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107 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
2 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
3Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
N unca vi ninguém ter pena ou sendo solidário com a China, nas vezes em que seus pro-dutos aqüícolas foram barrados nos mercados dos EUA e da União Européia, por estarem em desacordo com as normas internacionais de sanidade. Ao contrário, suponho até que muitos aqüicultores, espalhados por vários países, incluindo o Brasil, tenham festejado a 
oportunidade de negociar num mercado sem a incômoda presença chinesa. Algo muito parecido deve ter 
acontecido quando saiu publicada a notificação da OIE sobre a presença da febre aftosa no Mato Grosso, 
que de imediato embarreirou a exportação da carne bovina brasileira para muitos países. Não tenho 
dúvidas de que produtores espalhados pelo mundo festejaram a má sorte dos pecuaristas brasileiros.
 Assim funciona o mercado globalizado, com produtos de origem animal e vegetal circulando de 
um canto a outro do planeta, e deixando repentinamente de circular por esbarrarem nas cada vez mais 
estreitas regras que regem essa movimentação de produtos vivos, frescos ou congelados.
 A gente sabe que ninguém gosta de falar sobre doenças, principalmente nós brasileiros que, por 
superstição ou medo, nem pronunciamos a palavra câncer, como se isso fosse o suficiente pra afastar 
essa doença do nosso corpo. Mas, não podemos fechar os olhos para as patologias porque elas minam 
a capacidade competitiva dos produtores e enfiam, como ninguém, a mão no bolso do aqüicultor. Isso 
explica porque os temas ligados a sanidade dos produtos da aqüicultura ocupam grande parte da pauta 
desta edição. Falamos da certificação sanitária, das doenças de notificação obrigatória e, das doenças 
que, mesmo não sendo de notificação obrigatória, podem fazer uma atividade florescente como a tila-
picultura, se tornar inviável economicamente. 
 Abordamos também nesta edição as preocupações dos cientistas e dos fabricantes de rações de 
todo o mundo, que reunidos em um simpósio internacional de nutrição, buscavam alternativas diante 
das inesperadas mudanças no cenário mundial dos ingredientes. Os aumentos recentes no preço da 
farinha de peixe, que colocam em cheque a viabilidade econômica da fabricação e do uso das rações 
balanceadas para peixes carnívoros, foi o tema mais discutido.
 Nas próximas páginas o leitor encontrará ainda os avanços do uso dos bioflocos na engorda 
dos camarões e os primeiros passos do Projeto Polvo Nordeste, que pretende, através da engorda de 
juvenis de polvos capturados pela pesca a vela, melhorar a qualidade de vida e a renda das comunidades 
pesqueiras. E muito mais...
A todos, boa leitura.
3
Editorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
4 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
5Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
...Pág 65
...Pág 60
...Pág 62
...Pág 10
...Pág 44
...Pág 46
...Pág 63
...Pág 06
...Pág 03
...Pág 28
...Pág 38
...Pág 22
...Pág 52
Í N D I C E
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
Direção Comercial:
Solange Fonseca
publicidade@panoramadaaquicultura.com.br
Colaboradores desta edição: 
Carlos Augusto Gomes Leal, Edemar Roberto 
Andreatta, Fernando Kubitza, Henrique César 
Pereira Figueiredo, Jairo de Souza, Luiz 
Edivaldo Pezzato, Patrícia Mirella da Silva, 
Rafael Arantes, Raul M. Madrid, Rodrigo 
Schveitzer, Walter Quadros Seiffert
Os artigos assinados são de responsabilidade 
dos autores. 
A única publicação brasileira dedicada 
exclusivamente aos cultivos de 
organismos aquáticos
Uma publicação Bimestral da: 
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
Rua Mundo Novo, 822 # 101
22251-020 - Botafogo - RJ
Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487
www.panoramadaaquicultura.com.br
revista@panoramadaaquicultura.com.br
ISSN 1519-1141
Assinatura:
Fernanda Carvalho Araújo
e Daniela Dell’Armi
assinatura@panoramadaaquicultura.com.br
Para assinatura use o cupom encartado, 
visite 
www.panoramadaaquicultura.com.br ou 
envie e-mail.
ASSINANTE - Você pode controlar, a cada 
edição, quantos exemplares ainda fazem parte 
da sua assinatura. Basta conferir o número de 
créditos descrito entre parênteses na etiqueta 
que endereça a sua revista.
Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para 
adquiri-los entre em contato com a redação. 
Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 
21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 
40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 
82, 83, 84, 85, 87, 88
Projeto Gráfico:
Leandro Aguiar
leandro@panoramadaaquicultura.com.br
Design & Editoração Eletrônica:
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
 Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda.
Os editores não respondem quanto a quali-
dade dos serviços e produtos anunciados. 
Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA
Edição 107 - maio/junho - 2008
Sanidade Aqüícola: 
O controle dos agentes patogênicos que comumente acometem os cultivos de organismos 
aquáticos pode dar sustentabilidade a um empreendimento, e garantir um produto final de 
qualidade, hoje, uma exigência de pequenos e grandes mercados. Produtos isentos de doenças 
ou microrganismos patogênicos, que tenham sua qualidade atestada, já é assunto corriqueiro 
nas discussões entre todos os envolvidos na produção aqüícola brasileira, sejam produtores, 
técnicos ou consumidores. A certificação sanitária na aqüicultura foi o tema escolhido por 
Henrique Figueiredo, para a coluna Sanidade Aqüícola dessa edição. O tema da presença 
de agentes patogênicos, foi trazido também por Fernando Kubitza, para quem a segurança 
alimentar e a sustentabilidade da tilapicultura no Brasil depende de atitudes responsáveis por 
parte de todos os envolvidos no setor. Como o tema “sanidade” envolve todas as práticas da 
aqüicultura, as medidas de controle de doenças, foi também o tema abordado pela especialista 
em moluscos marinhos, Patrícia Mirella da Silva, na matéria publicada na página 22.
...Pág 14
...Pág 13
O cultivo com bioflocos - página 38...
O cultivo de polvo no Nordeste - página 46...
Editorial
Notícias & Negócios
Notícias & Negócios on-line
Schering-Plough lança antibiótico para peixe
Sanidade Aqüícola: Certificação Sanitária na Aqüicultura
Diagnóstico de doenças de moluscos marinhos
Tilápias na mira dos patógenos
O uso de bioflocos na formação de matrizes de Litopenaeus vannamei
Pesquisa com carcaças de peixe é premiada em concurso da Nestlé
Potencialidade do cultivo de polvo na aqüicultura brasileira
XIII ISFNF: Simpósio sobre nutrição aqüícola reúne especialistas
SEAP convoca o setor para a 5ª edição da Semana do Peixe
IV ENPAP será realizado em Alagoas
FENACAM 2008
AQUACIÊNCIA 2008 - O evento discutirá os desafios e inovações
Calendário Aqüícola ...Pág 66
6 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
AQÜICULTURA PARANAENSE - Ricardo 
Neukirchner, Diretor de Aqüicultura daAquabel 
(www.aquabel.com.br) assumiu agora também a 
diretoria da Sociedade Rural do Paraná, uma das 
maiores e mais importantes entidades da classe 
produtiva rural do Estado do Paraná, com enorme 
representatividade em todas as esferas estaduais 
e federais. A Diretoria de Aqüicultura, da qual 
Neukirchner foi convidado para assumir seus 
trabalhos e funções foi aberta em junho passado 
com o intuito de fortalecer a piscicultura e, desta 
forma, conseguir maior representatividade para 
a atividade. A revista Panorama da Aqüicultura 
deseja ao parceiro e amigo, sorte e muitas 
conquistas no novo cargo que assume.
EVIALIS COMPRA CARGILL - O grupo francês 
Evialis confirmou no dia 16 de junho a conclusão 
da aquisição da Cargill Nutrição Animal Ltda., 
no Brasil, passando a operar no país com três 
marcas: Purina, Socil e Zoofort, e com três redes 
de distribuição específica. Segundo Nilton Perez, 
presidente do Grupo Evialis no Brasil “a nova 
estrutura industrial e de distribuição da Evialis 
permitirá expandir suas operaçõescom bases 
mais regionalizadas, para melhor atender ao 
mercado consumidor, estando mais próximo, e 
suprir, assim, os desafios logísticos que impactam 
nos custos operacionais”. A Evialis, empresa 
francesa e um das líderes mundiais em Nutrição 
Animal, está presente industrialmente em 16 
países, possui mais de 64 unidades industriais e 
comercializa produtos e serviços em 50 países. A 
empresa possui mais de quatro mil funcionários e 
está presente no mercado mundial há mais de 50 
anos. Para mais informações, visite www.evialis.
com. Atuando no Brasil há mais de 67 anos por 
meio da empresa Socil, o grupo Evialis possui 
fábricas localizadas em Descalvado (SP), Barra 
Mansa (RJ), Contagem (MG) e São Lourenço 
da Mata (PE), além de sua subsidiária Zoofort, 
em Primavera do Leste (MT). O grupo atua nos 
mais diversos segmentos de nutrição animal: 
ruminantes, eqüinos, aqüicultura, aves, suínos 
e pet-food, através do fornecimento de rações 
completas, suplementos minerais e premixes.
REPRESENTAÇÃO - A Fazenda Paciência, 
localizada no Estado do Rio de Janeiro, 
Município de Paraíba do Sul, Distrito de 
Werneck, à 120km da cidade do Rio de Janeiro, 
procura representante ou distribuidor para os seus 
alevinos de tilápia, que são entregues em todo o 
território nacional. A Fazenda Paciência opera 
um moderno laboratório que produz atualmente 
5 milhões de alevinos anuais. Face às condições 
de climatização e controle de temperatura, os 
alevinos estão disponíveis ao longo de todo o 
ano. Os interessados deverão entrar em contato 
com o Sr. Celso Rodrigues pelos fones: (24) 
2266-1077, (24) 2266-1344, (24) 9272-0836 
ou pelo e-mail: fazendapaciencia@terra.com.br. 
 
 
SIMPÓSIO DE SIG - A Universidade Santa 
Úrsula, através do seu Laboratório de Aqüicultura 
e Sistemas de Informação Geográfica - Laquasig, 
recebe de 25 a 29 de agosto o IV Simpósio 
Internacional sobre SIG/Análises Espaciais para 
Pesca e Ciências Aquáticas (Fourth International 
Symposium in GIS/ Spatial Analyses in 
Fishery and Aquatic Sciences), cujo objetivo 
principal é destacar os desenvolvimentos 
e aplicações desse software, que permite e 
facilita a análise, gestão ou representação do 
espaço geográfico e dos fenômenos que nele 
ocorrem. O simpósio sobre as aplicações do 
SIG - Sistema de Informação Geográfica (ou 
GIS - Geographic Information System, em 
inglês) ocorrerá pela primeira vez no Brasil. O 
evento é organizado pelo Fishery-Aquatic GIS 
Research Group, do Japão, em conjunto com a 
Universidade Santa Úrsula. Entre outros temas, 
será discutida a implementação efetiva de gestão 
ambiental utilizando as geotecnologias. A FAO 
desenvolveu um “Ecosystem Approach to 
Fisheries (EAF)” e atualmente está trabalhando 
numa versão para a Aqüicultura - “Ecosystem 
Approach to Aquaculture (EAA)”. Estes e 
outros assuntos relevantes, incluindo “Spatial 
Planning”, “Marine Protected Areas (MPA)”, 
“Global Warming”, “Biodiversity” e “Spatial 
Conservation and Management” serão discutidos 
no simpósio. Os participantes terão também a 
chance de olhar os desafios atuais e fronteiras nas 
tecnologias SIG incluindo o “Development of 
3D and 4D applications”, “Web-GIS (multi-user 
and multi-function information management 
systems)” e “GIS for all (GIS Education 
and Capacity Building)” bem como outros 
Notícias & Negócios
7Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
agrônomos, um engenheiro de pesca, um médico-
veterinário, um técnico em geoprocessamento 
e um técnico agropecuário, e também irá 
adquirir equipamentos de monitoramento via 
satélite (GPS) para os trabalhos de planimetria 
e assistência técnica às propriedades.
ISENÇÃO PARA CARCINICULTORES - A 
carcinicultura do Piauí, que tinha dificuldade de 
vender o produto para fora, vai ter as mesmas 
vantagens que outros estados brasileiros. O 
governador Wellington Dias assinou decreto 
determinando imposto zero para os criadores de 
camarão em cativeiro do litoral piauiense. Com 
esse benefício, os produtores vão poder gerar 
cerca de dois mil empregos no ramo até o final 
do ano. O Piauí já chegou a produzir quatro mil 
toneladas, mas devido os impostos esse ano só 
estavam produzindo mil toneladas, por conta dos 
encargos. A medida deve fortalecer a criação de 
camarão no Estado, já que a concorrência com o 
Rio Grande do Norte e Ceará estava ocorrendo 
de forma desleal. 
CHEIA BENEFICIOU FAMÍLIAS - Dezenas de 
famílias do município de Porto do Mangue, 
situado a 289km de Natal, no Rio Grande 
do Norte, acabaram se beneficiando com 
as enchentes que arrasaram fazendas de 
carcinicultura na região. O alagamento das 
carciniculturas empurrou grande parte da 
produção para o mar, onde o crustáceo está 
sendo pego pelos pescadores locais. A cidade 
de Porto do Mangue tem grande parte da sua 
economia baseada na pesca de peixes, lagosta e 
do camarão nativo, ou camarão rosa. A inclusão 
do camarão das fazendas de carcinicultura é uma 
novidade que está multiplicando o faturamento 
dos pescadores da colônia local. A fartura 
também está atraindo barcos de outras cidades 
e até mesmo do Ceará. 
FONES NOVOS - A Papytex Indústria e Comércio 
de Produtos Têxteis (www.papytex.com.br), 
avisa aos seus clientes e leitores da revista 
Panorama da Aqüicultura que as suas linhas de 
telefone mudaram. Agora é possível entrar em 
contato com a empresa, através dos seguintes 
números: fones: (11) 2951-4060 e (11) 2983-
0778 e fax (11) 2989-2799.
NOVO OXÍMETRO - A Alfakit Ltda. (www.alfakit.
com.br), empresa catarinense que, há anos, 
oferece instrumentos para análise da água e do 
solo em aqüicultura, lança agora no final do mês 
de julho, o Oxímetro AT 170, um equipamento 
leve, compacto, de fácil operação e baixo 
custo de manutenção e reposição. O novo 
produto é mais um lançamento com tecnologia 
totalmente nacional. O AT 170 vem com capa 
protetora de silicone com proteção de umidade, 
respingos e choque. Mais informações com o 
depto técnico da empresa fone: (48) 3233-2338 
ou pelo e-mail: vendas@alfakit.com.br
Notícias & Negócios Notícias & Negócios
assuntos relevantes. Segundo os organizadores 
o evento deverá reunir no Rio de Janeiro 
aproximadamente 100 pessoas de 30 diferentes 
países. Mais informações: www.laquasig.bio.br/
brgishome.htm.
PROMEC PEIXE - A produção de tambaquis, 
jatuaranas, curimatãs e outras espécies de peixes 
próprias da Amazônia deverá registrar um salto 
de pelo menos 3.000 ton/ano em Rondônia, 
com a implantação, pelo Governo do Estado, 
do Programa de Piscicultura Agroindustrial, que 
deve ficar conhecido como o ProMec Peixe. O 
projeto é uma parceria da Secretaria de Estado 
da Agricultura, Produção e do Desenvolvimento 
Econômico e Social (SEAPES). O Governo de 
Rondônia investiu até agora um total de R$ 1,805 
milhão para dotar o programa do maquinário 
indispensável para que seja alcançada a meta de 
beneficiar 240 propriedades rurais no Cone Sul 
e no Vale do Jamari. Como os três frigoríficos 
especializados no processamento de pescado 
localizam-se em Vilhena, Pimenta Bueno e 
Ariquemes, o projeto será lançado inicialmente 
no Cone Sul e, posteriormente, no Vale do 
Jamari. O ProMec Peixe disponibilizará para 
os piscicultores, em parceria com a Sedam e a 
Emater/RO, a estrutura de apoio para se obter 
a carta-foto de cada propriedade, documento 
que dá origem ao licenciamento ambiental 
(obrigatório para todos os candidatos a participar 
do programa), uma equipe multidisciplinar de 
assessoramento, composta de três engenheiros-
8 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
REFERÊNCIA - Diretores do Sebrae de todo 
o Brasil visitaram o Arranjo Produtivo Local 
(APL) das ostras da Grande Florianópolis, 
projeto considerado modelo de gestão e 
controle sanitário no país. O grupo visitou 
cultivos e áreas de processamento de ostras 
e mariscos, no Ribeirão da Ilha. O almoço 
à base de ostras ajudou a comprovarem a 
qualidade do produto cultivado na região. O 
APL visa à promoção e ao desenvolvimento 
sustentável da mariculturacatarinense, 
através de ações pontuais junto aos 
produtores. Os produtores estão apostando 
em ações de divulgação do produto para 
abrir novos canais de comercialização. A 
estratégia, que inclui a participação em feiras 
do setor, integra o plano de comercialização e 
marketing do APL desenvolvido pelo Sebrae/
SC em parceria com os governos federal, 
estadual e municipal, entre outros parceiros. 
A participação em feiras visa promover o 
desenvolvimento sustentável da atividade 
e orientar a comercialização do molusco, 
atendendo à demanda dos maricultores que 
possuem o selo do Serviço de Inspeção 
Federal (SIF). 
MAIS FRIGORÍFICO - A Copacol (Cooperativa 
Agroindustrial Consolata), fundada em 
1963 por um padre e mais 32 agricultores 
catarinenses e gaúchos, inaugurou no dia 
27 de junho, um frigorífico para abate e 
industrialização de peixes, em Nova Aurora, 
região Oeste do Paraná. Parte dos investimentos 
veio do Banco Regional de Desenvolvimento 
Sul - BRDE. O frigorífico terá capacidade 
para abater 10 toneladas de tilápia por dia. 
 
 
BIOCOMBUSTÍVEL DE ALGAS - Segundo artigo 
publicado no jornal “Los Angeles Times” 
e na revista “Forbes” em 29 de maio, uma 
empresa californiana afirma que pode produzir 
um combustível, à base de algas cultivadas, 
equivalente à gasolina. O “petróleo verde” 
poderá ser produzido dentro de três anos. O 
produto é neutro no que se refere ao carbono 
atmosférico, já que as algas absorvem da 
atmosfera tanto carbono quanto depois é emitido 
com a queima do combustível. O processo 
depende da fotossíntese e não afeta terrenos 
agrícolas que poderão ser utilizados para a 
produção de alimentos, uma vez que as algas 
serão cultivadas em zonas áridas e ensolaradas, 
em pleno deserto, com água não potável. Na 
aviação, os biocombustíveis produzidos a partir 
de algas podem vir a ser uma alternativa viável ao 
tradicional combustível de jatos. A Boeing, maior 
fabricante de jatos comerciais do mundo juntou-
se à Algal Biomass Organization, entidade que 
tem como objetivo promover os biocombustíveis 
produzidos a partir da biomassa de microalgas, 
uma decorrência do preço cada vez mais elevado 
do barril de combustível de jato. A Virgin Atlantic 
Airways, uma das maiores companhias aéreas 
do Reino Unido, especializada em vôos 
intercontinentais de longo curso a partir 
das suas bases, foi a primeira companhia 
aérea a testar os biocombustíveis num dos 
seus Boeing 747, realizando um vôo sem 
passageiros entre Londres e Amsterdã 
parcialmente movido a óleo de côco e babaçu. 
A holandesa KLM Royal Dutch Airlines 
também já anunciou que planeia testar 
combustíveis produzidos a partir de algas 
pela empresa AlgaeLinke, esperando utilizá-
los em 50 aviões da sua frota já em 2010. 
Agora chegou a vez da Japan Airlines (JAL). 
A companhia nipônica vai realizar um vôo 
de ensaio com um avião em que utilizará um 
biocombustível de algas junto do carburante 
habitual, segundo informou o diário “Japan 
Times”. Esta será a primeira prova deste 
tipo efetuada na Ásia, num Boeing 747-300 
“Jumbo”, no qual um dos motores utilizará 
uma mistura de biocombustível, obtido à base 
de algas e plantas não comestíveis, junto ao 
combustível convencional para aviões. Nos 
restantes três motores do avião será utilizado 
o carburante habitual para aviões. Face à crise 
alimentar foi decidido substituir neste teste o 
biocombustível fabricado com arroz e outros 
alimentos por um criado a partir de algas e 
plantas não comestíveis, segundo o diário. 
Também a companhia alemã Lufthansa se 
propõe atingir metas de proteção ambiental para 
reduzir em 25 por cento as emissões de dióxido 
de carbono em 2020 utilizando biocombustíveis. 
 
 
FASHION BUSINESS - O setor da joalheria 
produzida no Estado do Rio de Janeiro, 
inovou no Fashion Rio, tradicional encontro 
de profissionais da moda e acessórios. Uma 
coleção de peças desenvolvidas com couro 
de salmão e tilápia foi apresentada no Fashion 
Business, a bolsa de negócios do evento. O 
Fashion Rio deste ano foi realizado de 10 a 13 
de junho, na Marina da Glória, Botafogo - RJ. 
 
 
TECNÓLOGO EM AQÜICULTURA I - A 
Universidade Federal do Paraná - UFPR, a 
primeira instituição de ensino superior federal 
do Brasil a abrir o edital de concurso vestibular 
dentro do Plano de Reestruturação e Expansão 
das Universidades Federais (Reuni), divulgou 
que, para o próximo concurso - cujas provas 
da primeira fase serão realizadas em 16 de 
novembro e da segunda em 7 de dezembro, 
em Curitiba e Palotina, estão sendo ofertados, 
além dos cursos de graduação convencional, 
doze outros de graduação tecnológica, entre 
eles o de Tecnólogo em Aqüicultura. As 
inscrições para o processo seletivo poderão 
ser realizadas através do www.nc.ufpr.br. 
 
 
TECNÓLOGO EM AQÜICULTURA II - Por 
unanimidade, o Colegiado Pleno do Conselho 
Universitário da UFCG, em Campina Grande, 
aprovou o projeto de criação do campus Sumé, 
onde funcionará o Centro de Desenvolvimento 
do Semi-Árido (CDSA), contemplando 
não só a região do Cariri paraibano, como 
também as regiões do Vale do Piancó e do 
Vale do Paraíba, através de pólos nas cidades 
de Itaporanga e de Itabaiana. No Pólo 
Itaporanga serão oferecidos vários cursos 
entre eles o de Tecnologia em Aqüicultura. 
 
 
MUSEU DA MARICULTURA - Uma parceria entre 
o Governo do Estado de Santa Catarina, uma 
empresa turística de Florianópolis e a Associação 
Brasileira para o Desenvolvimento Local e 
Sustentável - Qualicity, vai resultar na construção 
de um porto turístico, que funcionará como 
um terminal de passageiros e estacionamento 
para embarcações. O projeto inclui ainda 
a instalação do Museu da Maricultura, 
além de restaurantes e lojas. A estrutura do 
empreendimento deve criar cerca de 5 mil 
empregos diretos e 20 mil indiretos.
Notícias & Negócios
9Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Notícias & Negócios
Para fazer parte gratuitamente da 
Lista Panorama-L vá ao site 
www.panoramadaaquicultura.com.br
 clique em Lista de Discussão 
e siga as instruções.
Notícias & NegóciosOn-line
De: Reinaldo Manfrim Duarte Júnior
junior@mareterra.com.br 
Para: lista@panorama-l.com.br 
Assunto: A busca do equilíbrio na cadeia 
produtiva da tilápia 
Vimos através deste, apresentar nossa contri-
buição sobre a reportagem vinculada na edição 
nº106 da revista Panorama da AQÜICULTU-
RA intitulada como “A busca do equilíbrio na 
cadeia produtiva da tilápia”. Alguns pontos 
muito relevantes não foram colocados na 
reportagem em questão, e precisam ser escla-
recidos, para não ficar a falsa impressão de que 
o problema está apenas nos frigoríficos e não 
na cadeia de produção e comercialização como 
um todo. Devido à desvalorização do Dólar, 
os frigoríficos que exportavam filés frescos de 
tilápia para os Estados Unidos praticamente 
encerraram essa operação e passaram a destinar 
seus produtos para o mercado interno. O que 
precisa ser ressaltado é que o produto continua o 
mesmo, ou seja, o padrão de qualidade colocado 
hoje na mesa dos consumidores brasileiros é 
o mesmo que antes era colocado na mesa de 
consumidores norte americanos, e nem pode-
ria ser diferente. A grande distorção que vejo 
na matéria é sobre o custo de produção desse 
filé, cuja logística é complexa e cara porque 
estamos tratando de filé fresco e não de um 
produto congelado, que poderia ser produzido 
a partir de uma ociosidade da planta frigorífica 
e armazenado para venda posterior. Portanto, 
hoje as plantas frigoríficas precisam disponibi-
lizar mão-de-obra maior que, em alguns dias 
da semana, acaba ficando ociosa, de modo a 
atender aos pedidos de seus clientes. Um kg de 
tilápia, preço pago ao produtor, custa hoje ao 
frigorífico R$ 2,40 o que corresponde a R$ 8,28 
de custo de filé com um rendimento de 29%. Até 
esse ponto parece ser um negócio extremamente 
lucrativo. Porém, precisamos entender que 
existem outros custos diretamente ligados a 
essa operação, e que a tornam quase deficitária. 
Embalagem - R$ 0,65/kg; Frete/Distribuição- 
R$ 0,39/kg; Custo de Processamento - R$ 2,66/
kg; Impostos - R$ 2,87/kg; Desconto comercial 
das redes - R$ 2,25/kg. Ou seja, o custo total da 
venda de um kg de filé de tilápia corresponde 
a R$ 17,10, e isto justifica o preço de venda de 
R$ 18,00 às redes varejistas (e não R$ 14,00, 
como mencionado na reportagem). Então, 
esse produto gera, atualmente, para o frigorí-
fico, uma Margem de Contribuição de 5,25%, 
que ainda precisa cobrir todas as despesas com 
Marketing, Vendas, Despesas Administrativas, 
investimento em pesquisa e desenvolvimento 
de novos produtos e, adicionalmente, gerar re-
torno para o investidor. O que falta, por parte da 
indústria, é o desenvolvimento de produtos para 
o aproveitamento da matéria-prima que sobra 
na confecção dos filés, ajudando, assim, a 
diluir o custo do produto final. Por outro lado, 
também falta muito na área de produção, onde 
empresas de consultoria, produtores de alevinos 
e fábricas de rações deveriam pensar muito 
mais em desenvolver seus trabalhos visando 
a melhoria do sistema produtivo do que sim-
plesmente visando o lucro imediato. Algum 
produtor de alevinos já assumiu o risco de 
colocar seu produto e estipular um preço com 
base na sobrevivência ou um percentual de 
desova de tilápias fêmeas? Alguma fábrica de 
ração assume algum risco por uma conversão 
alta ou simplesmente pelo não crescimento do 
peixe? Alguma empresa de assistência técnica 
responde pela implantação do seu projeto e pelo 
resultado apresentado nele? O próprio produtor 
está disposto a comprometer uma parte de seu 
lucro arcando com os custos de uma assistência 
técnica e manejo mais eficientes? É uma longa 
discussão que não pode e não deve ser coloca-
da somente sobre os frigoríficos porque estes, 
assim como os produtores, tiveram os mesmos 
aumentos nos últimos anos com mão-de-obra, 
energia elétrica, embalagens, frete, impostos, 
etc.. O que me parece muito claro é que não é 
possível repassar isso ao consumidor que já paga 
R$ 24,00/kg, e não vai aceitar novos aumentos 
provavelmente migrando seu consumo para 
outras espécies.
De: Jomar Carvalho Filho
jomar@panorama-l.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br 
Assunto: Re: A busca do equilíbrio na 
cadeia produtiva da tilápia 
Prezados da Lista, o Reinado Júnior, da empre-
sa Mar & Terra Indústria e Comércio de Pesca-
do Ltda., enviou uma mensagem para esta lista 
com comentários sobre o artigo “A busca do 
equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia” da 
autoria do Fernando Kubitza, um dos destaques 
da última edição da Revista Panorama da 
Aqüicultura. Como o Fernando neste momento 
não está acompanhando as discussões da lista 
(o Fernando Kubitza acaba de ser pai do seu 
segundo filhote), eu enviei a mensagem do 
Júnior para que ele fizesse os seus comentários. 
Segue o que ele me enviou. “Júnior e demais 
participantes da lista, em primeiro lugar, gosta-
ria de me retratar por não ter deixado claro na 
matéria que o preço de venda de R$ 14,00/kg 
(ali mencionado) é o valor efetivamente recebi-
do pelo frigorífico após os descontos comerciais 
/ contratuais dos hipermercados (alegando 
despesas com promoção, uso do espaço, etc.). 
O preço bruto de venda que tomei como base 
foi o de R$ 16,00/kg posto no hipermercado, 
descontados cerca de R$ 2,00. No caso que você 
menciona da Mar & Terra, vende a um preço 
bruto de venda de R$ 18,00/kg aos hipermer-
cados e tem desconto de R$ 2,25/kg. Falamos 
então em um valor real de venda de R$ 15,75/
kg. Com quem eu conversei aqui em São Paulo 
antes de escrever a matéria, nenhuma mencio-
nou um preço de venda de R$ 18,00/kg (a não 
ser com vendas diretas a algumas peixarias e 
restaurantes, onde o filé pode ser vendido até 
acima dos R$ 20,00/kg, porém estes segmentos 
não possibilitam grande volume de vendas). 
Mas da finalização da matéria até a chegada da 
revista nas mãos dos leitores, temos aí um mês 
ou um pouco mais, e podem ter ocorrido mu-
danças nos preços de venda. Da mesma forma 
que no momento em que escrevi a matéria, o 
preço do filé de tilápia no hipermercado estava 
na casa dos R$ 23,90/kg, neste final de semana 
(29/maio), vi o filé a R$ 25,90/kg, talvez até um 
reflexo de um possível reajuste no preço pago 
aos frigoríficos. Sua nota foi importante para 
todos apreciarem a composição dos custos do 
filé fresco de tilápia padrão exportação. Os 
custos de processamento, embalagem, distribui-
ção no seu demonstrativo somam R$ 3,70 
(valor entre os R$ 3,50 e 4,00/kg que apontei 
10 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Notícias & Negócios On-line
na matéria). Ou seja, com mais ou menos R$ 
8,30 da matéria prima (29% de rendimento), o 
custo do filé no frigorífico fica na casa dos R$ 
12,00/kg (próximo dos R$ 10,70 a 11,50). Se o 
preço de venda deste filé for entre R$ 14,00 e 
16,00/kg, a margem bruta do frigorífico ficaria 
entre 17 e 33% (como estimado na matéria, 
entre 20 e 30%). Falei em margem bruta, pois 
não me atrevi a calcular os impostos, visto a 
complexidade do assunto. Agora, com o seu 
comentário ficou claro o peso dos impostos (no 
caso da Mar & Terra, R$ 2,87/kg de filé) e a do 
desconto contratual dos hipermercados (R$ 
2,25/kg). Com relação aos impostos não há 
muito o que os frigoríficos possam fazer. O que 
não pode é o frigorífico aceitar calado este 
desconto contratual dos hipermercados, que 
tolhem uma significativa parte dos lucros, que 
poderiam ser usados para turbinar a produção. 
Se o hipermercado vende a espetaculares R$ 
25,90/kg um filé comprado da Mar & Terra a 
R$ 18,00, com um desconto de R$ 2,25/kg, a 
margem bruta do hipermercado na operação foi 
de 64%. Se imaginarmos isso em uma operação 
que dura uma semana no máximo, quanto seria 
o percentual bruto acumulado no mês para cada 
R$ 1.000,00 investido pelo supermercado na 
compra e venda do filé de tilápia? Jogue 64% 
por semana sobre estes R$ 1.000,00 (1.000 x 
(1+0,64)^4 = R$ 7.233,00). É uma máquina de 
fazer dinheiro, sem os riscos que um produtor 
tem de manter um estoque vivo na água. Que 
investidor não gostaria de colocar seu dinheiro 
num negócio desses? Não seria bom se houves-
se um melhor equilíbrio na distribuição destes 
lucros? Você disse que na operação da Mar & 
Terra a margem bruta tem sido de 5,25% (para 
cada R$ 1.000,00 investido na semana temos 
R$ 1.000 x (1 + 0,0525)^4 = R$ 1.227,00). E 
como você espera que um produtor entenda isso, 
quando ele coloca os mesmos R$ 1.000 duran-
te um período de engorda de 6 a 8 meses e mal 
consegue recuperar os custos, quanto muito um 
custo de oportunidade sobre o capital investido? 
Mas não podemos dizer que o supermercado é 
um grande vilão (como comentei no artigo). Ele 
está apenas fazendo sua parte no jogo comercial. 
E com isso, está valorizando bem o filé e até 
ajudando a cadeia produtiva, vendendo o filé a 
preço bem vendido. Quanto ele ofereceria pelo 
filé se somente conseguisse vender o mesmo, 
digamos, a R$ 19,00/kg ao consumidor final? 
O câmbio também não pode ser apontado como 
o grande vilão do setor. Com o supermercado 
pagando R$18,00/kg (sem a cara logística de 
fretes aéreos envolvidos na exportação) e con-
siderando que o preço do filé fresco posto em 
Miami girava na casa dos US$ 7.00, podemos 
dizer que as vendas de filé hoje no mercado 
interno equivalem a um câmbio de R$ 2,57/US$ 
(R$ 18,00/US$7.00 = 2,57). Se destes R$ 18,00/
kg o supermercado desconta mais R$ 2,25 (ou 
seja paga R$ 15,75), ainda temos um equiva-
lente a R$ 2,25/US$. O câmbio atual está na 
casa dos R$ 1,65/US$. Quer dizer que mesmo 
que o câmbio melhore até a casa dos R$ 2,25 
(ou 2,60 se os frigoríficos conseguirem se livrar 
deste desconto contratual), a venda no mercado 
interno ainda continua sendo melhor negócio 
do que exportar (equacionando o custo adicional 
do frete aéreo e do despacho aduaneiro e a re-
dução nos impostos para a exportação). A única 
questão que se levanta é se o mercado interno 
pode absorver volume semelhante ao que cos-
tumava ser exportado? Minha resposta aqui ésim, pois isso já está acontecendo. O volume de 
produção dos frigoríficos hoje (e o número de 
frigoríficos espalhados pelo país) seguramente 
supera o que tínhamos em 2005/2006 quando 
as exportações atingiram seu clímax. A tilápia 
está presente nas grandes redes de supermerca-
do em quase todas as capitais e grandes centros 
urbanos do país. E mesmo em pequenas cidades, 
por exemplo, aqui do interior de São Paulo. 
Nunca se viu tanta tilápia nos supermercados. 
Agora, o frigorífico, sem dúvida alguma, preci-
sa repensar a estratégia de processamento. Os 
filés que tenho visto nos hipermercados aqui em 
São Paulo realmente são padrão exportação. E 
acho que isso pode ser mantido. Mas, como 
você mencionou, o custo com embalagens e 
logística para entrega deste filé fresco é consi-
derável. O frigorífico tem que começar a traba-
lhar com o filé congelado de alta qualidade. Isso, 
além de favorecer a logística de processamento 
e distribuição e reduzir custos com embalagens, 
agrega possibilita agregar um glaciamento (para 
melhor conservação e aspecto do produto). Este 
glaciamento soma aos 29-30% de rendimento 
do filé, mais 3 a 4% no peso do produto, dentro 
de limites legais e de padrões aceitáveis de 
percepção por parte do consumidor. O filé 
11Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Notícias & NegóciosOn-line
congelado também facilitaria a logística do 
próprio hipermercado na conservação (estoque) 
do produto. E hoje os hipermercados costumam 
colocar filés congelados nas gôndolas, onde eles 
descongelam sobre o gelo e são vendidos como 
fresco (é isso o que se faz com o filé de salmão 
e já vi isso com filé de merluza e certamente 
com qualquer um). E um filé fresco de um 
peixe recém abatido e congelado rapidamente, 
quando descongela, pouco perde em qualidade 
e aparência em relação a um filé fresco. E, 
como você comentou, a indústria também 
precisa dar aproveitamento ao restante da 
matéria-prima. Esse foi um dos pontos que 
analisamos em matéria publicada na Panorama 
(edição 94 março/abril 2006), ressaltado como 
fundamental para melhorar a situação dos 
frigoríficos. Sei que a Mar & Terra está fazen-
do o aproveitamento da polpa, que deve ajudar 
vocês a reduzir um pouco o custo do filé dado 
o maior aproveitamento da matéria-prima 
bruta. Mas as demais processadoras, até onde 
vai o meu conhecimento, ainda não avançaram 
muito nessa questão. A ociosidade da mão de 
obra no frigorífico, como você argumentou em 
função da produção de filé fresco, no meu 
entender não vai deixar de existir na produção 
de filé congelado. Esta ociosidade é mais um 
problema de baixa oferta de matéria-prima por 
parte dos produtores do que do tipo de proces-
samento do filé. E isso somente será resolvido 
com o produtor sendo adequadamente remu-
nerado, o que não está acontecendo no mo-
mento. O frigorífico tem seu quadro de funcio-
nários fixo e processando filé fresco ou conge-
lado, tem que arcar com o salário do pessoal da 
mesma forma. Se processa apenas dois dias na 
semana na plena capacidade e nos outros fica 
ocioso, não há como dispensar o pessoal. Isso 
é custo fixo. Tem é que arrumar matéria prima 
para processar na capacidade todos os dias. E 
como vai arrumar essa matéria prima se os 
produtores que o abastecem começam a sair 
da atividade? Vai ter que bancar a produção 
toda com recurso próprio? Vocês aí na Mar & 
Terra sabem o tamanho do risco de investir 8 
ou mais meses na produção de um estoque vivo 
e estar sujeito a problemas de doenças, quali-
dade de água, perdas de alevinos (no caso aí o 
pintado, de custo até mais elevado), etc.. Per-
manecendo como está, tanto o frigorífico como 
o produtor vão ter que repensar sua decisão em 
ter investido no negócio. Alguns produtores 
que conheço já estão pensando em parar. Ou-
tros já pararam. Outros estão já avaliando a 
opção do cultivo de outras espécies em tanque-
rede. Uma delas é o pintado, que você sabe tão 
cedo ainda não vai atingir uma escala tão 
grande de produção quanto a tilápia devido às 
limitações na tecnologia de produção que fa-
zem com que os preços dos alevinos e ração 
ainda sejam de pouco acesso a maioria dos 
produtores. Mas para os produtores e mesmo 
frigoríficos que dispõem de capital para inves-
tir na criação e que hoje praticamente empatam 
com a tilápia, o pintado será uma opção muito 
interessante. Pois bem, prezados colegas, o 
desafio está aí. O frigorífico não pode contar 
com a hipótese de que o câmbio vai melhorar, 
que o preço da ração vai cair, o combustível 
não subirá de preço, a energia não sofrerá 
aumentos no país, etc., e etc. O jogo é aqui 
e agora. Se há alguém que pode ajudar a 
equilibrar a cadeia produtiva, este alguém é 
o elo entre a produção e os varejistas, ou 
seja, os frigoríficos. Não vejo outro embai-
xador mais credenciado para isso na cadeia 
produtiva da aqüicultura”. Fernando Kubit-
za - Acqua & Imagem
De: Francisco Leão
f_leao@hotmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br 
Assunto: Re: A busca do equilíbrio na 
cadeia produtiva da tilápia 
Prezados, este assunto que está em discussão, 
qual seja a cadeia de valor agregado do peixe 
é o que mais me interessa neste momento, 
por isso tenho estudado e pesquisado exaus-
tivamente. Fico feliz que os números que eu 
levantei concordam plenamente com aqueles 
apontados pelo Prof. Kubitza a quem eu envio 
os meus votos de felicidades ao novo pimpolho 
e que ele seja muito feliz. Contudo, temos uma 
diferença de opinião quanto às análises dos 
números e o seu significado. Se começarmos 
pelo supermercado (leia-se hipermercados de 
primeira linha), eles cobram R$ 25,00 ou até 
mais pelo kg do filé porque os seus estudos de 
demanda assim o permite. As grandes cadeias 
tem algoritmos de cálculo de preços muito 
poderosos e o fator mais importante é o tempo 
em que leva para escoar a mercadoria. Já existe 
uma experiência na venda de filé de tilápia que 
permite dizer exatamente em quanto tempo 
(geralmente calculado em dias) o estoque com-
prado por R$ 18,00 e vendido por R$ 30,00 vai 
escoar, e a margem de lucro analisada indica 
que o Supermercado é uma máquina de fazer 
dinheiro. Por outro lado, foram os frigoríficos 
(?) que colocaram este referencial de preços de 
venda de R$ 18,00, o qual é uma das variáveis 
dos cálculos das grandes cadeias? Ocorre que é 
necessário conceituar melhor o que são frigorí-
12 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Notícias & Negócios On-line
ficos e quem colocou o patamar de preços neste nível. Existem dois tipos 
de frigoríficos quanto à origem da matéria prima: aqueles que compram 
de terceiros (como Mar & Terra, por exemplo) e aqueles que têm pro-
dução própria como Tilápia do Brasil, Royal Fish e outros. A pergunta 
que cabe é: qual tipo de frigorífico detém a maior parcela do mercado: 
os que compram de terceiros ou os verticalizados? São duas estruturas 
de custo diferentes e, eu imagino que, se ambos vendem por R$ 18,00, a 
margem operacional dos verticalizados é muito maior do que a dos que 
compram de terceiros. Hoje, o preço de venda é R$ 18,00. Há um ano 
era R$ 12,00. Nesta época os verticalizados tinham que desovar os seus 
estoques pois não compensava (e ainda não compensa) exportar o filé 
com o dólar tão barato. Entregavam o filé a R$ 12,00 o que significava 
apenas recuperação de custos de produção e impostos. O que estamos 
vivendo é um mar turbulento onde sobrevive quem navega melhor. 
O problema do produtor é a dificuldade de calcular custos, pois se 
os cáculos de todos fossem corretos, eles não venderiam o peixe por 
R$ 2,80. Peixe fresco é um problema logístico muito grande, pois na 
cadeia de valor agregado, quem melhor paga é o consumidor final, 
seguido do restaurante. Porém, a distribuição direta para estes dois 
canais é supremamente difícil para o produtor. A conclusão é: o preço 
de venda para o frigorífico é de R$ 2,80 porque sempre existe alguém 
que se sujeita vender por este preço. Independentemente da convicção 
política de cada um, existe a lei demercado de oferta e procura que 
não foi revogada. Quem tem grana compra e quem não tem, fica sem. 
Ao invés de tentar burlar a lei da oferta e da procura com subsídio, 
Pronaf, licitação não onerosa (que eu repito, é ilegal do jeito que se 
fez no Castanhão), é preciso aprender a conviver com ela. É o que faz 
o supermercado: ele leva em consideração a demanda e a oferta para 
fixar o preço. Ou então ele pára de distribuir filé de tilápia. Neste caso, o 
frigorífico não verticalizado quebra, e em seguida o produtor. 
De: Reinaldo Manfrim Duarte Júnior
junior@mareterra.com.br 
Para: lista@panorama-l.com.br 
Assunto: Re: A busca do equilíbrio na cadeia produtiva da tilápia 
Prezado Oscar, na Mar & Terra trabalhamos praticamente com a venda de 
filés frescos. Como a reportagem abordou diretamente esse produto eu não 
fiz nenhum cálculo de custo sobre o filé congelado até porque não focamos 
nesse produto. Eu entendo perfeitamente o problema dos produtores e 
em nenhum momento eu manifestei alguma opinião contrária. Minha 
intenção como gerente de operações de uma indústria foi tentar mostrar 
que a cadeia produtiva como um todo tem seus problemas e que outros 
assuntos deveriam ser discutidos e não simplesmente “jogar” nas costas 
dos frigoríficos um problema da cadeia toda. Concordo plenamente com 
o Carlos Iannoni. Um dos grandes problemas hoje é volume de peixes 
suficiente para o aproveitamento dos resíduos. No caso do processamento 
do couro, já tivemos uma experiência anterior que não deu muito resultado. 
Ainda estamos à procura de uma parceria nessa área. Quem vai pagar 
a conta não sabemos mas, temos a certeza de que devemos avançar em 
melhorias em todas as fases da cadeia. Hoje nós já vendemos um produto 
a um preço um pouco maior do que outras empresas e precisamos fazer 
isso porque nossa tilápia é toda adquirida de terceiros, ao contrário de 
outros frigoríficos que operam na cadeia toda. Nosso maior problema é 
que, se aumentarmos ainda mais o preço para as redes varejistas, corremos 
um sério risco de sairmos totalmente do mercado e deixarmos os nossos 
produtores integrados literalmente na mão.
13Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
A Schering-Plough está lançando no mercado o produto “Aquaflor* 50% Premix”, uma novidade no combate às 
doenças de peixes, em especial a tilápia e a truta. O Aquaflor* é o 
primeiro antibiótico desenvolvido e registrado especialmente para 
o tratamento de doenças bacterianas em criações comerciais de 
peixes. O produto é elaborado a base de florfenicol, com estrutura 
molecular única e eficácia comprovada frente a bactérias que já 
apresentam perfil de resistência frente a outros antimicrobianos. Se-
gundo afirma Fernando Heiderich, Diretor Presidente da Schering-
Plough Saúde Animal no Brasil, com o lançamento a aqüicultura 
brasileira ganha um dos mais expressivos diferenciais competitivos 
de todos os tempos, já que o piscicultor poderá potencializar sua 
produção e maximizar sua rentabilidade.
O medicamento confere total segurança em relação à qua-
lidade do produto final, ao mercado consumidor e às exportações. 
O Aquaflor* já é usado, com comprovada eficácia, em países 
como Noruega, Japão, Chile, Canadá, Inglaterra, México, entre 
outros. Nos EUA foi o único produto que conseguiu registro nos 
últimos 20 anos para uso aqüícola, junto a criações de catfish, 
salmão e truta. No Brasil, foram realizados testes “in vitro” na 
Universidade Federal de Lavras, que demonstraram total eficácia 
do florfenicol frente aos dois gêneros de bactérias de maior im-
pacto econômico junto às criações intensivas de peixes no Brasil, 
sendo elas, os Streptococcus e as Aeromonas móveis. Estudos 
diversos demonstram que o florfenicol presente no Aquaflor* 
é rapidamente absorvido pelo organismo dos peixes e disponi-
bilizado em concentrações plasmáticas elevadas, o que resulta 
em alta eficácia no tratamento. Além disso, o produto possui 
uma excelente palatabilidade, otimizando o consumo da ração 
medicada pelos peixes e garantindo a correta dose terapêutica e 
eficácia do tratamento. 
O produto pode ser incorporado tanto junto às fábricas de 
ração como também pode ser administrado diretamente sobre os 
“pellets” da ração por meio da incorporação superficial do medi-
camento com auxílio de óleo vegetal ou de pescado.
Schering-Plough lança antibiótico para peixe
 Impacto econômico
O grande impacto econômico causado pelas Estreptococoses 
deve-se à faixa de idade em que as tilápias adoecem. Frequentemente 
são observadas altas mortalidades em populações adultas, acima de 
150 gramas, particularmente nas épocas mais quentes do ano. A alta 
taxa de mortalidade nesta fase da criação acarreta enormes perdas 
econômicas, principalmente devido aos investimentos já capitalizados 
na engorda dos animais (custeio com ração), queda de produtividade 
e aumento da conversão alimentar.
Dependendo da gravidade da infecção e do estado imunológico 
dos animais, mortalidade de até 30% do plantel pode ser observada em 
poucos dias, caso não seja feito nenhum tipo de tratamento. Estimam-
se perdas anuais acima de U$150 milhões associadas a esta bacteriose 
na piscicultura mundial. Apenas nos EUA estimam-se perdas acima 
de U$ 10 milhões em criações intensivas de tilápias. 
No Brasil, ainda não existem dados estatísticos associados às 
perdas econômicas relacionadas a esta bacteriose. No entanto, podem-
se estimar enormes prejuízos considerando-se que altas mortalidades 
são freqüentemente observadas nos pólos produtores associadas a 
diagnósticos positivos para esta enfermidade.
Sobre a Schering-Plough 
A Schering-Plough é uma empresa global de cuidados com a saúde 
centrada na ciência e orientada pela inovação. Através de sua própria 
pesquisa biofarmacêutica e colaborações com parceiros, a Schering-
Plough cria terapias que ajudam a salvar e a melhorar vidas no mundo 
todo. A empresa aplica sua plataforma de pesquisa e desenvolvimento a 
produtos de saúde humana de prescrição e consumo, bem como aos pro-
dutos de saúde animal. A visão da Schering-Plough é “Ganhar confiança 
a cada dia” dos médicos, pacientes, clientes e todas as demais pessoas 
e instituições servidas por nossos funcionários ao redor do mundo. A 
empresa está sediada em Kenilworth, N.J., e seu site na Web é www.
schering-plough.com
 
14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Sanidade
Aqüícola
CERTIFICAÇÃO SANITÁRIA NA AQÜICULTURA
Prezados leitores, na coluna “Sanidade 
Aqüícola” desta edição abordaremos a “certificação 
sanitária na aqüicultura”, um tema que está começando 
a ser discutido entre produtores, técnicos e órgãos 
de fiscalização no Brasil, envolvidos na produção 
de peixes e outros animais aquáticos. Certificar 
um produto ou processo significa atestar que esse 
possui certos padrões de qualidade ou foi produzido 
de maneira uniforme, atendendo a parâmetros pré-
determinados pela empresa certificadora, mercado 
consumidor ou órgão governamental. Semelhante 
a outros tipos de certificação, a sanitária assegura 
que o produto que está sendo comercializado tem 
um padrão ou característica desejável (muitas 
vezes imprescindível como para fins legais) para o 
comprador, nesse caso específico, a ausência de 
doenças ou microorganismos patogênicos. 
Na aqüicultura, como em outros segmentos 
da produção animal, existem dois tipos de certificação 
sanitária: a certificação para o mercado e a certificação 
sanitária para fins legais ou obrigatórios, como 
política pública de prevenção e controle de doenças e 
proteção da atividade no país. O primeiro tipo atende 
objetivos mercadológicos, ou seja, certifica que os 
animais comercializados (peixes ou camarões) estão 
livres das doenças que causam prejuízos e impacto 
econômico para a produção. Já a certificação sanitária 
para fins legais ou obrigatórios, é realizada pelos 
órgãos governamentais de fiscalização. Essa tem por 
objetivo monitorar, controlar e informar a ocorrência 
das chamadas “doenças de notificação obrigatória”,que são as que causam prejuízo direto na produção 
e comprometem o comércio internacional, além de 
outras enfermidades importantes para produção do 
país em questão. Ao longo desse artigo, explicaremos 
os principais conceitos da certificação sanitária, 
o que atualmente se preconiza e o que está sendo 
realizado em pisciculturas e carciniculturas no Brasil 
e no mundo. 
Por:
Henrique César Pereira Figueiredo - e-mail: henrique@ufla.br
Médico Veterinário, professor do Departamento de Medicina Veterinária da 
Universidade Federal de Lavras
Coordenador do AQUAVET - Lab. de Doenças de Animais Aquáticos
Carlos Augusto Gomes Leal – Médico Veterinário, 
Mestrando em Ciências Veterinárias – Universidade Federal de Lavras
A Certificação
Atualmente, peixes e outros produtos aqüícolas são as princi-
pais fontes de proteína de origem animal para um bilhão de pessoas 
ao redor do mundo, e a maior parte dessa demanda é suprida pela 
aqüicultura comercial. Diretamente proporcional ao incremento 
da atividade, a competitividade no mercado interno e externo se 
torna cada vez mais acirrada. Em tal situação, para mantermos 
velhos clientes e adquirirmos novos mercados é necessária uma 
produção eficiente e economicamente viável, visando um produto 
de qualidade a um preço competitivo. Para isso, o controle sanitário 
da produção é importante, pois um animal saudável terá um bom 
desempenho produtivo, a um custo baixo e originará produtos com 
boas características e sem riscos ao consumidor.
A certificação sanitária introduz-se nesse ponto como uma 
forma de padronizar e garantir que estamos comprando ou vendendo 
um produto confiável, que passou por um controle criterioso da 
presença de doenças durante todo cultivo e no momento da venda. 
Para discutir tais questões explicaremos a seguir, com exemplos 
práticos, a certificação sanitária como política pública (para fins 
legais) e a certificação sanitária para mercado.
 
Certificação Sanitária como Política Pública
O comércio internacional de produtos agropecuários vem 
crescendo vigorosamente desde o início do século XX. Com ele 
a disseminação de pragas e doenças entre diferentes continentes e 
países foi um efeito colateral comum no século passado. A intro-
dução de uma doença ocasiona enormes prejuízos para a produção 
local, podendo até acabar completamente com a atividade no país. 
Como forma de proteger suas produções agropecuárias os países 
começaram a adotar medidas sanitárias para evitar a entrada de 
doenças e pragas em seu território. No ano de 1924, com o obje-
tivo de discutir e padronizar as condutas sanitárias na produção e 
comércio internacional de produtos de origem animal foi criada a 
Organização Internacional de Epizootias (OIE, do francês “Office 
International des Epizooties”) atualmente conhecida por Organi-
zação Mundial para a Saúde Animal. Essa organização não possui 
poder punitivo, sendo apenas um acordo entre os países membros. 
Apesar disso, as decisões e normas da OIE são acatadas por todos 
15Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
M
ortalidade de peixes
Cultivo de ostras
Sanidade Aqüícola
os membros, pois caso contrário à credibilidade internacional 
do país que não acatar fica comprometida, prejudicando ou 
bloqueando a comercialização de seus produtos no 
mercado externo. O Brasil é um dos países signatários 
e membro fundador dessa organização, com partici-
pação ativa devido, inicialmente, aos surtos de febre 
aftosa em bovinos. 
A OIE é dividida em vários comitês, existindo 
um que trata exclusivamente de doenças de animais 
aquáticos. Esse é formado por cientistas e especia-
listas do mundo inteiro, que discutem e determinam 
os princípios da sanidade nesses animais. No ano 
de 2007 foi publicada a última edição do “Aquatic 
Animal Health Code” ou Código de Sanidade de 
Animais Aquáticos (http://www.oie.int/eng/normes/
fcode/A_summry.htm), que trata das principais 
diretrizes do diagnóstico, notificação, prevenção e 
controle de doenças de notificação obrigatória para 
animais aquáticos. 
Apesar de parecer distante de nossa realidade, todos 
sofremos com os reflexos das diretrizes regidas pela OIE e 
adotadas pelos países membros. Um exemplo prático pode ser 
observado atualmente numa ida ao supermercado, onde consta-
tamos os altos preços da carne bovina. Há dois anos, a Rússia e 
alguns países da Europa pararam de comprar a carne brasileira, 
devido à ocorrência de um surto de febre aftosa no Mato Grosso 
do Sul. Como essa é uma doença de notificação obrigatória, o 
Brasil, como membro, notificou à OIE, que publicou um aviso 
da ocorrência da enfermidade aos países membros. Depois da 
publicação esses países passaram a ter o direito de não com-
prar nossa carne, da mesma forma que não pudemos contestar, 
considerando a nossa falha sanitária. Agora, em 2008, após o 
controle do surto e tomadas às providências recomendadas pela 
OIE, esses países voltaram a comprar a nossa carne, aumentando 
assim a demanda externa e elevando o preço desse produto no 
mercado interno. 
Existem, portanto, as doenças de notificação obrigatória. 
Essas são separadas por espécies de animais sensíveis, mas 
existem também aquelas que podem acometer várias espécies. 
Nas tabelas 1 e 2 são apresentadas, respectivamente, as doenças 
de peixes e crustáceos que são de notificação obrigatória para 
OIE (http://www.oie.int/eng/maladies/en_classification2008.
htm?e1d7), bem como a natureza do agente causador de tais 
enfermidades. 
Tabela 1: Doenças de peixes de notificação obrigatória para OIE 
Tabela 2: Doenças de crustáceos de notificação obrigatória para OIE 
Até o presente momento, os piscicultores brasileiros vi-
vem uma situação confortável quanto às doenças de notificação 
obrigatória para a OIE, pois nenhuma delas foi diagnosticada no 
Brasil. Portanto, tecnicamente não temos empecilhos quanto à 
comercialização de peixes para o exterior. Isso porque a maioria 
das doenças de notificação obrigatória para peixes ocorre so-
mente em animais pouco cultivados no Brasil, como as espécies 
de salmão e truta, híbridos de “striped bass”, bacalhau, dentre 
outras. Porém, não quer dizer que não possamos ter futuramente 
doenças de peixes descritas no Brasil e que a OIE ache necessário 
o controle e notificação obrigatória. 
Já na carcinicultura o panorama é diferente. No período 
de janeiro de 2005 a dezembro de 2007, quatro casos da doença 
da mancha branca foram notificados no mundo, sendo dois no 
Brasil. Porém, essa doença não é um problema apenas em nosso 
país. Amplamente disseminado pelo mundo, o vírus da mancha 
branca acomete carciniculturas tanto em países em desenvolvi-
mento como em países desenvolvidos, que teoricamente possuem 
programas e procedimentos sanitários mais rigorosos. O caso 
mais recente notificado à OIE (Ref. OIE: 7127) ocorreu no Ha-
waii (um estado norte americano) no dia 19 de junho deste ano. 
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o 
fato ocorreu em um tanque de uma propriedade comercial vol-
tada à produção de Litopenaeus vannamei, localizada na ilha de 
Kauai. Quarentena e o controle do trânsito de animais no país 
inteiro (independentemente do fato ter ocorrido em um estado 
não continental) foram as principais medidas sanitárias adotadas 
no controle desse surto. Outra doença de notificação obrigatória 
importante para carcinicultura nacional é a mionecrose infecciosa 
(NIM). Essa enfermidade parece circular no país desde o ano de 
2004. Altamente prejudicial, foi incluída na última atualização da 
lista de doenças de notificação obrigatória da OIE, realizada no 
dia 21 de janeiro de 2008. O primeiro caso de NIM notificado à 
OIE foi um brasileiro (Ref. OIE: 7090). Homologada no dia 4 de 
junho deste ano, essa notificação mostra que o vírus é vigente 
no país e medidas sanitárias ou até mesmo um programa de 
controle e erradicação da doença deve ser criado. 
16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
17Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Cultivo de ostrasSanidade Aqüícola
Para isso o monitoramento e controle do trânsito de 
animais no país é extremamente importante. No Brasil esse 
é realizado pela Guia de Transporte Animal (GTA). Esse 
documento oficial permite rastrear para onde seguiram os 
animais após o aparecimento do foco da doença. De posse 
dessa informação os órgãos de defesa agropecuária podem 
determinar a proporção e a disseminação do problema a partir 
do foco inicial, bem como instaurar atividades de controle do 
surto nas localidades acometidas.
Doenças de Notificação Obrigatória à OIE
Que atributos são considerados para que uma doença 
seja classificada como de notificação obrigatória pela OIE? De 
modo geral todas as doenças de notificação obrigatória são de 
fácil disseminação entre os animais e causam elevadas perdas 
econômicas e, por vezes, elevada mortalidade. São doenças de 
difícil controle por medidas terapêuticas (uso de remédios), e 
são passíveis de erradicação, ou seja, o agente causador pode 
ser eliminado de toda uma região geográfica. É por isso que a 
maioria das doenças de notificação obrigatória da OIE é causada 
por vírus (Tabelas 1 e 2), que são agentes infecciosos que muitas 
vezes se enquadram em todos os requisitos citados. 
A notificação de doenças obrigatórias à OIE é realizada 
pelo setor veterinário do órgão de fiscalização agropecuária do 
país, no caso do Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento (MAPA). Para isso, o profissional necessita da 
confirmação do diagnóstico através de exames laboratoriais. 
Esses testes são realizados em laboratórios credenciados pela 
OIE e os exames a serem realizados variam de acordo com a 
suspeita, sendo padronizados pelo “Manual de Testes Diagnós-
ticos para Animais Aquáticos” da OIE (“Manual of Diagnostic 
Tests for Aquatic Animal”). Imediatamente após a obtenção dos 
resultados a OIE é notificada do caso. Posteriormente, a solução 
para o problema fica a cargo do país acometido.
A resolução dos problemas e prevenção de novos casos 
é importante não só do ponto de vista sanitário, mas também 
comercial. Problemas sanitários na produção são os argumen-
tos mais comuns utilizados por outros países quando querem 
impedir a entrada de produtos agropecuários do Brasil, um 
país altamente competitivo no mercado internacional. Estamos 
sujeitos a isso, da mesma forma que utilizamos tais estratégias 
para nos proteger e competir no mercado. Isso pôde ser visto 
claramente em um impasse recente que aconteceu entre o Brasil 
e o Chile, com a ameaça recíproca de parada de importação da 
carne brasileira e de importação do salmão chileno.
Um exemplo interessante de política pública de certi-
ficação sanitária é a vigente na Comunidade Européia (CE). 
Conforme a diretiva 2006/88/EC do Conselho da Comunidade 
Européia, as propriedades que produzem peixes e outros animais 
aquáticos são classificadas em cinco categorias, em função de 
seu status sanitário (Tabela 3). Essa classificação define que tipo 
de comercialização de animais pode ser feita por cada fazenda. 
Como podemos ver na figura 1, de acordo com a classificação, as 
fazendas ou empresas só podem fornecer animais para determi-
nadas categorias e só adquirem de categorias com melhor status 
sanitário. Esse tipo de modelo garante uma maior segurança ao 
setor e força as propriedades menos criteriosas a se adequarem 
ou terão seu mercado restringido. Porém, apesar de muito 
interessante, esse modelo possui algumas falhas. A principal 
delas é a permissão do trânsito de animais entre propriedades 
da categoria III. Essas têm caráter sanitário indefinido, podem 
estar veiculando patógenos entre fazendas livres das doenças, 
porém ainda listada dentro dessa categoria, e propriedades 
infectadas. Mas esse quadro atual na Europa se justifica pelo 
recente ingresso de países do leste europeu à CE e necessidade 
de maior tempo de adaptação destes aos critérios de controle 
sanitários já estabelecidos na Comunidade. 
No Brasil existe ainda a dificuldade no diagnóstico de 
doenças de peixes e camarões, devido à falta ou número redu-
zido de laboratórios especializados na área. Isso compromete 
a implementação de uma política pública de certificação sani-
tária, como a da União Européia. A existência de ferramentas 
diagnósticas é um procedimento essencial para tal. Iniciativas 
governamentais nesse sentido seriam interessantes, pois um 
maior número de laboratórios aumentaria o acesso, facilitaria 
Tabela 3: Classificação das 
propriedades de produção 
de peixes e outros animais 
aquáticos de acordo com a 
legislação da Comunidade 
Eu ropé ia . Na tabe la 
pode-se observar quais 
categorias de fazendas 
podem fornecer animais 
e de quais elas podem 
adquirir, de acordo com 
o status sanitário da 
propriedade
18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Sa
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Figura 1: Fluxograma do trânsito de animais entre propriedades de diferentes 
categorias, de acordo com a classificação realizada pela legislação da União 
Européia. O trânsito de animais só é feito em uma direção, exceto para 
categoria I, onde a aquisição e fornecimento de animais podem ocorrer entre 
propriedades dessa classe. Idem à categoria I a categoria III também pode 
realizar esse tipo de movimentação de animais.
o diagnóstico e a realização de levantamentos sobre a situação 
sanitária nacional. Necessitamos dessas informações básicas 
para a construção de programas nacionais de levantamento e 
controle de doenças de animais aquáticos, para posteriormente 
partirmos para a certificação do status sanitário de regiões e 
estados do país. 
Certificação Sanitária para o Mercado
Durante a Segunda Guerra Mundial as indústrias bélicas 
inglesas necessitavam de padrões e normas estritas, que fossem 
rotineiramente realizadas e documentadas com o objetivo de 
evitar acidentes e otimizar a produção. Nesse contexto surgi-
ram os processos de certificação para o mercado. Atualmente, 
existem vários tipos de certificação, de maneira geral todas elas são 
fundamentadas na realização de um conjunto de procedimentos e 
práticas que levam à obtenção de um produto final padronizado e 
de qualidade. Dentro dessas diretrizes, a certificação sanitária para 
aqüicultura objetiva a obtenção de animais ou produtos atestadamente 
livres das doenças importantes para atividade na região ou país.
Diferentemente da certificação sanitária como política pública, 
a certificação para o mercado é voltada para aqueles patógenos ou 
doenças que são importantes no dia a dia da produção, sendo ou não 
de notificação obrigatória para a OIE. Por exemplo, uma das doenças 
de maior relevância para a tilapicultura nacional é a encefalite por 
Streptococcus (principalmente S. agalactiae). Como visto na tabela 
1, esses microorganismos não estão listados entre as doenças de 
notificação obrigatória da OIE. Porém, causam enormes prejuízos 
para os produtores, devido às altas taxas de mortalidade de peixes 
no pré-abate e custo com o tratamento. A forma mais comum de 
introdução desses patógenos em um plantel é através da aquisição 
de peixes (alevinos, juvenis ou matrizes) portadores assintomáticos, 
Baixo Risco
Categoria 1 Categoria 1
Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4
Categoria 5
Risco 
Moderado
Alto Risco
que não apresentam sinais clínicos da enfermidade. Por-
tanto, obviamente a aquisição de animais livres desses 
patógenos é interessante, sendo a certificação sanitária o 
caminho para que os fornecedores garantam um produto 
com tal característica. 
No Brasil o fluxograma da produção de peixes é 
representado na figura 2. Como podemos observar nessa 
figura, a produção no país é segmentada, ou seja, existem 
os larvicultores e os produtores que realizam recria e 
engorda, existindo movimentação de animais entre dife-
rentes propriedades, regiões e estados. Já visitamos, por 
exemplo, uma larvicultura de tilápias que vendia alevinos 
para mais de dez estados brasileiros. Essa condição é sa-
lutar, mas deve ser acompanhada de um controlesanitário 
e de ferramentas de certificação que assegurem o status 
de saúde dos animais vendidos. 
Figura 2: Representação esquemática das diferentes etapas da produção 
de peixes no Brasil. Atualmente, a aquisição de reprodutores representa 
pequena parte desse fluxo de animais, sendo a produção dos alevinos e 
comercialização desses a forma mais comum de trânsito de peixes entre 
diferentes propriedades.
A certificação sanitária não consiste apenas 
da realização de exames nos lotes de alevinos e pós-
larvas no momento da comercialização, para atestar a 
ausência de doenças. Ela é baseada na implementação 
de um “Programa Sanitário” específico, que envolve 
diversos procedimentos e práticas, aplicados de acordo 
com a realidade observada na propriedade ou empresa. 
Esse tem caráter exclusivo, devido à grande diver-
sidade de sistemas de cultivo e fazendas existentes, 
cada qual com suas particularidades e necessidades 
distintas. Para facilitar o entendimento serão descritos 
os principais procedimentos e etapas realizadas du-
rante um processo de certificação sanitária, utilizando 
como exemplo uma larvicultura comercial de tilápia 
do Nilo. 
O primeiro passo para a certificação é a identifi-
cação dos principais problemas vigentes na proprieda-
de. Durante esse período, é realizado o levantamento 
19Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Cultivo de ostras
Sanidade Aqüícola
de informações sobre a produção, índices produtivos, manejo, 
etc, bem como a coleta de material e realização de exames la-
boratoriais para o diagnóstico de doenças. Esses procedimentos 
são feitos tanto nas matrizes como nos alevinos em diferentes 
estágios de desenvolvimento. De posse dessas informações é 
possível determinar quais doenças estão presentes, a distribui-
ção delas na propriedade, os sistemas de cultivo acometidos e 
a possível dinâmica da enfermidade no plantel. A partir disso 
inicia-se o controle e erradicação das doenças, que envolve o 
descarte de animais e tratamentos terapêuticos com antibióticos 
e substâncias desinfetantes, de acordo com o problema e situ-
ação da propriedade. Caso a larvicultura não possua patógenos 
detectáveis nesse momento, medidas de manutenção do status 
negativo devem ser implementadas.
Assim, partimos para a implementação das práticas de biosse-
gurança. Essas têm por objetivo impedir a recorrência das doenças 
e evitar a entrada de novos patógenos e parasitas na propriedade. 
Nessa etapa é realizado o treinamento dos funcionários, um passo 
extremamente importante, pois eles devem ser capazes de identificar 
o menor sinal de problema e realizar os procedimentos básicos para 
controlar ou conter as possíveis eventualidades até a chegada do pro-
fissional responsável. Não descreveremos todos os procedimentos de 
biossegurança aplicáveis, pois são muitos. A monitoração constante 
da presença de doenças é o que garante a eficiência do programa e 
atesta que os lotes que serão vendidos estão livres de doenças. Os 
exames laboratoriais de rotina são realizados a partir de amostras 
de sangue e outros tecidos dos animais adultos (coleta feita sem a 
"A implementação 
das práticas de 
biossegurança tem 
por objetivo impedir 
a recorrência das 
doenças e evitar a 
entrada de novos 
patógenos e parasitas 
na propriedade" 
20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
necessidade de sacrifício de matrizes) e de amostras de 
alevinos coletadas nos lotes em fase de comercialização.
Na terceira etapa é realizada a avaliação do pro-
grama quanto a seu funcionamento, eficiência e resul-
tados obtidos. Apesar de parecer a etapa mais fácil ela 
é a chave do processo de certificação. Durante tal etapa, 
devem ser detectadas as falhas que estão ocorrendo ou 
podem vir a ocorrer, comprometendo todo o trabalho 
realizado. Na realidade essa etapa dura indefinidamente, 
pois o monitoramento, avaliação e correção de falhas 
no programa devem ser sempre realizados. Com o pro-
grama em pleno funcionamento podemos afirmar que 
os produtos oriundos desta propriedade estão livres das 
principais doenças para a espécie.
A certificação sanitária confere um atributo comercial 
diferenciado ao produto. Além disso, ela permite que vendedor e 
comprador estejam seguros que o produto comercializado entre 
eles é de qualidade. Isso é importante nos dias de hoje, pois além 
da sobrevivência no mercado queremos também que nossos 
clientes se mantenham na atividade por tempo indeterminado, 
e para isso as relações devem ser sólidas. 
Durante conversas com produtores e técnicos sobre 
certificação sanitária da produção somos questionados se esse 
procedimento não seria só mais uma despesa ao produtor, 
uma incoerência sabendo da estreita margem de lucro obtida 
atualmente. Não existem experiências nacionais de certifica-
ção sanitária de pisciculturas e carciniculturas. Um exemplo 
interessante foram os resultados obtidos em um projeto de 
cooperação técnica realizada pela FAO (órgão vinculado a 
ONU) e da Rede de Centros de Aqüicultura da Ásia - Pacífico 
(NACA, sigla em inglês) com pequenos produtores de camarão 
da região de Andhra Pradesh, Índia. As carciniculturas dessa 
região têm graves problemas com surtos de doença da man-
cha branca. Os técnicos selecionaram diversas fazendas, com 
características de produção semelhantes, dividindo-as em dois 
grupos: grupo um, fazendas onde foi implementado um manejo 
sanitário e utilizadas pós-larvas certificadamente livres do vírus 
da mancha branca; e grupo dois, fazenda sem manejo sanitário 
e utilizadas pós-larvas comuns. O manejo sanitário implemen-
tado no grupo um é semelhante ao programa sanitário utilizado 
durante o processo de certificação sanitária de uma propriedade. 
Os resultados obtidos são apresentados na tabela 3. Apesar da 
diferença no tempo de cultivo, os índices produtivos com a 
implementação do manejo sanitário foram significativos. Esses 
dados demonstram que além de um produto de maior qualida-
de, a implantação de certificação sanitária auxilia na eficiência 
produtiva da fazenda.
Tabela 4: Resultados obtidos nos grupos de fazendas de camarão 
submetidos a diferentes manejos e com pós-larvas de distintos status 
sanitários para a mancha branca (Adaptado de Subasinghe, 2005)
* manejo sanitário + pós-larvas certificadas
** sem manejo sanitário + pós-larvas comuns
 A maior especialização da cadeia produtiva da aqüicultura 
no país, inclusive com a certificação sanitária, será definidora da 
eficiência produtiva e da lucratividade futura. No histórico do Brasil 
tanto a certificação sanitária governamental quanto a mercadológica 
só foram à frente quando produtores e governo trabalharam em 
conjunto. Isso foi o definidor da internacionalização da carne suína, 
bovina e de aves do país. Os fatos recentes de nossa aqüicultura 
expõem claramente a necessidade de atitude semelhante. 
***
Os trabalhos desenvolvidos no AQUAVET são Financiados pela Fundação 
de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e CNPq. 
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21Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
22 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Diagnóstico de doenças de 
moluscos marinhos: 
Medidas de controle de doenças
Medidas profiláticas foram estabelecidas a nível mundial para 
prevenir e monitorar o aparecimento de possíveis agentes patogênicos; 
sendo uma destas medidas o uso de uma legislação preventiva. Destaca-se, 
neste sentido, a OIE que desenvolveu um Código de Saúde para Animais 
Aquáticos (OIE 2007) incluindo normas, diretrizes e recomendações para 
velar pela segurança sanitária no comércio de animais aquáticos (www.oie.
com). Este Código lista as doenças de notificação obrigatória para moluscos; 
esta pode sofrer modificações periódicas segundo a necessidade e avanços 
científicos. A OIE incentiva os diferentes países a utilizar as normas previstas 
neste código e ao mesmo tempo criar uma legislação própria baseando-se 
na realidade local. Como exemplo, a União Européia criou duas diretrizespara esta finalidade. A primeira (Diretriz 91/67/CEE) define as condições 
de vigilância sanitária que regem no mercado a introdução de animais e 
produtos da aqüicultura. No caso de bivalves, duas doenças endêmicas são 
de declaração obrigatória, a saber, bonamiose e marteiliose, causadas pelos 
protozoários Bonamia ostreae e Marteilia refringens, respectivamente. Já a 
segunda (Diretriz 95/70/CE), específica para moluscos, define as medidas 
mínimas de combate às mortalidades anormais (mortalidades súbitas) e am-
plia a lista anterior de doenças, incluindo também as doenças causadas por 
parasitas exóticos à Europa, a saber, Bonamia exitiosa, Bonamia roughleyi 
(= Microcytos roughleyi), Marteilia sydneyi, Microcytos mackini, Perkin-
sus marinus, Perkinsus olseni (= Perkinsus atlanticus), Haplosporidium 
nelsoni, Haplosporidium costale e Candidatus Xenohaliotis californiensis. 
Ainda, estas leis definiram os Laboratórios Nacionais de Referência para 
Doenças de Moluscos na Europa e o Laboratório da Comunidade Européia 
de Referência para Doenças de Moluscos (no IFREMER, sediado em La 
Tremblade, França) delegando-lhes inúmeras funções e obrigações, entre 
elas, a de realizar o diagnóstico oficial, de estabelecer métodos de diag-
nóstico e de consolidar programas de vigilância sanitária dos estoques de 
moluscos bivalves. 
No entanto, devido ao rápido desenvolvimento da produção 
de moluscos, a União Européia sentiu a necessidade de ampliar as 
medidas de controle sanitário dos moluscos incluindo seus derivados 
uma prática para o bom 
desenvolvimento da maricultura
Por: Dra Patrícia Mirella da Silva
Pós-doutoranda do Laboratório de Imunologia Aplicada à Aqüicultura e do Núcleo de 
Diagnóstico e Patologia em Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: mirella_dasilva@hotmail.com
O consumo de bivalves no Brasil vem crescen-do sobremaneira e o consumidor está cada 
dia mais habituado a encontrar mariscos à venda 
nas peixarias e supermercados. Este fato decorre 
de vários fatores, entre eles o do próprio cresci-
mento da produção. Ainda, a implantação do selo 
de inspeção federal (SIF) permitiu a exportação 
de moluscos para outros estados brasileiros e cer-
tifica a qualidade do produto final para o consumo 
humano. Em vista deste sucesso crescente, se faz 
necessário também um controle dos agentes pato-
gênicos que acometem os moluscos para garantir 
a sustentabilidade da atividade.
O cultivo de moluscos não é uma atividade 
recente. Contudo, sua intensificação resultou 
e ainda resulta numa das principais causas, do 
aparecimento de doenças, ou epizootias. A propa-
gação de enfermidades nos estoques de bivalves 
está em parte relacionada às práticas de cultivo, 
que implicam quase sempre em altas densidades 
populacionais; que acabam por alterar seu estado 
fisiológico e imunológico, tornando estes orga-
nismos mais susceptíveis à infecções, que pode 
culminar em mortalidades em massa.
Neste contexto, este artigo tem por objeti-
vo abordar alguns aspectos referentes à sanidade 
de moluscos de importância comercial, incluin-
do: (1) recomendações internacionais para o 
controle sanitário; (2) métodos de diagnóstico 
de doenças de declaração obrigatória da Organi-
zação Mundial para a Saúde Animal (OIE) e, (3) 
uma breve revisão das patologias de moluscos 
no mundo e no Brasil. 
23Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Diagnóstico de doenças
e criou uma nova Diretriz (2006/88/CE) que unifica e amplia 
as duas diretrizes anteriores. 
No Brasil, até muito recentemente não existia uma legislação 
similar à descrita acima, mas em 2003 foi criado o Programa Nacio-
nal de Sanidade de Animais Aquáticos (PNSAA, Portaria nº 573, de 
4 de junho de 2003; Instrução Normativa nº 53 de 2003), que tem 
como objetivo efetuar o controle sanitário em estabelecimentos de 
aqüicultura, assim como evitar a introdução de doenças exóticas e 
controlar e erradicar aquelas existentes no país. O órgão responsá-
vel pela criação de normas, coordenação e execução das atividades 
previstas neste programa é o Departamento de Defesa Animal do 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e, as 
ações de campo do programa estão sob responsabilidade da Dele-
gacia Federal de Agricultura (DFA) e das Secretarias Estaduais de 
Agricultura. No entanto, é importante relatar que o Brasil acaba de 
dar um passo muito importante na prevenção e controle de doenças de 
animais aquáticos, com o lançamento da Portaria nº 86, de 06 junho 
de 2008, que submete a consulta pública o projeto de Instrução Nor-
mativa que aprova o Regulamento Técnico do PNSAA. O conteúdo 
desta instrução é abrangente e inclui todos os aspectos básicos do 
processo de controle sanitário; citam-se aqui apenas alguns pontos: 
1) doenças de notificação obrigatória são àquelas relacionadas pela 
OIE, exóticas ou que ameacem a economia do país e devem ser 
obrigatoriamente notificadas e investigadas pelo veterinário oficial, 
em até 48h; 2) um sistema de vigilância e informação com colheita 
de amostras oficiais deverá ser implantado; 3) laboratórios serão 
credenciados e as metodologias por eles utilizadas serão inicialmente 
as da OIE, tendo seus resultados divulgados de forma controlada; 
4) o trânsito (internacional e nacional) de animais aquáticos, seus 
produtos e subprodutos será regulamentado e condicionado à análise 
de risco, quarentena, atestação sanitária, entre outros. 
Certamente, esta nova legislação brasileira, após entrar em 
vigor e, se corretamente aplicada, resultará em um controle altamente 
eficiente das doenças de animais aquáticos. No entanto, cabe ressaltar 
que esta exigirá a incorporação de profissionais especializados, assim 
como, o estabelecimento urgente de laboratórios nacionais de refe-
rência para cada um dos principais grupos de organismos aquáticos 
(peixes, crustáceos e moluscos); especialmente se considerar-mos 
que a suspeita de uma doença de notificação obrigatória em estabe-
lecimento de aqüicultura implicará na colheita de amostras e envio 
para o diagnóstico em um laboratório oficial ou credenciado (Cap. 
III, Art. 7, § 1º - Projeto da Instrução Normativa).
No que se refere ao estado de Santa Catarina foi ainda criada 
uma lei (CONAMA nº 021/2002) que se aplica aos organismos 
aquáticos, e que estabelece como órgão executor do controle sa-
nitário, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de 
Santa Catarina (CIDASC). Esta lei lista uma série de organismos 
que devem ser monitorados, mas surpreendentemente não inclui 
as doenças causadas por protozoários dos gêneros Perkinsus e 
Bonamia (de declaração obrigatória da OIE). Sabe-se que parasitas 
destes gêneros já foram relatados em bivalves de países vizinhos ao 
Brasil, a saber, Perkinsus olseni no Uruguai, infectando o berbigão 
Pitar rostrata (Cremonte et al. 2005) e Bonamia sp. infectando as 
ostras Ostrea puelchana na Argentina (Kroeck & Montes 2005) e 
Ostrea chilensis (Corbeil et al. 2006) no Chile. Estas occorrências 
passam a representar um sério risco aos estoques brasileiros devido à 
proximidade entre estas regiões. Ainda, recentemente uma nova 
espécie, Bonamia perspora n. sp., foi descrita infectando Ostreola 
(= Ostrea) equestris na Carolina do Norte (EUA) (Carnegie et 
al. 2006), espécie existente no Brasil. Por outro lado, a lei refe-
rida acima inclui a doença causada pelo protozoário intracelular 
Mycrocitos mackini (microcitose) que apresenta uma ocorrência 
muito limitada, uma vez que necessita um período de pelo menos 
3 meses com temperaturas da água do mar inferiores a 10oC para 
o seu desenvolvimento, condições pouco prováveis de serem 
encontradas, mesmo nas regiões mais frias do Brasil. Com os 
relatos acima seria conveniente iniciar um programa de controle 
de doenças e implantar no Brasil um laboratório de referência 
para doenças de moluscos.
No Brasil não existe um laboratório credenciado pelo 
MAPA para o diagnóstico de doenças de moluscos, mas existe um 
laboratório autorizado pelo MAPA

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