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1Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 2 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 3Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 N unca vi ninguém ter pena ou sendo solidário com a China, nas vezes em que seus pro-dutos aqüícolas foram barrados nos mercados dos EUA e da União Européia, por estarem em desacordo com as normas internacionais de sanidade. Ao contrário, suponho até que muitos aqüicultores, espalhados por vários países, incluindo o Brasil, tenham festejado a oportunidade de negociar num mercado sem a incômoda presença chinesa. Algo muito parecido deve ter acontecido quando saiu publicada a notificação da OIE sobre a presença da febre aftosa no Mato Grosso, que de imediato embarreirou a exportação da carne bovina brasileira para muitos países. Não tenho dúvidas de que produtores espalhados pelo mundo festejaram a má sorte dos pecuaristas brasileiros. Assim funciona o mercado globalizado, com produtos de origem animal e vegetal circulando de um canto a outro do planeta, e deixando repentinamente de circular por esbarrarem nas cada vez mais estreitas regras que regem essa movimentação de produtos vivos, frescos ou congelados. A gente sabe que ninguém gosta de falar sobre doenças, principalmente nós brasileiros que, por superstição ou medo, nem pronunciamos a palavra câncer, como se isso fosse o suficiente pra afastar essa doença do nosso corpo. Mas, não podemos fechar os olhos para as patologias porque elas minam a capacidade competitiva dos produtores e enfiam, como ninguém, a mão no bolso do aqüicultor. Isso explica porque os temas ligados a sanidade dos produtos da aqüicultura ocupam grande parte da pauta desta edição. Falamos da certificação sanitária, das doenças de notificação obrigatória e, das doenças que, mesmo não sendo de notificação obrigatória, podem fazer uma atividade florescente como a tila- picultura, se tornar inviável economicamente. Abordamos também nesta edição as preocupações dos cientistas e dos fabricantes de rações de todo o mundo, que reunidos em um simpósio internacional de nutrição, buscavam alternativas diante das inesperadas mudanças no cenário mundial dos ingredientes. Os aumentos recentes no preço da farinha de peixe, que colocam em cheque a viabilidade econômica da fabricação e do uso das rações balanceadas para peixes carnívoros, foi o tema mais discutido. Nas próximas páginas o leitor encontrará ainda os avanços do uso dos bioflocos na engorda dos camarões e os primeiros passos do Projeto Polvo Nordeste, que pretende, através da engorda de juvenis de polvos capturados pela pesca a vela, melhorar a qualidade de vida e a renda das comunidades pesqueiras. E muito mais... A todos, boa leitura. 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor 4 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 5Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 ...Pág 65 ...Pág 60 ...Pág 62 ...Pág 10 ...Pág 44 ...Pág 46 ...Pág 63 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 28 ...Pág 38 ...Pág 22 ...Pág 52 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Gomes Leal, Edemar Roberto Andreatta, Fernando Kubitza, Henrique César Pereira Figueiredo, Jairo de Souza, Luiz Edivaldo Pezzato, Patrícia Mirella da Silva, Rafael Arantes, Raul M. Madrid, Rodrigo Schveitzer, Walter Quadros Seiffert Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 107 - maio/junho - 2008 Sanidade Aqüícola: O controle dos agentes patogênicos que comumente acometem os cultivos de organismos aquáticos pode dar sustentabilidade a um empreendimento, e garantir um produto final de qualidade, hoje, uma exigência de pequenos e grandes mercados. Produtos isentos de doenças ou microrganismos patogênicos, que tenham sua qualidade atestada, já é assunto corriqueiro nas discussões entre todos os envolvidos na produção aqüícola brasileira, sejam produtores, técnicos ou consumidores. A certificação sanitária na aqüicultura foi o tema escolhido por Henrique Figueiredo, para a coluna Sanidade Aqüícola dessa edição. O tema da presença de agentes patogênicos, foi trazido também por Fernando Kubitza, para quem a segurança alimentar e a sustentabilidade da tilapicultura no Brasil depende de atitudes responsáveis por parte de todos os envolvidos no setor. Como o tema “sanidade” envolve todas as práticas da aqüicultura, as medidas de controle de doenças, foi também o tema abordado pela especialista em moluscos marinhos, Patrícia Mirella da Silva, na matéria publicada na página 22. ...Pág 14 ...Pág 13 O cultivo com bioflocos - página 38... O cultivo de polvo no Nordeste - página 46... Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Schering-Plough lança antibiótico para peixe Sanidade Aqüícola: Certificação Sanitária na Aqüicultura Diagnóstico de doenças de moluscos marinhos Tilápias na mira dos patógenos O uso de bioflocos na formação de matrizes de Litopenaeus vannamei Pesquisa com carcaças de peixe é premiada em concurso da Nestlé Potencialidade do cultivo de polvo na aqüicultura brasileira XIII ISFNF: Simpósio sobre nutrição aqüícola reúne especialistas SEAP convoca o setor para a 5ª edição da Semana do Peixe IV ENPAP será realizado em Alagoas FENACAM 2008 AQUACIÊNCIA 2008 - O evento discutirá os desafios e inovações Calendário Aqüícola ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 AQÜICULTURA PARANAENSE - Ricardo Neukirchner, Diretor de Aqüicultura daAquabel (www.aquabel.com.br) assumiu agora também a diretoria da Sociedade Rural do Paraná, uma das maiores e mais importantes entidades da classe produtiva rural do Estado do Paraná, com enorme representatividade em todas as esferas estaduais e federais. A Diretoria de Aqüicultura, da qual Neukirchner foi convidado para assumir seus trabalhos e funções foi aberta em junho passado com o intuito de fortalecer a piscicultura e, desta forma, conseguir maior representatividade para a atividade. A revista Panorama da Aqüicultura deseja ao parceiro e amigo, sorte e muitas conquistas no novo cargo que assume. EVIALIS COMPRA CARGILL - O grupo francês Evialis confirmou no dia 16 de junho a conclusão da aquisição da Cargill Nutrição Animal Ltda., no Brasil, passando a operar no país com três marcas: Purina, Socil e Zoofort, e com três redes de distribuição específica. Segundo Nilton Perez, presidente do Grupo Evialis no Brasil “a nova estrutura industrial e de distribuição da Evialis permitirá expandir suas operaçõescom bases mais regionalizadas, para melhor atender ao mercado consumidor, estando mais próximo, e suprir, assim, os desafios logísticos que impactam nos custos operacionais”. A Evialis, empresa francesa e um das líderes mundiais em Nutrição Animal, está presente industrialmente em 16 países, possui mais de 64 unidades industriais e comercializa produtos e serviços em 50 países. A empresa possui mais de quatro mil funcionários e está presente no mercado mundial há mais de 50 anos. Para mais informações, visite www.evialis. com. Atuando no Brasil há mais de 67 anos por meio da empresa Socil, o grupo Evialis possui fábricas localizadas em Descalvado (SP), Barra Mansa (RJ), Contagem (MG) e São Lourenço da Mata (PE), além de sua subsidiária Zoofort, em Primavera do Leste (MT). O grupo atua nos mais diversos segmentos de nutrição animal: ruminantes, eqüinos, aqüicultura, aves, suínos e pet-food, através do fornecimento de rações completas, suplementos minerais e premixes. REPRESENTAÇÃO - A Fazenda Paciência, localizada no Estado do Rio de Janeiro, Município de Paraíba do Sul, Distrito de Werneck, à 120km da cidade do Rio de Janeiro, procura representante ou distribuidor para os seus alevinos de tilápia, que são entregues em todo o território nacional. A Fazenda Paciência opera um moderno laboratório que produz atualmente 5 milhões de alevinos anuais. Face às condições de climatização e controle de temperatura, os alevinos estão disponíveis ao longo de todo o ano. Os interessados deverão entrar em contato com o Sr. Celso Rodrigues pelos fones: (24) 2266-1077, (24) 2266-1344, (24) 9272-0836 ou pelo e-mail: fazendapaciencia@terra.com.br. SIMPÓSIO DE SIG - A Universidade Santa Úrsula, através do seu Laboratório de Aqüicultura e Sistemas de Informação Geográfica - Laquasig, recebe de 25 a 29 de agosto o IV Simpósio Internacional sobre SIG/Análises Espaciais para Pesca e Ciências Aquáticas (Fourth International Symposium in GIS/ Spatial Analyses in Fishery and Aquatic Sciences), cujo objetivo principal é destacar os desenvolvimentos e aplicações desse software, que permite e facilita a análise, gestão ou representação do espaço geográfico e dos fenômenos que nele ocorrem. O simpósio sobre as aplicações do SIG - Sistema de Informação Geográfica (ou GIS - Geographic Information System, em inglês) ocorrerá pela primeira vez no Brasil. O evento é organizado pelo Fishery-Aquatic GIS Research Group, do Japão, em conjunto com a Universidade Santa Úrsula. Entre outros temas, será discutida a implementação efetiva de gestão ambiental utilizando as geotecnologias. A FAO desenvolveu um “Ecosystem Approach to Fisheries (EAF)” e atualmente está trabalhando numa versão para a Aqüicultura - “Ecosystem Approach to Aquaculture (EAA)”. Estes e outros assuntos relevantes, incluindo “Spatial Planning”, “Marine Protected Areas (MPA)”, “Global Warming”, “Biodiversity” e “Spatial Conservation and Management” serão discutidos no simpósio. Os participantes terão também a chance de olhar os desafios atuais e fronteiras nas tecnologias SIG incluindo o “Development of 3D and 4D applications”, “Web-GIS (multi-user and multi-function information management systems)” e “GIS for all (GIS Education and Capacity Building)” bem como outros Notícias & Negócios 7Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 agrônomos, um engenheiro de pesca, um médico- veterinário, um técnico em geoprocessamento e um técnico agropecuário, e também irá adquirir equipamentos de monitoramento via satélite (GPS) para os trabalhos de planimetria e assistência técnica às propriedades. ISENÇÃO PARA CARCINICULTORES - A carcinicultura do Piauí, que tinha dificuldade de vender o produto para fora, vai ter as mesmas vantagens que outros estados brasileiros. O governador Wellington Dias assinou decreto determinando imposto zero para os criadores de camarão em cativeiro do litoral piauiense. Com esse benefício, os produtores vão poder gerar cerca de dois mil empregos no ramo até o final do ano. O Piauí já chegou a produzir quatro mil toneladas, mas devido os impostos esse ano só estavam produzindo mil toneladas, por conta dos encargos. A medida deve fortalecer a criação de camarão no Estado, já que a concorrência com o Rio Grande do Norte e Ceará estava ocorrendo de forma desleal. CHEIA BENEFICIOU FAMÍLIAS - Dezenas de famílias do município de Porto do Mangue, situado a 289km de Natal, no Rio Grande do Norte, acabaram se beneficiando com as enchentes que arrasaram fazendas de carcinicultura na região. O alagamento das carciniculturas empurrou grande parte da produção para o mar, onde o crustáceo está sendo pego pelos pescadores locais. A cidade de Porto do Mangue tem grande parte da sua economia baseada na pesca de peixes, lagosta e do camarão nativo, ou camarão rosa. A inclusão do camarão das fazendas de carcinicultura é uma novidade que está multiplicando o faturamento dos pescadores da colônia local. A fartura também está atraindo barcos de outras cidades e até mesmo do Ceará. FONES NOVOS - A Papytex Indústria e Comércio de Produtos Têxteis (www.papytex.com.br), avisa aos seus clientes e leitores da revista Panorama da Aqüicultura que as suas linhas de telefone mudaram. Agora é possível entrar em contato com a empresa, através dos seguintes números: fones: (11) 2951-4060 e (11) 2983- 0778 e fax (11) 2989-2799. NOVO OXÍMETRO - A Alfakit Ltda. (www.alfakit. com.br), empresa catarinense que, há anos, oferece instrumentos para análise da água e do solo em aqüicultura, lança agora no final do mês de julho, o Oxímetro AT 170, um equipamento leve, compacto, de fácil operação e baixo custo de manutenção e reposição. O novo produto é mais um lançamento com tecnologia totalmente nacional. O AT 170 vem com capa protetora de silicone com proteção de umidade, respingos e choque. Mais informações com o depto técnico da empresa fone: (48) 3233-2338 ou pelo e-mail: vendas@alfakit.com.br Notícias & Negócios Notícias & Negócios assuntos relevantes. Segundo os organizadores o evento deverá reunir no Rio de Janeiro aproximadamente 100 pessoas de 30 diferentes países. Mais informações: www.laquasig.bio.br/ brgishome.htm. PROMEC PEIXE - A produção de tambaquis, jatuaranas, curimatãs e outras espécies de peixes próprias da Amazônia deverá registrar um salto de pelo menos 3.000 ton/ano em Rondônia, com a implantação, pelo Governo do Estado, do Programa de Piscicultura Agroindustrial, que deve ficar conhecido como o ProMec Peixe. O projeto é uma parceria da Secretaria de Estado da Agricultura, Produção e do Desenvolvimento Econômico e Social (SEAPES). O Governo de Rondônia investiu até agora um total de R$ 1,805 milhão para dotar o programa do maquinário indispensável para que seja alcançada a meta de beneficiar 240 propriedades rurais no Cone Sul e no Vale do Jamari. Como os três frigoríficos especializados no processamento de pescado localizam-se em Vilhena, Pimenta Bueno e Ariquemes, o projeto será lançado inicialmente no Cone Sul e, posteriormente, no Vale do Jamari. O ProMec Peixe disponibilizará para os piscicultores, em parceria com a Sedam e a Emater/RO, a estrutura de apoio para se obter a carta-foto de cada propriedade, documento que dá origem ao licenciamento ambiental (obrigatório para todos os candidatos a participar do programa), uma equipe multidisciplinar de assessoramento, composta de três engenheiros- 8 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 REFERÊNCIA - Diretores do Sebrae de todo o Brasil visitaram o Arranjo Produtivo Local (APL) das ostras da Grande Florianópolis, projeto considerado modelo de gestão e controle sanitário no país. O grupo visitou cultivos e áreas de processamento de ostras e mariscos, no Ribeirão da Ilha. O almoço à base de ostras ajudou a comprovarem a qualidade do produto cultivado na região. O APL visa à promoção e ao desenvolvimento sustentável da mariculturacatarinense, através de ações pontuais junto aos produtores. Os produtores estão apostando em ações de divulgação do produto para abrir novos canais de comercialização. A estratégia, que inclui a participação em feiras do setor, integra o plano de comercialização e marketing do APL desenvolvido pelo Sebrae/ SC em parceria com os governos federal, estadual e municipal, entre outros parceiros. A participação em feiras visa promover o desenvolvimento sustentável da atividade e orientar a comercialização do molusco, atendendo à demanda dos maricultores que possuem o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). MAIS FRIGORÍFICO - A Copacol (Cooperativa Agroindustrial Consolata), fundada em 1963 por um padre e mais 32 agricultores catarinenses e gaúchos, inaugurou no dia 27 de junho, um frigorífico para abate e industrialização de peixes, em Nova Aurora, região Oeste do Paraná. Parte dos investimentos veio do Banco Regional de Desenvolvimento Sul - BRDE. O frigorífico terá capacidade para abater 10 toneladas de tilápia por dia. BIOCOMBUSTÍVEL DE ALGAS - Segundo artigo publicado no jornal “Los Angeles Times” e na revista “Forbes” em 29 de maio, uma empresa californiana afirma que pode produzir um combustível, à base de algas cultivadas, equivalente à gasolina. O “petróleo verde” poderá ser produzido dentro de três anos. O produto é neutro no que se refere ao carbono atmosférico, já que as algas absorvem da atmosfera tanto carbono quanto depois é emitido com a queima do combustível. O processo depende da fotossíntese e não afeta terrenos agrícolas que poderão ser utilizados para a produção de alimentos, uma vez que as algas serão cultivadas em zonas áridas e ensolaradas, em pleno deserto, com água não potável. Na aviação, os biocombustíveis produzidos a partir de algas podem vir a ser uma alternativa viável ao tradicional combustível de jatos. A Boeing, maior fabricante de jatos comerciais do mundo juntou- se à Algal Biomass Organization, entidade que tem como objetivo promover os biocombustíveis produzidos a partir da biomassa de microalgas, uma decorrência do preço cada vez mais elevado do barril de combustível de jato. A Virgin Atlantic Airways, uma das maiores companhias aéreas do Reino Unido, especializada em vôos intercontinentais de longo curso a partir das suas bases, foi a primeira companhia aérea a testar os biocombustíveis num dos seus Boeing 747, realizando um vôo sem passageiros entre Londres e Amsterdã parcialmente movido a óleo de côco e babaçu. A holandesa KLM Royal Dutch Airlines também já anunciou que planeia testar combustíveis produzidos a partir de algas pela empresa AlgaeLinke, esperando utilizá- los em 50 aviões da sua frota já em 2010. Agora chegou a vez da Japan Airlines (JAL). A companhia nipônica vai realizar um vôo de ensaio com um avião em que utilizará um biocombustível de algas junto do carburante habitual, segundo informou o diário “Japan Times”. Esta será a primeira prova deste tipo efetuada na Ásia, num Boeing 747-300 “Jumbo”, no qual um dos motores utilizará uma mistura de biocombustível, obtido à base de algas e plantas não comestíveis, junto ao combustível convencional para aviões. Nos restantes três motores do avião será utilizado o carburante habitual para aviões. Face à crise alimentar foi decidido substituir neste teste o biocombustível fabricado com arroz e outros alimentos por um criado a partir de algas e plantas não comestíveis, segundo o diário. Também a companhia alemã Lufthansa se propõe atingir metas de proteção ambiental para reduzir em 25 por cento as emissões de dióxido de carbono em 2020 utilizando biocombustíveis. FASHION BUSINESS - O setor da joalheria produzida no Estado do Rio de Janeiro, inovou no Fashion Rio, tradicional encontro de profissionais da moda e acessórios. Uma coleção de peças desenvolvidas com couro de salmão e tilápia foi apresentada no Fashion Business, a bolsa de negócios do evento. O Fashion Rio deste ano foi realizado de 10 a 13 de junho, na Marina da Glória, Botafogo - RJ. TECNÓLOGO EM AQÜICULTURA I - A Universidade Federal do Paraná - UFPR, a primeira instituição de ensino superior federal do Brasil a abrir o edital de concurso vestibular dentro do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), divulgou que, para o próximo concurso - cujas provas da primeira fase serão realizadas em 16 de novembro e da segunda em 7 de dezembro, em Curitiba e Palotina, estão sendo ofertados, além dos cursos de graduação convencional, doze outros de graduação tecnológica, entre eles o de Tecnólogo em Aqüicultura. As inscrições para o processo seletivo poderão ser realizadas através do www.nc.ufpr.br. TECNÓLOGO EM AQÜICULTURA II - Por unanimidade, o Colegiado Pleno do Conselho Universitário da UFCG, em Campina Grande, aprovou o projeto de criação do campus Sumé, onde funcionará o Centro de Desenvolvimento do Semi-Árido (CDSA), contemplando não só a região do Cariri paraibano, como também as regiões do Vale do Piancó e do Vale do Paraíba, através de pólos nas cidades de Itaporanga e de Itabaiana. No Pólo Itaporanga serão oferecidos vários cursos entre eles o de Tecnologia em Aqüicultura. MUSEU DA MARICULTURA - Uma parceria entre o Governo do Estado de Santa Catarina, uma empresa turística de Florianópolis e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento Local e Sustentável - Qualicity, vai resultar na construção de um porto turístico, que funcionará como um terminal de passageiros e estacionamento para embarcações. O projeto inclui ainda a instalação do Museu da Maricultura, além de restaurantes e lojas. A estrutura do empreendimento deve criar cerca de 5 mil empregos diretos e 20 mil indiretos. Notícias & Negócios 9Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Notícias & Negócios Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. Notícias & NegóciosOn-line De: Reinaldo Manfrim Duarte Júnior junior@mareterra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia Vimos através deste, apresentar nossa contri- buição sobre a reportagem vinculada na edição nº106 da revista Panorama da AQÜICULTU- RA intitulada como “A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia”. Alguns pontos muito relevantes não foram colocados na reportagem em questão, e precisam ser escla- recidos, para não ficar a falsa impressão de que o problema está apenas nos frigoríficos e não na cadeia de produção e comercialização como um todo. Devido à desvalorização do Dólar, os frigoríficos que exportavam filés frescos de tilápia para os Estados Unidos praticamente encerraram essa operação e passaram a destinar seus produtos para o mercado interno. O que precisa ser ressaltado é que o produto continua o mesmo, ou seja, o padrão de qualidade colocado hoje na mesa dos consumidores brasileiros é o mesmo que antes era colocado na mesa de consumidores norte americanos, e nem pode- ria ser diferente. A grande distorção que vejo na matéria é sobre o custo de produção desse filé, cuja logística é complexa e cara porque estamos tratando de filé fresco e não de um produto congelado, que poderia ser produzido a partir de uma ociosidade da planta frigorífica e armazenado para venda posterior. Portanto, hoje as plantas frigoríficas precisam disponibi- lizar mão-de-obra maior que, em alguns dias da semana, acaba ficando ociosa, de modo a atender aos pedidos de seus clientes. Um kg de tilápia, preço pago ao produtor, custa hoje ao frigorífico R$ 2,40 o que corresponde a R$ 8,28 de custo de filé com um rendimento de 29%. Até esse ponto parece ser um negócio extremamente lucrativo. Porém, precisamos entender que existem outros custos diretamente ligados a essa operação, e que a tornam quase deficitária. Embalagem - R$ 0,65/kg; Frete/Distribuição- R$ 0,39/kg; Custo de Processamento - R$ 2,66/ kg; Impostos - R$ 2,87/kg; Desconto comercial das redes - R$ 2,25/kg. Ou seja, o custo total da venda de um kg de filé de tilápia corresponde a R$ 17,10, e isto justifica o preço de venda de R$ 18,00 às redes varejistas (e não R$ 14,00, como mencionado na reportagem). Então, esse produto gera, atualmente, para o frigorí- fico, uma Margem de Contribuição de 5,25%, que ainda precisa cobrir todas as despesas com Marketing, Vendas, Despesas Administrativas, investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e, adicionalmente, gerar re- torno para o investidor. O que falta, por parte da indústria, é o desenvolvimento de produtos para o aproveitamento da matéria-prima que sobra na confecção dos filés, ajudando, assim, a diluir o custo do produto final. Por outro lado, também falta muito na área de produção, onde empresas de consultoria, produtores de alevinos e fábricas de rações deveriam pensar muito mais em desenvolver seus trabalhos visando a melhoria do sistema produtivo do que sim- plesmente visando o lucro imediato. Algum produtor de alevinos já assumiu o risco de colocar seu produto e estipular um preço com base na sobrevivência ou um percentual de desova de tilápias fêmeas? Alguma fábrica de ração assume algum risco por uma conversão alta ou simplesmente pelo não crescimento do peixe? Alguma empresa de assistência técnica responde pela implantação do seu projeto e pelo resultado apresentado nele? O próprio produtor está disposto a comprometer uma parte de seu lucro arcando com os custos de uma assistência técnica e manejo mais eficientes? É uma longa discussão que não pode e não deve ser coloca- da somente sobre os frigoríficos porque estes, assim como os produtores, tiveram os mesmos aumentos nos últimos anos com mão-de-obra, energia elétrica, embalagens, frete, impostos, etc.. O que me parece muito claro é que não é possível repassar isso ao consumidor que já paga R$ 24,00/kg, e não vai aceitar novos aumentos provavelmente migrando seu consumo para outras espécies. De: Jomar Carvalho Filho jomar@panorama-l.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia Prezados da Lista, o Reinado Júnior, da empre- sa Mar & Terra Indústria e Comércio de Pesca- do Ltda., enviou uma mensagem para esta lista com comentários sobre o artigo “A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia” da autoria do Fernando Kubitza, um dos destaques da última edição da Revista Panorama da Aqüicultura. Como o Fernando neste momento não está acompanhando as discussões da lista (o Fernando Kubitza acaba de ser pai do seu segundo filhote), eu enviei a mensagem do Júnior para que ele fizesse os seus comentários. Segue o que ele me enviou. “Júnior e demais participantes da lista, em primeiro lugar, gosta- ria de me retratar por não ter deixado claro na matéria que o preço de venda de R$ 14,00/kg (ali mencionado) é o valor efetivamente recebi- do pelo frigorífico após os descontos comerciais / contratuais dos hipermercados (alegando despesas com promoção, uso do espaço, etc.). O preço bruto de venda que tomei como base foi o de R$ 16,00/kg posto no hipermercado, descontados cerca de R$ 2,00. No caso que você menciona da Mar & Terra, vende a um preço bruto de venda de R$ 18,00/kg aos hipermer- cados e tem desconto de R$ 2,25/kg. Falamos então em um valor real de venda de R$ 15,75/ kg. Com quem eu conversei aqui em São Paulo antes de escrever a matéria, nenhuma mencio- nou um preço de venda de R$ 18,00/kg (a não ser com vendas diretas a algumas peixarias e restaurantes, onde o filé pode ser vendido até acima dos R$ 20,00/kg, porém estes segmentos não possibilitam grande volume de vendas). Mas da finalização da matéria até a chegada da revista nas mãos dos leitores, temos aí um mês ou um pouco mais, e podem ter ocorrido mu- danças nos preços de venda. Da mesma forma que no momento em que escrevi a matéria, o preço do filé de tilápia no hipermercado estava na casa dos R$ 23,90/kg, neste final de semana (29/maio), vi o filé a R$ 25,90/kg, talvez até um reflexo de um possível reajuste no preço pago aos frigoríficos. Sua nota foi importante para todos apreciarem a composição dos custos do filé fresco de tilápia padrão exportação. Os custos de processamento, embalagem, distribui- ção no seu demonstrativo somam R$ 3,70 (valor entre os R$ 3,50 e 4,00/kg que apontei 10 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Notícias & Negócios On-line na matéria). Ou seja, com mais ou menos R$ 8,30 da matéria prima (29% de rendimento), o custo do filé no frigorífico fica na casa dos R$ 12,00/kg (próximo dos R$ 10,70 a 11,50). Se o preço de venda deste filé for entre R$ 14,00 e 16,00/kg, a margem bruta do frigorífico ficaria entre 17 e 33% (como estimado na matéria, entre 20 e 30%). Falei em margem bruta, pois não me atrevi a calcular os impostos, visto a complexidade do assunto. Agora, com o seu comentário ficou claro o peso dos impostos (no caso da Mar & Terra, R$ 2,87/kg de filé) e a do desconto contratual dos hipermercados (R$ 2,25/kg). Com relação aos impostos não há muito o que os frigoríficos possam fazer. O que não pode é o frigorífico aceitar calado este desconto contratual dos hipermercados, que tolhem uma significativa parte dos lucros, que poderiam ser usados para turbinar a produção. Se o hipermercado vende a espetaculares R$ 25,90/kg um filé comprado da Mar & Terra a R$ 18,00, com um desconto de R$ 2,25/kg, a margem bruta do hipermercado na operação foi de 64%. Se imaginarmos isso em uma operação que dura uma semana no máximo, quanto seria o percentual bruto acumulado no mês para cada R$ 1.000,00 investido pelo supermercado na compra e venda do filé de tilápia? Jogue 64% por semana sobre estes R$ 1.000,00 (1.000 x (1+0,64)^4 = R$ 7.233,00). É uma máquina de fazer dinheiro, sem os riscos que um produtor tem de manter um estoque vivo na água. Que investidor não gostaria de colocar seu dinheiro num negócio desses? Não seria bom se houves- se um melhor equilíbrio na distribuição destes lucros? Você disse que na operação da Mar & Terra a margem bruta tem sido de 5,25% (para cada R$ 1.000,00 investido na semana temos R$ 1.000 x (1 + 0,0525)^4 = R$ 1.227,00). E como você espera que um produtor entenda isso, quando ele coloca os mesmos R$ 1.000 duran- te um período de engorda de 6 a 8 meses e mal consegue recuperar os custos, quanto muito um custo de oportunidade sobre o capital investido? Mas não podemos dizer que o supermercado é um grande vilão (como comentei no artigo). Ele está apenas fazendo sua parte no jogo comercial. E com isso, está valorizando bem o filé e até ajudando a cadeia produtiva, vendendo o filé a preço bem vendido. Quanto ele ofereceria pelo filé se somente conseguisse vender o mesmo, digamos, a R$ 19,00/kg ao consumidor final? O câmbio também não pode ser apontado como o grande vilão do setor. Com o supermercado pagando R$18,00/kg (sem a cara logística de fretes aéreos envolvidos na exportação) e con- siderando que o preço do filé fresco posto em Miami girava na casa dos US$ 7.00, podemos dizer que as vendas de filé hoje no mercado interno equivalem a um câmbio de R$ 2,57/US$ (R$ 18,00/US$7.00 = 2,57). Se destes R$ 18,00/ kg o supermercado desconta mais R$ 2,25 (ou seja paga R$ 15,75), ainda temos um equiva- lente a R$ 2,25/US$. O câmbio atual está na casa dos R$ 1,65/US$. Quer dizer que mesmo que o câmbio melhore até a casa dos R$ 2,25 (ou 2,60 se os frigoríficos conseguirem se livrar deste desconto contratual), a venda no mercado interno ainda continua sendo melhor negócio do que exportar (equacionando o custo adicional do frete aéreo e do despacho aduaneiro e a re- dução nos impostos para a exportação). A única questão que se levanta é se o mercado interno pode absorver volume semelhante ao que cos- tumava ser exportado? Minha resposta aqui ésim, pois isso já está acontecendo. O volume de produção dos frigoríficos hoje (e o número de frigoríficos espalhados pelo país) seguramente supera o que tínhamos em 2005/2006 quando as exportações atingiram seu clímax. A tilápia está presente nas grandes redes de supermerca- do em quase todas as capitais e grandes centros urbanos do país. E mesmo em pequenas cidades, por exemplo, aqui do interior de São Paulo. Nunca se viu tanta tilápia nos supermercados. Agora, o frigorífico, sem dúvida alguma, preci- sa repensar a estratégia de processamento. Os filés que tenho visto nos hipermercados aqui em São Paulo realmente são padrão exportação. E acho que isso pode ser mantido. Mas, como você mencionou, o custo com embalagens e logística para entrega deste filé fresco é consi- derável. O frigorífico tem que começar a traba- lhar com o filé congelado de alta qualidade. Isso, além de favorecer a logística de processamento e distribuição e reduzir custos com embalagens, agrega possibilita agregar um glaciamento (para melhor conservação e aspecto do produto). Este glaciamento soma aos 29-30% de rendimento do filé, mais 3 a 4% no peso do produto, dentro de limites legais e de padrões aceitáveis de percepção por parte do consumidor. O filé 11Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Notícias & NegóciosOn-line congelado também facilitaria a logística do próprio hipermercado na conservação (estoque) do produto. E hoje os hipermercados costumam colocar filés congelados nas gôndolas, onde eles descongelam sobre o gelo e são vendidos como fresco (é isso o que se faz com o filé de salmão e já vi isso com filé de merluza e certamente com qualquer um). E um filé fresco de um peixe recém abatido e congelado rapidamente, quando descongela, pouco perde em qualidade e aparência em relação a um filé fresco. E, como você comentou, a indústria também precisa dar aproveitamento ao restante da matéria-prima. Esse foi um dos pontos que analisamos em matéria publicada na Panorama (edição 94 março/abril 2006), ressaltado como fundamental para melhorar a situação dos frigoríficos. Sei que a Mar & Terra está fazen- do o aproveitamento da polpa, que deve ajudar vocês a reduzir um pouco o custo do filé dado o maior aproveitamento da matéria-prima bruta. Mas as demais processadoras, até onde vai o meu conhecimento, ainda não avançaram muito nessa questão. A ociosidade da mão de obra no frigorífico, como você argumentou em função da produção de filé fresco, no meu entender não vai deixar de existir na produção de filé congelado. Esta ociosidade é mais um problema de baixa oferta de matéria-prima por parte dos produtores do que do tipo de proces- samento do filé. E isso somente será resolvido com o produtor sendo adequadamente remu- nerado, o que não está acontecendo no mo- mento. O frigorífico tem seu quadro de funcio- nários fixo e processando filé fresco ou conge- lado, tem que arcar com o salário do pessoal da mesma forma. Se processa apenas dois dias na semana na plena capacidade e nos outros fica ocioso, não há como dispensar o pessoal. Isso é custo fixo. Tem é que arrumar matéria prima para processar na capacidade todos os dias. E como vai arrumar essa matéria prima se os produtores que o abastecem começam a sair da atividade? Vai ter que bancar a produção toda com recurso próprio? Vocês aí na Mar & Terra sabem o tamanho do risco de investir 8 ou mais meses na produção de um estoque vivo e estar sujeito a problemas de doenças, quali- dade de água, perdas de alevinos (no caso aí o pintado, de custo até mais elevado), etc.. Per- manecendo como está, tanto o frigorífico como o produtor vão ter que repensar sua decisão em ter investido no negócio. Alguns produtores que conheço já estão pensando em parar. Ou- tros já pararam. Outros estão já avaliando a opção do cultivo de outras espécies em tanque- rede. Uma delas é o pintado, que você sabe tão cedo ainda não vai atingir uma escala tão grande de produção quanto a tilápia devido às limitações na tecnologia de produção que fa- zem com que os preços dos alevinos e ração ainda sejam de pouco acesso a maioria dos produtores. Mas para os produtores e mesmo frigoríficos que dispõem de capital para inves- tir na criação e que hoje praticamente empatam com a tilápia, o pintado será uma opção muito interessante. Pois bem, prezados colegas, o desafio está aí. O frigorífico não pode contar com a hipótese de que o câmbio vai melhorar, que o preço da ração vai cair, o combustível não subirá de preço, a energia não sofrerá aumentos no país, etc., e etc. O jogo é aqui e agora. Se há alguém que pode ajudar a equilibrar a cadeia produtiva, este alguém é o elo entre a produção e os varejistas, ou seja, os frigoríficos. Não vejo outro embai- xador mais credenciado para isso na cadeia produtiva da aqüicultura”. Fernando Kubit- za - Acqua & Imagem De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia Prezados, este assunto que está em discussão, qual seja a cadeia de valor agregado do peixe é o que mais me interessa neste momento, por isso tenho estudado e pesquisado exaus- tivamente. Fico feliz que os números que eu levantei concordam plenamente com aqueles apontados pelo Prof. Kubitza a quem eu envio os meus votos de felicidades ao novo pimpolho e que ele seja muito feliz. Contudo, temos uma diferença de opinião quanto às análises dos números e o seu significado. Se começarmos pelo supermercado (leia-se hipermercados de primeira linha), eles cobram R$ 25,00 ou até mais pelo kg do filé porque os seus estudos de demanda assim o permite. As grandes cadeias tem algoritmos de cálculo de preços muito poderosos e o fator mais importante é o tempo em que leva para escoar a mercadoria. Já existe uma experiência na venda de filé de tilápia que permite dizer exatamente em quanto tempo (geralmente calculado em dias) o estoque com- prado por R$ 18,00 e vendido por R$ 30,00 vai escoar, e a margem de lucro analisada indica que o Supermercado é uma máquina de fazer dinheiro. Por outro lado, foram os frigoríficos (?) que colocaram este referencial de preços de venda de R$ 18,00, o qual é uma das variáveis dos cálculos das grandes cadeias? Ocorre que é necessário conceituar melhor o que são frigorí- 12 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Notícias & Negócios On-line ficos e quem colocou o patamar de preços neste nível. Existem dois tipos de frigoríficos quanto à origem da matéria prima: aqueles que compram de terceiros (como Mar & Terra, por exemplo) e aqueles que têm pro- dução própria como Tilápia do Brasil, Royal Fish e outros. A pergunta que cabe é: qual tipo de frigorífico detém a maior parcela do mercado: os que compram de terceiros ou os verticalizados? São duas estruturas de custo diferentes e, eu imagino que, se ambos vendem por R$ 18,00, a margem operacional dos verticalizados é muito maior do que a dos que compram de terceiros. Hoje, o preço de venda é R$ 18,00. Há um ano era R$ 12,00. Nesta época os verticalizados tinham que desovar os seus estoques pois não compensava (e ainda não compensa) exportar o filé com o dólar tão barato. Entregavam o filé a R$ 12,00 o que significava apenas recuperação de custos de produção e impostos. O que estamos vivendo é um mar turbulento onde sobrevive quem navega melhor. O problema do produtor é a dificuldade de calcular custos, pois se os cáculos de todos fossem corretos, eles não venderiam o peixe por R$ 2,80. Peixe fresco é um problema logístico muito grande, pois na cadeia de valor agregado, quem melhor paga é o consumidor final, seguido do restaurante. Porém, a distribuição direta para estes dois canais é supremamente difícil para o produtor. A conclusão é: o preço de venda para o frigorífico é de R$ 2,80 porque sempre existe alguém que se sujeita vender por este preço. Independentemente da convicção política de cada um, existe a lei demercado de oferta e procura que não foi revogada. Quem tem grana compra e quem não tem, fica sem. Ao invés de tentar burlar a lei da oferta e da procura com subsídio, Pronaf, licitação não onerosa (que eu repito, é ilegal do jeito que se fez no Castanhão), é preciso aprender a conviver com ela. É o que faz o supermercado: ele leva em consideração a demanda e a oferta para fixar o preço. Ou então ele pára de distribuir filé de tilápia. Neste caso, o frigorífico não verticalizado quebra, e em seguida o produtor. De: Reinaldo Manfrim Duarte Júnior junior@mareterra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia Prezado Oscar, na Mar & Terra trabalhamos praticamente com a venda de filés frescos. Como a reportagem abordou diretamente esse produto eu não fiz nenhum cálculo de custo sobre o filé congelado até porque não focamos nesse produto. Eu entendo perfeitamente o problema dos produtores e em nenhum momento eu manifestei alguma opinião contrária. Minha intenção como gerente de operações de uma indústria foi tentar mostrar que a cadeia produtiva como um todo tem seus problemas e que outros assuntos deveriam ser discutidos e não simplesmente “jogar” nas costas dos frigoríficos um problema da cadeia toda. Concordo plenamente com o Carlos Iannoni. Um dos grandes problemas hoje é volume de peixes suficiente para o aproveitamento dos resíduos. No caso do processamento do couro, já tivemos uma experiência anterior que não deu muito resultado. Ainda estamos à procura de uma parceria nessa área. Quem vai pagar a conta não sabemos mas, temos a certeza de que devemos avançar em melhorias em todas as fases da cadeia. Hoje nós já vendemos um produto a um preço um pouco maior do que outras empresas e precisamos fazer isso porque nossa tilápia é toda adquirida de terceiros, ao contrário de outros frigoríficos que operam na cadeia toda. Nosso maior problema é que, se aumentarmos ainda mais o preço para as redes varejistas, corremos um sério risco de sairmos totalmente do mercado e deixarmos os nossos produtores integrados literalmente na mão. 13Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 A Schering-Plough está lançando no mercado o produto “Aquaflor* 50% Premix”, uma novidade no combate às doenças de peixes, em especial a tilápia e a truta. O Aquaflor* é o primeiro antibiótico desenvolvido e registrado especialmente para o tratamento de doenças bacterianas em criações comerciais de peixes. O produto é elaborado a base de florfenicol, com estrutura molecular única e eficácia comprovada frente a bactérias que já apresentam perfil de resistência frente a outros antimicrobianos. Se- gundo afirma Fernando Heiderich, Diretor Presidente da Schering- Plough Saúde Animal no Brasil, com o lançamento a aqüicultura brasileira ganha um dos mais expressivos diferenciais competitivos de todos os tempos, já que o piscicultor poderá potencializar sua produção e maximizar sua rentabilidade. O medicamento confere total segurança em relação à qua- lidade do produto final, ao mercado consumidor e às exportações. O Aquaflor* já é usado, com comprovada eficácia, em países como Noruega, Japão, Chile, Canadá, Inglaterra, México, entre outros. Nos EUA foi o único produto que conseguiu registro nos últimos 20 anos para uso aqüícola, junto a criações de catfish, salmão e truta. No Brasil, foram realizados testes “in vitro” na Universidade Federal de Lavras, que demonstraram total eficácia do florfenicol frente aos dois gêneros de bactérias de maior im- pacto econômico junto às criações intensivas de peixes no Brasil, sendo elas, os Streptococcus e as Aeromonas móveis. Estudos diversos demonstram que o florfenicol presente no Aquaflor* é rapidamente absorvido pelo organismo dos peixes e disponi- bilizado em concentrações plasmáticas elevadas, o que resulta em alta eficácia no tratamento. Além disso, o produto possui uma excelente palatabilidade, otimizando o consumo da ração medicada pelos peixes e garantindo a correta dose terapêutica e eficácia do tratamento. O produto pode ser incorporado tanto junto às fábricas de ração como também pode ser administrado diretamente sobre os “pellets” da ração por meio da incorporação superficial do medi- camento com auxílio de óleo vegetal ou de pescado. Schering-Plough lança antibiótico para peixe Impacto econômico O grande impacto econômico causado pelas Estreptococoses deve-se à faixa de idade em que as tilápias adoecem. Frequentemente são observadas altas mortalidades em populações adultas, acima de 150 gramas, particularmente nas épocas mais quentes do ano. A alta taxa de mortalidade nesta fase da criação acarreta enormes perdas econômicas, principalmente devido aos investimentos já capitalizados na engorda dos animais (custeio com ração), queda de produtividade e aumento da conversão alimentar. Dependendo da gravidade da infecção e do estado imunológico dos animais, mortalidade de até 30% do plantel pode ser observada em poucos dias, caso não seja feito nenhum tipo de tratamento. Estimam- se perdas anuais acima de U$150 milhões associadas a esta bacteriose na piscicultura mundial. Apenas nos EUA estimam-se perdas acima de U$ 10 milhões em criações intensivas de tilápias. No Brasil, ainda não existem dados estatísticos associados às perdas econômicas relacionadas a esta bacteriose. No entanto, podem- se estimar enormes prejuízos considerando-se que altas mortalidades são freqüentemente observadas nos pólos produtores associadas a diagnósticos positivos para esta enfermidade. Sobre a Schering-Plough A Schering-Plough é uma empresa global de cuidados com a saúde centrada na ciência e orientada pela inovação. Através de sua própria pesquisa biofarmacêutica e colaborações com parceiros, a Schering- Plough cria terapias que ajudam a salvar e a melhorar vidas no mundo todo. A empresa aplica sua plataforma de pesquisa e desenvolvimento a produtos de saúde humana de prescrição e consumo, bem como aos pro- dutos de saúde animal. A visão da Schering-Plough é “Ganhar confiança a cada dia” dos médicos, pacientes, clientes e todas as demais pessoas e instituições servidas por nossos funcionários ao redor do mundo. A empresa está sediada em Kenilworth, N.J., e seu site na Web é www. schering-plough.com 14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Sanidade Aqüícola CERTIFICAÇÃO SANITÁRIA NA AQÜICULTURA Prezados leitores, na coluna “Sanidade Aqüícola” desta edição abordaremos a “certificação sanitária na aqüicultura”, um tema que está começando a ser discutido entre produtores, técnicos e órgãos de fiscalização no Brasil, envolvidos na produção de peixes e outros animais aquáticos. Certificar um produto ou processo significa atestar que esse possui certos padrões de qualidade ou foi produzido de maneira uniforme, atendendo a parâmetros pré- determinados pela empresa certificadora, mercado consumidor ou órgão governamental. Semelhante a outros tipos de certificação, a sanitária assegura que o produto que está sendo comercializado tem um padrão ou característica desejável (muitas vezes imprescindível como para fins legais) para o comprador, nesse caso específico, a ausência de doenças ou microorganismos patogênicos. Na aqüicultura, como em outros segmentos da produção animal, existem dois tipos de certificação sanitária: a certificação para o mercado e a certificação sanitária para fins legais ou obrigatórios, como política pública de prevenção e controle de doenças e proteção da atividade no país. O primeiro tipo atende objetivos mercadológicos, ou seja, certifica que os animais comercializados (peixes ou camarões) estão livres das doenças que causam prejuízos e impacto econômico para a produção. Já a certificação sanitária para fins legais ou obrigatórios, é realizada pelos órgãos governamentais de fiscalização. Essa tem por objetivo monitorar, controlar e informar a ocorrência das chamadas “doenças de notificação obrigatória”,que são as que causam prejuízo direto na produção e comprometem o comércio internacional, além de outras enfermidades importantes para produção do país em questão. Ao longo desse artigo, explicaremos os principais conceitos da certificação sanitária, o que atualmente se preconiza e o que está sendo realizado em pisciculturas e carciniculturas no Brasil e no mundo. Por: Henrique César Pereira Figueiredo - e-mail: henrique@ufla.br Médico Veterinário, professor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras Coordenador do AQUAVET - Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Carlos Augusto Gomes Leal – Médico Veterinário, Mestrando em Ciências Veterinárias – Universidade Federal de Lavras A Certificação Atualmente, peixes e outros produtos aqüícolas são as princi- pais fontes de proteína de origem animal para um bilhão de pessoas ao redor do mundo, e a maior parte dessa demanda é suprida pela aqüicultura comercial. Diretamente proporcional ao incremento da atividade, a competitividade no mercado interno e externo se torna cada vez mais acirrada. Em tal situação, para mantermos velhos clientes e adquirirmos novos mercados é necessária uma produção eficiente e economicamente viável, visando um produto de qualidade a um preço competitivo. Para isso, o controle sanitário da produção é importante, pois um animal saudável terá um bom desempenho produtivo, a um custo baixo e originará produtos com boas características e sem riscos ao consumidor. A certificação sanitária introduz-se nesse ponto como uma forma de padronizar e garantir que estamos comprando ou vendendo um produto confiável, que passou por um controle criterioso da presença de doenças durante todo cultivo e no momento da venda. Para discutir tais questões explicaremos a seguir, com exemplos práticos, a certificação sanitária como política pública (para fins legais) e a certificação sanitária para mercado. Certificação Sanitária como Política Pública O comércio internacional de produtos agropecuários vem crescendo vigorosamente desde o início do século XX. Com ele a disseminação de pragas e doenças entre diferentes continentes e países foi um efeito colateral comum no século passado. A intro- dução de uma doença ocasiona enormes prejuízos para a produção local, podendo até acabar completamente com a atividade no país. Como forma de proteger suas produções agropecuárias os países começaram a adotar medidas sanitárias para evitar a entrada de doenças e pragas em seu território. No ano de 1924, com o obje- tivo de discutir e padronizar as condutas sanitárias na produção e comércio internacional de produtos de origem animal foi criada a Organização Internacional de Epizootias (OIE, do francês “Office International des Epizooties”) atualmente conhecida por Organi- zação Mundial para a Saúde Animal. Essa organização não possui poder punitivo, sendo apenas um acordo entre os países membros. Apesar disso, as decisões e normas da OIE são acatadas por todos 15Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 M ortalidade de peixes Cultivo de ostras Sanidade Aqüícola os membros, pois caso contrário à credibilidade internacional do país que não acatar fica comprometida, prejudicando ou bloqueando a comercialização de seus produtos no mercado externo. O Brasil é um dos países signatários e membro fundador dessa organização, com partici- pação ativa devido, inicialmente, aos surtos de febre aftosa em bovinos. A OIE é dividida em vários comitês, existindo um que trata exclusivamente de doenças de animais aquáticos. Esse é formado por cientistas e especia- listas do mundo inteiro, que discutem e determinam os princípios da sanidade nesses animais. No ano de 2007 foi publicada a última edição do “Aquatic Animal Health Code” ou Código de Sanidade de Animais Aquáticos (http://www.oie.int/eng/normes/ fcode/A_summry.htm), que trata das principais diretrizes do diagnóstico, notificação, prevenção e controle de doenças de notificação obrigatória para animais aquáticos. Apesar de parecer distante de nossa realidade, todos sofremos com os reflexos das diretrizes regidas pela OIE e adotadas pelos países membros. Um exemplo prático pode ser observado atualmente numa ida ao supermercado, onde consta- tamos os altos preços da carne bovina. Há dois anos, a Rússia e alguns países da Europa pararam de comprar a carne brasileira, devido à ocorrência de um surto de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Como essa é uma doença de notificação obrigatória, o Brasil, como membro, notificou à OIE, que publicou um aviso da ocorrência da enfermidade aos países membros. Depois da publicação esses países passaram a ter o direito de não com- prar nossa carne, da mesma forma que não pudemos contestar, considerando a nossa falha sanitária. Agora, em 2008, após o controle do surto e tomadas às providências recomendadas pela OIE, esses países voltaram a comprar a nossa carne, aumentando assim a demanda externa e elevando o preço desse produto no mercado interno. Existem, portanto, as doenças de notificação obrigatória. Essas são separadas por espécies de animais sensíveis, mas existem também aquelas que podem acometer várias espécies. Nas tabelas 1 e 2 são apresentadas, respectivamente, as doenças de peixes e crustáceos que são de notificação obrigatória para OIE (http://www.oie.int/eng/maladies/en_classification2008. htm?e1d7), bem como a natureza do agente causador de tais enfermidades. Tabela 1: Doenças de peixes de notificação obrigatória para OIE Tabela 2: Doenças de crustáceos de notificação obrigatória para OIE Até o presente momento, os piscicultores brasileiros vi- vem uma situação confortável quanto às doenças de notificação obrigatória para a OIE, pois nenhuma delas foi diagnosticada no Brasil. Portanto, tecnicamente não temos empecilhos quanto à comercialização de peixes para o exterior. Isso porque a maioria das doenças de notificação obrigatória para peixes ocorre so- mente em animais pouco cultivados no Brasil, como as espécies de salmão e truta, híbridos de “striped bass”, bacalhau, dentre outras. Porém, não quer dizer que não possamos ter futuramente doenças de peixes descritas no Brasil e que a OIE ache necessário o controle e notificação obrigatória. Já na carcinicultura o panorama é diferente. No período de janeiro de 2005 a dezembro de 2007, quatro casos da doença da mancha branca foram notificados no mundo, sendo dois no Brasil. Porém, essa doença não é um problema apenas em nosso país. Amplamente disseminado pelo mundo, o vírus da mancha branca acomete carciniculturas tanto em países em desenvolvi- mento como em países desenvolvidos, que teoricamente possuem programas e procedimentos sanitários mais rigorosos. O caso mais recente notificado à OIE (Ref. OIE: 7127) ocorreu no Ha- waii (um estado norte americano) no dia 19 de junho deste ano. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o fato ocorreu em um tanque de uma propriedade comercial vol- tada à produção de Litopenaeus vannamei, localizada na ilha de Kauai. Quarentena e o controle do trânsito de animais no país inteiro (independentemente do fato ter ocorrido em um estado não continental) foram as principais medidas sanitárias adotadas no controle desse surto. Outra doença de notificação obrigatória importante para carcinicultura nacional é a mionecrose infecciosa (NIM). Essa enfermidade parece circular no país desde o ano de 2004. Altamente prejudicial, foi incluída na última atualização da lista de doenças de notificação obrigatória da OIE, realizada no dia 21 de janeiro de 2008. O primeiro caso de NIM notificado à OIE foi um brasileiro (Ref. OIE: 7090). Homologada no dia 4 de junho deste ano, essa notificação mostra que o vírus é vigente no país e medidas sanitárias ou até mesmo um programa de controle e erradicação da doença deve ser criado. 16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 17Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Cultivo de ostrasSanidade Aqüícola Para isso o monitoramento e controle do trânsito de animais no país é extremamente importante. No Brasil esse é realizado pela Guia de Transporte Animal (GTA). Esse documento oficial permite rastrear para onde seguiram os animais após o aparecimento do foco da doença. De posse dessa informação os órgãos de defesa agropecuária podem determinar a proporção e a disseminação do problema a partir do foco inicial, bem como instaurar atividades de controle do surto nas localidades acometidas. Doenças de Notificação Obrigatória à OIE Que atributos são considerados para que uma doença seja classificada como de notificação obrigatória pela OIE? De modo geral todas as doenças de notificação obrigatória são de fácil disseminação entre os animais e causam elevadas perdas econômicas e, por vezes, elevada mortalidade. São doenças de difícil controle por medidas terapêuticas (uso de remédios), e são passíveis de erradicação, ou seja, o agente causador pode ser eliminado de toda uma região geográfica. É por isso que a maioria das doenças de notificação obrigatória da OIE é causada por vírus (Tabelas 1 e 2), que são agentes infecciosos que muitas vezes se enquadram em todos os requisitos citados. A notificação de doenças obrigatórias à OIE é realizada pelo setor veterinário do órgão de fiscalização agropecuária do país, no caso do Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para isso, o profissional necessita da confirmação do diagnóstico através de exames laboratoriais. Esses testes são realizados em laboratórios credenciados pela OIE e os exames a serem realizados variam de acordo com a suspeita, sendo padronizados pelo “Manual de Testes Diagnós- ticos para Animais Aquáticos” da OIE (“Manual of Diagnostic Tests for Aquatic Animal”). Imediatamente após a obtenção dos resultados a OIE é notificada do caso. Posteriormente, a solução para o problema fica a cargo do país acometido. A resolução dos problemas e prevenção de novos casos é importante não só do ponto de vista sanitário, mas também comercial. Problemas sanitários na produção são os argumen- tos mais comuns utilizados por outros países quando querem impedir a entrada de produtos agropecuários do Brasil, um país altamente competitivo no mercado internacional. Estamos sujeitos a isso, da mesma forma que utilizamos tais estratégias para nos proteger e competir no mercado. Isso pôde ser visto claramente em um impasse recente que aconteceu entre o Brasil e o Chile, com a ameaça recíproca de parada de importação da carne brasileira e de importação do salmão chileno. Um exemplo interessante de política pública de certi- ficação sanitária é a vigente na Comunidade Européia (CE). Conforme a diretiva 2006/88/EC do Conselho da Comunidade Européia, as propriedades que produzem peixes e outros animais aquáticos são classificadas em cinco categorias, em função de seu status sanitário (Tabela 3). Essa classificação define que tipo de comercialização de animais pode ser feita por cada fazenda. Como podemos ver na figura 1, de acordo com a classificação, as fazendas ou empresas só podem fornecer animais para determi- nadas categorias e só adquirem de categorias com melhor status sanitário. Esse tipo de modelo garante uma maior segurança ao setor e força as propriedades menos criteriosas a se adequarem ou terão seu mercado restringido. Porém, apesar de muito interessante, esse modelo possui algumas falhas. A principal delas é a permissão do trânsito de animais entre propriedades da categoria III. Essas têm caráter sanitário indefinido, podem estar veiculando patógenos entre fazendas livres das doenças, porém ainda listada dentro dessa categoria, e propriedades infectadas. Mas esse quadro atual na Europa se justifica pelo recente ingresso de países do leste europeu à CE e necessidade de maior tempo de adaptação destes aos critérios de controle sanitários já estabelecidos na Comunidade. No Brasil existe ainda a dificuldade no diagnóstico de doenças de peixes e camarões, devido à falta ou número redu- zido de laboratórios especializados na área. Isso compromete a implementação de uma política pública de certificação sani- tária, como a da União Européia. A existência de ferramentas diagnósticas é um procedimento essencial para tal. Iniciativas governamentais nesse sentido seriam interessantes, pois um maior número de laboratórios aumentaria o acesso, facilitaria Tabela 3: Classificação das propriedades de produção de peixes e outros animais aquáticos de acordo com a legislação da Comunidade Eu ropé ia . Na tabe la pode-se observar quais categorias de fazendas podem fornecer animais e de quais elas podem adquirir, de acordo com o status sanitário da propriedade 18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Sa ni da de A qü íc ol a Figura 1: Fluxograma do trânsito de animais entre propriedades de diferentes categorias, de acordo com a classificação realizada pela legislação da União Européia. O trânsito de animais só é feito em uma direção, exceto para categoria I, onde a aquisição e fornecimento de animais podem ocorrer entre propriedades dessa classe. Idem à categoria I a categoria III também pode realizar esse tipo de movimentação de animais. o diagnóstico e a realização de levantamentos sobre a situação sanitária nacional. Necessitamos dessas informações básicas para a construção de programas nacionais de levantamento e controle de doenças de animais aquáticos, para posteriormente partirmos para a certificação do status sanitário de regiões e estados do país. Certificação Sanitária para o Mercado Durante a Segunda Guerra Mundial as indústrias bélicas inglesas necessitavam de padrões e normas estritas, que fossem rotineiramente realizadas e documentadas com o objetivo de evitar acidentes e otimizar a produção. Nesse contexto surgi- ram os processos de certificação para o mercado. Atualmente, existem vários tipos de certificação, de maneira geral todas elas são fundamentadas na realização de um conjunto de procedimentos e práticas que levam à obtenção de um produto final padronizado e de qualidade. Dentro dessas diretrizes, a certificação sanitária para aqüicultura objetiva a obtenção de animais ou produtos atestadamente livres das doenças importantes para atividade na região ou país. Diferentemente da certificação sanitária como política pública, a certificação para o mercado é voltada para aqueles patógenos ou doenças que são importantes no dia a dia da produção, sendo ou não de notificação obrigatória para a OIE. Por exemplo, uma das doenças de maior relevância para a tilapicultura nacional é a encefalite por Streptococcus (principalmente S. agalactiae). Como visto na tabela 1, esses microorganismos não estão listados entre as doenças de notificação obrigatória da OIE. Porém, causam enormes prejuízos para os produtores, devido às altas taxas de mortalidade de peixes no pré-abate e custo com o tratamento. A forma mais comum de introdução desses patógenos em um plantel é através da aquisição de peixes (alevinos, juvenis ou matrizes) portadores assintomáticos, Baixo Risco Categoria 1 Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4 Categoria 5 Risco Moderado Alto Risco que não apresentam sinais clínicos da enfermidade. Por- tanto, obviamente a aquisição de animais livres desses patógenos é interessante, sendo a certificação sanitária o caminho para que os fornecedores garantam um produto com tal característica. No Brasil o fluxograma da produção de peixes é representado na figura 2. Como podemos observar nessa figura, a produção no país é segmentada, ou seja, existem os larvicultores e os produtores que realizam recria e engorda, existindo movimentação de animais entre dife- rentes propriedades, regiões e estados. Já visitamos, por exemplo, uma larvicultura de tilápias que vendia alevinos para mais de dez estados brasileiros. Essa condição é sa- lutar, mas deve ser acompanhada de um controlesanitário e de ferramentas de certificação que assegurem o status de saúde dos animais vendidos. Figura 2: Representação esquemática das diferentes etapas da produção de peixes no Brasil. Atualmente, a aquisição de reprodutores representa pequena parte desse fluxo de animais, sendo a produção dos alevinos e comercialização desses a forma mais comum de trânsito de peixes entre diferentes propriedades. A certificação sanitária não consiste apenas da realização de exames nos lotes de alevinos e pós- larvas no momento da comercialização, para atestar a ausência de doenças. Ela é baseada na implementação de um “Programa Sanitário” específico, que envolve diversos procedimentos e práticas, aplicados de acordo com a realidade observada na propriedade ou empresa. Esse tem caráter exclusivo, devido à grande diver- sidade de sistemas de cultivo e fazendas existentes, cada qual com suas particularidades e necessidades distintas. Para facilitar o entendimento serão descritos os principais procedimentos e etapas realizadas du- rante um processo de certificação sanitária, utilizando como exemplo uma larvicultura comercial de tilápia do Nilo. O primeiro passo para a certificação é a identifi- cação dos principais problemas vigentes na proprieda- de. Durante esse período, é realizado o levantamento 19Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Cultivo de ostras Sanidade Aqüícola de informações sobre a produção, índices produtivos, manejo, etc, bem como a coleta de material e realização de exames la- boratoriais para o diagnóstico de doenças. Esses procedimentos são feitos tanto nas matrizes como nos alevinos em diferentes estágios de desenvolvimento. De posse dessas informações é possível determinar quais doenças estão presentes, a distribui- ção delas na propriedade, os sistemas de cultivo acometidos e a possível dinâmica da enfermidade no plantel. A partir disso inicia-se o controle e erradicação das doenças, que envolve o descarte de animais e tratamentos terapêuticos com antibióticos e substâncias desinfetantes, de acordo com o problema e situ- ação da propriedade. Caso a larvicultura não possua patógenos detectáveis nesse momento, medidas de manutenção do status negativo devem ser implementadas. Assim, partimos para a implementação das práticas de biosse- gurança. Essas têm por objetivo impedir a recorrência das doenças e evitar a entrada de novos patógenos e parasitas na propriedade. Nessa etapa é realizado o treinamento dos funcionários, um passo extremamente importante, pois eles devem ser capazes de identificar o menor sinal de problema e realizar os procedimentos básicos para controlar ou conter as possíveis eventualidades até a chegada do pro- fissional responsável. Não descreveremos todos os procedimentos de biossegurança aplicáveis, pois são muitos. A monitoração constante da presença de doenças é o que garante a eficiência do programa e atesta que os lotes que serão vendidos estão livres de doenças. Os exames laboratoriais de rotina são realizados a partir de amostras de sangue e outros tecidos dos animais adultos (coleta feita sem a "A implementação das práticas de biossegurança tem por objetivo impedir a recorrência das doenças e evitar a entrada de novos patógenos e parasitas na propriedade" 20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 necessidade de sacrifício de matrizes) e de amostras de alevinos coletadas nos lotes em fase de comercialização. Na terceira etapa é realizada a avaliação do pro- grama quanto a seu funcionamento, eficiência e resul- tados obtidos. Apesar de parecer a etapa mais fácil ela é a chave do processo de certificação. Durante tal etapa, devem ser detectadas as falhas que estão ocorrendo ou podem vir a ocorrer, comprometendo todo o trabalho realizado. Na realidade essa etapa dura indefinidamente, pois o monitoramento, avaliação e correção de falhas no programa devem ser sempre realizados. Com o pro- grama em pleno funcionamento podemos afirmar que os produtos oriundos desta propriedade estão livres das principais doenças para a espécie. A certificação sanitária confere um atributo comercial diferenciado ao produto. Além disso, ela permite que vendedor e comprador estejam seguros que o produto comercializado entre eles é de qualidade. Isso é importante nos dias de hoje, pois além da sobrevivência no mercado queremos também que nossos clientes se mantenham na atividade por tempo indeterminado, e para isso as relações devem ser sólidas. Durante conversas com produtores e técnicos sobre certificação sanitária da produção somos questionados se esse procedimento não seria só mais uma despesa ao produtor, uma incoerência sabendo da estreita margem de lucro obtida atualmente. Não existem experiências nacionais de certifica- ção sanitária de pisciculturas e carciniculturas. Um exemplo interessante foram os resultados obtidos em um projeto de cooperação técnica realizada pela FAO (órgão vinculado a ONU) e da Rede de Centros de Aqüicultura da Ásia - Pacífico (NACA, sigla em inglês) com pequenos produtores de camarão da região de Andhra Pradesh, Índia. As carciniculturas dessa região têm graves problemas com surtos de doença da man- cha branca. Os técnicos selecionaram diversas fazendas, com características de produção semelhantes, dividindo-as em dois grupos: grupo um, fazendas onde foi implementado um manejo sanitário e utilizadas pós-larvas certificadamente livres do vírus da mancha branca; e grupo dois, fazenda sem manejo sanitário e utilizadas pós-larvas comuns. O manejo sanitário implemen- tado no grupo um é semelhante ao programa sanitário utilizado durante o processo de certificação sanitária de uma propriedade. Os resultados obtidos são apresentados na tabela 3. Apesar da diferença no tempo de cultivo, os índices produtivos com a implementação do manejo sanitário foram significativos. Esses dados demonstram que além de um produto de maior qualida- de, a implantação de certificação sanitária auxilia na eficiência produtiva da fazenda. Tabela 4: Resultados obtidos nos grupos de fazendas de camarão submetidos a diferentes manejos e com pós-larvas de distintos status sanitários para a mancha branca (Adaptado de Subasinghe, 2005) * manejo sanitário + pós-larvas certificadas ** sem manejo sanitário + pós-larvas comuns A maior especialização da cadeia produtiva da aqüicultura no país, inclusive com a certificação sanitária, será definidora da eficiência produtiva e da lucratividade futura. No histórico do Brasil tanto a certificação sanitária governamental quanto a mercadológica só foram à frente quando produtores e governo trabalharam em conjunto. Isso foi o definidor da internacionalização da carne suína, bovina e de aves do país. Os fatos recentes de nossa aqüicultura expõem claramente a necessidade de atitude semelhante. *** Os trabalhos desenvolvidos no AQUAVET são Financiados pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e CNPq. Sa ni da de A qü íc ol a 21Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 22 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Diagnóstico de doenças de moluscos marinhos: Medidas de controle de doenças Medidas profiláticas foram estabelecidas a nível mundial para prevenir e monitorar o aparecimento de possíveis agentes patogênicos; sendo uma destas medidas o uso de uma legislação preventiva. Destaca-se, neste sentido, a OIE que desenvolveu um Código de Saúde para Animais Aquáticos (OIE 2007) incluindo normas, diretrizes e recomendações para velar pela segurança sanitária no comércio de animais aquáticos (www.oie. com). Este Código lista as doenças de notificação obrigatória para moluscos; esta pode sofrer modificações periódicas segundo a necessidade e avanços científicos. A OIE incentiva os diferentes países a utilizar as normas previstas neste código e ao mesmo tempo criar uma legislação própria baseando-se na realidade local. Como exemplo, a União Européia criou duas diretrizespara esta finalidade. A primeira (Diretriz 91/67/CEE) define as condições de vigilância sanitária que regem no mercado a introdução de animais e produtos da aqüicultura. No caso de bivalves, duas doenças endêmicas são de declaração obrigatória, a saber, bonamiose e marteiliose, causadas pelos protozoários Bonamia ostreae e Marteilia refringens, respectivamente. Já a segunda (Diretriz 95/70/CE), específica para moluscos, define as medidas mínimas de combate às mortalidades anormais (mortalidades súbitas) e am- plia a lista anterior de doenças, incluindo também as doenças causadas por parasitas exóticos à Europa, a saber, Bonamia exitiosa, Bonamia roughleyi (= Microcytos roughleyi), Marteilia sydneyi, Microcytos mackini, Perkin- sus marinus, Perkinsus olseni (= Perkinsus atlanticus), Haplosporidium nelsoni, Haplosporidium costale e Candidatus Xenohaliotis californiensis. Ainda, estas leis definiram os Laboratórios Nacionais de Referência para Doenças de Moluscos na Europa e o Laboratório da Comunidade Européia de Referência para Doenças de Moluscos (no IFREMER, sediado em La Tremblade, França) delegando-lhes inúmeras funções e obrigações, entre elas, a de realizar o diagnóstico oficial, de estabelecer métodos de diag- nóstico e de consolidar programas de vigilância sanitária dos estoques de moluscos bivalves. No entanto, devido ao rápido desenvolvimento da produção de moluscos, a União Européia sentiu a necessidade de ampliar as medidas de controle sanitário dos moluscos incluindo seus derivados uma prática para o bom desenvolvimento da maricultura Por: Dra Patrícia Mirella da Silva Pós-doutoranda do Laboratório de Imunologia Aplicada à Aqüicultura e do Núcleo de Diagnóstico e Patologia em Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina e-mail: mirella_dasilva@hotmail.com O consumo de bivalves no Brasil vem crescen-do sobremaneira e o consumidor está cada dia mais habituado a encontrar mariscos à venda nas peixarias e supermercados. Este fato decorre de vários fatores, entre eles o do próprio cresci- mento da produção. Ainda, a implantação do selo de inspeção federal (SIF) permitiu a exportação de moluscos para outros estados brasileiros e cer- tifica a qualidade do produto final para o consumo humano. Em vista deste sucesso crescente, se faz necessário também um controle dos agentes pato- gênicos que acometem os moluscos para garantir a sustentabilidade da atividade. O cultivo de moluscos não é uma atividade recente. Contudo, sua intensificação resultou e ainda resulta numa das principais causas, do aparecimento de doenças, ou epizootias. A propa- gação de enfermidades nos estoques de bivalves está em parte relacionada às práticas de cultivo, que implicam quase sempre em altas densidades populacionais; que acabam por alterar seu estado fisiológico e imunológico, tornando estes orga- nismos mais susceptíveis à infecções, que pode culminar em mortalidades em massa. Neste contexto, este artigo tem por objeti- vo abordar alguns aspectos referentes à sanidade de moluscos de importância comercial, incluin- do: (1) recomendações internacionais para o controle sanitário; (2) métodos de diagnóstico de doenças de declaração obrigatória da Organi- zação Mundial para a Saúde Animal (OIE) e, (3) uma breve revisão das patologias de moluscos no mundo e no Brasil. 23Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 Diagnóstico de doenças e criou uma nova Diretriz (2006/88/CE) que unifica e amplia as duas diretrizes anteriores. No Brasil, até muito recentemente não existia uma legislação similar à descrita acima, mas em 2003 foi criado o Programa Nacio- nal de Sanidade de Animais Aquáticos (PNSAA, Portaria nº 573, de 4 de junho de 2003; Instrução Normativa nº 53 de 2003), que tem como objetivo efetuar o controle sanitário em estabelecimentos de aqüicultura, assim como evitar a introdução de doenças exóticas e controlar e erradicar aquelas existentes no país. O órgão responsá- vel pela criação de normas, coordenação e execução das atividades previstas neste programa é o Departamento de Defesa Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e, as ações de campo do programa estão sob responsabilidade da Dele- gacia Federal de Agricultura (DFA) e das Secretarias Estaduais de Agricultura. No entanto, é importante relatar que o Brasil acaba de dar um passo muito importante na prevenção e controle de doenças de animais aquáticos, com o lançamento da Portaria nº 86, de 06 junho de 2008, que submete a consulta pública o projeto de Instrução Nor- mativa que aprova o Regulamento Técnico do PNSAA. O conteúdo desta instrução é abrangente e inclui todos os aspectos básicos do processo de controle sanitário; citam-se aqui apenas alguns pontos: 1) doenças de notificação obrigatória são àquelas relacionadas pela OIE, exóticas ou que ameacem a economia do país e devem ser obrigatoriamente notificadas e investigadas pelo veterinário oficial, em até 48h; 2) um sistema de vigilância e informação com colheita de amostras oficiais deverá ser implantado; 3) laboratórios serão credenciados e as metodologias por eles utilizadas serão inicialmente as da OIE, tendo seus resultados divulgados de forma controlada; 4) o trânsito (internacional e nacional) de animais aquáticos, seus produtos e subprodutos será regulamentado e condicionado à análise de risco, quarentena, atestação sanitária, entre outros. Certamente, esta nova legislação brasileira, após entrar em vigor e, se corretamente aplicada, resultará em um controle altamente eficiente das doenças de animais aquáticos. No entanto, cabe ressaltar que esta exigirá a incorporação de profissionais especializados, assim como, o estabelecimento urgente de laboratórios nacionais de refe- rência para cada um dos principais grupos de organismos aquáticos (peixes, crustáceos e moluscos); especialmente se considerar-mos que a suspeita de uma doença de notificação obrigatória em estabe- lecimento de aqüicultura implicará na colheita de amostras e envio para o diagnóstico em um laboratório oficial ou credenciado (Cap. III, Art. 7, § 1º - Projeto da Instrução Normativa). No que se refere ao estado de Santa Catarina foi ainda criada uma lei (CONAMA nº 021/2002) que se aplica aos organismos aquáticos, e que estabelece como órgão executor do controle sa- nitário, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC). Esta lei lista uma série de organismos que devem ser monitorados, mas surpreendentemente não inclui as doenças causadas por protozoários dos gêneros Perkinsus e Bonamia (de declaração obrigatória da OIE). Sabe-se que parasitas destes gêneros já foram relatados em bivalves de países vizinhos ao Brasil, a saber, Perkinsus olseni no Uruguai, infectando o berbigão Pitar rostrata (Cremonte et al. 2005) e Bonamia sp. infectando as ostras Ostrea puelchana na Argentina (Kroeck & Montes 2005) e Ostrea chilensis (Corbeil et al. 2006) no Chile. Estas occorrências passam a representar um sério risco aos estoques brasileiros devido à proximidade entre estas regiões. Ainda, recentemente uma nova espécie, Bonamia perspora n. sp., foi descrita infectando Ostreola (= Ostrea) equestris na Carolina do Norte (EUA) (Carnegie et al. 2006), espécie existente no Brasil. Por outro lado, a lei refe- rida acima inclui a doença causada pelo protozoário intracelular Mycrocitos mackini (microcitose) que apresenta uma ocorrência muito limitada, uma vez que necessita um período de pelo menos 3 meses com temperaturas da água do mar inferiores a 10oC para o seu desenvolvimento, condições pouco prováveis de serem encontradas, mesmo nas regiões mais frias do Brasil. Com os relatos acima seria conveniente iniciar um programa de controle de doenças e implantar no Brasil um laboratório de referência para doenças de moluscos. No Brasil não existe um laboratório credenciado pelo MAPA para o diagnóstico de doenças de moluscos, mas existe um laboratório autorizado pelo MAPA
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