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62 Unidade III Unidade III 5 GESTÃO DE COMPRAS Comprar é uma das mais importantes atividades da organização. O gestor de recursos materiais e patrimoniais pode desenvolver essa atividade diretamente ou possuir, em seu quadro de colaboradores, um ou mais funcionários responsáveis pelas compras. De antemão é necessário refletir sobre alguns pontos. Também é possível que, dentro da estrutura organizacional, dependendo do tamanho da empresa, a estrutura de compras seja independente, com gerenciamento separado. De qualquer forma, cabe ao gestor conhecer os princípios básicos dessa área. A atividade de compras: • Está relacionada com a política da empresa e de seu posicionamento estratégico. Por exemplo, em que parte da cadeia de suprimentos a empresa está inserida? Se for um pequeno varejista, as compras devem ser suficientes para suprir os clientes pelo tempo previsto para a reposição (sem esquecer, claro, do estoque de segurança). Já se for um atacadista ou distribuidor, o gestor deve verificar quais as metas do período, inclusive possíveis promoções para aumentar o faturamento e colocar no mercado mais produtos. • É de extrema confiança do nível estratégico da organização. Tudo deve ser muito bem documentado e todos os processos devidamente identificados como garantias adequadas do gestor de materiais e patrimônio. A seguir serão abordados os pontos fundamentais da atividade de compras. 5.1 Pontos principais da atividade de compras Segundo um autor clássico da área, Westing (1961, p. 10‑16 apud BALLOU, 2015, p. 62), as compras envolvem certas atividades centrais, que são: • assegurar descrição completa das necessidades; • selecionar fontes de suprimentos; • conseguir informações de preços; • colocar os pedidos (ordens de compra); • acompanhar (monitorar) os pedidos; • verificar notas fiscais; 63 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS • manter registros e arquivos; • manter relacionamento com vendedores. Comprar é sempre um procedimento complexo, que exige uma série de providências: • Anterior às compras: definir exatamente o que se necessita comprar. • Durante as compras: comprar com qualidade e bom preço. • Após as compras: verificar se o que foi entregue é o que foi comprado e checar outros itens, como eventuais garantias. Veja alguns pontos importantes da atividade de compras, conforme Westing (1961, p. 10‑16 apud BALLOU, 2015, p. 62): • Assegurar descrição completa das necessidades: verificar com os utilizadores se todos os requisitos do produto que realmente importam estão devidamente informados, por exemplo, quantidade, cor, tipo, eventuais diferenças de tamanho etc. • Selecionar fontes de suprimentos: sobre esse item há uma seção com a qual serão tratados os pontos para a seleção de fornecedores. • Conseguir informações de preços: cotar preços com possíveis fornecedores, priorizando, também, a qualidade. • Colocar os pedidos (ordens de compra): formalizar a compra com os fornecedores selecionados. • Acompanhar (follow‑up) os pedidos: acompanhar desde o pedido até a entrega. • Verificar notas fiscais: verificação da documentação pertinente. • Manter registros e arquivos: manter todos os registros do processo de compra, desde a identificação inicial (solicitação do setor envolvido até a finalização da compra e a respectiva entrega). • Manter relacionamento com vendedores: é fundamental um bom relacionamento com os vendedores, especialmente para o esclarecimento de dúvidas rápidas ou de pedidos urgentes, fora de hora. O ponto mais importante para o gestor de materiais e patrimônio é conhecer a relevância estratégica que a área de compras adquiriu nos últimos anos. Antes, comprar era meramente uma atividade acessória. Hoje, é de relevância para toda a organização. 64 Unidade III No mercado, há quem faça distinção entre as diversas áreas de compras. Observe a figura a seguir: (a) Área de suporte (b) Foco em preço (c) Analistas de compras (d) Cadastro de fornecedores (e) Atendimento por demanda (f) Etapa de cadeia de suprimentos (a) Área de suporte (b) Foco em custo (c) Gestores da categoria (d) Gestão de fornecedores (e) Planejadora (f) Avança na cadeia de suprimentos (a) Função de negócio (b) Foco na geração de valor a partir do gasto (c) Estrtutura matricial (gestor de pacotes e entidades) (d) Gestão de fornecedores em ambiente multicanal (Omnichannel) (e) Preditiva (f) Integração total na cadeia de suprimentos (end‑to‑end) ÁREA DE COMPRAS Compras táticas STRATEGIC SOURCING Compras técnicas PROCUREMENT Compras estratégicas Máximo Mínima IntensoUso de tecnologia Pe rs pe ct iv a es tr at ég ic a Figura 12 – Atividades de compras sob a perspectiva estratégica No gráfico exposto observam‑se três possíveis esferas na atividade de compras, que variam segundo a importância estratégica de cada uma delas. A primeira, que o autor chama de “compras táticas”, está relacionada às atividades mais cotidianas. Já o segundo bloco, o das “compras técnicas”, está relacionado às exigências que uma compra mais qualificada traz. O último bloco, o das “compras estratégicas”, está relacionado às compras mais importantes sob o ponto de vista do negócio da organização, que busca uma integração total da cadeia de suprimentos. As compras técnicas muitas vezes são referenciadas, no mercado, pelo nome de strategic sourcing; já as compras estratégicas, pelo termo procurement. Lembrete Comprar é uma das mais importantes atividades da organização. Exige o cumprimento estrito de todas as regras internas. Brum (2018) define e caracteriza o termo procurement: Talvez este pilar seja o que de fato diferencia uma função de Procurement de excelência das demais funções tradicionais de compras. O desafio de monitorar os principais indicadores de produção, estocagem, distribuição e logística permite não somente planejar melhor as aquisições da empresa, mas também contribuir com a melhora do resultado desses indicadores. A otimização do consumo de insumos 65 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS e matérias‑primas, redução dos níveis de estoque e perdas, redução de gastos com revisão do modelo e rotas de distribuição, aumento do Otif na logística e outros resultados possíveis impactam direto na eficácia da cadeia de suprimentos e na geração de dinheiro novo para a empresa. Algumas questões podem permitir a reflexão sobre o grau de gestão que temos na cadeia de suprimentos a partir da área de compras: – A área de compras participa dos estudos de capacidade e definição das metas de produção anual da empresa? – Quais são as necessidades e regras de estoque para cada item em cada etapa da produção? Isso está refletido nas diretrizes de compra e imobilização de capital por categoria de produto ou serviço? – A área de compras entende qual é a demanda atual e potencial de nossos clientes e reflete isso nas suas políticas de compra e estoque? – As oportunidades de integração na cadeia de valor do setor para ganho de produtividade e redução de custos são conhecidas? – O nível de integração atual da área na cadeia de suprimentos permite contribuir na identificação de lacunas de oportunidade de melhora dos resultados dos indicadores técnicos ao longo da cadeia produtiva? Além dos pilares qualificados acima, não podemos nos esquecer da estrutura de processos que deve existir para apoiar a execução das atribuições, foco da função Procurement. Processos que se relacionem com a gestão de fornecedores, de risco, de canais, monitoramento de mercado e S&OP darão sustentação às atividades finalísticas do Procurement, ajudarão na manutenção do seu nível de eficiência e na sua capacidade de geração de resultados. Pelo texto, observa‑se o nível de excelência que a área de compras pode alcançar seguindo os preceitos recomendados. Saiba mais No texto anterior, a respeito de procurement, é citada uma abreviatura: S&OP. O que significa isso? Representa a abreviatura das palavras, em inglês, sales and operations planning,que é a tradução de vendas e planejamento das operações. Saiba mais a respeito no artigo: ZUPPI, A. C. Sales and operations planning. Administradores, 21 jul. 2009. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/ marketing/sop‑sales‑and‑operations‑planning/32088/>. Acesso em: 2 out. 2018. 66 Unidade III 5.2 Objetivos da atividade de compras Pozo (2010, p. 136‑137) destaca alguns itens que se constituem nos objetivos da atividade de compras. São eles: • Permitir continuidade de suprimentos para o perfeito fluxo de produção: o gestor de materiais tem sob a sua responsabilidade o fornecimento de insumos e demais materiais (para limpeza, manutenção etc.) que permitem o funcionamento da área produtiva. A falta desses materiais pode ocasionar a interrupção da atividade produtiva. O gestor responsável pela atividade de compras deve estar constantemente em diálogo com o(s) responsável(is) pela produção, para fazer as devidas previsões da quantidade necessária de materiais, levando em consideração aspectos como a sazonalidade, por exemplo. • Coordenar os fluxos com o mínimo de investimentos em estoques e adequado cumprimento dos programas: aqui o conceito de Just in Time deve ser relembrado. Estoques desnecessários representam custo adicional em segurança, limpeza, despesa com horas trabalhadas, além de despesas com insumos e materiais que poderiam ser evitadas. O que está programado deve ser cumprido, como as encomendas que a organização tem, por exemplo. Mas, que seja realizado sem desperdícios. • Comprar materiais e produtos aos mais baixos custos, dentro das especificações predeterminadas em qualidade, prazos e preços: uma ampla cotação de preços é sempre recomendada. Verificar, sempre, a possibilidade de comprar por preços mais vantajosos. Contudo, não pode ser o único critério. Preço mais baixo não pode justificar uma baixa qualidade do suprimento. Cabe ao responsável pelas compras resguardar os parâmetros de qualidade dos materiais adquiridos. E, se for o caso, exigir as devidas garantias. Após constatar a preferência por certos fornecedores, pode‑se desenvolver uma parceria estratégica com eles. • Evitar desperdícios e obsolescência de materiais por meio de avaliação e percepção do mercado: essa avaliação e percepção do mercado estão ligadas à correta previsão de demanda. Claro que o gestor da área de materiais deve estar em contato permanente com o responsável pela produção, pois determinadas variáveis devem ser levadas em conta, antes do planejamento de compras. Por exemplo, uma determinada fábrica de sorvetes diminui, naturalmente, sua produção no inverno. Contudo, há uma excepcional demanda de buffets infantis já encomendada. Nesse caso, cabe ao gestor adquirir os materiais e insumos necessários baseado nas informações obtidas com as áreas comercial e produtiva. • Permitir à empresa uma posição competitiva, mediante negociações justas e credibilidade: o gestor deve sempre negociar melhores condições de aquisição. Essas negociações podem ser diretamente relacionadas aos preços e/ou condições de pagamentos. O importante é sempre lembrar que quando a organização gasta menos, automaticamente se torna mais competitiva, pois pode abaixar seus próprios preços ou utilizar a margem extra contratando mais funcionários ou agregando outros valores ao seu negócio e produtos, como modernizando seus equipamentos, por exemplo. • Manter parceria com os fornecedores para crescer junto com a empresa: depois de selecionado, o fornecedor pode se tornar um parceiro estratégico, desde que haja garantias de que essa parceria preveja bons preços, preferência na entrega e agilidade em ocorrências excepcionais. 67 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS Observação A gestão de compras deve observar as especificidades de cada setor. Conhecer cada vez mais detalhes específicos de cada área enriquece a capacidade de discernimento de quem administra. Muitas vezes, ao tomar conhecimento de algumas soluções, o gestor poderá adaptá‑las e utilizar em sua realidade diária. Saiba mais O artigo a seguir remete a um estudo a respeito da gestão de compras numa empresa do segmento de material escolar. SENAPESCHI NETO, A.; GODINHO FILHO, M. A evolução da gestão de compras em uma empresa do segmento de material escolar: estudo de caso longitudinal. Produção, v. 21, n. 1, jan./mar., 2011, p. 76‑93. Disponível em: <http://www.scielo. br/pdf/prod/2011nahead/AOP_200811113.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2018. De uma forma geral, o gestor de materiais deve seguir um roteiro que pode ser expresso em alguns passos. Observe a figura a seguir: 1 Áreas: produção comercial 3 Consulta a possíveis fornecedores: cotações 5 Recepção dos materiais. Verificações de qualidade 2 Gestão de materiais: equacionamento das compras 4 Decisão de compra Figura 13 – Compras 68 Unidade III No primeiro estágio, as áreas comercial e de produção da organização passarão ao gestor de materiais uma previsão das necessidades. Outras áreas poderão estar envolvidas, dependendo do tamanho da organização e de suas características. Pode haver demandas de um departamento de manutenção, por exemplo, ou de um departamento de serviços específicos, como limpeza ou jardinagem. Muitas dessas atividades são terceirizadas em empresas de médio ou grande porte, de forma que o dimensionamento de necessidades de materiais fica por conta da contratada, inclusive no tocante ao fornecimento. No entanto, pode haver exceções. Nesse caso, cabe ao gestor de materiais, quando tal função estiver agregada à rotina de seu setor, recepcionar também tais necessidades. No segundo estágio, o gestor fará o equacionamento das compras. Será o planejamento relativo à demanda já estudada. Nessa fase, o gestor identificará possíveis fornecedores parceiros e poderá fazer uma cotação ampla de suas necessidades no mercado. Com a posse das informações do estágio anterior, o gestor decidirá pela escolha do fornecedor ou fornecedores: é o quarto estágio, o da decisão. Nesse caso, fatores como prazo de entrega, formas de pagamento, confiabilidade do fornecedor, entre outros, fazem parte da análise. Há gestores que procuram garantias adicionais de quem fornece produtos e/ou serviços: por exemplo, comprar da organização que possua uma certificação de qualidade pode ser um diferencial interessante. Inclusive, no mercado há quem só adquira produtos da empresa que possua a ISO 9000 (certificação de qualidade) ou a ISO 14000 (certificação ambiental). Finalmente, no estágio 5, o gestor recepciona o material e faz checagens relativas ao que foi adquirido. 5.3 Dicas para uma boa gestão de compras O gestor dessa área deve se preocupar, sempre, em se atualizar com a legislação pertinente de cada área em que estiver atuando, além de alguns aspectos práticos que ajudam bastante. Por exemplo, Hoinaski (2017) elenca três pontos importantes: qualidade, procedência e normas fiscais. Análise da qualidade Em relação à qualidade, vale o preceito de que um produto feito com insumos de qualidade terá qualidade também. O gestor deve fiscalizar a qualidade do material adquirido e, como já foi observado anteriormente, se for pertinente, adquirir de fornecedores certificados. O gestor precisa avaliar o que efetivamente interessa no que se refere à qualidade do fornecedor. A certificação ISO 9000 é um indício de boas práticas. Contudo, há normas específicas para algumas áreas, como a IATF 16949:2016, que trata da qualidade para o segmento da indústria automotiva. Foi criada pela International Automotive Task Force (IATF). O IATF 16949: 2016 (1ª edição) representa um documento inovador, [por conta] da forte orientação para o cliente, com a inclusão de vários requisitos prévios específicos do cliente. 69 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS A ISO/TS 16949 (1ª edição), originalmente criada em 1999 pela International Automotive Task Force (IATF), tem como objetivo harmonizar os diferentes sistemas de avaliação e certificaçãoem todo o mundo na cadeia de fornecimento para o setor automotivo. Outras revisões foram criadas (2ª edição em 2002 e 3ª edição em 2009), necessárias para aprimoramentos do setor automotivo ou revisões da norma ISO 9001. A ISO/TS 16949 (juntamente com publicações técnicas de suporte desenvolvidas por fabricantes de equipamentos originais [aqui referidos como OEMs] e associações nacionais de comércio automotivo) introduziram um conjunto comum de técnicas e métodos para desenvolvimento de produtos e processos comuns para fabricação automotiva em todo o mundo (IATF) (tradução nossa) (INTERNATIONAL AUTOMOTIVE TASK FORCE, [s.d.]). Outras certificações específicas também podem ser exigidas, de acordo com o segmento. O ideal é que o gestor acompanhe de perto eventuais regras a respeito de boas práticas dos segmentos em que está trabalhando. E, lembre‑se sempre: regras e leis podem mudar. Sempre consulte fontes confiáveis sobre eventuais mudanças que possam afetar o seu trabalho. Procure os sites das instituições que emitem o regramento ou a certificação e, em relação às leis, utilize sempre sites oficiais. Lembrete Analisar a qualidade dos insumos é uma das formas de garantir qualidade no produto final. Análise da procedência A procedência está ligada também ao item anterior. Quanto mais se conhece do fornecedor, mais efetivo é o trabalho bem estruturado. Conhecer a procedência do material utilizado pelo fornecedor é uma maneira de trazer qualidade segura para dentro da organização. Podem ser realizadas visitas ao fornecedor, com o objetivo de fazer verificações nesse sentido. Outro aspecto importante é não adquirir produtos que não estejam dentro de uma faixa de preço aceitável no mercado. Adquirir produtos muito abaixo do preço real, sem as devidas justificativas, pode ensejar aquisição de procedência duvidosa, o que pode colocar a empresa em situações complicadas no mercado no que se refere a possíveis investigações policiais, processos judiciais etc. Além disso, é absolutamente antiética tal prática, que deve ser repudiada pelo gestor. Análise das normas fiscais Também sob o prisma legal e ético, o gestor deve estar atento às questões fiscais: O fornecedor deve estar em dia com as normas fiscais, por exemplo, emissão de nota, repasse e cobrança de impostos etc. 70 Unidade III Essa é uma maneira de evitar imprevistos e problemas, que podem ocasionar prejuízos à sua organização. Tenha em mente que a ideia de comprar o produto mais barato e vender com uma margem de lucro maior nem sempre é a melhor estratégia (HOINASKI, 2017). O gestor deve levar em conta que, principalmente nos últimos anos, a governança corporativa e o compliance têm permeado as atuações da maioria das organizações sérias e bem reputadas no mercado. Mais à frente, entre outros, tais conceitos serão explicados. Quanto à transmissão eletrônica de dados (Electronic Data Interchange – EDI), ela propicia uma forma rápida de comunicação entre empresas fornecedoras e compradoras. Para quem não está familiarizado com o termo, EDI – Electronic Data Interchange pode ser classificado como uma tecnologia de integração entre empresas que facilita e agiliza a transmissão eletrônica de dados, reduzindo a intervenção humana no processo, o que acaba eliminando as chances de erros causados por essa intervenção (O EDI..., 2014). Dias (2011) aborda os pontos que envolvem benefícios para a organização. Os benefícios potenciais da utilização do EDI são muitos: Aumento da competitividade das empresas, através de um controle mais estreito e mais dinâmico sobre a performance das vendas e ações de todos os tipos; Mais agilidade e eficiência nos processos produtivo e de administração (incluindo redução do lead time administrativo); Minimização de custos transacionais (menos pessoas envolvidas no processo, economias advindas da redução do tempo de processamento); Automatização de decisões lógicas (através de sistemas “inteligentes”, que trabalham e analisam automaticamente as informações); Eliminação dos inevitáveis erros de digitação. Observe, portanto, que a EDI é prática importante, cada vez mais utilizada nas empresas. 6 COMPRAS NA ÁREA PÚBLICA Se o gestor estiver exercendo suas atividades na área pública, é importante lembrar que há princípios que devem ser observados. Sem a observação desses princípios, o gestor pode ter problemas na execução de suas atividades, além de ser responsabilizado em várias instâncias. 71 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS O quadro a seguir elenca os princípios mais importantes: Quadro 5 – Princípios Base legal Princípios Constituição Federal de 1988 Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (este foi implantado pela EC 19/1998) Lei nº 8.666/1993 Probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. Lei nº 9.784/1999 Finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público. Decreto nº 3.555/2000 Celeridade, competitividade, justo preço, seletividade e comparação seletiva das propostas. Decreto nº 5.450/2005 Princípios correlatos da razoabilidade, competitividade e proporcionalidade. Fonte: Sebrae (2017). Em outras palavras, as compras na área pública exigem a observância aos princípios constitucionais, relacionados na primeira parte do quadro. Esses princípios devem ser observados durante todo o processo. Um exemplo é o princípio da legalidade: tudo que é feito deve estar consignado em lei. Aliás, essa é uma diferença fundamental entre o gestor da área privada e da área pública: o gestor da área privada pode fazer tudo o que não for ilegal e que não seja antiético. Já o gestor público só pode fazer aquilo que está consignado na lei. Em seguida há uma série de leis que tratam do assunto: a Lei nº 8.666/93, que trata dos aspectos relacionados às licitações; a Lei nº 9.784/99, que trata de outros princípios da administração pública importantes; e os decretos nº 3.555/2000 e nº 5.450/2005. Um detalhe importante: leis e regramentos mudam constantemente. Os gestores precisam se informar constantemente a respeito dessas mudanças. A atividade licitatória observa todos esses princípios e regramentos e é definida da seguinte maneira: A licitação destina‑se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (Artigo 3º da Lei 8.666/1993) (SEBRAE, 2017, p. 5). 72 Unidade III 6.1 Tipos de licitação Há vários tipos de licitação. A seguir, uma visão geral para o gestor: Quadro 6 – Tipos de licitação (Lei nº 8.666/1993) Menor preço O vencedor será o licitante que apresentar a proposta com o menor preço entre os licitantes considerados qualificados. A classificação se dará pela ordem crescente dos preços propostos. Melhor técnica Serão avaliadas as características técnicas da contratação. Técnica e preço A definição do vencedor se dará em função de critérios técnicos e dos valores contidos na proposta. Esses tipos de licitação, assim como a melhor técnica, devem ser utilizados na contratação de serviços de natureza predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral e, em particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos. Maior lance ou oferta O vencedor será o licitante que apresentar a proposta ou o lance com maior preço entre os licitantes qualificados. A classificação se dará pela ordem decrescente dospreços propostos. Tipo de licitação utilizado nos casos de alienação de bens e concessão de direito real de uso. Fonte: Sebrae (2017, p. 15‑16). 6.2 Modalidades de licitação Além dos tipos, há as modalidades de licitação. A Lei nº 8.666 (BRASIL, 1993) estabelece as seguintes modalidades de licitação: concorrência, tomada de preço, carta‑convite, leilão e concurso. Já a Lei nº 10.520 (BRASIL, 2002) regulamentou outra modalidade, o pregão. O artigo 22 da Lei nº 8.666 (BRASIL, 1993) estabelece: Art. 22. São modalidades de licitação: I — concorrência; II — tomada de preços; III — convite; IV — concurso; V — leilão. § 1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto. 73 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS § 2o Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. § 3o Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. § 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. § 5o Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 6o Na hipótese do § 3o deste artigo, existindo na praça mais de 3 (três) possíveis interessados, a cada novo convite, realizado para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um interessado, enquanto existirem cadastrados não convidados nas últimas licitações. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 7o Quando, por limitações do mercado ou manifesto desinteresse dos convidados, for impossível a obtenção do número mínimo de licitantes exigidos no § 3o deste artigo, essas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas no processo, sob pena de repetição do convite. § 8o É vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação das referidas neste artigo. § 9o Na hipótese do parágrafo 2o deste artigo, a administração somente poderá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos nos arts. 27 a 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação, nos termos do edital (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994). A Lei nº 10.520 (BRASIL, 2002) criou o chamado pregão, que é a sexta modalidade de licitação. Brandão (2010) lembra que: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8883.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8883.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8883.htm#art1 74 Unidade III Apesar da Lei Licitatória n.º 8.666/93 vedar a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação delas, a medida provisória n.º 2.182‑18/2001 instituiu, no âmbito da União, uma nova modalidade denominada Pregão. Só que a referida lei vedava a criação de outras modalidades de licitação, salvo se introduzidas por outra norma geral. Foi aí que a Lei 10.520, de 17/07/2002, converteu a medida provisória em norma geral, determinando também a sua aplicação aos Estados, Distrito Federal e Municípios, o que acabou por dispensar estas entidades de editarem leis próprias sobre a matéria. O pregão é a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns em que a disputa pelo fornecimento é feita em sessão pública, por meio de propostas e lances, para classificação e habilitação do licitante com a proposta de menor preço. Sua grande inovação se dá pela inversão das fases de habilitação e análise das propostas, [em que] se verifica apenas a documentação do participante que tenha apresentado a melhor proposta. Além disso, a definição da proposta mais vantajosa para a Administração é feita por meio de proposta de preço escrita e, após, disputa por lances verbais. Após os lances, ainda pode haver a negociação direta com o pregoeiro, no intuito da diminuição do valor ofertado. Diversamente das demais modalidades de licitação, o pregão pode ser aplicado a qualquer valor estimado de contratação, de forma que constitui alternativa a todas as modalidades. Uma outra peculiaridade sua é que ele admite como critério de julgamento da proposta somente o menor preço. O pregão pode ser presencial ou eletrônico. Observação Certas modalidades possuem determinadas limitações de aplicabilidade, como faixa de valores. O gestor precisa estar sempre atualizado. Saiba mais BRASIL. Decreto nº 9.412, de 18 de junho de 2018. Atualiza os valores das modalidades de licitação de que trata o art. 23 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Brasília, 2018a. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2015‑2018/2018/Decreto/D9412.htm>. Acesso em: 17 dez. 2018. 75 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS Por fim, há ainda outra modalidade de licitação, chamada de consulta. Essa modalidade foi criada pela Lei nº 9.472/1997. É uma modalidade específica, utilizada pelas agências reguladoras, especialmente para bens não comuns. É totalmente diferente das demais modalidades. A consulta é para bens e serviços não comuns, não corriqueiros, exceto órgãos e serviços de engenharia, que têm que seguir a Lei de Licitações e Contratos, é também feita em no mínimo três pessoas de reputação ilibada, elevada qualificação para apreciar as propostas. Cinco pessoas, físicas ou jurídicas, de elevada qualificação, serão chamadas a apresentar propostas para fornecimento de bens ou serviços não comuns (SOUZA, 2016). Todos esses regramentos devem e precisam ser observados, quando as vendas forem realizadas para quaisquer organizações públicas. Resumo A presente unidade teve como objetivo destacar ao estudante aspectos pertinentes à atividade de compras: os objetivos, os pontos de maior destaque e o estabelecimento de uma estrutura que possa ser pautada com parâmetros modernos da área de gestão. Conceitos atuais, como o de procurement, que é uma evolução do comprador tradicional, exemplificam a importância cada vez maior dessa área para as organizações. Também foram apresentados os tipos e as modalidades de licitação, além dos fundamentos legais de sua prática. O gestor que se dedicar a comprar ou vender para organizações públicas precisa observar esses regramentos. Exercícios Questão 1. “Hoje, as empresas têm que lutar por um diferencial que as deixem mais sedutoras ao mercado, competitivas em seus segmentos. Nesse contexto, há de se chamar à atenção um setor que há alguns anos era visto como um departamento no qual as atividades eram burocráticas e repetitivas, um verdadeiro centro de despesas e que, se começar a ser tratado como um setor estratégico, ajudará as organizações nesse intento: o Setor de Compras” (FONTOLAN, 2011). Neste sentido, observando o aumento do papel estratégico, além do aumento da tecnologia que o setor dispõe, aponte a alternativa que descreve corretamente alguns elementos das compras técnicas: A) Área de suporte, foco em custo, gestão de fornecedores e planejadora. 76 Unidade IIIB) Área de suporte, foco em preço, gestão de fornecedores e planejadora. C) Gestora de categoria, gestão de fornecedores, avança na cadeia de suprimentos e atende por demanda. D) Foco em preço, cadastro de fornecedores, atende por demanda e etapa da cadeia de suprimentos. E) Foco na geração de valor a partir do gasto, preditiva, integração total na cadeia de suprimentos e função no negócio. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a alternativa coloca corretamente alguns dos elementos da divisão do setor em técnico. Neste modelo, que é intermediário no quesito de uso da tecnologia, o setor de compras deixa de ser meramente acessório e passa a atuar de forma mais autônoma, trazendo mais soluções às demais áreas da empresa. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa está incorreta apenas por um elemento, que é o foco em preço. O foco em preço está atrelado ao setor quando ele quase não usa a tecnologia a seu favor e acaba por desempenhar‑se à reboque dos demais setores. C) Alternativa incorreta. Justificativa: de forma até intuitiva é possível observar que o “atende por demanda” não é algo característico de um setor que busca autonomia. Atender por demanda está ligado ao processo tático do setor de compras, e o processo tático é aquele ligado aos estágios iniciais do desenvolvimento do setor. D) Alternativa incorreta. Justificativa: todos os elementos apontados na alternativa fazem parte, na verdade, das compras táticas, estágio precedente ao estágio técnico. E) Alternativa incorreta. Justificativa: todos os elementos apontados na alternativa fazem parte do estágio subsequente ao estágio técnico, o chamado estágio estratégico, em que o envolvimento com tecnologia é muito maior e o setor trabalha quase que de forma autônoma, a fim de contribuir para melhores resultados gerais da empresa. 77 RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS Questão 2. “A gestão de operações na economia globalizada tem induzido as organizações a promoverem uma reestruturação produtiva que pode ser verificada pelas mudanças tecnológicas, organizacionais e comerciais de suas atividades. Um dos aspectos mais presentes nas decisões empresariais é o de externalizar tarefas, antes da responsabilidade direta da organização. Este aspecto implica na gestão do fluxo produtivo e comercial permeado em rede de organizações, onde a gestão da cadeia de suprimento tem se tornado conceito‑chave para entender e saber aplicar, e a logística, uma função importante para gerenciar adequadamente. O uso das informações, facilitado pelo avanço da tecnologia de informação e comunicação (TIC), passa a ter papel fundamental nas organizações, possibilitando melhor percepção das mudanças, maior flexibilidade e agilidade nas operações. Entre as tecnologias com aplicação na logística, podemos destacar o EDI (Electronic Data Interchange, ou troca eletrônica de dados) (FERREIRA; ALVES, 2005). Sobre as vantagens do uso do EDI no processo de compras junto ao fornecedor, é correto o que se afirma em: I – O EDI é importante pois permite, na troca de informações, ajustes de custo dos materiais transacionados, aproximando o setor de compras de ações mais estratégicas; II – O EDI é importante pois cria uma interface que permite ajustes pontuais de informações não procedentes ou equivocadas; III – O uso do EDI permite uma diminuição de custos em função da diminuição de pessoas envolvidas no processo; IV – O uso do EDI permite que os erros sejam minimizados e, além disso, permite que haja maior eficiência na operação de recepção e tratamento dos pedidos de compra por parte dos clientes. Está correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) I e II. C) II e III. D) II e IV. E) III e IV. Resolução desta questão na plataforma.
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