em concen- trações de 0,45 mg/l e o MIB é tóxico à 10 mg/l. A maioria dos organismos produtores destes compostos está constituída por: • Espécies de cianobactérias do gênero Anabaena, Oscillatoria, Phormidium, Lyngbya, Leptolyngbya, Microcoleus, Nostoc, Planktothrix, Pseudanabaena, Hyella e Synechococcus. • Espécies de Actinomicetos do gênero Streptomyces, Nocardia e Microbispora. • Outros microorganismos incluindo muitos fungos de solo, e.g. Penicillum e Aspergillus, bactérias deslizantes e a mixobactéria Nannocystis exedens. Combatendo o off-flavor na tilápia Por: Denny Chavez1, Teófilo Rivera2, Jaime Quinto2, David Moriarty3,4 e Olivier Decamp3 1 –INVE Ásia Services, Tailândia; 2- Ruby Aquaculture, Filipinas; 3- INVE Aquaculture Health, Tailândia; 4- Center for Marine Studies, University of Queensland, Australia. O off-flavor na tilápia é responsável por perdas substan- ciais aos produtores, na forma de peixes não aptos à comercializa- ção. As soluções atuais incluem o uso de depuração em tanques com água clara e procedimentos especiais de alimentação. O uso de probióticos é uma solução ba- seada no exemplo das Filipinas. Alguns microorganismos excretam geosmina ou MIB no ambiente, enquanto outros retêm a maior parte dentro da célula. A maioria destes microorganismos é bentônica ou perifítica. Por esta razão espécies de peixes detritívoros que se alimentam sobre o perifiton, micróbios bentônicos ou matéria orgânica em decom- posição, ingerem microorganismos com geosmina e MIB. O problema na tilápia de água doce Este é um problema comum em tilápia cultivada em viveiros ou em sistemas de recirculação em água doce. Em um recente artigo, Guttman e van Rijn (2008) reportam como condi- ções aeróbicas e organicamente ricas, prevalecentes em sistemas de recirculação, estimulam o crescimento de actinomicetos e a subseqüente produção de geosmina e MIB. Para produtos de tilápia destinados a mercados interna- cionais ou domésticos de primeira linha, o controle do off-flavor é um pré-requisito para o marketing. A maioria das grandes fazendas agora incorporam a fase de depuração entre a despesca e o processamento. Peixes tratados desta maneira podem per- der até 4% em peso após o tratamento. Isto pode ser um custo adicional significante para o aquicultor. Ao mesmo tempo que o procedimento reduz grandemente as chances do off-flavor, ele também reduz a quantidade de resíduos excretados pelos peixes na água de transporte e a contaminação do produto com as fezes. 25Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2009 Contudo, tais soluções aumentam consideravelmente
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